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ALGUNS ASPECTOS DE CONVÊNIOS ENTRE

AS ONG’S E O PODER PÚBLICO

Embora haja a expressa impossibilidade do Ministério Público


funcionar como órgão consultivo, devidamente fundamentada nas disposições
constantes do art. 129, IX, da Constituição Federal Brasileira:

“Art. 129. São funções institucionais do Ministério Público:


(...)
IX. exercer outras funções que lhe forem conferidas, desde que
compatíveis com sua finalidade, sendo vedada a representação
judicial e a consultoria jurídica de entidades públicas”.
(grifo nosso)

Elucidaremos o questionamento de realização de Convênio entre


Pessoa Jurídica de Direito Público e Pessoa Jurídica de Direito Privado, por
tratar-se de um assunto de grande complexidade.

Preliminarmente, faz-se necessário entender que Convênio trata-


se de acordo administrativo, podendo ser celebrado por Pessoas Jurídicas de
Direito Público (qualquer espécie), ou, ainda, entre elas e as de Direito Privado,
com o intuito de alcançar os objetivos relacionados ao interesse comum de
ambas as partes.

Dessa forma, pode ocorrer a participação das pessoas públicas


(quaisquer delas), com as pessoas privadas, físicas ou jurídicas. Não há
obrigatoriedade de serem da mesma espécie. O que resta vedado, in casu, é o
convênio entre somente pessoas privadas.

Em relação à natureza administrativa a que se encerra a pessoa


participante de convênio, dispõe Diógenes Gasparini em seus ensinamentos:
"O convênio pode ter por objeto qualquer coisa (obra, serviço,
atividade, uso de certo bem) desde que encarne um interesse
público. A sua natureza administrativa impede que o objeto
apenas consagre o interesse privado que o partícipe particular
deseja ver prestigiado com a ajuda do convenente público."

Logo, depreende-se que se a atividade da pessoa privada emana


o interesse público, fica enquadrada para assumir a posição de convenente com
o poder público.

Ainda, José Eduardo Sabo Paes ( In Fundações e Entidades de


Interesse Social – Aspectos jurídicos, administrativos, contábeis e tributários,
Brasília Jurídica, 5ª ed, pág. 113 e 118), trata das pessoas jurídicas de direito
privado que absorvem “atividades publicizáveis”, como as OS’s (Organizações
Sociais).

“Qualificada como Organização Social, a entidade-fundação,


associação ou sociedade estará habilitada a receber recursos
financeiros e a administrar bens e equipamentos, e pessoal do
Estado. Em contrapartida, para a formação dessa parceria, a OS
se obriga a firmar um contrato de gestão com o Poder Público,
por meio do qual serão acordadas metas de desempenho que
assegurem a qualidade e a efetividade dos serviços prestados
ao público.
(...)
Em conclusão, poderíamos dizer que, ao qualificar-se entes
coletivos – pessoas jurídicas instituídas sob a forma de
fundações e associações em organizações sociais, na forma da
lei ora vigente –, estar-se-á conferindo àquelas pessoas
jurídicas novos direitos e novos deveres em razão da
possibilidade, por meio de um contrato de gestão com o Poder
Público, de administrar recursos materiais, financeiros e
humanos do próprio Poder Público”.

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Não obstante, a Lei 9.790/99 (que trata da qualificação de
pessoas jurídicas de direito privado, sem fins lucrativos, como Organizações da
Sociedade Civil de Interesse Público) disciplina a possibilidade de relação do
Poder Público, mediante parceria, com o Terceiro Setor, composto pelas
pessoas jurídicas de direito privado sem fins lucrativos – que podem ser
classificadas como Organizações da Sociedade Civil de Interesse Público
(OSCIPs).
No que tange aos procedimentos, o art. 116, da Lei 8.666/93 (que
institui normas para licitações e contratos da Administração Pública), além de
atribuir aos convênios as disposições constantes da supracitada lei, ainda
enumera as informações necessárias a sua celebração.

“Art. 116. Aplicam-se as disposições desta Lei, no que couber,


aos convênios, acordos, ajustes e outros instrumentos
congêneres celebrados por órgãos e entidades da
Administração.

§ 1o A celebração de convênio, acordo ou ajuste pelos órgãos ou


entidades da Administração Pública depende de prévia
aprovação de competente plano de trabalho proposto pela
organização interessada, o qual deverá conter, no mínimo, as
seguintes informações:

I - identificação do objeto a ser executado;


II - metas a serem atingidas;
III - etapas ou fases de execução;
IV - plano de aplicação dos recursos financeiros;
V - cronograma de desembolso;
VI - previsão de início e fim da execução do objeto, bem assim
da conclusão das etapas ou fases programadas;
VII - se o ajuste compreender obra ou serviço de engenharia,
comprovação de que os recursos próprios para complementar a
execução do objeto estão devidamente assegurados, salvo se o
custo total do empreendimento recair sobre a entidade ou
órgão descentralizador.

§ 2o Assinado o convênio, a entidade ou órgão repassador dará


ciência do mesmo à Assembléia Legislativa ou à Câmara
Municipal respectiva.

§ 3o As parcelas do convênio serão liberadas em estrita


conformidade com o plano de aplicação aprovado, exceto nos

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casos a seguir, em que as mesmas ficarão retidas até o
saneamento das impropriedades ocorrentes:

I - quando não tiver havido comprovação da boa e regular


aplicação da parcela anteriormente recebida, na forma da
legislação aplicável, inclusive mediante procedimentos de
fiscalização local, realizados periodicamente pela entidade ou
órgão descentralizador dos recursos ou pelo órgão competente
do sistema de controle interno da Administração Pública;
II - quando verificado desvio de finalidade na aplicação dos
recursos, atrasos não justificados no cumprimento das etapas
ou fases programadas, práticas atentatórias aos princípios
fundamentais de Administração Pública nas contratações e
demais atos praticados na execução do convênio, ou o
inadimplemento do executor com relação a outras cláusulas
conveniais básicas;
III - quando o executor deixar de adotar as medidas
saneadoras apontadas pelo partícipe repassador dos recursos
ou por integrantes do respectivo sistema de controle interno.

§ 4o Os saldos de convênio, enquanto não utilizados, serão


obrigatoriamente aplicados em cadernetas de poupança de
instituição financeira oficial se a previsão de seu uso for igual
ou superior a um mês, ou em fundo de aplicação financeira de
curto prazo ou operação de mercado aberto lastreada em
títulos da dívida pública, quando a utilização dos mesmos
verificar-se em prazos menores que um mês.

§ 5o As receitas financeiras auferidas na forma do parágrafo


anterior serão obrigatoriamente computadas a crédito do
convênio e aplicadas, exclusivamente, no objeto de sua
finalidade, devendo constar de demonstrativo específico que
integrará as prestações de contas do ajuste.

§ 6o Quando da conclusão, denúncia, rescisão ou extinção do


convênio, acordo ou ajuste, os saldos financeiros
remanescentes, inclusive os provenientes das receitas obtidas
das aplicações financeiras realizadas, serão devolvidos à
entidade ou órgão repassador dos recursos, no prazo
improrrogável de 30 (trinta) dias do evento, sob pena da
imediata instauração de tomada de contas especial do
responsável, providenciada pela autoridade competente do
órgão ou entidade titular dos recursos”.

Outrossim, o art. 178, IX, da Lei 5.810/94 (Regime Jurídico Único


dos Servidores Públicos Civis do Estado do Pará), veda a participação de
servidor público na gerência ou administração da associação e o inciso VIII

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também proíbe ao servidor celebrar contrato com a Administração Pública
quando proibido por lei.
Ressalte-se que quaisquer dos atos praticados por agentes
públicos em desconformidade com os preceitos legais, também no que
concerne aos convênios, serão passíveis da aplicação do art. 1º, da Lei de
Improbidade Administrativa.

JANAINA KAISSY ALVES DA SILVA


Estagiária da 1ª Promotoria de Justiça de Fundações e Massas Falidas
Estudante do 4º ano do Curso de Direito da Universidade da Amazônia - UNAMA

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