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Licitações e Contratos

no Setor Público
Material Teórico
Contratos administrativos

Responsável pelo Conteúdo:


Profa. Ms. Elessandra dos Santos Marques Válio

Revisão Textual:
Profa. Esp. Kelciane da Rocha Campos
Contratos administrativos

• Contratos Administrativos
• Conceito de Contrato Administrativo
• Características dos Contratos Administrativos
• Competência Legislativa ou Legiferante
• Espécies
• Vigência e eficácia
• Prazo de duração
• Garantias
• Alteração e rescisão contratual
• Extinção de contrato
• Teoria da Imprevisão

·· Compreender as diferenças entre os contratos administrativos e os contratos civis


particulares, e esclarecer quais são e o porquê das prerrogativas da Administração
quando ela está contratando.
·· Vamos estudar ainda os poderes da Administração em face do contratado.

Para estudar nossa disciplina, será necessário buscar as seguintes legislações:


1. Constituição Federal;

2. Lei de Licitações (Lei nº. 8666/93);

3. Lei nº. 10.520, de 17 de julho de 2002, que institui no âmbito da União, dos Estados,
do Distrito Federal e dos Municípios, a modalidade de licitação denominada Pregão;

4. Lei nº. 8.987, de 13 de fevereiro de 1995, que dispõe sobre o regime de concessão e
permissão da prestação de serviços públicos;

5. Lei nº. 11.079, de 30 de dezembro de 2004, que institui as normas gerais para licitação
e contratação de parceria público-privada, no âmbito da Administração Pública;

6. Lei Complementar 123, de 14 de dezembro de 2006, que institui o Estatuto Nacional


da Microempresa e da Empresa de Pequeno Porte e estabeleceu, para elas, tratamento
diferenciado em matéria de licitações. Tal tratamento diferenciado foi estendido pela Lei
nº. 11.488, de 15 de junho de 2007, às sociedades cooperativas que tenham auferido,
no ano-calendário anterior, a receita bruta de até o limite estabelecido no art. 3o, II, da
referida Lei Complementar; e

7. Lei nº. 12.232, de 29 de abril de 2010, que estabelece normas gerais para a licitação
e contratação pela Administração Pública de serviços de publicidade prestados por
intermédio de agências de propaganda.

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Unidade: Contratos administrativos

Contextualização

Considerando nossos estudos, podemos perceber que a Lei nº. 8.666/93, embora tenha
algumas falhas, tem se mostrado eficaz.
Porém, como é de conhecimento público, vivemos em país onde a corrupção faz parte da
nossa vida cotidiana, e a corrupção na esfera político partidária é infelizmente muito grande,
haja vista os inúmeros escândalos divulgados pela mídia.
A fim de tentar evitar tais desvios, existem propostas de alterações na Lei de licitações.

O link a seguir remeterá você a um texto que o(a) ajudará a compreender melhor
tais propostas.
http://veja.abril.com.br/noticia/brasil/licitacoes-o-que-eles-tem-que-nos-nao-temos/

D’ELIA, Mirella. Licitações: o que eles têm que nós não temos. Disponível em:
http://veja.abril.com.br/noticia/brasil/licitacoes-o-que-eles-tem-que-nos-nao-temos/.
Acesso em: 09 set. 2015.

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Contratos Administrativos

A Administração Pública, amparada no nosso ordenamento jurídico, pode contratar para


que possa adquirir bens, serviços ou contratar obras. Tais contratos são denominados de
contratos administrativos. Esses contratos são celebrados para que o Estado possa atingir suas
finalidades de forma mais eficiente e célere.
Porém, antes de nos enveredarmos pela seara específica dos contratos administrativos,
vejamos uma noção do que efetivamente seja um contrato.
Nas palavras da Professora Maria Helena Diniz (2013, p.123):
Contrato é o acordo de duas ou mais vontades, na conformidade da ordem
jurídica, destinado a estabelecer uma regulamentação de interesses entre as
partes, com o escopo de adquirir, modificar ou extinguir relações jurídicas de
natureza patrimonial.

Os contratos feitos entre pessoas comuns, sejam elas físicas ou jurídicas, dentro do universo
do direito civil é regido por vários princípios do direito, dentre os quais iremos destacar apenas o
mais importante para o direito civil, qual seja, o princípio da autonomia da vontade das partes.
Tal princípio considera que o que for pactuado entre as pessoas, físicas ou jurídicas, deve
prevalecer, pois o contrato “faz lei entre as partes”, ou seja, deve ser efetivamente cumprido
o que foi pactuado. E mais, dentro do direito civil comum, as partes contraentes têm a mesma
autonomia, com poderes iguais na contratação.
Os contratos têm mais de uma parte, são formais, refletem uma celebração de vontades,
envolvem sempre uma prestação onerosa ou remuneração, têm compensações recíprocas e,
via de regra, só poderão ser executados por aquele que foi contratado.
Todavia, veremos no decorrer dos nossos estudos que os contratos feitos pela Administração
Pública possuem vários diferenciais em relação ao contrato do direito civil. Embora os
contratos feitos pela Administração Pública também sejam um acordo de vontades, devemos
ter em mente que o Poder Público é regido também pelo princípio da legalidade, ou seja,
deve seguir o que está previsto na nossa legislação, sendo que o contrato administrativo tem
suas próprias especificidades.
Quando pensamos em contratos e Administração Pública, precisamos fazer uma distinção
entre contrato administrativo e contrato da Administração.
Por contrato da Administração podemos entender o contrato realizado pela Administração
Pública, todavia as regras que devem predominar são as do direito privado, haja vista que se
o que predomina é o direito privado, isso significa que também haverá disposições de direito
público, e assim sendo, como a finalidade do Estado é buscar o bem comum, as disposições que
devem prevalecer são as de Direito Público. Um exemplo clássico de contrato da Administração
é o contrato de locação de bens imóveis.

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Unidade: Contratos administrativos

Em contrapartida, os contratos celebrados pela Administração Pública, onde há a


predominância do Direito Público, serão os contratos administrativos, mas também poderão
existir dentro dessa avença algumas regras de Direito Privado, mas tais disposições só poderão
existir caso não contrariem as normas de Direito Público.
A diferença entre o contrato da Administração e o contrato administrativo está
na posição de supremacia da Administração. No contrato administrativo, a
supremacia da Administração decorre do regime jurídico predominantemente
público que rege a avença, independentemente de previsão do contrato. Os
contratantes, no contrato da Administração, estão em situação de igualdade,
não existindo prerrogativas da Administração, a não ser aquelas livremente
ajustadas entre as partes.
Fonte: (VIEIRA, 2011, p.345)

Importante não nos olvidarmos de que nos contratos administrativos sempre deve existir a
prevalência do interesse público sobre o interesse privado; essa supremacia da Administração
Pública tem fulcro na lei.

Conceito de Contrato Administrativo

Nas palavras do Professor Hely Lopes Meirelles (2014), podemos entender o contrato
administrativo como um
[...] ajuste que a Administração Pública, agindo nessa qualidade, firma com
particular ou outra entidade administrativa para a consecução de objetivos de
interesse público, nas condições estabelecidas pela própria Administração.

Assim, podemos depreender que o contrato administrativo é qualquer acordo de vontades


avençado entre a Administração Pública e um terceiro, que pode ser pessoa física ou jurídica,
de direito público ou privado, estipulando obrigações e direitos recíprocos. Tais contratos são
celebrados visando à satisfação dos interesses públicos.
Nos moldes do art. 38, parágrafo único da Lei nº. 8.666/93, as minutas de editais de
licitação, bem como as dos contratos, acordos, convênios ou ajustes devem ser previamente
examinadas e aprovadas por assessoria jurídica da Administração.

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Características dos Contratos Administrativos

Como vimos, os contratos em geral têm várias características, entretanto os contratos


administrativos possuem características que lhes são muito peculiares, quais sejam:
a) A Administração Pública como contratante;
b) Formalismo;
c) Procedimento;
d) Finalidade do objeto;
e) Celebração “intuitu personae” ou personalíssimo; e
f) Cláusulas exorbitantes.
Dessa maneira, essas características são fundamentais aos contratos administrativos.

A Administração Pública como contratante


A Administração Pública na condição de contratante tem uma posição bem diferenciada do
contrato civil, haja vista que possui algumas prerrogativas que não são comuns, justificáveis
com a ideia de supremacia do interesse público, ou seja, o Poder Público tem o dever de buscar
sempre a contratação que for mais interessante e conveniente para si e seus administrados. Tal
supremacia termina por se sobrepor ao interesse particular.
Devido a essa diferenciação, a máxima jurídica de que “o contrato faz lei entre as partes”
pode ser relativizada.

Formalismo
A Lei de Licitações nº. 8.666/93 impõe que os contratos administrativos sejam sempre
celebrados seguindo a forma prescrita em lei, como, por exemplo, o fato de o contrato ter de
ser por escrito, os prazos, publicações obrigatórias etc.
Os contratos administrativos só irão adquirir eficácia após a sua publicação, que deverá
ocorrer no prazo máximo de vinte dias contados da data das assinaturas, não devendo
ultrapassar o quinto dia útil do mês subsequente. Será obrigatório o instrumento de contrato
na Concorrência, Tomada de preços e contratações de dispensa e inexigibilidade.
Nas demais contratações, os instrumentos podem ser substituídos por casos, podem ser
substituídos conforme a situação. No que tange às contratações verbais, estas apenas serão
permitidas onde são feitas pequenas compras de pronto pagamento que tiverem como forma
de pagamento o regime de adiantamento e que não tenham valor superior a 5% dos valores que
obrigam a contratação por convite, perfazendo, assim, os seguintes valores: até R$ 7.500,00
(sete mil e quinhentos reais) para obras e serviços de engenharia; e até R$ 4.000,00 (quatro
mil reais) para outros serviços e compras (Lei nº. 8.666/93).

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Unidade: Contratos administrativos

Procedimento
Para que a contratação feita pela Administração Pública tenha validade e eficácia, faz-se
necessário que sejam cumpridos os requisitos formais e procedimentais que lhes são próprios,
como, por exemplo, a declaração formal de inexigibilidade de licitação, publicação instrumento.
Assim, a Administração fica obrigada a seguir as exigências próprias impostas pelo
ordenamento jurídico. A título de exemplo, a convocação do interessado para a assinatura do
termo, ou ainda a reserva de recursos orçamentários.

Finalidade do objeto
Alguns princípios constitucionais regem a Administração Pública, e eles não poderiam
deixar de ser aplicados aos contratos administrativos. Dessa forma, os princípios da legalidade,
impessoalidade, moralidade, publicidade e eficiência regem também os contratos realizados
pela Administração Pública. Não podemos nos olvidar de que existe sempre a necessidade da
busca pelo contratado que melhor atenda ao interesse público.

Celebração “intuitu personae” ou personalíssimo


O contrato administrativo tem um caráter de celebração personalíssimo, o que significa
que está atrelado à figura da pessoa que venceu o certame, seja ela física ou jurídica. Dessa
maneira, veda o cumprimento do contrato efetuado por qualquer figura que não faça parte
da relação jurídica estabelecida via contrato. Nessa linha de raciocínio, não poderá o contrato
ser cedido ou transferido a outra pessoa, salvo se houver previsão no edital ou instrumento
convocatório, e nos casos expressamente previstos no nosso ordenamento jurídico.

Cláusulas exorbitantes
A supremacia da Administração Pública lhe concede algumas prerrogativas que os
particulares não possuem. Tais prerrogativas são chamadas de cláusulas exorbitantes.
As cláusulas exorbitantes podem ser compreendidas como privilégios que a Administração
possui dentro dos contratos administrativos que extrapolam o padrão comum dos contratos,
concedendo vantagens para Administração Pública.
Tais cláusulas, caso existam em um contrato civil comum, serão classificadas como cláusulas
ilícitas e abusivas, e sendo assim, não possuirão qualquer validade, porém dentro dos contratos
administrativos elas são plenamente válidas, com base na supremacia do interesse público
sobre o particular.

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O art. 58 da Lei nº. 8.666/93 traz o rol dessas cláusulas:
Art. 58. O regime jurídico dos contratos administrativos instituído por esta Lei
confere à Administração, em relação a eles, a prerrogativa de:
I - modificá-los, unilateralmente, para melhor adequação às finalidades de
interesse público, respeitados os direitos do contratado;
II - rescindi-los, unilateralmente, nos casos especificados no inciso I do art. 79
desta Lei;
III - fiscalizar-lhes a execução;
IV - aplicar sanções motivadas pela inexecução total ou parcial do ajuste;
V - nos casos de serviços essenciais, ocupar provisoriamente bens móveis,
imóveis, pessoal e serviços vinculados ao objeto do contrato, na hipótese da
necessidade de acautelar apuração administrativa de faltas contratuais pelo
contratado, bem como na hipótese de rescisão do contrato administrativo.
§ 1º As cláusulas econômico-financeiras e monetárias dos contratos
administrativos não poderão ser alteradas sem prévia concordância do
contratado.
§ 2º Na hipótese do inciso I deste artigo, as cláusulas econômico-financeiras
do contrato deverão ser revistas para que se mantenha o equilíbrio contratual.

Depreendermos, então, que as cláusulas exorbitantes são as que permitem: a alteração


unilateral do contrato; a rescisão unilateral do contrato; o direito de fiscalizar e impor
sanções pelo não cumprimento do que fora pactuado; e o direito de ocupar provisoriamente
os bens da contratada.
A alteração unilateral do contrato é delimitada por formalidades consignadas do art. 68
da Lei de Licitações (8.666/93). Assim sendo, pode haver modificação do contrato desde
que não prejudique os direitos do contratado e, o mais importante, que tal alteração seja de
efetiva necessidade para a consecução do interesse público. Nessa linha de raciocínio, nosso
ordenamento jurídico veda a modificação de cláusulas econômico-financeiras e monetárias
sem que haja a concordância do contratado, devendo ser formalizada a mudança por meio
de aditamento contratual, que deve ser publicado na imprensa oficial, conforme ocorre com
o próprio contrato.
Outra possível modificação é a rescisão unilateral do contrato, que poderá se dar tanto
por razões de interesse público, como por não cumprimento de cláusula contratual por parte
do contratado, conforme dispõem os artigos 77 e seguintes da Lei nº. 8.666/93.
Mais uma possibilidade de alteração contratual tem por fulcro o poder-dever da Administração
de fiscalizar a execução contratual, com previsão legal no art. 67 da Lei de Licitações.
Um representante da Administração Pública será especialmente designado para acompanhar
e fiscalizar o cumprimento do contrato. Convém destacar que o representante não precisa
ser necessariamente um funcionário da Administração, já que a lei permite que seja um
terceiro contratado para essa função. Existindo qualquer descumprimento, deverá ser feito o
registro da inadimplência e a Administração deverá determinar a regularização dos problemas
encontrados, e, se porventura, quaisquer desses descumprimentos extrapolarem a esfera de

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Unidade: Contratos administrativos

atuação da Administração Pública, esta deverá comunicar a autoridade competente para que
as devidas providências sejam tomadas. Como exemplo, podemos citar uma situação em que
a construção de uma determinada obra não está sendo efetuada por falta de materiais, mas
porque esses materiais foram desviados por alguns contratados. O desvio deve ser comunicado
à autoridade competente, haja vista que ocorreu um crime e, assim sendo, deve ser devidamente
apurado, e os culpados devem responder por tal ato.
Em situações de inadimplência do contrato administrativo, pode a Administração impor
quaisquer uma das sanções elencadas no art. 87 da Lei nº. 8.666/93:

Art. 87. Pela inexecução total ou parcial do contrato a Administração poderá,


garantida a prévia defesa, aplicar ao contratado as seguintes sanções:
I - Advertência;
II - Multa, na forma prevista no instrumento convocatório ou no contrato;
III - Suspensão temporária de participação em licitação e impedimento de
contratar com a Administração, por prazo não superior a 2 (dois) anos;
IV - Declaração de inidoneidade para licitar ou contratar com a Administração
Pública enquanto perdurarem os motivos determinantes da punição ou até
que seja promovida a reabilitação perante a própria autoridade que aplicou
a penalidade, que será concedida sempre que o contratado ressarcir a
Administração pelos prejuízos resultantes e após decorrido o prazo da sanção
aplicada com base no inciso anterior.

Ainda dentro do rol das cláusulas exorbitantes, temos a ocupação provisória de móveis,
imóveis, pessoal e serviços vinculados ao objeto que fora avençado, porém deve se dar em
situações em que se vise à proteção da continuidade dos serviços públicos e em ocasiões de
interesse público. Entretanto, para que seja realizado tal procedimento, deve ser instaurado
um processo administrativo no qual o contratado terá a oportunidade de fazer uso dos
princípios constitucionais do contraditório e ampla defesa. Cabe ressaltar que existindo tal
processo administrativo, até sua decisão por rescindir ou não o contrato, a Administração
poderá fazer a ocupação provisória e manter a prestação do serviço, como, por exemplo, um
imóvel locado para utilização como uma unidade básica de saúde, em que o locador se recusa
a cumprir o contrato, poderá ser ocupado e ser dado prosseguimento ao serviço prestado,
pois é de interesse público.
Importante não nos olvidarmos de que tais cláusulas exorbitantes não implicam um
contrato sem proteção legal do contratado ante a Administração Pública, mas apenas reforça
a supremacia que a Constituição Federal outorga ao ente público. Outro ponto relevante
sobre as cláusulas aqui discutidas é o fato de que a Administração tem a prerrogativa de fazer
alterações, todavia tais alterações, para serem realizadas, têm de ser devidamente justificadas.

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Competência Legislativa ou Legiferante

Nos moldes da Constituição Federal, compete privativamente à União editar normas gerais
de contratação e licitação, em todas as modalidades, segundo o art. 22.
Convém ressaltarmos que o Distrito Federal e os Municípios, segundo o art. 32 da
Constituição Federal, também podem exercer a competência legislativa suplementar, desde
que sigam as normas gerais editadas pela União.

Espécies

Os contratos administrativos são contratos especiais, haja vista que possuem características
próprias, como, por exemplo, as cláusulas exorbitantes. Assim sendo, esses contratos possuem
a natureza de contrato de adesão, já que as cláusulas são impostas de forma unilateral pela
Administração Pública.

Contrato de Adesão: é o negócio jurídico no qual a participação de um dos


sujeitos sucede pela aceitação em bloco de uma série de cláusulas formuladas
Glossário antecipadamente, de modo geral e abstrato, pela outra parte, para constituir
o conteúdo normativo e obrigacional de futuras relações concretas.
(GOMES, Orlando. Contrato de adesão. São Paulo: RT, 1972. p.3.)

Vigência e eficácia

Não podemos nos olvidar de que uma das características do contrato administrativo é
o formalismo, já que a regra geral é de que esses contratos sejam realizados de forma
escrita e que devem ser lavrados na repartição interessada. Tal característica faz com que a
vigência do contrato administrativo inicie-se com a formalização do contrato, ou seja, a data
e assinatura da avença.
No que tange à eficácia, esta pode coincidir com a vigência, pois está condicionada à
publicação resumida do contrato. Nosso ordenamento jurídico traz como condição de eficácia
a publicação, que deve ser feita no prazo de vinte dias úteis contados da assinatura e até o
quinto dia útil do mês subsequente.

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Unidade: Contratos administrativos

Prazo de duração

O mais comum é que o prazo contratual coincida com a vigência do crédito orçamentário,
que é igual ao ano civil, conforme dispõe a Lei nº. 4.320/64, art. 34. Salvo se o contrato for
avençado no último quadrimestre (art. 167, Constituição Federal).
Também são exceção à regra os projetos contemplados no plano plurianual; serviços
prestados de forma contínua; a locação de equipamentos e a utilização de programas de
informática.
Segundo a regra da Lei nº. 8.666/93, art. 57, não deve existir contrato sem prazo definido,
entretanto existe a exceção em se tratando de contrato de permissão de serviço público,
conforme a Lei nº. 8.987/95.
Excepcionalmente, existe a possibilidade de prorrogação do prazo de vigência, mas tal
exceção deve ser formalizada por meio de aditamento contratual, que necessariamente deverá
ser publicado, mantendo as condições e cláusulas que haviam sido avençadas.

Garantias

A Lei nº. 8.666/93, em seu art. 56, prevê que a Administração Pública pode exigir que
o contratado forneça garantias de que cumprirá com o que fora avençado, mas tal exigência
deve ser parte integrante do instrumento convocatório (edital). O contratado pode fazer a
opção por seguro-garantia, fiança bancária ou caução.
O seguro-garantia é quando o contratante avença com uma seguradora, a qual se
responsabiliza pelo inadimplemento contratual conforme o que tiver sido pactuado no contrato
de seguro. Assim, a seguradora se compromete até o valor avençado entre ela e seu cliente.
Essa forma de garantia também é conhecida como “performance bond”.
A fiança bancária ou garantia fidejussória nada mais é do que uma garantia pessoal dada
por uma instituição bancária.
Nosso ordenamento jurídico (art. 56, da Lei nº. 8.666/93) reza que, via de regra, o valor
máximo de garantia é de 5% (cinco por cento) do valor contratado, mas esse percentual
pode ser de até 10% (dez por cento) se for demonstrado por meio de um parecer técnico
que o contrato é de um valor vultoso e também envolver grande complexidade técnica e com
riscos consideráveis.
Já a caução é uma garantia em dinheiro ou em títulos da dívida pública. Havendo o
adimplemento do contrato, a caução será devolvida de forma corrigida.

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Alteração e rescisão contratual

A Administração Pública tem o dever de sempre defender o interesse público e, assim


sendo, ela poder fazer alterações nos contratos administrativos, mesmo sem o consentimento
do contratado.
Importante ressaltarmos que na possibilidade de alteração do que fora avençado deve
necessariamente haver uma justificativa para tal modificação, como, por exemplo, em situações
de interesse público ou de necessidade coletiva.
Nessas situações, o contratado poderá até cobrar judicialmente as eventuais perdas e danos
suportados por ele.
Temos uma divisão entre as alterações, que podem ser quantitativas ou qualitativas.
As alterações quantitativas são as que alteram o valor do contrato através de supressão ou
acréscimo quantitativo do objeto. Não podemos nos esquecer de que temos limites para essa
alteração, qual sejam: 25% (vinte e cinco por cento) em obras, compras e serviços; e 50%
(cinquenta por cento) em reformas de equipamentos ou edifícios.

Extinção de contrato

Como em qualquer contrato, o contrato administrativo se extingue, via de regra, pelo


cumprimento do que foi pactuado ou adimplemento da obrigação. Dessa forma, a extinção
do contrato dar-se-á por extinção do objeto, ou seja, o contrato foi concluído na forma como
foi pactuado.
Podemos também ter a rescisão, que é um ato administrativo no qual contratante e
contratado compõem de forma amigável que o contrato deverá ser rescindido. Normalmente
é imposta pela Administração Pública.
O contrato ainda poderá ser extinto pela invalidação do contrato ou anulação.
Essa anulação contratual pode ser uma imposição judicial, que pode se dar através de ação
popular (ação movida pelo cidadão), por mandado de segurança (movido por aquele que
possui direito líquido e certo), por ação civil pública (movida pelos representantes do Ministério
Público, por exemplo), e também por uma ação ordinária de conhecimento (ação movida por
aquele que tem legitimidade para demandar, como, por exemplo, o contratado).

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Unidade: Contratos administrativos

Teoria da Imprevisão

Uma das principais características dos contratos administrativos é a possibilidade de


alteração unilateral dos contratos. A Administração Pública pode alterar unilateralmente o
que fora pactuado entre as partes, porém tais modificações devem ser justificadas e podem
decorrer de fatos alheios à vontade de contratante e contratado, mas são situações que tornam
o contrato inviável.
O risco ou álea pode ser administrativo ou econômico, que impõe óbices à execução
contratual, busca ajustar o contrato à situação atual vivida entre contratante e contratado.
Existem alguns requisitos para a aplicação, quais sejam, anormalidade, imprevisibilidade e a
ausência de vontade das partes para a sua ocorrência; apenas com o cumprimento cumulativo
desses requisitos é que poderá ser aplicada a teoria da imprevisão.
Convém lembrarmos que tais situações são excepcionais a ponto de inviabilizar o
cumprimento do contrato nos moldes em que fora ajustado entre as partes.
Aquele que solicitar a aplicação da teoria da imprevisibilidade fica com o ônus de fazer sua
comprovação. Exemplificando: imagine uma obra de construção de uma determinada linha do
metrô. No projeto inicial não foi identificada uma camada subterrânea espessa de rochas. Por
óbvio, as rochas terão de ser removidas ou o projeto deve ter sua rota alterada. Entretanto,
independentemente da decisão, tal fato superveniente alterará a execução do projeto inicial,
podendo até tornar o contrato inviável de ser executado.
São causas que justificam a inexecução do contrato: caso fortuito, força maior, fato da
Administração, fato do príncipe e as interferências imprevistas.
Por caso fortuito podemos entender um acontecimento que decorre da vontade humana e que
se reflete de forma negativa na execução do contrato. Embora seja um elemento relacionado à
vontade humana, não está relacionado à vontade do contratado ou contratante, mas de terceiros
alheios ao contrato administrativo, como, por exemplo, uma greve dos trabalhadores.
Já os casos de força maior estão relacionados aos eventos que independem da vontade
humana; assim, são eventos que decorrem da força da natureza, como, por exemplo,
inundações, enchentes, furacões.
Nosso ordenamento jurídico não diferencia caso fortuito ou força maior, os dois têm o
mesmo efeito legal. O que deverá ser levado em consideração é a conduta do contratado;
ambos serão considerados eventos inevitáveis.
No que tange ao fato da Administração, é o ato que incide diretamente sobre o contrato,
impedindo que ocorra seu adimplemento. Como exemplo, podemos citar o caso do não
pagamento de valores devidos ao contratado, ao ponto de fazer com que o contratado deixe de
cumprir com o que fora pactuado, tornando o cumprimento da obrigação contratual inviável.

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O fato do príncipe é um ato geral e imprevisível do Poder Público que incidirá de forma
indireta, onerando de forma substancial a execução da obrigação por parte daquele que
foi contratado, como, por exemplo, a importação de um produto cujo fornecimento tenha
sido contratado.
Em relação às interferências imprevistas, é possível em situações em que ocorre um fato
que não estava previsto, porém existente ao tempo da contratação. Como exemplo, um
terreno demasiadamente rochoso no espaço onde deveria ser realizada uma construção, mas
que só foi identificado após a celebração do contrato.
Em suma, podemos concluir que a teoria da imprevisão ou o reconhecimento de uma
situação alheia à vontade de contratado e contratante nada mais é que um ato imprevisível
no momento da contratação e que repercute efeitos negativos no contrato administrativo,
fazendo com que seu cumprimento se torne impossível ou inviável.

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Unidade: Contratos administrativos

Material Complementar

Vídeos:
BITTENCOURT, Marcus Vinicius Correa. Contrato administrativo – Introdução
e conceito. Vídeo publicado em 16 nov. 2014. Aula apresentada na ESMAFE/ PR.
Disponível em: https://www.youtube.com/watch?v=yi1BKsuPd3c.
Acesso em: 09 set. 2015.

Sites:
Artigo
FERREIRA, Daniel; GUÉRIOS, Patrícia. Função social e equilíbrio econômico-
financeiro dos contratos, privados e administrativos.
Disponível em: http://goo.gl/S9zK1V.
Acesso em: 09 set. 2015.

Blog
Blog Direito civil em debate. Coordenação de Giordano Bruno Soares Roberto.
Colaboração de estagiários docentes, monitores e alunos das disciplinas de Teoria Geral
do Direito Privado e Direito Civil, dos cursos de graduação e pós-graduação da Faculdade
de Direito da UFMG.
Disponível em: http://direitocivilemdebate.blogspot.com.br/2010/05/contratos-administrativos-diferem-se.html.
Acesso em: 09 set. 2015.

Revistas OAB Editora


OAB EDITORA. Revistas eletrônicas. Edições anteriores disponíveis em:
http://www.oab.org.br/publicacoes-revistas
Acesso em: 09 set. 2015.

Leituras:
BACELLAR FILHO, Romeu Felipe. Direito Público x Direito Privado.
Disponível em: http://www.oab.org.br/editora/revista/users/revista/1205503372174218181901.pdf.
Acesso em: 09 set. 2015.

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Referências

DALLARI, Adilson Abreu. Aspectos jurídicos da licitação. 5a edição. São Paulo: Saraiva, 2000.

DINIZ, Maria Helena. Curso de direito civil. Teoria das obrigações contratuais e
extracontratuais. Volume 2. 30ª edição. São Paulo: Saraiva, 2013.

DI PIETRO, Maria Sylvia Zanella. Direito administrativo. 27a edição. São Paulo: Atlas, 2014.

JUSTEN Filho, Marçal. Comentários à lei de licitações e contratos administrativos.


13a edição. São Paulo: Dialética, 2009.

MEIRELLES, Hely Lopes. Direito administrativo brasileiro. 40a edição. São Paulo:
Malheiros Editores, 2014.

VIEIRA, Evelise Pedroso Teixeira Prado. Direito administrativo. São Paulo: Verbatim, 2011.w

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Unidade: Contratos administrativos

Anotações

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