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Obrigações: extinção

e inadimplemento

Extinção das obrigações


Compensação
Compensação é a extinção de dívidas recíprocas, até onde se compensarem, ou seja,
até onde se igualem, o que corresponde ao valor da menor das dívidas (CC, art. 368).

A compensação pode ser:


■ total ou parcial – será total quando as duas dívidas forem iguais, ambas sendo
extintas pela compensação, e será parcial quando os valores forem desiguais,
extinguindo-se a menor delas e persistindo a de maior valor apenas em relação
à diferença entre as duas;
■ legal ou convencional – será legal quando houver a reciprocidade entre obri-
gações de mesma natureza, ou seja, obrigações reciprocamente fungíveis, além
de estarem atendidos os demais requisitos, adiante indicados (neste caso, a
compensação ocorre automaticamente, por força da lei, não dependendo de
manifestação da vontade dos credores e devedores recíprocos, e por essa razão
não depende da capacidade das partes envolvidas); será convencional quando,
embora não atendidos os requisitos fixados pela lei (por exemplo, as dívidas
recíprocas não são de mesma natureza), os credores e devedores recíprocos re-
solvem compensá-las. Como se percebe, a compensação convencional decorre
de uma manifestação da vontade dos sujeitos envolvidos, e por isso exige que
eles sejam capazes.

A compensação não pode ser declarada de ofício, pois admite renúncia pelos
envolvidos (CC, art. 375). Na realidade, se um dos sujeitos pleitear que o outro pague a
obrigação, o demandado deverá arguir a compensação como matéria de defesa.

Para que ocorra a compensação legal, devem ser atendidos os seguintes requisitos:
reciprocidade de obrigações líquidas, vencidas e de mesma natureza (CC, art. 370); ine-
xistência de prejuízo para terceiro (art. 380); e inexistência de impedimento legal (art.
373). Em relação ao impedimento legal, veja-se que não haverá compensação se um dos
créditos já havia sido penhorado (art. 380).
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A diferença de causa nas dívidas não impede a compensação, mas esta não ocor-
rerá se uma das dívidas provier de esbulho, furto ou roubo, comodato, depósito ou
alimentos, ou se uma for de coisa impenhorável. E na hipótese de haver várias dívidas
compensáveis, devem ser aplicadas as regras da imputação (CC, art. 379).

Confusão
Ocorre a confusão quando na mesma pessoa recaírem as qualidades de credor e
devedor (CC, art. 381). Por exemplo, pai e filho são credor e devedor, respectivamente,
e o pai vem a morrer, sendo o filho o seu herdeiro. Nesse caso, o filho, que já era o de-
vedor, passará a ser também o credor. Isso é a confusão.

A confusão pode ser total ou parcial (CC, art. 382). Aproveitando o exemplo apre-
sentado no parágrafo anterior, se o filho era o único herdeiro, passando a ser o credor
de toda a dívida, a confusão será total. Mas se o filho era um dos coerdeiros, uma vez
que havia outro filho do de cujus, nesse caso esse filho devedor se tornará credor apenas
da metade da dívida (a outra metade será do outro coerdeiro) e, portanto, a confusão
será apenas parcial.

Da mesma forma, será parcial a confusão que ocorrer na pessoa de um dos cre-
dores solidários, pois nesse caso só se extinguirá a obrigação até a respectiva cota (CC,
art. 383).

Mas é importante ressaltar que, se cessar a confusão (por exemplo, se o filho


herdeiro vier a ser excluído por indignidade), será restabelecida a obrigação, com todos
os seus acessórios.

Remissão das dívidas


Remissão (com “ss”), significa o perdão da dívida, e pode ser onerosa ou gra-
tuita, ou seja, pode ser concedida em troca de alguma prestação a ser cumprida pelo
devedor, ou de modo gracioso, sem que nada se exija em troca.

Importante destacar que a remissão é sempre bilateral, ou seja, não basta a von-
tade do credor em perdoar, sendo necessária e indispensável a aceitação do devedor
(CC, art. 385). Além disso, a remissão não pode ser feita em prejuízo de terceiros (ex.:
prejuízo para o credor do remitente, que não terá como receber o que lhe é devido).

A remissão ainda pode ser inter vivos ou causa mortis (nesse caso, chamada de
legado liberatório – CC, art. 1.918).

A devolução:
■■ do título (quando for instrumento particular) faz presumir a remissão da dívi-
da (CC, art. 386);

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■■ do bem empenhado faz presumir a renúncia à garantia, mas não a extinção da


dívida (CC, art. 387).

Se houver codevedores solidários e um deles obtiver a remissão da sua respec-


tiva cota, isto não libera os demais da solidariedade, mas eles só poderão ser cobrados
com o desconto da cota remitida (CC, arts. 388 e 277).

Inadimplemento das obrigações


O inadimplente responde por perdas e danos, juros, atualização monetária e
honorários de advogado (CC, art. 389).

Nos contratos gratuitos, o beneficiado responde por culpa, enquanto o outro con-
tratante só responde se agir com dolo (CC, art. 392). Nos contratos onerosos, ambos
respondem por simples culpa, salvo as exceções legais (art. 392).

Não responde o devedor pelos prejuízos que decorram de caso fortuito ou de força
maior, exceto se por eles expressamente se responsabilizou (CC, art. 393). O caso for-
tuito ou de força maior ocorre quando há fato necessário, cujos efeitos eram inevitáveis.
A ideia básica, portanto, a caracterizar tanto o caso fortuito quanto o de força maior, é
a inevitabilidade dos efeitos jurídicos.

Deve ser distinguido o inadimplemento absoluto do relativo. Há inadimplemento


absoluto quando a prestação não foi cumprida e não mais interessa ao credor (nesse
caso, resolve-se em perdas e danos – art. 395, parágrafo único) e haverá inadimplemen-
to relativo (mora) quando a prestação ainda não foi cumprida, mas continua a interessar
ao credor, que a receberá com as perdas e danos cabíveis (CC, art. 395).

Mora
Incidirá em mora o devedor que não paga ou o credor que não quer receber a pres-
tação, no tempo, lugar e forma previstos (CC, art. 394). A mora, portanto, tanto pode
ser do devedor (mora solvendi) quanto do credor (mora accipiendi).

A mora do devedor só se caracteriza se houver culpa (CC, art. 396), e em tal caso
o devedor passa a responder inclusive pelos prejuízos que decorram do caso fortuito ou
da força maior (perpetuatio obligationis), salvo se provar que o prejuízo ocorreria ainda
que tivesse cumprido oportunamente a obrigação (art. 399).

Ocorrendo a mora do credor, o devedor só responde pela falta de conservação


da coisa se tiver agido com dolo (CC, art. 400). Não responde o devedor, portanto, por
simples culpa, ou seja, não responde por ter sido negligente ou imprudente.

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É importante que se averigúe com precisão o momento em que se dá o começo


da mora, uma vez que tal momento marca também o início da fluência dos juros mora-
tórios. Começa a mora:
■■ sendo obrigação positiva e líquida e com prazo previsto, tão logo seja inadim-
plida a prestação, no seu termo (CC, art. 397);
■■ em se tratando de obrigação positiva e líquida, mas sem prazo estipulado para
o cumprimento, a mora começará mediante interpelação judicial ou extrajudi-
cial (CC, art. 397, parágrafo único);
■■ nas obrigações decorrentes de ato ilícito, começa a mora quando o ato tiver
sido praticado (CC, art. 398), e por essa razão os juros moratórios serão devi-
dos desde essa mesma prática (STJ, Súmula 54);
■■ em se tratando de obrigação negativa, começa a mora quando o devedor pratica
o ato de que se deveria abster (CC, art. 390).

Perdas e danos
As perdas e danos compreendem o que o devedor efetivamente perdeu dano
emergente e mais o que razoavelmente deixou de lucrar lucro cessante (CC, art. 402).
Mas deve ser ressaltado que só são incluídos o dano emergente e o lucro cessante di-
retamente decorrentes da inexecução, mesmo que esta seja dolosa (art. 403). Assim,
por exemplo, no caso de um acidente com um táxi, as perdas e danos abrangerão o
seu conserto (dano emergente) e mais a renda diária que o motorista deixou de auferir
(lucro cessante).

Em regra, o dano, para ser ressarcido, terá que ser provado, mas há algumas ex-
ceções: a cláusula penal (CC, art. 416), os juros moratórios (art. 407) e as arras (CC, art.
418), por exemplo, podem ser pleiteados independentemente de ser provado ou mesmo
alegado o prejuízo sofrido pelo credor.

Se não tiver sido ajustada cláusula penal e se os juros da mora forem insuficientes
para cobrir os prejuízos do credor, nesse caso poderá o juiz conceder complemento da in-
denização, nos termos do artigo 404, parágrafo único. Mas se foi fixada a cláusula penal,
nesse caso nenhum complemento caberá, mesmo que o prejuízo do credor supere o valor
dela, a menos que haja convenção prevendo a possibilidade da indenização complementar,
e nesse caso a cláusula penal valerá como mínimo da indenização, cabendo ao credor o
ônus de provar que maior foi o seu prejuízo (CC, art. 416, parágrafo único).

Os juros da mora são devidos desde citação inicial (CC, art. 405), mas essa regra
se refere às obrigações ilíquidas, que não se enquadrem em uma das hipóteses vistas no
item anterior.

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Juros legais
Os juros legais podem ser moratórios ou compensatórios. Moratórios são aque-
les devidos em função da mora, ou seja, do cumprimento defeituoso da prestação. Com-
pensatórios são os que decorrem do uso do patrimônio alheio, e por isso são devidos
mesmo quando o devedor cumpre tempestiva e adequadamente a prestação.

Os juros moratórios são devidos mesmo que não tenham sido convencionados
(CC, art. 406) e mesmo que o credor não alegue prejuízo (art. 407). E, ainda mais, os
juros moratórios são devidos mesmo que não tenham sido mencionados na petição ini-
cial e nem ao menos constem da sentença (STF, Súmula 254).

Em relação às obrigações que não sejam em dinheiro, os juros moratórios serão


devidos desde que se fixou o valor da dívida, por sentença, arbitramento ou convenção
(CC, art. 407).

Em relação aos juros moratórios não convencionados, ou que o foram sem que
se estipulasse a respectiva taxa, deverá ser observada a taxa que estiver em vigor para
a mora do pagamento de impostos à Fazenda Nacional (não é mais de 6% a.a., como
ocorria no CC anterior).

Cláusula penal
Incorre de pleno direito na cláusula penal o devedor que descumprir (inadim-
plente) ou cumprir de forma defeituosa (mora) a obrigação que lhe competia (CC, art.
408).

A cláusula penal pode ser compensatória ou moratória, e pode ser criada junto com
a obrigação ou em ato posterior. Pode, ainda, ser referente à inexecução total (compen-
satória) ou ao cumprimento defeituoso (moratória).

No caso da cláusula penal compensatória, surgirá obrigação alternativa, a be-


nefício do credor (CC, art. 410), ou seja, este poderá escolher entre o cumprimento
da obrigação ou o recebimento da cláusula penal; se for moratória, surgirá obrigação
cumulativa (art. 411), ou seja, o credor poderá pleitear o cumprimento da prestação e
mais as perdas e danos.

Há alguns limites quanto ao valor da cláusula, ou seja, as partes não são livres
para fixá-la no valor em que bem entenderem:
■■ o valor da cláusula penal não pode exceder o da obrigação principal (CC, art.
412);
■■ o juiz deve reduzir equitativamente o valor da cláusula penal, se houve o cum-
primento parcial ou se tal valor se mostrar excessivo (art. 413);

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■■ em relação à taxa condominial, nos condomínios edilícios, o máximo da multa


será de 2% (art. 1.336, §1.º);
■■ máximo de 2%, nas relações de consumo que envolvam a outorga de crédito ou
concessão financeira (CDC, art. 52, §1.º).

Incidindo o devedor na cláusula penal, o credor não precisa alegar e nem provar
prejuízo, para exigir o pagamento da multa convencional (CC, art. 416). E se o valor da
cláusula penal não cobrir prejuízo, o credor só poderá pedir suplemento se tal hipótese
tiver sido convencionada (art. 416, parágrafo único).

Arras ou sinal
É o dinheiro ou outra coisa móvel que uma das partes entrega à outra, na con-
clusão do contrato, e que deverá ser restituída ou computada na prestação devida (se do
mesmo gênero que esta), em caso de execução do contrato (CC, art. 417). Ao contrário
do que ocorre com a cláusula penal, o juiz não pode reduzir o valor das arras.

As arras se apresentam como um pacto acessório, ou seja, que só existe se houver


o principal, ao qual se subordina, e que além disso é real, só se concretizando com a
entrega efetiva do sinal por um dos contratantes ao outro.

As arras podem ser confirmatórias ou penitenciais. As primeiras servem para con-


firmar que o contrato foi celebrado, enquanto as segundas servem para permitir o di-
reito de arrependimento, e funcionam como prefixação das perdas e danos. No silêncio
das partes, as arras serão consideradas como confirmatórias.

Se ocorrer a inexecução do contrato, sendo as arras confirmatórias (CC, arts.


418 e 419):
■■ se o inadimplente for o que deu as arras, o que as recebeu poderá retê-las; se
for o que as recebeu, o outro poderá pedir a devolução em dobro;
■■ mas, em qualquer desses dois casos, o inocente poderá optar por pedir:
■■ indenização suplementar, se provar que teve maior prejuízo do que o valor
das arras (as arras, neste caso, servirão como mínimo da indenização);
■■ a execução do contrato mais perdas e danos (e as arras serão o mínimo da
indenização), pois se assim não pudesse ser pedido, as arras estariam sendo
transformadas em penitenciais (CC, art. 419, parte final).

Ocorrendo a inexecução, e sendo as arras penitenciais (CC, art. 420), ou seja, se


estipuladas para permitir o direito de arrependimento, neste caso as arras terão apenas
função indenizatória, servindo como prefixação das perdas e danos, e nenhum dos con-
tratantes poderá pedir qualquer indenização suplementar (art. 420).

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Leia, atentamente, os artigos 394 a 416, referentes à mora, a perdas e danos,


aos juros legais e à cláusula penal, pois é grande a incidência desses assuntos na prova
objetiva.

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