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XXI
O artigo analisa uma nova tipologia habitacional presente na produção imobiliária nas
cidades brasileiras, com estudo de caso na cidade de Campinas – SP. O que distingue esta
nova forma de produção da moradia, ou esta variação de formas antigas, é a proposta de
padronização arquitetônica e de otimização do espaço nas áreas de dispersão dos grandes
centros urbanos.
Para Milton Santos:
“As cidades são grandes porque há especulação e vice-versa; há especulação porque há
vazios e vice-versa… O modelo rodoviário urbano é fator de crescimento disperso e do
espraiamento da cidade”.
Este processo de produção do espaço revela que, nas regiões mais urbanizadas, já não
subsistem as tradicionais separações entre zona urbana, zona suburbana e zona rural. Elas
são caracterizadas pelos sistemas ágeis de transporte flexibilizados e de comunicação, por
unidades de produção e consumo móveis, onde grande parte da população passa a ter a vida
organizada em escala regional. As relações de trabalho observadas nestas novas regiões
revelam que muitas pessoas continuam trabalhando nos polos centrais das cidades, mas que
passam a residir em áreas urbanizadas de menor porte, seja pelo custo mais reduzido dos
terrenos, seja pela busca de maior segurança. Assim, a expansão de forma dispersa do
tecido urbano pode ser caracterizada pela própria descontinuidade, pela presença de núcleos
isolados onde, na maioria das vezes, os empreendimentos apresentam espaços de uso
coletivo, infraestrutura, serviços e frequentemente edificações com diversificação
do tratamento urbanístico, o que as destacam do tecido urbano.
Nas últimas décadas, ocorre uma ocupação cada vez mais intensa nas áreas de dispersão
elevando o valor do terreno e provocando um maior adensamento entre as unidades nos
empreendimentos. Justificada pela falta de segurança na cidade consolidada, as pessoas que
buscam estes novos empreendimentos esperam encontrar em pequenas comunidades um
lugar mais seguro. Este tipo contemporâneo de configuração de usos no espaço é, segundo
o sociólogo polonês Zygmunt Bauman, um gueto voluntário, onde se impede a entrada de
intrusos mas os moradores podem sair livremente do espaço murado, distinguindo se de
um gueto real.
Hoje a ideia de “comunidade” é para Bauman a última relíquia das utopias da boa sociedade
de outrora. Em sua obra Modernidade Liquida o autor analisa o
empreendimento Heritage Park do incorporador George Hazeldon na Africa do Sul, “uma
versão atualizada, high tech,da aldeia medieval que abriga detrás de seus grossos muros,
torres, fossos e pontes levadiças uma aldeia protegida dos riscos e perigos do mundo”.
Neste tipo de empreendimento contemporâneo, a “comunidade” aparece como um bom
argumento de venda fazendo referência a comunidades do passado, entretanto a segurança
é confiada a câmeras de TVs ocultas e dúzias de seguranças armadas.
Primeira década do século XXI: caracterizada pela arquitetura dos arranha-céus, empregada
em várias partes do mundo desde a década de 1990. São principalmente, edificações verticais
projetadas com estruturas, envidraçadas, transparentes, translúcidas.
Segunda década do século XXI: a crise imobiliária de 2008 e, posteriormente a crise econômica
de 2010, tiveram influência internacional. Em relação à arquitetura, não tiveram fortes
incentivos e investimentos para produção arquitetônica e urbanística. As construções nessa
época foram caracterizadas pela continuação do sistema de arranha-céus e por construções
voltadas para o social, principalmente ligadas às residências e caracterizadas pela
padronização arquitetônica e otimização do espaço.
Terceira década do século XXI: é impactada pela pandemia. Essa nova realidade social trará
para a arquitetura novas formas de pensar e produzir os espaços. Agora serão introduzidos
conceitos de higienismo, humanismo e relação homem-natureza, fazendo surgir uma
arquitetura que deverá pensar na saúde, segurança e bem-estar dos usuários.