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Estabilidade

das Construções
Estabilidade das Construções

Responsável pelo Conteúdo:


Prof. Dr. Samuel Dereste dos Santos

Revisão Textual:
Prof.ª Dr.ª Selma Aparecida Cesarin
Estabilidade das Cosntruções

• Madeira como Material de Construção Civil;


• Componentes Estruturais em Madeira;
• Comportamento Estrutural da Madeira;
• Pré-Dimensionamento de Estruturas de Madeira.

OBJETIVO DE APRENDIZADO
• Permitir ao aluno compreender como são dimensionados os elementos estruturais em ma-
deira, visando ao desenvolvimento de projetos.
UNIDADE Estabilidade das Construções

Madeira como Material de Construção Civil


A madeira possui diversas propriedades que a tornam muito atraente frente a
outros materiais. Dentre elas, são comumente citados o baixo consumo de energia
para seu processamento, a alta resistência específica e as boas características de
isolamento térmico e elétrico, além de ser um material muito fácil de ser trabalhado
manualmente ou por máquinas.

O aspecto, no entanto, que distingue a madeira dos demais materiais é a possibili-


dade de produção sustentada nas florestas nativas e plantadas e nas modernas técni-
cas silviculturais empregadas nos reflorestamentos, que permitem alterar a qualidade
da matéria-prima de acordo com o uso final desejado (CALIL JR., 2003).

Figura 1 – A madeira e suas possibilidade de beneficiamento


Fonte: Getty Images

Assista ao vídeo “Tecnologias utilizadas no beneficiamento de madeiras” e conheça o


processo de beneficiamento de madeiras. Disponível em: https://youtu.be/9GI7-DU9f0s

O fato de a madeira ser o resultado do crescimento de um ser vivo, implica variações


das suas características em função do meio ambiente em que a árvore se desenvolve.
A esta variabilidade acrescenta-se que a madeira é produzida por diferentes espécies de
árvores, cada qual com características anatômicas, físicas e mecânicas próprias.

A madeira é um material higroscópico, sendo que várias de suas propriedades são


afetadas pelo teor de umidade presente.

Sua natureza biológica submete-a aos diversos mecanismos de deterioração exis-


tentes na Natureza.

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A essas características negativas acrescenta-se sua susceptibilidade ao fogo. Es-
sas desvantagens da madeira podem ser eliminadas ou, ao menos, minimizadas,
bastando para tal o emprego de tecnologias já disponíveis e de uso consagrado nos
países desenvolvidos.

No entanto, o desconhecimento das propriedades da madeira por muitos de seus


usuários e a insistência em métodos de construção antiquados, são as maiores causas
de desempenho insatisfatório da madeira frente a outros materiais (CALIL JR, 2003).

Assista ao vídeo “Madeiras Nobres” e conheça alguns tipos de madeiras nobres usadas nos
diversos segmentos. Disponível em: https://youtu.be/gUqIlbdmH6M

Componentes Estruturais em Madeira


Madeira de reflorestamento
Os cortes disponíveis no Mercado para as madeiras de reflorestamento podem ser
classificados de acordo com o disposto na Tabela 1.

Tabela 1 – Dimensões da madeira serrada


Descrição Espessura (cm) Largura (cm)
Pranchões >7 > 20,0
Prancha 4,0 – 7,0 > 20,0
Viga > 4,0 11,0 – 20,0
Vigota 4,0 – 8,0 8,0 – 11,0
Caibro 4,0 – 8,0 5,0 – 8,0
Tábua 1,0 – 4,0 > 10,0
Sarrafo 2,0 – 4,0 2,0 – 10,0
Ripa < 2,0 < 10,0
Fonte: NBR 7203: Madeira Serrada e Beneficiada

Madeira laminada colada


Características
A madeira, como recurso natural, apresenta problema natural de escassez. Além
disso, a obtenção de madeiras mais resistentes demanda mais tempo. Dessa forma,
despontou um material inovador, resultado do processo de customização da madeira,
visando à sua aplicação como sistema construtivo.

A Madeira Laminada Colada (MLC), também conhecida como Glulam – designa-


ção em inglês, é um material estrutural resultado da junção de segmentos/fragmentos

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individuais de madeira com adesivos industriais de alta performance, que são prensa-
dos em equipamentos específicos.

Nesses processos, utilizam-se adesivos como a melamina ou o poliuretano. Após


a prensagem, as peças apresentam grande resistência estrutural e durabilidade frente
aos agentes que tipicamente atacam as madeiras naturais (MIGLIANI, 2019).

Assista ao vídeo “Usinagem (Pré fabricação) de MLC (Madeira Laminada Colada)” e conheça o
processo de fabricação das madeiras laminadas. Disponível em: https://youtu.be/wQaYGz1JF9k

Figura 2 – Glulam – Madeira Laminada Colada


Fonte: Getty Images

Esse material é indicado para utilização em vigas, pilares, pergolados, coberturas,


passarelas, escadas, painéis e em revestimentos diversos. Uma das vantagens que o
material apresenta frente à madeira natural é a possibilidade de produzir formatos
curvos ou arredondados em elementos tipo vigas e pilares, permitindo ao arquiteto
o uso de desenhos mais arrojados.

Figura 3 – Estrutura concebida com o uso de MLC (Glulam)


Fonte: Getty Images

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Outra característica interessante é a diversidade de tonalidades disponíveis, todas
em função da madeira de origem, e a estabilidade do material é tal que é possível
fazer a fixação entre os componentes utilizando parafusos, buchas ou chapas de aço
(MIGLIANI, 2019).

Vantagens
• Dimensões: permite a customização das medidas em função da possibilidade
de produção em fábrica. Possui baixo peso próprio e pode vencer vãos de até
100 metros de envergadura sem apoios intermediários;
• Resistência: possui resistência adequada a substâncias químicas em geral e
mais estabilidade dimensional a alterações de umidade do ambiente;
• Flexibilidade: o processo de produção dentro da Indústria permite o desenvol-
vimento de formas curvas, arqueadas e dobradas, entre outras, com relativa fa-
cilidade. Dessa forma, com um projeto da peça bastante customizado, é possível
que o fabricante produza o componente que se precisa;
• Resistência ao fogo: apresenta comportamento mais estável frente ao fogo
devido à presença da resina de produção, que acaba selando as superfícies na
condição de incêndio, preservando o núcleo do Sistema;
• Menos necessidade de conexões: quando comparada às estruturas de madeiras
feitas com peças maciças, vez que são dimensionados prevendo grandes vãos;
• Leveza: as vigas de MLC apresentam alta resistência frente ao peso que su-
portam. Comparativamente ao concreto armado, podem resistir aos mesmos
esforços com um peso 5 vezes menor;
• Sustentabilidade: atualmente, está se constituindo uma rede de fornecedores
que atuam exclusivamente com madeiras de reflorestamento. Dessa forma, essa
rede tende a consolidar o uso do MLC nos projetos (MIGLIANI, 2019).

Comportamento Estrutural da Madeira


A madeira, como componente estrutural, irá ter comportamento reticular, e seus
componentes são dimensionados à tração, à compressão e à flexão. No cálculo, são
considerados o espécime, tipo de corte, tipo de secagem, e levam em consideração
os efeitos de sentido das fibras. Em projetos especiais, como os executados em MLC,
o ideal é procurar o fabricante para verificar quais são os quesitos que ele recomenda
para o projeto (CALIL JR., 2003).

Em termos estruturais, as estruturas de madeira também possuem comportamento


reticular, como as estruturas metálicas.

Dessa forma, os componentes são dimensionados em função do seu compor-


tamento, seja na condição de vigas de madeira (sujeitas predominantemente a
momento fletor e à força normal), seja em pilares de madeira (sujeitos a momento

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fletor, a ­torçor e à força normal, pisos de madeira (sujeitos a momento fletor e força
normal) e treliças de madeira (sujeito à força normal e ao momento fletor).

Figura 4 – Estrutura de madeira constituída por pilares


e vigas, cujo comportamento terá tendência reticular
Fonte: Getty Images

Uma aplicação muito efetiva da madeira é na construção de elementos de treliças


para coberturas.

Esse elemento é composto por barras transversais, cujo papel é distribuir os esfor-
ços oriundos do carregamento das telhas e do vento para os apoios, de forma segura.

Em sistemas convencionais de construção com alvenaria e concreto, é muito co-


mum a construção de treliças para dar suporte à estrutura do telhado.

Figura 5 – Estrutura de treliça de madeira para telhado. A disposição das


barras é fundamental para o correto encaminhamento dos esforços
Fonte: Getty Images

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Para fins de construção de estruturas para edificações, um subtipo de estrutura
interessante é o Wood Frame.

Trata-se de uma estrutura utilizada em larga escala nos Estados Unidos. Ela é com-
posta por barras e vigas que são constituídas em forma de esqueleto, e esse esqueleto
recebe um fechamento leve, que pode ser de gesso ou até mesmo de madeira laminada.

Essa tipologia pode atingir até 5 pavimentos com bastante segurança estrutural.

Figura 6 – Esqueleto de uma Estrutura Wood Frame


Fonte: Getty Images

Repare nos travamentos que são implantados de forma a garantir a estabili-


dade da estrutura. Após a montagem do esqueleto, faz-se o fechamento utili-
zando materiais leves, como gesso, placas cimentícias ou placas de madeira.

Assista ao vídeo “Como Funciona o Wood Frame com 3D Animado” e veja o processo de
fabricação de uma edificação em Wood Frame. Disponível em: https://youtu.be/1iLmYMHYrjw

Pré-Dimensionamento
de Estruturas de Madeira
Pré-dimensionamento de pilares de madeira
Para o pré-dimensionamento de Pilares De Madeira, podem ser usados os ábacos
a seguir.

No primeiro, pode-se pré-dimensionar pilares de madeira para edificações de até


um andar. Basta entrar, no eixo X, com a dimensão da altura do pé-direito, e se ob-
tém o valor máximo e o mínimo que o componente pode ter com relação à largura.

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Figura 7 – Ábaco para pré-dimensionamento de


pilares para edificações de até 1 pavimento
Fonte: REBELLO, 2000

Sendo assim, para uma edificação que tenha pé-direito interno de 3m e 1 pavi-
mento, basta entrar com a coordenada no eixo X, e se obtém que a largura do pilar
deve estar entre 9 e 16cm. Dessa forma, deve-se adotar a dimensão padronizada
pelo fornecedor local.

Já no próximo ábaco, é possível obter a dimensão dos pilares de madeira para


edificações com mais de dois andares.

Da mesma forma que o anterior, basta entrar no eixo X com a altura do pé-direito
dos ambientes, e se obtém a dimensão máxima e mínima dos elementos.

Figura 8 – Ábaco para pré-dimensionamento de pilares


para edificações com 2 pavimentos ou mais
Fonte: REBELLO, 2000

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Nesse caso, por exemplo, se se estivesse dimensionando um pilar para uma edifi-
cação de 3 andares, basta entrar com esta coordenada no eixo X, e obtém-se que a
largura do pilar deveria estar entre 15 e 30cm.

Dessa forma, é necessário verificar no fornecedor quais são as dimensões disponíveis.

Pré-dimensionamento de vigas de madeira


Para o pré-dimensionamento de vigas de madeira, pode-se utilizar o ábaco a seguir.

Basta, no eixo X, entrar com a dimensão do vão a ser utilizado, e se tem o res-
pectivo valor mínimo e máximo de altura da viga.

Figura 9 – Ábaco para dimensionamento de vigas de madeira


Fonte: REBELLO, 2000

Sendo assim, para o dimensionamento de uma viga com vão de 3m, basta entrar
com essa coordenada no eixo X, e obtêm-se que a altura da viga deve estar entre
0,17 e 0,27m.

Deve-se buscar, junto ao fornecedor, um tamanho de viga adequado.

Pré-dimensionamento de treliças planas de madeira


Uma possibilidade de construção muito recorrente é o uso de treliças de madeira
para telhados e coberturas.

Para o pré-dimensionamento desses elementos, basta utilizar o gráfico a seguir,


entrando no eixo X com o valor do vão, e se obtém no eixo Y a altura máxima e
mínima que esses elementos poderão ter.

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Figura 10 – Ábaco para dimensionamento de treliças de madeira


Fonte: REBELLO, 2000

Dessa forma, para se construir uma treliça de madeira para um vão que tenha
15m de envergadura, basta entrar com essa coordenada no eixo X, e se obtém a
altura mínima e máxima desse elemento, que será, respectivamente, 0,8 e 2m.

Dessa forma, o projetista deve conceber o elemento treliça tendo como altura
algum valor que esteja dentro desse intervalo.

Vale salientar que o pré-dimensionamento é uma etapa prévia, na qual o projetis-


ta está definindo quesitos geométricos da estrutura.

Após essa etapa, o projeto será enviado para um profissional especializado no dimen-
sionamento, que fará a verificação das características normativas com relação a carrega-
mento e esforços e, assim, definirá o tamanho dos componentes a serem construídos.

Esse esforço prévio na determinação das dimensões geométricas faz-se necessá-


rio para que o Projeto já tenha, na fase de Arquitetura, certo grau de maturidade
para que as decisões que estão sendo tomadas não tenham que ser refeitas no curto,
médio e longo prazo.

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Material Complementar
Indicações para saber mais sobre os assuntos abordados nesta Unidade:

Leituras
50 Detalhes construtivos de arquitetura em madeira
https://bit.ly/2SW57TV
Casas brasileiras: 22 projetos com madeira em planta e corte
https://bit.ly/377w27z
As possibilidades estruturais com madeira roliça
https://bit.ly/2SY5Gwj

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Referências
CALIL JR., C. Dimensionamento de Elementos Estruturais em Madeira. São
Paulo: Manole, 2003

REBELLO, Y. C. P. A Concepção Estrutural e a Arquitetura. São Paulo: Zigu-


rate, 2000.

MIGLIANI, A. O que é Madeira Laminada Colada (MLC ou Glulam). Portal


Archdaily Brasil. (12/11/2019). Disponível em: <https://www.archdaily.com.
br/br/928061/o-que-e-madeira-laminada-colada-mlc-ou-glulam>. Acesso em:
26/07/2020.

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