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MADEIRAS

Edir dos
Santos Alves

Gustavo Henrique
Alves Gomes
de Melo
Madeiras
Objetivos de aprendizagem
Ao final deste texto, você deve apresentar os seguintes aprendizados:
„„ Explicar o que é madeira estrutural.
„„ Reconhecer os tipos de madeiras utilizados em estruturas.
„„ Identificar onde esses produtos são aplicados.

Introdução
Neste texto, você vai estudar a madeira como material estrutural.
Quando se buscam alternativas sustentáveis, a madeira como mate-
rial de construção mostra-se muito viável, sendo um recurso natu-
ral renovável e de baixo consumo energético para sua produção. Ao
verificar o desempenho da madeira como material estrutural, você
irá perceber as suas vantagens, podendo ser comparável a materiais
como o aço.

Estruturas em madeira
Em construções com madeiras é importante saber se esse material tem suas
propriedades quase estáveis, independentemente da direção do teste. Nesse
sentido, entre os diversos tipos e formas de madeiras, as de reconstituição são
mais atrativas sob o ponto de vista técnico em relação aos demais tipos, com
destaque para madeiras em toras, serradas, laminada, compensada ou ainda
colada.
Para a escolha adequada do tipo de madeira a ser utilizada como material
estrutural, é importante que você tenha o conhecimento necessário sobre a
sua composição interna, em especial as propriedades mais importantes e al-
gumas metodologias de conservação.
O tronco das árvores, a parte que dá estrutura de sustentação para a ár-
vore, é a peça mais interessante para o processo industrial, no qual as ma-
deiras são beneficiadas para terem utilidades.
Desde o processo de nascimento da árvore o tronco vai se desenvolvendo
tanto na direção vertical (longitudinal) como horizontal (radial e tangencial).
A estrutura interna é em forma de tubos e fibras, que estão arranjados nessas
duas direções cuja união é feita por meio da matriz chamada lignina. Os

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veios ou tubos verticais transportam material da raiz para as folhas (seiva


bruta pelas vias longitudinais) e as fibras das folhas para o centro do tronco
(seiva elaborada pelas vias radiais e longitudinais). Os entrelaçamentos deles
formam o tecido das árvores.
O crescimento é mais intenso no verão e de menor intensidade no inverno.
As árvores adquirem colorações diferentes e, quando observadas na direção
transversal do tronco, formam os anéis de crescimento que servem como in-
dicador de sua idade, especialmente nos climas tropicais.
As árvores transportam uma grande quantidade de água para atmosfera no
verão e quando abatidas contém uma grande quantidade de água, a qual vai
perdendo de forma natural com ar atmosférico. É considerada como seca ao
atingir 18% de umidade o pode levar em média um ano para esse equilíbrio.
O processo é, na maioria das vezes, forçado a atingir esse ponto de equilíbrio
e o descontrole desse procedimento induz defeitos na madeira.
O teor da umidade de referência da madeira é de 12% e é usado para de-
finir as propriedades de resistência e rigidez. Para efeitos práticos considera-
-se que a umidade da madeira é uma função da umidade relativa do ambiente.
Na Tabela 1, você encontrará a classificação da umidade.

Tabela 1. Classes de umidade para madeira.


Fonte: Isaia (2011).

Classes de umidade Umidade relativa do Umidade de equilíbrio


ambiente Uamb da madeira Uequil

1 ≤ 65% 12%

2 65% < Uamb ≤ 75% 15%

3 75% < Uamb ≤ 85% 18%

4 Uamb > 85% ≥ 25%


Durante longos períodos

Quanto à densidade você pode quantificá-la pela relação entre a massa


específica e o volume correspondente sob o mesmo valor de umidade, essa
densidade é definida como densidade aparente, e usada para finalidade de
cálculos estruturais, cuja umidade de referência é de 12%.
A densidade básica também é conhecida e obtida pela relação entre a
massa seca da madeira e o volume saturado, sendo as variáveis mais fáceis
de obter.

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Quanto à rigidez, que é um importante parâmetro para definir a resis-


tência mecânica da madeira, ela deve ser avaliada nas três direções, ou seja,
na direção longitudinal, radial e tangencial e de forma detalhada, represen-
tada na forma matemática por meio de uma matriz. Em termos práticos para o
projeto de estruturas em madeira emprega-se apenas os valores da rigidez em
relação às direções paralela e normal aos feixes das fibras.
A união mecânica de madeira é realizada pelos pinos (pregos), mas
podem ocorrer rupturas, caso não sejam atendidos os critérios de afasta-
mento e espaçamentos mínimos recomendados. Como orientação, deve-se
considerar a espessura da madeira e o diâmetro do prego e atender a um
valor de uma constante, que considera tanto a resistência do prego como a
da madeira.
Um grande salto tecnológico no uso da madeira como material estrutural
vem sendo observado mundialmente e com grandes taxas de crescimento. Os
produtos industrializados e a grande tecnologia agregada são o MDF (medium
density fibreboard – chapas de media densidade de fibras) e o OSB (oriented
strand board – chapas de partículas orientadas). Esses são produtos derivados
da madeira em forma de chapas e seu processo de fabricação é do tipo con-
tínuo, contando com elevado grau de automação.
MDF é chapa mais versátil e sua densidade varia de 600 a 800 kg/m3 a
fabricação se dá pela utilização de adesivos e aditivos impregnados nas fibras,
que passam por uma prensa contínua que tem também a temperatura contro-
lada para formar o produto final (Figura 1). Em geral são comercializadas
para aplicações em edificações nas dimensões 183 × 275 cm com espessura
variando entre 6 e 35 mm.

Figura 1. Prensa contínua de MDF.


Fonte: Dieffenbacher (c2016).

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Tipos de madeiras
As madeiras como material estrutural são classificadas em quatro tipos:

„„ Madeira serrada.
„„ Madeira laminada colada.
„„ Madeira compensada.
„„ Madeira recomposta.

As madeiras também podem ser classificadas segundo a sua densidade em


madeira dura, medianamente dura e leve.
A madeira dura é a mais indicada para finalidades estruturais. Por ter
alta durabilidade, não é exigente quanto ao tratamento. Tanto as madeiras
mediamente duras quanto as madeiras leves precisam de tratamento, pois são
vulneráveis aos agentes destruidores.
Para fazer uma classificação a partir da faixa de densidade, as madeiras
são medidas para uma umidade natural de 15%. A Tabela 2 apresenta as
classes de madeira segundo a densidade.

Tabela 2. Classes de madeira segundo a densidade.


Fonte: Isaia (2011).

Classe de madeira Faixa de densidade

Dura 0,80 a 1,12 g/cm3

Medianamente dura 0,72 a 0,80 g/cm3

Leve 0,40 a 0,72 g/cm3

A madeira serrada se obtém imediatamente após o chamado desdobro da


tora, sendo o valor do comprimento definido pelo comprimento da tora. As
toras são transportadas para as serrarias e são comercializadas em volumes,
cuja unidade é o metro cúbico e depois de serradas o preço é transformado em
valor linear para cada peça.
O desdobramento do tronco é feito em pranchas, buscando o máximo
aproveitamento do volume comprado, sendo o processo mais empregado o
tangencial aos anéis de crescimento, radial e o misto. O desdobramento tan-
gencial é mais fácil de trabalhar e por isso é o mais empregado nas serrarias.

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A nomenclatura mais empregada para identificar as peças em madeira


estão na Tabela 3.

Tabela 3. Nomenclatura das peças em madeira.


Fonte: Alves (2006).

Nomenclatura da peça Espessura [cm] Largura [cm]

Pranchão Superior a 7 Superior a 20

Prancha 4a7 Superior a 20

Viga Superior a 4 11 a 20

Vigota 4a8 8 a 11

Caibro 4a8 5a8

Tábua 2a4 2 a 10

Ripa Superior a 2 Inferior a 10

Na madeira laminada colada, conforme própria nomenclatura indica, são


feitas colagens a partir das madeiras serradas, porém não mais do que 20
mm de espessura e comprimento máximo de 40 m pela emenda de peças em
madeira serrada de 5 m. As exigências de qualidade das peças de madeira ser-
rada, visando um bom desempenho do adesivo traz como resultado indireto
uma boa vida útil final.
As propriedades da madeira serrada usadas para compor o “sanduíche”
de madeira laminada colada, que, em geral, é preferencialmente de densidade
média, são usadas também para caracterizar a composição final do laminado
colado.
Por meio do torneamento do tronco são retiradas as lâminas de madeira
que servem para compor o produto final, que representa a madeira compen-
sada, e, entre as lâminas, há o preenchimento com fibras com sobreposição
até que se obtenha uma camada de cinco lâminas, cuja espessura pode chegar
a 20 mm. Esse material final é obtido com o uso de adesivos e apresentam
pouca tolerância à ação da umidade e temperatura elevadas, sendo a umidade
fora do permissível responsável pela delaminação das peças.
A madeira recomposta é o nome atribuído para classificar madeiras que
são fabricadas pelo uso de cavacos ou fibras de madeira, sendo frequente-
mente moldadas em chapas, mas podem ser encontradas também em barras.

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Popularmente são conhecidas como madeiras aglomeradas, mas atualmente


a denominação de MDF já está mais conhecida. Outra madeira recomposta
que passa ser percebida com mais frequência em obras de construção civil é
a OSB, que em uma boa parcela está ganhando o espaço das madeiras com-
pensadas em aplicações que exigem melhor desempenho estrutural e maior
durabilidade para aplicações em ambientes externos.

Principais aplicações das madeiras


Entre as várias justificativas para o emprego da madeira na construção civil
cabe destacar as vantagens pela facilidade de ser industrializável, ter baixa
densidade e adequada resistência mecânica.
Ao mesmo tempo, os inconvenientes de seu emprego são seu potencial
como combustível sólido, não ser homogênea e ser facilmente atacada por
fungos e bactérias.
Outra questão a ser considera é de que a madeira é tratada como um ma-
terial nobre, sua aplicação está mais restrita à materiais de acabamento, o que
não vem impulsionando o desenvolvimento de novas concepções estruturais.
Além disso, você deve considerar a falta de aperfeiçoamento de técnicas
para fazer emprego da madeira de forma conveniente, o que acaba voltando
a atenção para soluções com aço e do concreto armado, as quais poderia ser
substituída por estruturas de madeira.
A forma de exploração da madeira para o seu beneficiamento industrial
nem sempre segue os critérios ambientais recomendados, especialmente a sua
derrubada, que deve ser realizada no período de repouso vegetativo da árvore,
ou seja, quando a circulação da seiva é menos intensa e contenha o mínimo de
matérias nutritivas para atrair os insetos e as bactérias.
Para evitar o ataque de fungos, bactérias e insetos se faz necessário tratar
a madeira com produtos que promovam a sua conservação até o momento de
iniciar o seu processamento. Quando possível, mergulhar em água é a opção
mais prática.
Uma das soluções de construção em madeira é o exemplo de Genebra, na
Suíça, representada na Figura 2. A madeira, de florestas renováveis locais,
tem baixo impacto ambiental. Deve-se ter cuidado com o detalhamento, para
que ela não apodreça. Neste caso, um amplo beiral fornece proteção contra a
chuva. A passarela elevada, em madeira, vista no primeiro plano, tem frestas
entre as tábuas para assegurar boa drenagem e ventilação.

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Figura 2. Colunata e revestimento externo em madeira


em uma casa de uso misto.
Fonte: Roaf, Fuentes e Thomas-Rees (2014, p. 38).

Madeiras ecológicas
Existem muitas denominações para as madeiras ecológicas, como madeira
plástica e ecowood, sendo tecnicamente conhecida como WPC (Wood Plastic
Composite). Para qualquer uma delas ter essa caracterização exige que em
sua constituição contenha resíduos plásticos oriundos de pós-consumo e ou
aparas industriais agregadas a um tipo de carga que pode ser de origem ve-
getal e mineral. O processo se diferencia pela utilização de todos os tipos
de plásticos e cargas de forma administrada, com um resultado de produto
ecologicamente correto, sustentável e 100% reciclável, segundo o fabricante
gaúcho desse tipo de madeira (ecowood).
Entre os destaques para as vantagens desse tipo de “madeira” podemos
destacar a oferta de maior durabilidade; resistência à corrosão, fungos ou bo-
lores; manutenção mínima e baixo nível de absorção de água, sendo ideal para
várias aplicações em ambientes externos.

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Exemplo

Um dos exemplos de produtos mais populares obtidos dessa madeira industrial “sus-
tentável” está representado na Figura 3.

Figura 3. Banco para jardim.


Fonte: Allpex (2016).

1. A umidade da madeira: b) Quando aparente é medida com


a) Aumenta a resistência quando a peça seca em estufa.
eliminada. c) Quando básica é medida com a
b) Quando eliminada não causa umidade de 12%.
danos. d) Não influencia na resistência
c) Geralmente demora um ano para mecânica.
atingir o patamar de saturação e) Varia para cada tipo e espécie de
após seu corte. madeira
d) Só pode ser eliminada natural- 3. Qual das afirmações abaixo está
mente. certa?
e) Não influencia na retração. a) A rigidez longitudinal da madeira
2. A densidade da madeira: é muito menor que a tangencial.
a) É o volume sobre a massa de b) A rigidez radial e a tangencial são
material. iguais.

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c) A madeira é um material isotró- c) Viva.


pico. d) Laminada e colada.
d) Pode ser separada em classes de e) Madeira compensada.
resistência. 5. Qual dos tipos abaixo NÃO é um tipo
e) Tem o módulo de elasticidade de madeira reconstituída?
igual nas direções paralelas e a) Aglomerada.
tangenciais as fibras. b) Compensado.
4. A madeira como material de cons- c) OSB.
trução NÃO é encontrada: d) MDF.
a) Serrada. e) HDF
b) Toras.

Referência

DIEFFENBACHER. CPS+ Das aus zwei Welten. Eppingen: [s. n], [c2016]. Disponível em:
<http://www.dieffenbacher.de/de/unternehmen/pr/themen/cps.html>. Acesso em:
14 jul. 2016.

Leituras recomendadas
ALLPEX. Banco de madeira plástica. São Paulo: Allpex, [2016]. Disponível em: <http://
www.madeiraplastica.allpex.com.br/banco-madeira-plastica>. Acesso em: 13 jul. 2016.

ALVES, J. D. Materiais de construção. 8. ed. Goiânia: UFG, 2006.

ISAIA, G. C. Materiais de construção civil e princípios de ciência e engenharia de material. 2.


ed. São Paulo: IBRACON, 2011.

ROAF, S.; FUENTES, M.; THOMAS-REES, S. Ecohouse: A casa ambientalmente sustentável. 4.


ed. Porto Alegre: Bookman, 2014.

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