Você está na página 1de 55

ESTRUTURAS

EM
MADEIRA
Disciplina: Estruturas em Madeira
Professor: Agnagildo C. Machado.
1 –INTRODUÇÃO

A madeira é um dos materiais estruturais mais antigos empregados pelo homem. O Brasil, além
das florestas nativas, possui um grande potencial de produção de florestas plantadas. Com a
abundância de matéria-prima disponível, até há pouco tempo atrás não havia uma maior
preocupação em se fazer um uso racional da madeira, não se procurando o desenvolvimento de um
maior domínio de suas características físicas e mecânicas e de otimização das técnicas de emprego.
A situação começou a se modificar a partir da consciência da crise de suprimento de energia para a
qual o planeta está se encaminhando. A madeira é um material que requer baixo consumo de
energia para sua produção e sua usinagem quando comparado ao necessário para a produção de
outros materiais estruturais usuais. Outra vantagem apresentada pela madeira é ser uma matéria-
prima de fonte renovável. Os materiais estruturais usuais são extraídos de fontes que tendem a
esgotar-se com o tempo, originando a possibilidade de ocorrer uma crise de abastecimento e, antes
disso, uma alta de preços no mercado. A madeira, por ser proveniente de um processo de
crescimento vegetativo, oferece o potencial de apresentar fonte praticamente inesgotável de
fornecimento, desde que haja uma correta política de replantio das florestas exploradas.
Considerando-se as vantagens apresentadas pela madeira, torna-se claro o entendimento das
transformações que estão ocorrendo em seu uso. Atualmente a opção pela madeira como material
estrutural está adquirindo maior relevância. Os sinais desta modificação estão presentes por todo
planeta. O Brasil possui um território bastante extenso e com as condições necessárias para o
desenvolvimento de florestas que contribuam no fornecimento de madeira. Uma das principais
evidências da modificação na utilização deste material é a atualização da norma brasileira que
regulamenta o projeto de estruturas de madeira. Com a elaboração da norma atual, o meio técnico
nacional passou a dispor de uma norma em conformidade com os modernos conceitos de segurança
estrutural.
Outro fator que estimula a procura por um uso mais racional da madeira está relacionado com
as conseqüências do uso indiscriminado do material, que resultou na devastação de florestas,
conduzindo inclusive à extinção de algumas espécies. A área de reservas com espécies nativas
diminuiu sensivelmente e hoje há um grande número de restrições ao seu corte. Como opção,
existem as florestas plantadas que oferecem espécies com características diversas das espécies
consideradas nobres. Para a utilização das espécies de reflorestamento, tais como Pinus e
Eucaliptus, é necessária uma adaptação da técnica de emprego do material e dos critérios de projeto
que têm sido utilizados até então. A forma de adaptação encontrada foi o desenvolvimento de
técnicas de recomposição da madeira, como é o laminado colado. A técnica constitui-se da
composição de uma peça a partir da sobreposição de lâminas de madeira unidas entre si por um

2
Disciplina: Estruturas em Madeira
Professor: Agnagildo C. Machado.
adesivo. A principal vantagem desta técnica é permitir a fabricação de peças com dimensões
quaisquer, tanto na seção transversal quanto no comprimento. Esta característica da Madeira
Laminada Colada (MLC) a qualifica como um material altamente indicado para utilização em
estruturas com grandes vãos.
Como vantagens da madeira, podem-se citar (SZÜCS, 1992):
• A madeira possui baixo consumo de energia durante seu processo de usinagem, o que permite
apontá-la como um dos materiais do futuro;
• Possui enorme potencial de renovação na natureza;
• Apresenta bom comportamento mecânico, tanto para esforços de tração quanto para esforços de
compressão, o que a coloca em posição privilegiada entre os materiais estruturais, pois dispensa
o uso de materiais mistos, como o concreto armado;
• A madeira apresenta alta resistência a cargas de impacto, além de boa resistência a cargas de
curta duração;
• A variação de temperatura, além de exercer pouca alteração das propriedades mecânicas, é
acompanhada de efeitos bastante reduzidos de dilatação e contração térmicas;
• Possui a vantagem de proporcionar um excelente isolamento térmico, resultando em conforto
ambiental para a edificação;
• É um material indicado para estruturas que estão expostas a um meio agressivo por apresentar
estabilidade química, não reagindo a agentes oxidantes ou redutores, como no caso de
depósitos de produtos químicos, construções litorâneas e salinas;
• Possui alta resistência ao fogo, apesar de ser inflamável, o que a indica como material
aconselhado no caso de edificações sujeitas a um elevado risco de incêndio ou que pelo caráter
de seu uso exige uma maior margem de segurança que garanta sua evacuação antes do colapso.
Quando uma peça estrutural de madeira é exposta ao fogo, inicia-se o processo de combustão
do material periférico. Esta camada superficial carbonizada produz um efeito isolante e
dificulta o acesso de oxigênio ao interior da peça, diminuindo a velocidade de propagação do
fogo. Esta diminuição da velocidade faz com que as peças estruturais de madeira submetidas a
incêndio mantenham uma grande porcentagem de sua resistência original por períodos de
tempo consideráveis, permitindo a retirada de usuários e de bens de maior valor.
• Apresenta uma significativa estabilidade dimensional sob efeito de variação do teor de
umidade, principalmente na direção longitudinal da peça, não exigindo a previsão de juntas de
dilatação;
• A relação entre resistência mecânica e densidade de peças de madeira é vantajosa quando
comparada a de outros materiais. Como exemplo desta vantagem, uma viga de madeira, com

3
Disciplina: Estruturas em Madeira
Professor: Agnagildo C. Machado.
mesma capacidade de carga que uma viga de concreto, apresentará um peso próprio menor ao
da segunda, devido à densidade mais baixa da madeira. A propriedade das estruturas de
madeira apresentarem um baixo peso próprio resulta em economia no projeto e na execução das
fundações e reduz custos da estrutura, principalmente para grandes vãos, onde a carga de peso
tende a possuir maior participação;
• É um material de fácil trabalhabilidade, apresenta características adequadas à utilização em
estruturas pré-fabricadas. Estas características permitem uma maior racionalização da
construção, otimizando o tempo necessário para a montagem e resultando num menor prazo de
execução e na redução de custos. Isto, associado ao baixo peso próprio apresentado pelas
estruturas de madeira, facilita a montagem e desmontagem da estrutura, oferecendo a opção de
executarem-se ampliações futuras, conferindo um caráter versátil ao produto assim obtido.

No entanto, o uso da madeira maciça para estruturas com grandes vãos esbarra em uma grande
restrição que é a limitação de dimensões de peças comercialmente disponíveis, restringidas ao
tamanho do tronco das árvores. A técnica do laminado colado oferece a solução para esta limitação,
pois reúne todas as vantagens da madeira à versatilidade possibilitada na concepção de elementos
estruturais com as mais variadas formas geométricas, o que é sua principal característica. A
limitação da geometria das peças de MLC é feita pelos meios de transporte que serão utilizados para
conduzir as peças da fábrica até o local de montagem da estrutura. A liberdade de formas propiciada
pela técnica da MLC permite o projeto de estruturas com grandes vãos livres, além de possibilitar a
concepção de peças com raio de curvatura reduzido, variável e, até mesmo, em mais de um plano.
Quando utilizado o sistema estrutural do tipo viga-pilar, é possível projetar vigas simplesmente
apoiadas com vãos da ordem de 15 metros. Ao optar-se por vigas contínuas ou do tipo Gerber, os
vãos podem alcançar 20 metros. Nos elementos estruturais do tipo arco, que é uma das utilizações
mais difundidas, pode-se atingir vãos de 100 metros ou maiores. Encontram-se coberturas de
arquibancadas em balanços com extensão de 15 a 20 metros. Em coberturas na forma de “sheds”, os
vãos são de 8 a 12 metros e os pórticos de sustentação possuem vãos até 20 metros. Estes exemplos
traduzem a grande variedade de possíveis opções de concepção estrutural quando utilizada a MLC.
Além da variedade de sistemas oferecidos, esta técnica ainda apresenta a opção de composição de
estruturas mistas, sendo bastante comum na Europa a utilização de MLC associada a outros
materiais.

4
Disciplina: Estruturas em Madeira
Professor: Agnagildo C. Machado.
2 – A MADEIRA COMO MATERIAL DE CONSTRUÇÃO

Sob o ponto de vista botânico, as árvores são classificadas como vegetais superiores,
denominados Fanerógamas, com complexidade anatômica e fisiológica. Este grupo é dividido em
gimnospermas e angiospermas. Gimnospermas são as árvores sem frutos (do grego: gymnos = nu e
sperma = semente), cuja principal ordem são as Coníferas, que apresentam madeira mole e são
conhecidas por soft wood. Ocorrem principalmente no hemisfério norte, sob a forma de grandes
florestas que fornecem madeira empregadas na indústria e na construção civil. Na América do Sul
destacam-se os Pinus e a Araucária. O grupo das angiospermas (do grego: aggeion = vaso e sperma
= semente) são os vegetais mais evoluídos que existem. Possuem raiz, caule, folhas, flores e frutos.
Divide em duas categorias: monocotiledôneas e dicotiledôneas. Na classe das monocotiledôneas,
encontram-se as palmas e as gramíneas. Nas gramíneas destaca-se o bambu que, com boa
resistência mecânica e baixa densidade, é aplicado em construções leves, apesar de não ser
classificado como madeira no sentido usual da palavra. As dicotiledôneas, designadas como
madeira dura e internacionalmente como hard woods, constituem-se a categoria na qual se
encontram as principais espécies utilizadas na construção civil no Brasil.
O crescimento inicial da árvore ocorre predominantemente no sentido vertical, com formação
de camadas sucessivas que se sobrepõem ao redor das camadas mais antigas. Esse crescimento é
contínuo e sofre variações em função das condições climáticas e da espécie de madeira. Na seção
transversal do tronco, as camadas aparecem como anéis de crescimento. Cada anel é formado por
duas camadas. A madeira formada no período primavera - verão tem coloração mais clara, com
células dotadas de paredes mais finas. Nessa fase, ocorre o crescimento mais rápido da madeira. A
madeira formada no período outono – inverno tem coloração mais escura, células pequenas e
crescimento mais lento. Em regiões com estações climáticas bem definidas, é possível avaliar a
idade da árvore contando o número de anéis de crescimento.

Figura 2.1-1: Seção de um tronco (MONTANA QUÍMICA, 1991)

5
Disciplina: Estruturas em Madeira
Professor: Agnagildo C. Machado.
Observando-se uma seção transversal de um tronco, pode-se identificar as seguintes partes:
Casca: tecido especial que protege a árvore contra agentes externos;
Lenho: conjunto dos anéis de crescimento que constitui a parte resistente do tronco, dividido em
alburno e cerne. O alburno é formado por madeira mais jovem, mais permeável, menos densa, mais
sujeita ao ataque de fungos apodrecedores e insetos e com menor resistência mecânica. O cerne é a
parte do lenho formada a partir da modificação do alburno, mais densa, menos permeável a líquidos
e gases, mais resistente ao ataque de fungos apodrecedores e de insetos e com maior resistência
mecânica.
Medula: parte central, resultante do crescimento vertical, onde ocorre madeira de menor
resistência.
Raios medulares: sistema circulatório que liga as diferentes camadas entre si e transporta a seiva
até o centro do tronco.
Entre a casca e o lenho existe uma camada delgada denominada câmbio responsável pelo
aumento do diâmetro da árvore através da adição de novas camadas. É chamada a parte “viva” da
árvore.
O processo fisiológico de nutrição da árvore está esquematizado na figura 2.1-1. A seiva
bruta, composta basicamente de água e sais minerais extraídos do solo, sobe pelo alburno até às
folhas, onde se processa a fotossíntese, transformando-se na seiva elaborada, que desce pela parte
interna da casca até às raízes. Parte desta seiva elaborada é conduzida até o centro do tronco pelos
raios medulares. As substâncias não utilizadas pelas células como alimento são lentamente
armazenadas no lenho, formando o cerne.
A madeira apresenta o radical monossacarídeo CH2O como seu componente orgânico
elementar, formado a partir da fotossíntese que ocorre nas folhas pela combinação do gás carbônico
do ar com a água do solo e absorção de energia calorífica:
CO2 + 2 H2O + 112,3 Cal CH2O + H2O + O2

Na seqüência, ocorrem reações que originam os açucares que formam a maioria das
substâncias orgânicas vegetais. A madeira apresenta três componentes orgânicos principais que são:
celulose, hemicelulose e lignina. A variação de cada um desses elementos varia de acordo com a
classificação botânica da árvore.
Tabela 1.2-1: Composição orgânica das madeiras (HELLMEISTER, 1983)
substância coníferas dicotiledôneas
celulose 48% a 56% 46% a 48%
hemicelulose 23% a 26% 19% a 28%
lignina 26% a 30% 26% a 35%

6
Disciplina: Estruturas em Madeira
Professor: Agnagildo C. Machado.
A celulose é um polímero constituído por várias centenas de glucoses. É encontrada nas
paredes das fibras, vasos e traqueídes. Já a lignina age na madeira como um cimento ligando as
cadeias de celulose dando rigidez e dureza ao material.

Figura 1.2-2: Nutrição da árvore (HELLMEISTER, 1983)

3 – PROPRIEDADES FÍSICAS DA MADEIRA

O conhecimento das propriedades físicas da madeira é de grande importância no


entendimento de seu desempenho e de sua resistência estrutural. As características físicas mais
importantes são: o teor de umidade, a densidade, a retratilidade, a resistência ao fogo, a durabilidade
natural e a resistência química.
Os valores numéricos dessas propriedades obtidos em ensaios laboratoriais apresentam grande
dispersão em virtude da influência de fatores tais como o solo e o clima da região de origem da
árvore, a fisiologia da árvore, a anatomia do tecido lenhoso e a variação da composição química. As
variações dos valores são adequadamente descritas por meio de distribuição normal (Gauss). Outro

7
Disciplina: Estruturas em Madeira
Professor: Agnagildo C. Machado.
fator que deve ser considerado como de grande influência no comportamento da madeira é sua
estrutura interna orientada que lhe confere propriedades de material ortotrópico. Os eixos de
simetria elástica coincidem com os três eixos principais: longitudinal, tangencial e radial. As
diferenças nas propriedades segundo a direção radial e tangencial são menores quando comparadas
à direção longitudinal. Por esta razão, é comum ser feita referência às propriedades na direção
paralela às fibras (longitudinal) e perpendicular às fibras (radial e tangencial).

3.1 – Teor de umidade

O teor de umidade é definido como a razão entre a massa de água removida e a massa seca da
madeira. O teor de umidade é expresso em porcentagem:
mi − ms
U(%) = x100
ms

onde: mi é a massa inicial da madeira em gramas e ms é a massa da madeira seca em gramas.


A água é importante para o desenvolvimento da árvore, constituindo grande porção da
madeira verde. Na madeira, a água apresenta-se sob duas formas: água livre contida nas cavidades
das células (lumens) e água impregnada contida nas paredes das células. Quando se inicia a
secagem da madeira verde, a água livre é a primeira a sair do material. O teor de umidade que
corresponde ao mínimo de água livre e as paredes celulares saturadas (máximo de água de
impregnação) é denominado ponto de saturação das fibras (PSF). O PSF na maioria das espécies
brasileiras varia entre 20 e 35%. A perda de água na madeira até o PSF ocorre sem problemas para a
estrutura da madeira. A partir deste ponto, a perda de água é acompanhada de retração (redução das
dimensões) e aumento da resistência. A remoção da água de impregnação requer maior energia que
para a água livre.
A madeira é um material higroscópico, isto é, troca umidade continuamente com o meio no
qual está. Para qualquer combinação de temperatura e umidade relativa do ambiente, haverá um teor
de umidade da madeira onde a difusão de umidade dentro dela iguala-se ao do ambiente externo.
Esse teor é chamado teor de umidade de equilíbrio (Ueq).

8
Disciplina: Estruturas em Madeira
Professor: Agnagildo C. Machado.

Figura 3.1-1: Umidade na madeira (RITTER, 1990)

Para fins de aplicação estrutural da madeira, a norma brasileira especifica a umidade de 12%
como padrão de referência para a realização de ensaios e valores de resistência nos cálculos.

Figura 3.1-2: Defeitos de secagem (MAINIERI, 1983)

Os problemas decorrentes da variação de dimensões das peças de madeira, em virtude da


secagem, são reduzidos com o uso de peças apresentando teor de umidade próximo do teor de
equilíbrio com o ambiente onde será aplicada. Na construção civil as peças de madeiras com teores
de umidade de 20 a 22% só serão empregadas se for possível secá-las rapidamente.

9
Disciplina: Estruturas em Madeira
Professor: Agnagildo C. Machado.
3.2 – Densidade
A densidade é uma das propriedades físicas fundamentais na definição das melhores aplicações
da madeira de diferentes espécies. No caso de estruturas, seu peso próprio é estimado com base no
valor da densidade da espécie (ou classe) utilizada.
O conceito físico indispensável à compreensão do assunto é o da quantidade de massa contida
em uma unidade de volume. Considerando a natureza típica da madeira, decorrente de sua estrutura
anatômica, é complicada a aplicação das definições de densidade absoluta e de densidade relativa.
Seu caráter higroscópico combinado com sua porosidade e suas singularidades fisiológicas
associadas à sua permeabilidade requer uma abordagem particular da densidade da madeira.
A densidade real trata-se da relação entre a massa da madeira contida na amostra considerada
e o volume efetivamente ocupado por ela, descontados os vazios internos cheios de água e ar. A
determinação da densidade real não integra a rotina experimental para a caracterização da madeira,
mas se constitui num procedimento esclarecedor de sua natureza e do seu comportamento.
A densidade básica da madeira é definida como a massa específica convencional obtida pelo
quociente da massa seca pelo volume saturado, ou seja, tendo todos os seus vazios internos
preenchidos por água, e pode ser empregada para fins de comparação aos valores apresentados na
literatura internacional.
A densidade aparente é definida pela razão entre a massa e o volume de corpos de prova para
um dado teor de umidade (U%). No caso particular da NBR 7190/1997, é determinada para a
umidade padrão de referência de 12% e pode ser utilizada para classificação da madeira e nos
cálculos de peso próprio das estruturas. A densidade está correlacionada à maioria das propriedades
mecânicas da madeira. As madeiras que apresentam maior densidade também apresentam
resistência mecânica maior.

3.3 – Estabilidade dimensional: retratilidade e inchamento

Retratilidade é a capacidade do material apresentar retração, isto é, a redução de dimensões de


uma peça de madeira em conseqüência da saída de água de impregnação. Inchamento é o
fenômeno inverso, quando ocorre o aumento das dimensões com o acréscimo de umidade. As
mudanças de dimensões são mais significativas, em ordem decrescente, na direção tangencial, após
na direção radial e, por último, na direção longitudinal.

10
Disciplina: Estruturas em Madeira
Professor: Agnagildo C. Machado.
Retração

Tangencial (3)

Radial (2)
10 Axial (1)

PE= Umidade de equilíbrio ao ar


6
PS= Ponto de saturação das fibras
0,5

PE(ar) PS Umidade

Figura 3.3-1: Retração na madeira (CALIL Jr. & BARALDI, 1997)

3.4 – Resistência ao fogo

A madeira possui alta resistência ao fogo. Durante a combustão de uma peça de madeira, esta
característica traduz-se pela formação, após alguns minutos, de uma camada mais externa
carbonizada que atua como um isolante térmico que retém o calor, evitando que toda peça seja
destruída. A proporção de madeira carbonizada varia com a espécie e as condições de exposição ao
fogo. A região de madeira queimada é um material com propriedades diferentes da madeira sã, que
não deve ser considerada na quantificação da resistência e da rigidez do elemento estrutural que foi
exposto ao fogo.

3.5 – Durabilidade natural

A durabilidade natural da madeira é a durabilidade que decorre da própria composição e


estrutura interna do material, sem receber a influência de qualquer tipo de impregnação por agentes
preservativos artificiais. A durabilidade da madeira depende da região da tora da qual a peça foi
extraída. Por exemplo, o alburno é muito mais vulnerável ao ataque biológico que o cerne. A
pequena durabilidade natural de algumas espécies pode ser compensada por um tratamento
preservativo adequado.

3.6 – Resistência química

A madeira geralmente apresenta boa resistência a ataques químicos. Em ambientes industriais é


preferida em lugar de outros materiais mais sujeitos ao ataque.

11
Disciplina: Estruturas em Madeira
Professor: Agnagildo C. Machado.
4 – DEFEITOS DA MADEIRA
As peças de madeiras utilizadas nas construções apresentam uma série de defeitos que
prejudicam as suas propriedades de resistências, aspecto ou a durabilidade, trazendo sério danos
econômicos. Os defeitos podem provir da constituição do tronco ou do processo de preparação das
peças. Os principais defeitos da madeira são:
• Nós - imperfeições na madeira nos pontos dos troncos onde existem galhos. Nos nós, as fibras
longitudinais sofrem desvio de direção, ocasionando redução na resistência à tração;
• Fendas – aberturas nas extremidades das peças, produzidas pela secagem mais rápida da
superfície. O aparecimento de fendas pode ser evitado mediante a secagem lenta e uniforme da
madeira;
• Abaulamento – encurvamento na direção da largura da peça;
• Arqueadura – encurvamento na direção longitudinal, isto é, no comprimento da peça;
• Bolor – descoloração da madeira provocada por cogumelos. Indica o início de deterioração;
• Apodrecimento – desintegração avançada da madeira, produzida por cogumelos.

5 - AGENTES DESTRUIDORES DA MADEIRA

A madeira pode ser atacada por diversos agentes. Para impedir, ou pelo menos diminuir a
ação de tais agentes há três linhas de ação:
• Usar madeira dotada de elevada resistência biológica;
• Incorporar produtos químicos à madeira;
• Alterar quimicamente a estrutura da madeira.

Temos os seguintes tipos de agentes destruidores:

5.1 - Microorganismos
Os microorganismos desenvolvem-se dentro das células da madeira, onde produzem enzimas
e decompõem os constituintes da parede do lúmem. As condições de temperatura, umidade e
aeração da madeira são fatores importantes na determinação dos microorganismos aptos a colonizá-
la e decompô-la e têm marcante influência na velocidade de decomposição. Em condições de
excessiva umidade a decomposição é lenta, pois os fungos manchadores e apodrecedores têm seu
desenvolvimento inibido. No alburno não existem extrativos e, conseqüentemente a resistência
nesta parte é bastante baixa. Além disso, árvores de crescimento rápido têm resistência menor que
árvores da mesma espécie, mas de crescimento lento.

12
Disciplina: Estruturas em Madeira
Professor: Agnagildo C. Machado.
5.1.1 - Fungos emboloradores
Macroscopicamente a madeira embolorada apresenta em sua superfície uma formação
pulverulenta. O emboloramento é comum em toras recém abatidas. Se, madeiras (secas ou com
alto teor de umidade) ficarem expostas num meio com umidade relativa acima de 90%, podem
apresentar bolor. O bolor traz a redução da resistência ao impacto, sendo as outras características
pouco afetadas. No caso de bolor a permeabilidade da madeira é maior que na madeira sadia.

5.1.2 - Fungos manchadores


Macroscopicamente a madeira apresenta áreas de coloração variada (azul ou cinza escuro).
Como os fungos emboloradores, os fungos manchadores ocorrem em toras recém abatidas e durante
a secagem. Sua característica principal é a elevada tolerância a diversos preservativos.

5.1.3 – Bactérias
Macroscopicamente a madeira apresenta diversas manchas, distribuídas aleatoriamente na sua
superfície. O ataque de bactérias é comum em madeiras que foram submersas por semanas ou
meses, ou em estacas de fundações. O maior fator para a instalação das bactérias é a umidade. Há
o aumento da permeabilidade, e a diminuição das características mecânicas.

5.1.4 - Fungos de podridão mole


Macroscopicamente a madeira atacada apresenta uma camada escura. A madeira
intensamente deteriorada por fungos de podridão mole apresenta redução em todas as suas
características mecânicas, devido á destruição dos seus elementos estruturais.

5.1.5 - Fungos de podridão parda


A madeira apresenta-se, a princípio, ligeiramente escurecida, passando a uma coloração
escura. Este apodrecimento pode ocorrer em proporções profundas. Sua densidade diminui e sua
resistência ao impacto é rapidamente afetada.

5.1.6 - Fungos de podridão branca


A madeira apresenta-se mais clara e mais macia que a sadia. A única diferença entre a
podridão parda e a podridão branca é que a podridão parda provoca uma diminuição nas
características mecânicas da madeira mais rapidamente que a podridão branca, mas as quedas na
densidade ao final do processo são maiores na podridão branca.

5.2 - Insetos
Os principais tipos de insetos são os cupins, brocas e carunchos.

13
Disciplina: Estruturas em Madeira
Professor: Agnagildo C. Machado.
5.2.1 - Cupins
Os cupins constroem sua residência no solo e a partir daí, galerias até o local onde está a
madeira que utilizam como alimento. Os cupins possuem em seu aparelho digestivo alguns
protozoários que digerem a madeira. Eles a atacam internamente, mas não perfuram para fora.
Geralmente só se percebe que a madeira esta atacada quando a peça se quebra por falta de
resistência ou pelo aparecimento dos seus excrementos. Eles preferem locais escuros e sem
movimento.

5.2.2 - Brocas e carunchos


São nomes genéricos dados a uma grande quantidade de larvas e insetos adultos que atacam a
madeira verde ou seca.

5.3 - Relações madeira-água


A madeira de uma árvore recém abatida contém uma considerável quantidade de água, a qual
deve ser removida. A operação da retirada de água, a secagem, pode ser considerada como uma das
fases mais decisivas para o sucesso de operações industriais, assim como para a utilização final da
madeira em condições reais de serviço. A introdução de produtos preservativos no interior da
madeira, será realizada com êxito quando esta apresentar um teor de umidade suficientemente
baixo, o qual deve estar próximo de 30%.

5.4 - Weathering
Este fenômeno ocorre quando a madeira é exposta às intempéries, fora de contato com o solo.
A madeira exposta ao tempo torna-se rugosa, surgem fendilhados que podem aumentar de
magnitude, as fibras ficam soltas e a peça sofre empenhamento. Todos esses efeitos provocados
pela ação conjunta da luz, umidade, temperatura e oxigênio podem ser resumidos numa só palavra,
o "Weathering".
Dois tipos básicos de acabamento são usados para proteger a superfície da madeira durante a
exposição externa:
• Aqueles que formam uma película recobrindo superfícies (tintas ou vernizes);
• Aqueles que penetram através da superfície, não formando películas (preservativos,
repelentes de água e "stains”).

5.5 - Produtos químicos


A madeira possui boa resistência a soluções neutras e ácidas ou bases fracas. Por este motivo
ela é usada para construção de diversos equipamentos como tanques, filtros, prensa, tonéis e dutos.

14
Disciplina: Estruturas em Madeira
Professor: Agnagildo C. Machado.
Nestes casos particulares, onde em industrias químicas é comum o uso de ácidos fracos, a madeira
apresenta vantagens sobre outros materiais em termos de custo e facilidade de fabricação.

5.6 – Fogo
Entre os inconvenientes que mais se apontam nas construções de madeira são o ataque destas
pelos fungos, insetos e a ação do fogo. No combate aos fungos e insetos é utilizado um tratamento
fungicida/inseticida, o que a torna praticamente inatacável por estas pragas. A inflamabilidade e a
resistência ao fogo não são determinadas exclusivamente pela composição química dos materiais,
mas, também, pelas proporções e pela relação da espessura que também tem sua influência.
O perigo de desabamento de um edifício atacado pelo fogo é maior com materiais de
construção que não sejam de madeira. A elevação da temperatura não tira a resistência da madeira,
pelo contrario, até aumentam um pouco. Este fato origina a contenção do fogo por algum tempo,
pois esse calor tira a umidade de constituição da madeira. As estruturas metálicas, por exemplo,
pela sua grande capacidade de condução do calor, tornam-se rapidamente incandescentes e dilatam-
se muito, conduzindo ao desabamento da construção sem que haja um sinal de alarme. Hoje em dia
no mercado, encontram-se produtos que permitem retardar o ponto de inflamação e por isso no
momento em que a resistência se perde é que esses produtos são eficazes. São chamados de
produtos ignífugos.

6 - SISTEMAS PRESERVATIVOS DA MADEIRA

Um produto químico para ser utilizado como preservativo de madeira deve satisfazer uma
série de requisitos:
Eficiência: Deve apresentar toxidez à gama mais ampla possível de organismos xilófagos. Deve
ainda permitir penetração profunda e uniforme na madeira.
Segurança: Deve apresentar toxidez baixa em relação a seres humanos e animais domésticos, além
de não aumentar as características de combustibilidade e flamabilidade inerentes à
madeira. A solução preservativa não deve ser corrosiva a metais e plásticos com que
são confeccionados os recipientes e equipamentos.
Permanência e resistência à lixiviação: Para ser resistente à lixiviação deve ser insolúvel na água
ou formar complexos insolúveis por meio de reação química com os componentes da
parede celular da madeira.
Custo: Hoje em dia os preservativos têm um peso considerável na composição de custos, que
sem dúvida deve ser uma preocupação permanente na pesquisa de novas alternativas.

15
Disciplina: Estruturas em Madeira
Professor: Agnagildo C. Machado.
6.1 – Classificação dos preservativos

6.1.1 - Preservativos oleosos e oleossolúveis


a) Creosoto do alcatrão da hulha: É definido como um produto destilado do alcatrão
procedente da carbonização da hulha betuminosa, à alta temperatura. É mais denso do que a
água e tem uma escala de ebulição sem solução de continuidade que atinge pelo menos uma
faixa de 125°C.
b) Creosoto de madeira: O alcatrão de madeira é o mais antigo dos produtos preservadores
conhecidos na história do homem e é obtido como um subproduto da destilação da madeira.
Dados de campo dos EUA revelam que o desempenho do creosoto mineral é nitidamente
superior ao de origem vegetal, provavelmente por uma questão de maior permanência dos
organismos xilófagos.
c) Creosoto de lignito: Devido à sua reduzida densidade obtém-se boas penetrações durante o
tratamento sob pressão.
d) Creosoto fortificado: Este tipo de creosoto foi desenvolvido em virtude de certos
organismos apresentarem uma tolerância maior que a média.

6.1.2 - Preservativos hidrossolúveis


Em virtude da escassez de derivados de petróleo, estes preservativos vêm assumindo uma
importância cada vez maior no cenário da preservação da madeira.

6.1.3 - Compostos de boro


Os boratos possuem propriedades fungicidas, inseticidas e ignífugas. Como possuem
propriedades fungicidas e inseticidas, são preservativos eficientes desde que usados sozinhos e que
a madeira não seja submetida à lixiviação ou posta em contato com o solo.

6.1.4 - Inseticidas
Um inseticida pode ser definido, como uma substância química empregada para eliminar
insetos. Os inseticidas podem ser classificados de diversas formas, de acordo com sua eficiência
num dado estágio de vida do inseto ou segundo sua natureza química.

7 - MÉTODOS PREVENTIVOS
7.1 - Controle da deterioração das toras:
• Desdobro rápido;
• Submersão e aspersão de água;
• Aspersão de fungicida e/ou inseticida.
16
Disciplina: Estruturas em Madeira
Professor: Agnagildo C. Machado.

7.2 - Controle da deterioração da madeira serrada:


Uma das medidas preventivas é a secagem rápida em estufas a altas temperaturas. Nestas
condições a madeira é esterilizada e seca muito rapidamente, onde não é possível o
desenvolvimento de organismos xilófagos. Outras medidas são o desdobramento e secagem ao ar
ou por desumidificação. Para que não ocorra infecção nas peças é necessária a aplicação de
solução fungicida/inseticida.

7.3 - Processos sem pressão ou caseiros


Estão inclusos os métodos em que não há pressão externa aplicada para forçar a penetração do
preservativo na madeira. As etapas do processo são:
• Difusão
• Capilaridade
• Absorção térmica
• Pincelamento ou aspersão
São os processos mais simples disponíveis, requerendo investimentos mínimos e podem ser
realizados com preservativos hidrossolúveis.

7.3.1 - Imersão rápida


Este método consiste na imersão da madeira durante um tempo muito curto.

7.3.2 - Processo de difusão


O fenômeno da difusão só ocorre quando a madeira se encontra inicialmente com elevado teor
de umidade. A madeira é imersa na solução.

7.3.3 - Processo de substituição da seiva


As peças são colocadas nas posições verticais ou inclinadas, com a base imersa na solução
preservativa. À medida que se processa a evaporação da água, a solução preservativa penetra por
difusão e capilaridade.

7.3.4 - Banho quente-frio


Este é indicado quando a madeira estiver seca. As peças são inicialmente colocadas em banho
quente por um período de tempo suficiente para que a madeira entre em equilíbrio térmico com a
solução e ocorra a expansão de ar das células da madeira. Então as peças são transferidas para o
banho frio. Voltando à temperatura ambiente, o ar remanescente na madeira se contrai e então
ocorre a absorção do líquido preservativo.

17
Disciplina: Estruturas em Madeira
Professor: Agnagildo C. Machado.

7. 4 - Processo com pressão


Esses processos de impregnação com pressões superiores à atmosférica são os mais eficientes
em razão da distribuição e penetração mais uniforme do preservativo na peça tratada. Há um maior
controle do preservativo absorvido, resultando na garantia de uma proteção efetiva com economia
de preservativos.

7.5 - Métodos que alteram a estrutura química da parede celular


Depois que a madeira for inteiramente impregnada com produtos químicos, reações
subseqüentes podem levar a um produto de madeira modificada. Os tratamentos empregados na
estabilização dimensional podem ser classificados como: Métodos mecânicos, físicos, de volume ou
de superfície.

7.6 - Processos biológicos


O controle biológico abrange a manipulação artificial de fatores bióticos e abióticos naturais
visando a regulação de populações de determinados organismos. O controle biológico vem sendo
intensamente estudado para o tratamento curativo de apodrecimento interno em postes. Porém, até
hoje, não existe nenhum sistema de controle biológico que seja utilizado comercialmente na
preservação de madeira.

8 - MÉTODOS CURATIVOS

8.1- Inspeção e tratamento curativo em edifícios


Nas edificações, a deterioração ou as situações favoráveis a ela podem ser detectadas por
meio de inspeções para que sejam executados os tratamentos, reparos ou modificações, antes que
danos maiores possam ocorrer. O ataque à madeira é evidenciado pelos indícios produzidos pelos
insetos. Podemos ter: Cupins subterrâneos, cupins de madeira seca, brocas ou fungos. A
identificação do tipo de ataque é macroscópica e particular para cada caso.
As técnicas mais utilizadas nos tratamentos curativos se baseiam no uso de produtos químicos
que apresentam persistência. Existem vários métodos tais como:

a) Fumigação
Consiste em submeter a peça à ação de um gás tóxico por um período suficiente para
exterminar as diversas formas de inseto. Possui alto poder de difusão dos gases, permitindo a
penetração profunda na madeira.

18
Disciplina: Estruturas em Madeira
Professor: Agnagildo C. Machado.
b) Injeção, aspersão e pincelamento
A injeção é executada nas peças atacadas através dos próprios orifícios produzidos pelos
insetos. Em seguida é dado um tratamento na superfície externa por aspersão da solução
preservativa. Por fim, dá-se o pincelamento.

c) Imersão
A imersão com finalidade curativa é inviável no tratamento de peças de edifícios devido à
necessidade de desmontar a estrutura.

8.2- Inspeção e tratamento curativo em postes


É recomendado em casos em que o poste apresenta-se com apodrecimento atacado
externamente por cupins. Deve-se limpar abaixo da linha de afloramento, com escova de aço até
que a superfície permaneça livre de detritos. A partir de então se faz a aplicação de preservativo
líquido ou pastoso.

8.3- Tratamento químico de solo


A limpeza da obra e a execução de tratamento químico de solo são as principais medidas
preventivas contra a infestação por cupins subterrâneos. O tratamento é feito geralmente por meio
de valetas que protegem as fundações de paredes externas e internas. Abrem-se pequenas valetas
no solo e adiciona-se a emulsão de inseticida. O solo é adicionado à valeta para nivelamento e deve
ser tratado da mesma maneira. O tratamento de superfície, que complementa o tratamento junto às
fundações, deve ser executado antes da confecção de elementos horizontais como contra-pisos, lajes
e demais estruturas que se sobrepõem ao solo. A época adequada para a execução do tratamento é a
mesma da construção do edifício.

8.4- Cuidados posteriores ao tratamento


O tratamento de solo com inseticida não deve ser executado em terrenos onde há riscos de
contaminar águas superficiais ou subterrâneas. Após a execução do tratamento, o solo do perímetro
externo do edifício deve receber um revestimento de proteção contra a água da chuva,
principalmente nos terrenos inclinados. O tratamento consiste em romper os pisos existentes e
adicionar a emulsão de inseticida, constituindo uma barreira química ao nível de fundações.
Executam-se perfurações em série no piso, nas proximidades das paredes, colunas, juntas de
dilatação, seguidas da adição do agente inseticida. Além de abranger a área edificada o tratamento
deve incluir outras áreas com indícios de cupins.

19
Disciplina: Estruturas em Madeira
Professor: Agnagildo C. Machado.

9 - SECAGEM
A madeira sempre contém quantidades variáveis de água. Logo depois de derrubada, a
porcentagem de água é bastante elevada. Em certas madeiras essa água ou umidade tem uma
porcentagem tão grande que pode exceder o seu peso. A umidade tende sempre a diminuir até o
limite em que se estabelece o equilíbrio entre a umidade existente na madeira e o grau higrométrico
do ambiente.
Essa perda de água é o que se chama de secagem. Além da perda de umidade a secagem
proporciona a fixação e a transformação de substâncias orgânicas e inorgânicas existentes na
madeira, e aparentemente até uma oxidação.
A secagem apresenta as seguintes vantagens:
a) Evita estragos de insetos e fungos
b) Aumenta a durabilidade em serviço
c) Evita contrações e fendas
d) Aumenta a resistência
e) Diminui o peso
f) Prepara a madeira para tratamentos preservativos e outros usos industriais

A madeira secada artificialmente dura mais que a não tratada por esse processo. Perdendo a
umidade, a madeira verde não só se contrai como também se deforma e fende, dando fácil acesso
aos fungos e insetos. Isso, porém, não acontece com a madeira secada artificialmente, a não ser em
casos excepcionais.
Pela secagem natural ou artificial a água de embebição é a primeira que se evapora e que pode
ser totalmente evaporada sem que as propriedades da madeira sejam afetadas. O mesmo não se dá
com a água de impregnação. Logo que a água de adesão começa a se evaporar a madeira fica mais
rija, sua dureza aumenta, mas aparecem fendas e rachas. O limite entre estas duas fases chama-se
"ponto de saturação ao ar".
Quando a água de embebição se evapora a madeira fica apta a receber em seu lugar as
substâncias preservativas.
A secagem natural consiste em empilhar as madeiras, onde haja uma perfeita circulação de ar.
É mais econômica, tem facilidade de ser feita e relativa eficiência. As desvantagens são:
a) Demora na secagem
b) Há perigo de incêndios

20
Disciplina: Estruturas em Madeira
Professor: Agnagildo C. Machado.
A secagem artificial em grande escala das madeiras destinadas a posteriores tratamentos
preservativos, usa-se comumente a secagem pelo vapor saturado. Este método é usado em grande
escala nos Estados Unidos. Suas principais vantagens são:
a) A água sendo removida com muita facilidade, a madeira fica praticamente esterilizada;
b) Não há necessidade de grandes áreas para acumular o estoque;
c) Não há perigo de incêndios;
d) Os pedidos urgentes podem ser prontamente atendidos.

9 - PROPRIEDADES MECÂNICAS DA MADEIRA


As propriedades mecânicas são responsáveis pelo comportamento da madeira quando
solicitada por forças externas. Os métodos de ensaio para determinação destas propriedades são
especificados pela NBR7190/97.
A madeira caracteriza-se por ser um material anisotrópico, cujas propriedades mecânicas
diferem segundo os três eixos principais, embora com valores aproximados nas direções radial e
tangencial. Portanto, as propriedades são analisadas segundo duas direções: paralela e normal às
fibras.

Figura 9-1: Comportamento anisotrópico da madeira (RITTER, 1990)

9.1 – Compressão
A compressão na madeira pode ocorrer segundo três orientações: paralela, normal e inclinada
em relação às fibras. Quando a peça é solicitada por compressão paralela às fibras, as forças agem
paralelamente ao comprimento das células. As células reagindo em conjunto conferem uma grande
resistência da madeira à compressão. No caso de solicitação normal ou perpendicular às fibras, a
madeira apresenta resistências menores que na compressão paralela, pois a força é aplicada na

21
Disciplina: Estruturas em Madeira
Professor: Agnagildo C. Machado.
direção normal ao comprimento das células, direção na qual possuem baixa resistência. Os valores
de resistência à compressão normal às fibras são da ordem de ¼ dos valores de resistência à
compressão paralela.

Compressão paralela: tendência de encurtar as células da


madeira ao longo do seu eixo longitudinal.

Compressão normal: comprime as células da madeira


perpendicularmente ao eixo longitudinal.

Compressão inclinada: age tanto paralela como


perpendicularmente às fibras.

Figura 9.1-1: Compressão na madeira (RITTER, 1990)

Nas solicitações inclinadas em relação às fibras da madeira, a NBR7190/97 adota o modelo de


Hankinson para estimativa dos valores intermediários.

f c 0 .f c90
f cθ =
f c 0 . sen θ + f c90 . cos 2 θ
2

9.2 – Tração

A tração na madeira pode ocorrer com orientação paralela ou normal às fibras. As


propriedades referentes às duas solicitações diferem consideravelmente. A ruptura por tração
paralela pode ocorrer por deslizamento entre as células ou por ruptura das paredes das células. Em
ambos casos a ruptura ocorre com baixos valores de deformação, o que caracteriza como frágil, e
com elevados valores de resistência. A resistência de ruptura por tração normal às fibras apresenta
baixos valores. A solicitação age na direção normal ao comprimento das fibras, tendendo a separá-
las, afetando a integridade estrutural e apresentando baixos valores de deformação. Pela baixa
resistência apresentada pela madeira sob este tipo de solicitação, essa deve ser evitada nas situações
de projeto.

22
Disciplina: Estruturas em Madeira
Professor: Agnagildo C. Machado.

Tração paralela: alongamento das células ao longo do


eixo longitudinal.

Tração normal: tende a separar as células da madeira


perpendicular aos seus eixos, onde a resistência é baixa,
devendo ser evitada.

Figura 9.2-1: Tração na madeira (RITTER, 1990)


9.3 – Cisalhamento
O cisalhamento na madeira pode ocorrer sob três formas. A primeira seria quando a ação é
perpendicular às fibras (cisalhamento vertical), porém este tipo de solicitação não é crítico, pois,
antes de romper por cisalhamento, a peça apresentará problemas de esmagamento por compressão
normal. As outras duas formas de cisalhamento ocorrem com a força aplicada no sentido
longitudinal às fibras (cisalhamento horizontal) e à força aplicada perpendicular às linhas dos anéis
de crescimento (cisalhamento rolling). O caso mais crítico é o cisalhamento horizontal que rompe
por escorregamento entre as células da madeira.

Cisalhamento vertical: deforma as células


perpendicularmente ao eixo longitudinal. Normalmente
não é considerada pois outras falhas ocorrem antes.

Cisalhamento horizontal: produz a tendência das células da


madeira separarem e escorregarem longitudinalmente.

Cisalhamento perpendicular: produz a tendência das


células da madeira rolarem umas sobre as outras de forma
transversal em relação ao eixo longitudinal.

Figura 9.3-1: Cisalhamento na madeira (RITTER, 1990)

23
Disciplina: Estruturas em Madeira
Professor: Agnagildo C. Machado.
9.4 – Flexão simples
Na solicitação à flexão simples, ocorrem quatro tipos de esforços: compressão paralela às
fibras, tração paralela às fibras, cisalhamento horizontal e, nas regiões dos apoios, compressão
normal às fibras.

Figura 9.4-1: Flexão na madeira (RITTER, 1990)

A ruptura em peças solicitadas à flexão ocorre com a formação de minúsculas falhas de


compressão seguidas pelo esmagamento macroscópico na região comprimida. Este fenômeno gera
o aumento da área comprimida na seção e a redução da área tracionada, causando acréscimo de
tensões nesta região, podendo romper por tração.

9.5 – Torção
As propriedades da madeira, quando solicitada por torção, são pouco investigadas. A
NBR7190/97 recomenda evitar a torção de equilíbrio em peças de madeira em virtude do risco de
ruptura por tração normal às fibras decorrente do estado múltiplo de tensões atuante.

9.6 – Resistência ao choque


A resistência ao choque é a capacidade do material absorver rapidamente energia pela
deformação. A madeira é considerada um material de ótima resistência ao choque. Existem várias
formas de quantificar a resistência ao choque. A NBR 7190/97 prevê o ensaio de flexão dinâmica
para determinação desta propriedade.

24
Disciplina: Estruturas em Madeira
Professor: Agnagildo C. Machado.
10 – MODELO DE SEGURANÇA DA NORMA BRASILEIRA

10.1 – Segurança de uma estrutura (Método dos Estados Limites)

Os estados limites de utilização são aqueles correspondentes a exigências funcionais e de


durabilidade da estrutura, podendo ser originados, em geral, por um ou vários dos seguintes
fenômenos:
a) Deformações excessivas para uma utilização normal da estrutura;
b) Deslocamentos excessivos sem perda do equilíbrio;
c) Vibrações excessivas.
A introdução da segurança no projeto estrutural relativa aos estados limites de utilização recai
em uma simples verificação do comportamento da estrutura, sujeita às ações correspondentes à sua
utilização, comparando-o ao comportamento desejável para as condições funcionais e de
durabilidades especificadas.
O Método dos Estados Limites introduz a segurança estrutural através dessas verificações
relativamente aos estados limites de utilização. Para os estados limites últimos, a condição de
segurança a ser satisfeita segundo a NBR 7190/97 é:
Rk
S d ≤ R d = k mod ,
γw
sendo Sd as tensões máximas que aparecem por ocasião da utilização de coeficientes de segurança
externos, relativamente aos estados limites últimos. Rd é a resistência de cálculo, Rk é a resistência
característica, γw é o coeficiente de ponderação (minoração) das propriedades da madeira, conforme
o tipo de solicitação em análise e kmod é o coeficiente de modificação que leva em conta as
influências não consideradas em γw .
A vantagem do método dos estados limites é que cada um dos fatores que influenciam a
segurança é levado em conta separadamente. Mesmo considerando empiricamente os fatores, o
método é mais racional que uma simples adoção de um coeficiente de segurança.
A deficiência que o método dos estados limites não consegue contornar é a consideração dos
parâmetros de resistência como fenômenos determinísticos. Pode-se até admitir que o
comportamento estrutural seja um fenômeno determinístico, mas os resultados experimentais
comprovam que a resistência dos materiais é uma variável aleatória contínua que pode ser associada
a uma lei de distribuição de densidades de probabilidade.
Entretanto, não é possível normalizar racionalmente um método probabilístico, ou semi-
probabilístico, para o uso corrente em projetos de estruturas. Portanto, o método dos estados
limites, com coeficientes de ponderação internos para a resistência e externos para as ações,

25
Disciplina: Estruturas em Madeira
Professor: Agnagildo C. Machado.
tratando separadamente os diversos fatores intervenientes, representa uma abordagem mais racional
que os outros métodos adotados anteriormente.

10.2 – Resistências a serem consideradas no projeto


A resistência da madeira é identificada pela letra f acompanhada de índices que identificam a
solicitação à qual se aplica a propriedade. Em casos onde é evidente que o material ao qual se
refere a resistência é a madeira, é dispensável o primeiro índice w (wood). O índice seguinte indica
a solicitação: c (compressão), t (tração), v (cisalhamento), M (flexão) e e (embutimento). Os
índices após a vírgula indicam o ângulo entre a solicitação e as fibras: 0 (paralela), 90 (normal ) ou
θ (inclinada). Por exemplo, a resistência fwc,90 identifica a resistência da madeira à compressão
normal às fibras. Podem ainda ser usados índices para identificar se o valor de referência é médio
(m) ou característico (k). Assim, a resistência média da madeira à compressão normal às fibras
pode ser representada pelo símbolo fwcm,90, ou fcm,90.
Para realizar a classificação estrutural de um lote de madeira destinada à utilização estrutural,
a norma brasileira especifica três procedimentos distintos, que podem ser tomados para
caracterização das propriedades de resistência, e dos dois procedimentos para as propriedades de
elasticidade, como descritos a seguir:
A caracterização completa é recomendada para espécies de madeira não conhecidas, e consiste da
determinação das propriedades:
a) Resistência à compressão paralela às fibras: fwc,0 ou fc,0;
b) Resistência à tração paralela: fwt,0 ou ft,0;
c) Resistência à compressão normal : fwc,90 ou fc,90;
d) Resistência à tração normal às fibras: fwt,90 ou ft,90 (nula no dimensionamento);
e) Resistência ao cisalhamento paralelo às fibras: fwv,0 ou fv,0;
f) Resistência de embutimento paralelo às fibras: fwe,0 ou fe,0;
g) Resistência de embutimento normal às fibras: fwe,90 ou fe,90.
h) Densidade básica e densidade aparente

A resistência da madeira para efeito de aplicação da NBR7190/97 utiliza um valor padrão de


referência que corresponde ao teor de umidade igual a 12%. A norma apresenta um modelo para
correção da resistência para teor de umidade U% diferente do valor padrão de 12%, desde que U%
seja menor ou igual a 20%.
3(U% − 12 )
f12 = fU% 1 + para U% ≤ 20%
100

26
Disciplina: Estruturas em Madeira
Professor: Agnagildo C. Machado.
A NBR 7190/97 permite a caracterização simplificada da resistência para espécies usuais a
partir da resistência característica à compressão paralela fc0,k, pelas seguintes relações:
fc0, k
= 0, 77 (tração paralela) ;
ft 0, k
ftM , k
= 1, 0 (tração na flexão igual à tração paralela);
f t 0, k
fc90, k fe
= 0, 25 (compressão normal) ; 0, k = 1, 0 (embutimento paralelo);
fc0, k fc0, k
fe90, k
= 0, 25 (embutimento normal às fibras);
fc0, k
fv0, k
= 0,15 (cisalhamento para as coníferas);
fc0, k
fv0, k
= 0,12 (cisalhamento para as dicotiledôneas)
fc0, k

10.3 – Rigidez ou Módulo de Elasticidade

A rigidez da madeira é identificada pela letra E acompanhada de índices que identificam a


direção à qual se aplica a propriedade. A caracterização da rigidez também é feita para teor de
umidade U = 12% (ver Anexo B da Norma).
a) Rigidez na compressão paralela às fibras: Ec0,m, sendo Ec0,m o valor médio de pelo menos
dois ensaios;
b) Rigidez na compressão norma às fibras: Ec90,m, com Ec90,m = 1/20 Ec0,m ;
a) Rigidez na tração paralela às fibras: Et0,m, com Ec0,m = Et0,m ;
b) Rigidez à flexão: EM, para coníferas EM = 0,85 Ec0 e para dicotiledôneas EM = 0,90 Ec0;

A correção da rigidez para teor de umidade U% diferente do valor padrão de 12%, sendo U%
menor ou igual a 20% é dada por:
2(U% − 12 )
E12 = EU% 1 +
100
A NBR 7190/97 introduziu a classificação da madeira de acordo com Classes de Resistência
com o objetivo de padronizar as espécies empregadas no território nacional em categorias. As
tabelas 2.3-1a e 2.3-1b apresentam os parâmetros para esta classificação.

27
Disciplina: Estruturas em Madeira
Professor: Agnagildo C. Machado.
Tabela 10.3-1a: Classes de resistência das coníferas

Coníferas
(Valores na condição padrão de referência U = 12%)
fcok fvk Eco,m ρbas,m ρaparente
Classes (MPa) (MPa) (MPa) (kg/m3) (kg/m3)
C 20 20 4 3 500 400 500
C 25 25 5 8 500 450 550
C 30 30 6 14.500 500 600

Tabela 10.3-1b: Classes de resistência das dicotiledôneas


Dicotiledôneas
(Valores na condição padrão de referência U = 12%)

Classes Fcok fvk Eco,m ρbas,m ρaparente


(MPa) (MPa) (MPa) (kg/m3) (kg/m3)
C 20 20 4 9 500 500 650
C 30 30 5 14.500 650 800
C 40 40 6 19.500 750 950
C 60 60 8 24.500 800 1000

10.4 – Resistência de cálculo no projeto

fk
A resistência de cálculo fd é obtida pela relação: f d = k mod
γw
sendo:
γw - coeficiente de minoração das propriedades da madeira;
kmod - coeficiente de modificação
fk – resistência característica

A resistência característica da madeira é obtida com base na análise estatística dos resultados dos
ensaios. A NBR 7190/1997, nos casos mais gerais utiliza as seguintes relações:
Para peças tracionadas e/ou comprimidas: fk = 0,7 fm
Para peças cisalhadas: fk = 0,54 fm
Onde fm é a resistência média obtida a partir dos ensaios quando é dividida a soma dos resultados
pela quantidade de resultados disponíveis.

a) Coeficiente de minoração das resistências do material (γw):

28
Disciplina: Estruturas em Madeira
Professor: Agnagildo C. Machado.
O coeficiente γw pode ser analisado sob a forma de três parcelas,

γ w = γ m1.γ m2 .γ m3
γ m1 leva em conta a verdadeira variabilidade da resistência dentro de lotes homogêneos;
γ m2 leva em conta as diferenças entre o material da estrutura e o material do corpo-de-prova de
controle em laboratório;
γ m3 considera outras causas de diminuição da resistência, tais como os defeitos localizados e
imprecisões das hipóteses de cálculo.
A NBR7190/97 apresenta os coeficientes de ponderação para os estados limites últimos e de
utilização. Os coeficientes de ponderação nos estados limites últimos, de acordo com a solicitação,
são:
Compressão paralela às fibras: γwc = 1,4
Tração paralela às fibras: γwt = 1,8
Cisalhamento paralelo às fibras: γwv = 1,8

Nos estados limites de utilização, os coeficientes de ponderação possuem o valor básico de γw = 1,0.

b) Coeficiente de modificação da resistência do material (kmod):


O coeficiente kmod afeta os valores de cálculo das propriedades da madeira em função da classe
de carregamento da estrutura, da classe de umidade e da qualidade da madeira utilizada. O
coeficiente é determinado pela expressão a seguir:
kmod = kmod,1 kmod,2 kmod,3
k mod ,1 leva em conta os efeitos das cargas repetidas ou da duração do carregamento;
k mod ,2 considera possíveis variações de resistência ao longo do tempo em função da umidade;
k mod ,3 cuida de diferenças entre a qualidade da madeira empregada na estrutura e a madeira
empregada nos corpos-de-prova.
Tabela 10.4-1: Valores de k mod,1
Classes de Tipos de madeira
carregamento Madeira serrada Madeira recomposta
Madeira laminada colada
Madeira compensada
Permanente 0,60 0,30
Longa duração 0,70 0,45
Média duração 0,80 0,65
Curta duração 0,90 0,90
Instantânea 1,10 1,10
As classes de carregamento são função da duração acumulada da ação variável principal
admitida na combinação de ações considerada.

29
Disciplina: Estruturas em Madeira
Professor: Agnagildo C. Machado.
Tabela 10.4-2: Classes de carregamento
Classe de Ordem de grandeza da duração acumulada da ação
carregamento característica
Permanente -
Longa duração mais de 6 meses
Média duração 1 semana a 6 meses
Curta duração menos de 1 semana
Instantânea muito curta

O coeficiente k mod,2 é determinado em função das classes de umidade e do tipo de material


empregado.
Tabela 10.4-3: Valores de k mod, 2

Classes de Madeira serrada Madeira recomposta


umidade Madeira laminada colada
Madeira compensada
(1) e (2) 1,0 1,0
(3) e (4) 0,8 0,9
As classes de umidade são definidas em função do ambiente onde está localizada a obra.

Tabela 10.4-4: Classes de umidade


Classes de Umidade relativa do ambiente Umidade de equilíbrio da
umidade Uamb madeira
1 ≤ 65% 12%
2 65% < Uamb ≤ 75% 15%
3 75% < Uamb ≤ 85% 18%
4 Uamb > 85% ≥ 25%
Durante longos períodos
Além dos valores acima referidos, esta Norma também preserva o valor k mod,2 = 0,65 para
madeira submersa.
O coeficiente de modificação kmod,3 considera a categoria da madeira utilizada. Madeira de
primeira categoria: é a que passou por classificação visual para garantir a isenção de defeitos e por
classificação mecânica para garantir a homogeneidade da rigidez (kmod,3 =1,0);
Madeira de segunda categoria: demais casos (kmod,3 = 0,8).
kmod,3 = 1,0 (para madeira de primeira categoria)
kmod,3 = 0,8 (para madeira de segunda categoria)

Para madeira de coníferas, deve sempre se adotar kmod,3 = 0,8 para considerar a presença de nós não
detectáveis pela inspeção visual.
Coníferas, sempre kmod,3 = 0,8

Nas peças fabricadas pela técnica da madeira laminada colada, o coeficiente kmod,3 varia caso seja
peça reta ou curva, segundo as seguintes relações:

30
Disciplina: Estruturas em Madeira
Professor: Agnagildo C. Machado.
madeira laminada colada, peça reta: kmod,3 = 1,0
2
t
madeira laminada colada, peça curva: kmod,3 = 1 - 2000
r
onde t é a espessura da lâmina e r é o menor raio de curvatura das lâminas.

Nas verificações de segurança que dependem da rigidez da madeira, o módulo de elasticidade


na direção paralela às fibras deve ser tomado como:
Ec0,ef = kmod,1 kmod,2 kmod,3 Ec0,m

10.5 – Exemplo de determinação da resistência de cálculo a partir da resistência média

Como exemplo, considere-se o Jatobá, uma espécie de madeira muito empregada na construção
de pontes. Os resultados experimentais mostram que a resistência média à compressão paralela para
madeira verde, é
f com, mv = 70 MPa

Transformando esta resistência para a condição padrão, tem-se


3(20 − 12)
f com,12% = f com, 20 1 + =70 x1,24 = 86,8MPa
100
Deste modo, resulta a resistência característica
f cok ,12 = 0,7 x86,8 = 60,8 MPa

Todavia, admite-se que na estrutura haja pontos menos resistentes. A resistência em ensaio rápido
destes pontos seria de
f co, k 60,8
= = 43,4 MPa
γc 1,4
Sob ação de cargas de longa duração, em ambiente seco ou parcialmente úmido, para estruturas
construídas com madeira de 2a categoria, a resistência de tais pontos deve ser admitida com o valor
f co,k f co,k
f co,d = k mod = k mod,1 .k mod,2 .k mod,3
γc γc
sendo
kmod,1 = 0,7 madeira serrada, para cargas de longa duração
kmod,3 = 1,0 madeira serrada, para classe de umidade (1) ou (2)
kmod,3 = 0,8 madeira de 2a categoria

Logo,
f co, k
f co,d = k mod = 0,7 x1,0x 0,8x 43,4 =24,3 MPa
γc

31
Disciplina: Estruturas em Madeira
Professor: Agnagildo C. Machado.
Uma tensão com este valor poderá levar a estrutura à ruptura.

10.6 – Ações atuantes e combinações de projeto

As ações são definidas pela NBR8681/84 como as causas que provocam esforços ou
deformações nas estruturas. A natureza e a duração das ações possuem influência relevante na
verificação da segurança estrutural.
Para elaboração dos projetos, as ações devem ser combinadas com a aplicação de coeficientes,
sobre cada uma delas, para levar em consideração a probabilidade de ocorrência simultânea.
A fim de levar em conta o bom comportamento estrutural da madeira para cargas de curta
duração, na verificação da segurança em relação aos estados limites últimos, a NBR 7190/97
permite a redução em até 75% das solicitações dessa natureza. Observa-se que esta redução não
deve ser aplicada nas combinações de verificação das peças metálicas, inclusive dos elementos de
ligação como parafusos, por exemplo.

10.6.1 – Classes e tipos de carregamento


As ações podem ser classificadas segundo a duração em três tipos:
a) Ações permanentes (g): são aquelas que apresentam pequena variação durante
praticamente toda vida da construção. Exemplo: peso próprio;
b) Ações variáveis (q): apresentam variação significativa durante a vida da construção.
Exemplo: efeito do vento;
c) Ações excepcionais: apresentam duração extremamente curta e com baixa probabilidade de
ocorrência durante a vida da construção. Exemplo: abalo sísmico.
A classe de carregamento resultante de uma combinação de ações é classificada pela duração
acumulada prevista para a ação variável tomada como principal na combinação. A tabela a seguir
especifica as classes conforme a NBR7190/97.
Tabela 10.6.1-1: Classes de carregamento

Classe de carregamento Ação variável principal da combinação

Duração acumulada Ordem de grandeza da duração


acumulada da ação característica

32
Disciplina: Estruturas em Madeira
Professor: Agnagildo C. Machado.
Permanente Permanente vida útil da construção

Longa duração Longa duração mais de 6 meses

Média duração Média duração 1 semana a 6 meses

Curta duração Curta duração menos de 1 semana

Duração instantânea Duração instantânea muito curta

Os carregamentos são classificados, conforme a natureza das ações consideradas nas


combinações, em quatro tipos:
a) Carregamento normal: inclui apenas as ações decorrentes do uso previsto para a construção.
É considerado de longa duração e deve ser verificado para os estados limites último e de
utilização. Exemplos: em coberturas, o carregamento composto pelo peso próprio e pela
ação do vento; em pontes, o peso próprio combinado ao trem-tipo.
b) Carregamento especial: inclui as ações variáveis de natureza ou intensidade especiais,
superando os efeitos considerados para um carregamento normal. A classe de carregamento
é determinada pela duração acumulada prevista para a ação variável especial. Exemplo: o
transporte de um equipamento especial sobre uma ponte, que supere o trem-tipo
considerado.
c) Carregamento excepcional: quando da ocorrência de ações com efeitos catastróficos, o
carregamento é definido como excepcional e corresponde à classe de carregamento de
duração instantânea. Exemplo: ação de um terremoto ou a ação de um incêndio.
d) Carregamento de construção: é o caso particular da construção, onde os procedimentos de
construção podem levar a estados limites últimos. A classe de carregamento é determinada
pela duração da situação de risco. Exemplo: o içamento de uma treliça.
10.6.2 – Situações de projeto
As situações de projeto indicam os estados limites para os quais a verificação é indispensável.
São três situações que podem ser consideradas: duradouras, transitórias e excepcionais. A tabela a
seguir identifica as verificações e as combinações de carregamento para cada situação.
Tabela 10.6.2-1: Situações de projeto
Situação Verificação Combinação de ações
Duradoura: devem ser Estado limite último Normais
consideradas sempre m n

Fd = γ giFgi, k + γ Q FQ1, k + ψ FQj, k


i =1 j= 2
0j

Duração igual ao período de Estado limite de utilização Longa ou média duração


referência da estrutura

33
Disciplina: Estruturas em Madeira
Professor: Agnagildo C. Machado.
m n

Fd, uti =
i =1
Fgi, k +
j=1
F
ψ 2 j Qj, k
m n

Fd, uti = Fgi, k +ψ F


i =1
1 Q1, k
+
j= 2
F
ψ 2 j Qj, k

Transitória: deve ser Estado limite último Especial ou de construção


verificada quando existir m n
carregamento especial para a Fd = γ gi Fgi,k +γ Q FQ1, k + ψ 0 j, ef FQj,k
i =1
construção. j=2

Duração muito menor que o Estado limite de utilização Média ou curta duração
período de vida da estrutura. (caso necessário) m n
= + + ψFd, uti i =1
Fgi, k ψ F 1 Q1, k
j= 2
2j FQj, k
m n

Fd, uti = Fgi, k +Fi =1


Q1, k
+
j= 2
F
ψ1 j Qj, k

Excepcional: Duração Estado limite último Excepcional


extremamente curta. m n

Fd = γ giFgi, k+FQ, exc+γQ ψ FQj, k


i =1 j=1
0 j,ef

10.6.3 – Combinações de ações


As combinações de ações empregam coeficientes diferentes, conforme a probabilidade de
ocorrência durante a vida da estrutura. São diferentes os carregamentos a serem empregados na
verificação dos estados limites últimos e de utilização.
a) Estados limites últimos
m
[F ψ FQj, k ]
n
a .1) Combinação última normal Fd = i =1 γ gi Fgi, k + γ Q Q1, k
+
j= 2
0j

As ações variáveis são divididas em dois grupos, as principais (Fq1,k) e as secundárias (Fqj,k) que
são combinadas com seus valores reduzidos pelo coeficiente Ψ0j, que considera a baixa
probabilidade de ocorrência simultânea das ações variáveis. Para as ações permanentes, devem ser
feitas duas verificações, a favorável e a desfavorável, pelo coeficiente γg.
a .2) Combinação última especial ou de construção

m n
Fd = γ F +
gi gi , k
γQ FQ1, k + ψ 0 j, ef F Qj, k
i =1
j= 2

A alteração em relação às combinações últimas normais está no coeficiente Ψ0j, que é o mesmo,
exceção feita ao caso da ação variável principal Fq1,k possuir um tempo de atuação muito pequeno.
Neste caso, Ψ0j,ef = Ψ2j.
a .3) Combinação última excepcional

34
Disciplina: Estruturas em Madeira
Professor: Agnagildo C. Machado.
m n

Fd = i=1 γgiFgi, k+FQ, exc+γQ j=1 ψ0 j,ef FQj, k


A diferença está na consideração da ação transitória excepcional FQ,exc sem coeficientes.
b) Estados limites de utilização
m n
b .1) Combinação de longa duração Fd, uti = Fgi, k +
i =1 j=1
F
ψ 2 j Qj, k

Esta combinação é utilizada no controle usual de deformações das estruturas. As ações


variáveis atuam com seus valores correspondentes à classe de longa duração.
m n
b .2) Combinação de média duração Fd, uti =
i =1
Fgi, k ψ F
+
1 Q1, k
+
j= 2
F
ψ 2 j Qj, k

Esta combinação é utilizada no caso de existirem materiais frágeis não estruturais ligados à
estrutura. Nesta condição, a ação variável principal atua com valores de média duração e as demais
com os valores de longa duração.
m n
b .3) Combinação de curta duração Fd, uti = Fgi, k +F
i =1
Q1, k
+
j= 2
F
ψ1 j Qj, k

São empregadas quando for importante impedir defeitos decorrentes da deformação da


estrutura. Neste caso, a ação variável principal atua com seu valor característico e as demais com
valores de média duração.
b .4) Combinação de duração instantânea
m n

Fd, uti = i =1
Fgi, k+FQ,esp+ j=1
ψ 2 jFQj, k

Neste caso, a ação variável especial age com seu valor total e as demais ações variáveis agem
com valores de combinação de longa duração.

10.6.4 – Coeficientes para as combinações de ações

As combinações de ações empregam coeficientes diferentes, conforme a probabilidade de


ocorrência de cada uma durante a vida da estrutura. Estão apresentados a seguir os coeficientes a
serem empregados nas combinações para verificação dos estados limites últimos e de utilização.
a) Combinações para Estados limites últimos
Nas combinações nos estados limites últimos (normais, especiais ou de construção e
excepcionais) são utilizados os seguintes coeficientes:
γg = coeficiente para as ações permanentes

35
Disciplina: Estruturas em Madeira
Professor: Agnagildo C. Machado.
γQ = coeficiente de majoração para as ações variáveis
ψ0 = coeficiente de minoração para as ações variáveis secundárias
ψ0,ef = coeficiente de minoração para as ações variáveis secundárias de longa duração
As ações permanentes (Fg) dividem-se em ações permanentes de pequena variabilidade, grande
variabilidade e permanentes indiretas. A seguir, apresentam-se os coeficientes de ponderação das
ações permanentes para cada um dos casos.
- Ações permanentes de pequena variabilidade: A norma brasileira considera como pequena
variabilidade o peso próprio da madeira classificada estruturalmente cuja densidade tenha
coeficiente de variação não superior a 10%.

Tabela 10.6.4-1: Ações permanentes de pequena variabilidade


Combinações para efeitos(*)
desfavoráveis favoráveis
Normais γ g = 1,3 γ g = 1,0
Especiais ou de Construção γ g = 1,2 γ g = 1,0
Excepcionais γ g = 1,1 γ g = 1,0
(*) podem ser usados indiferentemente os símbolos γ g ou γ
G
- Ações permanentes de grande variabilidade: para situações nas quais o peso próprio da
estrutura não supera 75% da totalidade dos pesos permanentes.

Tabela 10.6.4-2: Ações permanentes de grande variabilidade


Combinações para efeitos
desfavoráveis favoráveis
Normais γ g = 1,4 γ g = 0,9
Especiais ou de Construção γ g = 1,3 γ g = 0,9
Excepcionais γ g = 1,2 γ g = 0,9
- Ações permanentes indiretas: para as ações permanentes indiretas, tais como efeitos de
recalques de apoio e de retração dos materiais, adotam-se os valores indicados na tabela a
seguir.
Tabela 10.6.4-3: Ações permanentes indiretas
Combinações para efeitos
desfavoráveis favoráveis
Normais γ ε = 1,2 γε = 0
Especiais ou de Construção γ ε = 1,2 γε = 0
Excepcionais γε = 0 γε = 0

As ações variáveis (FQ) podem apresentar-se como principais ou secundárias.

36
Disciplina: Estruturas em Madeira
Professor: Agnagildo C. Machado.
- Ações variáveis: A norma brasileira considera os seguintes coeficientes para ações variáveis
nas combinações últimas.
Tabela 10.6.4-4: Ações variáveis - estados limites últimos
Combinações ações variáveis em geral incluídas efeitos da
as cargas acidentais móveis temperatura
Normais γ Q = 1,4 γ ε = 1,2
Especiais ou de Construção γ Q = 1,2 γ ε = 1,0
Excepcionais γ Q = 1,0 γε = 0

- Ações variáveis secundárias: Os coeficientes ψ0 para ações variáveis secundárias variam


conforme a ação considerada. Os valores estão apresentados na tabela 4.3.4-5. Como
exemplo, citamos as cargas acidentais em edifícios sem predominância de equipamentos
fixos, com ψ0 = 0,4 , enquanto a ação do vento tem ψ0 = 0,5.

b) Combinações para Estados limites de utilização


Nas combinações nos estados limites de utilização são utilizados os seguintes coeficientes:
ψ1 = coeficiente para ações variáveis de média duração
ψ2 = coeficiente para ações variáveis de longa duração

Tabela 10.6.4-5: Fatores de minoração das ações variáveis - estados limites de utilização

Ações em estruturas correntes Ψ0 Ψ1 Ψ2


- Variações uniformes de temperatura em
relação à média anual local 0,6 0,5 0,3
- Pressão dinâmica do vento 0,5 0,2 0

Cargas acidentais dos edifícios Ψ0 Ψ1 Ψ2


- Locais em que não há predominância de
pesos de equipamentos fixos, nem de
elevadas concentrações de pessoas 0,4 0,3 0,2
- Locais onde há predominância de pesos de
equipamentos fixos, ou de elevadas
concentrações de pessoas 0,7 0,6 0,4
- Bibliotecas, arquivos, oficinas e
garagens 0,8 0,7 0,6

37
Disciplina: Estruturas em Madeira
Professor: Agnagildo C. Machado.
Cargas móveis e seus efeitos dinâmicos Ψ0 Ψ1 Ψ2
*
- Pontes de pedestres 0,4 0,3 0,2
*
- Pontes rodoviárias 0,6 0,4 0,2
*
- Pontes ferroviárias (ferrovias não especializadas) 0,8 0,6 0,4

* Admite-se Ψ2=0 quando a ação variável principal corresponde a um efeito sísmico

10.6.5 – Exemplo de combinações de projeto

A treliça da figura 10.6.5-1 está submetida a carregamentos permanentes e variáveis causados


pelo efeito do vento. Os esforços causados nas barras por esses carregamentos estão indicados na
tabela 10.6.5-1. Determinar os esforços de cálculo para o estado limite último, na situação mais
crítica (tração ou compressão axiais) em cada uma das barras.
Resolução:
A estrutura está submetida a carregamento normal (uso previsto na construção), logo de longa
duração. A situação de projeto é duradoura, o que exige a verificação de estado limite último e de
utilização. No estado limite último, são consideradas as combinações normais de carregamento:
m n
Fd = γ Gi FGi , k + γ Q FQ1, k + ψ 0 j FQj, k
i =1 j= 2

A ação permanente deve ser verificada com efeito favorável e desfavorável, por meio do
coeficiente γg. Há somente uma ação variável, o efeito do vento, Fq1,k, que é a ação variável
principal. Para cargas variáveis de curta duração consideradas como ação variável principal, a NBR
7190/97 permite a redução para 75% da solicitação no estado limite último. Logo, a combinação
última normal é:

Fd =γ gFG, k + γ Q .0,75.FQ, k
Determinação dos coeficientes de ponderação das ações:
- Ação permanente de grande variabilidade (FG,k):
Combinação desfavorável γg = 1,4 (Tabela 4.3.4-2, Comb. Normais)
Combinação favorável γg = 0,9 (Tabela 4.3.4-2, Comb. Normais)
- Ação variável – vento (FQ,k): γq = 1,4 (Tabela 4.3.4-4, Comb. Normais)
Os valores dos esforços majorados pelos coeficientes estão apresentados na tabela.

38
Disciplina: Construção de madeira
Professor: Agnagildo C. Machado

11 – CRITÉRIOS DE PROJETO DA NORMA BRASILEIRA


11.1 – Compressão Paralela às Fibras

A compressão paralela às fibras pode ocorrer em barras de treliça, pilares não submetidos a
forças excêntricas ou efeitos de flexão, ou ainda, em elementos componentes de contraventamentos
ou travamentos de conjuntos estruturais.
O critério de dimensionamento de peças estruturais de madeira solicitada à compressão paralela
às fibras depende diretamente do índice de esbeltez (λ) que ela apresenta. Este índice é calculado
pela expressão:
L0
λ=
i min
onde imin é o raio de giração mínimo da seção transversal do elemento estrutural e L0 é o
comprimento de flambagem do elemento, permitindo a norma que sejam considerados os seguintes
valores:
• L0 = 2L, no caso de uma extremidade do elemento engastada e outra livre;
• L0 = L, nos demais casos.
Sendo L o comprimento teórico do elemento entre ligações. O raio de giração mínimo da seção
Ix
transversal é o menor entre os valores ix e iy, calculados pelas expressões: ix = e
A

Iy
iy =
A
com Ix e Iy os momentos de inércia em relação aos eixos principais da seção transversal e A a
área da seção transversal sem descontar furos desde que preenchidos com material de rigidez
significativa.
Apresentam-se a seguir os critérios de segurança da norma para verificação do estado limite
último de estabilidade para peças comprimidas. As peças são classificadas pela norma em três
categorias, conforme o valor do índice de esbeltez e o tipo de ruptura: peças curtas, peças
medianamente esbeltas e peças esbeltas.

11.1.1 – Peças Curtas (λ ≤ 40)


São os elementos cujo índice de esbeltez (λ) é igual ou inferior a 40. A forma de ruptura
caracteriza-se por esmagamento da madeira. A condição de segurança da NBR 7190/97 é expressa
por:
σc0,d ≤ fc0,d

39
Disciplina: Construção de madeira
Professor: Agnagildo C. Machado
onde σc0,d é a tensão de compressão atuante com seu valor de cálculo e fc0,d é a resistência de

cálculo de compressão paralela às fibras.

11.1.2 – Peças Medianamente Esbeltas (40 < λ ≤ 80)

A forma de ruptura das peças medianamente esbeltas pode ocorrer por esmagamento da
madeira ou por flexão decorrente da perda de estabilidade. O estado limite último de estabilidade
deve ser verificado no ponto mais comprimido da seção transversal pela condição:

σ Nd
+
σ Md
≤1
f c 0,d f c 0 ,d
onde σNd é o valor de cálculo da tensão de compressão devida à força normal de compressão e σMd
é o valor de cálculo da tensão de compressão devida ao momento fletor Md , calculado pela
excentricidade ed prescrita pela norma.
A NBR 7190/97 não considera, para peças medianamente esbeltas, a verificação de compressão
simples, sendo exigida a verificação de flexo-compressão no elemento mesmo para carga de projeto
centrada. É um critério que estabelece a consideração de possíveis excentricidades na estrutura, não
previstas no projeto. A verificação deve ser feita isoladamente nos planos de rigidez mínima e de
rigidez máxima do elemento estrutural.
O critério para cálculo da excentricidade ed é:
FE
e d = e1
FE − Nd
M1d
onde e1 = ei + ea ; com ei = sendo ei a excentricidade inicial decorrente dos valores de cálculo
Nd
de M1d e Nd na situação de projeto. Se M1d=0, usar o valor mínimo de ei ≥ h/30, sendo h a altura da

seção transversal referente ao plano de verificação. Caso o elemento em análise seja uma barra de
treliça na qual as ligações são consideradas articuladas, despreza-se ei usando valor nulo (ei = 0).

L0
A excentricidade acidental ea é dada por ea = .
300
π 2 Ec 0 , ef I
A carga crítica FE é expressa por FE =
L20
onde I é o momento de inércia da seção transversal da peça relativo ao plano de flexão em que se
está verificando a condição de segurança, e Ec0,ef é o módulo de elasticidade efetivo, conforme
definido por norma.

40
Disciplina: Construção de madeira
Professor: Agnagildo C. Machado
11.1.3 – Peças Esbeltas (80 < λ ≤ 140)

A forma de ruptura das peças esbeltas ocorre por flexão causada pela perda de estabilidade
lateral. Neste caso, adota-se a mesma verificação do estado limite último de estabilidade das peças
medianamente esbeltas:

σ Nd
+
σ Md
≤1
f c 0,d f c 0 ,d

FE
com M d = N d .e1,ef
FE − Nd
sendo FE calculado da mesma forma que para as peças medianamente esbeltas e a excentricidade
efetiva e1,ef = e1 + ec = ei + ea + ec
onde:
ei = excentricidade de 1a ordem decorrente da situação de projeto;
ea = excentricidade acidental;
ec = excentricidade suplementar de 1a ordem que representa a fluência da madeira.
Estas excentricidades são calculadas por:
M1, d M1g , d + M1q , d
ei = = , não se tomando valor inferior a h/30 (exceção feita às barras de treliça
Nd Nd
com ligações articuladas), onde M1g,d é o valor de cálculo do momento fletor devido às ações
permanentes e M1q,d é o valor de cálculo do momento fletor devido às ações variáveis.

L0
ea =
300
φ[Ngk + (ψ1+ ψ 2 )Nqk ]
FE −[Ngk + (ψ1+ ψ 2 )Nqk ]
ec = (eig + ea ) exp −1

com ψ 1 + ψ 2 ≤ 1 ; onde Ngk e Nqk são os valores característicos da força normal devidos às cargas

permanentes e variáveis, respectivamente; ψ1 e ψ2 são fatores de utilização, dados no item 5.4.6 da

NBR7190/97 (Tabela 10.6.4-5 da apostila), e eig é calculada por:

M1g , d
ei g =
N gd

onde M1g,d é o valor de cálculo do momento fletor devido apenas às ações permanentes e Ngd é o
esforço normal de cálculo também devido às ações permanentes.

41
Disciplina: Construção de madeira
Professor: Agnagildo C. Machado
O coeficiente de fluência (φ) é dado pela NBR 7190/97 conforme tabela a seguir.

Tabela 11.1.3-1: Coeficiente de fluência φ


Classes de Classes de umidade
carregamento (1) e (2) (3) e (4)
Permanente ou de 0,8 2,0
longa duração
Média duração 0,3 1,0
Curta duração 0,1 0,5

11.2 – Tração Paralela às Fibras

As peças de madeira submetidas a um esforço axial de tração apresentam comportamento


elasto-frágil até à ruptura, sem a ocorrência de valores significativos de deformações antes do
rompimento. Nas estruturas, a tração paralela às fibras ocorre principalmente nas treliças e nos
tirantes de madeira.
A NBR 7190/97 permite que, na falta de resultados experimentais de resistência de tração

paralela, essa seja estimada por f t 0,d = f c 0,d , ou pela resistência à tração na flexão, determinada

pela tensão atuante na borda mais tracionada, calculada em regime elástico, ensaiando-se corpos-de-
prova nos quais a ruptura efetiva ocorra inicialmente na zona tracionada em lugar da zona
comprimida.
A condição de segurança na tração paralela é:

σ t 0,d ≤ f t 0,d
Sendo,
Nd
σt0,d a tensão de tração uniforme na seção transversal da peça σ t 0,d = , onde Nd é o esforço de
A
tração de cálculo e A é a área da seção com menor área útil da peça tracionada;
f to,k
ft0,d a resistência de cálculo na tração paralela às fibras da madeira, calculada por f t 0,d = k mod ,
γt
com γt = 1,8, caso exista o valor experimental de ft0,k, ou por ft0,d = fc0,d, caso contrário.

42
Disciplina: Construção de madeira
Professor: Agnagildo C. Machado
A área útil deve considerar a redução por furos ou entalhes na seção quando a redução da área
resistente for superior a 10% da peça íntegra. O item 10.3 da NBR 7190/97 limita a esbeltez
máxima de peças tracionadas em λ = 173.
Caso exista inclinação das fibras da madeira em relação ao eixo longitudinal da peça, esta pode
ser desprezada para ângulos α ≤ 6o (arctg α = 0,10). Para inclinações maiores é preciso considerar
a redução de resistência, adotando-se a fórmula de Hankinson, expressa por

f 0 ⋅ f 90
fα =
f 0 sen2 α + f 90 ⋅ cos2 α

sendo, fα a resistência na direção α, f0 a resistência na direção paralela às fibras e f90 a resistência na


direção perpendicular às fibras da madeira.

11.3 – Cisalhamento

O cisalhamento geralmente ocorre na região das ligações, junto aos entalhes ou aos parafusos.
O plano de maior enfraquecimento coincide com a direção das fibras da madeira. Quando há
solicitações de cisalhamento, a verificação a ser feita para o estado limite último é expressa por

τd ≤ f v 0,d
onde,
τd é a máxima tensão de cisalhamento atuando no ponto mais solicitado da peça
Vd
τd= Aci , sendo Vd esforço cortante de cálculo e Aci seção que resiste ao cisalhamento, que deve
coincidir com o plano na direção das fibras;
f vo,k
f v 0,d = k mod , com γv = 1,8, caso exista o valor experimental de fv0,k, ou com
γv
fv0,d = 0,12fc0,d (coníferas) ou fv0,d = 0,10fc0,d (dicotiledôneas), caso contrário.

11.4 - Compressão Normal às Fibras

A solicitação de compressão normal às fibras ocorre em regiões de apoio dos elementos


estruturais de madeira e nos locais de introdução de forças aplicadas com direção perpendicular às
fibras. Como exemplo, citam-se os apoios das vigas.
Na verificação de esforços de compressão normal às fibras, deve ser considerada a extensão
do carregamento, medida paralelamente à direção das fibras.

43
Disciplina: Construção de madeira
Professor: Agnagildo C. Machado
A condição de segurança é: σ c90,d ≤ f c90,d
onde a tensão de cálculo de compressão normal às fibras é a relação:

Fd
σ c90,d =
Ac
Fd: Força de cálculo de compressão normal às fibras
Ac : área de contato que pode estar submetida ao esmagamento
e a resistência de cálculo normal às fibras é dada por:
f c90,d = 0,25 f co,d ⋅ α n

O coeficiente αn é igual a 1(um) no caso de ser a extensão da carga “a”, medida na direção das

fibras, maior ou igual a 15 cm; quando esta extensão for menor que 15 cm, e a carga estiver
afastada pelo menos de 7,5 cm da extremidade da peça, esse coeficiente é fornecido pela tabela
11.4-1. Essa tabela aplica-se também ao caso de arruelas, tomando-se como extensão de carga “a”
seu diâmetro ou lado.
Tabela 11.4-1 - Valores de αn
Extensão da carga normal às fibras, medida
paralelamente a estas “a” (cm) αn

1 2,00
2 1,70
3 1,55
4 1,40
5 1,30
7,5 1,15
10 1,10
15 1,00
a > 15 1,00

Quando a carga atuar na extremidade da peça ou de modo distribuído na totalidade da


superfície de peças de apoio, admite-se αn =1,0 . Para valores de a intermediários aos apresentados
na tabela 11.4-1, admite-se uma relação linear para interpolação no intervalo que contém o valor
procurado.

44
Disciplina: Construção de madeira
Professor: Agnagildo C. Machado

11.5 – Solicitação Inclinada em Relação às Fibras

Na avaliação da resistência a tensões normais inclinadas em relação às fibras da madeira,


permite-se ignorar a influência da inclinação α das tensões normais em relação às fibras da madeira

até o ângulo α = 6o (arctg α = 0,10). Para inclinações maiores é preciso considerar a redução de
resistência, adotando-se a fórmula de Hankinson, expressa por

f 0 ⋅ f 90
fα =
f 0 sen2 α + f 90 ⋅ cos2 α

12 – LIGAÇÕES EM ESTRUTURAS DE MADEIRA


12.1 – Generalidades
As peças de madeira, em função da estrutura anatômica do material e das limitações de
comprimento, principalmente da madeira serrada, exigem o uso de ligações para composição de
elementos estruturais.
As ligações nas estruturas de podem ser feitas com o uso de conectores, pinos metálicos, encaixes
na madeira ou adesivos, que são utilizados de forma simultânea ou individual. Considerando a
forma pela qual os esforços são transmitidos entre as ligações, essas são classificadas em três
grupos (LE GOVIC, 1995):
• Transmissão direta ou por contato direto: não possuem dispositivos intermediários entre as
peças de madeira. É o caso dos entalhes ou sambladuras. Transmitem esforços normais ou
cortantes, desde que a resultante possua a tendência de aproximar as peças entre si (figura 6.1-
1a);
• Transmissão por justaposição: Neste tipo existe uma superfície de traspasse comum às peças
ligadas (figura 6.1-1b). São feitas com o uso de conectores ou adesivos. Podem transmitir
esforços normais (de tração ou compressão), cortantes ou momentos;
• Transmissão indireta: As peças não possuem superfície de traspasse e os esforços são
transmitidos por elementos intermediários (figura 6.1-1c). Esses elementos podem ser metálicos
ou adesivos. Assim como na transmissão por justaposição, podem transmitir esforços normais
(de tração ou compressão), cortantes ou momentos.

45
Disciplina: Construção de madeira
Professor: Agnagildo C. Machado

(a)Transmissão direta (b)Transmissão por (c)Transmissão


ou por contato justaposição indireta

Figura 12.1-1: Formas de transmissão de esforços nas ligações de estruturas de madeira (Le Govic,
1995)

Figura 12.1-2: Exemplos de ligações entre vigas e pilares classificadas segundo o tipo de
transmissão de esforços (Le Govic, 1995)

A figura 12.1-3 apresenta vários diagramas força-deslocamento para ligações com diferentes
arranjos. A ligação colada (curva 8) possui comportamento mais rígido, isto é, com menores

46
Disciplina: Construção de madeira
Professor: Agnagildo C. Machado
deformações, quando comparadas às ligações parafusadas (curvas 3, 4 e 5). As ligações pregadas
(curva 1) apresentam rigidez variável em função da concentração de pregos e do número de ciclos
de carga na ligação. Quanto mais concentrados os pregos, mais frágil, e quanto menos
concentrados, mais dúctil é seu comportamento. As ligações com cavilhas apresentam alguma
ductilidade, conforme a posição do elemento de conexão (curvas 2 e 7), e as ligações com chapas
metálicas (curva 6) apresentam deformações significativas.

Figura 12.1-3: Comportamento de ligações por justaposição solicitadas à compressão (Le Govic,
1998)

Rigidez das ligações

As ligações com 2 ou 3 pinos são consideradas deformáveis, permitindo-se o seu emprego


exclusivamente em estruturas isostáticas. Nunca serão utilizadas ligações com um único pino. As
ligações com 4 ou mais pinos podem ser consideradas rígidas nas condições seguintes:

47
Disciplina: Construção de madeira
Professor: Agnagildo C. Machado
• As ligações pregadas com 4 ou mais pregos são consideradas rígidas, desde que respeitados os
diâmetros de pré-furação com diâmetro d0 não maior que o diâmetro def do prego, com os
valores usuais:
coníferas d0 = 0,85 def
dicotiledôneas d0 = 0,98 def
onde def é o diâmetro efetivo medido nos pregos a serem usados.
Em estruturas provisórias, admite-se o emprego de ligações pregadas sem a pré-furação da
madeira, desde que se empreguem madeiras moles de baixa densidade, ρap ≤ 600 kg/m3 , que
permitam a penetração dos pregos sem risco de fendilhamento, e pregos com diâmetro d não
maior que 1/6 da espessura da madeira mais delgada e com espaçamento mínimo de 10 d .
• As ligações parafusadas com 4 ou mais parafusos são consideradas rígidas caso o diâmetro de
pré-furação d0 não seja maior que o diâmetro d do parafuso acrescido de 0,5 milímetro. Caso
sejam empregados diâmetros d0 maiores, a ligação deve ser considerada deformável.

No cálculo das ligações não é permitido levar em conta o atrito das superfícies em contato, nem
de esforços transmitidos por estribos, braçadeiras ou grampos.
Devem ser respeitados os espaçamentos especificados e a pré-furação especificada para evitar o
fendilhamento da madeira em virtude da presença dos elementos de união.

Critério de dimensionamento
O dimensionamento dos elementos de ligação deve obedecer a condições de segurança do tipo
Sd ≤ Rd

onde Rd é o valor de cálculo da resistência dos elementos da ligação e Sd o valor de cálculo das
solicitações nela atuantes.
Em princípio, o estado limite último da ligação pode ser atingido por deficiência de resistência
da madeira da peça estrutural ou do elemento de ligação. As ligações de diferentes peças estruturais
podem ser feitas pelos meios usuais das ligações de peças de madeira ou pelo emprego de
elementos intermediários de aço. A segurança desses elementos intermediários de aço deve ser
verificada de acordo com a NBR 8800 - Projeto e execução de estruturas de aço de edifícios.

48
Disciplina: Construção de madeira
Professor: Agnagildo C. Machado
Resistência de embutimento da madeira
A resistência de embutimento da madeira é determinada por meio do ensaio de embutimento
padronizado especificado no Anexo B da NBR 7190/97. Na falta da determinação experimental da
resistência de embutimento da madeira, admitem-se as relações aproximadas expressas por

f eo ,d = f co ,d f e90,d = 0,25 f co ,d ⋅ α e

onde o coeficiente αe é dado pela tabela 4.1-1.

Tabela 4.1-1: Valores de αe


Diâmetro do pino ≤ 0,62 0,95 1,25 1,6 1,9 2,2
(cm)
Coeficiente αe 2,5 1,95 1,68 1,52 1,41 1,33

Diâmetro do pino 2,5 3,1 3,8 4,4 5,0 ≥ 7,5


(cm)
Coeficiente αe 1,27 1,19 1,14 1,1 1,07 1,0

A NBR 7190/97 apresenta recomendações de projeto para ligações mecânicas das peças de
madeira feitas pelos seguintes elementos:
- pinos metálicos (pregos ou parafusos)
- cavilhas (pinos de madeira torneados)
- conectores (anéis metálicos ou por chapas metálicas com dentes estampados)

12.2 – Ligações com pinos metálicos

12.2.1 - Resistência dos pinos

A resistência total de 1 pino de ligação é dada pela soma das resistências correspondentes às
suas diferentes seções de corte.
Nas ligações com até 8 pinos em linha, dispostos paralelamente ao esforço a ser transmitido, a
resistência total é dada pela soma das resistências de cada um dos pinos. Nas ligações com mais de
8 pinos, os pinos suplementares devem ser considerados com apenas 2/3 de sua resistência
individual. Neste caso, sendo n o número efetivo de pinos, a ligação deve ser calculada com o
número convencional
2
no = 8 + ( n − 8)
3

49
Disciplina: Construção de madeira
Professor: Agnagildo C. Machado
Os pregos estruturais devem ser feitos de aço com resistência característica de escoamento fyk
de pelo menos 600 MPa, e devem ter diâmetro mínimo de 3 milímetros. Recomenda-se que os
parafusos estruturais tenham diâmetros não menores que 10 milímetros e resistência característica
de escoamento fyk de pelo menos 240 MPa.
As propriedades no cálculo da resistência de um pino, correspondente a uma dada seção de
corte entre duas peças de madeira, é determinada em função das propriedades:
• da madeira:
resistência de embutimento fwed das duas madeiras interligadas
espessura convencional t, de acordo com tomada com a figura 6.2.1-1
• do pino:
resistência de escoamento fyd do pino metálico
diâmetro d do pino

(
(t4 < t2
(t4 = t2
(

d d
t é o menor t4 = t2
t4 valor entre t2
t é o menor t1 t2 t1 t1
t1 e t2 t é o menor
valor entre
t1 e t2 t
2 (t4 ≥ 12d) valor entre
t1 e t2
(t≥ 2d) t4 < t2

(PARAFUSOS) (PREGOS)

Figura 12.2.1-1: Pinos em corte simples


Nas ligações parafusadas deve ser d ≤ t/2 , e nas ligações pregadas deve ser d ≤ t/5 . Nas
ligações pregadas, a penetração em qualquer uma das peças ligadas não deve ser menor que a
espessura da peça mais delgada. Caso contrário, o prego será considerado não resistente.
Existe a recomendação prática (não é regulamentada por norma) que a escolha do diâmetro dos
pinos metálicos tenha a relação d/t ≤ 3.
O valor de cálculo da resistência de um pino metálico correspondente a uma única seção de
corte é determinado em função do valor do parâmetro

β= t
d
onde t é a espessura convencional da madeira e d o diâmetro do pino, estabelecendo-se como valor
limite

50
Disciplina: Construção de madeira
Professor: Agnagildo C. Machado
f yd
β lim = 1,25
f ed

f yk
sendo fyd a resistência de cálculo ao escoamento do pino metálico, tomando-se f yd = sendo
γs
γ s = 1,1 , e fed a resistência de cálculo de embutimento.
O valor de cálculo Rvd,1 da resistência de um pino, correspondente a uma única seção de corte,
é dada pelas expressões seguintes:
I - Embutimento na madeira
2
t
β ≤ βlim R vd ,1 = 0,40 f ed
β
II -Flexão do pino
2
d (com β = β lim )
β > βlim R vd ,1 = 0,625 f yd
β lim
Caso sejam utilizadas chapas de aço nas ligações, são necessárias as verificações entre a peça
de madeira e o pino de aço, e entre o pino com a parede da peça metálica.
No caso de pinos em corte duplo, como mostrado na figura 6.2.1-2, aplicam-se os mesmos
critérios anteriores para a determinação da resistência correspondente a cada uma das seções de
corte, considerando-se t com o menor dos valores entre t1 e t2/2 em uma das seções, e entre t2/2
e t3 na outra.

(t 4 < t 3 ( ( t 4= t 3 (

t
4
t4= t 3
t1 t2 t3 t1
t3 t 4 ≥ 12d t1 t2 t3

t2 t2 t2 t2
2 2 2 2

(PARAFUSOS) (PREGOS)

Figura 12.2.1-2: Pinos em corte duplo

51
Disciplina: Construção de madeira
Professor: Agnagildo C. Machado

12.3 – Ligações com cavilhas

As cavilhas devem ser torneadas e feitas ou com madeiras duras da classe C60, ou com
madeiras moles de ρap ≤ 600 kg/m3 impregnadas com resinas que aumentem sua resistência.
Admite-se o emprego de cavilhas estruturais apenas com os diâmetros de 16 mm, 18 mm e 20 mm.
Rigidez das ligações
Para as ligações com cavilhas admitem-se as mesmas condições de rigidez especificadas para
as ligações com pinos metálicos.

Pré-furação das ligações com cavilhas


Nas ligações com cavilhas, a pré-furação deve ser feita com diâmetro d0 igual ao diâmetro d da
cavilha.

12.3.1 - Resistência das cavilhas

A resistência total de uma cavilha é dada pela soma das resistências correspondentes às suas
diferentes seções de corte. O valor de cálculo da resistência de uma cavilha, correspondente a uma
dada seção de corte entre duas peças de madeira, é determinada em função da resistência à
compressão paralela fco,d da cavilha, considerada em sua flexão, e da resistência à compressão
normal fc90,d da cavilha, considerada na segurança relativa a seu esmagamento, do diâmetro d da
cavilha e da espessura t, tomada como a menor das espessuras t1 e t2 de penetração nos elementos
interligados, como mostrado na figura 12.3.1-1 . As cavilhas em corte simples podem ser
empregadas apenas em ligações secundárias.

52
Disciplina: Construção de madeira
Professor: Agnagildo C. Machado

t1 t2 t1 t2 t3
t2 t2
2 2

apenas em ligações secundárias

Figura 12.3.1-1: Ligações com cavilhas

No caso de cavilhas em corte duplo, aplicam-se os mesmos critérios para a determinação da


resistência correspondente a cada uma das seções de corte, considerando-se t com o menor dos
valores entre t1 e t2/2 em uma das seções, e entre t2/2 e t3 na outra.
A resistência de cálculo da cavilha Rvd,1 , correspondente a uma única seção de corte, é
determinada de modo análogo ao empregado para os pinos metálicos.
Para as cavilhas, consideram-se:
t
β= d
f c0 d ,cav
βlim = f c90 d ,cav

onde fcod,cav é o valor de cálculo da resistência à compressão paralela, e fc90d,cav é valor de


cálculo da resistência à compressão normal da cavilha, calculando-se a resistência pelas expressões
seguintes:

I - Esmagamento da cavilha

t2
β ≤ β lim R vd ,1 = 0,4 f c90d ,cav
β
II - Flexão de cavilha
2
β > β lim d
R vd ,1 = 0,4 f c0d ,cav (com β = β lim )
β lim

53
Disciplina: Construção de madeira
Professor: Agnagildo C. Machado
12.4 – Espaçamentos em ligações com pinos (pregos com pré-furação, parafusos e cavilhas)
Os espaçamentos mínimos recomendados estão representados na figura 6.4-1 .

1,5d 1,5d
3d 3d
1,5d 1,5d
nd nd 7d nd nd 4d
pregos,cavilhas
parafusos ajustados
n = 6
parafusos
n = 4
1,5d
4d
nd
nd
4d 1,5d

1,5d 3d 1,5d 1,5d 3d 1,5d

Figura 12.4.-1: Espaçamentos em ligações com pinos

Diâmetros mínimos:
Pregos: 3 mm
Parafusos: 10 mm
Cavilhas: 16 mm

Exercício Ligações Parafusadas


Dimensionar a ligação entre o montante e o banzo inferior de uma treliça de Tatajuba que será
executada em local com classe de umidade 2. Sabe-se que a ação permanente é de grande
variabilidade e que as ações variáveis são causadas por sobrecargas acidentais.
Dados:
Tatajuba fc0,k = 56 MPa fc0,d = 22,4 MPa
Parafusos comuns com fyk = 240 MPa
Esforços de cálculo:
N1,d = 10,2 kN (montante)
N2,d = N3,d =28,88 kN (banzo inferior)

54
Disciplina: Construção de madeira
Professor: Agnagildo C. Machado
N1,d

N1,d

3 cm
12 cm 3 cm 6 cm 3 cm

3
N2,d N3,d

12
6 cm

Roteiro:
a) dimensionamento dos parafusos: 4 parafusos de 10 mm com espaçamento indicados por norma
b) verificação do espaçamento do último parafuso até extremidade do montante: τd ≤ f v 0,d
0,2125 / c ≤ 0,208kN / cm2 ∴ c ≥ 1cm mantido o valor do item anterior c=4cm
c) verificação da tração paralela no montante e no banzo inferior σ t 0,d ≤ f t 0,d

Uma vez todas as condições de segurança atendidas, a ligação pode ser classificada como segura de
acordo com a NBR7190/97.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS.


Ações e segurança em estruturas - NBR 8681. Rio de Janeiro, 1984.
Norma de projeto de estruturas de madeira - NBR 7190. Rio de Janeiro, 1997.

LÊ GOVIC, C. Lês assemblages dans la construction em bois. Centre Technique du Bois et de


l’Ameublement, mar 1995.

MAINIERI, C.; CHIMELO, J.P. – Fichas de Características das Madeira Brasileiras, IPT –
Instituto de Pesquisas Tecnológicas, Divisão de Madeiras, São Paulo, 1989.

PFEIL, W. Estruturas de madeira. Rio de Janeiro, Ed. Livros Técnicos e Científicos, 6a Edição,
2003.
RITTER, M.A. Timber bridges. Forest Products Laboratory – Forest Service, Madisson, 1990.

SZUCS, C.A. – A Madeira nas Estruturas – notas de aula – UFSC/ECV, Florianópolis, 1994.

VALLE., A. – Apostila do Curso de Madeira - Departamento de Engenharia Civil da


Universidade Federal de Santa Catarina, 2002,

55

Você também pode gostar