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Ao final, vocês serão capazes de:

· Reconhecer a importância do Contrato Administrativo e de sua gestão para a


Administração Pública.

· Explicar as características de um Contrato Administrativo, bem como seus


tipos.

· Demonstrar as diferenças entre um Contrato Administrativo e um contrato


firmado entre particulares.

· Avaliar situações que ensejam o reequilíbrio econômico-financeiro de um


Contrato Administrativo.

· Explicar as cláusulas Exorbitantes dos Contratos Administrativos.

Bons estudos e conte com o seu especialista para dirimir qualquer dúvida com
relação ao conteúdo deste e das demais Unidades.

Não podemos deixar de iniciar nosso estudo sem citar o art. 1º da Lei nº
8.666, de 21 de junho de 1993, que instituiu normas para Licitações e
Contratos da Administração Pública:

“Art. 1º Esta Lei estabelece normas gerais sobre licitações e contratos


administrativos pertinentes a obras, serviços, inclusive de publicidade,
compras, alienações e locações no âmbito dos Poderes da União, dos
Estados, do Distrito Federal e dos Municípios.”

A partir da leitura do dispositivo podemos observar que o


legislador considera esse tema crucial para a Administração
pública. Aliás, tão importante quanto a celebração de um
Contrato Administrativo, é a sua gestão e/ou fiscalização.
Tanto isso é verdade que o artigo 67 da Lei nº 8.666/93
obriga a Administração a designar um representante para
acompanhar e fiscalizar os contratos por ela firmados.
Vejamos o que diz o citado artigo:

“Art. 67. A execução do contrato deverá ser acompanhada e fiscalizada


por um representante da Administração especialmente designado,
permitida a contratação de terceiros para assisti-lo e subsidiá-lo de
informações pertinentes a essa atribuição.

§ 1º O representante da Administração anotará em registro próprio todas


as ocorrências relacionadas com a execução do contrato, determinando o
que for necessário à regularização das faltas ou defeitos observados.

§ 2º As decisões e providências que ultrapassarem a competência do


representante deverão ser solicitadas a seus superiores em tempo hábil
para a adoção das medidas convenientes.”

A obrigatoriedade de designação de um gestor para acompanhar e fiscalizar a


execução dos Contratos Administrativos também consta, na esfera federal, do
art. 6.º do Decreto 2.271, de 7 de julho de 1997, que “Dispõe sobre a
contratação de serviços pela Administração Pública Federal direta, autárquica e
fundacional e dá outras providências.”:

No Senado Federal, por exemplo, o Ato da Comissão Diretora nº 2, de 13 de


fevereiro de 2008, em seu art. 3º, estabelece a obrigatoriedade da designação
de um gestor e um substituto. Vejamos o que diz a norma:
“Art. 3º - Para todo e qualquer contrato celebrado pelo Senado Federal será
designado um gestor titular e um gestor substituto, nos termos deste Ato.”

Nunca é demais lembrarmos a responsabilidade do gestor ou fiscal de Contrato


Administrativo, afinal seus atos estarão sujeitos ao crivo dos Tribunais de
Contas.

No caso da União, temos o art. 1º da Lei nº 8.443, de 16/07/92 (“Dispõe sobre


a Lei Orgânica do Tribunal de Contas da União e dá outras providências.”),
determinando que:

“Art. 1° Ao Tribunal de Contas da União, órgão de controle externo, compete,


nos termos da Constituição Federal e na forma estabelecida nesta Lei:

I - julgar as contas dos administradores e demais responsáveis por dinheiros,


bens e valores públicos das unidades dos poderes da União e das entidades da
administração indireta, incluídas as fundações e sociedades instituídas e
mantidas pelo poder público federal, e as contas daqueles que derem causa a
perda, extravio ou outra irregularidade de que resulte dano ao Erário;”

Indo mais além, a Lei Orgânica do TCU estabelece a responsabilidade solidária


do fiscal do contrato com a empresa contratada por possíveis danos causados
pela execução irregular do contrato. Vejamos o que dizem os arts. 15 e 16:

“Art. 15. Ao julgar as contas, o Tribunal decidirá se estas são regulares,


regulares com ressalva, ou irregulares.

Art. 16. As contas serão julgadas:

I - regulares, quando expressarem, de forma clara e objetiva, a exatidão dos


demonstrativos contábeis, a legalidade, a legitimidade e a economicidade dos
atos de gestão do responsável;

II - regulares com ressalva, quando evidenciarem impropriedade ou qualquer


outra falta de natureza formal de que não resulte dano ao Erário;

III - irregulares, quando comprovada qualquer das seguintes ocorrências:

a) omissão no dever de prestar contas;

b) prática de ato de gestão ilegal, ilegítimo, antieconômico, ou infração à norma


legal ou regulamentar de natureza contábil, financeira, orçamentária,
operacional ou patrimonial;
c) dano ao Erário decorrente de ato de gestão ilegítimo ou antieconômico;

d) desfalque ou desvio de dinheiros, bens ou valores públicos.

§ 1° O Tribunal poderá julgar irregulares as contas no caso de reincidência no


descumprimento de determinação de que o responsável tenha tido ciência, feita
em processo de tomada ou prestação de contas.

§ 2° Nas hipóteses do inciso III, alíneas c e d deste artigo, o Tribunal, ao julgar


irregulares as contas, fixará a responsabilidade solidária:

a) do agente público que praticou o ato irregular, e

b) do terceiro que, como contratante ou parte interessada na prática do mesmo


ato, de qualquer modo haja concorrido para o cometimento do dano apurado.

§ 3° Verificada a ocorrência prevista no parágrafo anterior deste artigo, o


Tribunal providenciará a imediata remessa de cópia da documentação
pertinente ao Ministério Público da União, para ajuizamento das ações civis e
penais cabíveis.”

É daí que decorrem as inúmeras consequências que serão estudadas neste


curso.

A missão de seguir à risca as incumbência legais muitas vezes se torna difícil


para a maioria dos Gestores, surgindo, como resultado, uma demanda quase
unânime por um Curso de Gestão de Contratos. É aqui em que entramos,
oferecendo a vocês os instrumentos necessários para uma gestão eficiente,
eficaz e efetiva.

Contrato Administrativo

Ao utilizarmos o termo “contrato”, automaticamente vem à nossa mente a idéia


de ajuste de vontades entre duas partes, de forma escrita, registrado em
cartório e regido pela legislação civil. Porém, quando nos referirmos a Contrato
Administrativo esse conceito muda significativamente, como veremos a seguir.

O Contrato Administrativo é um ajuste de vontades firmado entre a


Administração e um particular. Porém, como instituto de direito público, com
características próprias, o Contrato Administrativo é diferente de um contrato
regido pelo direito privado.

Ou seja, o Contrato Administrativo tem certas características que seriam


impensáveis em um contrato privado, principalmente porque há o interesse
público envolvido, que sempre será mais importante do que o interesse
privado.

Vamos então conceituar contrato administrativo?

O parágrafo único do art. 2º da Lei nº 8.666/93, define contrato da seguinte


forma:

“Art. 2º As obras, serviços, inclusive de publicidade, compras, alienações,


concessões, permissões e locações da Administração Pública, quando
contratadas com terceiros, serão necessariamente precedidas de licitação,
ressalvadas as hipóteses previstas nesta Lei.

Parágrafo único. Para os fins desta Lei, considera-se contrato todo e qualquer
ajuste entre órgãos ou entidades da Administração Pública e particulares, em
que haja um acordo de vontades para a formação de vínculo e a estipulação de
obrigações recíprocas, seja qual for a denominação utilizada.”

Contrato Administrativo, segundo Hely Lopes Meirelles, “é o ajuste que a


Administração Pública, agindo nessa qualidade, firma com o particular ou outra
entidade administrativa para a consecução de objetivos do interesse público,
nas condições estabelecidas pela própria Administração”.

De início, devemos destacar que nem todo contrato da Administração é um


Contrato Administrativo, pois existem contratos em que o órgão público está
em igualdade de condições com o contratado. Nesses casos, o contrato é regido
pelas leis de direito comum – por exemplo, a simples locação de um imóvel
pela Administração para ali exercer uma determinada atividade pública.O
Contrato Administrativo conduz à idéia de supremacia do interesse público
sobre o privado, sendo submetido a um conjunto próprio de regras, onde
prevalecem diversas condições em favor da Administração.

Assim, feita essa distinção, o Contrato Administrativo a ser examinado é aquele


ajuste em que a Assembléia Legislativa ou a Câmara Municipal figura como
parte, investida da qualidade de Administração Pública, com a finalidade
de atender ao interesse público, vinculada a outra pessoa (o contratado)
mediante um acordo de vontades, usufruindo de privilégios e
prerrogativas decorrentes do Direito Público.
Mas ainda falta, para finalizar essa lição, conhecer os tipos de Contratos
Administrativos:
Contrato de obra pública – o objeto do contrato é a construção, reforma ou
ampliação de um imóvel público, estrada, barragem etc.;
Contrato de prestação de serviço – tem por objeto todo e qualquer serviço
prestado à Administração, quer para atender as necessidades da população,
quer para o atendimento das necessidades da própria Administração, incluídos
nessa categoria os contratos de transporte, manutenção, comunicação,
reparos, etc.;
Contratos de fornecimento – voltado à aquisição de bens necessários para a
Administração;
Contrato de concessão – é aquele em que a Administração concede a um
particular a realização de determinada atividade.

Vimos que a Lei nº. 8.666/93 estabelece normas gerais sobre


licitações e Contratos Administrativos pertinentes a obras,
serviços, inclusive de publicidade, compras, alienações e locações
no âmbito dos Poderes da União, dos Estados, do Distrito Federal e
dos Municípios.

Contrato Administrativo é o ajuste que a Administração Pública, agindo nessa


qualidade, firma com o particular ou outra entidade administrativa para a
consecução de objetivos do interesse público, nas condições estabelecidas pela
própria Administração.

A execução do Contrato Administrativo deverá ser acompanhada e fiscalizada


por um representante da Administração especialmente designado para tal,
conhecido como Gestor ou Fiscal do contrato. O gestor responde de maneira
solidária com a empresa contratada por possíveis danos causados pela
execução irregular do contrato.
Além da importância do conceito de Contrato Administrativo, devemos conhecer
as características que o identificam, principalmente os pontos de distinção entre
um contrato comum e o chamado “Contrato Administrativo”.

De acordo com o prof. Henrique Savonitti Miranda, o Contrato Administrativo


possui as seguintes características: “bilateralidade, estabilidade, onerosidade,
comutatividade, celebração intuitu personae e formalidade”. Vamos a eles.

Bilateralidade:

A bilateralidade vem da idéia de livre acordo de vontade entre as partes, pois


ninguém pode ser obrigado a assinar um contrato com a Administração. Ou
seja, o Contrato Administrativo é a formação voluntária de um ajuste entre a
Administração Pública e o particular, cada qual movido pelos próprios interesses
– a Administração quer construir um hospital, por exemplo, e a empresa de
engenharia quer executar a obra e obter o seu lucro devido.

Devido à estabilidade do Contrato Administrativo, a parte que motivar a


rescisão antes de executado o objeto, mesmo sendo a Administração, deverá
indenizar a parte que porventura tenha sido prejudicada.

Aqui devemos examinar alguns princípios de direito que reforçam a


característica da estabilidade.
Nos contratos de direito privado uma das partes só pode exigir o cumprimento
da obrigação da outra parte se houver cumprido integralmente suas próprias
obrigações contratuais.

Nos Contratos Administrativos, regidos pelo direito público, essa regra não vale.
A princípio, mesmo que a Administração não cumpra integralmente suas
obrigações estabelecidas em contrato, o contratado não pode interromper as
suas obrigações, tudo em decorrência da supremacia do interesse público sobre
o do particular.

Porém, essa prerrogativa não possibilita o abuso desse direito pela


Administração, muito menos elimina os direitos e as garantias individuais da
parte contratada – inclusive indenizações posteriores.

A própria Lei de licitações estabelece no art. 78, incisos XIII ao XVI, casos que
constituem motivo para a rescisão, todos provocados pela Administração:

“Art. 78. Constituem motivo para rescisão do contrato:

...

XIII - a supressão, por parte da Administração, de obras, serviços ou compras,


acarretando modificação do valor inicial do contrato além do limite permitido no
§ 1º do art. 65 desta Lei;

XIV - a suspensão de sua execução, por ordem escrita da Administração, por


prazo superior a 120 (cento e vinte) dias, salvo em caso de calamidade pública,
grave perturbação da ordem interna ou guerra, ou ainda por repetidas
suspensões que totalizem o mesmo prazo, independentemente do pagamento
obrigatório de indenizações pelas sucessivas e contratualmente imprevistas
desmobilizações e mobilizações e outras previstas, assegurado ao contratado,
nesses casos, o direito de optar pela suspensão do cumprimento das obrigações
assumidas até que seja normalizada a situação;

XV - o atraso superior a 90 (noventa) dias dos pagamentos devidos pela


Administração decorrentes de obras, serviços ou fornecimento, ou parcelas
destes, já recebidos ou executados, salvo em caso de calamidade pública,
grave perturbação da ordem interna ou guerra, assegurado ao contratado o
direito de optar pela suspensão do cumprimento de suas obrigações até que
seja normalizada a situação;

XVI - a não liberação, por parte da Administração, de área, local ou objeto para
execução de obra, serviço ou fornecimento, nos prazos contratuais, bem como
das fontes de materiais naturais especificadas no projeto;

...
Parágrafo único. Os casos de rescisão contratual serão formalmente motivados
nos autos do processo, assegurado o contraditório e a ampla defesa.

...”

Comutatividade:

A comutatividade caracteriza o Contrato Administrativo pelo equilíbrio das


obrigações de ambas as partes, mantendo a equivalência dos deveres
contratados.

Está diretamente relacionada ao equilíbrio econômico-financeiro do contrato, ou


seja, o contratado não é obrigado a cumprir obrigações com acréscimos ou
supressões desproporcionais à sua capacidade.

A equação econômico-financeira constitui-se na relação que as partes


inicialmente estabelecem no contrato, objetivando a justa remuneração do
contratado.

É importante destacar que a comutatividade garante as condições contratadas


inicialmente, desde que o cenário se mantenha estável, sem alterações bruscas
que possam inviabilizar a execução do contrato. Se algum fator externo ao
contrato onerá-lo de forma a desequilibrar a equação econômico-financeira, a
própria Administração deve alterá-lo.
Na Lição 3 abordaremos as situações em que a Administração deve agir para
restabelecer as condições econômicas e financeiras inicialmente pactuadas.

Vejamos o que diz o art. 78, inciso VI da Lei nº 8.666/93:

Art. 78. Constituem motivo para rescisão do contrato:

...

VI - a subcontratação total ou parcial do seu objeto, a associação do contratado


com outrem, a cessão ou transferência, total ou parcial, bem como a fusão,
cisão ou incorporação, não admitidas no edital e no contrato;

Porém, tal vedação não é absoluta, desde que prevista em edital e no contrato.
Vejamos o que diz o art. 72 da mesma lei:

Art. 72. O contratado, na execução do contrato, sem prejuízo das


responsabilidades contratuais e legais, poderá subcontratar partes da obra,
serviço ou fornecimento, até o limite admitido, em cada caso, pela
Administração.

Formalidade:

Os Contratos Administrativos obedecem, necessariamente, a formalidade para


existirem. Isto quer dizer que, em primeiro lugar, deve o Contrato
Administrativo seguir a forma determinada em lei.

A própria Lei nº 8.666/93, especialmente em seus arts. 60 a 64, estabelece


várias normas referentes ao aspecto formal, que serão oportunamente
estudadas no próximo módulo deste curso.

É importante destacar que o Contrato Administrativo deverá ser formalizado


sempre de forma escrita, salvo o caso excepcional de que trata o parágrafo
único do art. 60 da Lei n.º 8.666/93, que permite a forma verbal para
pequenas compras de pronto pagamento no valor de até R$ 4.000,00.
Ao finalizar a lição vimos que são características de um Contrato
Administrativo:

Bilateralidade: o Contrato Administrativo é a formação voluntária de um ajuste


entre a Administração Pública e o particular, cada qual movido pelos próprios
interesses.

Estabilidade: Uma vez celebrado, o contrato deve ser integralmente cumprido.


As partes adquirem um direito à execução de seu objeto, sem espaço para
mudanças ou desistência por simples capricho ou vontade infundada.

Onerosidade: O Contrato Administrativo é oneroso, pois contém obrigações


recíprocas para as partes contratantes.

Comutatividade: A comutatividade caracteriza o Contrato Administrativo pelo


equilíbrio das obrigações de ambas as partes, mantendo a equivalência dos
deveres contratados. Está diretamente relacionada ao equilíbrio econômico-
financeiro do contrato.

Celebração Intuitu Personae: Os Contratos Administrativos exigem que o


contratado cumpra direta e pessoalmente as obrigações a que se vinculou, não
lhe sendo permitido transferir para outros o cumprimento dessas obrigações (a
não ser que conste expressamente do Edital de Licitação tal possibilidade).

Formalidade: Os Contratos Administrativos devem, necessariamente, seguir a


forma determinada em lei.

Inicialmente vale lembrar que a equação econômico-financeira constitui-se na


relação que as partes inicialmente estabelecem no contrato, objetivando a justa
remuneração do contratado.

Vejamos o que determina o art. 65, inciso II, alínea da Lei nº. 8.666/93:

“Art. 65. Os contratos regidos por esta lei poderão ser alterados, com as
devidas justificativas, nos seguintes casos:

...

II - por acordo das partes:

...

d) para restabelecer a relação que as partes pactuaram inicialmente entre os


encargos do contratado e a atribuição da Administração para a justa
remuneração da obra, serviço ou fornecimento, objetivando a manutenção do
equilíbrio econômico-financeiro inicial do contrato, na hipótese de sobrevirem
fatos imprevisíveis, ou previsíveis porém de consequências incalculáveis,
retardadores ou impeditivos da execução do ajustado, ou ainda, em caso de
força maior, caso fortuito ou fato do príncipe, configurando área econômica
extraordinária e extracontratual.”

Nesse sentido, podemos concluir que existem


determinadas situações que ensejam o
reequilíbrio (restabelecer a relação que as partes
pactuaram inicialmente entre os encargos do
contratado e sua justa remuneração) dos
Contratos Administrativos, como aquelas
decorrentes de fatos previsíveis ou imprevisíveis,
porém de consequências incalculáveis, que
retardam ou impedem a execução do contrato.

As situações que podem levar ao agravamento dos encargos contratuais do


particular são as seguintes:

· Fato do Príncipe;

· Fato da Administração;

· Caso Fortuito ou Força Maior;

· Teoria da Imprevisão.

Vamos a elas.

Essa determinação estatal pode ser entendida como a edição de uma nova
norma (pode ser uma lei ou um decreto), que venha afetar diretamente o
contrato, provocando um aumento das obrigações do particular contratado. Por
vezes esse aumento é tão grande que impossibilita a execução do contrato.

Exemplo: um contrato entre a administração e uma empresa privada tem como


objetivo uma obra. Parte do material necessário para obra seria importado.
Acontece que o governo, por intermédio de uma norma legal, eleva
substancialmente a alíquota do imposto de importação desse material. Tal fato
irá onerar substancialmente os custos do contratado, podendo até inviabilizar a
obra, sem que o particular detenha qualquer ingerência sobre isso.

Nesses casos, é dever da Administração recompor o contrato aos moldes da


contratação original, buscando o seu reequilíbrio econômico-financeiro.
Vejamos o que diz o § 5º do art. 65 da Lei nº. 8.666/93:

§ 5º Quaisquer tributos ou encargos legais criados, alterados ou extintos, bem


como a superveniência de disposições legais, quando ocorridas após a data da
apresentação da proposta, de comprovada repercussão nos preços contratados,
implicarão a revisão destes para mais ou para menos, conforme o caso.

Deve-se destacar que a norma deve ser geral e abstrata, ou seja, se dirigir e
obrigar indistintamente a toda a sociedade. Caso a ação da Administração
atinja somente os termos contratados, não se pode falar em Fato do Príncipe,
mas em Fato da Administração.

Fato da Administração:

Da mesma forma que o Fato do Príncipe, o Fato da Administração também


afeta o contrato, mas neste caso de forma direta, ou seja, o ato da
Administração tem incidência exclusiva sobre as condições do Contrato
Administrativo.

Como exemplo, podemos tomar a não-desapropriação pela Administração de


terreno necessário para a construção de um prédio público, por motivos
ambientais. Não há como prosseguir com a obra sem o terreno onde se dará a
construção.

Caso Fortuito ou Força Maior:

O Caso Fortuito ou Força Maior também representam ônus contratuais externos


que impedem a execução do contrato.

Nos casos anteriores, a fonte do desequilíbrio vinha da Administração, ora


criando obstáculo por edição de norma geral, dirigida a toda a sociedade (mas
que onera demasiadamente o contrato), ora por fato que afeta tão somente e
de forma direta o contrato assinado entre o particular e a Administração.

Porém, nas hipóteses que examinaremos a seguir, a fonte motivadora que


impede a execução do contrato é externa, sem qualquer participação das
partes envolvidas na relação jurídica, quer seja a Administração, quer o
particular.
Tanto eventos provenientes da natureza (enchentes, furacões, etc.), quanto
decorrentes de ações humanas (greves, paralisações, ocupações ilegais, etc.)
são considerados situações que merecem a atuação da Administração para não
atribuir ao particular encargo excessivo e injusto, principalmente porque não foi
ele quem deu causa ao fato modificador das condições originais da contratação.

Segundo Hely Lopes Meirelles, Caso Fortuito ou Força Maior são “eventos que
por sua imprevisibilidade e inevitabilidade criam para o contratado
impossibilidade intransponível de normal execução do contrato”. Neste caso,
como se verifica uma impossibilidade de execução do contrato, a Administração
rescinde o contrato liberando do compromisso o fornecedor.

Vejamos o que diz o art. 78, inciso XVII da Lei n.º 8.666/93:

“Art. 78. Constituem motivo para rescisão do contrato:

...

XVII - a ocorrência de caso fortuito ou de força maior, regularmente


comprovada, impeditiva da execução do contrato.”

Teoria da Imprevisão:

A Teoria da Imprevisão “é todo acontecimento externo ao contrato, estranho à


vontade das partes, imprevisível e inevitável, que causa um desequilíbrio muito
grande, tornando a execução do contrato excessivamente onerosa para o
contratado.”

Portanto, trata-se de um fato imprevisível quanto à sua ocorrência e


consequências, que não decorre da ação de nenhuma das partes e causador de
grande desequilíbrio econômico, que onera exageradamente a obrigação do
particular, muito além do que inicialmente pactuado.

Vimos, nesta lição que a equação econômico-financeira constitui-se na relação


que as partes inicialmente estabelecem no contrato, objetivando a justa
remuneração do contratado.
Existem determinadas situações que ensejam o reequilíbrio da equação
econômico-financeira original dos Contratos Administrativos, como aquelas
decorrentes de fatos previsíveis ou imprevisíveis, porém de consequências
incalculáveis, que retardam ou impedem a execução do contrato. São elas:

Fato do Príncipe: toda determinação estatal, positiva ou negativa, geral e


imprevisível ou previsível, mas de consequências incalculáveis, que onera em
demasia ou que impede a execução do contrato e obriga a Administração
Pública a compensar os prejuízos do particular.

Fato da Administração: ato da Administração que afeta o contrato de forma


direta, ou seja, tem incidência exclusiva sobre as condições pactuadas.

Caso Fortuito ou Força Maior: acontecimento externo ao contrato, que não


deriva da Administração, estranho à vontade das partes, imprevisível e
inevitável, que impede a execução da avença.

Teoria da Imprevisão: acontecimento externo ao contrato, estranho à vontade


das partes, imprevisível e inevitável, que causa um desequilíbrio muito grande,
tornando a execução do contrato excessivamente onerosa para o contratado.

Tomemos como exemplo um contrato que prevê a entrega futura (por exemplo,
seis meses após a licitação) de um determinado bem. Quando da entrega do
bem, o preço do produto no mercado sofreu grande aumento em decorrência
da inflação registrada entre a data da licitação e a da entrega, o que gerará um
significativo prejuízo ao fornecedor. Neste caso, a Administração deve proceder
a alterações de cláusulas contratuais financeiras para permitir a continuidade
do contrato.

Por fim, para completarmos este estudo inicial dos Contratos Administrativos,
abordaremos as chamadas “Cláusulas Exorbitantes”, que nada mais são do que
condições estabelecidas pela Lei nº. 8.666/93 que favorecem a Administração
frente ao contratado, tendo em vista a supremacia do interesse público sobre o
particular.

Tais cláusulas, como frisa Hely Lopes Meirelles, excedem o Direito Comum,
para consignar uma vantagem ou uma restrição à Administração ou ao
Contratado, sendo absolutamente válidas no Contrato Administrativo.

A exigência de prestação de garantia pelo contratado visa assegurar a completa


execução do contrato pelo particular e está prevista no art. 56, § 1º, da Lei nº
8.666/93. Pode ser em forma de caução em dinheiro ou em títulos da dívida
pública, seguro-garantia e fiança bancária.

Explicando melhor, se o contratado não executar suas obrigações nos termos


pactuados, a Administração ficará com a garantia depositada para ressarci-la
dos prejuízos derivados da não-execução do contrato.

Nos contratos privados a existência de cláusulas de garantia é possível, mas as


duas partes têm que concordar com isso. Já nos Contratos Administrativos tal
cláusula é imposta pela Administração e de aceitação obrigatória pelo
contratado, e sempre estará presente no edital da licitação.

A alteração unilateral do contrato é prerrogativa prevista no art. 58, inciso I, da


Lei nº 8.666/93, que diz que a Administração pode modificar o contrato,
unilateralmente, para melhor adequação às finalidades de interesse público,
respeitados os direitos do contratado.

De acordo com o art. 65 da mesma lei, os contratos poderão se alterados


unilateralmente pela Administração quando houver modificação do projeto ou
das especificações, para melhor adequação técnica aos seus objetivos; ou
quando necessária a modificação do valor contratual em decorrência de
acréscimo ou diminuição quantitativa de seu objeto.

Vale ressaltar que essa prerrogativa da Administração não impede o contratado


de pleitear o seu direito ao equilíbrio econômico-financeiro do contrato,
inclusive buscando suporte na Justiça, se entender necessário.

A rescisão unilateral também é prerrogativa da Administração (art. 58, inciso


II, da Lei nº. 8.666/93) justificada na superioridade do interesse público sobre
o privado e somente admitida no Contrato Administrativo.

Porém, essa vantagem está restrita às hipóteses do art. 79, inciso I, da lei de
licitações, que resumidamente permite a rescisão contratual por falha do
contratado (cumprimento irregular de cláusulas contratuais, especificações,
projetos e prazos; a lentidão do seu cumprimento, levando a Administração a
comprovar a impossibilidade da conclusão da obra, do serviço ou do
fornecimento, nos prazos estipulados; atraso injustificado no início da obra,
serviço ou fornecimento; a paralisação da obra, do serviço ou do fornecimento,
sem justa causa e prévia comunicação à Administração, etc.) ou pela
ocorrência de caso fortuito ou de força maior.

É importante destacar que em qualquer caso de rescisão unilateral, não tendo o


particular motivado o fato, a Administração tem o dever de indenizá-lo pelos
custos já incorridos e não ressarcidos.

A retomada do objeto pode ser definida como o direito da Administração, em


caso de rescisão unilateral, de assegurar a continuidade da execução do
contrato por meio da assunção de seu objeto, quando a paralisação por parte
do contratado representar risco ao interesse público.

Caso típico de retomada do objeto, em caso de rescisão unilateral, é o contrato


de concessão, onde a Administração retoma os serviços prestados pelas
concessionárias, inclusive revertendo bens para o Poder Público, tudo para
manter em operação os serviços concedidos.
Imaginem um determinado serviço público, por
exemplo, o fornecimento de energia elétrica,
deixar de ser fornecido como forma de pressão
por aumento da tarifa. Neste caso, a
Administração retoma a concessão, assim
como todos os bens necessários à execução
dos serviços, visando garantir a continuidade
do fornecimento de energia. Tudo isso se
justifica em função do prejuízo para a
população pela interrupção desse serviço
público essencial.

Outra prerrogativa da Administração é o seu poder de fiscalização da execução


do contrato, conforme disposto no art. 58, inciso III, e art. 67 da Lei nº.
8.666/93, que será realizado por um representante da Administração (gestor
ou fiscal do contrato) especialmente designado.

Lembra a profª. Di Pietro que "A este fiscal caberá anotar em registro próprio
todas as ocorrências relacionadas com a execução do contrato, determinando o
que for necessário à regularização das faltas ou defeitos observados ou, se as
decisões ultrapassarem sua competência, solicitá-las a seus superiores."

E continua: "O não atendimento das determinações da autoridade fiscalizadora


enseja rescisão unilateral do contrato (art. 78, VII), sem prejuízo das sanções
cabíveis".

A aplicação de penalidades contratuais, prerrogativa relacionada com o poder


fiscalizatório, permite a imposição de pena diretamente pela Administração ao
contratado, logicamente dentro dos limites legais e estabelecidos no pacto.

Dessa forma, as faltas cometidas pela empresa contratada ensejam a incidência


de uma das punições elencadas nos arts. 86 e 87 da lei de licitações, aplicada
pela Administração sem necessidade de remessa do caso para a apreciação do
Poder Judiciário. É natural que o contratado sempre poderá procurar o
Judiciário para defender-se de qualquer excesso do Poder Público.

É conveniente ressaltar que a Administração deve sempre respeitar os


princípios do contraditório e da ampla defesa, permitindo que o contratado se
defenda ou exponha suas razões antes da aplicação da penalidade.

A manutenção do equilíbrio financeiro, apesar de ser considerada uma das


cláusulas exorbitantes, não é uma prerrogativa da Administração, mas um
dever a ser cumprido. Ou seja, sempre que a equação obrigações x
remuneração de um contrato se tornar desbalanceada em desfavor do
contratado, deve a Administração rever as cláusulas econômicas da avença
para retornar às condições iniciais pactuadas. Já nos contratos entre
particulares, tal obrigação inexiste.

Como vimos anteriormente, apesar da possibilidade de alteração unilateral do


contrato pela Administração, ela não pode alterar as condições econômico-
financeiras estabelecidas no contrato. Esse é um direito inalienável do
contratado, que deve sempre ser observado.
Resumindo a lição, vimos que “Cláusulas Exorbitantes” são condições
estabelecidas pela Lei nº. 8.666/93 que favorecem a Administração frente ao
contratado, tendo em vista a supremacia do interesse público sobre o
particular. São elas:

Exigência de prestação de garantia: visa assegurar a completa execução do


contrato pelo particular e está prevista no art. 56, § 1º, da Lei nº. 8.666/93.
Pode ser em forma de caução em dinheiro ou em títulos da dívida pública,
seguro-garantia e fiança bancária.

Alteração unilateral do contrato: prerrogativa da Administração de modificar o


contrato, unilateralmente, para melhor adequação às finalidades de interesse
público, respeitados os direitos do contratado.

Rescisão unilateral: possibilidade da Administração, em determinadas


circunstâncias, de rescindir unilateralmente um Contrato Administrativo.

Retomada do objeto: direito da Administração, em caso de rescisão unilateral,


de assegurar a continuidade da execução do contrato por meio da assunção de
seu objeto, quando a paralisação por parte do contratado representar risco ao
interesse público.

Aplicação de penalidades: prerrogativa relacionada com o poder fiscalizatório,


que permite a imposição de pena diretamente pela Administração ao
contratado, dentro dos limites legais e estabelecidos no pacto.

Manutenção do equilíbrio financeiro: poder-dever da Administração de manter a


equação obrigações x remuneração originalmente pactuada em um Contrato
Administrativo.

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