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CONTRUÇÕES EM CLT: O USO DA MADEIRA NA CONSTRUÇÃO CIVIL COMO

ELEMENTO SUSTENTÁVEL

Autor: Sebastião Aloisio Careta


Orientador: Rafael Matos Vial
Curso: Arquitetura e Urbanismo

RESUMO

O uso da madeira de reflorestamento na construção civil como matéria-prima


principal, apresenta-se como uma excelente opção pela sua versatilidade e
sustentabilidade diante da busca pela utilização de novas soluções estruturais em
madeira nas edificações. Nesse contexto, o Cross Laminated Timber (CLT) ou
Madeira Laminada Colada, um tipo de madeira engenheirada, vem se tornando um
material adequado, mais conhecido e utilizado mundialmente, motivado pela sua
leveza, rapidez, bons isolamentos acústico e térmico, conforto visual e menor
impacto ambiental, em relação às construções convencionais. Este trabalho tem o
objetivo de fazer um breve histórico sobre a utilização da madeira nas edificações
desde a antiguidade, apresentando o CLT como uma tecnologia inovadora,
totalmente sustentável, possível de ser mais implementada no nosso país, como já
acontece em diversos países do mundo, relatando sua origem, composição e
principais características técnicas, apontando as vantagens e ponderando suas
desvantagens no setor construtivo, apresentando exemplos de obras já realizadas
no mundo e no Brasil.
Palavras-chave: Cross Laminated Timber (CLT). Sustentabilidade. Madeira
engenheirada. Conforto ambiental.
1 INTRODUÇÃO
O presente artigo visa abordar a utilização do Cross Laminated Timber (CLT)
como um método construtivo mais sustentável e ágil, comparado à construção civil
convencional brasileira, como opção de resolução das problemáticas de geração de
resíduos, tempo e programação das etapas de obra e conforto ambiental.
O Cross Laminated Timber (CLT) surgiu no final da década de 80, inicialmente
na Áustria e na Alemanha, difundindo-se, desde então, pela Europa Central, Japão,
Nova Zelândia, Austrália, Canadá e Estados Unidos, com muitas obras construídas,
tanto nos setores públicos, quanto comerciais, industriais e residenciais. A boa
receptividade nesses países ocorreu, de acordo com Passarelli (2013), em
decorrência da fácil adaptação quanto aos processos de fabricação, como: a fácil
conexão entre as peças; um menor desperdício de matéria-prima; pouca geração
de resíduos; construção limpa, seca e organizada; rapidez na montagem, gerando
melhor produtividade e bom desempenho; processo produtivo realizado de forma
automatizada e computadorizada; custos competitivos em relação aos materiais
tradicionais, dentre outros.
Conforme afirmam C.G.Filho e Dias (2018), além das características
sustentáveis e renováveis, devido a armazenagem de carbono que é absorvido pelas
árvores durante seu crescimento, o uso do CLT apresenta excelentes isolamentos
acústico e térmico, que podem satisfazer os códigos de construção mais rigorosos.
O CLT é constituído somente com madeira e adesivo atóxico (PUR). Portanto, não
contamina o ambiente interno, propiciando melhor qualidade interna do ar, criando
um ambiente mais saudável e confortável, melhorando o bem-estar, a saúde e o grau
de concentração das pessoas que ocupam o ambiente.
Por ser um material leve e, ao mesmo tempo, resistente, a madeira é
constantemente utilizada para fins estruturais e de sustentação, principalmente na
construção civil, onde é aplicada em quase todas as etapas do processo. Porém,
durante décadas, com o avanço de técnicas de construção, como o concreto armado,
o uso da madeira ficou restringido à forma temporária nos canteiros de obra, e ao
uso definitivo apenas em esquadrias, pisos, forros, coberturas e mobiliários. Sabe-
se que o Brasil, além da grande extensão territorial, é um país muito rico em recursos
naturais, boa parte deles renováveis, onde a indústria de madeira de reflorestamento
ligada à construção civil tem um amplo espaço para crescimento (CARTENSEN,
2016), favorecendo ainda mais a implementação do uso do CLT nas diversas regiões
brasileiras.
O objetivo deste artigo é verificar, através de estudos de caso, como a
utilização do CLT no Brasil pode contribuir para um menor impacto ambiental,
melhoria na qualidade de vida dentro dos ambientes residenciais e comerciais, com
menos desperdícios e maior agilidade dos processos de construção dentro do
canteiro de obra, além de apresentar uma metodologia construtiva mais bem
implementada dentro da construção civil brasileira.

2 DESENVOLVIMENTO

2.1 Referencial teórico

2.1.1 Histórico do uso da madeira nas edificações

Desde tempos remotos, a madeira está presente no desenvolvimento


humano. Mesmo antes da construção das primeiras moradias, o homem já utilizava
a madeira para proteção, preparo de alimentos, iluminação e aquecimento, evoluindo
de processos primitivos e manuais até o grande progresso atual das indústrias de
madeiras e seus manufaturados (LOURENÇO; BRANCO, 2013).
Sendo um material orgânico, consideravelmente leve e resistente, a madeira
pode ser utilizada nas construções, em suas várias etapas.
Como uma das mais antigas e nobres matérias-primas utilizadas pelo ser
humano na construção, seu início de aplicação remonta à Idade da Pedra Polida,
neolítico, entre 12000 a.C. a 4000 a.C. (COSTA, 2013), com a necessidade da
construção de um lugar melhor para morar e proteger a família, usufruindo do que a
natureza proporcionava.
Ao perceberem a abundância, diversidade de medidas, leveza, resistência e
facilidade de entalhe que a madeira lhes proporcionava, nossos ancestrais viram a
possibilidade de começarem a edificar as mais novas e simples estruturas para
habitarem, com apenas dois paus enfincados no chão e, assim, poderem abandonar
as cavernas. Depois surgiram as escoras, que possibilitaram cobrir espaços maiores,
e assim, sucessivamente, a madeira foi sendo introduzida cada vez mais no dia-a-
dia das construções (Costa, 2013).
A profissão do carpinteiro antecede à do pedreiro. Esta aparece apenas
séculos mais tarde, quando a pedra é fracionada em blocos, de fácil manuseio, que
colocados um sobre o outro, conseguia-se paredes maiores e resistentes. Porém,
durante séculos, o carpinteiro foi o mais importante profissional e influenciador na
construção das edificações em madeira. A intervenção do carpinteiro foi de extrema
importância diante das difíceis resoluções nas obras com grandes estruturas e vãos.
Segundo Costa (2013), as construções em madeira foram evoluindo, de um
período de construções populares a níveis admiráveis e grandiosos com o avanço
da tecnologia. Ainda hoje, podemos admirar grandes e antigas obras da arquitetura
em madeira, no mundo todo, como o templo budista Horyu-ji, ilustrado na Figura 1,
com mais de 1300 anos de existência, localizado no Japão, o templo de madeira
mais antigo do mundo.

Figura 1 - Templo Horyuji, no Japão

Fonte: 123RF (2017).


Em todos os países e civilizações encontramos edificações sobre pilares de
madeira, cuja popularidade deu-se por sua eficácia diante de condições adversas de
meteorologia e ataques de animais selvagens. Já no final da Idade Média, construía-
se edifícios com até 5 ou 6 pavimentos, boa parte estruturado em madeira.
Já no início do século XX, diante do grande desenvolvimento industrial e da
busca de melhores condições de vida, muitas famílias migraram para as grandes
cidades, gerando uma forte crise no sistema de habitação. Como solução para o
problema, foram criadas as habitações sociais, onde as obras eram feitas com pré-
fabricados em madeira (Costa, 2013). Com isso, os pré-fabricados em madeira
passaram a ser a solução tanto para os déficits habitacionais, como para outras
áreas, como a criação de escolas, armazéns e depósitos, dentre outros, para atender
a nova demanda da sociedade da época. O ponto negativo foi que as construções
em madeira passaram a ser associadas a precariedade, a algo temporário e de
qualidade arquitetônica inferior. Esse pensamento prevalece até hoje, na maioria da
população.
Porém, conforme demonstra Costa (2013), em países desenvolvidos, como
Canadá, Estados Unidos, Japão e países nórdicos, a madeira continua com a sua
notoriedade e é o material responsável por 80% das habitações residenciais.
Com as crescentes preocupações ambientais, a forte consciência ecológica e
aplicação da ciência na construção, o sul da Europa promoveu a madeira como
material de excelência, associando o seu perfil sustentável e a sua alta capacidade
estrutural, colocando-a novamente no mercado, como uma matéria-prima
competitiva e de grandes potencialidades. Isso tem levado o setor a refletir e a
compreender melhor que alguns sistemas construtivos do passado, unidos às novas
tecnologias, mostram-se bastante compatíveis com o equilíbrio ambiental, em
relação aos atuais sistemas construtivos mais utilizados.
Com esta nova abordagem, percebe-se, ainda que lentamente, um reconhecimento
das qualidades e nobreza desse material, e a superação da ideia de que a madeira
não é uma boa opção para a construção.
No Brasil, o setor da construção civil é um dos que mais impulsionam a
economia, impactando nosso PIB e gerando muitos empregos (FIESP, 2018).
Entretanto, nota-se, na construção civil tradicional, um grande impacto sócio-
ambiental, causado pela extração de matérias primas, gasto de energia e produção
de resíduos não recicláveis e não reaproveitáveis (SIENGE, 2020). Considerando da
produção de insumos até a execução final das obras de construção civil, o cenário
atual brasileiro consome 75% do total de tudo que é extraído do meio ambiente,
gerando milhões de toneladas diárias de resíduos (CITADIN, 2017). Desses 75%,
cerca de 20 a 50% das matérias primas naturais são de fato consumidas na
construção. O restante são os resíduos gerados no processo.
A madeira pode ter a mesma resistência e segurança que uma estrutura
construída com outro material, como a alvenaria. Novas tecnologias com o uso de
madeira vêm surgindo, entre elas o Cross Laminated Timber ou CLT ou Madeira
Laminada Cruzada (CALDERON, 2020).

2.1.2 Histórico do CLT


O Cross Laminated Timber ou CLT ou Madeira Laminada Cruzada é um
material que nasceu na Suíça, no final da década de 80, sendo desenvolvido e
aplicado posteriormente na Áustria, por meio de um trabalho conjunto entre
indústrias e universidades (Costa, 2013). A austríaca KLH, foi uma das empresas
pioneiras no desenvolvimento e na fabricação do CLT, empenhando-se, por vários
anos, no desenvolvimento de estudos e pesquisas, juntamente com a Graz
University of Technology, uma das universidades públicas da Áustria.
Em 2015, o CLT foi incorporado no International Building Code (IBC), que
adotou a norma ANSI CLT Standard PRG 320 (Norma Americana). Segundo a ANSI,
a definição do CLT é: “O CLT é um produto de madeira engenheirada pré-fabricada
feito de pelo menos 3 camadas ortogonais de madeira laminada serrada que são
coladas com adesivos estruturais para formar um sólido retangular, moldado para
aplicações em telhados, pisos ou paredes”.
No Brasil, a partir de 2012, iniciaram-se as construções utilizando o CLT.
Entre 2012 e 2018, diversas obras, tanto residenciais quanto comerciais,
principalmente nos estados de São Paulo e Minas Gerais, foram projetadas e
executadas, com boa aprovação por parte dos clientes. A Figura 2 mostra a primeira
casa brasileira nesse material, uma residência unifamiliar, localizada na cidade de
Tiradentes, estado de Minas Gerais. A casa de 62 m², possui pavimento único. Foi
montada no próprio local, utilizando o Cross Laminated Timber nas paredes
autoportantes e nas lajes de piso e teto. Na fachada principal, utilizou-se paredes e
portas de vidro, criando um ambiente integrado à natureza existente no local.

Figura 2: Primeira casa em CLT do Brasil

Fonte: Gabriela Lotufo Oliveira (2018).

2.1.3 Algumas obras em CLT pelo mundo e no Brasil


Muitos projetos em CLT já foram executados com sucesso em todo o mundo,
especialmente na Europa, América do Norte e Austrália. Esta última, já possui muitas
construções e três grandes edifícios, entre eles International House Sydney (IHS),
projetado pelo escritório de arquitetura Tzannes, combinando a madeira na
sustentação, uma colunata evocando um bosque de árvores e uma moderna fachada
de vidro, como demonstrado na Figura 3. O piso do térreo foi feito em concreto
armado. O prédio comercial tem sete andares e utilizou 3,5 mil metros cúbicos de
madeira sustentável. Todas as salas foram vendidas dentro de uma semana após
lançamento (FAUSTINO, 2018).
Figura 3: Fachada externa do EIH

Foto: Ben Guthrie (2017).

Foi o primeiro edifício de madeira na engenharia comercial moderna da


Austrália.
A admirável arquitetura do EIH desvenda uma nova forma de beleza e
autenticidade pela exposição nua da madeira, sem a utilização de outros materiais
de acabamento, a presença de grandes vãos livres é marcante em todos os sete
andares, tudo com detalhamento impecável, demonstrando estilo, beleza, conforto,
durabilidade, sofisticação e, acima de tudo, sustentabilidade (Figura 4).
Detalhe para as tubulações de ar condicionado, hidráulica e elétrica
totalmente expostas, apresentando uma pegada mais industrial e facilitando a
manutenção.

Figura 4: Interior de um dos andares do EIH

Foto: Ben Guthrie (2017).

Todo o edifício foi construído acima do nível do solo com 100% de madeira
totalmente certificada. As estruturas foram parafusadas de modo que ela possa ser
toda desmontada e reutilizada no final de sua vida útil. O EIH exibe suas credenciais
sustentáveis em todos os ambientes e comprova que a madeira engenheirada tem
potencial para atender as demandas de um empreendimento comercial desse porte
(FAUSTINO, 2018).
Outro exemplo de sucesso é o Edifício Mjøstårnet, em Brumunddal, na
Noruega, inaugurado em março de 2019 e considerado a construção em madeira
mais alta do mundo, com 18 andares, totalizando 85,4 metros de altura. Possui
estrutura híbrida de concreto, Madeira Laminada Colada (MLC) e CLT. Foi
construído em cinco etapas, sendo quatro andares de cada vez, utilizando andaimes
internos e um enorme guindaste para o içamento das peças pré-fabricadas (ALLEN,
2019).
Idealizado pelo empreiteiro Arthur Buchardt, projetado pelo escritório Voll
Arkitekter e construído pela construtora Moelven, o edifício é de uso misto, com
apartamentos residenciais, um hotel, área de piscina, escritórios, salão de eventos e
um restaurante (Figuras 5 e 6).

Figura 5: Vista do restaurante

Fonte: CTBUH (2019).

Figura 6: Fachada do Edifício Mjøstårnet

Fonte: Moelven (2019).

O Edifício Mjøstårnet, para Buchardt (2019), “simboliza o que é possível fazer


com madeira, que é possível construir edifícios mais complexos e também arranha-
céus. Nós temos que reduzir a emissão de CO2 e esse prédio emite 60% a menos
do que uma construção de aço e concreto”.
Segundo Buchardt (2019), as construções altas, utilizando madeira
engenheirada, apresentam uma possibilidade sustentável para o setor da construção
civil, que é responsável por grande parte da geração de resíduos e gases poluentes.
No Brasil, temos ainda poucas construções utilizando o CLT, seja de forma
total ou parcial. Um ótimo exemplo é o da Escola Concept, criada pelo Grupo SEB,
que tem como missão focar na educação o empreendedorismo, a cooperação e a
sustentabilidade. A Escola Concept funciona onde era o importante e tradicional
colégio Sacré-Coeur, na cidade de São Paulo. O prédio principal é de 1930, cuja
fachada é tombada como Patrimônio Histórico. A grande área externa do colégio é
composta por um parque cheio de árvores de grande porte e com muita vegetação.
O projeto da reforma foi feito Triptyque Architecture. Parte da reforma foi a proposta
de uma marquise feita em CLT e duas quadras de esportes, executadas pela
Crosslam. A marquise percorre todo o parque, interligando os blocos, as quadras e
a área da piscina, de forma orgânica, respeitando o desenho da natureza existentes,
criando uma harmonia no entorno, como mostrado na Figura 7 (CROSSLAM, 2019).

Figura 7: Marquise da Escola Concept

Foto: Fran Parente (2019).

As estruturas das quadras foram feitas com a alta tecnologia e qualidade do


CLT, divididas em módulos de seis metros, totalizando 18m x 36 m, onde foi apoiada
uma cobertura retrátil em material têxtil resistente, seguro e com filtro solar, que abre
e fecha por acionamento automático (Figura 8).

Figura 8: Quadra de esportes da Escola Concept

Foto: Fran Parente (2019).

As Figuras 9, 10, 11 e 12, de uma residência em meio à natureza, demonstram


como as construções em CLT nos remetem a beleza, aconchego e sensações de
paz e descanso que a madeira proporciona.
Figura 9: Fachada da Minimod – SP Figura 10: Cozinha da Minimod - SP

Foto: Leonardo Finotti (2015). Foto: Leonardo Finotti (2015).

Figura 11: Sala 1 da Minimod - SP Figura 12: Sala 2 da Minimod - SP

Foto: Leonardo Finotti (2015). Foto: Leonardo Finotti (2015).

Essas e outras milhares de obras em CLT pelo mundo, demonstram a


versatilidade, boa trabalhabilidade e flexibilidade do material, tanto quanto o concreto
e o aço, com algumas importantes vantagens: leveza, rapidez, obra limpa e
sustentável.

2.2 Metodologia
A pesquisa realizada teve como objeto o Cross Laminated Timber (CLT) ou
Madeira Laminada Colada, apresentando o CLT como uma tecnologia inovadora e
sustentável, possível de aplicação e já em uso em diversos países, fundamentado
em leituras de diversos estudos, teses de mestrado e doutorado, sites e reportagens
específicos.
Iniciou-se com um referencial teórico sobre o histórico do uso da madeira na
construção civil e do início do CLT para, posteriormente, apresentar a composição e
características do material, suas vantagens e desvantagens.
Para justificar as novas tendências para o uso do CLT a nível mundial e fazer
uma análise de resultados, foram selecionados estudos de casos bem sucedidos no
exterior e também no Brasil, apresentados através de figuras e gráficos.

2.3 Discussão de resultados


2.3.1 Composição e montagem do CLT
O CLT é composto por número ímpar de lamelas ou camadas de madeira
maciça de reflorestamento, pinus ou eucalipto, selecionadas, secas em estufa com
12% +/- 2% de umidade, tratadas em autoclave com CCB ou imersão em solução de
boro, podendo conter 03, 05, 07 ou 09 camadas, com 20mm, 40mm ou 60mm de
espessura, serradas, coladas e prensadas de maneira cruzada, através de um
adesivo estrutural de poliuretano reativo (PUR), livre de formaldeídos, formando
painéis de 57mm a 250mm de espessura (CROSSLAM, 2019). A união dessas
camadas em ângulos perpendiculares, proporciona boa resistência para compressão
e tração, devido à maior rigidez estrutural do painel em ambas as direções,
funcionando como as chapas de compensado, porém mais espessas.
Esse tipo de laminação cruzada elimina praticamente retrações e
deformações significativas dos painéis, tornando-os resistentes a grandes cargas,
possibilitando assim construções com vários andares. Para o acabamento das
placas utiliza-se processo de micro aparelhamento e lixamento. Os cortes e
usinagens são feitos por um pórtico CNC (Computer Numeric Control), utilizando o
CAD/CAM e o BIM, que tornam compatíveis as várias camadas do projeto
(CROSSLAM, 2019). Na figura 13 pode-se verificar a disposição das lamelas,
garantindo a resistência do material.
Figura 13: Disposição das camadas

Fonte: Technology in Architecture (2018).

A norma europeia (EN 16351, 2014) estabelece que as lâminas tenham


espessuras de 20mm, 30mm e 40mm e que a largura das peças seja maior ou igual
à quatro vezes a espessura, utilizando lâminas de 150mm de largura como padrão.
O controle de umidade das peças de madeira é realizado variando de 10 a
14% de umidade para a colagem. Os adesivos são aplicados em cada lamela, com
aplicadores que regulam a quantidade de produto injetado nas faces de colagem.
A figura 14 mostra que nas colagens de topo, as peças são unidas por um
processo de encaixe conhecido como finger joints, utilizando adesivos PUR
(Poliuretano reativo).

Figura 14: Junções de topo das lamelas (finger joints)

Fonte: Madeira Engenheirada (2018).


A prensagem dos painéis CLT pode ser feita utilizando prensa hidráulica ou à
vácuo. Após a prensagem e cura das peças, as placas são recortadas nas bordas e
as usinagens são executadas numa router CNC, que proporciona um alto grau de
precisão nos cortes, encaixes e furos.
Quanto ao tamanho, os painéis podem variar. No Brasil, a empresa
CROSSLAM, situada na cidade de Suzano, São Paulo, desenvolve e comercializa
as placas de CLT, projeta e executa diversas edificações residenciais e comerciais.
O tamanho máximo de cada placa produzida pela Crosslam, atualmente, é de 3m de
largura e 12m de comprimento (CROSSLAM, 2019). Outras empresas estrangeiras
produzem placas ainda maiores. O que limita essas medidas é o tamanho da prensa
e a condição de transporte.
Os painéis de CLT são pré-fabricados já com aberturas para portas, janelas e
dutos cortados com alta precisão por roteadores em CNC, conforme projeto. Depois de
prontos, os painéis são transportados para o canteiro de obras por meio de caminhões
ou carretas e montados com guindastes que movimentam as peças até a posição onde
devem ser fixadas e uma pequena equipe de construção sobre uma estrutura de
concreto, calculada para receber uma edificação bem mais leve que uma obra
tradicional (PASSARELLI, 2013), como demonstrado na Figura 15.

Figura 15: CLT sobre estrutura de concreto

Fonte: DBR (2020).

A união de paredes e pisos é feita utilizando vários tipos de conexões,


envolvendo fixação com parafusos e conectores metálicos em alumínio, inox ou
aço galvanizado. Nos painéis das paredes e tetos pode-se adicionar camadas de
isolamento ou aproveitar o calor e a estética da madeira, deixando-as aparentes.
Nos ambientes internos, os painéis dispensam revestimento, tanto para pisos
como para paredes e tetos. Entretanto, podem receber aplicação de placas de gesso
acartonado ou pintura. Nas áreas molhadas ou ambientes de maior umidade, pode-se utilizar
revestimentos convencionais, como porcelanatos e cerâmicas. Nas áreas externas, há a
possibilidade de utilizar diversos tipos de acabamentos finais, tais como: placas
cimentícias, alumínio, aço, cortiça, aplicação de stain, fachadas ventiladas em madeira,
Viroc e Stucco (CROSSLAM, 2019).

2.3.2 Características estruturais e sensações do CLT


Após diversos testes sísmicos bem-sucedidos, os painéis em CLT mostraram-
se sem deformação plástica, com boa resistência à carga lateral, devido à
estabilidade dimensional e rigidez, com bom comportamento dúctil e dissipação de
energia, tornando-se aplicável a construção de vários andares. Em 2006, no Japão,
um teste com o maior simulador de abalo sísmico do mundo, foi realizado em um
protótipo de edifício de sete andares, todo construído em CLT. Após 14 eventos
sísmicos consecutivos, não se constatou nenhum dano significativo (CROSSLAM,
2019).
As construções em CLT podem ser projetadas para resistir a até duas horas
de chama, sem comprometer a su a estrutura, pois o material possui um excelente
desempenho quanto à incêndio, melhor até que outras construções em madeiras ou
concreto.
O sistema proporciona um ambiente hermético, o que impede o crescimento
e a propagação do fogo, limitando o espaço atingido, independente das placas
estarem ou não com outro revestimento, pois as chamas são encapsuladas em uma
área delimitada e, assim, contidas.
Devido à grande densidade do material, uma camada de carbono é criada,
servindo de barreira ao oxigênio, o que dificulta a propagação das chamas, como
demostrado na Figura 16. (CROSSLAM, 2019).

Figura 16: Placa de CLT em teste de carbonização

Fonte: REMADE (2003).

Quanto ao desempenho acústico, as estruturas em CLT proporcionam um


excelente resultado, tanto para ruídos, quanto para impactos, devido à hermeticidade
proporcionada pelas estruturas em madeira sólida (CROSSLAM, 2019).
A grande massa térmica da madeira mantém o ambiente fresco no verão e
quente no inverno, demonstrando que o painel em CLT é um ótimo isolante. Devido
a sua solidez, praticamente não há infiltração de ar para dentro da edificação. Com
isso, economiza-se 2/3 de energia, comparando com uma construção de alvenaria
convencional (CROSSLAM, 2019).
.
2.3.3 Vantagens e desvantagens do CLT
Segundo Falk (2002), o setor da construção civil tem um grande impacto em
toda a atividade econômica, representando 10 % na cadeia mundial, e que, para
isso, atualmente consome 40% dos insumos, 40 % de energia e 17% do consumo
mundial de água doce.
Conforme estudo do Canadian Wood Council (1999), ao observar o aspecto
ambiental e ecológico dos 03 elementos principais da construção civil, o concreto,
o aço e a madeira, percebe-se que a madeira supera os demais materiais em todos
os quesitos analisados: energia incorporada, potencial de aquecimento global,
poluição atmosférica, poluição da água, consumo de recursos e produção de
resíduos sólidos (Figura 17).
Figura 17: Desempenho Ambiental dos 03 materiais principais da construção civil

Fonte: Adaptado de: (Falk, 2002).

Segundo Dias (2018), além da sustentabilidade das construções em CLT,


proporcionada pelo uso da madeira de reflorestamento e com certificação, podemos
listar outras vantagens dessa modalidade de construção:
1. Uso de matéria prima renovável e que captura o gás carbônico, gerando
créditos de carbono, ao contrário dos materiais utilizados atualmente, que
emitem gases poluentes;
2. Redução de tempo de obra, com pré-construção em ambiente
industrializado;
3. Canteiro de obra seco e limpo;
4. Geração de pouco resíduo e pouco ruído;
5. Obra mais leve, 1/5 do peso em relação ao concreto, facilitando o içamento
e manipulação das peças;
6. Menor gasto com água, energia e mão de obra;
7. Boa previsibilidade dos custos, com melhor programação dos gastos na
obra, e com preço competitivo;
8. Conforto, resistência e eficiência das construções;
9. Versatilidade e criatividade, devido à facilidade de manipulação da madeira,
permitindo mais liberdade nas formas e desenhos arquitetônicos.

No Brasil, a utilização do CLT nas edificações, depende de um maior


conhecimento e divulgação da técnica, pois as desvantagens são poucas, se
comparadas com as mais utilizadas atualmente:
1. Poucas empresas fabricantes dos painéis no mercado, podendo aumentar
o custo com transporte, dependendo da distância da fábrica até a obra;
2. Exigência de mão de obra especializada, desde a concepção do projeto,
produção dos painéis e montagem das peças;
3. Grande resistência do mercado.

Levando em consideração que os painéis em CLT são materiais de origem


vegetal renovável, o uso deles nas construções compete diretamente com o concreto
armado e o aço, materiais de base mineral não renovável. Utilizam baixo consumo
energético, são recicláveis e reutilizáveis, além de sequestrarem CO2 da atmosfera.
Considerando a possibilidade de utilizar espécies locais para a fabricação das
placas, o processo torna-se mais sustentável e benéfico para diversas regiões do
mundo, incluindo o Brasil.
3 CONCLUSÃO

O CLT se apresenta como uma revolução na indústria da construção civil


mundial que, há mais de um século, permanecia nos mesmos processos e procurava
desenvolver soluções para redução de custos, tempo e dos impactos ambientais.
Nesse cenário, no final do século XX, ressurgiu a madeira engenheirada com
o Cross Laminated Timber (CLT), que proporciona unir todos esses aspectos, com
processos mais eficazes e seguros, devolvendo lugar de destaque a este material
tão utilizado no passado.
Com um alto potencial, o CLT já é utilizado em edifícios com muitos andares
pelo mundo. Porém, é importante que sejam levadas em conta as particularidades
do material, como a suscetibilidade à umidade, por exemplo, o que torna necessário
a obrigatoriedade e regulamentação de um detalhamento que proteja as estruturas
de ficarem expostas.
O CLT apresenta importantes vantagens, pois, além do alto potencial
estrutural, rapidez nos processos de produção e montagem, redução de resíduos,
redução de desperdícios e retrabalhos, redução de mão de obra, custos competitivos
e elevado conforto ambiental, ele é um material estável, devido ao cruzamento das
lamelas que limita os movimentos. Estudos e testes têm sido realizados quanto ao
comportamento dos edifícios de CLT sujeitos a ações sísmicas, incêndios e
desempenhos acústicos e térmicos. Todos têm demonstrado uma excelente
performance.
Apesar de já bem difundido em países europeus, Estados Unidos e Canadá,
por exemplo, o uso do CLT ainda enfrenta muitas barreiras na construção civil,
dentre elas a desconfiança de profissionais e da sociedade civil quanto à eficácia e
segurança da madeira, além do preconceito de que construções em madeira são
inferiores e com pouca durabilidade. Outro ponto é que o processo produtivo das
placas de CLT é todo automatizado, o que demanda investimentos consideráveis e
empresas especializadas. Há que se observar a distância da fábrica para o local da
obra, pois as peças normalmente são bem amplas, tendo que ser deslocadas por
grandes veículos, o que pode elevar os custos com transporte. Também há a
necessidade de mão de obra especializada e com conhecimento técnico sobre o
uso da madeira e do CLT na construção civil, tanto no processo de elaboração do
projeto, quanto na execução da obra.
Essas questões poderiam ser minimizadas com uma formação nas
faculdades de arquitetura e engenharia quanto à utilização desta forma de
construção, uma maior intervenção por parte dos profissionais, esclarecendo
dúvidas de seus clientes, incentivos públicos por meio de programas de construção
de casas e edifícios em madeira, elaboração de uma legislação mais específica
sobre o CLT, divulgação do processo e do quanto sua sustentabilidade pode
contribuir com o setor construtivo.
Diante do crescimento da consciência ecológica e da valorização da
sustentabilidade, o que se pretende com o CLT é o crescimento da utilização da
madeira como principal matéria prima na construção civil, como fonte renovável e
reciclável, o que certamente contribuirá na redução da problemática residual e da
emissão de gases nocivos ao meio ambiente.
A divulgação desta nova abordagem sobre o uso da madeira na construção
de casas e edifícios irá conscientizando a sociedade quanto às qualidades e
vantagens do uso deste material tão antigo e tão nobre, e que é sim, uma excelente
opção para a construção.
4 REFERÊNCIAS
DEGANI, Jonathan. O impacto e a importância da construção civil no país.
2020. Disponível em: https://www.sienge.com.br/blog/construcao-civil-no-pais/.
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