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SOROCABA
09 NOVEMBRO 2015
Grupo RA
SOROCABA
09 NOVEMBRO 2015
Atualmente, é crescente a preocupação dos consumidores e empresas quanto à
origem dos produtos e materiais consumidos. Cada vez mais, as pessoas dão
preferência a produtos de baixo carbono, que consumiram pouca água para sua
fabricação e que são provenientes de empresas que valorizam o bem estar e futuro da
humanidade. Esta tendência é particularmente acentuada em produtos de origem
florestal onde é sensível a linha entre danificar ou melhorar o ecossistema. Com isso,
existem alguns materiais que seguem esta tendência, pois, se manejados de forma
apropriada, podem contribuir para melhora do meio ambiente. O bambu, como será
mostrado abaixo, se encaixa perfeitamente como uma alternativa. Estudos indicam
que o produto é opção viável para exploração no Brasil. Uso, porém, depende da
criação de linhas de produção em escala comercial.
Na China, ouro verde. No Brasil, madeira dos pobres. Se no gigante asiático o bambu
é largamente empregado há milênios - dos hashis (pauzinhos usados como talheres)
às estruturas das construções - em terras brasileiras, apesar da abundância, o uso
ainda é muito restrito. Na maioria das vezes, o produto atua como figurante em
cercas, mobiliário e peças de artesanato. Mas um grupo de pesquisadores de
diferentes entidades está trabalhando para mudar esse cenário. É o caso da
Ebiobambu (Escola de Bioarquitetura e Centro de Pesquisa e Tecnologia
Experimental em Bambu), em Visconde de Mauá (RJ). Fundada em 2002, a escola
tem por meta disseminar as técnicas construtivas que utilizam o bambu e outros
materiais considerados naturais ou ecológicos, como terra e fibras. "Acreditamos que
o bambu é uma opção mais sustentável às madeiras de reflorestamento, auto
renovável e de rápido crescimento. O eucalipto, por exemplo, leva seis anos para ser
cortado e o bambu só três anos. Além disso, não é necessário ser replantado", afirma
Celina Llerena, arquiteta e diretora da Ebiobambu. Enquanto espécies arbóreas
demoram até 60 anos para atingir 18 m, o bambu - considerado uma gramínea -
demora apenas 60 dias para chegar a essa altura. A generosidade dos comprimentos
dos bambus permite construções mais espaçosas e com grandes pés-direitos.
Embora tradicionalmente o bambu seja mais explorado no meio rural, o material tem
sido cada vez mais empregado nas edificações urbanas. Em Hong Kong e na
Colômbia, é possível encontrar grandes edifícios em construção cercados por
gigantescos andaimes de bambu. Outras aplicações temporárias também são
frequentes, como em fôrmas e no escoramento de lajes. "Para aplicações usuais de
colunas de cerca de 4 m de altura, colmos de bambu são perfeitamente adaptados
para desempenhar essa função", garante Beraldo.
Tiras: o bambu é aberto em varias tiras e pode ser usado como um tecido que cobre
a construção. É fácil retirar essas tiras, pois as fibras do bambu ficam no sentido
longitudinal.
Vantagens em um projeto
Em recente projeto feito na India pelo escritório Inspiration e apresentado no WBC
(World Bamboo Congress 2009) o bambu foi priorizado como principal material. Ele
foi utilizado em painéis, estruturas e acabamentos. As seguintes vantagens foram
constatadas em comparação com construções convencionais:
material tecnológico e barato
flexível e com alta resistência
boa força, funcionalidade e estética
pouca emissão de carbono
leve
redução do tempo de execução da obra
redução de temperatura media interna de 3 a 4 graus Celsius devido a baixa
condutividade do material
substituiu quase 70% do cimento e aço usados para estrutura sem
comprometer força e usabilidade do prédio
economia nos custos da estrutura do prédio
Bambu pode ainda ser utilizado na construção de pontes ou grandes estruturas
devido a sua boa resistência a tração e propriedades físicas adequadas.
Espécies indicadas para o Brasil
Para o caso de bambu como fonte de matéria prima para arquitetura e construção,
aconselhamos às espécies Guadua angustifólia e Dendrocalamus giganteus: bambus
de origem tropical, entouceirantes (não alastram) e se adaptam muito bem as nossas
condições, alem de serem largamente utilizados para arquitetura. Possuem paredes
com 2 a 2,5 cm de espessura, em media, e colmos (troncos) que atingem até 20
metros de altura.
Dendrocalamus giganteus: maior dos bambus, é entouceirante (não alastra),
interessante para laminados, estruturas e acabamentos. Colmos possuem cor verde
marrom e ficam bem unidos. Espécie demanda tratamento adequado, pois possui boa
quantidade de amido.
altura: 24 a 40 metros
diâmetro: 10-30 cm
internos: 20-45 cm
clima: regiões tropicais úmidas até regiões subtropicais
temperatura mínima: -2ºC
Beneficiamentos
O bambu geralmente esta exposto ao ataque de microorganismos (insetos) e a vida
útil das estruturas feitas a partir desse material é determinada, principalmente, pela
intensidade de ataque de pragas e doenças. A durabilidade do bambu esta
diretamente ligada à forma de tratamento aplicada ao colmo e a destinação do seu
uso. Os métodos de tratamento do bambu são diversos e podem ser utilizados de
acordo com as condições econômicas e estruturais do produtor:
cura ou maturação na mata
imersão em água
ação do fogo
ação de fumaça
métodos químicos com produtos oleosos, oleossolúveis ou hidrossolúveis
tratamento sob pressão em autoclave ou Boucherie
O bambu apresenta baixa durabilidade natural por causa da presença do amido, que
atrai fungos. Para prolongar a vida útil do bambu, existem algumas técnicas
Cura na mata: os colmos de bambu são cortados e deixados para secar na própria
touceira, geralmente apoiando-se a base inferior do colmo em uma pedra. Quando as
folhas secam e caem, o colmo já pode ser utilizado. Essa técnica, denominada
avinagrado na Colômbia, facilita a degradação do amido e da seiva presentes no
colmo, aumentandoa durabilidade
1) Compressão
3) Flexão estática
O bambu apresenta rigidez suficiente para que possa ser utilizado em estruturas
secundárias, na forma de treliças e vigas. Na Colômbia, Equador e Costa Rica foram
desenvolvidos importantes projetos estruturais com o Guadua angustifolia
Fonte: Antonio Ludovico Beraldo, Unicamp
Hoje ela conta com um campo de propagação da gramínea e um banco genético com
mais de 50 espécies diferentes.
Ensaios feitos na universidade mostram que os mais indicados para uso estrutural são
bambus pertencentes aos gêneros Guadua (conhecido no Brasil como Taquaruçu),
Dendrocalamus (denominado Bambu gigante ou Bambu balde) e Phyllostachys
pubescens. "Esses são os que apresentam melhores propriedades físicas e
mecânicas e por isso são os mais adequados", diz. Celina Llerena explica que os
colmos dos bambus têm uma fração fibrosa estrutural que representa até 70% de sua
massa. Tal característica confere aos colmos elevada resistência mecânica à tração,
compressão e flexão. Além disso, as estruturas são leves, resistentes e flexíveis. "Uma
fita de bambu, quando comparada a uma de aço de iguais dimensões, tem maior
resistência à tração", argumenta.
Para ela, as desvantagens do material dizem respeito, entre outras coisas, à falta de
divulgação das técnicas construtivas e de mecanismos de crédito oficiais para
introdução de uma cultura de plantio em áreas degradadas, criando sustentabilidade
para a comunidade local, assim como material para ser usado em construções ou
como laminados. Apesar disso, Celina ressalta que o bambu, se colhido e tratado
corretamente para aumentar a durabilidade (veja boxe sobre preservação), "pode
substituir plenamente a madeira e ter o mesmo resultado". Alguns cuidados, no
entanto, são fundamentais. "O bambu precisa estar afastado do chão no mínimo 40
cm, sobre uma bolacha de barra chata e fina de ferro, aço, bronze ou sobre bailarinas
para, assim, não ter contato com a umidade que sobe do solo." Beirais grandes,
complementa a arquiteta, evitam a incidência das intempéries, reduzindo gastos com
manutenção.
Laminados de bambu
Há duas principais formas de usar o bambu: in natura e laminado. Como no Brasil não
se tem cultura para utilizá-lo na forma em que se apresenta na natureza, "há
pesquisas para usar bambu laminado colado, ou BLC", explica Marco Pereira. De
acordo com Pereira, os testes já indicam sinais positivos. O material é versátil e pode
ser aplicado como piso, forro, vigas, painéis, elementos estruturais. O laminado de
bambu está sendo pesquisado também no IPT (Instituto de Pesquisas Tecnológicas
do Estado de São Paulo). Márcio Nahuz, engenheiro florestal e pesquisador da
Divisão de Produtos Florestais do IPT, orientou uma dissertação de mestrado sobre o
assunto. "O piso laminado de bambu é extremamente estável, tem apelo estético e
ecológico, é diferente e tem a vantagem da alta produtividade, já que o material se
reproduz muito rapidamente", explica Nahuz.
O problema é que ainda não existe um mercado estabelecido para o bambu, com
áreas de plantio, fornecedores e empresas que processem o material. Márcio Araújo,
diretor do Idhea (Instituto para o Desenvolvimento da Habitação Ecológica), concorda
com Nahuz. Especialista em materiais ecológicos, Araújo acredita que o bambu,
apesar do potencial para a construção civil, ainda está longe de ser visto com apreço
pelo mercado. "Enquanto o bambu for considerado um material alternativo ou
marginal, e não uma opção de mercado continuará restrito a um pequeno grupo que
buscou se especializar nesse segmento", diz. "Os pesquisadores estão fazendo o que
lhes cabe, mas sem chegar à escala comercial, o avanço não acontecerá".·.