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Sumário
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REFERENCIAS .........................................................................................................
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O canto orfeônico na escola III – Repertório
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elaboração de repertório para cada faixa etária, baseando-se principalmente no
folclore nacional, reforçando o nacionalismo e a busca pela criação da identidade
nacional vivida no século XX.
4) a de que a música folclórica de alta qualidade deve ser utilizada no ensino musical;
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O crescimento da aplicação do canto orfeônico nas escolas teve como
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consequência a necessidade de materiais didáticos específicos, uma organização
sistematizada num conjunto de coletâneas organizadas por Villa-Lobos. Como o
funcionário público burocrático do governo responsável pelo projeto, o maestro
elaborou um Guia Prático que se constituiu, essencialmente, em uma coleção de
músicas folclóricas, ou populares de inspiração folclórica, sem abordar outros estilos
musicais, tais como os de caráter cívico-patriótico ou de louvor ao trabalho.
Mais duas obras foram compiladas e publicadas, uma intitulada de Solfejos, e a outra
de Canto Orfeônico. Nessas coleções encontramos uma diversidade de estilos e
objetivos. Estas eram utilizadas no processo de formação de professores
especializados, como também na prática orfeônica nos diferentes níveis escolares.
Nesse trabalho focalizamos os dois volumes do Canto Orfeônico.
Em ambos, temos presente uma rica variação, incluindo no seu corpo peças contidas
também no Guia Prático. Com base nessas referências, fizemos a seleção das
canções folclóricas, patrióticas e hinos nacionais que são aqui analisados.
A coleção Canto Orfeônico, como nos referimos, está organizada em dois volumes.
Vale destacar que o primeiro, de 1940, está dividido em categorias temáticas.
Acreditamos que esta organização seja fruto do apogeu do Estado Novo na época de
sua publicação, tempos em que Villa lobos deveria ater-se mais profundamente ao
conteúdo ideológico das obras.
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“Mar do Brasil” (letra de Sylvio Salema – música de H. VillaLobos); “Alerta – Canção
dos Escoteiros” (letra e música de B. Cellini – arranjo de H. Villa-Lobos); etc.
Isto porque o maestro entendia a necessidade do domínio desse padrão rítmico para
a boa execução do caráter marcial da maioria dos hinos. A visão panorâmica do
segundo volume, o de 1951, demonstra que nesta fase o maestro encontrava-se
menos voltado para os objetivos da educação musical por não desfrutar mais da
cobertura e gigantismo do Estado Novo.
Enfim, nestes dois volumes encontram-se músicas datadas do período que precede
a instalação do Estado Novo até o segundo governo de Vargas. Acreditamos que
estas músicas estão impregnadas das representações sociais para a construção de
uma ideologia nacionalista.
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A Representação Social, ainda que tenha surgido da Sociologia de Durkheim, tomou
corpo nos estudos da Psicologia Social e foi concebida como teoria no trabalho
desenvolvido por Serge Moscovici, aprofundado por Denise Jodelet. De forma
concisa, abordamos aqui o ponto de vista sociológico inicial da representação social.
Entretanto é tida como um objeto de estudo tão legítimo quanto este, devido à sua
importância na vida social e à elucidação possibilitadora dos processos cognitivos e
das interações sociais. (Jodelet, 2001, p.22).
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Neste trabalho, assume-se a concepção de Representação Social como uma
categoria complexa que não deve consistir como entendimento de um fenômeno
particular do ser, porém como um fenômeno relacional, considerando o indivíduo
dentro de um contexto histórico, social e cultural, onde a construção do “eu” está
relacionada pela interatividade com os outros.
Para Moscovici (2003) a construção das representações sociais acontece por dois
processos básicos: a ancoragem e a objetivação. Para o psicólogo social, ancorar é
enquadrar em categorias, e à imagens já conhecidas, algo novo. Isto é, tornar o que
é estranho em familiar, ancorar o desconhecido em representações já formuladas.
Dessa maneira, a nova representação toma forma, o que era novidade tornase
elemento integrante e fincado no sistema de pensamento oficial. Em outras palavras,
as novas representações ganham espaço e, nessa perspectiva, passa a fazer parte
do sistema de interação do indivíduo com o mundo social, pois o que é comum ao
grupo possibilita a comunicação e a nova troca de influências. “É quase como que
ancorar um bote perdido em um dos boxes de nosso espaço social”
(p.61).
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conhecimento de senso comum de um tema determinado, onde estão inseridos, de
forma semelhante, as ideologias, os preconceitos e as peculiaridades das práticas
cotidianas, sejam elas sociais ou profissionais.
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como as urbanas. Entretanto, os ofícios mais ligados à plantação, à pecuária e outras
atividades carregam conteúdos regionais e folclóricos recolhidos pelas pesquisas
desenvolvidas pelo maestro.
Com a chegada da família real ao Brasil, no ano de 1808, a música estendeuse para
os teatros ao invés de ficar restrita à Igreja, porém, quanto ao ensino de música, não
há indícios de grandes alterações metodológicas em relação ao período anterior, uma
vez que esses ensinamentos mantinham-se presos a métodos progressivos com
grande ênfase na memorização.
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1971, o ensino de música é extinto dos currículos escolares, sendo substituído pela
Educação Artística, que mantinha um caráter interdisciplinar, pois havia ênfase nas
quatro linguagens artísticas, sendo elas: a dança, a música, o teatro e as artes
plásticas.
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O projeto escolanovista defendia uma educação para as massas, especialmente para
a crescente população que habitava os grandes centros urbanos e servia de mão de
obra barata para o também crescente movimento industrial. A música tinha um
importante espaço neste olhar sobre a educação. Essa relação se dava exatamente
no sentido de despertar a cidadania.
Sendo assim, a afirmação de uma nação era uma das bandeiras do governo getulista
e a música era uma poderosa ferramenta a favor de uma unificação artística, musical
e política. Na obra Novos caminhos e novos fins: a nova política da educação no Brasil.
Subsídios para uma história de quatro anos, com primeira edição no ano de 1937,
Fernando de Azevedo analisou a reforma educacional planejada e executada por ele,
no Rio de Janeiro, entre os anos de 1927 a 1930.
Em sua análise o autor defendia o ensino das artes apoiado no poder recreativo desta
área de conhecimento: “A educação nova quebraria o ritmo da unidade essencial da
vida, se, no seu propósito social, não abrangesse, para desenvolver o bem-estar do
indivíduo e da comunidade, as poderosas inspirações da arte, nos seus aspectos
educativos e recreativos”. (AZEVEDO, 1958, p.119).
O ensino das artes era apresentado como um poderoso meio de educação, capaz de
promover um dos valores essenciais para o homem da década de 1920: a
sociabilização. Esta, de fato, era uma preocupação dos intelectuais da escola nova
que procuravam promover uma educação que preparasse o indivíduo para o
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convívio harmônico na sociedade.
Para Azevedo, as atividades artísticas e musicais dentro da escola nova deveriam ser
abordadas utilizando uma educação popular inspirada em motivos da vida infantil, da
flora, da fauna e do folclore nacionais, o que também tornava necessários o
recolhimento e a pesquisa dos cantos e canções populares provenientes do folclore.
A utilização da arte folclórica na escola teria sua força maior na relação educativa com
o aluno, e menor para apresentações em reuniões e festividades escolares. O autor
apresenta um ponto importante para a análise da música na escola, uma vez que
ressaltava que durante a educação tradicional, os rituais e festividades escolares
serviam apenas como “vitrine” e eram realizados apenas para deleite dos pais. Mais
tarde, Villa-Lobos também se preocuparia com esta questão, uma vez que relatou que
o excesso de apresentações poderia ser prejudicial para o trabalho do professor em
sala de aula.
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elementos centrais para uma educação que privilegiava o ensino para as massas.
Assim como os defensores do ensino de música do início do século XX, os intelectuais
da escola nova também se inspiravam nos modelos de escolarização de países
europeus.
Percebe-se, por exemplo, que algumas das ideias de Fernando de Azevedo assumem
um paralelo com a obra de um pedagogo francês chamado Chasteau em Lições de
pedagogia (livro para o uso dos alunos da escola normal), publicado originalmente em
1899 na França. Segundo esse manual: A música eleva o espírito, estimula a
sensibilidade, sobre a qual se pode edificar todo o plano educativo. Representando o
lado puramente estético da educação popular, até sobre este aspecto merece ser
muito apreciada. – Depois, sob o ponto de vista moral, a música apresenta, para a
juventude, uma poderosa couraça contra os perigos doutros prazeres, e isto pelo
sentimento puro e elevado que ela cultiva.
É por isso que até o ensino de ginástica costuma ser acompanhado dum canto bem
ritmada (CHASTEAU, 1899, p. 370). Publicada e traduzida no Brasil, para o uso nas
escolas normais ainda em 1899, a obra de Chasteau, de certa forma, expressava uma
das necessidades fundamentais para a formação de uma república.
Ciente disso, Fernando de Azevedo nunca negou a influência direta das obras dos
europeus. Neste sentido, algumas comparações entre Chasteau e Azevedo se tornam
inevitáveis, como por exemplo, a valorização do lado estético e moral. É certo que
existem algumas diferenças, já que em nenhum momento Azevedo apresenta
diretamente a música como forma de conter a desordem ou contra os “perigos doutros
prazeres”, tais como o álcool, o jogo ou a libertinagem.
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pela renovação educacional. Outro personagem importante na defesa do ensino de
música no Brasil foi Heitor Villa-Lobos.
Na Alemanha, cada indivíduo tem a sua voz determinada, com seu repertório de
canções nacionais e, na primeira reunião em que se encontra, sabe executar a sua
parte num concerto vocal.
Mas a criança não poderá reter uma composição de várias vozes… Pois que não seja
de muitas vozes, mas de duas apenas. E os nossos cantos, já estão fixados? Temos
já canções nossas? Canções, temo-las e muitas; falta-nos somente quem as ame e
as queira cantar. Da sistematização delas se encarregou o próprio Villa-Lobos e, muito
breve, ouvi-las-emos nos seus adoráveis concertos. Dos coros passou a falar da
nossa nomenclatura musical, dizendo que vai tudo muito errado, jamais sendo tango
ou tanguinho o que hoje com tais nomes se publica (FOLHA DA NOITE, citado por
KIEFER, 1986, p. 142-143).
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Desde a década de 1920, a discussão que colocava o ensino musical distante da
mera execução de hinários já estava presente. O ensino de elementos do folclore, na
busca de resgatar uma identidade nacional, mostrava-se como preocupação principal.
Neste momento, nota-se a “invenção” de uma tradição nacionalista para o Brasil,
resultado de uma República emergente em busca de uma identidade cultural. O
conceito de Hobsbawn sobre a “tradição inventada” pode contribuir no entendimento
desta questão:
exposto por Hobsbawn. Essa relação com o nacionalismo não era uma exclusividade
da música, uma vez que artistas das mais diversas áreas se empenhavam em divulgar
a arte nativa brasileira, a cultura indígena e folclórica: Tarsila do Amaral, Anita Malfati
e Di Cavalcanti na pintura; Mário de Andrade, Oswald de Andrade e Manuel Bandeira
na literatura, e outros, que também estiveram empenhados ao que chamavam de
resgate da cultura brasileira.
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Isso levaria Villa-Lobos a apresentar à Secretaria de Educação do Estado de São
Paulo, por escrito, um plano de educação musical semelhante ao apresentado e
ignorado, anteriormente, a Júlio Prestes, à época presidente do estado de São Paulo
e candidato à presidência da República.
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Na reforma de ensino de 1932, de autoria de Anísio Teixeira, na capital do país, a
música e as demais artes tinham lugar destacado dentro dos currículos escolares. Na
Universidade do Distrito Federal (UDF), no ano de 1935, havia o curso de Formação
de Professores Secundários de Música e Canto Orfeônico, com várias cadeiras
culturais e pedagógicas.
Foi esse apelo acolhido com interesse e simpatia em muitos Estados que desde então
se preocuparam em torna-lo uma realidade. Assim, resolveu-se aceitar a matrícula de
professores estaduais nos cursos especializados, para pequenos estágios onde êles
pudessem adquirir os conhecimentos básicos imprescindíveis. (VILLA-LOBOS, 1946,
p. 528).
Este projeto somente foi possível com a Superintendência que reunia cerca de 200
professores que ministravam o ensino da Música e Canto Orfeônico nas escolas de
diversos níveis. Entre as realizações de Villa-Lobos dentro do SEMA destaca-se a
atuação em defesa do canto orfeônico, por meio das concentrações orfeônicas
promovidas durante o governo de Getúlio Vargas.
Após cinco meses na instituição, foi realizada uma demonstração pública com uma
massa coral de 18.000 vozes, constituídas por alunos de escolas primárias, das
escolas técnico-secundárias, do Instituto de Educação e do Orfeão de Professores.
Muitas dessas concentrações orfeônicas promovidas por Villa Lobos traziam no
repertório canções com acentuado teor nacionalista. Isso fez com que críticas
recaíssem a este ensino e ao governo ditatorial de Getúlio Vargas, no período do
Estado Novo, uma vez que eram feitas comparações a práticas semelhantes aplicadas
na Alemanha nazista de Hitler e na Itália fascista de Mussolini.
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Em 1943, o maestro Villa-Lobos deixou a superintendência do Distrito Federal e
fundou o Conservatório Nacional do Canto Orfeônico, de âmbito federal, com a
finalidade de formar professores e de orientar o ensino musical em todo o país. Dessa
forma, o maestro se preocuparia em oferecer as diretrizes para o ensino da música e
do canto orfeônico nas escolas brasileiras.
O apoio para as classes operárias urbanas, sempre foi um dos focos da política
getulista, realidade que não acontecia durante a política anterior ao golpe dado pelo
grupo de Vargas, em 1930.
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Considerações sobre o ensino de música
Nos dias atuais existe uma grande preocupação com o ensino de música nas escolas,
principalmente após a publicação da Lei nº 11.769, de 18 de agosto de 2008, que
tornou novamente obrigatória a presença da música dentro das escolas básicas
brasileiras.
Contudo, nota-se que essas instituições ainda não estão preparadas integralmente
para a aplicação de tal legislação, impedidas pela carência de materiais, espaços
adequados para a prática musical e, principalmente, de professores qualificados para
atuar com música na educação básica.
A política café com leite recebeu esse nome em razão da estreita aliança política entre
São Paulo e Minas Gerais, respectivamente, grandes produtores de café e leite. Esses
estados detinham os dois maiores colégios eleitorais do país e elegeram entre 1894 e
1930, nove dos doze presidentes que governaram o Brasil.
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Novo pautado no progresso, no trabalho, na unidade nacional e nos interesses
comuns da coletividade.
O próximo passo da análise foi verificar se havia coerência entre esses elementos e
o discurso observado nas canções. É importante destacar que, embora a maioria das
canções não seja de autoria literal e/ou musical de Villa-Lobos, o comprometimento
discursivo / ideológico das canções foi atribuído a esse compositor pelo fato de que a
escolha das canções para a composição da obra didática foi de sua responsabilidade,
além de que ele era o nome mais visível como idealizador do movimento.
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Destaca-se aqui, portanto, um ensino de cunho prático. Assim, a música vista
como portadora de som e sentimento, deveria ser sentida pelas crianças antes de
serem introduzidas as regras de condução harmônica. Como metodologia de ensino,
E, também de acordo com as datas dos demais textos (a maioria anterior à década
de 1940)41 e com a maneira com que Villa-Lobos concebeu seus escritos a respeito
do canto orfeônico – por meio do acréscimo progressivo de ideias a uma matriz inicial
-, esses elementos apontam para uma crítica ao movimento liderado por Koellreutter.
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Koellreutter exerceu suas atividades composicionais e didáticas no Rio de
Janeiro, São Paulo e Bahia. Há um texto analisado para esta pesquisa que não é
datado - A música nacionalista no governo Getúlio Vargas. Contudo, pelo seu
conteúdo e relação com os demais textos, na observação da maneira como VillaLobos
os escreveu, acredita-se que seja do início da década de 1940.
Nessa época as atividades do Movimento Música Viva ainda eram incipientes (por
isso talvez Villa-Lobos ainda não tivesse se referido a esse movimento nesse texto) e,
ao mesmo tempo, já havia sido criado (em 1939) o Departamento de Imprensa e
Propaganda (DIP), que editou o texto em questão. 113 crítica aos movimentos de
vanguarda, que introduziam a música atonal, e sua auto-atribuição da missão de levar
a música às massas populares, reforçam a idéia de civilização estética musical por
meio dos padrões tonais, código familiar à sociedade – por ser o sistema de audição
vigente – e, por esse motivo, adequado ao objetivo de civilização dos costumes por
meio do conteúdo presente nos textos das canções.
A civilização estética, por meio desse código conhecido e arraigado nos padrões de
escuta da população, serviria como meio para o objetivo de civilização dos costumes.
Além disso, ao valorizar o elemento nacional, e principalmente a música folclórica
como o elemento propiciador da formação de uma consciência musical brasileira,
Villa-Lobos trouxe à luz a questão de que esses elementos estariam carregados de
“ressonâncias ancestrais” (VILLA LOBOS, 1946, p. 529).
De acordo com a idealização da infância brasileira pensada por Villa Lobos, esses
elementos constituiriam a música que faria parte do universo da criança. Dessa forma,
o canto orfeônico deveria então se pautar, num primeiro momento, nesses elementos
acessíveis, de forma que repercutissem expressivamente no imaginário infantil, o que
garantiria uma fixação duradoura para posteriormente passar para a utilização de
canções patrióticas, que os reforçaria: E, mais tarde, são os hinos, as marchas e as
canções patrióticas aprendidas na vida escolar, que vão despertar no seu espírito a
noção de Pátria e de nacionalidade. Ou então, as recordações pitorescas dos cânticos
e baterias obstinadas, executadas, diariamente em vários meses de cada ano, -
hábitos e costumes carnavalescos de há séculos, no Brasil, desde os cordões,
ranchos, pastorinhas, até as atuais “escolas de samba” (1946, p. 529).
Além disso, Villa-Lobos também mencionou que a música deveria interessar a
criança primeiramente pelo ritmo e, em seguida, pelo “caráter de simplicidade e pelo
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aspecto socializador da melodia” (ib, p. 530). Pode-se entender que a questão rítmica
ligar-se-ia a padrões rítmicos dinâmicos presentes na música folclórica brasileira, à
qual a criança identificar-se-ia intuitivamente, e que estavam nela latentes certas
ressonâncias ancestrais que deveriam ser despertadas. Essa tarefa caberia, então,
ao canto orfeônico ao trabalhar com o folclore, e, ao enfatizar o caráter de simplicidade
e o aspecto socializador da melodia, Villa-Lobos parecia valorizar melodias de fácil
memorização, aptas à prática coletiva e também intuitivamente identificáveis pelas
crianças.
Enfim, tais características descritas acima podem delimitar uma espécie de formação
discursiva musical, que se resume nos seguintes tópicos:
É importante destacar que essas são categorias abstratas que se referem aos temas
mais explícitos e mais facilmente perceptíveis à primeira vista, e que não podem ser
consideradas divisões isoladas, mas sim categorias que se intercambiam. Esse
referido intercâmbio pode ser observado no fato de que algumas canções encaixam-
se em mais de uma categoria, uma vez que seus textos abordam simultaneamente
dois ou mais temas de acordo com a classificação estabelecida na
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tabela.
• Folclóricas adaptadas com outros textos: são canções que utilizam melodias
folclóricas populares (como a melodia de “Marcha, soldado!” – nº 2, segundo volume)
adaptadas com novos textos, geralmente de autoria de escritores brasileiros;
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REFERENCIAS
HOBSBAWN, E.; RANGER, T. A invenção das tradições. 2. ed. Rio de Janeiro: Paz e
Terra, 1997.
Orfeu extático na metrópole: São Paulo, sociedade e cultura nos frementes anos 20.
São Paulo: Companhia das Letras, 1992.
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São Paulo: Melhoramentos, 1958. BARRETO, C. B. B. Côro orfeão. São Paulo:
Companhia Melhoramentos, 1938. CHASTEAU. Lições de pedagogia. Tradução de
Antonio Figueirinhas. Porto: Ária Figueirinhas, 1899.
SEVCENKO, N. Literatura como missão: tensões sociais e criação cultural na primeira
república. São Paulo: Brasiliense, 1999.
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