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MINI CURSO

“PROJETO E CONSTRUÇÃO EM MADEIRA ”


INO, Akemi
Professora do Departamento de Arquitetura e Urbanismo, Escola de Engenharia de São Carlos, Universidade de
São Paulo

inoakemi@sc.usp.br

HABIS – GRUPO DE PESQUISA EM HABITAÇÃO E SUSTENTABILIDADE


USP E UFSCAR

HABIS - Grupo de pesquisa em habitação e sustentabilidade


Departamento de Arquitetura e Urbanismo
Escola de Engenharia de São Carlos
Universidade de São Paulo
Av. do Trabalhador São Carlense – 400, CEP 13566-590 São Carlos-SP , Barsil
Tel/Fax: habis +55 (16) 3373 9304 / 9291/ cel: +55 (16) 97660135
√Mini-curso ELECS 2009 Recife, 28 a 30 de outubro de 2009 “Projeto e Construção em Madeira e Terra” Akemi Ino

“PROJETO E CONSTRUÇÃO EM MADEIRA ”

1. A PRODUÇÃO DA HABITAÇÃO DE MADEIRA NA PESRPECTIVA DA SUSTENTABILIDADE

Em vários países do hemisfério norte, é comum o uso múltiplo das florestas e da madeira, tanto
fornecendo produtos diretos (madeira serrada), como no uso indireto, aproveitando-se dos
benefícios do ambiente florestal (incremento de flora e fauna, produção de água potável e local
para atividades de lazer, turismo e educação ambiental) (Lima, 1993). Na maioria destes países
com recursos florestais abundantes, plantados e manejados, uma grande parte das habitações são
construídas em madeira e seus derivados.

No Brasil, apesar da oferta de madeira, das potencialidades de reflorestamento e de uma


crescente demanda por moradias, o uso da madeira na produção de habitações é ainda irrisório.
Esta questão se revela bastante complexa e envolve interesses divergentes, desde os produtores,
dirigentes públicos até os consumidores, permitindo que a madeira perca mercado para produtos
como aço, alumínio, plásticos e outros compostos, que vão se introduzindo com sucesso na
construção de edificações e nas indústrias moveleiras antes com predomínio da madeira.

A baixa utilização de madeira de reflorestamento para componentes para edificações, em


particular para habitação social, pode ser explicada por várias razões: baixo conhecimento das
potencialidades da madeira pelos empresários e dirigentes públicos; elevação dos preços da
madeira; baixa competitividade das setor madeireiro; baixa produção de madeira de qualidade
oriundas de florestas plantadas e manejadas para uso da indústria de móveis e da construção
civil; atividade florestal é vista como de baixa rentabilidade, e sempre preterida em favor de
outras alternativas, principalmente agrícola e pecuária; baixa aceitação da madeira pelos
usuários devido a tradição cultural ibérica que valoriza a alvenaria (tijolo, pedra e cimento).
Além disso, o eucalipto carrega o estigma de baixa qualidade, que racha demasiadamente e que
dificilmente pode ser usado como madeira serrada, e o pinus é visto como madeira de baixa
durabilidade susceptível a ataque de fungos e insetos.

Este cenário tende a mudar pouco a pouco as iniciativas, mesmo pontuais, vem marcando
presença em vários lugares, identificando oportunidades e desafios colocados para aumentar as
possibilidades de utilização da madeira de reflorestamento para habitação social. Neste sentido
identificam-se como desafios: 1) produção de madeira oriunda de manejo florestal ambiental,
social e economicamente adequados; 2) compreender a cadeia de produção de componentes de
madeira para habitação (as dificuldades e as possíveis causas para ajustar o processo e os
equipamentos de acordo com as características do material); 3) intervir no processo global da
produção, qualificando o pessoal, otimizando processos, modernizando equipamentos,
reduzindo perdas e custos de produção, de forma atingir níveis de qualidade e preços que
permitam ampliar o acesso a componentes e habitação em madeira.

Além disso, a perspectiva que se coloca é a produção de habitação em madeira, dentro de uma
abordagem integrada que leve em conta as interações recíprocas entre variáveis
socioeconômicas, tecnológicas, culturais e ambientais, em direção ao desenvolvimento mais
sustentável.
A madeira é um dos poucos materiais com possibilidades efetivas de se constituir uma reserva
de matéria-prima renovável, e no contexto em que os efeitos do aquecimento global se
manifestam claramente alterando as condições de vida da população global, tanto no meio
urbano como no meio rural, a ordem é reduzir os impactos causados pela construção civil, por
meio de uso de materiais com menor energia incorporada no processo de produção, com
mínimo de geração de resíduos, e principalmente uso de materiais preferencialmente locais.
Nesta perspectiva, podemos citar a madeira e a terra como uma das opções mais saudáveis
permitindo, no caso da madeira, além de, no seu crescimento realizar absorção do CO2
(seqüestro de carbono), purificando o ar, impedindo a desertificação, recuperando áreas

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degradadas, no final deste ciclo podemos colher para processar e utilizar para diversos fins,
como construir casas, transformar em móveis, brinquedos, enquanto em uso estaremos
contribuindo no estoque de carbono, e no final do seu ciclo de vida, quando não mais
desempenhar as funções para as quais foram destinadas, podemos, ou queimar para produzir
energia, ou deixar simplesmente apodrecer retornado à terra para alimentar novos plantios.
No caso da terra também pode ser aplicado este mesmo raciocínio de ciclo de vida “berço a
berço”.
3
COMPARAÇÃO DE CONSUMO DE ENERGIA PARA PRODUZIR 1 M DE MATERIAIS DE CONSTRUÇÃO [Kwh/m3]

3
Gráfico 01 - Comparativo de Energia (Kwh) necessária para Produção de 1m de Materiais de Construção
Fonte: HERZOG & NATTERER,1984

A importância em desenvolver a tecnologia da madeira se fundamenta pelo seu potencial


econômico e pela diversidade de aplicação, entretanto as perspectivas que se tem em relação ao
uso deste material pelo atual contexto internacional com preocupações voltadas às questões
ambientais parece estar contra o uso da madeira.

Mas isso não é verdade, pois desenvolver a tecnologia da madeira significa exatamente garantir
a não devastação desnecessária, minimizar o desperdício, aumentar as possibilidades de
diversificar as espécies comerciáveis, ter programa de uso sustentável das florestas associado a
política de reflorestamento, melhorar a infra-estrutura das serrarias, introduzir programas de
treinamento de mão de obra, implantar programas de conscientização da importância do uso da
madeira, enfim abrem na realidade perspectivas de melhorar as condições de vida da população,
através da utilização correta da tecnologia.

As dificuldades e entraves para esta decisão não são poucas, há necessidade de mudança de
postura, de atitude, com relação à madeira, aumentar a compreensão de um modo geral
sobretudo das características positivas nos aspectos sócio-ambientais e construtivos. E, esta
mudança deve ter como base as políticas públicas estruturadas sobre o conhecimento técnico-
científico da cadeia de produção de habitação mais sustentável, absorvendo os conceitos nas
suas várias dimensões, ambiental, social, econômico, cultural e político.

Como exemplo, o Estado de Mato Grosso na década de 90, buscou implementar um projeto
chamado Eco-moradia, idealizado pelo prefeito de Cuiabá, o Coronel Meireles, que propunha a
produção de moradias populares utilizando rejeito das serrarias em parceria com as prefeituras
locais, utilizando os recursos das taxas de reposição florestal, criaria os viveiros de mudas
comunitárias em cada núcleo habitacional. Os beneficiários destas casas pagariam com trabalho
produzindo mudas de nativas para reflorestamento e recuperação das matas ciliares.

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Alguns dados relativos ao contexto deste projeto são alarmantes, em 1994, havia, na Federação
de Junta Comercial de Mato Grosso quase 5 mil serrarias cadastradas 1, era um número
significativo, e estas serrarias produziam em média 4m3/dia de resíduo do processo de desdobro
das toras, chamada peças curtas, são peças de comprimento menor do que 2 m. Num rápido
cálculo tem-se que os 5.000 serrarias estariam gerando um volume de “resíduo” de 20.000
m3/dia, estocado no pátio das serrarias, esperando algum destino, que em muitos casos seriam
simplesmente queimados para desocupar a área de estocagem.

Baseado nestes dados as duas prefeituras, o de Cuiabá e de Marcelândia, estabeleceram


parcerias para desenvolver um sistema construtivo para produção de moradias populares
baseados em peças curtas. Num cálculo simplificado, tem-se: considerando um aproveitamento
de 50% do volume bruto de peças curtas, há disponibilidade de 10 mil m3 diária de madeira
serrada. Para construir uma habitação de madeira de 50m2, em média, consome-se 10 m32 de
madeira processada, o que significa que com 10 mil m3, descontando as perdas no
processamento (aparelhamento, destopo e entalhes) de aproximadamente 30%, tem-se um
volume de madeira para construir 700 unidades por dia.

Apesar dos cálculos simplificados, ilustra bem as possibilidades de introduzir tecnologias e


desenvolvê-las para aumentar a eficiência no uso das madeiras nativas, reduzindo os seus
impactos negativos, tanto na geração de resíduos como no uso mais sustentável das florestas
nativas. Hoje já se tem as certificações de produtos florestais e o uso legal das madeiras nativas.
Cada vez mais, estas exigências estão sendo aplicados com monitoramento mais rigoroso, o que
deve contribuir para usos mais consciente das nossas reservas florestais e preservar de maneira
equilibrada na busca de maior sustentabilidade do homem e do seu ambiente, potencializando e
valorizando assim, as características culturais de cada local.

2. NOÇÕES GERAIS SOBRE AS CARACTERÍSTICAS DA MADEIRA

2.1 SOBRE A CLASSIFICAÇÃO DAS MADEIRAS

As árvores tem em sua classificação botânica entre os vegetais do mais alto índice de
desenvolvimento, são classificadas na 13o divisão de Engler, as Fanerógamas. São plantas
superiores, de elevada complexidade anatômica e fisiológica. As Fanerógamas se subdividem,
em Gimnosperma e Angiospermas.

2.1.1. GIMNOSPERMAS

Na subdivisão das Gimnospermas, a classe mais importante é a das coníferas, também


designadas como madeiras "moles"ou "softwoods".

Estas árvores possuem folhas em formato de escamas ou agulhas, geralmente perenes e


persistentes a invernos rigorosos. São árvores típicas de climas frios, mas existem espécies
tropicais.

São conhecidas 400 espécies de coníferas, que constituem, em sua maioria, grandes florestas no
hemisfério Norete, sendo as mais empregadas na construção civil. no Brasil, há apenas duas
espécies de coníferas, o pinho-do paraná (Araucária angustifolia) e o pinho-bravo (
Podocarpus lambertii Kl.). Outras espécies são o Pinnus elliottii e o Pinus taeda da Flórida e o
Pinnus hondurensis da América Central, largamente utilizados em áreas reflorestadas no Brasil.

2.1.2. ANGIOSPERMAS

1
Dados de Fev’94, obtido a partir do trabalho realizado pelo Professor Mettelo da UFMT.
2
A média de consumo de madeira por m2 de área construída no Japão é de 0,245m3/m2, considera-se neste cálculo: a estrutura, piso,
fechamentos e o telhado, o valor considerado aqui no cálculo foi de 0,20 m3/m2.

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As Angiospermas são plantas mais completas e evoluídas, e podem ser Monocotiledôneas ou


Dicotiledôneas.

2.1.2.1. MONOCOTILEDÔNEAS

Entre as monocotiledôneas não existem árvores propriamente ditas, mas encontram-se as palmas
e as gramíneas. O bambu é classificado entre as gramíneas, não sendo uma madeira no sentido
usual da palavra.

2.1.2.2. DICOTILEDÔNEAS

As dicotiledôneas são também designadas como madeiras "duras"ou "hardwood". São árvores
de folhas comuns, largas ou "latifoliadas",algumas caducas. É extraordinariamente grande o
número de espécies existentes na zona tropical.

Algumas das madeiras masi comuns no Brasil são a aroeira, o cumbaru, a massaranduba, os
ipês, o pau d'arco, as cabreúvas, o guaratã, a sucupira, o pau marfim, as perobas, a caviúna, o
faveiro, os jacarandás, a taiúva, o louro, as canelas, as imbuias, o freijó, o cedro, o mogno, o
jequitibá, o guarapuvu, etc.

Também estão entre as dicotiledôneas, os eucaliptos, nativos da Austrália, Nova Zelândia,


Malásia e Bornéu, largamente utilizados em reflorestamentos no Brasil para a produção de papel
e celulose, carvão, dormentes, postes e mourões.

2.2. SOBRE A FORMAÇÃO DA MADEIRA

Na estrutura macroscópica da madeira se observa os seguintes elementos anatômicos:


• Casca externa: é a coberta que protege a árvore dos agentes atmosféricos, formada por
tecidos mortos;
• Casca interna:é a capa que conduz alimento das folhas aos ramos, troncos e raízes, formada
por tecidos vivos;
• Câmbio: é o tecido que se encontra entre a casca interna e a madeira, de onde se originam os
elementos anatômicos que vão constituir a madeira e a casca;
• Madeira, Lenho ou Xilema: é a parte madeirosa ou lenhável do tronco, que pode ser
dividida em medula, cerne e alburno. A medula é a parte central do tronco, mais delgada
e fraca; o cerne é a parte mais densa, menos permeável e mais resistente, tem como função
proporcionar resistência para o suporte da árvore; o alburno é a parte externa da madeira,
conduz a seiva bruta do sola às folhas, mais permeável, menos densos e sujeito ao ataque de
insetos e fungos (ver figura 01);
• Anéis de crescimento: são capas de crescimento concêntricas em torno da medula, o último
anel sempre se estende da base da árvore até a copa. Nas zonas temperadas, com estações
bem marcadas, as árvores possuem anéis bem definidos. Na primavera, quando as atividades
biológicas se intensificam resultando em crescimento mais rápido, os anéis estão maiores,
mais claros e menos densos. No outono, quando a condução de água diminui, ocorre o
fenômeno oposto, e os anéis ficam bem marcados, menores e mais densos. É o caso de todas
as coníferas. Nas espécies tropicais os anéis são quase indistintos devido ao crescimento
quase contínuo da árvore ao longo do ano;
• Raios Medulares: são canais que atravessam o tronco do centro ao exterior, formando o seu
sistema transversal. Durante a secagem se produzem rachaduras ao longo destes;
• Parênquima longitudinal: é a parte do sistema longitudinal do tronco, é mais claro que o
tecido fibroso. As madeiras com maior porcentagem de parêncuqima são madeiras com
baixa resistência mecânica e mais suscetíveis ao ataque de fungos e insetos.

2.3. PRINCIPAIS DIREÇÕES DE CORTE DA MADEIRA

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Se entende por seção transversal, o corte praticado perpendicularmente ao eixo principal do


tronco. Quando o corte se efetua de forma paralela se obterá uma seção longitudinal, que será
tangencial se ocorrer paralela aos anéis de crescimento e à casca, e perpendicular aos raios
medulares. A seção será radial se for perpendicular aos anéis e se estender da medula até a
casca. Na figura 02 estão indicadas na tora as principais direções de corte.

Para se produzir peças de qualidade estrutural, é conveniente serrar oeças em corte radial, para
reduzir as distorções e defeitos de secagem. Como o tronco é cilíndrico, isto não é sempre
possível, motivo pelo qual deve-se decidir o que se quer obter com o corte - por exemplo vigas
ou vigotas - e serrar o resto para outro tipo de componente menos exigente em sua estabilidade
dimensional.

FIGURA 01 - Corte esquemático de uma tora e suas partes

2.3. PROPRIEDADES FÍSICAS DA MADEIRA

As características físicas mais importantes da madeira são a porcentagem de conteúdo de


umidade, a densidade e a retratibilidade, que dependem do solo, clima, local de onde provém a
árvore, classificação botânica, fisiologia, anatomia do tecido lenhosos e composição química.

2.3.1. TEOR DE UMIDADE

A água contida na madeira exerce grande influência nas suas propriedades mecânicas e no
desempenho em serviço afetando a qualidade final do produto. O teor de umidade da madeira
pode ser determinado pesando uma amostra (MU), e colocando-a em estufa a 100ºC durante 48
horas e pesando-se novamente (MO). Obtém-se o teor pela seguinte expressão:

U = |(MU - MO )/ MO | x 100
U - umidade em porcentagem
MU - massa de madeira úmida
MO - massa de madeira seca

Quando se expõem a madeira ao meio ambiente, esta começa a perder água, iniciando o
processo de secagem. No decorrer da secagem se perde primeiro a água livre - a água que se
encontra preenchendo as cavidades celulares - e depois a água de impregnação - a água
contida nas paredes celulares. Segundo o conteúdo de água na madeira, esta se classifica em
verde ou seca. Ela estará verde quando perder apenas parte da livre, e seca quando perder toda a
água livre, mais parte da água de impregnação.

Existem dois valores de teor de umidade particularmente importantes:

• primeiro é o Ponto de Saturação das Fibras (PSF), que é o teor que possui a madeira

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quando perdeu totalmente a água livre e começa a perder a água de impregnação. O PSF
varia de 25 a 30%. Quando o teor de umidade da madeira é menor que o PSF, a madeira
sofre mudanças dimensionais e variam suas propriedades mecânicas.
• o segundo é a Umidade de Equilíbrio ao Ar, quando a madeira perde parte da água de
impregnação até alcançar um teor de equilíbrio com a umidade relativa do árvores.

2.3.2. RETRATIBILIDADE

A redução das dimensões por perda de umidade se dá diferentemente nos três planos
dimensionais da madeira, acarretando inclusive a retração volumétrica.

• a retração axial ou longitudinal é a menor de todas e ocorre segundo a direção das fibras da
madeira, está na ordem de 0,1%;
• a retração radial (r) se dá segundo a direção dos raios de uma seção transversal do tronco;
• a retração tangencial (t) é a maior, e se dá segundo a tangente dos anéis de crescimento
num plano transversal ao tronco.

As retrações tangencial e radial são as principais responsáveis pelas mudanças dimensionais da


madeira, e a sua relação t/r varia de 1,65 a 2,3%. A retratibilidade é, para efeitos práticos, uma
função linear do teor de umidade. Considerando ser seu valor zero quando o teor de umidade for
maior ou igual ao PSF, e K quando o teor de umidade for 0%, a retratibilidade - quando o teor
de umidade estiver entre 0 e PSF - pode ser calculada da seguinte maneira:

R= [(Uf-Ui)/PSF] x K
R - retratibilidade (inchamento ou contração) (%)
Uf - teor de umidade final (%)
Ui - teor de umidade inicial (%)
PSF - ponto de saturação das fibras (+/-30%)
K - coeficiente de retratibilidade total (%)

encurvamento arqueamento encanoamento

FIGURA 02 - Retratibilidade verificada em função da formação da madeira e tipos dedefeitos


de madeira serrada, segundo os planos de corte da tora a pós a secagem.

2.3.3. DENSIDADE

Para a relação existente entre a massa e o volume dos corpos se utiliza o termo densidade.
Quando se usa o sistema métrico, toma-se a massa pelo peso do corpo. O peso da madeira é a
soma do peso de suas partes sólidas, mais o peso da água. O volume da madeira é constante
quando está em estado verde, diminui quando o teor de umidade é menor que o PSF, e volta a
ser constante quando o teor de umidade alcançar 0%. Como consequência deste comportamento,
distingue-se três tipos de densidade para as madeiras:

• densidade verde, é a relação entre o peso verde e o volume verde;


• densidade aparente, é a relação entre o peso e o volume da madeira seca ao ar;
• densidade básica, é a relação entre o peso da madeira seca em estufa e o volume da madeira
verde. Este valor se baseia nas condições mais estáveis da madeira.

2.3.4. CONDUTIVIDADE TÉRMICA

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A condutividade térmica da madeira é diretamente proporcional ao seu teor de umidade e


densidade, e é de 2 a 3 vezes maior no sentido longitudinal às fibras que no radial ou tangencial.
A madeira é um material isolante por excelência, devido à sua consistência porosa.

2.3.5. TRANSMISSÃO E ABSORÇÃO DE RUÍDOS

Uma das principais vantagens da madeira é sua capacidade em absorver vibrações de ondas
sonoras. Porém é bem menos efetiva em isolar a transmissão de sons, já que esta propriedade
depende do peso do material, e a madeira é bem mais leve que outros materiais estrturais.

3. AS CARACTERÍSTICAS A SEREM CONSIDERADAS PARA ESCOLHA ADEQUADA DAS


ESPÉCIES DE MADEIRA NA PRODUÇÃO DE EDIFICAÇÃO

O quadro 01 apresenta as principais características da madeira a serem consideradas na escolha


da espécie. Para elaboração destes quadros tomou-se como base o trabalho realizado pelo IBDF
(1988).

Outras propriedades das madeiras, além destas características, podem ser listadas, como por
exemplo: as propriedades térmicas, elétricas e acústicas. Nesta área existem estudos realizados
no LaMEM relativos à condutividade térmica, os quais reúnem diversos métodos para a
determinação desta propriedade, apresentando resultados de algumas espécies nativas e de
eucaliptos, [UCHOA, 1989; NOGUEIRA e ROCCO LAHR, 1990].

1. C ARACTERÍSTICAS DA ÁRVORE
Altura Comercial Distância entre o corte de derrubada da árvore até diâmetro de 40cm ou
aparecimento do primeiro galho.
Diâmetro DAP Diâmetro a altura do peito -1,20m/ diâmetro a altura do sapopema.
Tronco Descrição da forma do tronco, observação direta (retilíneo ou tortuosa)

2. C ARACTERÍSTICAS GERAIS (NORMA COPANT 30:1 -019, 1973)


Cerne/alburno Distintos (cores diferentes)/ pouco distintos (cores semelhantes)/
indistintos (cores iguais)
Cor se baseia na escala padronizada para solos, Munsell Soil Color Charts
(1975), a designação é feita por nome de cor propriamente dita + código
de escala
Anéis de crescimento Distinto/ indistinto/ pouco distinto
Grã Termo empregado para indicar a direção dos elementos celulares em
relação ao eixo longitudinal do tronco: direita/cruzada (reversa, ondulada
e irregular).
Textura Característica referente às dimensões, distribuição e abundância relativa
dos elementos constituintes do lenho na seção transversal:
Fina a média/ média/ média e grossa/ grossa.
Figura Observada na superfície lixada, nos planos radial e tangencial, aspecto
resultante da diferença de cor dos anéis de crescimento, pela grã, pelo
brilho e textura (descritivo).
Brilho Sem brilho/ brilho moderado/ brilho acentuado.
Cheiro Sem metodologia específica (subjetivo): indistinto/ característico/ fraco/
desagradável/ agradável.
Resistência ao Corte Observação realizada através de pressão manual, efetuada com
Transversal Manual ferramentas cortantes (subjetivo): macia/ moderadamente dura/ dura.

3. PROPRIEDADES FÍSICAS E MECÂNICAS (COPANT/ASTM D-143/52)


Propriedades Físicas
densidade básica Classificação quanto ao peso:
densidade seca 1) muito pesado; 2) pesada; 3) médio; 4) leve; 5) muito leve.
densidade verde
Contração tangencial é determinada a variação das dimensões em função da umidade, do

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Contração radial estado de saturação das fibras até 0% de umidade, são classificadas em:
Contração volumétrica alta; média; e baixa.

Propriedades Mecânicas
Flexão Estática/ Compressão Paralela e Normal/ Dureza Janka/ Tração Paralela e Normal/ Fendilhamento
/ Cisalhamento.

4. C ARACTERÍSTICAS DE PROCESSAMENTO
Tratabilidade  São classificadas em função da penetração e retenção do líquido
preservativo na amostra (Tratamento sob pressão):
muito fácil; fácil; moderadamente fácil; difícil; não tratável
Facilidade de Secagem  Classificação da tendência de aparecimento de defeito na
secagem: ausente (0 -10% ); pequena (11- 30% ); moderada (31- 50%
); grande(51-100%).
 Classificação por tempo de secagem (IBDF 1981): muito rápida (
< 4 dias); rápida (4 - 8 dias); moderadamente rápida (8,1-12 dias);
moderadamente lenta (12,1 - 16 dias); lenta (16,1-20 dias); muito lenta
(> 20 dias)
Trabalhabilidade  Classificação por % de amostras sem defeitos nos testes
Teste de Processamento realizados com diversos equipamentos:
Teste de Acabamento muito ruim ( 0 - 19%) ruim (20 - 39%) regular (40 - 59%) bom (50 -
Teste de Superfície 79%). excelente (80 - 100%)
FONTE: IBDF/DPq - LPF, 1988
QUADRO 01- Características a serem consideradas para escolha da espécie
A partir dos critérios de classificação colocados no quadro 01, o quadro 02 apresenta as
propriedades físicas de algumas madeiras mais conhecidas; o quadro 03 apresenta as
propriedades mecânicas e o quadro 04 apresenta as características de processamento de algumas
espécies mais conhecidas.

PROPRIEDADES FÍSICAS: DENSIDADE E CONTRAÇÃO


Contração Contração
Espécies de Madeira Densidade/ Classif. Radial/Classif Tangencial/ Classif.
3
Maçaranduba 1000 kg/m muito pesada 6,8% Alta 11,0%Média
3
Jatobá 960 kg/m muito pesada 3,1% Baixa 7,2% Baixa
3
Peroba 790 kg/m / pesada 4,0% Média 78% Média
3
Pinho do Paraná 550 kg/m / Leve 4,0% Média 7,8% Média
3
Eucalipto Citriodora 990 kg/m /muito pesada 7,1% Alta 10,5%Alta
3
Eucalipto Grandis 550 kg/m / Leve 5,5 % Média 11,6 % Alta
3
Pinus 460 kg/m / Leve 3,2 % Baixa 5,3 % Baixa
Fonte: IPT Fichas de Características da Madeira Brasileira,1989;Resultados de Ensaios do LaMEM/SET/EESC-USP

QUADRO 02-Propriedades de densidade e contrações radiais e tangenciais com as respectivas


classificações

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PROPRIEDADES MECÂNICAS
Compressão Flexão Módulo de Elasticidade
2 2 2
Espécies de Madeira (kgf/cm ) (kgf/ cm ) (kgf/ cm )
Maçaranduba 610/ Alta 1.193/ alta 150.600/ Alto
Jatobá 683/ alta 1.342/ alta 151.300/ Alto
Peroba 424/ média 899/ média 94.300/ médio
Pinho do Paraná 268/ baixa 609/ média 109.300/médio
Eucalipto Citriodora 611/ alta 1.301/ alta 168.600/ alto
Eucalipto Grandis 385/ média 894/ média 125.800/ médio
Pinus 173/ baixa 417/ baixa 54.800/ baixo
Fonte: IPT Fichas de Características da Madeira Brasileira,1989; Resultados de Ensaios do LaMEM/SET/EESC-USP

QUADRO 03- Propriedades para madeira verde: resistência à compressão paralela, flexão e módulo de
elasticidade com as respectivas classificações

CARACTERÍSTICAS DE PROCESSAMENTO
Espécies Tratabilidade Trabalhabilidade Secagem
Jatobá Cerne não tratável regular a boa na plaina e lixa rápida, usar
excelente na broca e torno programa suave
Maçaranduba Cerne não tratável Excelente em torno e broca rápida usar
programa suave
Fonte: IBDF Madeiras da Amazônia- Características de Utilização,1988

QUADRO 04- Características de processamento de algumas espécies mais conhecidas

A durabilidade natural é uma outra característica a ser ressaltada, principalmente para


algumas madeiras nativas, sendo apresentada nas fichas de caracterização do IPT, [MAINIERE,
1989]. O quadro 05 apresenta dados sobre durabilidade natural de algumas espécies atualmente
mais utilizadas.

Nome vulgar e Durabilidade natural ao ataque biológico Recomendações quanto ao


Nome científico e permeabilidade ao tratamento principal emprego de madeiras
preservativo em edifícios
Maçaranduba ou Paraju .resistência alta à moderada ao sem tratamento: assoalho; estrutura
Manilkara longifolia apodrecimento da cobertura; elementos externos

Jatobá ou Jataí Peba . resistência média a alta ao ataque de sem tratamento: assoalho; estrutura
Dialium Guianense organismos xilófagos da cobertura; elementos externos
. baixa permeabilidade

Peroba rosa .baixa resistência ao ataque de organismos sem tratamento: acabamento


Aspidosperma polyneuron .baixa permeabilidade ao tratamento interno
Muell preservativo sob pressão com tratamento: esquadria;
assoalho; estrutura da cobertura

Pinho do Paraná .baixa resistência ao apodrecimento c/ tratamento: acabamento interno;


Araucaria angustifolia .alta permeabilidade ao tratamento miolo de porta; estrutura de cobertura
preservativo sob pressão

Cupiuba .alta resistência ao ataque de organismos sem tratamento: acabamento


Goupia glabra xilófagos interno; assoalho; estrutura de
.moderada permeabilidade ao tratamento cobertura; elementos externos;
sob pressão fundação em contato c/ o solo

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Eucalipto Citriodora .moderada resistência ao ataque de sem tratamento: acabamento


Eucalyptus Citriodora organismos xilófagos interior
.moderada permeabilidade com tratamento: esquadria;
assoalho; estrutura da cobertura
Eucalipto Grandis .moderada resistência ao ataque de sem tratamento: acabamento intern;
Eucalyptus Grandis organismos xilófagos com tratamento: esquadria;
.moderada permeabilidade ao tratamento assoalho; estrutura da cobertura.
sob pressão

Pinus .baixa resistência ao ataque de organismos com tratamento:


Pinus spp xilófagos .acabamento interno
.alta permeabilidade ao tratamento sob .caibro, ripa e sarrafo
pressão

Fontes: IPT ( 1981) – Relatório 16.277, ANEXO B Recomendações Técnicas / emprego de madeiras em edifícios
IPT (1989) – Ficha de Características das Madeiras Brasileiras

QUADRO 05- Características de durabilidade natural e permeabilidade ao tratamento preservativo de


algumas espécies mais conhecidas e respectivos usos

4. TIPOS DE MADEIRA DISPONÍVEIS NO MERCADO (TORAS, MADEIRA SERRADA, MADEIRA


TRANSFORMADA)

O emprego de toras de madeira na construção civil normalmente se encontra na sua maioria no


setor de eletrificação rural e em construções rurais. Atualmente este mercado é abastecido por
eucalipto, em particular o E. citriodora, o qual apresenta comportamento bastante adequado com
diminuta tendência à rachadura de topo e com alta resistência mecânica e o fuste mais retilíneo.
No quadro 06 estão apresentadas as denominações utilizadas na comercialização de eucaliptos
tratados sob pressão.

Nome Diâmetro de topo Comprimento


postes 9 - 21 cm 7 - 20 m
mourões 9 - 16 cm 2m
esticadores 16 - 20 cm 2,5 m

QUADRO 06 - Denominação utilizada no mercado de postes para eletrificação e construções rurais

Madeira lavrada: madeira bruta, rústica normalmente em seção quadrada, trabalhada,


artesanalmente, com enxó, machado, ou facão para retirar a casca e costaneira. É chamada
também de madeira falquejada.

Devem ser tomados alguns cuidados para este tipo de madeira, que é quase sempre madeira de
Lei, as quais se prezam pela grande durabilidade natural, mas devem ser observadas se não há
presença de "brancal", o alburno, madeira jovem mais vulnerável aos ataques de fungos e
insetos.

As seções comerciais variam bastante, pois fica a critério do projetista e da disponibilidade do


fornecedor, normalmente este tipo de madeira são pedidos diretamente da serraria.

Existem no mercado disponíveis as seguintes bitolas comerciais com as denominações


empregadas no comércio de madeira, ver quadro 07.

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nomenclatura espessura (e) largura (l) dimensões

pranchões > 7 cm > 20 cm 7,5 x 20; 25; 30 cm


10 x 20; 25; 30 cm
15 x 20; 25; 30 cm
prancha 7 > e < 4 cm 20 > l < 11 cm 4 x 20; 30 cm

vigas > 4 cm 8 < l > 11 cm 6 x 12; 16 cm

caibros 4 < e < 8 cm 5 < l < 8 cm 5 x 6; 8 cm

tábuas 1< e < 4 cm > 10 cm 2,5 x 10; 15; 20; 25; 30 cm


1,25 x 15; 20; 25; 30 cm
sarrafo 2 < e < 4 cm 2 < l < 10 cm 3,8 x 7,5; 2,2 x 7,5 cm
2,5 x 5 cm
ripa <2 <10 1,2 x 5; 1,5 x 5 cm

cordão - - 1,5 x 1,5 cm

pontalete - - 7,5 x 7,5 cm

QUADRO 07 - Denominação utilizada no mercado de madeira serrada no estado de São Paulo

4.2. DERIVADOS DE MADEIRA: TIPOS DE MADEIRA INDUSTRIALIZADA

Além das madeiras maciças outro grande mercado é a das madeiras transformadas ou
industrializadas ou ainda também chamados de derivados de madeira. Este setor se apresenta
crescente tendo em vista um maior aproveitamento da matéria-prima. Nos países mais
avançados o consumo de chapas por habitante é maior do que o consumo de madeira bruta,
sendo que para o Brasil esta situação se inverte, ainda a grande maioria do consumo de madeira
pertence a madeira bruta destinada para carvão e lenha.3

CLASSIFICAÇÃO COMPOSITOS DE MADEIRA

madeira maciça

madeira modificada

compósitos em camadas
laminação paralela
• MLC - Madeira Laminada Colada
• LVL - Laminated Veneer Lumber
laminação cruzada
• chapa de compensado
• chapa mistas lâminas com chapas de partículas orientadas
• madeira reforçada
• painéis sanduíche
compósitos em fibras
• chapas isolantes
• MDF - Medium Density Fiber
• chapas duras

compósitos em partículas
• chapas de partículas
• aglomerada
• OSB- oriented strand Board
• waferboard

3
Existem dados sobre o consumo de madeira no Brasil - SBS - SOCIEDADE BRASILEIRA DE SILVICULTURA. A
sociedade brasileira e seu patrimônio florestal. São Paulo, 1990. 19p.

12
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4.2.1. AS CARACTERÍSTICAS PRINCIPAIS DE CHAPAS EM GERAL:

• Grandes superfícies contínuas, sem defeitos


• Aproveitamento mais eficiente das características estéticas das madeiras de maior beleza,
texturas, desenho dos veios
• Estabilidade dimensional, por seu processo industrial de maior controle de produção, diminui
a influência da umidade.
• Alta resistência à rachadura e empenamento, devido à uniformização das propriedades
diferenciadas nas três direções.
• Aproveitamento integral da árvore
• Boa resistência mecânica
• Regularidade na espessura e nas dimensões laterais

As principais aplicações:
Painéis, fechamentos, piso, forro, mobiliários, uso estrutural, esquadrias e outros.

4.2.2. TIPOS DE CHAPAS:

A variedade de tipo e especificação de uso das chapas de madeira coladas no mercado é grande,
exigindo dos profissionais e projetistas o conhecimento das suas principais características de
desempenho para a sua correta aplicação.

Chapa de compensado é o nome dado à chapa composta de um determinado número de finas


lâminas de madeira, coladas entre si, tendo as fibras de lâminas adjacentes defasadas de 90o,
normalmente estes são em número ímpar, apresentando como principal vantagem:

• homogeneização de características;
• obtenção de maiores áreas;
• efeito estético;
• equilíbrio de resistência e da rigidez nas duas direções;
• substituição de elementos de madeira serrada mais espessos e mais pesados;
• grande redução da retração;
• melhor aproveitamento da madeira (a partir da tora).

Chapas de fibras de madeira são aquelas produzidas a partir de desfibramento de materiais


lenho- celulósicos e com adição de alguns produtos químicos são prensados, e de acordo com a
sua densidade podem ser classificadas em chapas isolantes e chapas rígidas.

chapas isolantes
• densidade inferior a 400 Kg/m3;
• coloração variando do bege claro ao bege escuro;
• relativamente moles e facilmente punçáveis;
• utilização na construção civil: isolamento térmico e acústico.

chapas rígidas
• tipo normal: densidade 950 Kg/m3;
• tipo temperada densidade inferior a 1000 Kg/m3;
• superfície lisa e dura - acabamento;
• possível tratamento anti-chama;
• diversos acabamentos superficiais - revestimentos;
• chapas com pequenos orifícios ou rasgos;
• fabricação de portas (estrutura sarrafeada);
• fabricação de divisórias;

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• fabricação de "sidings";
• forros, pisos, vedações verticais e horizontais;
• evitar a utilização em locais com elevada umidade;
• evitar a utilização quando submetido a impactos mecânicos.

MDF - Medium Density Fiber, chapas formadas por fibras de madeira de média densidade (600 -
700 Kg/m3), tem como principal característica ser um produto homogêneo em toda a sua
superfície sendo lisa, plana, densa, livre de nós e granulometria constante, que permitem
operações de acabamento com qualidade e boa trabalhabilidade.

Propriedades do MDF

• produto homogêneo, uniforme, estável, denso;


• superfície plana e lisa;
• boa trabalhabilidade;
• possibilita usinagem complexa;
• acabamento com qualidade superior a outras chapas;
• ideal para receber revestimentos (pintura, papel, lâminas de madeira ou PVC, inclusive
moldagem a quente)
• coloração variando do bege mais claro (pinus elliotti) ao bege menos claro (pinus radiata);
• alta usinabilidade: encaixar, entalhar, cortar, parafusar, perfurar e moldurar;
• economia: redução do uso de tintas, tingidor, laca e vernizes em torno de 38%;
• economia - consome apenas 50 gramas de cola por metro quadrado, enquanto outros painéis
maciços exigem em torno de 200 gramas.

Chapas de partículas, mais conhecidas como aglomerados são formados por partículas de
granulometria variada, as quais são aglutinadas com adesivos sob pressão e calor, sendo na sua
maioria não resistente a ação da umidade, normalmente são utilizados como base para receber
laminados, lâminas de madeira.

Chapas de flocos, as partículas da madeira utilizada na manufatura possuem dimensões maiores


do que as usadas para o aglomerado, assumindo a forma de flocos. Como as partículas são
maiores, torna-se necessário uma exigência maior quanto a qualidade da madeira a ser utilizada,
as quais devem possuir estrutura fina com fibras retilíneas, garantindo maior integridade às
partículas.

Waffer Board - Chapas de flocos não orientados formados por pequenas e finas folhas de
madeira.

OSB (oriented strand Board) - chapa de flocos orientados composta de 3 ou 5 camadas


alternadas, cujos direcionamentos das partículas são defasados de 90o, como é feita com as
lâminas das chapas de madeira compensada.

Propriedades do OSB

• aumento da estabilidades da chapa;


• aumento da resistência a flexão no sentido de orientação das partículas;
• tendência de interrupção da fabricação do Waffer Board em função das vantagens do OSB.

No quadro 08 estão apresentadas as chapas mais comumente encontradas no mercado nacional


com as dimensões também mais usuais e com algumas especificações de desempenho.

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Tipos Especificação Dimensão (m) Espessura (mm)


Compensado à prova d'água 1,60 x 2,20 3,4,5,6,8,10,12,15,18, 20,
25, 30
resistente à umidade 1,10 x 2,20 6,10,12,14, 17, 20
p/forma -resinada
p/forma-plastificada 1,22 x 2,44 6,10,12,14,17,20
Fibra mole 1,22 x 1,22; 12,7; 25,4
dura 2,44x1,22
chapa base 1,22 x 2,13;2,44;2,75; 3; 4; 6,4;
1,22 x 3,00 2,5; 9 mm
MDF Média densidade
Partículas aglomerado 1,83x 5,50;2,70;1,83 8;10;12;15; 18; 20; 22;50
OSB flocos orientados
Waffer Board flocos não orientados
Fonte: Tonissi, J.L. Aplicação das Chapas na Construçào Civil. Trabalho de mestrado.

QUADRO 08 - Tipos de chapas e respectivas dimensões comerciais e algumas características de


desempenho

MLC - Madeira Laminada Colada - Tábuas de madeira de pequenas dimensões, coladas para se
obterem peças estruturais.

VANTAGENS
• racionaliza o emprego da madeira utilizando espécies de reflorestamento ou mesmo espécies
nativas sub-utilizadas estruturalmente;
• construção de grandes elementos estruturais a partir de tábuas;
• redução de defeitos normais em peças maciças de maior dimensão;
• a pré-classificação das lâmina permite a utilização da madeira de menor resistência nas
regiões menos solicitadas;
• permite a pré-fabricação de elementos estruturais;
• permite a aplicação de contra-flechas durante a fabricação;
• pode ser construída peças com qualquer forma e tamanho condicionado ao espaço disponível
na fábrica e às condições de transporte.

DESVANTAGENS
• custo elevado se comparado a madeira maciça;
• custo do adesivo, necessidade de técnicas e equipamentos especiais e mão-de-obra
especializada;
• acréscimo no custo do transporte, principalmente quando se trata de grandes elementos
estruturais.

LVL - Laminated Veneer Lumber, é composto pela sobreposição de lâminas de madeira por
adesivo a prova d'água ou resistente a água, em geral os mesmos utilizados no compensado. Ao
contrário do compensado o LVL é prensado com as lâminas sempre na mesma direção. A
produção de LVL é feita com lâminas leves ou de média densidade, e em geral utiliza-se
lâminas da mesma espécie de madeira. A tabela apresenta as principais espécies utilizadas para
a produção de LVL.

nome tipo de lâmina espessura (mm)


Carvalho branco faqueado 6,4
Acácia laminado 2,5
Red maple laminado 4,2
Sugui laminado 2,5

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Eucalipto laminado 2,5


Gmelina laminado 2,5
Pinus elliotti laminado 3,2
Pinus taeda faqueado 4,8 - 9,5
Pinus taeda laminado 4,2
Pinus taeda laminado 3,2
Fonte: MATOS (1997).
QUADRO 09 - Espécies utilizadas na produção de LVL

fonte: KERTO, 1998.


FIGURA 03 – Processo de produção de LVL

Além destas chapas existem as variações como os contraplacados que podem também ser
denominados de chapas mistas, pois normalmente são compostos de lâminas, chapas de
partículas ou chapas de fibras com miolo de madeira maciça.

PRINCÍPIO BÁSICO:

"Maximizar o desempenho no uso com o mínimo de material a um


custo menor na manufatura"

Existem no mercado brasileiro os seguintes tipos de contraplacados:

• Chapas Sarrafeadas - Duratex Agudo - uso em movelaria, divisória interna, composição


variado;
• Bloc Board - Duratex tipo exportação. Porta corta-fogo/ Inglaterra - Composição: chapa de
pinus laminado vertical;
• Painél Wall - Composição chamada de cimento amianto + lâmina de madeira + sarrafos de
pinus laminado vertical;
• MadBloc- Madeirit - Composição chapa de compensado de acabamento + sarrafos de pinus
laminado vertical.

Outra variação são as chapas de madeira mineralizada, formadas por finas tiras de madeira
embebidas em cimento e posteriormente prensado em forma de placa, tem razoável
característica resistente e apresenta um bom desempenho como material isolante. No mercado
nacional o único fabricante é a ERKLIT no sul do país.

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5. CONDIÇÕES DE EXPOSIÇÃO, EXIGÊNCIAS DE USUÁRIOS E REQUISITOS DE DESEMPENHO

5.1 CONDIÇÕES DE EXPOSIÇÃO EM EDIFICAÇÃO DE MADEIRA

As edificações em madeira, seus elementos (fundações, estrutura, vedações, instalações, etc.) e


seus componentes (pilares, vigas, esquadrias, assoalho, forro, etc.) estão sujeitas a diferentes
tipos de ações devido a fenômenos de origem natural (ação do vento, da radiação solar, da
chuva, do calor, etc.) e a utilização da edificação (ações de cargas permanentes e acidentais, do
fogo, do ruído, de ataques de insetos xilófagos, etc.). O quadro 10 apresenta os diferentes tipos
de condições de exposição, os respectivos efeitos e as consequências prováveis para a casa de
madeira.

Condições de Exposição Efeito Consequências Possíveis


• Proximidade com solo Acúmulo de umidade Aparecimento de bolores e fungos
• Proximidade com áreas
molhadas
• Ação da chuva
• Ausência do sol
• Ação do sol e raios ultra- violeta Agressão foto- química Descoloração
Aumento de temperatura Modificação dimensional
• Ação do Vento Erosão das ligninas Desgaste da superfície
Penetração de ar Diminuição da estanqueidade à água e ar

• Presença de insetos Alterações nas Perda de estabilidade estrutural


propriedades físicas e
mecânicas

QUADRO 10 - Condições de exposição e respectivos efeitos e consequências nas edificações de madeira

5.2. EXIGÊNCIAS DOS U SUÁRIOS

A maioria dos usuários no Brasil possui uma série de preconceitos em relação a uso da madeira.
Entre estes é comum ouvir as seguintes frases: “a madeira apodrece” ; “a madeira pega fogo”;
“a madeira não dura”; “a madeira empena”, “..é frágil”, “...é cara”; “a casa de madeira é
quente”; “na casa de madeira escuta conversas”; “ Para cada tipo de preconceito já existe na
literatura, estudos, recomendações, técnicas que visam diminuir/eliminar estes preconceitos.

A habitação em madeira como outros tipos de materiais deve atender as exigências dos usuários
definidas pela ISO 6241 (Performance Standard in Building: principles for their preparation
and factors for inclusion). O quadro 11 apresenta as exigências dos usuários.

1 Exigência de segurança estrutural: estabilidade e resistência mecânica

2 Exigência de segurança ao fogo: limitações do risco de início e propagação de um incêndio,


segurança dos usuários

3 Exigência de segurança a utilização: segurança dos usuários e segurança de intrusões

4 Exigências de estanqueidade: estanqueidade aos gases, aos líquidos e aos sólidos.

5 Exigência de conforto higrotérmico: temperatura e umidade do ar e das paredes

6 Exigências atmosféricas: pureza do ar e limitação de odores.

7 Exigência de conforto visual: aclaramento, aspecto dos espaços e das paredes, vista para o
exterior.

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8 Exigência de conforto acústico: isolamento acústico e níveis de ruído.

9 Exigência de conforto tátil: eletricidade estática, rugosidade, umidade, temperatura da


superfície.

10 Exigência de conforto antropodinâmico: acelerações, vibrações e esforços de manobras.

11 Exigência de Higiene: cuidados corporais, abastecimento de água, eliminação de matérias


usadas.

12 Exigência de adaptação à utilização: número, dimensões, geometria e relações de espaços e


de equipamentos necessários.

13 Exigência de durabilidade: conservação do desempenho ao longo do tempo.

14 Exigência de economia: custo inicial e custos de manutenção e reposição durante o uso.

Fonte: SOUZA,1984
QUADRO 11 - Exigências dos usuários segundo a ISO 6241.

Dentre as 14 exigências apresentadas serão comentadas àquelas relacionadas com os


preconceitos citados anteriormente:

Segurança estrutural "a madeira é fraca"


Segurança ao fogo "a madeira queima"
Durabilidade "a madeira não dura"
Segurança contra intruso "a madeira é frágil"
Conforto térmico "a casa de madeira é quente"
Conforto acústico "na casa de madeira escuta conversas"
Economia "a madeira é cara"
Conforto Visual "aquele barraco... " "aquele chalé... "

5.2.1. SEGURANÇA ESTRUTURAL

Esta exigência é considerada uma das principais prioridades. Para atendê-la é necessário o
dimensionamento das peças e ligações levando em conta: a espécie; o sistema construtivo
adotado; as cargas atuantes; etc. (NBR 7190/1996 - Projeto de Estruturas de Madeira).

5.2.2. RESISTÊNCIA MECÂNICA DA MADEIRA COMPARADA COM OUTROS MATERIAIS

Se considerarmos a sua resistência mecânica em relação ao seu peso é um dos materiais mais
resistente, veja o gráfico comparativo:
2500

Compressão
2000

1500
Tração
1000

500

Aço Alumínio Granito Mármore Concreto Madeira

GRÁFICO 02 - Comparativo da relação Resistência/Peso (kgf/cm2/peso)

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5.2.3. SEGURANÇA CONTRA FOGO

Esta exigência pertence também ao grupo considerado prioritário para a segurança. No Brasil, o
estudo sobre o tema é recente, principalmente com relação à construção em madeira. O IPT
apresenta alguns trabalhos pioneiros de ensaio em protótipos de edificações, iniciado na década
de 80. Foram realizadas experiências em casas isoladas de madeira, a fim de analisar o
comportamento da ação de fogo [BERTO e LIMA/IPT, 1988]. Neste artigo estão apresentados
alguns pressupostos básicos relativos à segurança contra o fogo em habitação de madeira,
colocando duas metas: garantia da segurança dos ocupantes e a prevenção de conflagração. Este
último tem como objetivo diminuir os riscos de incêndio e a sua propagação.

A UEAtc, União Européia para a Apreciação Técnica na Construção, no documento "Diretrizes


Comuns UEAtc para a Homologação de Casas Leves de Madeira" (1979), coloca como objetivo
principal, a possibilidade de evacuação dos ocupantes. Os elementos resistentes devem manter a
estabilidade durante 15 minutos no caso de casas térreas e isoladas. Para as casas de dois
pavimentos, o piso do segundo pavimento deve ter efeito corta- fogo por 15 minutos, mantendo-
se por 30 minutos, se este suportar as paredes. Partindo destas exigências, pode-se fazer uma
rápida análise, do ponto de vista do material madeira, em relação ao seu mecanismo de
combustão.

O processo de combustão da madeira é bastante complexo. Apesar da chama, a madeira não


entra em combustão diretamente. A combustão da madeira se inicia com a evaporação da água
(~ 100 0C) passando para a decomposição por pirólise da madeira e transformando-se em gases
(200 - 280 0C). Ao atingir o ponto de ignição (232 a 260 0C), se inicia a combustão da camada
mais superficial. O avanço da combustão se apresenta inicialmente vigoroso, mas com a
formação da camada isolante de madeira carbonizada (1/3 da condutibilidade da madeira), esta
diminui o fluxo de calor, dificultando o avanço da combustão para a parte central da peça
[LEPAGE, et al. 1986].

A velocidade de combustão da madeira é da ordem de 0,6 mm/minuto (NAGATANI,1990).


Supondo constante a velocidade, e sem considerar as variáveis de forma, espécies, etc, pode-se
estimar a espessura da camada a ser consumida pela combustão em 30 minutos: 0,6mm x 30
minutos = 18mm.

Sem dúvida, esta é uma análise simplista, mas indica a potencialidade deste material sob a ação
do fogo. Nos países europeus, a Norma exige que o dimensionamento das partes destinadas à
estrutura das construções de madeira seja feita considerando o risco de incêndio, especificando
as seções maiores.

O combate contra a ação do fogo deve receber um tratamento global, desde os cuidados de
detalhes construtivos até a implantação das unidades, passando pelas conscientização dos
usuários, ou seja, este assunto merece um estudo mais global e detalhado.

Comparando a sua resistência ao fogo com outros materiais como metal, apresenta um
desempenho superior e pode-se dizer que é único material que se dimensiona contra fogo
aumentando dimensão da seção resistente, conferindo assim uma segurança maior para que a
estrutura permaneça intacta sem entrar em colapso.

Temperatura Metal Madeira


o Começa deformar, diminuindo a Começa o risco de pegar fogo,
260 C
resistência mecânica intacta
sua capacidade resistente
o o Perde totalmente a sua Início da combustão
420 C - 450 C
capacidade resistente, a
estrutura entra em ruína

QUADRO 12 - Comparativo de comportamento de dois materiais em relação à temperatura

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Uma das precauções a serem tomadas para o projeto de madeira ser resistente ao fogo é a
utilização das peças principais resistentes com dimensões maior do que 5 cm, a menor face. Na
implantação da edificação no lote, deve ser vista o recuo existente entre outra unidade, para que
não ocorra a transferência da chama via aberturas, no caso de incêndio. Nos países com a
tradição construtiva em madeira existem Normas bem definidas que orientam as implantações
de conjuntos habitacionais com casas de madeira. A melhor forma para combater o surgimento
do foco de incêndio é a conscientização dos moradores quanto ao uso de casa de madeira.

5.2.4. DURABILIDADE

DURABILIDADE DE UMA EDIFICAÇÃO DE MADEIRA

Os princípios básicos:

• Evitar o acúmulo de umidade;


• Garantir a ventilação para evaporação da umidade;
• Garantir a estabilidade dimensional em uso;
• Medidas de proteção contra ataques de fungos e insetos (tratamento preservativo)

Para atender estes princípios é necessário a atuação nos 3 níveis:

1. Soluções de projeto
2. Tratamento preventivo
3. Manutenção.

Entender as características resistentes do material madeira é essencial para a sua correta


utilização, para a escolha de técnicas preventivas de proteção e para definir os detalhes
construtivos. O projetista deverá conhecer também a cadeia produtiva da edificação de madeira,
considerando a importância do controle de variáveis em cada etapa do processo (derrubada,
retirada da árvore da floresta, transporte, armazenamento, desdobro, secagem, usinagem, pré-
fabricação e montagem no canteiro) para garantir a durabilidade da edificação.

5.2.4.1. OS PRINCIPAIS AGENTES DE DETERIORAÇÃO

Para garantir a durabilidade da madeira, além de entender a cadeia produtiva para intervir em
todas as etapas, é necessário compreender o processo de deterioração. Quais e em que condições
a deterioração pode ocorrer. A madeira como material proveniente da natureza biológica
apodrece, queima, envelhece sob a ação dos agentes físico-químico e biológicos. No quadro 11
estão apresentados os danos causados pela ação dos agentes biológicos e físico-químico na
madeira.

Agentes biológicos danos causados

MICROORGANISMO

bactérias e bolores atacam a madeira verde e abrem caminhos para a colonização dos fungos

fungos manchadores atacam a madeira verde (o problema é apenas estético)

existe para madeira verde e seca, causa estrago na sua estética e provoca
fungos apodrecedores queda de resistência mecânica e peso.

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INSETOS

atacam árvores vivas, madeira verde, afetando as propriedades físico-


coleópteros mecânicas e provocando até a morte.

atacam tanto madeira verde como seca, e afetam as propriedades físico-


cupins mecânicas

BROCAS MARINHAS

atacam a madeira imersa em água salgada, destruindo a estrutura da


moluscos e crustáceos madeira.

Agentes Físicos e Químicos

ação conjunta dos raios ultravioleta, calor, umidade e partículas abrasivas;


intemperismo natural provocam o envelhecimento da madeira exposta; não afeta a estrutura.

sob alta temperatura, a madeira se decompõe por pirólise em produtos


voláteis e combustíveis para depois entrar em combustão. Destrói a
fogo madeira.

Fonte: IPT, Manual de Preservação, 1986

QUADRO 13 - Classificação dos agentes de deterioração da madeira e os danos causados.

Os fungos são agentes biológicos que necessitam de determinadas condições para a sua
colonização e desenvolvimento. Eliminada uma destas condições, este cessa a sua ação
biológica. No quadro 14 estão apresentadas as quatro condições básicas para o desenvolvimento
dos fungos.

mínima média máxima


o
temperatura ( C) 3 24-36 45
conteúdo de umidade da madeira 25% 80% 200%
umidade relativa do ar >85%
alimento celulose/ lignina, amido
oxigênio ar
fonte: Centro de Tecnologia da Madeira do Japão, 1982.

QUADRO 14- Condições ideais para o desenvolvimento dos fungos

Dentro destas condições, podem ser controladas as duas variáveis: a umidade na madeira e a
oferta de alimentos. Ou seja, pode-se evitar o ataque dos fungos, deixando sempre a madeira no
estado seco ou envenenado com aplicação de produtos fungicidas.

5.2.4.3. TÉCNICA DE TRATAMENTO PRESERVATIVOS

Os processos de tratamento preservativos da madeira, normalmente consistem em uma


aplicação ou introdução de algum tipo de preservativo (líquido) para promover uma melhoria no
desempenho da madeira.

Podem ser classificados em três tipos:

1. Tratamento preventivo contra insetos e fungos


2. Tratamento para melhorar o comportamento contra a ação do fogo
3. Acabamento superficial para melhorar o desempenho contra ação de intempéries.

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Algumas recomendações para as etapas até o tratamento preservativo.

etapa 1 - DERRUBADA DE ÁRVORE E TRANSPORTE


Nesta fase, as toras apresentam alto teor de umidade, acima do ponto de saturação e as tensões
de crescimento liberadas, com tendência para o fendilhamento e início de processo de secagem
através das suas extremidades. Devem ser tomados os seguintes cuidados:

> secagem à sombra com casca


> manter distante do chão
> aplicação do material selante nas extremidades
> aspersão de fungicidas, nas áreas expostas (topo e áreas de desgalhe),
dentro de 24 horas.

No transporte os cuidados devem ser para não remover a casca, para manter protegido da
incidência direta do sol e do contato ar com o ar. Nas regiões de grande incidência de insetos
xilófagos, a aplicação de inseticida em toda a extensão da tora é recomendada.

etapa 2 - ARMAZENAMENTO NO PÁTIO/SECAGEM


São diversas as formas de armazenamento de toras. A secagem deve ser processada de maneira
lenta sem criar grandes gradientes de umidade. Suas formas são:
>Armazenamento à sombra com entabicamento. Neste processo é recomendada a pulverização
de fungicida e inseticida nas toras, antes do empilhamento, procurando remediar os eventuais
danos causados durante o transporte (2a. pulverização).
>Armazenamento com aspersão cíclica de umidade ou imersão em água. Ambos protegem
contra a ação de fungos pela eliminação de oxigênio gasoso e ao mesmo tempo, este processo
evita o aparecimento de rachas.

Segundo os estudos realizados por Jankowsky & Aguiar (1986), a segunda maneira de
armazenamento reduz as tensões de crescimento, sendo interessante método de armazenamento
para toras destinadas ao desdobro ou à laminação. Portanto, para a madeira ro liça fica
recomendada a primeira forma de armazenamento.

etapa 3 - TRATAMENTO PRESERVATIVO


Existem diversos processos de tratamento preservativo. A literatura relativa ao assunto é ampla
[LEPAGE et al, 1986; MILANO, 1986], e outros. Entre os métodos preventivos, podem ser
agrupados dois tipos principais: processos sem pressão ou caseiros e processos com pressão ou
industriais. No Quadro 13 é apresentada uma síntese dos diversos processos de tratamento.

Algumas das soluções caseiras são bastante eficientes, por exemplo o tratamento de Banho
Quente- Frio para os moirões de E.saligna apresentou excelentes resultados alcançando uma
durabilidade de 17-19 anos [MAINIERI e GHILARDI, 1974]. Ótimo resultado foi alcançado
com a técnica de remoção mecânica do alburno, praticamente equivalente ao resultado do
tratamento com banho quente- frio, [CAVALCANTE e MILANO, 1984].

Tratamento de difusão por transpiração radial também apresenta bons resultados. Entretanto a
sua aplicação por ser feita em madeira verde, sem casca, deve ser compatibilizada com os
cuidados recomendados na etapa da derrubada e retirada da árvore.

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tratamentos sem pressão ou “caseiros”


Pincelamento ou Aspersão
Aplicação na obra já concluída, permitindo penetração superficial. É aconselhável o
uso de preservativos oleossolúveis (hidrófugos).
Imersão rápida
Aconselhável para madeiras permeáveis, duração da imersão poucos minutos,
madeira com umidade abaixo do ponto de saturação. Deve ser completada por
medidas de projeto.
prolongada
Uso de preservativos hidrossolúveis para madeira verde, e oleossolúveis para
madeira seca. Imersão de no mínimo 1 dia.
Difusão simples
Madeira verde, uso de preservativos hidrossolúveis, imersão completa, por um dia,
armazenamento posterior, à sombra, sem ventilação, por 3 a 4 semanas.
dupla
Usado para moirões de madeira verde visa formação de sais insolúveis à lixiviação,
usando dois tipos de produtos químicos em duas etapas de imersão.
substituição da transpiração
seiva radial Madeira roliça, com alto teor de umidade sem casca, solução preservativa
hidrossolúvel, extremidade imersa (40cm) na posição vertical, após a retenção
desejada. Secagem à sombra 20-25 dias.
processo
boucherie Postes descascados, deitados, levemente inclinados. Numa das extremidades é
colocada uma capa de borracha conectada à solução preservativa. Leva alguns
dias.
Banho quente- frio
Madeira seca, preservativo de natureza oleosa, processo de impregnação de baixo
o
custo com dois tanques (quente, à 100 C e frio à temperatura ambiente)

tratamento com pressão ou industrial


Célula cheia
Madeira seca. com aplicação de vácuo inicial, colocação do preservativo oleoso a
o
80-100 C, ou de preservativo hidrossolúvel à temperatura ambiente, pressão,
descarga e vácuo final.
Célula vazia
Injeção de preservativo, sem vácuo inicial.
Fonte: LEPAGE et al. IPT, 1986.
QUADRO 15- Processos de tratamentos preservativos

Entre os processos de tratamentos apresentados, o mais eficiente é o tratamento realizado em


autoclave sob pressão, mas apresenta alguns inconvenientes: grandes investimentos, preços
elevados, transportes, destino dos resíduos, etc.

5.2.4.4. TIPOS DE PRESERVATIVOS E SUA TOXIDEZ

Cada processo de tratamento requer o uso de preservativo adequado e compatível com a


finalidade pretendida. Existem diferentes tipos de preservativos no mercado, desde aqueles de
uso industrial até os mais caseiros, de manuseio simples. Normalmente os preservativos são
divididos em oleossolúveis e hidrossolúveis [LEPAGE,1986].

Um dos fatores que influem na eficiência da proteção, a ser conferida com a aplicação de
tratamento preservativo, é o grau de toxidez de fungicida ou de inseticida. Quanto mais tóxico, a
proteção alcançada contra os ataques dos insetos e de fungos é melhor, mas por outro lado deve-
se ter cuidados em relação à saúde do ser humano, durante o seu manuseio e na sua utilização.
Com este enfoque, foram montados os Quadros 14A e 14B, indicando os tipos de preservativos
mais utilizados com respectivas toxidez e eficiência.

A toxidez de cada preservativo e a sua eficiência devem ser consideradas e compatibilizadas em


função do uso na edificação. Existem por exemplo nas edificações alguns pontos mais propícios
à ação dos agentes degradantes.

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Os preservativos de alto grau de toxidez do tipo creosoto e pentaclorofenol, não são


recomendados para uso residencial, mas, com alguns cuidados, podem ser empregados nas
fundações, nos locais não expostos ao contato humano.

A escolha e a adoção do processo de preservação da madeira são complexas e ficam na


dependência da análise das variáveis presentes em cada caso: espécie de madeira, condições de
uso, destino da obra, custos envolvidos, disponibilidade de equipamento, etc.

Desta forma, neste item ficam apenas indicações de alguns cuidados necessários para uma
escolha adequada de processo de tratamento e o tipo de preservativo.

OLEOSSOLÚVEIS

creosoto
óleo de cor escura, odor forte, da destilação de alcatrão de hulha, combate fungos, insetos e
perfuradores marinhos; apresenta problemas de "exsudação" causando irritação dermatológica
ao seu contato; muito usado em preservação de postes, moirões, dormentes e peças estruturais
sem necessidade de acabamento e contato direto com o ser humano.
carbolineum
destilado de alcatrão de hulha, destina-se mais a aplicação doméstica a pincel, pulverização e
imersão. tem ação fungicida e inseticida.
pentaclorofenol (pcf)
muito tóxico à mamíferos, provoca danos ao meio ambiente, é excelente inseticida e fungicida,
apresenta problemas de exsudação e os cristais expostos provocam irritações à pele.
naftenatos
são ácidos naftênicos, subprodutos da refinação de petróleo, boa ação fungicida, custo alto, são
usados na manutenção de postes.
soluções de óxido de
estanho tribu-tílico tratamento da madeira fora de contato do solo, baixa toxidez aos mamíferos, tem marcante ação
(tbto) fungicida, bactericida e resiste aos ataques de perfuradores marinhos, tem boa compatibilidade
com acabamentos, são caros.
quelatos de cobre
(quinolinolato de usado para tratamento "profilático", protege a madeira verde contra ataques de fungos
cobre-8) manchadores e bolor, baixa toxidade à mamíferos, usado para preservar embalagens
alimentícias.

HIDROSSOLUVEIS

(cca) arseniato de
cobre amoniacal sais de cobre arsênico numa solução amoniacal, usado para preservação das madeiras em
contato com o solo, muito empregado nos EUA e Canadá
(cca)arseniato de
cobre cromatado ação fungicida e inseticida, reage com a madeira tornando-se insolúvel, tratamento somente com
processo industrial em autoclaves sob pressão, mundialmente consagrado para o uso em postes,
estacas, pilastras, dormentes, decks, cruzetas, para fins estruturais de responsabilidade.
(ccb) borato de cobre
cromatado fungicida e inseticida, mas no brasil a sua proteção não tem sido satisfatória, devido à
solubilidade do boro, sofrendo o processo de lixiviação. tratamento realizado sob pressão, para
postes e moirões.
composto de boro
os boratos possuem propriedades fungicidas, inseticidas e ignífugas, com base no princípio de
difusão do composto de boro, o processo de tratamento por difusão utilizando madeira verde,
recém-abatida, apresenta bons resultados.
Fonte: MONTANA QUÍMICA S.A. (1991), LEPAGE et al, (1986)

QUADRO 16 - Tipos de preservativos e grau de toxidez/ finalidade

Além destas medidas preventivas de tratamentos preservativos, deve ser prevista na proposta a
possibilidade de manutenção e substituição das peças principais, garantindo desta forma, a
conservação das qualidades resistentes do edifício.

Estas medidas, em conjunto com os cuidados previstos, desde a produção da madeira na floresta
até a sua aplicação na obra, garantirão a durabilidade do conjunto.

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5.2.5. QUALIDADE ESPACIAL

Definir a qualidade espacial de um ambiente é uma questão bastante subjetiva, restringindo-se


portanto, para a presente proposta, em satisfazer as dimensões necessárias, consideradas
adequadas quando estas permitirem a realização das atividades previstas e da interrelação entre
ambientes, de acordo com o critério de flexibilidade colocado na concepção da proposta.

5.2.6. ESTÉTICA

Estética é uma das exigências a ser considerada, e torna-se importante para prevenir o usuário
contra preconceitos nativos em relação à casa de madeira. Ou seja, para a adoção da alternativa
de construção utilizando madeira, além da viabilidade técnica deve ser garantida também a sua
viabilização pela aceitação dos usuários.

Sendo visual o primeiro contato com a proposta, esta deve apresentar aspectos que promovam a
simpatia do usuário. Entretanto, definir exatamente a estética a ser incorporada ão projeto é uma
tarefa difícil pois, dependendo de cada grupo social, as expectativas são bastantes diferentes.

Desta forma, para atender esta exigência, adotou-se como requisito a qualidade de acabamento
que transmita uma aparência segura e uma imagem diferente das construções provisórias. E
quanto ao critério, não será definido para a sua avaliação.

COMO GARANTIR A DURABILIDADE DAS CONSTRUÇÕES DE MADEIRA ?

1. Via tratamento preventivo


tratamento da madeira
tratamento preventivo do solo

2. Projeto, através de detalhes construtivos


Pingadeiras, calhas, beirais, proteção de extremidades
Evitar contato das pontas com elementos cimentados
(fundações)
Beirais generosos, ou então proteção dos topos em exposição

3. Manutenção
Conscientizar o usuário quanto aos cuidados que devem ser
tomados por ser madeira (fogo, água, infiltração, etc.)

TÉCNICA DE TRATAMENTO
autoclave
imersão
substituição da seiva
pincelamento
4
TIPOS DE PRESERVATIVO
Preservativos oleossolúveis:
4
Ino, A. p.49 e 50, Tese de Doutorado, EPUSP,1992. Manual de preservação IPT,1987
Catálogos de Montana Química

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Creosoto- produto resultante da destilação de uma


variedade de diferentes alcatrões
Pentaclorofenol
Preservativos hidrossolúveis:
CCA- arseniato de cobre cromatado
CCB-Borato de cobre cromatado
Composto de BORATOS
TIPOS DE ACABAMENTOS
Pintura stain
Tintas a óleo, esmalte sintético
Verniz poliuretano

ALGUNS PRINCÍPIOS BÁSICOS E CUIDADOS PARA PROJETO DE MADEIRA

1. Promover ventilação das peças de madeira, se possível em todas as peças e principalmente


aquelas expostas à ação de chuvas.

2. Proteger sempre as extremidades da madeira contra umidade.

3. Colocar a edificação distante do chão, protegendo contra a umidade do solo

4. As partes salientes em madeira nos panos verticais, na medida do possível proteger com
pingadeira.

5. Tomar especial atenção na interface Fundação/Parede, Fundação/Estrutura, colocando sempre


uma boa impermeabilização, ideal seria nunca cravar pilar na terra, adotando soluções com
peças de transição metálica, ou uma peça de madeira tratada com possibilidade de substituição.

6. Prover um bom escoamento das águas de chuva, colocando as canaletas e rufos na cobertura e
no seu entorno uma canalização de águas pluviais.

7. Não esquecer o tratamento fungicida e inseticida, nos locais expostos às intempéries, nos
locais úmidos. Dependendo da região, mesmo nas partes secas proteger por pincelamento
utilizando produto inseticida.

8. Escolher acabamentos que mantenha a propriedade principal da madeira, de ser um material


higroscópico, ou seja, permitir que ela continue respirando. Ex: pintura tipo “stain”,
enceramento, etc.

9. Considerar na concepção a coordenação modular em função dos materiais de fechamento


(múltiplos de 20 e 30 cm). Normalmente os vãos mais econômicos giram em torno de 3 a 4m.

10. Trabalhar sempre com madeira seca (umidade equilíbrio ao ar ~15%).

11. Estocar madeira adequadamente promovendo ventilação e sombreamento.

12. Sempre que possível introduzir no processo construtivo a pré-fabricação, isto é, um pré-
corte e montagem na oficina dos componentes, onde pode-se ter maior controle de qualidade,
obtendo desta forma a precisão necessária na usinagem e processamento das peças de madeira e
consequentemente um melhor desempenho e acabamento mais adequado.

13. As etapas construtivas devem ser planejadas de maneira que a madeira fique menor tempo
exposta à ação de intempéries.(por ex: primeiro cobrir para depois trabalhar o fechamento)

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14. Todos os pontos críticos, até agora citados devem ser cuidadosamente detalhados e
especificados no projeto.

"A QUALIDADE DE UMA CONSTRUÇÃO DE MADEIRA É RESULTANTE DE UMA SOMA DE


DETALHES!!!" Por isso cada detalhe deve receber o devido cuidado para alcançar um resultado
desejado com a qualidade arquitetônica.

A durabilidade da edificação de madeira é diretamente proporcional ao tempo gasto na


elaboração do projeto, no seu detalhamento, implicando também na menor quantidade de
produtos químicos gastos na preservação.

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6. ETAPAS GERAIS DE PRODUÇÃO DE CASAS DE MADEIRA

6.1. PROPOSTA DE ETAPAS GERAIS PARA PRODUÇÃO EM ESCALA DE CASAS DE MADEIRA

A seguir são propostas etapas e sub- etapas para a produção em escala de casas de madeira de
reflorestamento, tendo em vista garantir a qualidade do processo e do produto final,
considerando que a madeira possui especificidades diferentes de outros materiais.
principalmente quanto ao fenômeno de secagem e tratamento.

etapa 1: PROJETO DO PRODUTO (habitação/elemento/componente) E DA PRODUÇÃO


(desdobro, fabricação e montagem)
• Levantamento da oferta de madeira e infra-estrutura produtiva
• Identificação do Programa de Necessidade
• Levantamento das condições climáticas e de relevo
• Projeto arquitetônico da habitação
• Projeto urbanístico do conjunto habitacional
• Projeto de elemento e componente para estrutura, vedações, instalações e esquadrias
(desenho, lista/especificação, orçamento).
• Projeto do desdobro/secagem de toras (localização, lay-out, meios de produção, cronograma
e orçamento)
• Projeto de fabricação de componentes e/ou pré-fabricação de elementos (localização, lay-
out, meios de produção, cronograma e orçamento)
• Projeto de implantação do canteiro e de execução das habitações
• Projeto para controle de qualidade/produtividade
• Projeto para uso e manutenção da unidade habitacional
etapa 2: EXPERIMENTAÇÃO EM LABORATÓRIO E /OU EM UNIDADES PRODUTIVAS
• Planejar a coleta e registro de informações
• Ensaio para caracterização de material e componentes
• Verificação experimental de ligações e interfaces
• Verificação experimental da fabricação de componentes e/ou pré-fabricação de elementos
• Obtenção de indicadores para aperfeiçoamento do Produto/Processo
etapa 3: MONTAGEM EXPERIMENTAL DE PROTÓTIPOS
• Acompanhamento da implantação do Projeto de Montagem Experimental dos protótipos
• Coleta e registro das informações de acordo com roteiro previsto no Projeto de Montagem
• Identificação e análise de variáveis não previstas no Projeto de Montagem
• Implementação de alternativas para solucionar os problemas encontrados na montagem
• Obtenção de indicadores para melhoria do Produto/Processo e apropriação de custos
etapa 4 - DESDOBRO DE TORAS E SECAGEM DE MADEIRA
• Acompanhamento da implantação do Projeto de desdobro de toras e secagem de madeira
• Coleta e registro das informações de acordo com roteiro previsto no Projeto de desdobro de
toras e secagem de madeira
• Análise de variáveis não previstas no Projeto de desdobro/secagem de madeira
• Implementação de alternativas para solucionar os problemas encontrados
• Obtenção de indicadores para melhoria do Produto/Processo e apropriação de custos
• Elaboração de manual de implantação do desdobro de toras e secagem de madeira
etapa 5: FABRICAÇÃO E PRÉ-FABRICAÇÃO EM ESCALA
• Acompanhamento da implantação do Projeto de fabricação e pré-fabricação
• Coleta e registro das informações de acordo com roteiro do Projeto de fabricação e pré-
fabricação
• Análise de variáveis não previstas no Projeto de fabricação e pré-fabricação
• Implementação de alternativas para solucionar os problemas encontrados
• Obtenção de indicadores para melhoria do Produto/Processo e apropriação de custos
• Elaboração de manual de implantação e de fabricação de componentes e de pré-fabricação
de elementos

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etapa 6: IMPLANTAÇÃO DO CANTEIRO E EXECUÇÃO DAS HABITAÇÕES


• Acompanhamento da implantação do canteiro e da execução das habitações
• Coleta e registro das informações de acordo com roteiro do Projeto
• Identificação e análise de variáveis não previstas no Projeto de implantação e execução
• Implementação de alternativas para solucionar os problemas encontrados
• Obtenção de indicadores para melhoria do Produto/Processo e apropriação de custos
• Elaboração de manual de implantação do canteiro e execução das unidades habitacionais
• Registro das condições após a conclusão de cada etapa executada e das edificações
acabadas, de acordo com os itens de desempenho a serem avaliados
etapa 7: USO E MANUTENÇÃO DAS EDIFICAÇÕES
• Acompanhamento do uso e manutenção da edificação
• Coleta e registro das informações de acordo com o roteiro proposto no Projeto para uso e
manutenção da unidade habitacional
• Tratamento e análise dos dados
etapa 8: AVALIAÇÃO PÓS-OCUPAÇÃO
• Projeto de avaliação pós-ocupação (exigência de desempenho, critérios, coleta )
• Coleta e registro das informações de acordo com roteiro previsto no Projeto
• Tratamento e análise dos dados
• Implementação de medidas para solução imediata dos problemas encontrados
• Obtenção de indicadores para aperfeiçoamento do Projeto do Produto/Processo e para
análise da relação Custo/Benefício

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7. CLASSIFICAÇÃO DOS SISTEMAS CONSTRUTIVOS EM MADEIRA

Existem diversas formas de se construir uma edificação em madeira, para compreender as


vantagens e desvantagens que cada sistema apresenta, utiliza-se aqui alguns conceitos para
a sua classificação e sistematização.

7.1. CLASSIFICAÇÃO DOS SISTEMAS CONSTRUTIVOS EM MADEIRA

A literatura relativa aos sistemas construtivos em madeira no país é escassa, tornando-se


necessária a pesquisa na literatura internacional. Foi levantada a literatura dos países com
tradição construtiva em madeira e que apresentam um estágio tecnológico desenvolvido
neste setor, tais como o Japão, Estados Unidos e alguns países Europeus. Incluiu-se
também, alguma referência à literatura latino-americana.

Para sistematizar as diversas maneiras de construir em madeira, procurou-se, inicialmente,


colocar alguns critérios de classificação dos sistemas construtivos encontrados na literatura
consultada.

São diversos os sistemas construtivos existentes para habitação. E também, são diversos os
critérios para classificá-los. Para facilitar a visualização desse panorama geral na literatura,
adotou-se alguns critérios para agrupar os sistemas existentes de construção em madeira.
Existem várias publicações sobre este assunto, inclusive nacionais. SABBATINI (1989),
na sua tese de doutoramento faz o levantamento de autores nacionais e internacionais,
apresentando as respectivas classificações.

O pesquisador do LNEC, TEIXEIRA TRIGO (1978), apresentou também, de forma


bastante sintética, alguns critérios que classificam as soluções construtivas existentes
(Quadro 17) para, em seguida, formular a sua própria classificação (Quadro 18).

Nos quatro critérios apresentados no Quadro 17 , as soluções construtivas em madeira se


encaixam em todas as classificações, podendo ser consideradas tanto como sistemas leves,
como estruturas resistentes, e ou como material de parede. Do ponto de vista produtivo,
podem ser classificadas também segundo o critério de grau de industrialização.

Critério Classificação

1. Grau de Em ordem crescente de grau de industrialização:


Industrialização • Construção primitiva
• Construção tradicional artesanal
• Construção tradicional racionalizada
• Construção realizada com formas industrializadas
• Construção por grandes elementos pré-fabricados
2. Material Utilizado nas Este critério se baseia no material adotado para a parede, tendo em vista o
Paredes seu volume representativo dentro de uma edificação. As estatísticas oficiais
se utilizam normalmente deste critério. São considerados os seguintes
materiais:
• Madeira ; Pedra ; Tijolo ; Blocos de concreto ; e Outros
3. Tipologia da Critério que ressalta o tipo estrutural resistente:
Estrutura Resistente • Estrutura reticulada
• Estrutura parede
4. Construção Pesada, Critério relacionado com o peso do material empregado, tanto na estrutura
Semi- Leve e Leve como nos vedos. Normalmente a construção pesada é associada ao concreto
e a leve à madeira e seus derivados.
Outros materiais como metal, plástico, gesso e fibrocimento, podem ser
também enquadrados na construção leve.

QUADRO 17 - Os diversos critérios para classificação de soluções construtivas

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Classificação Exemplos

Sistemas Pesados com Estrutura Reticulada Estrutura moldada em obra


Estrutura pré-fabricada
Sistema "lifting"
Sistemas Pesados com Estrutura Pesada Alvenarias resistentes. Estrutura moldada em obra.
Painéis pesados pré-fabricados.Caixões pré-
fabricados.
Soluções Mistas de Construção Pesada
Sistemas Leves Sistemas em madeira
Fonte: TEIXEIRA TRIGO, 1978
QUADRO 18 - Classificação das soluções construtivas misturando critérios 3 e 4 por Teixeira

Walter Bohe (1969) usou como critério os métodos de pré-fabricação, agrupando as construções
em quatro tipos (Quadro 19). Esta classificação segundo o critério de pré- fabricação poderá
ser utilizada diretamente aos sistemas em madeira.

Critério – Grau de pré-fabricação Descrição

1. Construção em Entramado ou em Esqueleto É formada por um esqueleto portante,


contraventada por diagonais e fechamento em capa
dupla ou maciça.
2. Construção com Painéis Compostos Paredes portantes formadas por painéis sanduiche
ou por placas compostas.
3. Construção com Placas Maciças São paredes maciças, autoportantes, montadas
com gruas.
4. Construção com Peças Tridimensionais São peças volumétricas completas, com pouca
montagem. Por exemplo: mobile-homes.
Fonte: WALTER BOHE, 1969
QUADRO 19 – Critérios de grau de pré- fabricação

Esta classificação, em função de diferentes métodos de pré-fabricação pode ser aplicada


diretamente às construções de madeira. A sequência apresentada no Quadro 3, em geral,
corresponde à ordem crescente do grau de industrialização, com algumas ressalvas para os
métodos 2 e 3.

Existem vários índices para definir o grau de industrialização de uma solução construtiva.
Entretanto SALAS (1987), pesquisador espanhol afirma que qualquer coeficiente numérico
para definir o grau de industrialização "...está longe de ter uma objetividade absoluta".
SABBATINI (1989) confirma também a imprecisão dos critérios de quantificação para
determinar o grau de industrialização de cada processo, pois, segundo ele, não basta apenas
classificar o processo de produção. Este deve ser considerado no seu todo, assim como o
grau de racionalização existente em cada etapa, desde o projeto até a execução.

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7.2. CLASSIFICAÇÃO DOS SISTEMAS CONSTRUTIVOS EM MADEIRA LITERATURA


INTERNACIONAL

Na literatura consultada relativa à construção em madeira, o critério para classificar os


sistemas construtivos é adotado pelos institutos de pesquisa em função da tradição
construtiva de cada país e do atual estágio tecnológico do setor.

Sendo assim, cada país apresenta uma classificação baseada em diferentes critérios, e
muitas vezes sem um critério definido, agrupando simplesmente as diversas formas de
construção em madeira existentes no mercado.

Entretanto, a compilação das classificações encontradas é importante, no sentido de reunir


uma gama de sistemas construtivos existentes internacionalmente, visualizando assim, as
diversas formas de se construir em madeira.

7.2.1. LITERATURA AMERICANA (EUA)

O sistema mais conhecido nos Estados Unidos é o sistema entramado, constituído por
peças serradas de seção padronizada, unidas por pregação, processo este desenvolvido para
simplificar a construção tradicional. Apresenta-se em duas versões: "Platform" e "Balloon
Frame" (Fig.04 e Fig.05), [ANDERSON, 1978].

Figura 04 - Sistema "Platform" Figura 05 - Sistema "Balloon"

Do ponto de vista do grau de industrialização, o Sistema Plataforma se apresenta mais propício,


pode ser pré-fabricado em painéis portantes, chegando até volumétrico, o conhecido
"Mobile Homes" (Fig. 06). Nos três sistemas, a parede resultante funciona como parede
estrutural, recebendo esforços verticais e horizontais em toda a sua extensão.

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Figura 06 - " Mobile Homes"

7.2.2. PAÍSES ANDINOS - ACORDO DE CARTAGENA

No manual editado pelo grupo andino [JUNTA DEL ACUERDO DE CARTAGENA


PADT-REFORT,1984], destinado a projetos de madeira, é apresentada uma classificação
com dois enfoques, estrutural e produtivo (quadro 20). O primeiro se baseia na tipologia da
estrutura resistente e o segundo utiliza o critério de grau de industrialização.

I. ENFOQUE ESTRUTURAL
Sistema Pilar e Viga (Fig. 07)
Sistema Entramado . Plataforma (Platform fig 03)
.Global ou Integral (Balloon Frame-fig 04)
I. ENFOQUE PRODUTIVO
S. C. Não Industrializado (Vernacular e habilitado)
S. C. Semi-Industrializado (Sistema de pré-corte)
S. C. Industrializado (Pré-fabricação Parcial e Total)

QUADRO 20 - Classificação do grupo andino - Acordo de Cartagena

Figura 07 - Sistema pilar viga

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O critério de grau de industrialização apresentado pelos andinos considera o vernacular


como sendo o processo que utilizam técnicas e materiais tradicionais, execução total na
obra.

O sistema habilitado ou semi-pré-cortado seria o processo pelo qual a madeira utilizada


já sofreu o desdobro e corte na seção de uso, sendo executado na obra o restante do
processamento, como entalhes, cortes no comprimento de uso, e perfurações.

Pré-cortado é o processo pelo qual os componentes já saem da oficina cortados no


comprimento e na seção de uso, ficando na obra apenas a montagem. A proporção
obra/oficina praticamente se equilibram.

No processo de pré-fabricação parcial, uma grande parte dos trabalhos é realizada na


oficina, na qual são fabricados os elementos como painéis e componentes completos, com
montagem posterior na obra.

Na pré-fabricação total, os trabalhos a serem executados na obra são de simples


montagem. Os elementos volumétricos são fabricados na oficina, inclusive as instalações
elétrica e sanitária.

7.2.3. LITERATURA JAPONESA

Segundo o Prof. SUGUIYAMA (1982), um dos especialistas mais conhecidos na área de


engenharia da madeira, os sistemas construtivos para habitação de madeira no Japão,
podem ser divididos em três grupos (Quadro 21).

. Tradicional (Fig. 08)


I. SISTEMA CONVENCIONAL
. Trad. Simplificado (Fig. 09)
II. SISTEMA 2"x4" (Sistema Americano) Fig. 04
III. SISTEMA PRÉ-FABRICADO .Entramado (Fig. 05)
DE MADEIRA .Painéis (Fig. 10)
.Painéis Modulares (Fig. 11)
.Painéis em Madeira Maciça (Fig. 12)
Outros
Fonte: SUGUIYAMA (1982) adaptação INO (1986)
QUADRO 21 - Quadro de sistemas construtivos em madeira existentes no Japão

Atualmente no Japão 80% do seu estoque de habitação foi construído pelo Sistema
Convencional "ZAIRAI KOHO" construção tradicional japonesa. Esta designação é
bastante ampla, pois engloba desde as habitações mais tradicionais, até aquelas construídas
recentemente, as quais empregam tanto os novos materiais produzidos pela indústria
quanto as ligações da estrutura principal em entalhes bastante simplificados. Para
diferenciá-las, foi incorporada na classificação uma subdivisão no primeiro grupo:
Convencional Tradicional (Fig.08), e Convencional Tradicional Simplificado, (Fig.09),
[INO, 1986].

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Figura 08 - Sistema tradicional "ZAIRAI KOHO"

Figura 09 - Sistema Tradicional Simplificado

O segundo grupo, constituído pelo Sistema 2"x 4" ou sistema americano de construção
habitacional "Platform", é classificado isoladamente por ser uma tecnologia estrangeira.
Foi introduzido na década de 70 no mercado japonês, recebendo a aprovação do Ministério
da Construção, com a emissão de um Certificado de Conformidade. O sistema possui
normas de cálculo e execução específicas, elaboradas pelo órgão financiador de habitação
[HOUSING LOAN COOPERATION JAPAN]

O terceiro grupo, chamado de Sistema Industrializado, está dividido inicialmente por


enfoque estrutural e subdividido por diferentes métodos de pré-fabricação. A classificação
Entramado corresponde basicamente ao sistema "Balloon-Frame". Neste sistema as peças
são pré-cortadas e os barrotes do piso superior se encaixam nos montantes contínuos de
dupla altura (Fig.05). Ainda neste grupo, a classificação painéis englobam: sistema que
consiste na pré-fabricação dos painéis de parede e de piso (Fig.10); Sistema Modular que
consiste de módulos volumétricos, totalmente produzidos na indústria, (Fig. 11); e paredes
em madeira maciça (Fig.12). Este último está classificado como pré-fabricado por existir,
no mercado, os "kits" prontos para simples montagem na obra.

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Figura 11 Figura 12 Figura 13


Sistema em Painéis Pré-fabricados em Toras Sistema Modulares

7.2.4. LITERATURA ALEMÃ

A literatura alemã apresenta uma classificação em dois grandes grupos: ossatura de madeira e
construção em painéis. Para o primeiro grupo é apresentada uma divisão bastante minuciosa,
com enfoque dado aos nós, detalhando a forma de encontro das peças estruturais (verticais e
horizontais), [GOTZ, 1987]. A construção em painéis, segundo HOOR (1987), é dividido da
seguinte forma: Pequenos Painéis Portantes; Grandes Painéis Portantes; Elementos Espaciais; e
Painéis não Portantes.

I.Ossatura em Madeira
Pilar-Viga (peças Simples) .Viga Contínua Apoiada nos Pilares
.1 pavimento (Fig. 13)
.2 pavimentos (Fig. 14)
. Pilar Contínuo (Fig. 15)
Pilar-Viga (peças múltiplas) .Pilar Contínuo-vigas abraçam o pilar (Fig. 16)
.Viga Contínua-pilares abraçam a viga (Fig. 17)
NERVURAS "Baloon Frame" (Fig. 05)
"Platform" (Fig. 04)

II. Construção com Painéis


.Pequenos Painéis Portantes (Fig.18)
.Grandes Painéis Portantes (Fig.19)
.Elementos Espaciais (Fig.20)
.Painéis Não Portantes (fechamento)
QUADRO 22 - Classificação dos sistemas construtivos em madeira alemanha

Basicamente no primeiro grupo ossatura de madeira o critério utilizado é estrutural, dividido


segundo a tipologia da estrutura resistente e subdividido em função do tipo de solução adotada
para os nós (Fig. 13 a Fig. 18).

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Figura 13 - Colombage Figura 14 - Pilar e Viga, viga contínua (1 pav.)

Fig.15 - Viga contínua vigas apoiadas (2 pavs) Fig. 16 - Pilar contínuo, ligação de topo

Figura 17 - Pilar contínuo vigas duplas Figura 18 - Viga contínua, pilares duplos

No segundo grupo painéis, a divisão se baseia no método de pré-fabricação,incluindo os painéis


não estruturais,(Fig.19 a Fig.23).

Figura 19 Figura 20 Figura 21


Pequenos painéis portantes Grandes painéis portantes Elementos espaciais

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7.2.5. LITERATURA FRANCESA

A classificação das famílias tecnológicas dos sistemas construtivos em madeira, feita por
franceses, segue os critérios de grau de industrialização, considerando o método de
montagem na obra. Segundo os estudos realizados pelo Centre Scientifique et Technique
du Batiment [BROSSY e FONTAN, 1985], as soluções construtivas em madeira foram
divididas em cinco sistemas (Quadro 23).

1.pilar - viga (Fig.22)


2.ossatura Balloon Frame (Fig.05)
Platform (Fig.04)
3.painéis estreitos Altura Simples (Fig.23)
Altura Dupla (Fig.24)
4.painéis largos (Fig.25)
5.módulos tridimensionais (Fig.26)
Fonte: BROSSY E FONTAN,1965
QUADRO 23 - Classificação de cinco famílias tecnológicas em habitação de madeira

Pilar-Viga: estruturas compostas por pilares e vigas de seções robustas dispostas em


tramas de 3 a 5m. Os elementos horizontais são comple-
mentados por vigamento secundário e o fechamento tem
função exclusiva de vedação. Neste tipo de solução é
necessário estudar o contraventamento nos planos verticais
e horizontais, a fim de garantir a sua estabilidade e a
coerência no projeto.

Ossatura: estruturas compostas por elementos de seções


menores, mas distribuídos ao longo dos planos verticais e
horizontais. O contraventamento é realizado por
fechamento e diagonais no próprio plano da estrutura.
Neste sistema têm-se tradicionalmente dois tipos:
"Balloon Frame" e "Platform". Uma das diferenças
entre os dois tipos está na sua montagem. O primeiro é Figura 22 - Pilar e Viga
montado de forma global e o segundo executado em
patamares: piso-parede-piso-parede.

Painéis Estreitos: são formados por painéis pré-fabricados com largura menor que 2,40m,
normalmente estruturados por montantes espaçados de 0,60m, recebendo amarração horizontal
na base e no topo. Estes painéis podem ser de altura simples ou de altura dupla, isto é,
correspondem respectivamente a uma edificação térrea ou assobradada, (Fig. 23 e Fig. 24).

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Figura 23- Painéis estreitos altura simples Figura 24- Painéis estreitos altura dupla

Painéis Largos: são painéis de largura maior, diferentes


dos anteriores por terem fabricação específica para cada
projeto. O tamanho dos painéis é normalmente limitado
pelo peso e pela dificuldade de trans-porte. Neste
sistema podem ser diferenciados dois tipos: acabamento
externo incorporado na pré-fabricação ou não (Fig. 25).

Módulos Tridimensionais: são unidades (box units) pré-


fabricados com pelo menos três faces (plano do piso,
paredes e plano do forro ou do piso superior). A
estruturação segue o mesmo princípio dos painéis largos.
A limitação deste sistema está nos problemas de
transporte e na necessidade de equipamentos para
montagem (Figura 26).
Figura 25 - Painéis Largos

Figura 26 - Módulo tridimensional

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A partir das classificações levantadas pode-se observar, do ponto de vista estrutural, dois grupos
nitidamente diferentes: os sistemas que apresentam estrutura independente de vedação,
normalmente denominados como "pilar e viga"; e os sistemas que apresentam como estrutura
resistente a parede, chamados de "painéis".

Do ponto de vista da produção, basicamente as duas formas estruturais podem apresentar


diversos estágios de industrialização, como foi mencionado: da produção artesanal à produção
industrializada em módulos tridimensionais.

Com as classificações de tecnologia construtiva em madeira, encontradas na literatura


internacional, foi possível formar uma visão geral das suas possibilidades construtivas,
considerando os diferentes critérios: da tipologia da estrutura resistente, do grau de
industrialização e da mistura destes dois enfoques. Mas, qualquer destes critérios apresenta
limites não muito definidos, muitas vezes nebulosos, dificultando o enquadramento dos
exemplos existentes de construção dentro destas classificações. (INO, 1992)

7.2.6. SISTEMAS EM PAINÉIS PLACAS

São painéis compostos por sarrafos coladas formando formando grandes superfícies que podem
ser utilizadas como parede estrutural ou como painel de cobertura.

7.3. COMPARAÇÃO DE SISTEMAS CONSTRUTIVOS SEGUNDO ALGUMAS VARIÁVEIS

Para se ter uma visualização do panorama de diferentes sistemas construtivos existentes em


madeira, e ainda para efeito de comparação segundo algumas variáveis mais significativas foi
elaborado o quadro 24.

ossatura
Variáveis nervurados pilar- viga Painéis portantes

transmissão dos distribuído no plano concentrado nos pilares distribuído no plano das
esforços das paredes e vigas paredes
parede estrutural parede não estrutural parede estrutural
independência entre não sim não
sistema estrutural e
sistema de vedação
seção transversal de pequena grande pequena
peças
processo de produção peças pré-cortadas peças pré-cortadas componentes/ elementos
pré-fabricados
grau de médio/ baixo baixo/ médio alto
industrialização

QUADRO 24 - Comparação entre diferentes sistemas construtivos em madeira

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8. DETALHES DE PROJETO EM MADEIRA

Como colocado anteriormente, para atender as exigências dos usuários, as condições de


exposição e os requisitos de desempenho, é necessário ao projetar casas de madeira considerar
os pontos críticos sujeitos às ações das intempéries, tendo em vista o aumento da durabilidade e
a qualidade do produto.

A figura 28, ilustra os pontos mais críticos de início de deterioração em uma edificação de
madeira de dois pavimentos sujeita as intempéries.

1. interface corrimão com a parede


2. parte inferior da parede
3. soleira
4. fixador metálico da tubulação de águas
pluviais
5. saída de águas pluviais
6. transição frechal/ parede
7. interface da cobertura com parede externa
8. interface final do beiral/ parede externa
o
9. interface parede/ parede a 90
10. extremidade inferior da veneziana
11. interface veneziana/ parede
12. interface jardineira/ parede
13. interface fundação/ parede externa
14. canto do peitoril da janela
15. interface marco/ batente/ parede
16. fissuras nas paredes, ponto de inflitração
17. surgimento de fisuras junto as janelas
18. quina das paredes externas
19. abertura para ventilação

Fonte: Centro de Tecnologia da Madeira - Habitação de Madeira, 1982)


FIGURA 28 - Indicação dos pontos críticos à deterioração

O quadro 25 apresenta propostas de medidas preventivas para diferentes áreas críticas de uma
edificação em madeira sujeita às ações das intempéries e a presença de insetos. Além das
medidas preventivas que devem ser consideradas no detalhamento dos projetos, é necessário
tratamentos preservativos e a possibilidade de manutenção e substituição das peças principais,
garantindo desta forma, a conservação das qualidades resistentes do edifício, aumentando a
durabilidade.

No quadro 26 estão apresentados alguns exemplos de detalhes construtivos para diferentes


pontos críticos da edificação.

áreas críticas medidas preventivas

elementos estruturais dos pisos térreos utilizar fundações de concreto tipo sapata corrida, com o piso elevado
das edificações do solo, prevendo drenagem superficial ao redor da edificação

locais enclausurados, úmidos e mal propiciar ventilação do espaço entre barroteamento e o solo, com o
arejados. Ex: espaço entre envenenamento do solo. (figura 28a)
barroteamento
canalizações de água e esgoto fixado propiciar o acesso fácil a rede de água/ esgoto. Não deixar a madeira
na madeira em contato com a umidade,,colocando uma interface de material
impermeável

batente de portas e janelas em contato impermeabilização, emprego de espécies mais resistentes e proteção
com paredes úmidas de pintura a óleo

tacos, assoalhos assentados sobre impermeabilização do contra-piso em argamassa e a utilização de


pisos em que a água do solo tenha sarrafos de fixação com pintura impermeável, deixar espaços entre a
acesso por capilaridade última tábua do assoalho e a parede.

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peças de madeira em peças úmidas recebaer revestimentos impermeáveis, tinta esmalte, tinta óleo,
como cozinha e banheiros tomando-se cuidado nas extremidades das peças

lambris externos distanciamento mínimo recomendado entre o solo, 3o cm (JUNAC,


1998) figura 28a; quando se trata de dois pisos a transição dos lambris
externos verticais de vem receber proteção metálica fazendo o papel de
pingadeira. Emenda de topo dos lambris devem sempre deixar espaço
na sua junta, figura 06, quadro 28

elementos estruturais em contato direto tratamento por processo de impregnação pressurizada,


3
garantindo uma
com o solo ou embutido em concreto retenção de ingredientes ativos de 9,5 Kg/m . Sugere-se que o concreto
não seja impermeabilizado, pois normalmente na sua interface surgem
frestas que permitirão infilrações de águas de chuva. É importante
garantir a drenagem do concreto. A melhor solução é usar dispositivo
metálico deixando a extremidade do pilar ventilado.

peças de telhados, próximas a rufos, devem receber atenção especial no seu detalhamento e as peças que
calhas e telhas ficarão em contato direto com as telhas deverão receber tratamento
químico, além de facilitar a substituição das mesmas.

os topos expostos das peças de detalhes construtivos para proteger estas extremidades; cortes em
madeira de cobertura (caibros, terças) ângulo reto das extremidades dos caibros, colocação de peças como
absorvem umidade com maior testeira que evitam a exposição direta das extremidades, e ganha-se
maior rigidez do beiral
facilidade
fendas, juntas e áreas ao redor de além do desenho poderá fazer uso de borracha, espaçadores de
conectores como parafusos e prego, maneira não permitir a permanência de água
etc
soleira inferior do diafragma e os topos necesitam de cuidados em relação à umidade do solo. Os usuários
inferiores dos montantes verticais devem receber uma orientação prática de limpeza - interna da
edificação, não lavar o piso por exemplo. Caso o piso for cerâmico,
rodapé deve ser do mesmo material cerâmico
(+/- 10 cm)

QUADRO 25 - Medidas preventivas para pontos crítico de uma edificação em madeira sujeita às
ações das intempéries e a presença de insetos

detalhe da colocação da última tábua do assoalho pilar com dispositivo metálico de interface com a fundação
interno deixando espaço com a parede de concreto

QUADRO 26 - Cuidados junto a fundação (continua)

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vista geral de uma parede de alvenaria com os montantes vista geral de uma parede com os lambris fixados e sobre
de fixação de lambris estes a mata-junta

detalhe da fixação dos montantes, deve se ter o cuidado corte transversal mostrando o lambri e mata-junta, deve se
de garantir a distância entre o montante e a parede, ter o cuidado para garantir a extremidade inclinada da
inclusive na sua extremidade mata-junta e o lambri trabalhando como pingadeira

detalhe da fixação dos montantes junto à parede, sempre detalhe do canto com a proteção de topo dos lambris
deve manter o espaço para ventilação

QUADRO 26 - Propostas de detalhes construtivos para diferentes pontos críticos da edificação de


madeira (continua...)

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detalhe do corte em angulo reto da extremidade dos detalhe de proteção da extremidade dos caibros com o
caibros, é comum verificar o destopo no prumo, expondo uso de testeira
mais à ação de intempéries

extremidade de madeira expostas às intempéries devem encontro de mão-francesa, extremidades de montantes


sempre receber uma proteção expostas à ação de chuvas devem receber detalhes vedar
interface no início ou desenho de uma pingadeira

ligações de peças estruturais expostas a chuvas devem pilaretes expostos a chuvas devem estar ventilados na
receber soluções de arruela que garantem a não sua extremidade e ainda com detalhe de pingadeira no
permanência de água encaixe do dispositivo metálico

extremidades de vigas expostas devem receber detalhes emendas de lambris expostas devem receber proteção de
de corte ou proteção mata-junta ou então deixar um espaço suficiente para
ventilação (distância menor do que uma gota d'água)

QUADRO 26 - Propostas de detalhes construtivos para diferentes pontos críticos da edificação de


madeira (continua...)

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fixações de parafuso ou prego expostas devem receber desenhos especiais para lambris externos que garantem o
cuidados especiais, peças galvanizadas de fixação de escoamento rápido d'água
lambris são as mais adequadas

QUADRO 26 - Propostas de detalhes construtivos para diferentes pontos críticos da edificação de


madeira

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9. EXPERIÊNCIA NACIONAL NA CONSTRUÇÃO DA HABITAÇÃO DE MADEIRA

A literatura relativa à tecnologia de construção em madeira, a nível nacional, ainda são bastante
dispersas e muito limitadas em relação às de construção em alvenaria ou em concreto. Soma-se
a esta realidade a inexistência de uma estrutura de pesquisa eficiente e a dificuldade de
divulgação destas técnicas, gerando um quadro precário de tecnologia construtiva em madeira
no país.
Neste sentido, tendo em vista esta lacuna, todo e qualquer esforço para compilar as informações
relativas à habitação de madeira tem a sua importância.
Na pesquisa realizada por PICARELLI (1985), foi levantada uma série de sistemas construtivos
destinados à habitação, incluindo também os de madeira, mas não foi apresentado um
tratamento específico para esse tipo de construção.
O universo pesquisado, no presente trabalho, para o levantamento das informações relativas à
construção em madeira, abrange os registros acadêmicos de dissertações e teses, as publicações
e revistas técnicas e os relatórios de pesquisa.
O acervo das informações técnicas e construtivas reunido para esta pesquisa, foi organizado
com base em critério estrutural, dividido em dois grupos básicos: PILAR E VIGA e PAINÉIS.
No primeiro grupo pilar e viga podem ser considerados os sistemas com elementos estruturais
independentes de vedação. As cargas são transmitidas através das vigas ligadas aos pilares e em
seguida para a fundação. O contraventamento pode ser realizado através de reforços com
diagonais, colocadas nos planos verticais e nos planos horizontais. Ainda neste grupo, podem
ser consideradas as estruturas entramadas, as quais ganham rigidez e estabilidade após a
colocação da vedação.
No segundo grupo - sistema de painéis- as cargas do telhado são distribuídas e transmitidas ao
longo das paredes. Estas por sua vez, são transferidas de forma distribuída para a fundação. As
paredes têm função tanto estrutural quanto de vedação. As solicitações horizontais são
absorvidas através de elementos perpendiculares às fachadas (paredes e pisos), as quais dão o
enrijecimento necessário ao conjunto.
Do ponto de vista da possibilidade de pré-fabricação, em geral o segundo grupo é considerado
como aquele que apresenta maior facilidade para programar as atividades da fábrica,
diminuindo o trabalho no canteiro, ou seja, é possível alcançar maior nível de industrialização.
Pode ser considerada, neste grupo, a maioria das casas pré-fabricadas existentes no mercado.
Foram compilados 24 exemplos de construção utilizando a madeira como estrutura principal.
Nos Quadros 27 e 28 está apresentada a lista das experiências levantadas, do sistema pilar e
viga, e do sistema painel, respectivamente, com descrição resumida da solução construtiva
adotada, do tipo de experiência e da fonte bibliográfica.
Os dois quadros dão uma primeira aproximação do panorama geral dos processos mais
comumente empregados na construção de madeira no país. Estão apresentadas na forma de
fichas individuais, com os respectivos detalhes e a descrição mais minuciosa para cada
experiência levantada. Estas fichas e os trabalhos completos encontram-se disponíveis na
biblioteca do LaMEM- EESC- USP.
Com este levantamento preliminar pode-se observar que existem vários exemplos e
propostas de construção em madeira, entretanto dispersos, e normalmente com as mesmas
soluções construtivas. Os quadros-resumo apresentados baseiam-se num dos resultados
alcançados no trabalho de Iniciação Científica [KOBAYASHI, 1990]. A maioria dos
exemplos construtivos listados emprega a madeira nativa ou a madeira de reflorestamento
de pinus. A utilização do eucalipto na construção habitacional ainda é restrita.

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Ficha Tipo de Solução Construtiva Tipo de Projeto Local / Origem


Pilar-Viga com tábuas verticais Construções Locais Presidente Prudente, SP
1 Mestrado
BITTENCOURT, Rosa
Pilar-Viga Proposta Protótipo Norte de Mato Grosso
2 Doutorado OTA, Claúdia
Pilar-Viga com painéis (sanduiches) Proposta TGI - Gonçalves, Rogério
3
Pilar-Viga tábuas macho-fêmea Pré-cortado Unidades Instituto Florestal
4 encaixadas no pilar Executadas Horto de Manduri, SP
Pilar-Viga com tábuas verticais Construções Locais Londrina - PR Norte do Paraná
5 Levantamento/Mestrado
Zani, Antonio Carlos
Pilar-Viga com tábuas verticais Construções Locais Manaus, AM
6 Propostas
Pilar-Viga vedação com elementos Proposta OCA - Casa Pré-fabricada
7 industrializados Unidades Executadas Empresa
Pilar-Viga modulação com M=122cm Proposta Modelos Empresa - Araújo, José
8 Rio de Janeiro
Pilar-Viga com tábuas ou chapas Unidades Executadas Manaus, AM
9 encaixadas nos pilares (10x10) (escolas) Arq. Severiano Porto
Pilar-Viga fechamento em taipa Projetos Avulsos Manaus, AM Arq. Lúcio Costa
10
Painéis sanduíches modulação=60cm Proposta Protótipo ASPECO Eng.Teodoro Rosso
11
Pilar-Viga taipa de mão Construções Locais Araucária, PR
12 Levantamento: PUC-PR
Pilar-Viga fechamento em taipa Arquitetura Tradicional Publicação - Vasconcelos, Sylvio
13
Pilar-Viga estruturas pré-fabricadas + Projeto EESC-USP
14 painéis alojamento estudantil
Pilar-Viga madeira roliça Projeto Nordeste
15 Arq. José Zanine Caldas
QUADRO 27 - Experiências construtivas em madeira no país Sistema Pilar e Viga

Ficha Tipo de Solução Construtiva Tipo de Projeto Local / Origem


Parede estrutural em pranchas de Pré-fabricado CASEMA Ind.Com.Ltda.
16 4,5cm + montante Comercializado
Painéis portantes sanduíche Proposta Dissertação de Mestrado
17 montado in loco SZÜCS,Carolina
Painéis portantes lambris macho- Unidades executadas FUNTAC-AC
18 fêmea encaixados (2x11cm) (Pré-Fabricados)
Painéis sanduíche portantes pré- Unidades executadas IPT/Prefeitura de
19 fabricados Campos de Jordão,SP
Painéis portantes montado "in Proposta Protótipo Mestrado MOURA,Jorge
20 loco" construído
Painéis portantes módulo Unidades implantadas Salto Osório,PR
21 base = 28cm desmontáveis Acampamento de Obra
Painéis portantes pré-cortados Unidades implantadas IPT/SHAM-AM
22
Estrutura pré-fabricada + taipa de Proposta DAM-Brasília
23 mão Arq.ZANINE Caldas
Painéis sanduíche volumétricos Proposta Protótipo EESC-USP Mestrado
24 construído Hellmeister,Luiz
QUADRO 28 - Experiências construtivas em madeira no país Sistema Painel

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10. EXPERIÊNCIAS DO HABIS EM HABITAÇÃO EM MADEIRA

A seguir, estão apresentadas as seguintes experiências do Ghab (1993-2000) e HABIS (2000 -):

• Construção de uma edificação (Casa do Horto da UFSCar, de São Carlos, 1996), utilizando
sistema estrutural modular em eucalipto roliço; painéis de vedação composto de ossatura de
eucalipto serrado, chapas de compensado e lambris de pinus; esquadria, assoalho e forros em
eucalipto. Hoje utilizado como escritório da CEMA – Coordenadoria do Meio Ambiente da
Universidade Federal de são Carlos.

• Construção de 410 unidades habitacionais para desabrigados de enchentes (Conjunto


Habitacional Pedra 90, Cuiabá-MT, 1996), utilizando sistema de componentes pré-
fabricados em madeira de rejeito comercial, peças curtas.

• Construção de uma edificação (Sede do Parque dos Mananciais, Campos do Jordão, SP,
1998), utilizando sistema estrutural pilar-viga em pinus e vedação em lambri de pinus tratado
em dupla face, pisos elevados em assoalho de pinus.

• Construção de duas edificações 001 e 002 (Sede do HABIS, Campus USP, São Carlos, SP,
1998), utilizando sistema estrutural pilar viga em eucalipto serrado e vedações em, terra-
palha, taipa de mão, chapas de aglomerados revestidos com tábua/ mata-junta e réguas de
pinus tratado.

• Projeto Inovarural – “Habitação rural com inovações no processo, gestão e produto: participação,
geração de renda e sistemas construtivos com recursos locais e renováveis” Construção de 42
unidades habitacionais no Assentamento Rural Pirituba II, Itapeva-SP (2004-2007)

• Projeto Sepé Tiaraju – “Moradia rural com transição agro-ecológico” – Construção de 77 unidades
habitacionais no Assentamento Rural Sepé Tiaraju – Serra Azul-SP (2006 - )

Sede do Grupo HABIS (esquerda) vista externa apos a reforma do telhado realizada em 2001,
a direita interior da edificação com bloco de terra-palha a vista no pavimento superior
foto: 2009

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sistema estrutural pilar-viga em eucalipto roliço


Local da construção: UFSCar, São Carlos, 1996.

sub-sistema Tipo de madeira utilizada


fundações Eucalipto roliço tratado engastado no concreto
1.
estrutura sistema modular em eucalipto roliço, módulo 3 x 3 m
2.
piso barroteamento em eucalipto serrado tratado + assoalho de eucalipto
3.
vedação ossatura em eucalipto serrado pré-fabricado mais chapa de
4. compensado internamente e lambri de pinus tratado por fora
cobertura sistema de terça e caibro em eucalipto roliço + forro em eucalipto
5.
áreas molhadas entramado em eucalipto serrado revestido em laminado decorativo na
6. parede e no piso sobre chapa de compensado
esquadrias eucalipto com pintura de pentoxin + osmocolor cor sólida
7.

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Etapas de Execução do Projeto Cuiabá – Conjunto Habitacional Pedra 90

FOTO 1: Madeira de rejeito comercial FOTO 2: Unidade de beneficiamento: FOTO 3: Armazenamento das peças
entabicada no pátio de uma serraria usinagem na tupia (Marcelândia-MT) usinadas (INDEA/Cuiabá-MT)
(Marcelândia-MT)

FOTO 4: Pré-fabricação de componente: FOTO 5: Armazenamento das tesouras pré- FOTO 6: Transporte dos componentes
painel ventilação (INDEA/Cuiabá-MT) fabricadas (INDEA/Cuiabá-MT) tesoura: INDEA para canteiro (Cuiabá-MT)

FOTO 7: Colocação dos esteios com FOTO 8: Levantamento do componente: FOTO 9: Montagem dos painéis com as 4
travamento provisório no Canteiro Pedra 90 tesoura fechada no Canteiro Pedra 90 tesouras já posicionadas no Canteiro
(Cuiabá-MT) Pedra 90

Foto 10 – 4 pórticos posicionados e respectivos FOTO 11 Unidade habitacional coberta faltando


painéis cegos fixados pintura

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SEQUÊNCIA DE EXECUÇÃO DA SEDE DO PARQUE DOS MANANCIAIS DE CAMPOS DO


JORDÃO – SISTEMA PILAR-VIGA EM PINUS

FOTO 1: fundação tipo sapata isolada - execução do furo FOTO 5: Cobertura - colocação das telhas onduladas de
50x50x80 cm; do lastro de concreto (5cm) e do pilarete em fibrocimento de 4 mm (50x244 cm) e pregação com
alvenaria (5x10x20 cm) pregos de telheiro

FOTO 2: Pré-fabricação dos componentes do pórtico sobre FOTO 6: Fechamento - colocação dos lambris de parede
bancada, sem gabarito - execução da viga superior; tratados sob pressão CCA (2,2x 10 cm)
posicionamento de duas peças (3,5x12x300 cm) e
enchimentos e pregação

FOTO3: Montagem dos pórticos - posicionamento dos pilares FOTO 7: Colocação das esquadrias - colocação dos
do pórtico; verificação de nível prumo, posicionamento e batentes e esquadrias, verificação de nível, prumo e
pregação das mãos- francesas fixação

FOTO 4: Piso - colocação dos barrotes (3,5x 10 cm) a cada 60 FOTO 8: Acabamentos - colocação de vidros, calhas e
cm sobre vigas do piso; execução do assoalho (cortes em 45º rufos, execução de pintura (interna e externa: Stain
para piso contínuo e cortes de topo sobre as paredes) Osmocolor)

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SEQUÊNCIA DE EXECUÇÃO DA UNIDADE 001 – PROJETO FAPESP (1996 - 2000)

SEQUENCIA DA EXECUÇÃO DA TAIPA DE MÃO E VEDAÇÃO EM COLCHÃO DE AR

FOTO 1: finalização da colocação dos barrotes do 1º FOTO 5: barreamento no interior da grelha de madeira
pavimento

FOTO 2: Estrutura principal (pilares, vigas e barrotes) e a FOTO 6: Aspecto exterior da grelha preenchida por terra
grelha de pinus, pré-fabricado em vão único fixado crua no 1º pavimento, vista externa

FOTO3: Grelha em madeira de pinus (sem o barro) e a FOTO 7: Execução da cobertura curva em viga laminada
direita, painel de colchão de ar com chapa intermediária colada utilizando ripas e a grelha totalmente preenchida
o
(1 . pavimento)

FOTO 4: Fechamento em sarrafos ou réguas de pinus FOTO 8: Vista geral da unidade (colocação da estrutura
tratado (vedação do 1º pavimento) de cobertura )

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Edificação 001 – fotos da seqüência construtiva

Fundação Broca+Viga Fixação pilares e vigas Colocação de ossatura pré-


Baldrame fabricada para taipa

Fixação dos painéis pré- Fixação entramado taipa de Fechamento externo em deck
fabricados mão – Bloco de Serviço horizontal – Bloco Servido

Detalhe união pilar e viga Fixação dos assoalhos no Vigas curvas laminado colado
piso superior – Bloco de Serviço

Detalhe dos “deck horizontais” Painel de taipa de mão barreado Bloco de Serviço em taipa
externas Bloco de serviço revestido em argamassa de solo

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Edificação 002-fotos da seqüência construtiva

Fundação viga baldrame Montagem da estrutura Pré-fabricação de painéis


principal - pilares e vigas colchão de ar

Fixação dos painéis- ossatura Blocos de terra palha pré- Painéis de terra palha e painéis
pré-fabricada fabricada colchão de ar

Moldagem in loco da terra Vista lateral - esquadria Colocação da viga vagão na


palha área central

Colocação do revestimento Vista Frontal Bloco Servido já Vista Posterior Bloco de Serviço
tábua e mata-junta com pintura stain em taipa de mão

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11. PROJETO DA PRODUÇÃO E CONTROLE DE QUALIDADE

O controle de qualidade no processo de casas de madeira deve ser garantida em todas as etapas
da cadeia produtiva: floresta, serraria, secagem, beneficiamento, tratamento, fabricação,
montagem, e também no uso/manutenção. O quadro 29 apresenta uma visão global da cadeia de
produção das casas de madeira, dando a idéia do ciclo fechado incluindo o desmonte/demolição
da edificação.

local de produção operações a realizar equipamentos a serem produtos obtidos


utilizados

floresta corte/ retirada/ motossera/ trator de esteira/ toras


transporte caminhão

serraria desdobro/ refilo/ serra de fita de desdobro madeira serrada


destopo serra circular refiladeira bruta verde (tábuas,
serra destopadeira caibros, ripas, etc.)

pátio de secagem secagem (natural/ estufa madeira serrada


estufa artificial) estaleiro bruta seca (tábuas,
tabiques vigas, caibros, ripas,
etc.)

beneficiadora aparelhamento/ plaina 4 face madeira aparelhada


destopo/ usinagem serra circular/ serra de fita/ plaina (montantes,
desempenadeira/ tupia/ travessas para
desengrossadeira painéis, lambris,
forro, assoalho, etc.

usina de tratamento preservativo autoclave madeira tratada


tratamento (caseiro ou industrial) tanque de imersão
pincel/ balde

unidade de fabricação/ pré- gabaritos, bancadas, furadeira de pilares e vigas


fabricação/pr/efabr fabricação entalhes/ mesa, plaina, serra circular de compostas, ossatura
icação furação mesa, serra circular meia para painéis,
esquadria, serra de fita, tupia, esquadrias,
parafusadeira, martelete tesouras pré-
pneumático fabricadas, etc.

canteiro montagem/ execução casas/ entorno

casas uso manutenção manuais de uso e


manutenção
avaliação pós-
ocupação sugestões para
melhoria
desmonte/ demolição materiais para
reuso,
reaproveitamento,
reciclagem, etc.

usinas de recilagem/
reciclagem reaproveitamento

QUADRO 29 - local, operações, equipamentos e produtos nas etapas de produção

Cada uma destas etapas apresentam problemas específicos que se não cuidados e controlados
podem afetar a qualidade final do produto, aumentando os preconceitos quanto ao uso da
madeira na construção de habitações.

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11.1. R ECOMENDAÇÕES BÁSICAS PARA CADA ETAPA DA CADEIA

O quadro 30 apresenta problemas que ocorrem nas várias etapas da produção (floresta, serraria,
secagem) e suas consequências e algumas recomendações.

1. FLORESTA
possíveis causas problemas consequências recomendações
prioridade dada à indústria as florestas plantadas madeira com defeitos reflorestamento com
de papel e celulose existentes não foram (rachaduras, manejo para múltiplos usos
manejadas para fins de empenamnetos,etc)
construção

2. SERRARIA
possíveis causas problemas consequências recomendações
• equipamento inadequado desbitolamento da madeira • defeitos de secagem em • especificação correta no
• tensões de crescimento serrada função da dificuladade de projeto dos componentes
(caso de eucaliptos) padronização no • seleção dos fornecedores
entabicamento e • controle de recebimento
uniformidade de secagem (planilha de seleção de
• maior trabalho no madeira serrada)
processamento
secundário
• aumento do rejeito
(cavacos e peças
rejeitadas)
• imprecisão dimensional na
montagem
• maior trabalho em canteiro
• toras de floresta não defeitos na madeira serrada • aumento de rejeito/
manejadas para serrarias (presença de nós, resíduo
• tensões de crescimento encurvamentos, • afeta a qualidade dos
• falta de critérios na arquamentos, esmoados, componentes na
seleção na serraria etc.) edificação

3. SECAGEM
possíveis causas problemas consequências recomendações
falta de recursos técnicos e utilização de madeiras • maior custo de transporte • adquirir madeira seca com
econômicos para verdes • maior probabilidade de teor de umidade entre
implantação de sistemas de aparecimento de agentes 12% e 18%
secagem biológicos deterioradores • planejamento de obra
baixo nível de • surgimento de defeitos da (prever tempo para
conscientização madeira em serviço aquisição da madeira)
(frestas, falta de esquadro, • controle de recebimento
prumo, e deformações) • elaboração de contrato de
• inadequação da madeira compra
aos acabamentos
externos e colagens
• falta de estabilidade
dimensional (contrações e
inchamentos)
• baixa rsistência mecânica
• aumento de gastos de
manutenção e correção
• diminuição da durabilidade
da edificação

QUADRO 30 - Problemas mais frequentes (floresta, serraria, secagem), suas consequências e


recomendações

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COMO GARANTIR QUE A MADEIRA NÃO EMPENE, QUE NÃO APRESENTE DEFEITOS

Uma boa secagem confere à madeira uma estabilidade dimensional adequada diminuindo estes
problemas frequentes. As vantagens que podem ser alcançadas com o processo de secagem
adequada para cada tipo de madeira são:

1. Substancial redução de peso, diminuindo o custo de transporte;


2. Aumenta a resistência da madeira contra os fungos manchadores e apodrecedores, os
bolores e a maioria dos insetos que preferem a madeira verde;
3. Todas as contrações que a madeira pode sofrer ocorrem antes do processamento final, antes
de ser transformada em produto acabado;
4. A secagem melhora a maioria das propriedades mecânicas da madeira;
5. A madeira úmida não é adequada para colagem, receber acabamento superficial e
tratamento preservativo;
6. A maioria dos defeitos de empenamentos e deformações da madeira ocorrem durante o
processo de secagem, eliminando assim, estes defeitos do produto acabado;
7. A secagem é vital para obter boa trabalhabilidade na usinagem da madeira no torno,
aplainamento, molduragem, furação e lixamento;
8. A estabilidade dimensional na maioria dos casos pode ser garantida por uma boa secagem.

O quadro 31 apresenta os problemas mais comuns encontrados nas etapas de produção:


usinagem, pré-fabricação, tratamento, montagem, uso, manutenção, demolição e reciclagem,
com as respectivas consequências e recomendações.

USINAGEM/PRÉ-FABRICAÇÃO
possíveis causas problemas consequências recomendações
• equipamento obsoleto do falta de precisão dos • mais trabalho na • controle na aceitação dos
parque industrial componentes montagem em canteiro componentes
• mão de obra com baixo • maiores custos da • qualificação da mão de
nível técnico edificação obra na usinagem e pr-e-
fabricação
TRATAMENTO PRESERVATIVO
possíveis causas problemas consequências recomendações
• tecnologia inadequada toxidez dos produtos • danos à saúde dos • estudos sobre alternativas
químicos trabalhadores e ao meio de tratamento
ambiente
CANTEIRO
possíveis causas problemas consequências recomendações
• pouca importância ao ausência de planejamento • desperdício de materiais e • qualidade no projeto
palnejamento da execução de mão de obra • planejamento global da
• projeto do produto • retrabalho execução
incompleto baixa caqpacitação das • atraso no cronograma • gestão com controle de
• baixa oferta de empresas construtoras • aumento noscustos qualdiade
profissionais capacitados • capacitaçào dos
profissionais
USO/ MANUTENÇÃO
possíveis causas problemas consequências recomendações
• usuários desinformados uso inadequado • diminuição da durabilidade • manual do usuário
ausência de manutenção
periódica
DEMOLIÇÃO / RECICLAGEM
possíveis causas problemas consequências recomendações
• desconhecimento das baixo aproveitamento da • danos ao meio ambiente • estudo de alternativa de
possibilidades de madeira pós-uso • desperdício de matéria reaproveitamento e
reaproveitamento e prima reciclagem
reciclagem

QUADRO 31 - Problemas mais frequentes (usinagem/ pré-fabricação, tratamento, montagem,


uso/ manutenção, demolição/ reciclagem), suas consequências e recomendações.

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11.2. PROPOSIÇÃO DE FICHAS PARA CONTROLE E REGISTRO DE QUALIDADE

É possível estabelecer procedimentos de controle de qualidade para cada produto, atividade/


etapa/ serviço/ processo e verificar se estes estão sendo cumpridos ao longo de toda a produção.

Para garantir a qualidade do produto final (casas de madeira) recomenda-se registrar os


procedimentos de execução e os critérios de inspeção de cada serviço, para facilitar a
implantação de um sistema de gestão de qualidade e treinamento adequado do pessoal, além de
permitir a identificação das possíveis causas caso ocorram patologias construtivas. A checagem
e a inspeção do serviço executado ou em execução, com as respectivas ações corretivas em
casos de não entendimento, diminuem os problemas que podem repercutir nas etapas
posteriores.

Cada empresa deve elaborar seus formulários/ fichas para controle de qualidade, em função de
sua realidade, das necessidades de seus clientes, dos fatores relativos a custos, segurança e
características da mão de obra.

Souza (1995, 1996) apresenta sugestões de modelos para os seguintes formulários/ fichas:

• Especificação e Inspeção de Materiais (EIM)


• Verificação de Materiais (FVM)
• Procedimentos de Execução de Serviço (PES)
• Procedimento de Inspeção de Serviço (PIS)
• Verificação de Serviço (FVS)

Na maioria das construções de madeira, o controle de qualidade no recebimento da madeira


serrada é negligenciado. Quando é feito se limita a verificação de quantidade e observação
visual superficial, sem critérios. O que acaba acarretando nas etapas seguintes o desperdício de
materiais e de mão de obra, aumentando os custos e diminuindo a qualidade do produto final.

Portanto para o processo de produção de casas de madeira o controle de seleção e classificação


de madeira serrada deve ser rigoroso na etapa logo após a secagem, e no recebimento destes na
etapa de usinagem/ pré-fabricação/ canteiro de acordo com as fichas de Especificação e
Inspeção de Materiais (EIM) e de verificação de Materiais (VM). No recebimento um dos
aspectos mais importantes é o teor de umidade da madeira, que deverá atender as especificações
do projeto em função da finalidade de uso e da região.

A finalidade da ficha EIM é especificar claramente o produto que será adquirido, definir os
critérios para a sua inspeção quando da entrega/ recebimento do material e deverá conter:
formação de lotes no recebimento em obra, verificações e ensaios de recebimento, critérios de
aceitação e orientações para armazenamento.

A ficha FVM é o documento que deve ser preenchido no ato de recebimento do material na
usinagem/ pré-fabricação/ canteiro. É o registro que fornece informações para a
retroalimentação do sistema de aquisição, podendo ser útil também quando se deseja rastrear
algum produto utilizado. A ficha FVM pode conter: nome da obra, descrição do material, nome
do responsável pelo recebimento, local de uso onde o material será aplicado, nome do fabricante
ou fornecedor, número da nota fiscal, data de entrega, tipos de verificações e ensaios a serem
realizados, resultados obtidos e o atendimento aos critérios de aceitação propostos na EIM e
observações e ações corretivas em caso de não conformidade.

A ficha PES (Procedimento de Execução de Serviço) deve conter: tipo de serviço; documentos
de referência, materiais, equipamentos e ferramentas necessárias e o método de execução com
todas as etapas e procedimentos necessários à execução do serviço.

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A ficha PIS (Procedimento de Inspeção de Serviço) deve conter: tipo de serviço, a verificação, o
ensaio ou teste a ser realizado em obra e o método de critério de avaliação, incluindo limitesde
tolerância, critérios de aceitação e rejeição e ações corretivas.

A ficha FVS (Ficha de Verificação de Serviço) deve ser preenchida com os dados de aprovação
ou rejeição das condições para o início do serviço e das verificações de rotinas definidas na PIS
correspondente.

Como resultado global para a empresa, a gestão da qualidade em todo o processo deve propiciar
a redução de custos gerados pela má qualidade de materiais e de fornecedores, e ao mesmo
tempo, alcançar a satisfação dos usuários pelo atendimento as suas necessidades e exigências.

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referência bibliográfica
BERTO, A. F., LIMA, G. L. (1988) Segurança ao fogo em habitação de madeira de Pinus spp:
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São Carlos. (Relatório de Iniciação Científica apresentado pelo LaMEM/EESC/USP ao CNPq).

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SALAS SERRANO, J. (1987) Construccion industrializada: prefabricacion. Madri. (Apostila).

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SOUZA, R. (1995) Sistema de gestão da qualidade para empresas construtoras. São Paulo: Pini.

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√Mini-curso ELECS 2009 Recife, 28 a 30 de outubro de 2009 “Projeto e Construção em Madeira e Terra” Akemi Ino

SOUZA, R.; MEKBEKIAN, G. (1996) Qualidade na aquisição de materiais e execução deobras. São
Paulo: Pini.

TEIXEIRA TRIGO, J. A. (1978) Tecnologia da construção de habitação. Lisboa: Laboratório Nacional


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UCHÔA, S. B. B. (1989) Condutividade térmica em madeira. São Carlos, Dissertação (mestrado),


EESC/SP.

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anexos

EIM – Especificação de Inspeção de Materiais SÉRIE 01


PROJETO FAPESP Ghab
EIM nO
Unidade Experimental 002 Pesquisa em Habitação
USP/UFSCar

“Habitação Social, Concepção Arquitetônica e Produção de Componentes em


Madeira de Reflorestamento e Terra Crua”
MATERIAL FOLHA:

1. ESPECIFICAÇÃO PARA COMPRA

2. FORMAÇÃO DE LOTES NO RECEBIMENTO

3. VERIFICAÇÕES DE RECEBIMENTO (Defeitos visuais e dimensionais)

4. CRITÉRIOS DE ACEITAÇÃO (Defeitos visuais e dimensionais)

5. ORIENTAÇÃO PARA ARMAZENAMENTO

6. OBSERVAÇÕES

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FVM – FICHA DE VERIFICAÇÃO DE MATERIAIS SÉRIE 02


PROJETO FAPESP Ghab

Unidade Experimental 002


Pesquisa em Habitação
USP/UFSCar FVM No
“Habitação Social, Concepção Arquitetônica e Produção de Componentes em Madeira
de Reflorestamento e Terra Crua”

RESPONSÁVEL DATA

MATERIAL EIM DE REFERÊNCIA DATA DE ENTREGA


01
LOCAL DE USO DO MATERIAL FORNECEDOR/FABRICANTE QUANTIDADE NF nO

ITENS A SEREM ANALISADOS OU ENSAIADOS CONFORMIDADE COM OS


(anotar os resultados referentes aos lotes) CRITÉRIOS DE ACEITAÇÃO DA EIM
ENSAIO E/OU VERIFICAÇÃO RESULTADO OBTIDO SIM NÃO

OBSERVAÇÕES E AÇÕES CORRETIVAS EM CASO DE NÃO CONFORMIDADE

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PES – PROCEDIMENTO DE EXECUÇÃO DE SERVIÇOS


SÉRIE 03
PROJETO FAPESP GHab
FOLHA:
Pesquisa em Habitação
Unidade Experimental 002 USP/UFSCar

Habitação Social, Concepção Arquitetônica e Produção de Componentes em Madeira


de Reflorestamento e Terra Crua

ETAPA

SUB ETAPA

SERVIÇO

DOCUMENTOS DE REFERÊNCIA

MATERIAIS FERRAMENTAS E EQUIPAMENTOS

CONDIÇÕES PARA O INÍCIO

PROCEDIMENTO DE EXECUÇÃO

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PIS – PROCEDIMENTO DE INSPEÇÃO DE SERVIÇOS SÉRIE 04


PROJETO FAPESP GHab
FOLHA
Pesquisa em Habitação
Unidade Experimental 002 USP/UFSCar

“Habitação Social, Concepção Arquitetônica e Produção de Componentes em


Madeira de Reflorestamento e Terra Crua

ETAPA: SUB-ETAPA: SERVIÇO: PLANILHAS DE


REFERÊNCIA:

ITEM nO ITEM DE VERIFICAÇÃO MÉTODO DE AVALIAÇÃO

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FVS - FICHA DE VERIFICAÇÃO DE SERVIÇOS SÉRIE 05


PROJETO FAPESP GHab
FOLHA
Pesquisa em Habitação
Unidade Experimental 002 USP/UFSCar

“Habitação Social, Concepção Arquitetônica e Produção de Componentes


em Madeira de Reflorestamento e Terra Crua”
ETAPA :SUB-ETAPA: SERVIÇO: PLANILHAS DE REFERÊNCIA

EQUIPE: DATA:

CONDIÇÕES PARA O INÍCIO DA EXECUÇÃO DO SERVIÇO SIM NÃO


1.
2.
3.
4.
5.
6.
OBSERVAÇÕES:

VERIFICAÇÕES DE ROTINA Aprovado (A) / Observações e


Rejeitado (R) ações
1 2 3

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referência bibliográfica
BERTO, A. F., LIMA, G. L. (1988) Segurança ao fogo em habitação de madeira de Pinus spp:
pressupostos básicos. São Paulo. In: IPT. Tecnologia de edificações.

INO, A. (1992). Sistema estrutural em Eucalipto roliço para habitação. São Paulo, Tese (doutorado),
EPUSP/SP.

INSTITUTO BRASILERIO DE DESENVOLVIMENTO FLORESTAL. Departamento de Pesquisa.


Laboratório de produtos florestais. Madeiras da Amazônia: características e utilização - Estação
experimental de Curuá-Una. Brasilia.

LEPAGE, E. S. (1986) Manual de preservação de madeiras. São Paulo: IPT

LIMA, G. L. (1990) Tecnologia de construção em madeira de reflorestamento de pinus spp para habitação
de interesse social. São Paulo, Dissertação de mestrado. FAU/USP.

MONTANA QUÍMICA S.A. (1991) Departamento de Apoio e Desenvolvimento Técnico (DATE) e de


Treinamento e Desenvolvimento Comercial (TDC). Biodeterioração e preservação de madeiras. São
Paulo.

NAGATANI, M. (1990) Mokuzo no kagaku: Kaji ni tsuyoi mokuzo kentiku wo tsukuru ni ha/ Ciência da
construção em madeira: para construir edificação resistente ao fogo. Wood Architecture, Tokyo.

SOUZA, R. (1984) Avaliação de desempenho aplicado a novos componentes e sistemas construtivos


para habitação. São Paulo. Construção.

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