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Universidade Presbiteriana Mackenzie

O ESTUDO DO SISTEMA CONSTRUTIVO DE DOIS EDIFÍCIOS VERTICAIS


CONTEMPORÂNEOS DE MADEIRA
Lidia Eun Ji Lee (IC) e Prof. Dr. Silvio Stefanini Sant'Anna (Orientador)
Apoio:PIBIC Mackenzie

RESUMO

O presente trabalho busca estudar o sistemas construtivo de dois edifícios verticais


contemporâneos de madeira, Edifício Comercial Tamedia (Suíça, 2014) e Edifício Residencial
Estudantil Brock Commons da UBC (Canadá, 2015). Os dois sistemas construtivos estudados
utilizam predominantemente produtos mass-timber que contêm benefícios significativos em
termos de fogo, desempenho acústico e desempenho estrutural. A pesquisa não somente
analisa os sistemas construtivos de dois edifícios mas se estuda as propriedades da madeira,
vantagens do uso do material na construção civil, a sua sustentabilidade e os produtos Mass
Timber, demonstrando assim a potencialidade da madeira na construção civil. Por fim, a
pesquisa propõe contribuir para estimular o uso da madeira na construção civil brasileira, na
qual se destacam os usos pouco nobres e secundário nas edificações, decorrentes de
desinformação quanto à resistência e a durabilidade. Além disso, propõe reverter a imagem
negativa das construções em madeira no país, demonstrando os benefícios da madeira na
construção e apresentando os novos sistemas construtivos, e difundir a ideia da necessidade
de construir em madeira neste cenário ambiental crítico, pois a construção civil está entre as
atividades humanas que mais causam impactos ao meio ambiente.

Palavras-chave: Madeira. Sistema construtivo. Mass timber

ABSTRACT

The present work seeks to study the construction system of two contemporary vertical wooden
buildings, Tamedia Office Building (Suíça, 2014) and Brock Commons Tallwood House
Student Residence. The two construction systems studied use predominantly mass-timber
products which have significant benefits in terms of fire, acoustic performance and structural
performance. The research not only analyzes the construction systems of two buildings but
also studies the properties of wood, the advantages of wood in the civil construction, the wood
as sustainable construction material and Mass Timber products, demonstrating the potentiality
of wood in the construction. Finally, the research proposes to contribute to stimulate the use
of wood in the Brazilian civil construction, where the secondary uses in the building stand out,
due to disinformation regarding resistance and durability. In addition, it proposes to revert the
negative image of the wooden constructions in the country, demonstrating the benefits of the
wood in the construction and presenting the new constructive systems, and to diffuse the idea
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of the need to build in wood in this critical environmental problem, because the civil
construction is one of the human activities that most cause environmental impacts.

Keywords: Wood. Construction systems. Mass timber


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1. INTRODUÇÃO

Os edifícios verticais de madeira são um fenômeno do início do século XXI, as


preocupações atuais sobre as questões climáticas, juntamente com o crescente
reconhecimento dos atributos ambientais positivos da madeira que incluem baixas emissões
de carbono no processamento, armazenamento massivo de carbono e a facilidade na
adaptação em processos de pré-fabricação industrial, atraíram o interesse de arquitetos e
engenheiros pela construção de edifícios verticais de madeira. Além disso, o desenvolvimento
de uma série de novos produtos de madeira, como por exemplo, os produtos Mass Timber,
que contêm benefícios significativos em termos de fogo e desempenho acústico e estrutural,
possibilitaram desenvolvimento de novos sistemas construtivos e maior verticalização dos
edifícios.

Na realidade brasileira destacam-se os usos pouco nobres e secundário na edificação,


decorrentes de desinformação quanto à resistência e a durabilidade e não aproveitam de
forma racional e eficiente as inúmeras vantagens do material e seus diversos subprodutos,
sendo estes resultados do intenso desenvolvimento tecnológico verificado no Hemisfério
Norte. Há ainda a ideia amplamente divulgada que associa o uso da madeira à destruição de
florestas, ignorando-se que o manejo florestal é um instrumento eficiente e sustentável para
garantir a manutenção dos recursos florestais para as gerações futuras.

Esta pesquisa é proposta, pois atualmente há uma necessidade crescente de construir


sustentavelmente, pois segundo Berriel (2009), a construção civil está entre as atividades
humanas que mais causam impactos ao meio ambiente, consumindo de forma intensiva os
recursos naturais e energéticos e gerando grandes quantidades de resíduos, desde a
produção dos insumos, até a execução da obra e a sua utilização. E a contribuição da
pesquisa é reverter a imagem negativa das construções em madeira no país, demonstrando
os benefícios da madeira na construção e apresentando os novos sistemas construtivos.

O trabalho tem como busca responder as questões: quais são as propriedades da


madeira, quais são as vantagens do uso da madeira na construção civil, quais são os sistemas
construtivos em madeira utilizados atualmente; quais são os novos produtos Mass timber e
as suas vantagens; como a madeira reage ao fogo; e em relação ao Edifício Comercial
Tamedia (Suíça, 2014) e Edifício Residencial Estudantil Brock Commons da UBC (Canadá,
2015): que sistema construtivo os arquitetos adotaram; como os arquitetos lidaram com
madeira em relação ao fogo; foram utilizados outros materiais como concreto e aço para dar
maior estabilidade aos edifícios; como foi resolvido a questão hidráulica e elétrica.
A pesquisa tem como objetivos: Estudar as propriedades da madeira, as vantagens do
uso da madeira na construção civil, os novos sistemas construtivos e os produtos Mass
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Timber; analisar os sistemas construtivos do Edifício Tamedia e Edifício Residencial Estudantil


Brock Commons da UBC.

2. DESENVOLVIMENTO DO ARGUMENTO

2.1 Propriedades da madeira

A madeira é um polímero natural resultante do processo de fotossíntese, pelo qual as


plantas convertem energia radiante em energia química na forma de glicose, tendo a clorofila
como catalisador desse processo. Ela tem uma cor, cheiro, textura e grão específico para
cada espécie. Ela é um material de natureza anisotrópica, ou seja, apresenta reações
diferentes segundo a direção considerada. Conforme ilustrado na Figura 1, as suas três
direções principais são perpendiculares entre si e coincidem com o comprimento da árvore
(longitudinal), em direção ao centro da árvore (radial) e tangente aos seus anéis de
crescimento (tangencial). Devido essa variedade de direções, a madeira é resistente à
compressão, à tração e à flexão, propriedades que o concreto e aço não contêm
completamente, por isso que ela pode ser usada de diversas formas na construção civil.

Figura 01: Direções principais da madeira. Fonte: MELLO, 2007, p. 68

As letras da figura representam:

A: eixo radial

B: eixo tangencial

C: eixo longitudinal

X: superfície radial

Y: superfície tangencial

X: superfície transversal ou oblíqua

A madeira é mau condutor de calor, portanto, é um bom isolante térmico, e apresenta


variados graus de dureza, no caso das árvores mais longevas, com cerne bastante
desenvolvido, têm uma dureza alta. A madeira é o único dos principais materiais de
construção que é feito pelo sol, portanto, ela é uma matéria prima renovável, e possui uma
pegada ecológica menor do que do concreto e aço, segundo a Berriel (2009), a madeira utiliza
pouca energia no processo de transformação e volta para a terra no final do processo, sem
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gerar resíduo, sendo, neste caso, nula em relação às emissões de carbono. Quando a
madeira apodrece, o carbono que foi capturado e armazenado durante a vida da árvore volta
para o meio. Mas quando a madeira permanece em forma de casas, elementos construtivos
ou móveis, o carbono permanece fixado na madeira, que a partir daí assume um duplo papel:
o material, de objeto útil, belo, funcional e o socioeconômico e ambiental, de reservatório de
carbono.

2.2 Madeira na construção civil e a sua sustentabilidade

Após a Revolução Industrial, com a invenção do concreto armado e do aço, a madeira


perdeu importância, segundo Zenid (2017), a madeira é empregada na construção civil de
forma temporária, na instalação do canteiro de obras, nos andaimes, nos escoramentos e nas
fôrmas, e de forma definitiva, é utilizada em piso e painéis de revestimento. A perda da
popularidade da madeira também se deve a baixa aceitação do mercado pela incerteza
acerca do risco de incêndio, da durabilidade, resistência e custo.

A retomada das construções de madeira ocorreu em 1970, impulsionada pelos


arquitetos Thomas Herzog da Alemanha, Roland Schweitzer e Pierre Lajus na França, com
edificações de pequena escala, e atualmente, as construções de madeira estão cada vez mais
aceitas no mercado.

O aumento do uso da madeira na construção deve-se pelas recentes inovações


tecnológicas, novos sistemas construtivos baseados na pré-fabricação e dos problemas
ambientais cada vez mais crescentes, demandando assim pela escolha de materiais mais
sustentáveis como a madeira, pois segundo Cachim (2014), ela é renovável e tem boas
características de durabilidade, absorve e retém CO2, é um excelente isolador térmico,
acústico e elétrico e tem boas características de resistência ao fogo e aos sismos.

Segundo a Iwakiri (2017), a madeira, por sua vez, adapta-se bem a processos de pré-
fabricação industrial por sua boa relação entre peso e resistência mecânica e fácil
trabalhabilidade, sendo assim introduzida na produção de elementos estruturais pré-
fabricados, como vigas, pórticos e treliças, e de painéis de parede e de piso. Esses elementos
podem deixar a fábrica integralmente prontos para serem apenas acoplados no canteiro,
eliminando grande parte das operações de cortes e ajustes em obra e possibilitando obras
secas, rápidas e com pouco desperdício, e ainda mais permitindo um maior planejamento e
controle das etapas de execução.

A madeira é um material combustível, diferente do aço e do betão, tal como os demais


combustíveis sólidos, a madeira, em condições normais, não se queima diretamente, primeiro
decompõe-se em gases que, expostos ao calor, convertem-se em chamas que, por sua vez,
aquecem a madeira ainda não atingida e promovem a libertação de mais gases inflamáveis,
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alimentando a combustão. As peças robustas de madeira, quando expostas ao fogo, formam


uma camada superficial de carvão, ilustrado na figura 2 que age como uma espécie de
isolante, impedindo a rápida saída de gases inflamáveis e a propagação de calor para o
interior da seção, resultando num aquecimento e degradação do material a uma velocidade
menor e, assim, colaborando favoravelmente para melhorar a capacidade de sustentação das
cargas da edificação. Em comparação com a peça de aço, ilustrado na figura 3, quando é
exposta ao fogo, a peça rapidamente sofre deformação devido a sua elevada condutividade
térmica, afetando assim, as suas propriedades resistentes com o aumento da temperatura.

Figura 02: Criação de camada Figura 03: Deformação do aço


superficial de carvão na peça exposta quando exposto ao fogo. Fonte:
ao fogo. Fonte: Rethink Wood. Rethink Wood.

Segundo o Guia “Mass timber buildings of up to 12 storeys” de Québec, Canadá,


existem vários métodos para o edifício obter a classificação de resistência ao fogo. Os testes
realizados demonstraram que o uso de duas camadas de painéis de placas de gesso de 16
mm pode manter a temperatura atingindo 300 ° C na face exposta de elementos estruturais
de madeira pelo menos 1 hora, assumindo que a temperatura de ignição da madeira é de 300
° C. Este é um método básico para proteger todos os materiais de construção do fogo pois
pode atrasar os efeitos termomecânicos do fogo em elementos estruturais.

Há duas formas de aplicar esse método básico, isto é, encapsulamento completo ou


encapsulamento de membrana suspensa. O encapsulamento completo, ilustrado na figura 4,
consiste em fixar duas camadas de painéis de placas de gesso diretamente aos elementos
de madeira. Já o encapsulamento em membrana suspensa, ilustrado na figura 5, consiste em
colocar duas camadas de painéis de placas de gesso suspensas aos elementos de madeira
e o espaço vazio localizado entre a membrana de gesso e o elemento de madeira é
preenchido com isolamento incombustível.
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Figura 04: Encapsulamento completo. Figura 05: Encapsulamento em


Fonte: Guia “Mass timber buildings of membrana suspensa (preenchimento
up to 12 storeys”. de espaços não ilustrados). Fonte:
Guia “Mass timber buildings of up to
12 storeys”.

Deve notar-se que os conectores metálicos que suportam cargas de gravidade na


estrutura devem ter pelo menos a mesma classificação de resistência ao fogo que os
elementos que suportam. O método mais simples para aumentar a resistência ao fogo dos
elementos de fixação de metal é ocultar ou protegê-los contra a exposição ao fogo, usando
uma espessura suficiente de madeira ou outro material de cobertura pré-aprovado com a
classificação de resistência ao fogo requerida.

Grande parte dos edifícios verticais contemporâneos de madeira são pré-fabricados e


apresentam sistemas construtivos como: Light Wood Frame, Post + Beam, Mass Timber e
Híbrido (madeira, aço e/ou concreto). Ao fazer a comparação do sistema Mass Timber com o
Concreto e o Wood Frame, em relação ao custo, duração, cronograma da obra, impactos
ambientais e a qualidade final, demonstrada no gráfico 1, percebe-se que o sistema Mass
Timber é o melhor sistema construtivo dentre eles. E por isso, Mass Timber é altamente
recomendado para construções verticais de madeira do que o Wood frame. Wood Frame
permite verticalizações, entretanto, a qualidade dos produtos Mass Timber é muito mais
resistente e fácil de manuseio.

Gráfico 01: Comparação entre Wood Frame, Concreto e Mass Timber. Fonte: Rethink Wood.
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2.3 Produtos Mass Timber

Os produtos Mass Timber são feitos de madeira pré-fabricada e pode ser utilizada em
peças estruturais, paredes e revestimentos. Dentre os produtos Mass Timber estão Viga
Glulam, Composição de Madeira e Concreto, Laminada Colada Cruzada (CLT), Laminado
Venner Lumber (LVL), Parallel Strand Lumber (PSL) e placas de OSB. Esses materiais
permitem que os edifícios de madeira fiquem mais altos e rígidos.

A Viga Glulam (GLT) é constituída de várias lamelas de 40mm de espessura, coladas


na horizontal, para obter uma maior diversidade de secções (variam entre os 60-480mm de
largura por 80-600mm de altura, podendo ir até quase os 2000mm), ilustrada na figura 6. Este
material apresenta características superiores às de uma peça de madeira maciça com igual
seção. Tem como principais vantagens a sua elevada resistência mecânica e a possibilidade
de fazer peças curvas.

Figura 06: Composição da GLT. Fonte: CHH Wood Products.

A Composição de Madeira e Concreto é constituída por uma malha de aço que liga
viga de madeira com uma laje de concreto, ilustrada na figura 7. As vantagens deste sistema
consistem em maior força e rigidez. O seu potencial de aplicação pode ser encontrado em
sistemas de piso, parede e telhado de edifícios privados e comerciais, bem como em
estruturas de pontes.

Figura 07: Composição de Madeira e Concreto. Fonte: CHH Wood Products.


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A Laminada Colada Cruzada (CLT) é constituída por várias camadas de peças de


madeira colocadas umas nas outras transversalmente (tipicamente a 90 graus) e coladas nas
faces do maior comprimento e, às vezes, nas faces mais estreitas, ilustrada na figura 8. Uma
seção transversal de um elemento de CLT tem pelo menos três camadas coladas de placas
colocadas em orientação alternada perpendicularmente às camadas vizinhas.

Figura 08: Laminada Colada Cruzada (CLT). Fonte: CHH Wood Products.

A Laminada Venner Lumber (LVL) consiste em um produto à base de lâminas de


madeira, coladas com resina fenólica, ilustrada na figura 9. Seu emprego direciona-se para
vigas, andaimes, guias não estruturais e carpintaria em geral.

Figura 09: Laminado Venner Lumber (LVL). Fonte: CHH Wood Products.

A Parallel Srand Lumber (PSL) consiste em fios de folheado longos colocados em


formação paralela e ligados em conjunto com um adesivo para formar a seção estrutural
acabada, ilustrada na figura 10. É um material forte e consistente, tem uma alta capacidade
de carga e é bem adequado para uso como vigas e colunas.

Figura 10: Parallel Srand Lumber (PSL). Fonte: Sollunabuilders.


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As placas OSB são um painel de madeira composto a partir de três a cinco camadas,
duas externas orientadas no sentido longitudinal e as internas, cruzadas no sentido
perpendicular, ilustrada na figura 11. Elas são produzidas a partir de madeira reflorestada com
espécies florestais de rápido crescimento, emulsão parafínica, resinas resistentes à umidade
e água.

Figura 11: Placas de OSB. Fonte: Sollunabuilders.

2.4 Estudo de caso

2.4.1 Edifício Comercial Tamedia

O Edifício Comercial Tamedia foi projetado pelo arquiteto Shigeru Ban em 2013, está
localizado em Zurique, Suíça e ocupa a área do terreno de 1000 metros. Ele possui 13
pavimentos e 21 metros de altura.

O acesso principal do edifício está situado na fachada norte das Ruas Werdstrasse e
Stauffacherquai, ilustrado na figura 12. O edifício possui sete andares, dois pavimentos de
subsolo e uma extensão de dois andares localizados no edifício vizinho, ilustrado na figura
14.

Figura 12: Implantação do edifício. Fonte: Figura 13: Planta do pavimento térreo.
Archdaily. Fonte: Archdaily.
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Figura 14: Planta do último pavimento, extensão com o edifício vizinho. Fonte: Archdaily.

Figura 15: Corte longitudinal. Fonte: Archdaily.

A escolha da madeira como material estrutural principal deve-se pelas três condições
fixadas por Pietro Supino, presidente do conselho de administração do grupo Tamedia:
ambiente de trabalho agradável, durabilidade e custos moderados. Para o Shigeru Ban, a
madeira era o material perfeito para esse projeto pelas suas qualidades. Aliás, ele sublinha
como importante no projeto o papel do engenheiro suíço Hermann Blumer, especialista em
construções de madeira.

A madeira possui fácil trabalhabilidade permitindo assim para o arquiteto maior


liberdade e exploração da linguagem arquitetônica, o que pode ser visto no croqui da figura
16 o processo de design das estruturas. Segundo o arquiteto Shigeru Ban, as formas
especiais dos pilares e vigotas só poderiam ser feitos em madeira devido ao caráter suave
própria desse material.

A estrutura de madeira é montada através de encaixes simples sem o uso de pregos


e conectores metálicos, diminuindo os custos da construção e proporcionando um ambiente
de trabalho agradável.
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Figura 16: Croqui do arquiteto. Fonte: Archdaily.

O subsolo e os núcleos de elevadores, escada e banheiros foram construídos com


concreto para dar maior estabilidade estrutural, rigidez ao edifício e proteção contra o fogo,
demonstrados na figura 17. As peças estruturais foram transportadas até o canteiro de obra
já pré-fabricadas, possibilitando a redução de tempo, desperdício, poluição e ruído, ilustradas
na figura 18 e 19.

Figura 17: Estrutura de concreto. Fonte: Archdaily.

Figura 18: Estrutura sendo montada. Figura 19: Estrutura erguida. Fonte: Archdaily.
Fonte: Archdaily.

A estrutura portante é composta por pilares e vigas gêmeas de secção transversal


ovalada como mostra na figura 20, e foi desenhada através de um processo de fresagem a
partir do Controle Numérico Computadorizado (CNC). Os pilares e as vigas principais foram
produzidos como peça única. Os pilares possuem dimensão de 44x44cm e 21m de altura, e
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a viga principal de madeira laminada é composta por duas vigas coladas com 86 cm altura e
12 cm de espessura.

Figura 20: Vigas principais duplas sobre o pilar. Fonte: Archdaily.

Os pilares de madeira foram colocados em seus devidos lugares com auxílio de


guindastes e fixados no solo com os conectores metálicos, ilustrado na figura 21. Após os
pilares e as vigas principais serem erguidos, eles foram travados com as vigas intermediárias
por meio de elementos de madeira de Haya (Fagus Sylvatica), demonstrados na figura 23 de
amarelo e na figura 22.

Figura 21: Conector metálico que conecta com o pilar. Fonte: Archdaily.

Figura 22: Estrutura montada por Figura 23: Elemento de junção. Fonte:
encaixe. Fonte: Archdaily. Archdaily.

A estrutura de madeira foi completamente recoberta por uma fachada de vidro para
maior durabilidade e visibilidade da estrutura na área externa, demonstrada na figura 24. E
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toda a parte elétrica e hidráulica foram colocados no vazio do piso elevado, facilitando assim
a manutenção e proporcionando espaços internos mais agradáveis. Como medidas contra
incêndio, a madeira utilizada tem 15% de água, retardando assim a propagação do fogo, e foi
acrescentada mais ou menos quatro centímetros que poderiam ser consumidos num incêndio,
mas que protegeriam o interior das peças de madeira. Um sistema de sprinklers automáticos
oferece proteção para ocupantes e bombeiros para um possível incêndio.

Figura 24: Corte ampliado com medidas. Fonte: Archdaily.

2.4.2 Edifício Residencial Estudantil Brock Commons da UBC

O Edifício Residencial Estudantil Brock Commons da UBC (2015) é uma moradia


estudantil para os alunos da Universidade Britânica da Colúmbia e está localizado em
Vancouver, Canadá, possui 53 metros de altura com 18 pavimentos. O responsável pela
concepção arquitetônica é a Acton Ostry Architects, o projeto de engenharia estrutural, a Fast
+ Epp, e a consultoria é o especialista em edificações altas de madeira Architekten Hermann
Kaufmann, de Vorarlberg, Áustria.
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Figura 25: Planta do térreo. Fonte: Building.

Figura 26: Planta habitacional tipo. Fonte: Building.

De acordo John Metras, Diretor Gerente de Desenvolvimento de Infraestrutura da


UBC, a escolha da estrutura de madeira deve-se a alta velocidade na montagem da estrutura
de madeira, reduzindo assim os prazos da obra. A estrutura de madeira foi montada em
apenas 70 dias, o que significa uma grande economia de tempo comparado com os projetos
convencionais de mesmo porte.
A estrutura do Brock Commons utiliza uma combinação de madeira, concreto e
componentes de aço. O edifício de 15.115,32 m² conta com fundação em concreto e incorpora
dois núcleos de escadas e elevadores de concreto e lajes de concreto do térreo e do primeiro
pavimento, para obter maior rigidez estrutural e solucionar o sistema contra incêndio, ilustrado
na figura 27. E foi colocado uma placa de proteção próximo ao núcleo de concreto para
impedir a propagação do fogo, ilustrada na figura 28.
A estrutura é composta de peças pré-fabricadas de madeira laminada cruzada (CLT)
e foram tratadas com preservantes químicos para aumentar sua resistência aos ataques de
organismos que causam a deterioração e para garantir durabilidade.
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Figura 27: Estrutura híbrida. Fonte: Figura 28: Conector metálico e placa
Thorusengenharia. de proteção contra o fogo próximo ao
núcleo de concreto. Fonte:
Thorusengenharia.

Os pilares de madeira contêm conectores de aço nas interseções das lajes com as
colunas, que transferem as cargas entre as colunas e fornecem uma superfície de apoio para
os painéis do piso CLT. Esse sistema construtivo não necessita de vigas pois os painéis do
piso CLT fazem o papel estrutural da viga.

Figura 29: Conector metálico. Fonte: Thorusengenharia.

O edifício é revestido por painéis CLT sustentados por colunas de madeira laminada
colada pré-fabricados e colocados com guindastes. As divisões interiores foram feitas em
placas de aço convencional e gesso, enquanto para armários e outros foi utilizado painel
laminado.
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Figura 30: A construção do Edifício Figura 31: Fachada pré-fabricada.


Residencial Estudantil Brock Fonte: Thorusengenharia.
Commons da UBC finalizado. Fonte:
Thorusengenharia.

A estrutura híbrida de madeira é revestida com múltiplas camadas de placa de gesso


e painéis de concreto, para atender aos códigos de segurança contra incêndios. Este
processo é chamado de encapsulamento, ilustrado na figura 32 e 33. Como o edifício é
composto por uma série de unidades compartimentadas, é extremamente provável que um
evento de fogo seja contido no compartimento que se originou. A separação entre as suítes é
resistente ao fogo por duas horas. Um sistema de sprinklers automáticos com um
abastecimento de água de reserva oferece adicional proteção para ocupantes e bombeiros,
para eventos que possam surgir durante um possível incêndio.

Figura 32: Encapsulamento. Fonte: Building.


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Figura 33: Encapsulamento. Fonte: Thorusengenharia.

A organização da construção do edifício possibilitou uma otimização do uso de


guindastes, máquinas, materiais e equipes na obra. O cronograma foi considerado agressivo
em comparação com obras convencionais, já que a obra toda foi realizada em 18 meses e os
projetos e aprovações demoraram cerca de oito meses. A grande vantagem esteve na pré-
fabricação, que possibilitou a redução de tempo, desperdício, poluição e ruído.

3. CONSIDERAÇÕES FINAIS

O trabalho apresentado procurou atingir todos objetivos propostos: Estudar as


propriedades da madeira, as vantagens do uso da madeira na construção civil, os novos
sistemas construtivos e os produtos Mass Timber; analisar os sistemas construtivos do
Edifício Tamedia e Edifício Residencial Estudantil Brock Commons da UBC. E esses objetivos
foram atingidos, através dos levantamentos de dados e referências bibliográficas que
adicionassem o conhecimento sobre as propriedades da madeira, os novos produtos Mass
Timber e os diversos tipos de sistema construtivo de madeira em edifícios de grande escala,
a importância da madeira na construção civil e as suas vantagens estruturais.

Durante a análise dos sistemas construtivos de dois edifícios verticais contemporâneos


de madeira foram percebidas algumas semelhanças e diferenças nesses dois sistemas. As
semelhanças encontradas nos dois edifícios como: velocidade de construção no canteiro,
leveza de transportes e economia de materiais e cronograma controlado e desperdício
mínimo.

As diferenças encontradas foram no tipo de sistema construtivo utilizado, no Edifício


Comercial Tamedia usou-se sistema de viga e pilar, já no Edifício Residencial Estudantil, laje
e pilar. Além disso, o Tamedia usou sistema de encaixe e o outro edifício usou conectores
metálicos. E por último, Edifício Residencial Estudantil usou o sistema de encapsulamento,
com o objetivo de atender aos códigos de segurança contra incêndios, pois se trata de um
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edifício habitacional com altura elevada, já o Tamedia, não usou este sistema pois não havia
necessidade por se tratar de um edifício comercial de baixa verticalidade.

Em relação ao resultado estético, no caso do Edifício Comercial Tamedia percebeu-se


uma exploração da linguaguem arquitetônica através do uso da madeira, o arquiteto procurou
explorar as potencialidades das propriedades da madeira para criar um design estrutural
único, e ele optou pela exposição da estrutura da madeira, proporcionando uma alta qualidade
espacial. Por outro lado, o Edifício Residencial não tinha como objetivo a exploração da
linguagem arquitetônica, mas sim, em como construir um edifício alto em madeira, e como era
um edificio habitacional foi necessário cobrir toda a estrutura de madeira, resultando assim
em um edifício habitacional com um design convencional.

Após a análise dos dois sistemas construtivos e o estudo sobre as características da


madeira e o aperfeiçoamento das técnicas de construção com esse material, foi concluido que
a madeira é um excelente material para a construção civil e que pode ser substituído pelo
concreto e aço, e devido aos problemas ambientais atuais cada vez mais crescentes, a
demanda pelo uso da madeira tende a aumentar no mercado.

4. REFERÊNCIAS

BERRIEL, Andrea. Arquitetura de madeira: reflexões e diretrizes de projeto para


concepção de sistemas e elementos construtivos. 2009. 363 f. Tese (Doutorado) - Curso
de Engenharia Florestal, Universidade Federal do Paraná, Curitiba, 2009. Cap. 6.

CACHIM, Paulo Barreto. Construção em Madeira. 2. ed. São Paulo: Publindústria, 2014. 188
p.

IWAKIRI, Viviane Teixeira. Projeto racionalizado de painéis verticais para edificações em


madeira no sistema plataforma semi-industrializado. 2017. 203 f. Dissertação (Mestrado)
- Curso de Programa de Pós-graduação em Arquitetura e Urbanismo - Pósarq, Universidade
Federal de Santa Catarina Centro Tecnológico, Florianópolis, 2013. Disponível em:
<https://repositorio.ufsc.br/bitstream/handle/123456789/106966/321484.pdf?sequence=1>.
Acesso em: 5 nov. 2017.

MELLO, Roberto Lecomte de. Projetar em Madeira: Uma nova abordagem. 2007. 184 f.
Dissertação (Mestrado) - Curso de Arquitetura, Universidade de Brasília, Brasília, 2007. Cap.
5. Disponível em:
<http://repositorio.unb.br/bitstream/10482/3133/1/2007_RobertoLdeMello_1.pdf>. Acesso
em: 17 mar. 2017.

ZENID, Geraldo José. Madeira na construção civil. 2017. 8 f. Monografia (Especialização) -


Curso de Biociência, Universidade de São Paulo, São Paulo, 2017.

Contatos: lidialee996@gmail.com e silvio@vsarquitetura.com.br

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