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APOSTILA
CONTRATOS E PARCERIAS
ADMINISTRATIVAS
ESPIRITO SANTO
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INTRODUÇÃO
http://www.jusbrasil.com.br/topicos/26413134/contrato-administrativo
1
Lei que regulamenta o art. 37, inciso XXI, da Constituição Federal e institui normas para licitações e contratos
da Administração Pública.
Dessa forma, não basta que o ente contratante integre a estrutura da
Administração Pública. Para a caracterização de um contrato como administrativo, o
ente que contrata deve fazer parte da estrutura da Administração Pública, mas
também é importante observar o objeto do contrato.
Inúmeros contratos firmados pelo Poder Público não se submetem ao regime
da Lei 8666/93, ou seja, não se submetem ao regime administrativo. O que ocorre é
uma relativização do art. 2º, par. único da Lei 8.666/932.
Por fim, é necessário verificar o tema do controle da atividade contratual da
Administração, que é importante tanto no nascimento do contrato (processo de
licitações públicas), quanto ao longo da execução, seja para impedir alterações que
desnaturem as premissas estabelecidas na licitação, seja para verificar se o contrato
atingiu os seus objetivos.
Sintetizando: o contrato Administrativo é uma norma contratual que obriga
a Administração Pública, nos seus termos. É peculiar pela incidência de normas
legais que determinam procedimentos e prerrogativas próprios para sua gênese,
formação, execução e extinção. Ou seja, obriga as partes, mas possui procedimentos
e prerrogativas específicas. Essa concepção ampla nos permite entender que o
contrato administrativo é um contrato que não se caracteriza como sendo regido pelo
regime jurídico único da Lei 8666/93. Embora exista um regime jurídico do direito
administrativo previsto na Lei 8.666/93, que disciplina a grande maioria dos contratos
administrativos, existem outros contratos que são submetidos a regras legais
específicas, sem serem os contratos de direito comum. Ou seja, o regime da Lei
8666/93 admite exceções. Por isso, alguns contratos, sem serem de direito comum,
são um pouco diferentes dos contratos de regime administrativo, como os contratos
celebrados pela Petrobrás, por exemplo.
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“Art. 2o (...) Parágrafo único. Para os fins desta Lei, considera-se contrato todo e qualquer ajuste entre órgãos
ou entidades da Administração Pública e particulares, em que haja um acordo de vontades para a formação de
vínculo e a estipulação de obrigações recíprocas, seja qual for a denominação utilizada. ”
CONTROVÉRSIA SOBRE A EXISTÊNCIA DO CONTRATO
ADMINISTRATIVO
http://pt-br.mundopublico.wikia.com/wiki/Controle_Judicial
A doutrina da inexistência
1. Partes
2. Autonomia da vontade
3. Objeto
A doutrina da existência
https://preuss.ucsd.edu/current-students/
3
Art. 37, XXI, CF - ressalvados os casos especificados na legislação, as obras, serviços, compras e alienações
serão contratados mediante processo de licitação pública que assegure igualdade de condições a todos os
concorrentes, com cláusulas que estabeleçam obrigações de pagamento, mantidas as condições efetivas da
proposta, nos termos da lei, o qual somente permitirá as exigências de qualificação técnica e econômica
indispensáveis à garantia do cumprimento das obrigações.
Por outro lado, possui características que advém do regime jurídico especial do
contrato administrativo, o que poderíamos chamar de parcela pública ou
administrativa do contrato:
http://www.st-anthony-cyo.cc/Forms.htm
b) Até que limite a Administração pode ficar obrigada por esse contrato?
O regime jurídico da Lei 8666/93 é bastante amplo e busca reger quase todas as
contratações em que a Administração seja parte. Mas também existem contratos em
que a Administração figura como parte que se aproximam mais dos contratos de
Direito Privado.
Por pretender ser único e aplicável a toda contratação em que a Administração
apareça como parte, o regime da Lei 8666/93 gera dois problemas:
Primeiro, pela lei já conter as regras aplicáveis às contratações das quais a
Administração faça parte, passa-se a falsa impressão de que nos contratos
administrativos não existe margem para a estipulação de normas no contrato. De
acordo com a Teoria Geral do Direito, de Hans Kelsen, o conjunto normativo se
organiza em uma estrutura hierárquica harmônica de norma:
1) Norma fundamental
2) Norma constitucional
3) Norma legal
4) Norma contratual
Como podemos perceber, nessa estrutura, a norma legal prevalece em relação à
norma contratual. No Direito Civil, pela norma legal ser muito aberta, há espaço para
a normatividade contratual. Já no Direito Administrativo, pela lei derrogar, em abstrato,
a vontade das partes, há a tendência de se considerar que não há espaço para a
normatividade contratual, pois, se as partes acordarem algo que não seja abarcado
pela lei, o acordado será derrogado. Por isso, fala-se no âmbito dos contratos
administrativos de uma “clausulabilidade obrigatória”. A ideia é que, já que o contrato
administrativo já possui uma lei que o regule, não é necessário esmiuçar cláusula por
cláusula ou, até, estabelecer cláusulas muito específicas. Para que estabelecer
sanções contratuais, por exemplo, se isso já está previsto pela Lei 8666/93?
Entretanto, apesar da Lei 8666/93 conferir prerrogativas à Administração, não
significa que elas não possam ser disciplinadas mais detalhadamente no contrato
administrativo. A consequência do estabelecimento de uma lei para reger os contratos
administrativos é delimitar o âmbito de normatividade contratual, não cercear
absolutamente o campo da normatividade contratual. Mesmo assim, acabam por
prevalecer na prática administrativa contratos meramente remissivos, que apenas
fazem menção a algum artigo da Lei 8666/93, ou os transcrevem literalmente. O que
não se leva em conta na prática é que a lei pode até conter diretrizes genéricas, mas
não detalha nada. O fato de a lei atribuir certas prerrogativas à Administração não
significa que esses termos não possam ser tratados em âmbito contratual.
Segundo, o regime único apresenta uma única solução para uma série muito
distinta de espécies contratuais em que a Administração é parte. Em outros
ordenamentos, as leis de contratos administrativos, além de disciplinarem o núcleo
duro, também preveem alguns tipos de contratos administrativos em espécie, com
regras específicas para contratos específicos. Já no regime jurídico brasileiro, a Lei
8666/93 rege todos os contratos administrativos. E rege tais contratos a partir do
contrato mais comum, que é o contrato de obras públicas, o que, por certo, acarreta
distorções na prática contratual.
O art. 2º, parágrafo único, da Lei 8.666/934, afirma que a lei aplica-se a qualquer
ajuste formulado entre órgãos ou entidades da Administração e particulares, qualquer
que seja a denominação que tal ajuste receba. Da leitura do artigo citado, se infere
que, se houver acordo de obrigações recíprocas envolvendo a Administração, será
aplicado um monobloco de regras genéricas, o que certamente levará a muitas
distorções.
A partir dessa dificuldade, a doutrina começou a se deparar com alguns ajustes
que não se moldam com a figura do contrato administrativo disciplinada pela Lei
8.666/93. E alguns desses contratos acabaram por criar leis específicas, derrogatórias
da Lei 8.666/93. Exemplos:
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Art. 2º (...) Parágrafo único. Para os fins desta Lei, considera-se contrato todo e qualquer ajuste entre órgãos ou
entidades da Administração Pública e particulares, em que haja um acordo de vontades para a formação de vínculo
e a estipulação de obrigações recíprocas, seja qual for a denominação utilizada.
de contratos de colaboração ou de escopo. Exemplo: convênio para a
recuperação de um prédio histórico, envolvendo soma de esforços, sem
prestação e contraprestação.
Contratos de permissão, que se caracterizam pelo uso de bens públicos
de forma privativa por um particular. Em tais contratos falta o elemento
da contraprestação. Não tem natureza de contrato administrativo, haja
vista faltar o elemento da relação obrigacional recíproca.
http://www.tce.se.gov.br/sitev2/conteudo.ler.php?id=1919
O art. 545, caput, da Lei 8666/93 dispõe que os contratos administrativos tratados
naquele corpo normativo “regulam-se pelas suas cláusulas e pelos preceitos de direito
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Art. 54. Os contratos administrativos de que trata esta Lei regulam-se pelas suas cláusulas e pelos preceitos de
direito público, aplicando-se-lhes, supletivamente, os princípios da teoria geral dos contratos e as disposições de
direito privado.
§ 1o Os contratos devem estabelecer com clareza e precisão as condições para sua execução, expressas em
cláusulas que definam os direitos, obrigações e responsabilidades das partes, em conformidade com os termos da
licitação e da proposta a que se vinculam.
público, aplicando-se-lhes, supletivamente, os princípios da teoria geral dos contratos
e as disposições de direito privado”. Na redação de tal artigo, o legislador utilizou as
expressões “contratos administrativos” e “de que trata essa lei”. Confrontando o art.
54 com o art. 2º da mesma lei, embora se possa interpretar no sentido de que os dois
artigos se completam por redundância, podemos entender que o art. 54 se volta para
o sentido de que é possível haver contratos administrativos que não se submetam à
lei 8.666/93.
A partir dessa conclusão, podemos, primeiramente, observar que a existência
de contratos administrativos que não se submetem à Lei 8666/93, atualmente, ocorre
de forma natural, pela presença de leis específicas que regem contratos
administrativos específicos.
Em segundo lugar, o art. 54 acaba por finalizar a discussão do contrato
administrativo como espécie do gênero “contrato”, já que em sua redação o legislador
reconhece que é possível aplicar os princípios da teoria geral dos contratos e as
disposições de direito privado.
Um terceiro ponto a ser ressaltado é que o art. 54 consolida a existência de
uma normatividade no contrato, que não se resume a simples remissões à lei geral. É
firmada a ideia de que o contrato administrativo é fonte de normatividade infralegal,
que cria lei entre as partes. Apesar de dever estar moldado ao regime da Lei 8.666/93
e também às disposições do regime público, pode trazer regras específicas
disciplinadoras do regime contratual.
Uma quarta questão que deve ser objeto de análise diz respeito à previsão, no
art. 54, de aplicação supletiva de princípios da teoria geral dos contratos e as
disposições de direito privado. Como já foi apontado acima, essa disposição coloca o
contrato administrativo como gênero da espécie “contratos”. Então, o contrato
administrativo por ser espécie do gênero “contrato”, deve, naquilo que não for
expressamente afastado, seguir as regras e princípios da teoria geral dos contratos.
Os contratos administrativos seguem um regime especial, que os particulariza
dentro do regime da teoria geral dos contratos. Deste regime especial, vamos
destacar as seguintes características:
§ 2o Os contratos decorrentes de dispensa ou de inexigibilidade de licitação devem atender aos termos do ato que
os autorizou e da respectiva proposta.
a) Autonomia relativa da vontade
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É o limite de crédito consignado na lei de orçamento ou crédito adicional, para atender determinadas despesas
de uma unidade orçamentária, sendo está um segmento da administração direta ou indireta a que o orçamento da
União consigna dotações orçamentárias especificas para a realização de seus programas de trabalho e sobre os
quais exerce o poder de disposição.
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“Art. 42. É vedado ao titular de Poder ou órgão referido no art. 20, nos últimos dois quadrimestres do seu
mandato, contrair obrigação de despesa que não possa ser cumprida integralmente dentro dele, ou que tenha
parcelas a serem pagas no exercício seguinte sem que haja suficiente disponibilidade de caixa para este efeito.
Limitação procedimental: dizem respeito a todas as normas de
procedimento (além das previstas na Lei 8.666/93) que a Administração
Pública deve realizar com vistas a uma contratação administrativa.
Exemplo: audiência pública ou normas sobre publicidade.
http://www.monolitospost.com/2015/06/28/aceitar-o-fenomeno-da-mutabilidade-e-ser-feliz-assim-
mesmo-e-o-que-temos-para-hoje/
1. As alterações não podem ser de ordem tal que acabem por desnaturar
o objeto contratado. Exemplo: um hospital não pode ter o projeto alterado
para um presídio. Seja pela vinculação à licitação ou pelo direito do
particular de que se honre o contrato pactuado, o objeto não pode ser
mudado a ponto de descaracterizar o que foi originalmente licitado;
A Lei 8666/93 prescreve qual deve ser o conteúdo básico dos contratos
administrativos. Seja qual for o contrato administrativo, em sua essência é um
contrato, devendo possuir o conteúdo típico do gênero “contratos” somados a
especificidades do regime administrativo (art. 54, caput, parágrafos 1° e 2° da lei
8666/93). Reforça-se a ideia de que o regime legal dos contratos administrativos não
é exaustivo no que tange à normatividade, o que faz com que o contrato administrativo
contenha as normas que serão aplicáveis aos contratantes. Tanto é assim que o art.
54 afirma que o contrato tem que ter claramente as obrigações de cada um na relação.
O art. 55 da Lei 8666/93 contém o rol de cláusulas necessárias que devem
constar em todos os contratos administrativos:
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A garantia contratual (Art. 56) não se confunde com a garantia eventualmente prestada como condição de
habilitação em processos licitatórios (Art. 31, III), tampouco com a garantia técnica do serviço ou do bem.
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“Art. 77. A inexecução total ou parcial do contrato enseja a sua rescisão, com as consequências contratuais
e as previstas em lei ou regulamento. ”
11. Vinculação ao edital de licitação ou ao termo que a dispensou ou a
inexigiu, ao convite e à proposta do licitante vencedor (art. 55, XI): o
contrato deve estar vinculado ao que originou a relação obrigacional;
12. Legislação aplicável à execução do contrato e especialmente aos
casos omissos (art. 55, XII): podemos extrair, da leitura desse inciso,
que a Lei 8666/93 não é a única aplicável ao regime dos contratos
administrativos;
13. Obrigação do contratado de manter, durante toda a execução do
contrato, em compatibilidade com as obrigações por ele assumidas,
todas as condições de habilitação e qualificação exigidas na
licitação (art. 55, XIII): a licitação estabelece os requisitos essenciais
para a contratação de empresa idônea e tecnicamente capaz para a
execução do contrato;
14. Exigência que o contrato preveja o foro da administração como foro
obrigatório para a solução de conflitos quanto ao contrato (art. 55, § 2 o):
a questão que aqui surge é sobre a possibilidade de os contratos
administrativos conterem cláusulas arbitrais. Nos contratos de
concessão e de PPP’s essa questão já está superada, pois a lei que
regula tais contratos prevê essa hipótese e isso já ocorre na prática. Nas
outras espécies de contratos há uma resistência de se aceitar a cláusula
arbitral pelo disposto no art. 55, § 2o. Mas o STJ vem mantendo o
entendimento de que, apesar de não ser possível que a Administração
se submeta à arbitragem em casos que envolvam a proteção de
interesses públicos, é perfeitamente possível que isso ocorra em relação
a interesses patrimoniais, que são disponíveis, se assim estiver
estipulado no contrato.
ADMINISTRAÇÃO
http://www.soniarabello.com.br/tag/casos-jurisprudencia/
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Sistema dual de jurisdição: Por conta da Revolução Francesa, havia na França um preconceito quanto ao Poder
Judiciário tradicional já que, durante o Antigo Regime, os cargos do Judiciário eram ocupados pela nobreza em
defesa de seus próprios privilégios. Então, Napoleão estabeleceu um governo centrado no Executivo para conter
o poder dos chamados “Parlamentos Judiciários”. Dessa forma, não se queria dar espaço para o Judiciário julgar
os atos do Executivo. A ideia estabelecida é que caberia ao Executivo julgar o próprio Executivo. Assim, foi
estabelecido um sistema dual de jurisdição, onde duas estruturas diferentes possuem poder jurisdicional: a
jurisdição judiciária e a jurisdição administrativa, estão situadas entre os órgãos do Poder Executivo, onde o órgão
maior é o Conselho de Estado Francês.
aquilo que normalmente eram contratos de fornecimento, para suprimento das
necessidades cotidianas da Administração, tipicamente assumia a rubrica de assunto
de direito privado. No entanto, a partir do momento que o Estado passa a realizar
atividades mais complexas, começa a recorrer cada vez mais a uma colaboração
privada no desempenho de funções públicas, levando à caracterização da concessão
de serviço público e outras figuras análogas. Tudo o que envolve concessão não cabe
conceitualmente na ideia de que sejam negócios privados, como uma compra e
venda. Está implícito que é algo inerente ao Estado e que foi concedido a um particular
provisoriamente. Nesses contratos, porém, a preponderância do Estado era clara,
sendo justificada pela garantia do “interesse público”.
Então, foi-se percebendo que para os contratos administrativos aplica-se um
regime jurídico singular, que não se confunde com o regime contratual privado. Nos
contratos administrativos, o Estado era titular de prerrogativas inexistentes nas
relações contratuais privadas e que estabelecem uma assimetria em relação ao
particular contratado. É obra do Conselho de Estado Francês o entendimento de que
o contrato de concessão de serviço público deveria ser regido por um regime diferente
do regime privado.
O Conselho de Estado Francês percebeu que o Estado, enquanto parte
contratante, guardava poderes de ação unilateral que a outra parte não tinha, poderes
esses que não eram encontráveis no Direito Privado. Também, naquela época
predominava uma visão liberal dos contratos, que era entendido como uma figura que
envolvia partes em igualdade de condições que exerciam livremente a sua vontade,
de modo que nenhuma poderia exercer superioridade sobre a outra. No entanto, nos
contratos de concessão, o Estado possuía poderes de modificação unilateral do
contrato que não poderiam ser abandonados, pois eram necessárias para o
desempenho de suas funções.
Essa percepção, de que o Estado possuía poderes exorbitantes em um
contrato em que figurava como parte, levou à construção de uma figura típica: as
“cláusulas exorbitantes”. As cláusulas exorbitantes deram origem à teoria francesa
do contrato administrativo.
De acordo com tal teoria, pressupõem-se poderes unilaterais para o Estado
enquanto parte contratante. Logo essa teoria se expandiu para outros países, embora
autores ingleses e norte-americanos repudiem essa ideia, por acreditarem que só
existe a common law, aplicável também ao Estado. Os alemães, por outro lado,
seguem uma linha diferente: admitem que em algumas relações haja esses poderes,
mas aí seriam atos unilaterais (concessão é ato unilateral, e apenas as consequências
financeiras fazem às vezes de contrato), enquanto os outros contratos seriam
privados.
Essa discussão entre contratos administrativos e contratos de direito privado
tem, na origem, a distinção das jurisdições na França. Seria mais um critério para
separar um critério de competência do que para separar diferenças materiais.
Brasil
O Brasil, ao longo do séc. XIX, foi muito influenciado pelo direito francês, a ponto de
existir dualidade de jurisdições e um Conselho de Estado no Império. A Proclamação
da República, por outro lado, conduziu o país segundo o modelo americano, inclusive
no tocante às jurisdições. Entretanto, continuamos muito influenciados pela produção
intelectual francesa, ainda que não pelo modelo institucional francês. Isso significa
que os julgados e a doutrina da época citavam frequentemente a doutrina e a
jurisprudência francesas, inclusive com menções ao contrato administrativo. Ressalte-
se que o direito positivo da época não dava base legal para a existência do contrato
administrativo.
A legislação sobre o tema dos contratos administrativos seguiu sendo bem
frágil. Até 1986, o tema dos contratos administrativos era regido por decretos da
década de 20. Só em 1986, um decreto-lei (Decreto-Lei 2300/86) veio reger o tema
dos contratos administrativos, e só em 1993 foi promulgada a Lei de Licitações e
Contratos Administrativos (Lei Federal 8.666/93).
Em sua formulação original, a Lei 8666/93 não deveria ser tomada como a Lei
de Contratos Administrativos. Por ser uma lei da União, deveria ser uma lei de normas
gerais sobre contratos administrativos, uma vez que a União não tem competência
constitucional para detalhar todos os aspectos do contrato. Só poderia trazer regras
gerais para contratação. A própria Lei 8666/93 afirma, logo no art. 1º14, que a lei dispõe
sobre normas de licitação e contratos administrativos, de forma geral.
Mas os intérpretes tomam a lei como se ela estabelecesse todas as regras para
o contrato administrativo15. O comportamento comum em relação à lei a toma como o
regime único dos contratos administrativos. Tudo milita para que as pessoas digam
que é um regime único. Discutindo sobre o tema, o STF decidiu que a lei é de normas
gerais e se aplica aos Estados e Municípios, que não reagiram para fazer prevalecer
sua autonomia federativa.
A Lei 8666/93 é muito preocupada com a moral. Mas é uma moral burocrática,
uma moral que engessa, se voltando muito para os meios e pouco para a finalidade.
A lei detalha e engessa excessivamente o procedimento, como se apenas as regras
pudessem fazer um controle efetivo. Assim, a lei tentou ser a mais abrangente e
rigorosa possível. Um exemplo é o disposto no art. 2º, parágrafo único, que estabelece
uma noção ampla de contrato para a incidência da lei.
Por essa noção ampla, os autores consideram que qualquer contrato que tenha
como parte a Administração se submete a essa lei. E, se submetendo a essa lei,
qualquer contrato que tenha como parte a Administração internaliza o regime de
cláusulas exorbitantes (alteração unilateral do contrato, rescisão unilateral, aplicação
unilateral de sanções, etc.). Na medida em que a lei afirma que contrato é “todo e
qualquer ajuste entre órgãos ou entidades da Administração Pública e particulares”,
como entender que existam contratos que não sigam essa regra tipicamente
publicista?
Parece que a lei, no art. 62, §3º, em seus dois incisos 16 , quis criar uma
alternativa a esse regime. A lei exemplifica alguns contratos, no inc. I, cujo conteúdo
é regido predominantemente por normas de direito privado. Porém, afirmar que as
normas gerais e as cláusulas exorbitantes aplicam-se “no que couber” cria muitas
14
“Art. 1o Esta Lei estabelece normas gerais sobre licitações e contratos administrativos pertinentes a obras,
serviços, inclusive de publicidade, compras, alienações e locações no âmbito dos Poderes da União, dos Estados,
do Distrito Federal e dos Municípios.”
15
É aquilo que o Professor Floriano, em seu texto sobre “A Nova Contratualidade Administrativa”, sustenta ser a
“maldição de um regime único”.
16
“Art. 62 (...)
§ 3o Aplica-se o disposto nos arts. 55 e 58 a 61 desta Lei e demais normas gerais, no que couber:
I - Aos contratos de seguro, de financiamento, de locação em que o Poder Público seja locatário, e aos
demais cujo conteúdo seja regido, predominantemente, por norma de direito privado;
II - Aos contratos em que a Administração for parte como usuária de serviço público. ”
dúvidas. Numa leitura radical do inc. I, não se aplicaria o regime público. Porém, o
sentido que se aceita majoritariamente é que pouco sobra de privado em tais contratos
quando é a Administração que os celebra.
Nesse ponto, devemos perguntar: qual a efetiva distinção entre o regime de
direito público e o regime de direito privado?
Essa distinção se resume ao aspecto de autoexecutoriedade daquilo que é
público, ou seja, o Estado, enquanto parte em qualquer relação jurídica, decide e
executa sua decisão com sua força própria. Os particulares entre si ou em relação ao
Estado não gozam desse poder em suas relações jurídicas, apesar de haver
exceções, como a legítima defesa ou o desforço próprio. Em geral, os particulares
devem provocar o Judiciário, pleiteando uma tutela específica para fazer valer sua
vontade.
A situação fica ainda mais irrelevante quando quem celebra os contratos são
entidades privadas da Administração Pública, como as empresas públicas e as
sociedades de economia mista, que desempenham atividades econômicas e
competem em condições de igualdade no mercado (art. 173, CF). No desempenho
dessa atividade econômica, como empresa pública ou sociedade de economia mista,
o Estado age no “mundo dos privados”, devendo seguir as mesmas regras da livre
concorrência, não podendo concorrer numa situação de privilégio. Portanto, deverá
seguir regras privadas, mas ainda não existe uma lei específica para esses casos,
como determinado tanto pelo art. 173, §1º, como pela lei 8.666/93. Enquanto não
existe, aplica-se a última, no que couber (art. 119, Lei 8666/93), ou as leis específicas
existentes para cada entidade, como o regulamento que a Petrobrás editou para si.
Em suma, não há uma solução sobre a questão da distinção entre contratos
privados e contratos administrativos. O limite do regime jurídico não é pronto. Uma
resposta correta é que a solução não está no rótulo “direito público” ou “direito
privado”, mas no regime jurídico de cada caso, que decorre, por sua vez, das leis
específicas, e não da lei 8.666/93 como lei geral que vale para tudo.
Não raras vezes, o preço pago pela Administração ao cabo daquele projeto não
coincide com aquilo que era previsto após a conclusão do procedimento licitatório. O
preço estabelecido para o cimento, por exemplo, não pode mudar, mas, de acordo
com a execução dos trabalhos, pode ser que sobrevenha uma mudança na
quantidade do material utilizado. Os órgãos de controle buscam combater o chamado
jogo de planilhas, em que o particular, propositalmente, na elaboração de sua
proposta, oferta valores baixos para insumos pouco utilizados e valores altos para
insumos bastante utilizados, justamente para que o preço final seja maior que o
previsto 17 . Neste regime de execução, o particular não assume o risco das
variações da quantidade de material ou pessoal necessário ao longo da obra,
mesmo que decorrentes de defeitos do projeto, salvo nos casos de fraude.
2) Empreitada por preço global (art. 6º, VIII, “a” da Lei 8666/93): Típica
obrigação em que o contrato dar-se-á completado quando todo o projeto for
executado, sendo a remuneração única e total, envolvendo toda a obra. O particular
se obriga a executar aquele objeto e acorda receber um preço fixo e determinado por
aquele objeto, independentemente de uma variação da quantidade de itens
necessários para a execução do contrato. O preço é certo e total, podendo ser pago
em parcelas, não havendo a necessidade de que o particular receba somente uma
única parcela ao fim da obra.
17
Exemplo ilustrativo: a Administração estima o quantitativo de 100 barras de aço e 100 sacos de cimento para
uma determinada obra, prevendo valores unitários de “x” e “y”, respectivamente. O particular, em sua proposta,
sabendo que na prática os sacos de cimento serão mais utilizados que as barras de aço, oferta os preços de “0,4x”
e “1,2y” para esses insumos. Assim, embora tenha sido o detentor da melhor proposta global, há a chance de que
o preço final da obra tenha sido superior ao que outros licitantes aufeririam. Do cenário ilustrativo exposto fica
evidenciada a importância da elaboração de um projeto básico preciso pela Administração.
A exigibilidade de cada parcela não está sujeita a uma aferição do quanto foi
executado no período anterior. O pagamento fica sujeito à verificação da ocorrência
de um evento certo e determinado. Quando pensamos na reforma de uma sala, por
exemplo, o pagamento não fica atrelado à quantidade de tinta usada, mas se a sala
recebeu a nova pintura.
Ainda assim, há uma doutrina dentro dos órgãos fiscalizadores que afirma que
a Administração não fica dispensada de verificar o quanto de material foi utilizado, o
que seria uma contradição em termos. Poder-se-ia verificar se a empreiteira cumpriu
com o combinado de dar duas demãos de tinta, mas não fiscalizar o quanto de tinta
foi utilizado. O executor assume os riscos e as falhas de eventual falha na elaboração
do projeto. Surge a necessidade de que o projeto seja mais determinado, detalhado e
estudado. O particular, no preço global, não assume os riscos decorrentes da
ampliação ou alteração do projeto. Exemplo: A Administração contrata um particular
para fazer uma estrada que liga Mogi das Cruzes a Sorocaba. Se for necessário se
valer de mais cimento, concreto, tinta do que fora antes planejado, o risco é do
contratado. Porém, se a Administração se valer da prerrogativa da mudança do objeto,
como requerer que a estrada se estenda até Presidente Prudente, esta deverá pagar,
o particular não assume os custos dessa variação.
3) Empreitada integral ou “turn-key” (art. 6º, VIII, “e” da Lei 8666/93): É uma
variação da empreitada global, na qual um particular recebe a incumbência de
entregar o objeto em condições plenas de funcionamento, atendendo não apenas as
condições definidas para o objeto do projeto original, mas também as mínimas
obrigações de desempenho, funcional e operacional, como resultado do objeto
entregue. Fixa um preço global, um cronograma, e o particular assume a obrigação
de entregar o objeto apto em pleno funcionamento no dia seguinte ao do término do
prazo.
http://www.mcfoa.org/index.asp?SEC=F433979A-92DD-40B7-ABF8-B6A25B276475&Type=B_LIST
18
“A formalização refere-se ao modo como os contratos se exteriorizam, se expressam. ” (Medauar, pág. 225)
Como já foi estudado em aulas anteriores, um dos elementos que caracterizam
o contrato administrativo é a autonomia relativa da vontade. A lei delimita a autonomia,
prevendo condições para a decisão do que, do como, do quando e, principalmente,
do com quem contratar. A regra geral é de que o contrato administrativo seja
precedido de licitação. Há exceções, nas hipóteses de contratação direta. A questão
que importa é que, seja na licitação, seja na contratação direta, o contrato
administrativo é precedido de formalidades que geram consequências para o curso
da execução do contrato.
Mas existe uma única hipótese que, pelas circunstâncias excepcionais, se
admite uma certa informalidade nesse processo de formação do vínculo, saneável
posteriormente. É o caso específico da contratação emergencial, situação na qual
se admite uma contratação desprovida das exigências formais, uma vez que a
necessidade de se obter o cometimento seja tão urgente que não só dispensa
licitação, mas admite também a dispensa de cautelas procedimentais próprias da
contratação direta. São situações raras, que devem ser muito fiscalizadas, em que se
admite até mesmo o início da execução do contrato antes da formalização.
Etapas da formação do vínculo contratual
Há três momentos: fase interna da licitação, fase externa da licitação e
procedimentos de formalização contratual.
1. Fase interna da licitação: desde o momento em que é proferido o despacho
da autoridade até o momento em que se publica o edital 19 convocando os
interessados a apresentar propostas a fim de contratar com a Administração. É o
período anterior ao anúncio público da licitação.
Nessa fase, temos manifestações que produzem efeitos ao longo do contrato e
que irão compor o vínculo contratual.
É aqui que:
19
“O edital é a lei interna da licitação, não podendo ser descumprido pela Administração e nem pelos licitantes
(art. 41, caput). A divulgação do edital efetua-se pela publicação de aviso com o resumo do mesmo, nos seguintes
veículos: Diário Oficial da União, nas licitações de órgãos ou entidades federais ou de obras financiadas total ou
parcialmente com recursos federais; Diário Oficial do Estado ou do Distrito Federal, quando se tratar,
respectivamente, de licitação feita por órgão ou entidade estadual ou municipal, ou do Distrito Federal; em jornal
de grande circulação no Estado e também, se houver, em jornal de grande circulação no Município ou na região
onde será executado o objeto do futuro contrato. Outros meios de divulgação poderão ser utilizados (art. 21,
caput e incisos). ” (Odete Medauar, pág. 197)
(i) Será definido o projeto básico, que deverá ser aprovado pela autoridade
competente;
(ii) Será elaborada planilha de custos unitários e global;
(iii) Que ocorrerá a indicação precisa de recursos orçamentários para o
pagamento das obrigações no exercício financeiro em curso e;
(iv) O exame e aprovação da minuta do edital pela assessoria jurídica da
Administração.
O art. 54, § 1°, da Lei 8.666/93 estabelece que o contrato é aos termos que
regeram a contratação. É de extrema importância também a previsão trazida pelo
artigo 41 da Lei 8.666/93, pelo qual “a Administração não pode descumprir as normas
e condições do edital, ao qual se acha estritamente vinculada”.
2. Fase externa da licitação: Inicia-se com a publicação do edital, momento a
partir do qual interessados poderão analisar as peculiaridades do objeto, elaborar
questionamentos e interpor impugnações administrativas contra o instrumento
convocatório, como, por exemplo, nos casos em que há direcionamento da
contratação e restrição da concorrência. Também é etapa elementar da chamada
“fase externa da licitação” a realização da sessão pública, que iniciará os
procedimentos referentes à habilitação, apresentação das propostas, classificação,
julgamento e ulteriores homologação e adjudicação do objeto (para tanto, vide artigos
43 e seguintes da Lei 8.666/93).
Nessa fase há um grande impacto a partir da proposta vencedora da licitação.
A Constituição estabelece a obrigatoriedade da licitação, o que coloca a proposta
vencedora como um eixo vinculante de tudo o que se dará na execução contratual.
Há eventos pré-contratuais que também vinculam, e terão lugar no final da fase
externa (ultimado o processo licitatório, com homologação e adjudicação). É o caso,
por exemplo, da modalidade de garantia oferecida pelo vencedor, uma vez que a
Administração tem a faculdade de exigir garantias do particular para a contratação
(vide artigo 56, Lei 8.666/93). Em processos mais complexos, na fase externa haverá
outras definições mais importantes, como a constituição de sociedade para execução.
Ainda não há contrato nem termo formalizado, mas já há atos vinculantes.
3. Procedimentos de formalização contratual propriamente ditos.
Mesmo nas hipóteses em que não tenhamos licitação (contratações diretas por
dispensa ou inexigibilidade), isso não autoriza dizer que os eventos pré-contratuais
não tenham importância. Tanto que a própria lei, no art. 26, parágrafo único e no art.
55, inc. XI, fixa, define e exige que o processo de dispensa ou inexigibilidade seja
formal e constitua parte integrante do contrato administrativo.
Detalhe hermenêutico: de acordo com o art. 40, inc. III, § 2o, da Lei 8.666/93, a
minuta do contrato a ser firmado entre a Administração e o licitante vencedor é um
dos anexos do edital. E, de acordo com o disposto no art. 55, inc. XI, é cláusula
necessária a todo contrato a vinculação ao edital. Não há problema nenhum se não
houver uma cláusula contratual com aparente contradição entre as disposições do
edital e da minuta de contrato. O problema ocorre quando há conflito entre o conteúdo
de cada um desses documentos, o que pode propiciar uma dificuldade em relação à
execução do contrato (desde que, é claro, a contradição não seja de tal gravidade que
impeça a execução do contrato e o torne distinto do que se licitou). A solução é uma
inversão de precedência hermenêutica: a parte principal prevalece sobre o que
consta como anexo. Então prevalece a cláusula contratual em relação ao edital e à
minuta anexa.
Uma questão importante da relação de formação do vínculo contratual que se
protrai no tempo e gera consequências para o futuro é o caráter vinculante ou os
efeitos que geram para o contrato as exigências que foram feitas ao tempo da
licitação. O art. 55, inc. XIII, da Lei 8.666/93, coloca como cláusula obrigatória do
contrato a exigência de que o contratado mantenha permanentemente as condições
de habilitação e qualificação ao longo da execução do contrato (profissionalismo,
exigências técnicas, capital social mínimo etc.). As qualificações exigidas devem ser
respeitadas na contratação e devem ser justificáveis à luz do objeto do contrato, visto
que a Constituição, em seu art. 37, inc. XXI, dispõe que a Administração só pode exigir
qualificações imprescindíveis à boa execução do contrato.
Da exigência de que o contratado mantenha permanentemente as condições
de habilitação e qualificação ao longo da execução do contrato, poderia se inferir o
caráter intuitu personae absoluto do contrato administrativo. Entretanto, a exigência
de qualificação não importa dizer que a condição subjetiva do particular fique
congelada até o termo do contrato20. Ao contrário, significa que aquela garantia de
20
“Diz-se que o contrato administrativo é pactuado intuitu personae para indicar um fenômeno jurídico
específico. Significa que o preenchimento de certos requisitos ou exigências foi fundamental para a Administração
escolher um certo particular para contratar. Porém, esses requisitos têm de ser objetivamente definidos, como
qualificação, que a Administração julgou imprescindível, permaneça. Assim, para
homenagear esse preceito, pode ser necessária uma troca subjetiva na parte
contratual.
Pensar numa pessoalidade rígida na execução do contrato é contra a dinâmica
da vida econômica e da vida empresarial e, também, contra o princípio da
impessoalidade que deve reger todos os atos da Administração. Embora a condição
subjetiva do executante seja imprescindível, o que leva a requisitos de qualificação,
nem todos os contratos administrativos têm um caráter personalíssimo. A
possibilidade de substituição da pessoa executante não será admitida se tivermos um
contrato celebrado, por exemplo, na hipótese de inexigibilidade motivada por
característica pessoal do licitante. Um exemplo seria a contratação sem licitação de
Oscar Niemeyer para projetar um prédio. Não pode haver a substituição por outro
arquiteto, pois surge o caráter personalíssimo.
Concluindo: a exigência de manutenção, durante todo o contrato, das
condições de habilitação e qualificação não é suficiente para tornar o contrato
personalíssimo.
regra (...) um contrato administrativo intuitu personae no mesmo sentido do Direito Privado infringiria o princípio
da impessoalidade. Para o Estado é indiferente a personalidade psicológica do particular (...) ou seja, o Estado
não se vincula às características subjetivas do licitante vencedor. Está interessado na execução da proposta mais
vantajosa, a ser desenvolvida por um sujeito idôneo. ” (Marçal Justen Filho, pág. 51)
posterior à Lei 8.666/93, o caráter vinculante da contratação do particular alçado à
condição de adjudicatário.
Entretanto, a doutrina majoritária entende que o adjudicatário só tem o direito
de não ser preterido na contratação21 e, também, de ser ouvido em contraditório, em
caso de revogação da licitação. Porém, o adjudicatário não tem o direito subjetivo
de obrigar a Administração a contratá-lo, pois, se lhe fosse dado esse direito,
haveria uma transferência de prerrogativa exclusiva da Administração de juízo de
conveniência e oportunidade do momento da contratação. É o que considera a maioria
da doutrina e da jurisprudência.
A esse entendimento da maioria da doutrina e da jurisprudência se contrapõe
a parcela minoritária, dizendo que a informação do que contratar e quando contratar
(juízo de conveniência e oportunidade) já ocorreu quando chamou publicou o edital
de licitação. Não haveria a opção de não contratar, mas apenas a prerrogativa de
anular ou revogar justificadamente o certame. Prova disso seria o caráter restritivo e
excepcional atribuído à revogação da licitação.
O disposto no art. 64, § 2°, da Lei 8.666/93, chama a atenção ao dispor que se
o adjudicatário declinar, no prazo e nas condições estabelecidas, ou não responder a
convocação, a Administração poderá convocar o segundo colocado pelo preço e
condições do primeiro (e assim por diante). Há necessidade do segundo colocado
expressamente manifestar sua anuência em contratos sob essas condições. Somente
o primeiro colocado na licitação, o adjudicatário, se não responder, estará sujeito a
penalidades. Já os outros não serão punidos por não contratar nos termos do primeiro,
pois a oferta não foi por eles apresentada, pelo que não podem a ela se vincular22.
O prazo para convocação do licitante para que este assine o contrato, que
geralmente é de cinco dias, pode ser prorrogado uma vez, por igual período, mediante
solicitação do adjudicatário, com a apresentação de um motivo justificado (art. 64, §
1o, da Lei 8666/93).
21
A Administração pode desistir do objeto a partir de um juízo de conveniência e oportunidade, mas caso não o
faça, é o adjudicatário (licitante vencedor) o único titular do direito subjetivo à contratação.
22
“Art. 81. A recusa injustificada do adjudicatário em assinar o contrato, aceitar ou retirar o instrumento
equivalente, dentro do prazo estabelecido pela Administração, caracteriza o descumprimento total da obrigação
assumida, sujeitando-o às penalidades legalmente estabelecidas.
Parágrafo único. O disposto neste artigo não se aplica aos licitantes convocados nos termos do art. 64, § 2o desta
Lei, que não aceitarem a contratação, nas mesmas condições propostas pelo primeiro adjudicatário, inclusive
quanto ao prazo e preço. ”
Requisitos formais dos contratos administrativos
http://www.munisantiagodechuco.gob.pe/informate/Noticia_detalle/29
Quanto à execução o contrato pode ter três possíveis desfechos. Pode ter uma
execução regular, conforme o que foi pactuado inicialmente. Pode ter uma
execução regular, mas passando por alterações no que foi inicialmente
pactuado no curso da execução e, por fim, uma execução irregular, quando há
falhas de uma das partes, seja do particular contratado, seja da Administração. É
importante ressaltar que não se confunde a execução irregular com a execução
regular com alterações: uma vez alterado o contrato, a execução será feita à luz das
novas condições, enquanto a execução irregular do contrato por parte da
Administração obrigará a repactuação para neutralizar os efeitos daquele
descumprimento contratual da Administração no âmbito do ajuste.
1. Execução regular
A execução regular do contrato se consubstancia na observância por ambas as
partes daquilo que ficou pactuado no contrato como obrigação de cada qual. O
particular deve cumprir com suas obrigações rigorosamente conforme o projeto e deve
cumprir conforme a oferta que ele fez à Administração. Além disso, o particular se
submete também às determinações da Administração feitas no curso da execução do
contrato.
Nesse ponto, a análise de três dispositivos da Lei 8.666/93, o art. 69, o art. 76
e o art. 66, se torna de extrema relevância.
De acordo com o art. 69, deve o contratado reparar, corrigir, remover,
reconstruir ou substituir, às suas expensas, no total ou em parte, o objeto do contrato
em que se verificarem vícios, defeitos ou incorreções resultantes da execução ou de
materiais empregados. Esse artigo confere uma obrigação muito genérica e dificulta
o estabelecimento de um parâmetro do que pode ser exigido do particular. É aplicado
não apenas quando o particular conclui e entrega um objeto que não é adequado, mas
também acaba se tornando instrumento para que a Administração, fiscalizando o
curso da execução, determine reparos ou correções. Então, tal artigo acaba prevendo
uma obrigação geral do particular, adstrita à obrigação de bem executar o contrato,
que traz para o executante privado uma obrigação de, antes e depois da execução do
projeto, reparar.
O art. 69 não atribuiu à Administração uma discricionariedade absoluta. Na
realidade tal artigo só se aplica nos casos em que o particular não executar ou
executar com vícios o contrato administrativo. A ausência de algumas dessas
justificativas não impede que o administrador peça o adimplemento de parte da obra,
porém nesse caso esse serviço ensejará um pagamento extra. Se o particular realizou
a obra exatamente como combinado e a Administração deseja alterar algum aspecto,
o particular fica obrigado a realizar as mudanças, mas possui o direito de receber um
sobreposto. Por outro lado, caso tenha ocorrido alguma falha, o particular fica
obrigado a reparar o erro ou dano sem que haja sobreposto, por sua conta.
O art. 76 dispõe que a Administração rejeitará no todo ou em parte obra, serviço
ou fornecimento executado em desacordo com o contrato. Este artigo trata do não
recebimento da obra ou serviço, que ocorre na avaliação final da execução do
contrato, e acaba por completar o disposto no art. 69. Este artigo possui um parâmetro
mais concreto de interpretação: “em desacordo com o contrato”.
Questão: e se o que foi feito em desacordo com o projeto atinge os objetivos
ou mesmo implique uma qualidade melhor? Na situação de fazer algo em desacordo
com o contrato, a posição do particular é muito frágil: se ele tomou essa medida sem
formalizar (aditamento contratual), ele deverá arca com os riscos de a Administração
posteriormente exigir que a obra seja refeita para que esta siga as especificações do
contrato.
Se a Administração tem a prerrogativa de rejeitar obra executada em desacordo
com o contrato, ela também deve cumprir com suas obrigações dentro do que foi
estipulado. São obrigações acessórias, como obrigações de fazer, como entregar as
áreas desobstruídas, proceder a uma interdição ou sinalização viária, fazer
desapropriações etc. que, sem os seus cumprimentos, impossibilitam que o particular
cumpra com suas obrigações contratuais. Muitas vezes falhas e atrasos no
cumprimento dessas obrigações levam a alterações posteriores do contrato para
eliminar o desequilíbrio econômico-financeiro resultante.
O art. 66 estipula que o contrato deverá ser executado fielmente pelas partes,
podendo tanto o particular quanto a Administração ser responsabilizados pelas
consequências de sua inexecução total ou parcial. Esse artigo não deixa dúvidas de
que a Administração pode e deve ser responsabilizada pelas consequências da
inexecução da sua parcela da execução do contrato. O particular tem um direito
subjetivo a postular, perante a Administração, não apenas o cumprimento tempestivo
das obrigações, mas também o direito subjetivo a exigir da Administração que ela
assume as consequências decorrentes do atraso de sua parcela de obrigações.
A inexecução pode ocorrer por vícios no objeto, nos materiais, ou por vício/falha
na execução. Pode ocorrer tanto por parte do particular, quanto da Administração. Há
uma divergência na doutrina sobre aquilo que se deve entender por execução parcial
do contrato. Uns entendem que se trata de falha de parte do objeto do contrato, ainda
que tenha sido entregue como um todo. Outros afirmam que, ainda que o particular
cumpra com o objeto do contrato, será parcial quando houve mora por parte do
particular, imposição de sanções, prolongamento na execução, etc.
Primeiramente, iremos analisar as sanções impostas ao particular quando
este foi o causador da inexecução parcial do contrato. Além do dever de reparar,
disposto no art. 69, a inexecução parcial também implica sanções administrativas
impostas ao particular e previstas no art. 87 da mesma Lei:
a) Advertência (inc. I), que é muito incomum;
b) Multa, na forma prevista no instrumento convocatório ou no contrato (inc. II),
que é a mais frequente e que deve ser vista com cautela, uma vez que se
devem evitar cláusulas penais muito abertas;
c) Suspensão temporária do direito de participar de licitação e impedimento de
contratar com a Administração, por prazo não superior a 2 anos (inc. III);
d) Declaração de inidoneidade para licitar ou contratar com da Administração
Pública enquanto perdurarem os motivos determinantes da punição ou até que
seja promovida a reabilitação perante a própria autoridade que aplicou a
penalidade, que será concedida sempre que o contratado ressarcir a
Administração pelos prejuízos resultantes e após decorrido o prazo da sanção
aplicada com base no inc. III (inc. IV).
2. Limites explícitos: o art. 58, I da Lei 8666/93, dispõe que o contrato poderá
ser alterado unilateralmente pela Administração para adequar os termos do ajuste às
finalidades do interesse público, respeitados os direitos do contratado.
Quando circunstâncias demonstram que o objeto (o que deve ser entregue) não
é mais o meio adequado para atingir as finalidades, isso pode fazer com que
alterações sejam necessárias para que o objeto melhor atinja seus objetivos
(finalidades). Essa verificação pode decorrer de duas circunstâncias:
23
“Art. 65 Os contratos regidos por esta Lei poderão ser alterados, com as devidas justificativas, nos seguintes
casos:
I- Unilateralmente pela Administração:
a) Quando houver modificação do projeto ou das especificações, para melhor adequação técnica aos seus
objetivos;
b) Quando necessária a modificação do valor contratual em decorrência de acréscimo ou diminuição
quantitativa de seu objeto, nos limites permitidos por esta Lei. ”
Quando da contratação a Administração pode exigir garantia de
execução nos termos do art. 56. Exigindo a garantia de execução, a
Administração é obrigada a deixar ao particular a decisão sobre modalidade de
garantia. Como é faculdade que a lei assegura ao particular (art. 56, §1 o), pode
ser alterada;
2. Quando necessária a modificação do regime de execução da obra ou do
serviço, bem como do modo de fornecimento, em face da verificação técnica
da inaplicabilidade dos termos contratuais originários (art. 65, II, b):
É hipótese em que a Administração contrata uma empreitada por preço
global, verificando-se que não é viável executar o contrato dessa forma. Há de
se fazer uma alteração do contrato, modificando-se o regime de execução. Não
estamos falando em mudança de objeto, mas de cláusulas acessórias, de
serviço. Porém, essa alteração implica numa modificação de muitas cláusulas
no contrato (preço, forma de aferição das parcelas do pagamento, etc.). A lei
vincula essa modificação a um acordo entre as partes, bem como a uma
demonstração da inaplicabilidade dos termos contratados originais. Não será
possível executar o objeto no regime originalmente pactuado
DI PIETRO, Maria Sylvia Zanella. Direito Administrativo. 23ª ed. São Paulo: Editora
Atlas, 2009
MEIRELLES, Hely Lopes. Direito administrativo brasileiro. 22ª ed. São Paulo:
Malheiros, 1997;
MELLO, Celso Antonio Bandeira de. Curso de Direito Administrativo. 28ª ed. São
Paulo: Malheiros Editores. 2010. p 648.