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Intervir em construções

existentes de madeira
Intervir em construções
existentes de madeira
Livro de Atas

Guimarães
Escola de Engenharia, Campus de Azurém
5 de Junho 2014

Editado por:

Paulo B. Lourenço, Jorge M. Branco e Hélder S. Sousa


Universidade do Minho
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Este livro foi elaborado a partir da reprodução direta dos originais preparados pelos autores. Os
editores não podem assumir qualquer responsabilidade pelo conteúdo e por possíveis incorreções do
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Depósito Legal: 376507/14 ISBN: 978-972-8692-86-5

Universidade do Minho
Departamento de Engenharia Civil, Azurém, P-4800-058 Guimarães
Tel.: 253510200 Fax: 253510217 Email: sec.estruturas@civil.uminho.pt
Impressão: Chapa 5
Prefácio
A presença de estruturas em madeira é um aspeto incontornável do património edificado sendo
estas dotadas, por inúmeras razões, de um grande valor histórico, arquitetónico e civil. No
entanto, apesar do seu inquestionável valor, por vezes as estruturas existentes de madeira
requerem diferentes tipos de medidas de intervenção por forma a garantir a sua estabilidade e
preservação. As causas das intervenções são inúmeras, desde a inadequada manutenção destas
estruturas até à necessidade de análise de segurança ou reforço para mitigação dos efeitos de
danos e patologias encontradas, ou para efeitos de dimensionamento de novos usos da
estrutura.
A análise e o diagnóstico de edifícios existentes é um desafio complexo que requer
conhecimentos especializados provindos de diferentes fontes e áreas técnicas, principalmente
em estruturas de madeira onde é necessário uma perfeita compreensão dos sistemas estruturais
e das propriedades e desempenho do material.
No caso de Portugal, as obras de intervenção e reabilitação são ainda em diminuto número
quando comparadas com o seu reconhecido potencial de mercado, sendo isso fruto também do
escasso conhecimento e formação de pessoal técnico especializado. Esse facto é ainda mais
acentuado para a análise, dimensionamento de estruturas de madeira e para o planeamento de
intervenções, cujo ensino foi sonegado para segundo plano em detrimento de outros materiais
de construção. No entanto, existe atualmente a intenção de inverter esse processo e é verificado
um acrescido interesse na manutenção, reabilitação e intervenção de estruturas existentes de
madeira, assim como à construção de novo edificado tendo em conta o desempenho
notoriamente positivo destas estruturas quando sujeitas a diferentes tipos de solicitações e usos.
Esta publicação reúne contribuições de diversos especialistas, nacionais e estrangeiros. As
comunicações abordam diferentes vertentes no domínio da intervenção em construções
existente de madeira, abrangendo as componentes de inspeção e análise estrutural e
arquitetónica, e evidenciando as medidas e ações de restauro, recuperação, reabilitação e
reforço, com vista à apresentação das melhores práticas e novas soluções disponíveis para a
conservação e manutenção de construções em madeira, garantindo elevados níveis de
desempenho, eficiência energética e sustentabilidade no património construído. São
apresentadas várias intervenções realizadas a nível nacional e estrangeiro, em estruturas
existentes de madeira com alto valor histórico assim como novas tecnologias e métodos a
aplicar a estruturas recentes.

Junho 2014
ÍNDICE

Edifícios Pombalinos: Comportamento e reforço 1


Paulo B. Lourenço, Graça Vasconcelos, Elisa Poletti

Intervenções em coberturas medievais em madeira: Tradição e contemporaneidade 11


Miguel Malheiro

Conhecer a madeira como base de suporte a ações de reabilitação 23


José Saporiti Machado

Utilização e comercialização de madeira modificada 37


Bruno Esteves

Nuevos barnices al agua para maderas de exterior: Alta durabilidad y fácil 47


mantenimiento
Isabel Camarasa Perez

Da inspeção à avaliação de segurança na reabilitação de estruturas de madeira 57


Hélder S. Sousa, Jorge M. Branco, Paulo B. Lourenço

Reforço de elementos existentes de madeira 71


Jorge M. Branco

As estruturas tradicionais de madeira antes e agora - Análise de alguns exemplos de 87


recuperação
Filipe Ferreira

Intervenções no património edificado - Castelo dos Mouros, Sintra 101


Ricardo Miranda

Construções em madeira - Vantagens plásticas na reabilitação 111


António Monteiro Guedes

Restoration of historical timber structures - Criteria, innovative solutions and case 119
studies
Giorgio Croatto, Umberto Turrini
Seminário Intervir em construções existentes de madeira 1

Edifícios Pombalinos: Comportamento e reforço


Paulo B. Lourenço, Graça Vasconcelos, Elisa Poletti
ISISE, Departamento de Engenharia Civil, Universidade do Minho, Guimarães
pbl@civil.uminho.pt

SUMÁRIO

A análise estrutural de edifícios existentes é um desafio complexo por muitas razões,


incluindo o desconhecimento sobre o comportamento dos materiais e componentes
estruturais. Os edifícios pombalinos representam uma tipologia valiosa do nosso edificado,
pelo contexto cultural do sismo de 1755 em Lisboa e de criação de uma cidade nova, bem
como pelos aspetos tecnológicos inovadores. O presente artigo apresenta, inicialmente, um
breve estado do conhecimento dos edifícios alvenaria-madeira. Posteriormente, são
apresentados resultados de ensaios cíclicos recentes na Universidade do Minho sobre esta
tipologia de paredes, que permitem caracterizar o seu comportamento e avaliar diferentes
soluções de reforço.

PALAVRAS-CHAVE: EDIFÍCIOS POMBALINOS, ALVENARIA-MADEIRA,


ENSAIOS EXPERIMENTAIS, CORTE

1. INTRODUÇÃO

Em 1775, no dia de Todos os Santos, um violento terramoto, seguido de um tsunami e um


incêndio formaram a maior catástrofe que Portugal conheceu até hoje. O sismo que abalou
Lisboa foi de tal forma violento que foi sentido em todo Portugal. O sismo terá destruído
cerca de 10% dos edifícios de Lisboa, danificou 60% e poupou os restantes 30%, sendo os
edifícios de maior altura os mais sacrificados. Os escombros resultantes dos edifícios
caíram para as ruas causando mais vítimas e dificultando a prestação de socorros.
A reconstrução da Baixa levantou diversos problemas construtivos, não só ligados à
grandiosidade da obra, como à necessária rapidez de execução e, acima de tudo, à
viabilidade perante novas situações de risco. Tendo em vista ultrapassar estes problemas,
foi implementado um processo construtivo novo, focando aspetos que até então não tinham
sido tratados, como a estabilidade dos edifícios perante as ações sísmicas, a segurança
contra incêndio e a estandardização dos elementos construtivos, tendo em vista a economia
e rapidez da construção. Estes edifícios com estrutura mista madeira e alvenaria são
habitualmente designados por edifícios Pombalinos.

1.1. A estrutura resistente dos edifícios Pombalinos

Os edifícios Pombalinos eram construídos em bloco, com a existência de um ou mais


saguões centrais para recolha das águas pluviais. As paredes exteriores eram construídas

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2 Edifícios Pombalinos: Comportamento e reforço

em alvenaria de pedra rebocada e ligadas a uma estrutura interior de madeira em carvalho


ou azinho, que lhes conferia maior rigidez. A ligação entre estes dois elementos era feita
por intermédio de peças metálicas pregadas no gradeamento de madeira e chumbadas nas
juntas da parede exterior. As peças de madeira que faziam parte do gradeamento são
designadas por mãos e ficavam embebidas na parede de alvenaria. Estas paredes, em
média, tinham uma espessura de 0.9 m no r/c, que diminuía com a elevação do edifício, ver
Figura 1.
Também existiam paredes meeiras perpendiculares às paredes exteriores, com cerca de
0.5 m de espessura, sem qualquer abertura, em alvenaria de pedra rebocada, desde o
rés-do-chão até saírem acima dos telhados. Estas tinham não só a finalidade de dividir os
edifícios, mas também de constituírem elementos corta-fogo.

(b)

(a) (c)
Figura 1 – Pormenores construtivos: (a) perspetiva em corte da construção Pombalina:
A – paredes corta-fogo; B – fachadas em paredes grossas de alvenaria de pedra; C –
sistema de estacas; D – arcos em pedra; E – abóbadas em pedra no primeiro piso; F –
parede que dificultava a ascensão rápida dos fumos pelas escadas; G – escadas colocadas
junto dos logradouros para iluminação; (b) perspetiva de um piso formado por gaiolas
pombalinas; e (c) imagem virtual do interior de um edifício [1].
Em geral, toda a estrutura do r/c era construída em pedra. Para além das paredes exteriores
existiam abóbadas de berço cuidadosamente trabalhadas em cantaria ou abóbadas de aresta
executadas em alvenaria de tijoleira, mas apoiadas em paredes, arcos ou pilares em
cantaria de pedra. Além deste sistema proporcionar maior ductilidade à estrutura na sua
base, coexistia a função de elemento corta-fogo, caso deflagrasse algum incêndio nas lojas.

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Paulo B. Lourenço, Graça Vasconcelos, Elisa Poletti 3

A parte superior das abóbadas era preenchida com material de enchimento que restava dos
escombros do terramoto, com a finalidade de tornar a sua superfície horizontal.
A partir do r/c existiam três tipos de paredes: as de alvenaria de pedra rebocada; as de
frontal pombalino, também designadas por gaiolas, formadas por uma treliça de madeira
preenchida com elementos cerâmicos e rebocada; e por último as paredes de tabique. A
introdução das paredes em frontal pombalino pretendia conferir aos edifícios a capacidade
resistente necessária para dissiparem toda a energia transmitida pelas ações horizontais,
sem que sofressem estragos consideráveis na totalidade da sua estrutura.
A invenção deste sistema de paredes resistentes não está historicamente comprovada, mas
atribui-se a sua origem ao colaborador direto de Manuel da Maia, o engenheiro e arquiteto
militar Carlos Mardel [2]. Mardel mandou construir, no Terreiro do Paço, um estrado de
madeira onde ergueu um edifício com o novo sistema construtivo, à escala real. De seguida
ordenou que um destacamento militar marchasse descontroladamente em cima do estrado
com a finalidade de simular a aceleração sísmica transmitida às estruturas, para verificar e
comprovar, aos olhos de todos, a viabilidade do sistema. A estrutura dos edifícios
pombalinos recebeu muita atenção da comunidade técnica, referindo-se entre outros os
estudos de Vítor Cóias e Silva [3] e diversas teses de mestrado, por exemplo [4-6].

1.2. Edifícios mistos alvenaria-madeira no mundo

Os edifícios mistos de alvenaria e madeira são populares na Europa, e não apenas em


regiões sísmicas, tais como Alemanha ou Inglaterra, ver [7] para detalhes. Esta técnica
permite utilizar peças delgadas de madeira e alvenaria de fraca qualidade nas paredes,
sendo particularmente económica e permitindo um bom desempenho estrutural, exigindo
no entanto abundância de madeira. Os edifícios pombalinos são caracterizados por uma
estrutura tridimensional bastante complexa, incluindo elementos invisíveis de reforço nas
fachadas e uma ligação cuidada entre todos os elementos construtivos. A inovação deste
género de construção não é tanto na técnica mista, mas mais nos detalhes para melhorar o
desempenho sísmico, na definição de soluções standard e na sua aplicação em larga escala,
e em aspetos como a segurança ao fogo, a salubridade e o planeamento urbano.
Em Itália, edifícios mistos alvenaria-madeira existem pelo menos desde o império
Romano, ver Figura 2a, que combina alvenaria irregular com madeira para uma construção
eficiente e ligeira. Estes edifícios foram também utilizados de forma sistemática a seguir ao
sismo de 1783 em Reggio Calabria, ver Figura 2b. O novo sistema, designado literalmente
por casa tipo cabana, possivelmente devido ao facto de ter sido necessário construir
inúmeros abrigos a seguir a um grande sismo, foi adotado pelas autoridades como forma de
construção sismo-resistente, algumas décadas depois do sismo de Lisboa. As instruções
emanadas pelo Casa Real regulavam o aspeto exterior e altura dos edifícios, a largura das
ruas, a construção das varandas, cúpulas e torres, e a adição do esqueleto de madeira. Esta
foi, provavelmente, a primeira normativa sísmica para construção. Em 1908, na sequência
do sismo de Messina, os edifícios misto alvenaria-madeira foram novamente utilizados em
larga escala, ainda que por pouco tempo, com o advento do betão armado. A normativa que
resultou sugeria preparar uma laje de fundação e proceder a escavações, se necessário, uma
vez que as fundações em rocha ou solo firme são preferidas. Os elementos verticais de
madeira deveriam ser fixados na rocha ou na laje de fundação com um comprimento
mínimo de 0.8 m, e deveriam ainda ser tratados por carbonização nas extremidades. Mas a
estrutura de madeira, que deveria ser pregada, não estava definida e existem inúmeras
variações de aplicação.

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4 Edifícios Pombalinos: Comportamento e reforço

(a) (b)
Figura 2 – Exemplos de construção mista em Itália; (a) opus craticium, Herculanum,
antes de 80 DC; (b) casa baraccata, Reggio Calabria, século XVIII.
Outro país que utilizou estes edifícios como uma solução resistente aos sismos foi a
Grécia. Esta solução era comum em toda a Grécia durante diversos períodos [8]. A solução
evoluiu do uso de elementos horizontais para reduzir a fendilhação da alvenaria para
soluções mais robustas com elementos verticais e horizontais. Países com sismicidade
elevada como a Turquia e a Índia possuem também muitos edifícios mistos alvenaria-
madeira, ver Figura 3, que parecem ter resistido bem a eventos fortes recentes [9].
Na Turquia existem novamente os dois sistemas encontrados na Grécia: hatıl, com
elementos horizontais na alvenaria, e hımış, com um esqueleto tridimensional. É habitual
encontrar o primeiro sistema no piso térreo e o segundo sistema nos pisos superiores. Estes
sistemas foram quase abandonados no século XIX devido aos incêndios e a imposição do
império otomano em construir em alvenaria. Posteriormente, ocorreu alguma retoma
devido aos danos observados em sismos fortes. Na Índia, os sistemas tradicionais são
semelhantes, com referências à utilização da madeira na alvenaria desde o século XII [10].
Existem ainda exemplos de utilização destes edifícios noutros países, alguns introduzidos
na América pelos emigrantes europeus, e outros sistemas locais, como a quincha no Perú.

(a) (b)
Figura 3 – Exemplos de construção mista na Turquia e Índia; (a) sistema himis na
Turquia; (b) sistemas Dhajji e Taq na Índia.
Apesar da variação das tipologias, a ideia comum é que a estrutura de madeira pode resistir
à tração, ao contrário da alvenaria que resiste à compressão, proporcionando, assim, uma
melhor resistência a ações horizontais. Além disso, os elementos de madeira permitem
confinar a estrutura de alvenaria, melhorando as propriedades mecânicas do conjunto. Em

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geral, a secção transversal dos elementos de madeira era muito semelhante (cerca de
0.10 × 0.12 m).

2. ENSAIOS RECENTES NA UNIVERSIDADE DO MINHO

A avaliação do comportamento das paredes mistas alvenaria-madeira é necessária para


adquirir conhecimento sobre o comportamento sísmico desta tipologia de construção.
Existem poucos estudos experimentais, tanto do ponto de vista nacional como
internacional, sobre o comportamento destas paredes disponíveis na literatura,
particularmente no que respeita ao sistema pombalino. Uma parede real que ia ser
demolida foi removida de um edifício existente e testada sob cargas cíclicas estáticas em
[11,12]. Os ciclos de histerese da parede ensaiada, ver Figura 4, são indicativos de boa
capacidade de dissipação de energia da estrutura. Testes cíclicos foram realizados também
em réplicas construídas em escala real de acordo com a geometria original e usando
ligações tradicionais [13,14]. Finalmente, foram testadas algumas soluções possíveis de
reforço nas paredes e nos próprios edifícios [14-16].

(a) (b)
Figura 4 – Ensaios experimentais numa parede real com carregamento lateral;
(a) mecanismo de rotura; (b) comportamento histerético [13].
Na Universidade do Minho foram realizados um conjunto de ensaios cíclicos estáticos, a
fim de avaliar o desempenho destas estruturas sob ações horizontais cíclicas [7,17-18].
Foram analisados o mecanismo de resistência lateral e o desempenho face às ações cíclicas
laterais em termos de ductilidade, dissipação de energia, rigidez cíclica e amortecimento
viscoso equivalente. É importante também entender o comportamento das paredes
originais e as soluções de reparação e reforço, uma vez que a deterioração natural dos
materiais envolvidos e as mudanças no uso das estruturas podem exigir intervenções. Além
disso, a aplicação dos novos regulamentos e requisitos adequados de segurança, podem
também exigir intervenções de reparação e reforço.

2.1. Ensaios em painéis (escala reduzida)

Estes ensaios adotaram painéis com 0.80 × 0.90 m2, correspondentes a dimensões típicas
de paredes no norte do país, ver Figura 5a. Os painéis incluem três elementos verticais e
dois elementos horizontais, com dimensões de 0.05 × 0.07 m2. As dimensões adotadas
correspondem a uma escala 1:2, podendo representar algumas estruturas pombalinas. As

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6 Edifícios Pombalinos: Comportamento e reforço

ligações são todas do tipo cavilha, com exceção das diagonais, que são a meia madeira.
Foram ainda colocados pregos de 40 e 70 mm, indicados respetivamente com um traço e
um círculo na Figura 5b.
Foram testados 9 painéis, apenas com o esqueleto de madeira (painel base), com reforço
dos nós através de mantas de polímeros reforçados com fibra de vidro (GFRP) e com
preenchimento de alvenaria, sendo 3 painéis iguais por cada tipologia, ver Figura 6, mas
com carga axial distinta. Os ensaios cíclicos foram realizados considerando as paredes
apoiadas na fundação e sujeitas a ações combinadas (verticais e horizontais).

(a) (b)
Figura 5 – Definição do painel de ensaio; (a) parede no norte do país; (b) painel adotado
e localização dos pregos.

(a) (b) (c)


Figura 6 – Diferentes painéis; (a) apenas madeira; (b) apenas madeira, com reforço;
(c) painel preenchido com alvenaria.
Os resultados permitiram obter informação ampla sobre o comportamento destas estruturas
e sobre o seu cortamento até à rotura, ver Figura 7 e [17]. Foi possível concluir o seguinte:
(a) para valores baixos da ação vertical a resposta é controlada pela ligação em cavilha da
parte inferior da parede, enquanto para valores elevados a resposta é controlada por corte;
(b) o dano concentra-se fortemente nas ligações em cavilha, com grandes deformações. No
caso da parede preenchida, o dano é ligeiro e no interface entre alvenaria e madeira; (c) a
rigidez é fortemente dependente do nível de tensão vertical; (d) o enchimento tem pouca
influência na resposta global deste painel, apesar da alteração do modo de rotura; (e) o

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Paulo B. Lourenço, Graça Vasconcelos, Elisa Poletti 7

reforço adotado para os nós também teve pouca influência na resposta do painel que,
obviamente, se encontrava em estado novo; (f) a ductilidade e dissipação de energia são
muito elevadas.

(a) (b) (c)


Figura 7 – Deformação e dano nos painéis; (a) apenas madeira; (b) apenas madeira, com
reforço; (c) painel preenchido com alvenaria.

2.2. Ensaios em paredes (escala real)

Estes ensaios adotaram paredes com 2.42 × 2.36 m2, ver Figura 8 e [7, 18]. As paredes
incluem três elementos verticais e dois elementos horizontais, tal como nos painéis, com
dimensões de (0.08 e 0.16) × 0.12 m2. As ligações são todas a meia madeira, como exceção
das extremidades das diagonais, que são a topo sem qualquer encaixe e pregagem. Foram
testadas 8 paredes, incluindo paredes com reforço dos nós através de inserção de cavilhas
metálicas e colocação de chapas metálicas (elementos específicos em forma de estrela e
chapas comerciais perfuradas). O reforço foi aplicado em paredes danificadas e
anteriormente ensaiadas. As chapas metálicas perfuradas forma aplicadas em paredes sem
preenchimento. Os ensaios cíclicos foram realizados novamente considerando as paredes
apoiadas na fundação e sujeitas a ações combinadas (verticais e horizontais).
Os resultados permitem concluir o seguinte: (a) o preenchimento com alvenaria influencia
significativamente a resposta em paredes não reforçadas; (b) o preenchimento com
alvenaria e o nível de tensão vertical influenciam a resposta mas de forma pouco
significativa nas paredes reforçadas, uma vez que o reforço controla fortemente a resposta;
(c) o reforço com cavilhas metálicas alterou o mecanismo de colapso e melhorou a
capacidade dissipativa das ligações; (d) o reforço com chapas metálicas, permitiu um
aumento entre 50% a 200% da capacidade resistente.

3. CONCLUSÕES

O presente artigo apresenta uma breve revisão sobre os edifícios pombalinos e os edifícios
mistos de alvenaria e madeira. Em seguida, apresenta-se um conjunto de ensaios
experimentais realizados na Universidade do Minho e diferentes possibilidades de reforço.
Os resultados são um contributo para permitir usar efetivamente os frontais na análise
estrutural de edifícios pombalinos, como apresentado em [19], uma vez que uma análise
sem os frontais parece conduzir a coeficientes de segurança reduzidos [4].

P.B. Lourenço, J.M. Branco e H.S. Sousa (eds.) 2014


8 Edifícios Pombalinos: Comportamento e reforço

(a)

(b) (c)
Figura 8 – Paredes consideradas; (a) construção e parede de referência; (b) reforço dos
nós com conetores metálicos; (c) reforço dos nós com chapas metálicas.

4. REFERÊNCIAS

[1] Cóias V., Reabilitação Estrutural de Edifícios Antigos: Técnicas pouco Intrusivas.
Argumentum, 2ª edição, 2007.
[2] França J.A., Lisboa Pombalina e o Iluminismo. Bertrand Editora, 1987.
[3] Cóias e Silva V., Um novo modelo (e uma nova visão) do edificado pombalino.
Monumentos, 6, 1997.
[4] Ramos L.F., Análise experimental e numérica de estruturas históricas de alvenaria.
Tese de mestrado, Universidade do Minho, 2002.
[5] Cardoso R., Vulnerabilidade sísmica de Estruturas Antigas de Alvenaria - Aplicação
a um Edifício Pombalino. Tese de mestrado, Instituto Superior Técnico, 2002.
[6] Rocha M., Comportamento sísmico de edifícios pombalinos. Tese de mestrado,
Universidade Católica Portuguesa, 2008.

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Paulo B. Lourenço, Graça Vasconcelos, Elisa Poletti 9

[7] Poletti E., Characterization of the seismic behaviour of traditional timber frame
walls. Tese de doutoramento, Universidade do Minho, 2013.
[8] Tsakanika-Theohari E., The constructional analysis of timber load bearing systems
as a tool for interpreting Aegean Bronze Age architecture. Proceedings of the
Symposium ‘Bronze Age Architectural Traditions in the Eastern Mediterranean:
Diffusion and Diversity’, 7-8/05/2008, Munique, 2008.
[9] Gülhan D., Güney I.Ö., The behaviour of traditional building systems against
earthquake and its comparison to reinforced concrete frame systems: experiences of
Marmara earthquake damage assessment studies in Kocaeli and Sakarya.
Proceedings of Earthquake-safe: Lessons to be Learned from Traditional
Construction, Istambul, Turquia, 2000.
[10] Langenbach R., Don’t Tear it Down! Preserving the earthquake resistant vernacular
architecture of Kashmir. UNESCO, Nova Déli, 2009.
[11] Santos S.P., Ensaio de paredes pombalinas. LNEC, Nota Técnica Nº 15/97-NCE,
LNEC, 1997.
[12] Cóias e Silva V., Using advanced composites to retrofit Lisbon’s old ‘‘seismic
resistant’’ timber framed buildings. European timber buildings as an expression of
technological and technical cultures, Elsevier, pp. 109–124, 2002.
[13] Meireles H., Bento R., Cyclic behaviour of Pombalino ‘‘frontal’’ walls. European
conference on earthquake engineering (14ECEE), Ohrid, República da Macedonia,
2010.
[14] Gonçalves A.M., Ferreira J.G., Guerreiro L., Branco F., Caracterização experimental
do comportamento cíclico de paredes pombalinas simples e reforçadas, Revista
Engenharia Civil, n.º 45, pp. 5-19, 2013.
[15] Cruz H., Moura J.P., Machado J.S., The use of FRP in the strengthening of timber
reinforced masonry load-bearing walls. Proceedings of the 3rd international seminar
on historical, constructions, Guimarães, pp. 847–856, 2001.
[16] Paula R., Cóias V., Rehabilitation of Lisbon’s old ‘‘seismic resistant’’ timber frames
buildings using innovative techniques. International workshop on earthquake
engineering on timber structures, Coimbra, pp. 33–45, 2006.
[17] Vasconcelos G., Poletti E., Salavessa E., Jesus A.M.P., Lourenço P.B., Pilaon P., In-
plane shear behaviour of traditional timber walls. Engineering Structures, n.º 56(11),
pp. 1028–1048, 2013.
[18] Poletti E., Vasconcelos G., Jorge M., Full-Scale Experimental Testing of Retrofitting
Techniques in Portuguese “Pombalino” Traditional Timber Frame Walls. Journal of
Earthquake Engineering, n.º 18(4), pp. 553–579, 2014.
[19] Bento R., Lopes M., Cardoso R., Seismic evaluation of old masonry buildings. Part
II: analysis of strengthening solutions for a case study. Engineering Structures,
n.º 27, pp. 2014–2023, 2005.

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10 Edifícios Pombalinos: Comportamento e reforço

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Seminário Intervir em construções existentes de madeira 11

Intervenções em coberturas medievais em madeira: Tradição e


contemporaneidade
Miguel Malheiro
Centro de Investigação em Território, Arquitetura e Design (CITAD),
Faculdade de Arquitetura e Artes da Universidade Lusíada do Porto, Porto
miguel_malheiro@sapo.pt

SUMÁRIO

O presente artigo aborda a intervenção interdisciplinar realizada no património


arquitectónico medieval português, focando-se essencialmente na conservação,
salvaguarda e valorização de coberturas em madeira que compõem cinco casos de estudo
que a seguir se apresentam. Este artigo apresenta situações concretas onde houve a
necessidade de intervir nas coberturas de madeira de igrejas românicas, mostrando as
estruturas encontradas, decorrentes de intervenções realizadas em meados do século XX,
as soluções contemporâneas de conservação que se implantaram e as reinterpretações que
se implementaram nos monumentos em que foi necessário substituir ou realizar novas
estruturas, por inexistência das mesmas.
As situações apresentadas derivam de uma reflexão que assenta os seus pressupostos na
experiência arquitectónica desenvolvida ao longo dos tempos, e a aprendizagem que ela
nos transmite no contacto que com ela vamos mantendo, transformando-se num ato que
ultrapassa a operação de “conservação”.
A aproximação inovadora destes projetos verifica-se na necessidade de desmonte e
observação dos elementos principais das estruturas, apresentando-se os dimensionamentos
que encontramos e que introduzimos, os materiais que compõem estas estruturas, mas
acima de tudo, apresenta um processo de aproximação à solução e não a busca obstinada
de um princípio.

PALAVRAS-CHAVE: ARQUITETURA ROMÂNICA, COBERTURAS DE


MADEIRA, CONSERVAÇÃO, VALORIZAÇÃO

1. INTRODUÇÃO

Nos últimos dez anos realizamos intervenções em cinco igrejas românicas inseridas na
Rota do Românico [1], que contemplavam a salvaguarda, conservação e valorização dos
imóveis. Demos início a este périplo de intervenções com as obras realizadas nos anos
2003 a 2004 e 2013 na Igreja de Cabeça Santa, Penafiel, edifício do Séc. XIII, seguindo-se
as ruínas da Igreja de S. Mamede de Vila Verde, Felgueiras, edifício dos séculos XIII-XIV,
com intervenções realizadas nos anos de 2004 a 2006, e mais recentemente, nos anos de
2013-2014, na Igreja de Tabuado, Marco de Canavezes, edifício do Séc. XIII, Igreja de S.
Nicolau, Marco de Canavezes, Séc. XIV e na Igreja do Mosteiro de Travanca, Amarante,
com data de construção a situar-se entre os Séc. XI e Séc. XIV.

P.B. Lourenço, J.M. Branco e H.S. Sousa (eds.) 2014


12 Intervenções em coberturas medievais em madeira: Tradição e contemporaneidade

Na igreja de S. Mamede de Vila Verde houve a necessidade de construir novas coberturas,


devido à ausência das mesmas no momento em que realizamos a intervenção, sendo
apresentada a solução encontrada com base na tradição construtiva que se observou em
edifícios semelhantes, mas acima de tudo, a resposta que se encontrou para solucionar os
problemas de execução de uma cobertura para aquele caso concreto.
Nas igrejas de Tabuado e Cabeça Santa apresenta-se a situação existente, decorrente de
obras realizadas essencialmente na década de oitenta do século passado e a conservação
que foi realizada, com substituição de elementos degradados.
Na igreja de S. Nicolau apresenta-se a estrutura existente e os variados problemas
detectados que culminaram na sua total reformulação, devido à incoerência da solução
construtiva implementada, tendo sido necessário a adopção de uma solução definitiva.
Em Travanca houve igualmente a necessidade da remoção parcial das estruturas de
madeira que compunham as coberturas, devido ao mau estado de conservação das mesmas,
mas também houve a necessidade de resolver problemas estruturais complexos nos muros
que as suportavam. Assim, apresentam-se as soluções tomadas com vista à resolução dos
vários problemas diagnosticados, que passaram essencialmente pela execução de novas
estruturas de madeira e reforços de ligações que asseguram a resolução dos problemas
estruturais verificados, dando especial ênfase à forma oculta como foi resolvida a
complexidade de todo o sistema.
Depois desta introdução, o artigo organiza-se em três partes e a conclusão. Estas partes são
realizadas de forma a se tentar vislumbrar o que seria uma cobertura medieval original,
tendo em conta as imagens e soluções que observamos nos locais, as intervenções
realizadas em meados do século passado e os materiais utilizados, metodologias e soluções
contemporâneas definidas nas intervenções levadas a cabo. Estas partes são realizadas de
forma a se perceber uma possível origem, evolução e a forma de procurar soluções para a
resolução dos problemas diagnosticados nestes monumentos, contendo impressões sobre os
percursos do projeto e futuras perspectivas para investigação.

Figura 1 – Plantas das igrejas objecto de intervenção com marcação das asnas de madeira,
depois das intervenções realizadas; (a) Igreja do Mosteiro de Travanca, Amarante;
(b) Igreja de Cabeça Santa, Penafiel; (c) Igreja de Tabuado, Marco de Canavezes;
(d) Igreja de S Mamede de Vila Verde, Felgueiras; (e) Igreja de S. Nicolau, Marco de
Canavezes. Desenhos do autor.

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Miguel Malheiro 13

2. A SITUAÇÃO ORIGINAL

As coberturas originais de edifícios românicos, como os que aqui tratamos, já há muito


tempo que desapareceram, não havendo conhecimento da existência de alguma cobertura
medieval no nosso país. Isto acontece porque as intervenções realizadas são normalmente
tardias, havendo a necessidade da substituição integral das armações de madeira
fragilizadas, mas também porque só há relativamente pouco tempo se empregam soluções
de reparação parcial das mesmas, através do reforço das ligações, mas acima de tudo,
porque a madeira é um material perene, com necessidade de ciclos de renovação.
Assim, relatar como teriam sido as coberturas originais destes edifícios é uma tarefa difícil
e praticamente impossível de realizar. Apenas se pode tentar realizar uma aproximação
através da leitura dos indícios que os edifícios ainda contêm [2], como a inclinação das
cornijas, a existência de agulheiros para encastramento de barrotes, a forma como estão
tratadas as empenas, mas também como foram realizadas as substituições das coberturas de
alguns destes edifícios no século passado, pela extinta Direção Geral de Edifícios e
Monumentos Nacionais (DGEMN).
A observação das fotografias recolhidas pela DGEMN, antes das obras realizadas em
meados do século passado, permite compreender como seriam as coberturas que chegaram
até a esse momento, mas não se pode afirmar que essas seriam as originais, dado que estes
edifícios atravessaram as vicissitudes do tempo, sendo objecto de pesadas campanhas de
renovações para dar resposta às reformas das práticas religiosas, aos novos cenários
artísticos do espaço sacro e a ampliações espaciais, que ocorreram durante os séculos XVII
e XVIII. No entanto, uma análise atenta do antes e depois destas obras permite-nos afirmar
que existiu por vezes, por parte dos técnicos da DGEMN, uma intenção de introduzir
alguns melhoramentos nos sistemas construtivos empregues, decorrentes da evolução
tecnológica existente na altura, verificando-se em alguns casos, a manutenção de
elementos principais das armações de madeira existentes, porque estes restauros
consistiram em “percursos críticos que partiram da leitura do monumento como fonte
primária de conhecimento para voltar ao monumento como território operativo daquele
conhecimento (fundamento de qualquer restauro moderno)” [3].

(a) (b)

Figura 2 – Igreja de Tabuado durante as intervenções realizadas em 1963; (a) Armação de


madeira existente antes das obras; (b) Forro do tecto de madeira antes das obras.
Fotografias: © SIPA-IHRU.
As coberturas, de três dos edifícios aqui analisados, sofreram intervenções de
requalificação geral que foram publicadas nos Boletins da DGEMN [4]. O boletim

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14 Intervenções em coberturas medievais em madeira: Tradição e contemporaneidade

correspondente à intervenção realizada na igreja de S. Salvador de Travanca foi publicado


em 1939, o da Igreja de Cabeça Santa em 1951 e o da Igreja de Tabuado em 1972.
Relendo esses boletins, percebe-se a existência de uma tentativa, por parte dos seus
autores, em realizar a manutenção dos princípios estruturais das soluções originais, ou das
que foram encontradas no momento da intervenção, embora as reformulações das
armações de madeira, nestes três casos, tenham sido totais. As imagens mostram-nos, nas
três igrejas, que as estruturas tinham recebido tectos com perfis curvos pelo seu interior,
evidenciando uma tipologia construtiva característica dos Séculos XVII e XVIII.
Comparando com a estrutura que descobrimos em S. Nicolau, percebem-se as semelhanças
entre os princípios construtivos, consistindo regularmente na existência de asnas simples
com duas pernas e uma linha, colocada invariavelmente a um terço de altura, elegendo-se
constantemente a madeira de castanho do Minho como material para a sua construção. A
análise das imagens permite pensar que estas armações seriam realizadas com barrotes de
secção rolada, com secções próximas das existentes, tal como se verifica na Igreja de
Tabuado, Figura 2 (a), e na Igreja de S. Nicolau, Figura 3 (a).
As soluções encontradas pelos técnicos da DGEMN foram quase sempre no sentido de
replicar os sistemas construtivos existentes, como se pode constatar pela descrição do que
existia antes das obras e depois das obras. Em Travanca, “nem uma viga de armação dos
seus telhados se pôde aproveitar” [5], tendo sido realizadas “novas armações de castanho –
afeiçoadas de harmonia com os elementos da construção primitiva, para constituírem, a
descoberto, os longos tectos das naves” [6]. Antes das obras encontraram estruturas que
pretendiam “simular em todos os tectos, com grande dispêndio de trabalho e de argamassa,
aparatosas abóbadas de mármore branco” [7], ver Figura 3 (b). Assim, a opção tomada
para a cobertura foi a “construção de outra nova, em madeira de castanho, segundo os
elementos encontrados, para ficar à vista” [8].

(a) (b)
Figura 3 – Armação de telhado e tecto antes das obras; (a) Armação de madeira existente
antes das obras de 2013, na Igreja de S. Nicolau, onde se pode observar a dupla estrutura
existente. Fotografia do autor; (b) Abóbada do tecto da nave lateral Norte da Igreja de
Travanca, em 1939. Fotografia: © SIPA-IHRU.
Na igreja de Cabeça Santa as opções foram semelhantes, e a situação encontrada foram os
telhados “da Igreja propriamente dita, como os da capela-mor, achavam-se tão
decompostos e carecidos de segurança, que se tornou indispensável apear toda a sua
armação e renovar em seguida, sobre aquela que se construiu para a substituir, a robusta e
apropriada cobertura que hoje ali se vê” [9].
Também na Igreja de Tabuado, o autor refere a colocação da “nova estrutura da cobertura
constituída por armação de madeira, com barrotes aparentes, colocados nos níveis

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Miguel Malheiro 15

originais” [10], o que só seria possível se as secções dos barrotes e a configuração geral da
estrutura fossem semelhantes ao encontrado.
Embora sendo difícil de afirmar como seriam as estruturas de madeira dos telhados
primitivos, por não termos contacto com nenhuma estrutura original, podemos avançar que
elas seriam próximas das realizadas durante os restauros do século XX, com asnas simples.
Os elementos de revestimento também seriam cerâmicos, apresentando uma imagem
global exterior próxima da que hoje observamos. No entanto, é de prever que algumas
destas coberturas poderiam apresentar estruturas de madeira muito simples, com recurso a
barrotes toscamente trabalhados. O revestimento das mesmas também poderia não ter sido
todo realizado com elementos cerâmicos na sua origem, como denunciam as cornijas da
Igreja de S. Mamede de Vila Verde, com uma pendente muito acentuada para o exterior, de
difícil apoio de elementos cerâmicos, sendo mais apropriada para uma cobertura vegetal.

Figura 4 – Cortes transversais das igrejas que fazem parte deste estudo, depois das
intervenções realizadas; (a) Igreja do Mosteiro de Travanca, Amarante; (b) Igreja de
Cabeça Santa, Penafiel; (c) Igreja de Tabuado, Marco de Canavezes; (d) Igreja de S.
Mamede de Vila Verde, Felgueiras; (e) Igreja de S. Nicolau, Marco de Canavezes.
Desenhos do autor.

3. OBRAS EFECTUADAS NO SÉCULO XX

As igrejas de Cabeça Santa, Travanca e Tabuado foram intervencionadas pela DGEMN


durante o século XX, de 1938 a 1951, de 1958 a 1988 e de 1955 a 1972, respectivamente.
Estas obras incluíram o apeamento total das armações de madeira e materiais de
revestimento, conforme já mencionado.
De forma sucinta, podemos afirmar que as primeiras obras realizadas nas coberturas destes
monumentos consistiram na realização das armações de madeira que ainda hoje se
encontram no local, com exceção da Igreja de Travanca. As obras realizadas mais tarde
consistiram, normalmente, na substituição dos elementos cerâmicos que têm um prazo de
durabilidade relativamente curto, de cerca de 20 anos. Os elementos cerâmicos utilizados
até à década de setenta nestes imóveis, consistiam normalmente no uso de telha do tipo
“Romana” nos canais e telha do tipo “Nacional” nas capas. Nesta altura, as três igrejas
receberam frechais em betão armado, para reforço do coroamento das paredes e maior
resistência às sobrecargas do telhado. Na Igreja de Travanca foi ainda aplicada uma esteira

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16 Intervenções em coberturas medievais em madeira: Tradição e contemporaneidade

em laje de tijolo armado, com 0,10 m de espessura, na nave lateral Norte. A partir da
década de oitenta começa-se a utilizar a subtelha, que consistia na colocação sobre o forro
de placas de “Platex” com 5 mm de espessura, assente em escama, depois de humedecidas,
com a face polida voltada para o exterior.
Assim, verifica-se que as igrejas chegaram até ao século XX com os elementos principais
das estruturas de madeira gravemente deteriorados, sendo necessário a reformulação total
das estruturas das coberturas, conforme os três casos mencionados. Quando isto não
aconteceu, como nos restantes dois casos, em conjunto com a falta de manutenção, levou a
que as estruturas tivessem desaparecido, como no caso de Vila Verde, ou entrassem em
avançado estado de degradação, havendo a necessidade de duplicar as estruturas, como no
caso de S. Nicolau.

(a) (b)

Figura 5 – Remoção de laje e madeiramentos das coberturas da Igreja de Travanca;


(a) Remoção da laje da nave lateral Norte, assente sobre subtelha e forro de madeira;
(b) Subtelha em “Platex”, na nave central. Fotografias do autor.
Depois das grandes campanhas de apeamento das estruturas ocorridas durante a primeira
metade do século passado, verificaram-se obras de manutenção e substituição pontual de
elementos deteriorados nas fases seguintes, com a introdução de elementos
tecnologicamente mais eficazes, como o início do uso da subtelha, mas por vezes também
contraproducentes na manutenção do imóvel, como a esteira de tijolo armado aplicada em
Travanca, devido à sobrecarga que exerceu nos muros de granito.

(a) (b)

Figura 6 – Remoção de subtelhas em “Platex”; (a) Igreja de Cabeça Santa; (b) Igreja de
Tabuado. Fotografias do autor.

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Miguel Malheiro 17

4. INTERVENÇÕES CONTEMPORÂNEAS

Nas Igrejas de Cabeça Santa e Tabuado a intervenção que realizamos consistiu na


substituição dos revestimentos cerâmicos dos planos das coberturas, devido à fracturação
de alguns elementos e à acumulação de colonização vegetal, provocando zonas de
estagnação de águas. Foram também verificados os forros em madeira de castanho
existentes e substituídos os elementos deteriorados. Depois de desmontado o ripado e
removida a subtelha em aglomerado de madeira “Platex”, aplicou-se um contra-ripado e
ripado de madeira de pinho tratado, com secções de 4 cm x 3 cm, colocando-se entre eles
uma membrana de subtelha permeável ao vapor e impermeável à água. A telha de canudo
foi aplicada sobre este ripado com parafuso e grampos em aço inoxidável. O ripado e
contra-ripado foi nivelado, com peças de pinho tratado, para se conseguir uma correta
entrega do telhado ao beiral e respeitar as inclinações das empenas dos telhados. Este
telhado foi rufado às empenas com rufos de zinco pré-patinado com 0,80 mm de espessura.
A operação levada a cabo nestas duas igrejas acabou por ser uma operação de manutenção
do existente, melhorando as condições técnicas de alguns elementos, como o caso dos
rufos e subtelha, limpeza e tratamento das madeiras existentes, mas mantendo a imagem
global das coberturas. Na face interior das coberturas, manteve-se a situação existente
através do tratamento das madeiras da armação do telhado. A solução das armações em
madeira de castanho é idêntica nas duas situações, com duas pernas e uma linha a 1/3 de
altura, onde assenta o forro. A forma interior dos forros, em ambas as situações, é em
“masseira”, com remates laterais aos muros de pedra formados por uma sanca composta
por duas tábuas sobrepostas, uma contínua, abaixo da linha de limite das pernas, e outra
colocada entre pernas, ligando ao forro, com uma altura total de cerca de 28 cm. As pernas
assentam sobre frechais em betão armado existentes, que se mantiveram.
A intervenção realizada na Igreja de Vila Verde [11] [12], resultou na execução de novas
coberturas com armação de madeira maciça de castanho revestida a telha de canudo. A
solução encontrada foi a tradicional realização de asnas formadas por duas pernas e uma
linha, colocada a um terço da altura da asna, com forro a contornar o extradorso das
pernas, em forma triangular, conseguindo-se uma maior visibilidade da estrutura principal,
dada a repetição destes elementos a cada 25 cm. Procurando dar ênfase a esta repetição de
asnas, optou-se por introduzir mais altura nos elementos que as constituem, em relação aos
encontrados nas duas igrejas referidas acima, utilizando uma secção de 15 cm de altura por
7 cm de base. O trabalho final refletiu a imagem pretendida, relacionando-se diretamente
com os elementos esguios e repetitivos definidos para o mobiliário, criando ritmos
semelhantes, dando ênfase à materialidade dos elementos. Estas asnas apoiam-se em
frechais com secção de 15 cm x 25,5 cm, fixados com parafusos de aço ao coroamento dos
muros laterais. A rigidez da estrutura é dada pela união de todos os elementos estruturais
através do forro, com espessura de 2,2 cm. O remate do frechal, pela face interior dos
muros, é realizado mediante a aplicação de uma sanca composta por duas tábuas pregadas
ao mesmo, com secções de 16,5 cm x 1,5 cm, criando uma imagem semelhante à dos tectos
tradicionais de “saia e camisa”.
Na face superior desta cobertura utilizou-se igualmente a telha de canudo, dado que a sua
dimensão permite uma maior flexibilidade para a realização da cobertura ligeiramente
arqueada, para uma correta entrega ao beiral, que costuma ficar com inclinação menor que
a restante inclinação do telhado. Os rufos utilizados na impermeabilização da ligação do
telhado aos paramentos verticais foi o zinco idêntico ao utilizado nas duas situações
anteriores, aplicado também com presilhas.

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18 Intervenções em coberturas medievais em madeira: Tradição e contemporaneidade

(a) (b)

(c) (d)

Figura 7 – Coberturas em execução; (a) Tecto da cobertura da Igreja de Cabeça Santa,


com as tábuas de forro substituídas, sem acabamento final de uniformização de cor;
(b) Tecto da Igreja de S. Mamede de Vila Verde; (c) Tecto da Igreja de S. Nicolau;
(d) Cobertura da Igreja de S. Mamede de Vila Verde. Fotografias do autor.

Figura 8 – Corte transversal da nave da Igreja de S. Mamede de Vila Verde. Desenho do


autor.

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Miguel Malheiro 19

A irregularidade das superfícies dos coroamentos das empenas e as juntas


sobredimensionadas obrigaram à sua rufagem com chapa de chumbo, por este ser o
material que melhor se adaptava às irregularidades, com aplicação a maço, e porque
também ainda era possível a sua utilização na altura de realização do trabalho.
Relativamente à Igreja de S. Nicolau, a intervenção previa a manutenção da cobertura
existente, substituindo os elementos degradados por outros idênticos aos existentes, mas
realçava a necessidade de remoção de uma fiada de granito existente sobre as cornijas e
empenas, nos telhados da nave e capela-mor. A remoção dos elementos cerâmicos permitiu
observar a existência de duas estruturas, uma mais antiga, onde se encontravam fixadas as
tábuas que formavam os tectos com perfil em arco abatido, toscamente realizados, e uma
segunda estrutura mais recente, onde apoiavam os elementos cerâmicos, ver Figura 3 (a). A
sobreposição destes dois elementos, pressupostamente realizados pela comissão fabriqueira
em 1992/93, conforme mencionado na ficha IPA, resultou na necessidade de remate da
segunda estrutura devido à nova cota atingida, tendo daí derivado a realização da fiada de
granito mencionada acima. A observação dos elementos permitiu concluir que a estrutura
original era composta por asnas simples em madeira de castanho, idênticas às soluções das
igrejas anteriores, compostas por duas pernas e uma linha sensivelmente posicionada a 1/3
da altura da asna, frechais e um pau de fileira que unia todas as asnas na parte superior.
Todos os elementos que compunham esta armação encontravam-se em avançado estado de
degradação. A segunda estrutura foi executada em madeira de pinho, apoiada na estrutura
original, com espaçamento entre barrotes de cerca de 70 cm, o dobro da estrutura original,
sendo observável a criação de flechas de carga no ripado. Assim, a solução tomada foi a
remoção integral de toda a estrutura de madeira, e a execução de uma nova estrutura
semelhante às realizadas anteriormente, em madeira de castanho. Utilizaram-se secções
dos elementos principais das asnas semelhantes aos existentes na solução original, com
6 cm x 11 cm nas pernas e linhas, com afastamento entre asnas de 28 cm. O forro utilizado
foi idêntico ao utilizado nas igrejas anteriores, bem como a sua aplicação e formato final,
aplicado no extradorso das asnas, havendo a possibilidade de voltar a colocar um tecto de
perfil de volta perfeita em posteriores obras de conservação que se venham a realizar no
imóvel, dado que o restante espaço interior não foi objecto de intervenção nesta fase. Esta
solução permitiu remover integralmente a fiada de granito mencionada anteriormente,
devolvendo uma coerência de remate do telhado às empenas que não existia anteriormente.
Na Igreja do Mosteiro de Travanca a intervenção levada a cabo partiu da necessidade de
reforçar as ligações dos muros nas cotas superiores, por se verificar alguns deslocamentos
nos encostos dos mesmos nos vários tramos das naves central e laterais, bem como a
remoção das lajes realizadas no século passado, conforme mencionado acima, e a
substituição integral dos elementos cerâmicos fissurados das coberturas existentes. A
intervenção previa também a averiguação em obra do estado de conservação de todos os
madeiramentos, havendo a intenção de realizar a manutenção dos elementos que se
encontrassem em bom estado de conservação.
Assim, a solução encontrada, depois de reunida toda a informação sobre o imóvel,
diagnosticado no local e discutida interdisciplinarmente, passou pela manutenção do
sistema existente, realizando os ajustes necessários para um bom comportamento da
estrutura ao longo do tempo. O desmonte da estrutura permitiu perceber a degradação da
maioria dos elementos a que compunham, salvaguardando-se a maioria das madres, que
embora tivessem sujidades várias ainda apresentavam um bom comportamento para a sua
função estrutural.

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20 Intervenções em coberturas medievais em madeira: Tradição e contemporaneidade

(a) (b)

(c) (d)

Figura 9 – Trabalhos na Igreja do Salvador de Travanca; (a) Aplicação dos ligadores


metálicos no cume da nave central; (b) Aplicação dos ligadores na cobertura da nave
lateral Norte, no encosto à nave central; (c) Vista geral dos tectos da nave central, depois
das obras; (d) Aplicação de membrana e telha na nave central. Fotografias do autor.
Devido aos movimentos dos muros, que passaram pela separação de paredes em alguns
tramos, houve a necessidade de realizar a amarração de todos os elementos à periferia dos
tramos que compõem as três naves, através de ligações ocultas em aço inoxidável de todos
os elementos aos muros, para uma interligação total do sistema de cobertura com as
paredes que a suportam. Sobre esta estrutura aplicou-se uma substrutura semelhante à
utilizada na Igreja de S. Mamede de Vila Verde, com forro de madeira de castanho, contra-
ripado e ripado, membrana permeável ao vapor e impermeabilizante, e telha de canudo. As
inclinações do telhado foram testadas em obra para uma correta compatibilidade com as
empenas e desvios em planta dos vários tramos que compõe a estrutura, assegurando-se a
uniformidade do acabamento final. Pelo interior, deixaram-se à vista as madres e pernas,
tendo sido utilizada uma secção de 8 cm x 11 cm nas pernas, com afastamento entre elas
que varia entre os 21 cm e os 23 cm, adequando-se às esquadrias dos tramos. Devido à
reutilização das madres e da tonalidade da pedra, realizou-se uma infusão geral em todos
os elementos de castanho visíveis pelo interior da igreja para uma maior uniformização dos
tectos das naves, mas sem neutralizar a hierarquia dos barrotes. Nas coberturas da capela-
mor e absidíolos foram igualmente substituídos os elementos cerâmicos, introduzindo-se
ripado e contra-ripado com membrana assente sobre os massames de betão existentes,
decorrentes das obras realizadas na década de setenta.

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Miguel Malheiro 21

5. CONCLUSÃO

A cobertura está vinculada ao mito da construção, no mais antigo dos gestos humanos: o de
se cobrir e proteger. Elas encontram-se associadas às formas primitivas daqueles edifícios,
e apesar das sucessivas metamorfoses, transformações e modificações, elas reconhecem-se
sempre naquelas arquiteturas. Pensamos que o conhecimento da origem e sucessivas
alterações que as coberturas desta arquitetura medieval sofreram ao longo da vida dos
edifícios, constitui um instrumento de aprendizagem fundamental para se voltar a intervir
nelas. A constituição de uma equipa em que intervêm a História, a Arqueologia e a
Engenharia Civil, contribui positivamente para reler novamente a história, para nela poder
intervir, porque se diagnosticam os vários problemas visíveis e invisíveis, assumindo-se
como um contributo maior no encontro de soluções para os problemas específicos de cada
imóvel. Como afirmamos no início, isto não constitui um princípio, mas sim um fim a
atingir, que na maioria dos casos passa por auspiciar soluções simples, simples não
simplistas, intimamente relacionadas com as características específicas de cada um, para
que em conjunto se valorizem.

6. REFERÊNCIAS

[1] A Rota do Românico surge em 1998, no seio dos concelhos que integram a Valsousa
(Associação de Municípios do Vale do Sousa), alargando-se em 2010 aos restantes
municípios da NUT III-Tâmega.
[2] Malheiro M., A presença da Arquitectura. A arquitectura românica do vale do rio
Sousa. Tese de Doutoramento, Universidad de Valladolid, Escuela Tecnica Superior
de Arquitectura, 2012.
[3] Tomé M., Património e restauro em Portugal (1920-1995). FAUP publicações, Porto,
pp. 30-31, 2002.
[4] Os Boletins da DGEMN foram uma publicação que decorreu entre 1935 e 1990,
tendo-se publicado 131 números de intervenções em alguns dos mais significativos
exemplares do legado histórico português, representando uma proposta de debate a
posteriori que tentava incutir uma prática de “prestação de contas”.
[5] Igreja de S. Salvador de Travanca. Boletim da Direcção Geral dos Edifícios e
Monumentos Nacionais, n.º 15, Lisboa: DGEMN, pp. 18, 1939.
[6] Idem.
[7] Idem.
[8] Idem, pp. 26.
[9] Igreja de Cabeça Santa. Boletim da Direcção Geral dos Edifícios e Monumentos
Nacionais, n.º 64, Lisboa: DGEMN, pp. 21, 1951.
[10] Igreja de Tabuado. Boletim da Direcção Geral dos Edifícios e Monumentos
Nacionais, n.º 1125, Lisboa: DGEMN, pp. 20, 1972.
[11] Malheiro M., et al, São Mamede de Vila Verde, Construir uma Igreja com as suas
pedras. Rota do Românico, Centro de Estudos do Românico e do Território, Lousada,
2011.
[12] Malheiro M., Salvaguarda do Património. I Congresso Internacional da Rota do
Românico, Rota do Românico, Centro de Estudos do Românico e do Território, pp.
51-53, 2012.

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22 Intervenções em coberturas medievais em madeira: Tradição e contemporaneidade

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Seminário Intervir em construções existentes de madeira 23

Conhecer a madeira como base de suporte a ações de reabilitação


José Saporiti Machado
Núcleo de Comportamento de Estruturas, Departamento de Estruturas, LNEC, Lisboa
saporiti@lnec.pt

SUMÁRIO

As obras de intervenção em construções existentes envolvendo produtos de madeira (desde


madeira maciça até placas de derivados de madeira) implicam uma correta avaliação da
condição (conservação e resistência) dos produtos de madeira aplicados e, numa segunda
fase, escolha de novos produtos de madeira para substituição ou alteração da estrutura
existente. Não obstante as alterações surgidas ao longo das últimas duas décadas,
englobando uma alteração profunda no panorama normativo, regulamentar e de formação
avançada (graduada e pós-graduada), as anomalias observadas em obra mantêm-se
sensivelmente semelhantes. Esta situação resulta em grande medida de algum desleixo e/ou
incompreensão da importância que aspetos básicos do comportamento da madeira e
produtos derivados representam no desempenho de curto/longo prazo destes produtos. Esta
atitude reforça a imagem de imprevisibilidade, fraca durabilidade e suscetibilidade ao fogo
deste tipo de produtos. A presente comunicação pretende debater aspetos básicos e que
muitas vezes se traduzem em anomalias recorrentes na aplicação de produtos de madeira
na construção.

PALAVRAS-CHAVE: PRODUTOS DE MADEIRA, REABILITAÇÃO, TEOR DE


ÁGUA, AVALIAÇÃO

1. INTRODUÇÃO

A madeira maciça constitui um dos primeiros materiais utilizados pelo homem para a
construção de abrigos ou de pontes. A sua origem biológica (tronco de uma árvore) leva a
que às suas propriedades esteja associada uma elevada variabilidade tornado complexa a
tarefa de prever o seu comportamento mecânico e físico. No entanto esta mesma origem
permite desenvolver soluções construtivas de elevada sustentabilidade e reduzida pegada
de carbono. Em Portugal verificou-se desde os finais da década de 90 um aumento
significativo da construção de estruturas de madeira e da utilização da madeira na
construção [1].
Ao avaliar o comportamento da madeira maciça dois fatores devem ser tidos em conta: a
sua anisotropia; e a sua higroscopicidade. A anisotropia da madeira revela-se no seu
comportamento mecânico e físico segundo três eixos (longitudinal, radial e tangencial),
Figura 1a.
Relativamente ao seu comportamento mecânico, a madeira apresenta uma resistência
elevada quando as fibras são solicitadas segundo o seu eixo longitudinal (compressão e

P.B. Lourenço, J.M. Branco e H.S. Sousa (eds.) 2014


24 Conhecer a madeira como base de suporte a ações de reabilitação

tração paralela às fibras), e uma resistência mínima quando os esforços se concentram nas
ligações entre fibras (corte ou tração paralela às fibras), Figura 1b.
Para fins estruturais assume-se que a diferença de resistência da madeira da madeira nas
direções transversais (radial e tangencial) não é significativa comparada com o ratio médio
entre a resistência longitudinal:transversal de cerca de 30:1 a 40:1 [2]. Desta forma, as
propriedades mecânicas da madeira para fins estruturais são apresentadas sempre em
função da orientação do esforço mecânico relativamente à orientação das fibras de
madeira.

(a) (b)
Figura 1 - Três eixos principais de anisotropia da madeira maciça (a); anisotropia das
propriedades mecânicas da madeira presente na madeira limpa de defeitos (// e  - esforço
paralelo e perpendicular às fibras, respetivamente).

No caso do comportamento físico a madeira apresenta alterações dimensionais em


resultado da sua higroscopicidade. Quando estas alterações ocorrem de forma rápida
(desequilíbrio entre a absorção/desorção e a taxa de difusão de humidade no interior da
madeira) a madeira apresenta deformações e fendas.
Um elemento de madeira ao ser exposto a um determinado ambiente absorve ou perde
moléculas de água até ocorrer um estado de equilíbrio (teor de água de equilíbrio). Neste
processo as moléculas de água estabelecem ou partem ligações com as fibrilas de celulose
levando ao afastamento ou à aproximação destas fibrilas no interior da parede celular das
fibras. Dado que a maioria dessas fibras (aprox. 90%) dispõe-se na direção longitudinal do
elemento de madeira, as variações dimensionais são mais significativas na direção
transversal (largura e espessura) do elemento em relação à direção longitudinal
(comprimento). A variação de dimensões na direção transversal apresenta ainda uma
relação de aproximadamente 2:1 entre a variação sentida na direção radial e na direção
tangencial, Figura 2a.
A higroscopicidade da madeira leva ainda à alterações das suas propriedades mecânicas e
ao perigo de deterioração biológica [3].
Compreendendo a complexidade da madeira e a necessidade de facilitar a sua percepção
por parte das partes interessadas na utilização da madeira na construção, a normalização
europeia tem sido baseada na definição de um conjunto de classes.

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José Saporiti Machado 25

12 35

30 Fase 1
10
Variação dimensional (%)

C - Radial
25
8 C - Tangencial

Teor de água (%)


Fase 2
C - axial 20
6
Cs - Radial

4 Cs -Tangencial 15 Fase 3
Cs - Axial
10
2

5
0
0 10 20 30 40
0
Teor de água (%)
Espessura da peça

(a) (b)
Figura 2 – (a) Variação dimensional segundo os três eixos principais da madeira (C –
Carvalho; Cs -Castanho); (b) Perfil de distribuição do teor de água no interior de uma peça
de madeira. A secagem da peça é manifesta pela diminuição do teor de água médio e do
gradiente de humidade (fase 1  fase 3).

Estas classes tentam facilitar o correto emprego da madeira e seus derivados, ao permitir
associar diretamente o seu comportamento às condições de utilização. Estas classes
permitem aferir as alterações das propriedades mecânicas devido ao teor de água de
equilíbrio e à duração das ações a considerar (classes de serviço – kmod, kdef [4]) e do perigo
de ocorrência de fenómenos de deterioração devido à degradação biológica (classes de
risco [5]), Tabela 1.

Tabela 1 – Possível associação entre as classes de serviço e as classes de risco.

Classe de serviço (CS) Classes de risco (CR)

CS 1 – Interior CR 1 (No interior, protegido) – TA  20%


30% < HR < 65% Possível degradação por: carunchos;
TA  12% fungos cromogéneos e de podridão
CR 1 (No interior, protegido) – TA  20%
Eurocódigo 5 [4]

CR 2 (componente sujeito a
EN 335-1 [5]

CS 2 – Interior húmido e
humedecimento ocasional devido por
exterior abrigado
exemplo a condensação) – Ocasionalmente
65% < HR < 85%
TA > 20%
12% < TA  20%
Possível degradação por: carunchos;
fungos cromogéneos e de podridão
CR 3 (Exposição ao exterior não abrigado)
CS 3 – Exterior não abrigado Possível degradação por: carunchos;
TA > 20% fungos cromogéneos e de podridão;
térmitas subterrâneas
TA – Teor de água médio da madeira macia; HR – Humidade relativa considerando
uma temperatura de 20ºC

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26 Conhecer a madeira como base de suporte a ações de reabilitação

A classe estabelecida para uma dada utilização, e que suporta a qualidade do material
especificado, poderá ser alterada de forma drástica (p. ex. passagem de CR 2 para CR 3)
quando por falhas conceção, armazenamento em obra, execução ou manutenção um
elemento de madeira passe a estar exposto a uma fonte continuada de humidade. Esta
alteração não antecipada compromete o desempenho desejado para o produto podendo,
dependendo da sua relevância na estrutura, condenar o desempenho da estrutura onde esse
elemento é incorporado.
As limitações associadas à madeira maciça levaram ao desenvolvimento de compósitos de
madeira (nomeadamente, derivados de madeira, madeira plástico) e dos produtos técnicos
de madeira (nomeadamente, lamelados colados, LVL, CLT), Figura 3.

Figura 3 – Evolução dos principais produtos de madeira, sendo assinalados os lamelados


colados, o OSB e o CLT pelo maior impacto recente no mercado nacional e/ou
internacional.

No caso dos compósitos de madeira e dos produtos técnicos de madeira devem ser
atendidos aspetos relacionados com a sua integridade (coesão interna) quando expostos à
humidade (qualidade da colagem ou resistência à humidade).
A presente comunicação pretende abordar alguns dos aspetos básicos que geralmente
condicionam o surgimento precoce de anomalias em produtos de madeira na construção.
Estes aspetos estão em grande medida relacionados com a higroscopicidade da madeira. A
importância deste fator é abordado na vertente de elementos de madeira já existentes e dos
novos elementos de madeira a introduzir no edifício reabilitado.

2. TEOR DE ÁGUA DA MADEIRA

A utilização de madeira, ou compósitos de madeira, na construção deve atender ao teor de


água de equilíbrio da madeira ou dos compósitos de madeira. Este teor de água
corresponde ao ponto de equilíbrio entre a taxa de absorção e de perda de água pela

P.B. Lourenço, J.M. Branco e H.S. Sousa (eds.) 2014


José Saporiti Machado 27

madeira face às condições de exposição em serviço (e.g. temperatura e humidade relativa


do ar).
Devido às múltiplas implicações da higroscopicidade da madeira no seu comportamento
em obra, deve ter-se em atenção que as características físico-mecânicas estabelecidas nas
fichas técnicas dos produtos se reportam sempre a uma condição normalizada (condição de
ensaio estabelecida nas normas europeias e que se referem à estabilização do material para
um ambiente interior caracterizado por uma temperatura de 20 ºC e uma humidade relativa
do ar de 65%). Deste modo, condições de exposição em obra que defiram desta condição
normalizada implicam a necessidade de tomar em consideração as consequentes alterações
do seu comportamento e das suas propriedades.
Os problemas de especificação incorreta do teor de água ou implicações da humidificação
acidental de elementos de madeira constituem a causa direta ou indireta da maioria das
anomalias associadas a estruturas de madeira e que nas seções seguintes são evidenciadas.

2.1. Teor de água de elementos aplicados em obra

A precisão das medições efetuadas é essencial para garantir:


 a avaliação correta do teor de água de equilíbrio e consequentemente da resistência
dos elementos de madeira a considerar na avaliação da segurança da estrutura. O
efeito do teor de água é considerado no Eurocódigo 5 [4] pela afetação das
propriedades de resistência e de rigidez de coeficientes mais ou menos empíricos
(kmod – correção da resistência para o efeito combinado duração das ações e teor de
água; kdef – correção do módulo de elasticidade para efeito combinado duração das
ações e teor de água). A Figura 4 mostra o decréscimo significativo dos valores
característicos de resistência mecânica função do teor de água (classe de serviço) e
da duração das ações impostas sobre os elementos.

CS2 - Ação média


duração

CS1 - Ação média


duração

Madeira maciça & Lamelado colado &


contraplacado
OSB

CS2 - Ação permanente Aglomerado de partículas

CS1 - Ação permanente

0 0.1 0.2 0.3 0.4 0.5 0.6 0.7 0.8 0.9

Figura 4 – Contabilização no fator kmod do efeito redutor do teor de água e


duração das ações nas propriedades mecânicas de diversos produtos de madeira

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28 Conhecer a madeira como base de suporte a ações de reabilitação

 a avaliação de situações anómalas de humidificação dos elementos de madeira


permitindo extrapolar um aumento do risco de deterioração devido a agentes como
os fungos de podridão e as térmitas subterrâneas.
 a adequada especificação do teor de água dos elementos novos a incorporar na
obra.
No caso de elementos em serviço a determinação do teor de água deverá ser feita através
da utilização de humidímetros. Diversos equipamentos encontram-se disponíveis no
mercado podendo ser divididos de acordo com os princípios de medição da resistência
elétrica, Figura 5a, ou da capacitância elétrica, Figura 5b. Embora a sua utilização seja
relativamente simples a precisão das leituras depende do cumprimento das instruções do
fabricante e do conhecimento da forma como a humidade se distribui no interior de um
elemento de madeira, Figura 2b. Recomenda-se a realização de pelo menos 3 leituras em
cada elemento devendo, no caso de humidímetros baseados na resistência elétrica, as
leituras serem efetuadas a várias profundidade até atingir 0,3 vezes a espessura da peça,
obtendo-se assim o gradiente de humidade do elemento. O teor de água médio do elemento
corresponde à médias das leituras efetuadas a 0,3 vezes a profundidade ao longo do
comprimento do elemento.
A leitura deste tipo de aparelhos é influenciada pelo tratamento que possa ter sido
conferido à madeira (preservador, ignífugo ou produto de acabamento), devendo nestes
casos ser realizada a recolha de carotes junto dos pontos de leitura de forma a poder obter
uma curva de calibração.
Os aparelhos têm uma gama de leitura entre 7% e 30% podendo em geral associar-se a
equipamentos de resistência elétrica uma precisão de  2% e aos de capacitância elétrica 
3% [6]. Estes últimos somente permitem uma leitura média do teor de água nas camadas
superficiais da madeira (campo de leitura restrit0 a uma profundidade que ronda os 25 a
30mm). Na maioria dos aparelhos deve ser tida em conta a espécie de madeira (ou gama de
densidade), a temperatura da peça e o já referido gradiente de humidade da peça de
madeira.

(a) (b)

Figura 5 – Humidímetros para leitura do teor de água da madeira; (a) baseado na


resistência elétrica; (b) baseado na capacitância elétrica

Os humidímetros devem ser alvo de calibração, ou de verificação do erro associado à sua


utilização, no caso em que dúvidas existam sobre a sua precisão ou modo de
funcionamento.

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José Saporiti Machado 29

2.2. Teor de água de produtos de madeira a aplicar em obra

O maior ou menor afastamento do teor de água apresentado pelo produto aquando da sua
receção/aplicação relativamente ao teor de água de equilíbrio implica uma alteração
significativa das propriedades mecânicas, das propriedades geométricas ou da durabilidade
face a agentes xilófagos, tal como visto anteriormente.
Assim assume uma grande importância a especificação correta do teor de água a que é
expectável que os produtos sejam entregues em obra. Para o efeito deve ter-se em conta o
tipo de utilização [7] podendo de uma forma geral ser definido a seguinte gama de valores:
 Interiores com aquecimento contínuo – 8% a 10%.
 Interiores sem aquecimento contínuo – 10% a 14%.
 Exterior abrigado – 12% a 18%.
 Exterior exposto (sem contato com o solo ou água) – 12% a 22%.

Considerando a importância deste parâmetro na determinação da qualidade e do


desempenho dos diversos produtos de madeira é estranho que seja raros os casos em que é
realizado o seu controlo por via de ensaios de receção em obra, com o consequente registo
desse valor para avaliação de futuras anomalias. Este facto é ainda mais estranho
considerando o tempo e custo reduzido associado à determinação laboratorial do teor de
água.
A má utilização de humidímetros provocam frequentemente casos de aceitação/rejeição de
lotes de material implicando custos injustificados.

3. AS FENDAS EM ELEMENTOS DE MADEIRA

As fendas ocorrem devido à secagem ou humedecimento da madeira (aplicação de madeira


com um teor de água distante do seu teor de água de equilíbrio) ou devido a ciclos de
secagem/humedecimento quando o ambiente de exposição sofre variações elevadas ao
longo do tempo em serviço da madeira. A secagem/humedecimento gera tensões internas
que por sua vez originam as fendas, uma vez ultrapassada a resistência da madeira na
direção perpendicular às fibras. A sua ocorrência resulta geralmente na separação das
camadas de crescimento (fendas anelares) ou na separação segundo os seus raios lenhosos,
explorando a fraca resistência da madeira a esforços exercidos na ligação entre fibras.
A diminuição das propriedades mecânicas de elementos de madeira maciça devida à
presença de fendas é uma questão frequentemente levantada em obra. A resposta a esta
questão não é simples devendo ser analisada tendo em atenção tratar-se de elementos
existentes em obra ou novos elementos.

3.1. Fendas em elementos aplicados em obra

Em estruturas antigas dois fatores se conjugam para a dimensão das fendas observadas: 1)
secções transversais de grande dimensão; 2) aplicação de madeira verde (teor de água
acima de 24%), que sofreu o seu processo de secagem em obra. Na avaliação destas fendas
deve ter-se em conta a perceção da sua idade (recentes ou antigas), a sua dimensão
(comprimento, largura e profundidade) e a sua localização no elemento. Na avaliação das
fendas o primeiro passo passa pela avaliação da sua distribuição, da sua profundidade e do
seu comprimento, utilizando para isso um apalpa folgas e uma fita métrica.

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30 Conhecer a madeira como base de suporte a ações de reabilitação

Na perceção da idade da fenda pode observar-se a superfície interior das fendas e verificar
se o aspeto superficial é claro (fenda recente, Figura 6a) ou se é escuro derivado da
oxidação da madeira ou da deposição de poeiras e sujidade. (fenda antiga, Figura 6b).
No caso da profundidade recomenda-se a sua leitura em três pontos ao longo do seu
comprimento. A avaliação da extensão (profundidade) da fenda pode ser auxiliada pelo uso
de equipamentos que permitem avaliar o estado do elemento em profundidade (p. ex.
equipamento de avaliação da resistência à perfuração).

(a) (b)

Figura 6 – Observação da superfície interna das fendas; (a) superfície clara indicando
a presença de uma fenda recente; (b) superfície escura indicando a presença de uma fenda
antiga.

O impacto das fendas deve ser avaliado atendendo à sua localização no elemento e dos
esforços presentes nessa zona (sendo críticas zonas de esforços elevados de corte ou de
tração perpendicular às fibras). Nessas zonas críticas os limites a impor devem ser função
para fendas recentes dos limites impostos na norma de classificação visual de madeira para
fins estruturais específica (recomendada) para a madeira em causa.
No caso de fendas antigas estas resultam muitas vezes da tradicional aplicação de madeira
com um teor de água muito elevado e que devido ao processo de secagem em obra leva à
formação de fendas expressivas. No caso da manutenção do uso do espaço será
recomendável a monitorização das fendas (analisando a sua possível evolução no tempo),
sendo que medidas de curto prazo devem ser tomadas no caso de uma nova utilização do
espaço, com correspondente aumento das ações impostas sobre os elementos.
As fendas podem ser reparadas e/ou estabilizadas através de técnicas tradicionais (p. ex.
cintas metálicas) ou por colagem com auxílio ou não de varões metálicos [2]. Esta tarefa
deve no entanto ser conduzida com cuidado, evitando que a colmatação das fendas com
resinas incompressíveis seja feita sem que estejam asseguradas as condições de
estabilidade do teor de água da madeira. Caso esta preocupação não seja atendida a
reparação pode surtir num efeito de cunha, originando o aumento brusco das fendas após
humedecimento da madeira.
Sendo as fendas um fenómeno com desenvolvimento temporal, julga-se importante prever
a sua monitorização sempre que surjam dúvidas acerca da estabilidade de fendas em zonas
críticas [8].

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José Saporiti Machado 31

3.2 Fendas em novos elementos de madeira

No caso do fornecimento de madeira nova o problema das fendas coloca-se ao nível do


caderno de encargos (especificação). A classificação da madeira em serração é
normalmente feita para um teor de água que confere à madeira o termo de comercialmente
seca. No entanto este teor de água é ambíguo estabelecendo a norma harmonizada para
madeira maciça para estruturas (EN 14081-1+A1 [9]) que a madeira pode apresentar um
teor de água até 24% (podendo assim compreender valores entre os 6% e os 24%).
A importância de ter em conta a ambiguidade do conceito de madeira comercialmente seca
reflete-se claramente na ocorrência em obra de defeitos como sejam fendas e empenos. No
caso de madeira classificada para fins estruturais, dadas as dimensões normalmente
especificadas, poderá ocorrer com frequência a receção em obra de madeira classificada
corretamente em serração (classe de qualidade e consequentemente na classe de resistência
desejada), obedecendo aos limites impostos quanto ao número, tipo e extensão das fendas,
a qual vem posteriormente no decurso do seu armazenamento e aplicação a evidenciar
fendas com alguma extensão e que podem comprometer a sua classificação. Este fenómeno
decorre da classificação ter ocorrido em serração quando os elementos possuíam um teor
de água entre 18% e 24%, tendo ocorrido a secagem em obra para valores normalmente
entre 12% e 16%.
Deste modo, recomenda-se que o caderno de encargos especifique o teor de água a que a
madeira deve ser classificada e entregue em obra, assim como a respetiva tolerância (p. ex.
14%  2%). Desta forma, reduz-se o perigo de desfasamento significativo entre o teor de
água da classificação e da utilização, com o correspondente aparecimento de fendas e
empenos que originam atrasos e incertezas em obra.
A ocorrência de fendas pode ser inevitável em situações de especificação de elementos de
madeira maciça de grandes seções transversais. É recomendável a utilização de lamelados
colados no caso de seções fora da gama incluída na norma EN 1313-1 [10], sendo que para
seções acima de 200 x 160 mm deverá atender-se a cuidados adicionais de forma a
diminuir os riscos de fissuração.

4. MADEIRA MACIÇA VERSUS MADEIRA LAMELADA COLADA

A pressão sobre os recursos florestais, a alteração de planos de gestão florestal de forma a


responder à necessidade de um aumento da rentabilidade por hectare e a ocorrência de
eventos extremos (e.g. fogo) levou ao longo dos anos a uma delapidação de árvores de
grandes dimensões e de crescimento lento as quais possibilitavam a obtenção de peças de
grandes dimensões, de elevada qualidade e estabilidade, conferida em grande parte por não
conter o lenho juvenil situado junto à medula do toro (primeiros 5 a 20 anéis de
crescimento), Figura 7.
A diminuição ou mesmo impossibilidade de obtenção de material de grandes seções de
madeira maciça e de grande comprimento incrementou o aparecimento e a utilização de
elementos de madeira lamelada colada.
A madeira lamelada colada é um compósito multicamada constituído em cada camada por
tábuas de madeira coladas de topo (ligações tipo “finger-joint”), sendo as diversas camadas
resultantes da colagem de face das tábuas que constituem cada camada. Estas peças são
secas e classificadas de acordo com uma norma de classificação de madeiras para
estruturas (visual ou mecânica).

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32 Conhecer a madeira como base de suporte a ações de reabilitação

A constituição dos elementos lamelados colados assegura relativamente a elementos de


madeira maciça duas importantes vantagens:
 Maior estabilidade dimensional e menor propensão para fendas.
 Maior homogeneidade correspondente a uma maior confiança no seu
comportamento mecânico.

(a) (b)

Figura 7 – (a) Árvore de Sequoia gigante (Sequoidrendron giganteum) com 5,30 m de


diâmetro na base; (b) O lenho juvenil compreende geralmente os primeiros 5 a 20 anéis
contados a partir da medula

Outras vantagens refletem-se na possibilidade de vencer grandes vãos, desenhar formas


arrojadas sendo significativamente mais leve que vigas de aço (20%) ou de betão armado
(600%).
Estas vantagens só podem manifestar-se em obra se no processo de seleção se tenha em
consideração a classe de serviço de forma a garantir a durabilidade das linhas de cola e
portanto a integridade dos lamelados colados, aspeto abordado na próxima seção. Os
lamelados colados são alvo obrigatório de marcação CE (seção 8) assegurando esta
marcação a existência de uma entidade independente que garante a existência de um
apertado controlo interno de produção.

5. A QUALIDADE DA COLAGEM E O TIPO DE UTILIZAÇÃO

Os compósitos de madeira (derivados de madeira, madeira plástico) e os produtos técnicos


de madeira (lamelados colados, LVL, CLT) são materiais cuja integridade depende da sua
coesão interna, a qual é garantida por uma cola sintética. Esta cola é classificada e
especificada de acordo com o tipo de utilização prevista para o material e que pode uma
vez mais ser garantida pela definição da classe de serviço (ver seção 2) a que o elemento
ficará exposto quando em obra. A Tabela 2 reúne as diversas classes de qualidade de
colagem aplicadas a colas de acordo com as condições de utilização. Esta Tabela como
outras apresentadas nesta comunicação devem ser vistas como meramente indicativas,
devendo sempre em caso de dúvidas serem realizados ensaios laboratoriais ou uma análise
documental de forma a verificar da capacidade da cola garantir a coesão do material face
às condições específicas de utilização.

P.B. Lourenço, J.M. Branco e H.S. Sousa (eds.) 2014


José Saporiti Machado 33

A norma britânica BS 1204 [11] foi incluída devido à sua utilização gerar por vezes
confusão no mercado, nomeadamente na escolha de contraplacado para exterior não
abrigado. Na utilização de contraplacado no exterior deve a qualidade de colagem cumprir
os requisitos da classe C3 da NP EN 314-2 [12] ou a da classe WBP da BS 1204 e não da
classe BR como por vez é entendido na prática.

Tabela 2 - Requisito mínimo a exigir à cola atendendo à sua utilização prevista


Norma de referência
EN 301 [13] EN 204 [14]
Classe de serviço
BS 1204 Colas Colas não
estruturais estruturais
1 INT II D1

MR II D2
2 MR II D3

BR I D3
3 WBP I D41)
1)
Requer a aplicação de um produto de acabamento
As setas indicam uma situação de transição entre duas classes de serviço

A correta especificação atendendo às condições de exposição em serviço pode ser


comprometida através da exposição do material a condições díspares aquando do
transporte ou armazenamento, assunto que será tratado na seção seguinte. Esta situação
verifica-se frequentemente no caso dos lamelados colados que devido às suas dimensões
levantam dificuldades a uma proteção adequada durante o transporte e armazenamento.
Lamelados colados especificados para a classe de serviço 1 (interior seco) são muitas vezes
expostos em estaleiro a condições de classe de serviço 3 por um período prolongado. Esta
situação provoca ciclo(s) de humedecimento/secagem, com o consequente
inchamento/secagem das lamelas e esforços de tração perpendicular às fibras às quais as
linhas de cola são incapazes de resistir, ocorrendo a subsequente delaminação.
Recomenda-se que na previsão de incapacidade de condições de armazenamento
apropriado das vigas seja especificado lamelado colado para classe de serviço superior à
exigida para a classe de serviço definida no projeto.

6. TRANSPORTE E ARMAZENAMENTO EM OBRA – UM PROBLEMA


COMUM A PRODUTOS DE MADEIRA

O teor de água dos elementos novos de madeira a incorporar em obra pode sofrer alteração
durante o transporte e armazenamento em obra. Esta alteração pode colocar em risco, ou
mesmo comprometer, o custo associado ao fornecimento de um produto apresentando um
teor de água de acordo com o critério de teor de água definido no caderno de encargos da
empreitada.
Estas fases devem reunir as condições necessárias de forma a evitarem a alteração
excessiva (± 3%) do teor de água relativamente àquele previsto no caderno de encargos.
Relativamente ao transporte, dependendo das condições (lote fechado, aberto exposto ou
não ao ambiente exterior), a variação de teor de água pode ir de 1,5% a 7%. Esta variação
pode comprometer a aplicação do material em obra, devendo prever-se a possibilidade de
proteger o material durante o transporte (por exemplo através de uma cobertura
impermeável e/ou proteção dos topos com um selante adequado).

P.B. Lourenço, J.M. Branco e H.S. Sousa (eds.) 2014


34 Conhecer a madeira como base de suporte a ações de reabilitação

Os produtos devem ser armazenados em locais abrigados, evitando a exposição à radiação


solar direta, chuva ou ambientes de humidade elevada.
Recomenda-se a verificação e registo do teor de água dos produtos à saída da unidade de
secagem (definindo a qualidade de secagem do lote), aquando da receção em obra e no
momento de aplicação em obra. Para este feito devem ser utilizados humidímetros. A
adoção deste procedimento constitui um auxílio importante no assegurar das condições
ideais de aplicação do produto e na deteção e resolução atempada de problemas associados
à sua humidificação acidental.
Tal como enunciado atrás no caso dos lamelados colados, não se encontrando previstas ou
asseguradas as condições mínimas de proteção dos produtos de madeira deverá ser
equacionada a possibilidade de especificar material destinado a classes de serviço mais
elevadas ou simplesmente a escolha de outro material.

7. QUESTÕES RELATIVAS ÀS FIXAÇÕES

Por fim uma nota relativamente à forma de fixação da madeira e seus derivados. Tal como
inicialmente foi afirmado o panorama regulamentar/normativo foi amplamente alargado
estando disponível regras gerais para a aplicação de fixações a placas de derivados de
madeira (CEN/TS 12872 [15]) e elementos estruturais (Eurocódigo 5 [4]). Existe ainda
manuais de aplicação definidos pelos fabricantes e que permitem evitar muitas anomalias
que vêm a se manifestar pouco tempo após a instalação de um novo elemento de madeira.
Algumas destas anomalias consistem na abertura de fendas devido ao incumprimento das
distâncias mínimas aos bordos, Figura 6a, escorrência de produtos da oxidação devido a
insuficiente proteção de ligadores metálicos, Figura 6b, ou insuficiente capacidade
resistente das ligações ou dos produtos face aos esforços atuantes.
O Eurocódigo 5 [4] apresenta recomendações quanto ao tipo de proteção a conferir aos
ligadores mecânicos de forma a prevenir a corrosão.

(a) (b)

Figura 6 – a) Rotura devido a uma distância insuficiente do ligador aos


bordos da placa; b) Degradação química e biológica resultando da
utilização de um ligador sem a proteção adequada

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José Saporiti Machado 35

8. MARCAÇÃO CE

O regulamento dos produtos da construção em vigor, substituindo a Diretiva dos Produtos


da Construção desde 2013-07-01, impõe a marcação CE obrigatória a uma série de
produtos de madeira, Tabela 3.

Tabela 3 – Normas europeias harmonizadas em vigor tornando obrigatória a marcação CE


de produtos de madeira
Avaliação
Norma europeia
Título da
harmonizada
conformidade
Placas de derivados de madeira para uso na construção -
NP EN 13986 1 / 2+ / 3 / 4
Características, avaliação da conformidade e marcação
Estruturas de madeira - Madeira lamelada colada -
EN 14080 1
Requisitos
Estruturas de madeira - Madeira com secção retangular
EN 14081-1/A1 classificada segundo a resistência - Parte 1: Requisitos 2+
gerais
Madeira para estruturas - Postes de madeira para linhas
EN 14229 2+
aéreas
Revestimentos de piso de madeira - Características,
NP EN 14342 1/3/4
avaliação da conformidade e marcação
Portas (conjunto de porta e aro) pedonais e janelas –
Norma de produto, características de desempenho – Parte
EN 14351-1/A1 1/3/4
1: Portas pedonais externas e janelas sem características
de confinamento ao fogo ou ao fumo
Estruturas de Madeira - Madeira micro lamelada colada
EN 14374:2004 1
– Requisitos
EN 14545:2008 Estruturas de madeira. Ligadores. Requisitos 2+ / 3
NP EN 14592-
Estruturas de madeira. Elementos de fixação. Requisitos 3
:2008+A1:2013
Lambris e painéis de madeira maciça - Características,
EN 14915:2006 1/3/4
avaliação da conformidade e marcação

Outros produtos são abrangidos de forma voluntária à marcação CE via a emissão de uma
Avaliação Técnica Europeia (ETA). Neste regime existem produtos como o CLT,
compósitos de madeira-plástico.
O cumprimento desta obrigação assegura a receção de um produto sujeito a um adequado
controlo interno de produção, sendo que no caso dos sistemas 1 e 2+ a existência desse
controlo é supervisionado por uma entidade independente.

9. NOTA FINAL

A maioria dos casos reportados de anomalias em construções ou estruturas de madeira


existentes dizem respeito à alteração significativa, muitas vezes acidental, do ambiente de
exposição da madeira. Esta alteração, ao modificar o teor de água da madeira, condiciona o
surgimento de deformações, fendas, degradação biológica e delaminações (no caso de

P.B. Lourenço, J.M. Branco e H.S. Sousa (eds.) 2014


36 Conhecer a madeira como base de suporte a ações de reabilitação

elementos compósitos). O comportamento higroscópico da madeira tem assim um impacto


fundamental nas suas propriedades mecânicas, geométricas e de durabilidade. O
desrespeito da sua importância implica a ocorrência de anomalias recorrentes e que
resultam em custos e desconforto elevados para as empresas, para o Estado e para os
particulares. Importa assim em ações de reabilitação uma apreciação correta das condições
ambientes a que o produto de madeira está sujeito em obra, permitindo uma análise
estrutural fiável e uma apreciação correta do estado de conservação e dos riscos de
degradação biológica a que os produtos de madeira ficaram expostos durante o tempo de
vida estimado para a nova estrutura.

10. REFERÊNCIAS

[1] Negrão J., Estruturas de madeira em Portugal – Presente e passado recente. CIMAD
11 – 1º Congresso Ibero-Latino Americano da Madeira na Construção. P-T15-4,
Coimbra, Portugal, 2011.
[2] Dias A., Cruz H., Machado J.S., Custódio J.E.P., Palma P.M.C., Avaliação,
conservação e reforço de estruturas de madeira. Ed. José Saporiti Machado, Verlag
Dashöfer Edições Profissionais Lda, Lisboa. 2009.
[3] Nunes L., Bases para a monitorização do risco de degradação na construção de casas
de madeira. Seminário Casas de Madeira, Lisboa, Portugal, 2013.
[4] EN 1995-1-1:2004+A1:2008. Eurocode 5: Design of timber structures. Part 1-1:
General - Common rules and rules for buildings.
[5] EN 335-1:2013. Durability of wood and wood-based products. Use classes:
definitions, application to solid wood and wood-based products.
[6] James W.L., Fundamentals of hand held moisture meters: An outline. In ASTM
Hand-Held moisture meter workshop. Forest Product Laboratory, 1994.
[7] LNEC, A humidade da madeira. A Madeira na Construção, ficha MX
[8] Dietsch P., Kreuzinger H., Guideline on the assessment of timber structures:
Summary. Engineering Structures, n.º 33, pp 2983-2986, 2011.
[9] EN 14081-1:2005+A1:2011. Timber structures. Strength graded structural timber
with rectangular cross section. Part 1: General requirements.
[10] EN 1313-1:2010. Round and sawn timber. Permitted deviations and preferred sizes.
Part 1: Softwood sawn timber.
[11] BS 1204:1993. Specification for type MR phenolic and aminoplastic synthetic resin
adhesives for wood.
[12] NP EN 314-2:2002. Contraplacado. Qualidade da colagem. Parte 2: Requisitos.
[13] EN 301:2013. Adhesives, phenolic and aminoplastic, for load-bearing timber
structures. Classification and performance requirements.
[14] EN 204:2001. Classification of thermoplastic wood adhesives for non-structural
applications.
[15] CEN/TS 12872:2007. Wood-based panels – Guidance on the use of load-bearing
boards in floors, walls and roofs.

P.B. Lourenço, J.M. Branco e H.S. Sousa (eds.) 2014


Seminário Intervir em construções existentes de madeira 37

Utilização e comercialização de madeira modificada


Bruno Esteves
CIDET, Departamento de Engenharia de Madeiras, Politécnico de Viseu, Escola Superior
de Tecnologia e Gestão de Viseu
bruno@estgv.ipv.pt

SUMÁRIO

A madeira modificada é, hoje em dia, uma alternativa à madeira maciça para diversas
aplicações. A modificação da madeira baseia-se em processos de tratamento aplicados de
modo a melhorar o comportamento da madeira maciça, sem a utilização de produtos
químicos perigosos. Os tratamentos atualmente existentes, focam a sua atenção na
melhoria da resistência à biodegradação, da estabilidade dimensional e da resistência à
radiação ultravioleta.
Existem sobretudo três tipos de modificação da madeira: modificação química,
modificação térmica e modificação por impregnação. A escolha do método a utilizar vai
depender da utilização final a dar à madeira de acordo com as vantagens e desvantagens de
cada um. A madeira acetilada (modificação química) devido ao elevado custo é mais
adequada para situações em que a quantidade de madeira é reduzida mas em que uma boa
durabilidade, estabilidade dimensional e resistência às radiações ultra-violeta são
necessárias como é o caso da fabricação de aros de portas e janelas. A modificação térmica
apresenta-se como um material competitivo para utilizações não estruturais devido ao seu
baixo custo, quando comparada com os outros tipos de madeira modificada. A madeira
furfurilada (modificação por impregnação) é uma madeira muito densa que apresenta
imensas potencialidades em utilizações marítimas pelo facto de ser resistente aos xilófagos
marinhos.
Em Portugal apenas a madeira termotratada tem uma grande implantação tendo sido
realizados vários projetos emblemáticos como o empreendimento Zmar por parte da Jular
ou uma casa em Vale Bem pela Bannema, vencedora do Best architecture Portugal and
Europe nos European Residential Property Awards

PALAVRAS-CHAVE: COMERCIALIZAÇÃO, MADEIRA MODIFICADA,


UTILIZAÇÃO

1. INTRODUÇÃO

A madeira maciça na construção tem diversas aplicações estruturais e não estruturais. Os


principais problemas associados à madeira na construção são a sua biodegradabilidade,
instabilidade dimensional e resistência aos raios ultravioleta. Devido à escassez de madeira
de elevada qualidade o melhoramento das propriedades da madeira tem assumido um papel
cada vez mais importante. De modo a melhorar a resistência aos agentes xilófagos são
geralmente utilizados tratamentos com biocidas que, apesar de melhorarem as propriedades

P.B. Lourenço, J.M. Branco e H.S. Sousa (eds.) 2014


38 Utilização e comercialização de madeira modificada

do material, introduzem na madeira compostos de elevada toxicidade que constituem um


perigo para a saúde pública e ambiental, quer durante a sua utilização, quer no final da sua
vida útil. A modificação da madeira pode, pois, ser uma boa alternativa ao uso de biocidas
e pode substituir as madeiras exóticas ou outros materiais menos sustentáveis, para a
maioria das aplicações não estruturais e para algumas aplicações estruturais. Os processos
de modificação da madeira melhoram as propriedades de madeiras menos nobres como o
pinho, o espruce ou a bétula, produzindo um material novo sem a introdução de compostos
químicos potencialmente perigosos. Deste modo, no final do ciclo de vida este material
não apresenta um perigo ambiental superior ao da madeira não tratada.
Existem basicamente três tipos de processos de modificação de madeira. Aqueles que se
baseiam na modificação térmica, modificação química e impregnação. Existem, hoje em
dia, exemplos de todos os tipos de modificação de madeira que alcançaram a
comercialização como a modificação térmica, em que o processo finlandês Thermowood ®
é o que apresenta maior sucesso comercial, mas também o processo Perdure ® que tem
evoluído desde que as indústrias PCI do Canadá compraram os direitos de propriedade
intelectual para esta tecnologia. Dentro da modificação química, a madeira acetilada
comercializada com o nome Accoya ® é a mais vendida enquanto que, em relação à
modificação por impregnação, o processo de furfurilação chamado Kebony ® é o que está
melhor estabelecido no mercado.

2. TIPOS DE MADEIRA MODIFICADA

2.1. Modificação térmica

Os processos de modificação térmica são aqueles que mais têm evoluído em termos
comerciais nos últimos anos. O sucesso deve-se provavelmente ao baixo custo de
tratamento quando comparado com outras modificações que se baseiam na utilização de
compostos químicos que tornam o produto final bastante mais caro.
Os processos de modificação térmica com mais sucesso são cinco: Thermowood
(Finlândia), Plato (Holanda), Oil Heat Treatment (Alemanha), Bois Perdure e Rectification
(França) embora o Boi Perdure tenho sido adquirido pela PCI Industries do Canadá.
Os processos desenvolvem-se normalmente em quatro fases: aquecimento, tratamento,
arrefecimento e estabilização. As principais diferenças entre os diversos métodos prendem-
se com o modo como é feito o aquecimento (vapor, óleo, gás neutro) e com as condições
operatórias na fase de tratamento, que ocorre a temperaturas entre os 160-260ºC.

Figura 1 – Madeira modificada termicamente.

P.B. Lourenço, J.M. Branco e H.S. Sousa (eds.) 2014


Bruno Esteves 39

As temperaturas elevadas utilizadas na modificação térmica alteram a composição química


da madeira, produzindo um novo material com propriedades melhoradas. Essencialmente
conduzem a uma diminuição da humidade de equilíbrio, melhoram a durabilidade de
madeira, aumentando a resistência aos fungos, exceto em contacto com o solo, e
ligeiramente a insetos, mas tem pouco efeito na resistência contra térmitas. O ponto fraco
do tratamento é a degradação de algumas propriedades mecânicas. O efeito no MOE é
pequeno mas a diminuição da tensão de rotura pode ser significativa. A madeira torna-se
mais quebradiça com a deterioração das propriedades de fratura devido à perda de
polissacarídeos amorfos. Uma revisão sobre as melhorias dos vários processos de
modificação térmica foi publicada por [1].

2.2. Modificação química

A maioria dos processos de modificação química existentes baseia-se na reação entre os


grupos hidroxilo da madeira e um reagente químico. Ao substituir alguns grupos hidroxilo
da madeira por um composto hidrofóbico, a higroscopicidade diminui conduzindo a um
material com propriedades melhoradas. O principal método de modificação química já em
fase comercial é a acetilação com anidrido acético. As propriedades melhoradas pela
modificação química não são muito diferentes das promovidas pela modificação térmica. A
resistência contra fungos aumenta consideravelmente na madeira acetilada mesmo em
contacto com o solo. Em relação à resistência contra térmitas apenas se verifica um ligeiro
aumento. A madeira tratada mostra alguma resistência em relação aos xilófagos marinhos,
mas é ainda suscetível ao ataque, por exemplo, de crustáceos e moluscos. A maior das
vantagens da madeira acetilada é provavelmente a sua resistência aos raios ultravioleta o
que a distingue das demais. Algumas das propriedades mecânicas também são afetadas
com este tratamento como por exemplo a resistência ao corte paralelo ao grão que
diminuiu assim como o módulo de elasticidade que diminui ligeiramente mas nenhuma
mudança na resistência ao impacto ou na rigidez. A resistência à compressão e a dureza
aumentam, enquanto que o módulo de rotura (MOR) aumenta nas resinosas mas diminuí
nas folhosas [2].

Figura 2 – Madeira modificada por acetilação (Modificação Química). Retirado de


www.buildings.com.

P.B. Lourenço, J.M. Branco e H.S. Sousa (eds.) 2014


40 Utilização e comercialização de madeira modificada

2.3. Modificação por impregnação

A modificação por impregnação difere da modificação química pelo facto de não ser a
ligação química com os compostos estruturais existentes nas células de madeira que
promovem as melhorias das propriedades embora essa ligação possa ocorrer. O
funcionamento da modificação por impregnação baseia-se na introdução de um ou vários
compostos químicos na parede das células que, ao reagirem, formam um composto que
bloqueia o acesso aos grupos hidroxilo, diminuindo desta forma a higroscopicidade da
madeira. Existem principalmente dois mecanismos: a impregnação com um monómero e
subsequente polimerização ou a introdução de um material solúvel que se torna depois
insolúvel após tratamento.
O processo de modificação por impregnação que mais tem evoluído nos últimos anos é a
furfurilação. Este processo de modificação da madeira pode ter um futuro prometedor, uma
vez que o álcool furfurílico pode ser obtido através dos produtos secundários da produção
do bioetanol, e o preço deste composto químico deverá baixar no futuro.
À semelhança da modificação térmica e química, a impregnação com álcool furfurílico
conduz a uma diminuição da humidade de equilíbrio e a um aumento da estabilidade
dimensional da madeira, sendo este aumento proporcional ao aumento de massa (WPG). A
madeira furfurilada é muito resistente aos xilófagos marinhos o que não acontece com
outros tipos de madeira modificada, provavelmente devido à sua elevada densidade. Em
relação às propriedades mecânicas, a que mais aumenta é a dureza Brinell. Por outro lado,
a resistência ao impacto em ensaios de flexão é afetada pelo tratamento; A madeira tratada
por este método é ligeiramente mais resistente às condições climatéricas do que a não
tratada [2].

Figura 3 – Madeira modificada por furfurilação (Modificação por Impregnação).

3. UTILIZAÇÕES DE MADEIRA MODIFICADA

3.1. Utilização para fins estruturais

As perdas de resistência mecânica da madeira modificada termicamente colocam sérias


restrições à utilização deste material em aplicações para fins estruturais. Alguns autores [3-
4] estudaram o comportamento estrutural de madeira tratada termicamente e a
possibilidade da utilização para esta madeira do sistema de classes de resistência

P.B. Lourenço, J.M. Branco e H.S. Sousa (eds.) 2014


Bruno Esteves 41

implementada na EN 338, utilizando para o efeito ensaios sobre madeira de faia (Fagus
sylvatica L.). Os ensaios realizados permitiram concluir que os valores do módulo de
elasticidade são semelhantes ou ligeiramente superiores às da faia não tratada, o que
permitiria a sua inclusão em classes de alta resistência como, por exemplo, D50. No
entanto os valores de resistência à flexão são bastante inferiores aos da madeira não tratada
o que obrigaria a colocar esta madeira na classe de resistência D30. Foi igualmente
verificado que as relações estabelecidas na norma europeia EN 384, para derivação de
alguns propriedades mecânicas de madeira maciça em função de outras, não poderiam ser
aplicadas à madeira modificada [5]
Apesar de quer a madeira modificada por acetilação (modificação química) quer a
modificada por furfurilação (modificação por impregnação), do ponto de vista das
propriedades, poderem ter várias utilizações estruturais, dependendo apenas da madeira
original, o seu elevado custo faz com que não sejam competitivas, quer com madeiras
tropicais, quer com outros materiais existentes no mercado. Ainda assim foi recentemente
construída uma ponte de madeira Accoya ® na cidade de Sneek na Holanda (Figura 4)
tendo sido os elementos pré-montados e depois colocados na posição final [6].

Figura 4 – Ponte feita com madeira Accoya ® em Sneek na Holanda. Retirado de


http://inhabitat.com.
A grande vantagem da utilização da madeira modificada em relação a outros materiais é a
sua sustentabilidade uma vez que se trata de um material renovável. Além disso, não
menos importante, é a questão estética, dando a madeira um ar natural às estruturas.

3.2. Utilização para fins não estruturais

Apesar de a madeira modificada através do tratamento térmico não ser adequada para
utilizações estruturais ela tem uma elevada aplicabilidade na construção. A madeira de
resinosas tratada pelo processo thermowood é utilizada em alguns componentes para a

P.B. Lourenço, J.M. Branco e H.S. Sousa (eds.) 2014


42 Utilização e comercialização de madeira modificada

construção, painéis para revestimento de paredes e tetos (interiores e exteriores),


mobiliário de jardim e outras estruturas exteriores (p. ex pérgolas), portas e janela, estores,
onde a perda de resistência mecânica não impede que este produto apresente um
comportamento adequado. A madeira de folhosas é utilizada sobretudo para revestimento
de paredes e tetos, mobiliário para interior e exterior, pisos e persianas ou barreiras
acústicas. As vantagens na utilização desta madeira são a boa estabilidade dimensional,
importante tanto para utilizações no interior como no exterior e a boa durabilidade que é
um fator essencial na utilização da madeira no exterior. Essas vantagens são também as
que tornam este material adequado para todas as outras utilizações exteriores anteriormente
referidas.
Como referido anteriormente o custo das madeiras modificadas por impregnação e
acetilação é superior ao da madeira tratada termicamente. Sendo assim, estas madeiras são
mais utilizadas em situações onde a madeira tratada termicamente não apresenta um
comportamento satisfatório. A madeira acetilada apresenta uma boa cota de mercado para
aros de portas e janelas do exterior pela sua excepcional durabilidade, estabilidade e
resistência aos raios ultravioleta. A madeira impregnada com álcool furfurílico é
essencialmente utilizada para aplicações marinhas devido à sua elevada dureza e
consequente resistência aos xilófagos marinhos. Ainda assim tem havido algum aumento
de comercialização de decks e fachadas com esta madeira. A Tabela 1 apresenta um
resumo das principais vantagens e desvantagens das madeiras tratadas [5].

Tabela 1 – Principais vantagens e desvantagens dos vários processos de modificação.


Processos Vantagens Desvantagens
Modificação Não utilização de qualquer químico Degradação das propriedades
térmica Preço final mecânicas
Degrada-se em contacto com o
solo.
Cor castanha escura
Modificação Resistente a fungos em contacto com Uso de grandes quantidades de
química o solo. químicos
(Acetilação) Resistente aos raios ultravioleta Processo mais caro
Não atribui cor à madeira
Modificação Resistente a fungos em contacto com Uso de maiores quantidades de
por impregnação o solo. químicos que a modificação
(Furfurilação) Preço do composto químico menor química
que o da acetilação. Cor castanha escura
Resistente a xilófagos marinhos.
Ligeiramente resistente aos raios
ultravioleta

4. PRODUÇÃO E COMERCIALIZAÇÃO EM PORTUGAL

Hoje em dia, há principalmente quatro empresas a vender madeira modificada em Portugal


e algumas mais a usar ou revender madeira modificada adquirida às outras empresas. A
comercialização de madeira modificada neste país começou há 10 anos, mas só nos últimos
anos as vendas se tornaram significativas. De acordo com a indústria nos últimos anos as
vendas de madeira modificada têm tido um crescimento exponencial. Não está claro que
empresa foi a primeira a vender madeira modificada em Portugal mas a Jular e Banema

P.B. Lourenço, J.M. Branco e H.S. Sousa (eds.) 2014


Bruno Esteves 43

ambas começaram a comercialização em 2003. A empresa Banema iniciou a


comercialização de madeira termicamente modificada (Thermowood) importada da
empresa Lunawood na Finlândia e a Jular também começou a vender Thermowood
importado diretamente da Finlândia (procedência não revelada). A empresa Multiplacas
começou a vender Thermowood um pouco mais tarde, por volta de 2004 e a Carmo
começou a vender madeira Plato em 2009. Mais recentemente, em 2010 a empresa Santos
& Santos pertencente ao grupo Catarino começou a comercialização de madeira tratada
termicamente importada da Estónia, mas devido aos preços elevados, a empresa decidiu
investir num equipamento de tratamento térmico de madeira e iniciou a produção em 2012.
A nova marca chama-se madeira Atlantic. A empresa Santos & Santos está feliz com a
produção e com o aumento de vendas, cerca de 40-50% cada ano. Santos & Santos é, até
agora, a única empresa a produzir madeira modificada em Portugal. Com o crescimento do
mercado, outras empresas iniciaram a comercialização de madeira tratada, como por
exemplo as empresas Spring ou Madeivouga em 2013. A madeira modificada
termicamente está totalmente estabelecida em Portugal, mas em relação a outras
modificações apenas a madeira modificada por furfurilação já entrou no mercado. A
comercialização começou apenas em 2011 pela empresa Bannema com Kebony. Em 2014
a Banema começou a comercialização da madeira acetilada com a marca Accoya ® [7]
É muito difícil acompanhar a evolução das vendas de madeira modificadas em Portugal,
pois as empresas têm medo de revelar os montantes de madeira vendidos nos últimos anos.
A única empresa que forneceu esses dados foi a Banema (Figura 5).

7 000
*6 meses
6 000

5 000
Vendas (m)

4 000
Thermowood
3 000 Kebony

2 000

1 000

0
2009 2010 2011 2012 2013

Figura 5 – Vendas de madeira modificada da empresa Banema nos últimos anos.

A madeira tratada é vendida tanto em bruto como perfilada. As aplicações principais são
revestimento de paredes (sobretudo fachadas) e pavimentos (deck exterior), mas existem
outras aplicações exteriores como pérgolas, terraços ou varandas e interiores, como saunas
ou telhados. A madeira comercializada com tratamento Thermowood importado da
Finlândia é principalmente a bétula, o abeto e pinho nórdico. A Santos & Santos trata
principalmente pinho bravo; a espécie mais comum em Portugal e também algum freixo
mas encontram-se a realizar testes para permitir o tratamento da madeira de eucalipto, que
é consideravelmente mais barata. A madeira de Kebony é pinho nórdico, Acer, vidoeiro e
syp (pinho amarelo do Sul).

P.B. Lourenço, J.M. Branco e H.S. Sousa (eds.) 2014


44 Utilização e comercialização de madeira modificada

5. PROJETOS EM PORTUGAL COM MADEIRA MODIFICADA

Algumas das empresas que comercializam madeira modificada têm feito muitos projetos,
alguns dos quais com vários prémios. Os projetos mais emblemáticos com madeira
Thermowood feitos pela Banema foram uma casa em Vale Bem, premiada com a melhor
arquitetura de Portugal e da Europa nos prémios europeus de propriedade residencial
(Figura 6) ou um parque temático na ilha da Madeira (Figura 7).

Figura 6 – Casa em Vale Bem Figura 7 – Parque temático da ilha da


(Thermowood). Madeira.

Figura 8 – Anfiteatro em Mértola Figura 9 – Centro escolar de Mouriz.


(Thermowood).
Em Mértola no Algarve a renovação de um anfiteatro também foi feita com Thermowood
(Figura 8). Um dos projetos que envolveram a maiores quantidades de Thermowood foi o
centro escolar de Mouriz (Figura 9), onde a fachada inteira foi feita com madeira
modificada. A Jular tem trabalhado com Thermowood durante vários anos e vende casas
de madeira, feitas com Thermowood chamadas treehouse (Figura 10). O maior projeto
feito pela Jular é um Ecocampo em Zambujeira do mar – Alentejo chamado Zmar (Figuras
11 e 12), mas esta empresa fez vários outros projetos como o Bar do Hotel Convento do
Espinheiro (Figura 13) [7].

P.B. Lourenço, J.M. Branco e H.S. Sousa (eds.) 2014


Bruno Esteves 45

(a) (b)

Figura 10 – Treehouse; (a) no Douro; (b) e no Zmar.

Figura 11 – Zmar in Alentejo Figura 12 – Hotel-Bar Convento do


(Thermowood). Espinheiro.
Os projetos com madeira tratada por furfurilação (Kebony) são geralmente menores e
menos. Um dos maiores projetos feitos com madeira Kebony pela Bannema foi a
renovação das piscinas municipais de Penafiel (Figura 13).

Figura 13 – Piscinas de Penafiel.

P.B. Lourenço, J.M. Branco e H.S. Sousa (eds.) 2014


46 Utilização e comercialização de madeira modificada

6. CONCLUSÕES

A escolha da madeira modificada a utilizar vai depender da utilização final de acordo com
as vantagens e desvantagens de cada uma. A madeira acetilada é ideal para a fabricação de
aros de portas e janelas pois além da boa estabilidade dimensional é bastante resistente à
radiação ultravioleta. Ao contrário a modificação térmica é melhor para utilizações sem
função estrutural em que uma grande quantidade de madeira é necessária devido ao seu
baixo custo e a modificação por furfurilação é ideal para aplicações marinhas. A
comercialização de madeira modificada em Portugal está a crescer e continuará a crescer
nos próximos anos. A madeira tratada é vendida tanto em bruto e perfilada, essencialmente
para revestimentos, decks, e pisos. A madeira tratada em Portugal é principalmente o pinho
marítimo, mas também algum freixos. Estão a ser feitos testes para permitir o tratamento
da madeira de eucalipto. Algumas das empresas que comercializam madeira modificada
têm feito vários projectos emblemáticos.

7. REFERÊNCIAS

[1] Esteves B., Pereira H., Wood modification by heat treatment: a review. BioRes,
n.º 4(1), pp. 370-404, 2009.
[2] Esteves B., Pereira H., Novos métodos de protecção da madeira. 6º Congresso
Florestal Nacional - A floresta num mundo globalizado, Ponta Delgada, Açores,
Portugal, 2009.
[3] Widmann R., Thermally Modified Beech as a Structural Material: Allocation to
European Strength- Classes and Relevant Grading Procedures. 4th European
Conference on Wood Modification, 2009.
[4] Widmann R., Beikircher W., Thermally modified beechwood as a structural material:
allocation to european strength classes and relevant grading procedures. 11th World
Conference on Timber Engineering, 2010.
[5] Esteves B, Nunes L., Saporiti Machado J., Utilização de madeira modificada na
construção. CIMAD 11 – 1º Congresso Ibero-Latino Americano da Madeira na
Construção, 7-9/06/2011, Coimbra, Portugal, 2011.
[6] Bongers F., Alexander J., Jorissen A., Blaβ H., Hill C., Acetylated wood in structural
applications. 5th European Conference on Wood Modification, 20-21/09/2010, Riga,
Latvia, 2010.
[7] Esteves B., Carmo J., Nunes L., Commercialization and production of modified
wood in Portugal. ECWM7- Seventh European conference on Wood Modification,
10-12/03/2014, LNEC, Lisboa, Portugal, 2014.

P.B. Lourenço, J.M. Branco e H.S. Sousa (eds.) 2014


Seminário Intervir em construções existentes de madeira 47

Nuevos barnices al agua para maderas de exterior: Alta durabilidad y


fácil mantenimiento
Isabel Camarasa Perez
Product Development Responsible Joinery , Industrias Químicas I.V.M., S.A., Valencia
i.camarasa@ivmchemicals.es

SUMÁRIO

La madera expuesta al exterior es degradada por el sol, la agua, los hongos, los insectos y
la contaminación.
Los sistemas de barnizado del pasado han baja durabilidad, y el mantenimiento es costoso.
Actualmente los procesos productivos de las carpinterías han dejado de ser “artesanales”
pasando a ser plenamente industriales con control en los procesos de mecanizado de la
madera así como en el proceso de pintado de esta. Como consecuencia se obtienen
procesos consistentes y productos con calidad controlada.
Este trabajo presenta nuevos avances y su aplicación en la protección para maderas de
exterior.

PALAVRAS-CHAVE: BARNICES, MADERA, DURABILIDAD, APLICACIÓN

1. DEGRADACIÓN DE LA MADERA EXPUESTA AL EXTERIOR

La Madera expuesta al Exterior es degradada por el sol, la agua, los hongos, los insectos y
la contaminación.
El Sol provoca el Reblandecimiento del film (grietas), Amarilleamiento del film,
Matización del film, Separación del film de la madera, Ennegrecimiento de la madera,
Amarilleamiento de la madera (maderas claras) y Decoloración de la madera (maderas
oscuras).
La acción del agua puede influir en la absorción y desorción (influenciando la estabilidad
dimensional), formación de burbujas y ampollas de film por presión inversa del Agua y
instaurar condiciones favorables al ataque de moho y hongos.
Los Hongos Cromogéneos atacan la madera en su interior, nutriéndose de substancias de
reserva sin destruir las paredes celulares. Los Hongos de Profundidad atacan los
componentes de las células (celulosa y lignina), causando la destrucción de la madera.

2. PROBLEMAS DEL PASADO

Baja durabilidad de los sistemas de barnizado causado por diseño defectuoso de la


carpintería, productos no resistentes a los rayos U.V., productos no permeables al vapor de
agua y no flexibles, aplicación de los productos no controlada y nula o baja protección
frente a agentes xilófagos.

P.B. Lourenço, J.M. Branco e H.S. Sousa (eds.) 2014


48 Nuevos barnices al agua para maderas de exterior

Como consecuencias teníamos sistema de recubrimiento no homogéneo, en los sistemas


translucidos una rápida foto degradación de la madera, en los sistemas opacos perdida del
color original. La madera provocaba ampollamientos del producto al adecuar su humedad
relativa y se producían roturas del acabado y descamación de este debidos a los cambios
dimensionales de la madera. Se verificaban variación del aspecto y prestaciones (Figura 1).
El mantenimiento era costoso.

Figura 1 – Ejemplo de una ventana revestida con un sistema del pasado.

3. SOLUCIONES DEL PRESENTE

3.1. La madera y su mecanizado

Con los procesos de selección y secado controlados se estabiliza la madera a su humedad


optima tanto para su mecanizado como pintado. La maquinaria actual de mecanizado
consigue un mecanizado superficial de alta calidad lo que aumenta la durabilidad de los
sistemas de recubrimiento. Se utilizan perfiles adecuados.

3.2. Diseño de la carpintería

Mediante las juntas de goma se impide el contacto directo de la madera y se evita la


penetración de agua en la carpintería así como los problemas del bloquing del acabado.

3.3. Productos resistentes a los rayos U.V

Mediante el uso de pigmentos y absorbedores resistentes a los rayos UV, se protege a la


madera de la foto degradación de la lignina y se consigue un color duradero.

P.B. Lourenço, J.M. Branco e H.S. Sousa (eds.) 2014


Isabal Camarasa Perez 49

3.4. Productos flexibles y permeables al vapor de agua

Mediante la combinación de diversos tipos de resinas, básicamente acrílicas y alquídicas,


se obtienen productos permeables al vapor de agua y que se adaptan a los cambios
dimensionales de la madera así como un bajo índice de desgaste frente a agentes abióticos.

3.5. Productos hidrorepelentes y antiblocking

El uso de ceras hidrorepelentes a base de teflón reducen la absorción del agua. Las ceras
han sido seleccionadas en función de su capacidad para prevenir que las superficies en
contacto se pegen, debido a la estructura molecular teflonada que aumenta la dureza
superficial (Figura 2).

Figura 2 – Ejemplo de un sistema de revestimiento actual.

3.6. Productos micronizados

Mediante la tecnología de micronización de las resinas se obtiene una óptima dispersión de


las diferentes resinas alargando los periodos de mantenimiento de los productos sin
renunciar a la flexibilidad de estos.

3.7. Aplicación controlada de los productos

Actualmente los procesos productivos de las carpinterías han dejado de ser “artesanales”
pasando a ser plenamente industriales con control en los procesos de mecanizado de la
madera así como en el proceso de pintado de esta. Como consecuencia se obtienen
procesos consistentes y productos con calidad controlada.

4. PROPIEDADES DE LO RECUBRIMIENTOS

Las principales propiedades de los recubrimientos son proteger la superficie de la madera


frente a la humedad, proteger la superficie de la madera frente a los rayos UV, regular la
permeabilidad al vapor de agua y mejorar el aspecto de la madera.

P.B. Lourenço, J.M. Branco e H.S. Sousa (eds.) 2014


50 Nuevos barnices al agua para maderas de exterior

Los recubrimientos no pueden prevenir los fallos procedentes de una mala construcción o
hacer imperecedera la construcción sin un mantenimiento adecuado.

5. SISTEMAS GENÉRICOS DE PROTECCIÓN

Los recubrimientos se dividen en dos tipos: no filmogéneos y filmogéneos. Los no


filmogéneos tienen espesos inferiores a 30 micrómetros y los filmogéneos superiores a este
valor.
Los sistemas no filmogéneos son más fáciles de aplicar, disimulan errores de diseño y
aplicación, son más permeables y flexibles, tienen menor durabilidad, no poseen el
certificado EN927-2, tienen buena durabilidad en Coníferas (debido a la buena saturación)
y permiten aplicación en decks (Figura 3a).
Los sistemas no filmogéneos tienen una aplicación más exigente (pistola airless / airmix),
necesitan siempre de una aplicación de un Impregnante + Acabado, no disimulan errores
de diseño y aplicación, solo sirven para elementos verticales, posean el Certificado EN927-
2 y permiten pasar certificados de garantía.
Los sistemas filmogénicos normalmente se aplican en 1 o 2 manos a rodillo o pistola
aerografía. Los filmogénicos en 2 o 3 manos con pistola airless (Figura 3b).

(a) (b)

Figura 3 – Ejemplo de un sistema; (a) No filmógeneo translucido; (b) Filmógeneo opaco.

6. NUEVOS DESAROLLOS

6.1. Cromaprotect Water Deck

Desarrollo de un estudio usando maderas exóticas, tropicales y termotratadas, en donde la


impregnabilidad es prácticamente nula. Por lo tanto buscamos un proceso completo para
desarrollar un Impregnante especial, con grande capacidad de bloquear los Taninos.
Utilizando Pigmentos micronizados resistentes al exterior, un aceite mineral emulsionado
en agua, una emulsión acrílica al agua con polímero auto-reticulable y liposomas de teflón
nanométricos (Figura 4).

P.B. Lourenço, J.M. Branco e H.S. Sousa (eds.) 2014


Isabal Camarasa Perez 51

Figura 4 – Ejemplo de una aplicación del nuevo sistema para decks.

6.2. Impregnante

Se busca un impregnante para las maderas termotratadas y tropicales. Se hace un


impregnante muy específico para dar la mayor impregnabilidad posible y propiedades para
evitar las exudaciones de las sustancias extractivas de la madera (ácido Tánico, ácido
fenólico, etc).

6.3. Acabado

Otra de las propiedades que se ha buscado para los decks es un acabado de aspecto actual y
elevada durabilidad, conteniendo Filtros UV manométricos, Ceras teflonadas y un Aceite
emulsionado en agua.
Con esto se confiere un acabado con la máxima protección a la degradación de los rayos
del sol y una permeabilidad al agua superior a cualquier otro acabado al agua (Figura 5).
Su aspecto final es madera natural, madera no barnizada.
Se trata de un aceite mineral emulsionado en agua que penetra en la madera, nutriéndola y
dejando un aspecto natural, con una excelente durabilidad a los agentes climáticos.

6
GRAFICO IDROREPELLENZA TOP COAT +
EMULSION + WAX
+ TEFLON
legenda idrorepellenza
5
1 = scarsa
2 = media
3 = buona
4 4 = ottima
IDROREPELLENZA

5 = eccellente TOP COAT +


EMULSION + WAX

3
TOP COAT +
EMULSION

TOP COAT
1

0
PRODOTTI

Figura 5 – Ejemplo de la repelencia al agua del nuevo sistema para decks.

P.B. Lourenço, J.M. Branco e H.S. Sousa (eds.) 2014


52 Nuevos barnices al agua para maderas de exterior

6.4. Propiedades del Acabado

El Acabado es muy fácil de aplicar a pistola, brocha o rodillo, es microporoso (dejando


respirar la madera barnizada), protege contra el polvo y el agua, permite evacuación de
humedad y és antideslizante. Tiene una durabilidad bastante superior que los aceites, una
excelente resistencia a los agentes atmosféricos y a la degradación producida por los rayos
ultravioleta del sol, contiene filtros UV y es de fácil mantenimiento.

6.5. Aplicación

El saturador 9112A02 en la primera capa de aplicación penetra en profundidad


(componente 1), la segunda capa de acabado Croma Water Deck 94058-00, se adhiere
consiguiendo una fina película homogénea y microporosa (componente 2) (Figura 6).

Figura 6 – Aplicación del nuevo sistema para decks.

6.6. Cromaprotect Sun Proof

La fotodegradación o decoloración en la madera es la degeneración producida por el efecto


de las radiaciones ultravioletas y las radiaciones infrarrojas producidas por el sol (Figura
7).
Estas dos radiaciones son las que más afectan a la madera sin importar su especie, además
actúan conjuntamente, pero su efecto es muy diferente.

Figura 7 – Ejemplo de fotodegradacion en Madera de Sucupira.

P.B. Lourenço, J.M. Branco e H.S. Sousa (eds.) 2014


Isabal Camarasa Perez 53

6.7. El efecto de la radiación UV

Esta radiación quema las células de la superficie de la madera, pero sin calentar la misma.
El efecto que produce es un agrisamiento y desescamado de la madera, más acentuado en
las maderas rojas como la teca, el iroko, elondo, etc.

6.8. Efecto de la radiación infrarroja

Está radiación calienta la superficie de la madera, pero sin quemarla. Produce la


evaporación del agua contenida en las células de la superficie, originando tensiones en el
interior de la madera, que produce fisuras, grietas, combinadas con alabeos. El efecto de
esta radiación infrarroja es reflejado por los tonos claros del espectro.

6.9. Componentes de la Madera

La Madera és constituida por cerca de 50% de Celulosa, 30% de Lignina y 20% de


Productos orgánicos varios.

6.10. Desarrollo del estudio

El estudio se desarrolló con el objetivo del uso de maderas de coníferas en procesos de


barnizado transparente sin conferir ningún color a la madera.
El impregnante desarrollado resalta el tono natural de la madera y hace que se estabilice la
fotodegradación de la lignina y retrase el envejecimiento, engrosamiento de la madera
(Figura 8).

Figura 8 – Ejemplo de aplicación del Nuevo Sistema Sun Proof (Impregnante 91A71 +
Acabado 94058-00).

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54 Nuevos barnices al agua para maderas de exterior

Este nuevo proceso Cromaprotect Sun Proof está compuesto de un impregnante y un


acabado, formulados para aumentar el rendimiento, tanto técnico como de calidad.
El desarrollo de estos productos se ha obtenido mediante el uso de materias primas
especiales. Centrándose en la calidad de su rendimiento combinada con su facilidad de uso
y versatilidad de empleo.

6.11. Características y ventajas

El barnizado con este proceso permite obtener el efecto de la madera natural y preservarla
en el tiempo. Permite mantener la esencia del color el mayor tiempo posible, previniendo
el envejecido de a madera. También se puede utilizar para un uso no profesional por su
facilidad de aplicación. Fácil mantenimiento incluso después de un tiempo con el mismo
acabado. No forma escamas, no se descascarilla. Aplicable solo en los siguientes soportes:
Abeto, Pino, Cedro y Douglas.

7. NORMATIVAS

Las principales normativas Europeas que encuadran la utilización y protección de Maderas


en Exterior son:
 UNE-EN 927 (UNE-EN 921-2) – Materiales de recubrimiento y sistemas de
recubrimiento para maderas. Pruebas de resistencia al exterior.
 UNE-EN 335 – Durabilidad de la madera y derivados. Clases de riesgo y ataques
biologico.
 UNE-EN 350 – Guia de la durabilidad natural y de la impregnabilidad de distintas
especies de madera.
Los recubrimientos de la gama son muy eficaces para la grande mayoría delas maderas
hasta una Clase de Riesgo 3. Con una situación general en servicio sin contacto con el
suelo, no bajo cubierta (situación expuesta). Con una exposición y humidificación en
servicio frecuente.
Para clases de riesgo 4 y 5 hace es determinante la durabilidad natural dela madera (EN
350) y la utilización de productos preservadores.

7.1. Normativa UNE-EN 927

Es la referencia en la evaluación de la cualidad de los sistemas de recubrimiento de las


maderas expuestas al exterior. Comprende testes como la Resistencia al Color de la luz,
Pérdida de Brillo, Formación de Burbujas o Ampollas, Formación de Grietas, Durabilidad
del filme en el tiempo, Degradación parcial del filme en el tiempo, Idoneidad al apilado y
Adherencia del soporte (Figura 9).

P.B. Lourenço, J.M. Branco e H.S. Sousa (eds.) 2014


Isabal Camarasa Perez 55

Figura 9 – Ejemplo de tabla de presentación de resultados de la norma EN 927-3.

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56 Nuevos barnices al agua para maderas de exterior

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Seminário Intervir em construções existentes de madeira 57

Da inspeção à avaliação de segurança na reabilitação de estruturas de


madeira
Hélder S. Sousa, Jorge M. Branco, Paulo B. Lourenço
ISISE, Departamento de Engenharia Civil, Universidade do Minho, Guimarães
sousa.hms@gmail.com, jbranco@civil.uminho.pt, pbl@civil.uminho.pt

SUMÁRIO

A avaliação de estruturas existentes em madeira e consequente planeamento de


intervenções requer conhecimentos específicos provindos de diferentes fontes e áreas
técnicas, devendo estas serem complementares e aferidas por meio do uso de uma
metodologia de inspeção e diagnóstico sistemática e rigorosa. Este trabalho apresenta, de
forma resumida, as diferentes fases consideradas na avaliação estrutural de uma construção
existente em madeira desde a fase inicial de diagnóstico e inspeção até à escolha de
possíveis métodos para a avaliação de segurança, sendo estas fases fundamentais para a
definição adequada do plano de intervenções a tomar posteriormente.

PALAVRAS-CHAVE: MADEIRA, INSPEÇÃO, DIAGNÓSTICO, AVALIAÇÃO

1. INTRODUÇÃO

A madeira tem sido usada, como material estrutural, desde há milhares de anos, em várias
construções em todo o continente Europeu. Como resultado, chegaram, até ao presente dia,
inúmeras estruturas de acrescido valor histórico ou social, assim como outras de uso civil
quotidiano. No entanto, algumas destas estruturas apresentam degradação ou danos que
limitam as suas capacidades de uso sendo necessário proceder a diferentes tipos de análises
e por vezes a consequentes intervenções.
Existem várias razões para que o nível de segurança de uma estrutura existente deva ser
analisada, entre os quais se destacam:
 caso seja necessário atendendo a resultados de inspeções periódicas;
 quando o período de vida, determinado por análise anterior, chegou ao fim;
 caso sejam verificados erros no planeamento ou construção;
 se o uso da estrutura for modificado;
 quando são visualizados danos ou degradação dos elementos construtivos e/ou
estruturais;
 devido ao inadequado desempenho em serviço;
 devido a situações imprevistas ou cargas acidentais que possam ter comprometido a
integridade estrutural do edifício;
 caso exista dúvidas sobre a qualidade do material ou técnicas construtivas
utilizadas;

P.B. Lourenço, J.M. Branco e H.S. Sousa (eds.) 2014


58 Da inspeção à avaliação de segurança na reabilitação de estruturas de madeira

 na necessidade de eliminar qualquer suspeita sobre o comportamento estrutural do


edifício.
Qualquer uma destas razões poderá levar à necessidade de intervir sobre a estrutura, no
entanto, antes de qualquer intervenção, deve ser feito um diagnóstico profundo e preciso
das causas do desempenho inadequado da estrutura. Tal diagnóstico deve ser baseado em
evidências documentais/históricas, inspeções e análises estruturais, e quando necessário
complementado por medição dos parâmetros físicos e propriedades mecânicas do material
e dos elementos. Apesar de, e como referido pelo ICOMOS [1], tal diagnóstico não
impedir a realização de intervenções menores e de tomada de medidas preventivas ou de
emergência.
Neste contexto, o conhecimento mais aprofundado do desempenho da madeira, como
material de construção, e da sua durabilidade permitirá uma avaliação estrutural mais
adequada e antever as possíveis medidas e ações para manter a integridade da estrutura
existente. No entanto, a modelação das caraterísticas e propriedades de uma estrutura de
madeira poderá conduzir a procedimentos demorados e onerosos, e como tal um
planeamento cuidadoso das intervenções é crucial. Neste processo de planeamento, muitas
vezes os custos de inspeções adequadas e de um plano de monitorização apropriado serão
incomparavelmente inferiores aos decorrentes de manutenção inadequada ou tardia,
intervenções de carácter urgente e, em situações extremas, às consequências de um colapso
estrutural.
Para além de antever o seu desempenho estrutural, o responsável pela avaliação da
segurança de uma estrutura existente em madeira deve avaliar o seu estado presente que,
por sua vez, depende dos eventos com que a estrutura se deparou no passado. Assim o
responsável pela avaliação de segurança assemelha-se a um detetive [2], já que este deverá
descobrir que eventos e situações levaram ao desempenho e estado de conservação
presente da estrutura. Dessa forma, o processo de análise de segurança de estruturas
existentes em madeira requer uma metodologia plural e multifacetada com fases distintas e
diferenciadas, para as quais é necessário recolher informações e resultados de diversos
especialistas e profissionais. Assim, após essa recolha de informação, é necessário
compreender como a estrutura realmente funciona e não como deveria funcionar, para que
a intervenção a realizar seja adequada.
No caso de reabilitação de estruturas antigas dever-se-á também ter em conta a utilização
de materiais e técnicas adequadas e promover a condição de reversibilidade da intervenção
ou, caso não seja tecnicamente possível, que estas não prejudiquem ou impeçam futuros
trabalhos de preservação [1].

2. MÉTODOS DE INSPEÇÃO E DIAGNÓSTICO

O primeiro pressuposto que é assumido numa inspeção e diagnóstico de uma estrutura


existente é que esta continuará a servir as suas funções adequadamente, em circunstâncias
de carregamento e uso normais, tendo em conta que o seu desempenho no passado lhe
permitiu alcançar os presentes dias. No entanto, no caso de estruturas de madeira é
necessário ter em especial atenção os processos de degradação do material assim como a
existência de defeitos que fortemente influenciam a variabilidade das propriedades físicas e
mecânicas dos elementos. No que concerne à avaliação em obra de elementos estruturais
de madeira, vários métodos têm sido estabelecidos, sendo que a sua escolha depende da
informação que se pretende recolher.
Pormenores sobre alguns desses testes individuais foram resumidos no relatório de estado
de arte da comissão RILEM TC 215 [3], onde é também mencionado que para a avaliação

P.B. Lourenço, J.M. Branco e H.S. Sousa (eds.) 2014


Hélder S. Sousa, Jorge M. Branco, Paulo B. Lourenço 59

de elementos de madeira em construções históricas devem ser seguidos os seguintes


passos: i) inspeção visual; ii) identificação da espécie de madeira; iii) medição do teor em
água; e iv) avaliação de propriedades mecânicas de referência. Apesar, de numa perspetiva
global, todos esses testes e procedimentos terem o objetivo de promover uma melhor
caraterização do material, individualmente só permitem recolher informação sobre uma
determinada propriedade ou parâmetro específico. Dessa forma, é necessário considerar
uma metodologia que permita, através de diferentes fases, analisar a estrutura de forma
holística utilizando informação combinada de diferentes fontes, como a apresentada na
Figura 1.

Avaliação preliminar

Levantamento Inspeção visual Levantamento e


documental preliminar medições

Análise estrutural e diagnóstico detalhado

Diagnóstico detalhado das ligações

Análise estrutural
Diagnóstico detalhado dos elementos

Relatório preliminar

Relatório do diagnóstico

Plano detalhado das intervenções

Resultados das análises e futuras intervenções

Figura 1 – Fases requeridas para a avaliação e planeamento de intervenções em estruturas


históricas em madeira [4].
Inicialmente, na fase de levantamento documental, devem ser consideradas todas as
informações possíveis de serem recolhidas (por exemplo através de desenhos, fotografias,
arquivos históricos e testemunhos orais) para definição da história da estrutura e para o
conhecimento do tipo de carregamento e intervenções a que esta esteve sujeita. Obtendo
informação sobre a construção, ocupação, alterações, manutenção, reparação e tratamentos
da estrutura permitirá ajudar a esclarecer o desempenho atual desta e sobre as causas de
eventuais danos.

P.B. Lourenço, J.M. Branco e H.S. Sousa (eds.) 2014


60 Da inspeção à avaliação de segurança na reabilitação de estruturas de madeira

Após o levantamento documental, segue-se uma primeira inspeção visual de forma a


contextualizar os principais danos visíveis e obter assim uma perspetiva global da
estrutura. Assim, será possível definir já nesta fase preliminar o plano de diagnóstico e
eventuais medidas preventivas de carácter urgente (Figura 2.a). Nesta fase são também
determinadas as condições de trabalho necessárias, tais como acesso, iluminação,
segurança e limpeza, para realização das tarefas seguintes (Figura 2.b).

(a) (b)

Figura 2 – Medidas preliminares; (a) Colocação de elemento para suporte de uma asna;
(b) Uso de andaimes para acesso próximo à estrutura de cobertura.
A fase seguinte, correspondente ao levantamento e medições, engloba as componentes de:
i) medição geométrica dos elementos; ii) identificação da espécie de madeira e condições
técnicas; iii) levantamento de danos e defeitos.
Na medição geométrica dos elementos é necessário realizar a caraterização das dimensões
e variabilidade geométrica de cada elemento, suas respetivas seções transversais, descaio e
tipo de método utilizado na serração e colocação dos elementos [5]. Por vezes é igualmente
necessário complementar essa informação com desenhos de pormenores construtivos e da
interação tridimensional dos elementos.
De igual modo, também é medida a presença e extensão de degradação biológica (devido a
fungos ou a ataque de xilófagos), de forma visual (camada superficial do elemento) ou
através de ensaios semi ou não destrutivos (análise em profundidade) sendo possível,
depois, aferir sobre a seção residual (ou efetiva) sem consideração da parte degradada.
As medições devem ser feitas em intervalos regulares ao longo dos elementos, dependendo
a distância entre medições da variabilidade geométrica do elemento. Posteriormente, estas
medições permitirão obter as dimensões da seção transversal (aparente e efetiva), sua
respetiva inércia e valores de deformações tanto devido ao carregamento atuante como a
defeitos do material (secagem, corte inadequado, entre outros) (Figura 3).

15,4 3,8 12,4 7


1,7
6,35
13,6 13,3 2,1
11
4,4

18,8
[cm]

Figura 3 – Exemplo de medição de duas secções transversais afastadas de 40 cm.

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Hélder S. Sousa, Jorge M. Branco, Paulo B. Lourenço 61

A identificação da espécie de madeira dos elementos em obra é usualmente feita através da


inspeção visual do aspeto do fio de madeira, anéis de crescimento, coloração e
caraterização dos nós (quantidade, forma, dimensões e espaçamento entre nós), e também
pelo toque, recorrendo-se assim à experiência do inspetor (Figura 4). Outras indicações
sobre a espécie de madeira provém do conhecimento das madeiras utilizadas na época de
construção naquela região e para aqueles fins. Em caso de dúvida, podem ser retiradas
amostras para análise microscópica e posterior comparação com bases de dados de
espécies de madeira e análise dendrocronológica.

Figura 4 – Inspeção da camada superficial e anéis de crescimento para determinação da


espécie de madeira.
Nesta fase, também se procede à medição do teor em água dos elementos, principalmente
para zonas que apresentem sinais de humidade ou seja expectável maior valor de teor em
água (zonas de apoio de elementos, imediações de aberturas ou de instalações de água,
coberturas, entre outras). Medição do teor em água em outros locais e medições das
condições ambientais (temperatura e humidade relativa do ar) também devem ser feitas
para obtenção de valores de referência e definição de classes de serviço. Estes resultados
permitirão aferir sobre o risco de iniciação ou desenvolvimento de fenómenos de
degradação biológica.
O levantamento de danos e defeitos é feito com base numa inspeção visual mais criteriosa,
sendo esta usualmente acompanhada por uso de ensaios não destrutivos ou recolha de
pequenas amostras de madeira. Tendo em conta que usualmente a inspeção visual é
considerada a fase mais importante na análise e diagnóstico de estruturas existentes em
madeira [6], este tema será detalhado de seguida assim como a referência à utilização de
ensaios não destrutivos mais comuns.

2.1. Inspeção visual

A inspeção visual é utilizada para identificação das principais características dos elementos
de madeira, tais como defeitos, sinais de dano ou degradação, utilizando por vezes
instrumentos tradicionais ou tecnologicamente mais avançados. Durante a inspeção visual
deverão ser caraterizados os fenómenos que estão na origem de eventuais anomalias e
estabelecer as relações de causa-efeito futuras.
Para esse efeito são caracterizados e inventariados, para posterior relatório: i) defeitos
naturais, tais como nós, desvio do alinhamento do fio da madeira, descaio, fissuras de
secagem e percentagem de cerne na secção; ii) danos induzidos, tais como deformações,
fissuras ou roturas devido ao carregamento; ou iii) degradação biológica.

P.B. Lourenço, J.M. Branco e H.S. Sousa (eds.) 2014


62 Da inspeção à avaliação de segurança na reabilitação de estruturas de madeira

A inspeção visual deverá ser realizada ao nível do elemento estrutural, no entanto deverá
ser também considerada a análise individualizada de segmentos críticos tendo em conta a
presença de uma maior concentração de defeitos e/ou por ser uma zona de maior
concentração de esforços [7]. Quando não é possível aferir visualmente os elementos de
madeira, por estes se encontrarem escondidos por outros elementos, mas as condições do
elemento suscitarem dúvidas, poderá ser necessário fazer aberturas ou remover parte de
outros elementos para se proceder à inspeção (Figura 5).

(a) (b)

Figura 5 – Acessibilidade a elementos escondidos através de: (a) Abertura de janelas de


inspeção; (b) Remoção de elementos vizinhos.
No caso de defeitos naturais, os nós e o desvio do alinhamento do fio de madeira são os
parâmetros que mais influenciam a resistência e rigidez do elemento e como tal devem ser
devidamente observados e medidos (Figura 6).

(a) (b)

Figura 6 – Inspeção e medição de defeitos; (a) Nós; (b) Fissura ao longo do fio.
Devido a imperfeições no método construtivo ou devido a diferentes situações de
carregamento, as estruturas de madeira podem evidenciar danos mais ou menos
significativos, desde a deformação de elementos até à rotura parcial (fissuras) ou total de
um elemento (Figura 7.a). No caso de estruturas de madeira, especial atenção deve ser
dada também ao estado de conservação das ligações (Figura 7.b), pois o comportamento
global da estrutura é grandemente influenciado pelo seu desempenho. No entanto existem
poucas referências normativas à inspeção de ligações, maioritariamente devido ao
abundante número de tipologias de ligações com especificidades próprias.

P.B. Lourenço, J.M. Branco e H.S. Sousa (eds.) 2014


Hélder S. Sousa, Jorge M. Branco, Paulo B. Lourenço 63

(a) (b)

Figura 7 – Danos e patologias; (a) Rotura de elemento devido à colocação de uma cavilha;
(b) Deformação de uma asna com consequência na ligação entre pendural e linha.
Por fim, numa inspeção visual é verificado o estado de conservação da estrutura atendendo
ao seu nível de degradação (Figura 8), sendo que esta análise é frequentemente
acompanhada pelo uso de ensaios não destrutivos, tais como resistência à penetração por
impacto e resistência à perfuração controlada. Atendendo aos resultados destes ensaios,
deverá ser considerada uma seção transversal residual de forma a avaliar a perda de
resistência nesse elemento. De realçar que quando existe degradação dos elementos, devem
ser determinados os agentes de degradação e se esta é presentemente ativa.

Figura 8 – Exemplos de degradação biológica de vigas de madeira.


O resultado final da inspeção visual pode ser traduzida em mapas de danos onde são
catalogados, identificados e representados os diferentes tipos de danos e patologias (Figura
9). Dessa forma é possível analisar a localização dos danos e sua concentração ao longo da
estrutura e avaliar as zonas críticas desta. Essas zonas críticas serão alvo de maior detalhe
na análise de segurança e posteriormente no planeamento de intervenções.
Apesar da existência de normas estabelecidas para a inspeção visual de elementos de
madeira, os limites mencionados para cada defeito variam dependendo da espécie da
madeira, uso do elemento e mesmo entre normas de diferentes países. No entanto, a
maioria destes limites atende à morfologia do defeito tendo em conta a sua posição no
elemento e a proporção com a secção transversal deste. Seguindo estas normas é possível
atribuir classes de resistência aos elementos sendo que as classes superiores permitem
menos defeitos e de menores dimensões.

P.B. Lourenço, J.M. Branco e H.S. Sousa (eds.) 2014


64 Da inspeção à avaliação de segurança na reabilitação de estruturas de madeira

NEW

(a) (b)

Figura 9 – Exemplos de mapas de danos; (a) Asna de cobertura [8]; (b) Alçado [9].
Em Portugal, existe um número escasso de normas que permitam aferir sobre a
classificação visual de elementos de madeira em obra, sendo que por vezes é utilizada a
norma NP 4305:1995 [10] destinada para avaliação de elementos de madeira serrada em
pinho bravo (Pinus pinaster). Esta norma estabelece duas classes de qualidade, designadas
como “E” (Estruturas) e “EE” (Especial para Estruturas), que corresponde globalmente às
classes C18 e C35 [11]. No entanto, ainda existe escassa regulamentação para espécies de
madeira de frondosas (tais como de carvalho e castanheiro) apesar de serem espécies que
foram vastamente utilizadas em coberturas, pavimentos e outros sistemas construtivos ao
longo do país.

2.2. - Ensaios não destrutivos

A inspeção visual deve ser, sempre que possível, complementada por ensaios não
destrutivos de uma ou mais natureza, com o objetivo de aferir sobre determinada
propriedade que poderá ser posteriormente correlacionada com a rigidez e resistência desse
elemento. Independentemente da natureza do teste, este deverá ser o menos invasivo
possível de forma a preservar a integridade da estrutura e aparência estética dos elementos.
Devido à variabilidade, e por vezes natureza somente qualitativa, dos resultados obtidos
por ensaios não destrutivos, é necessário considerar diferentes ensaios de forma a
complementar as análises.
Nas últimas décadas, é notório o desenvolvimento de novos métodos e técnicas não
destrutivas na avaliação do estado de conservação de elementos de madeira, substituindo
ou complementado as técnicas mais tradicionais. Desses métodos, e devido ao seu uso
generalizado, destacam-se: i) resistência à penetração por impacto; ii) resistência à
perfuração controlada; e iii) uso de ultrassons (Figura 10).
O ensaio de resistência à penetração por impacto funciona através do impacto de uma
agulha de metal acionada por uma mola de força constante. A profundidade de penetração
é, em teoria, inversamente proporcional à densidade e dureza do elemento em madeira.
Devido à sua natureza, este ensaio permite somente uma avaliação superficial do elemento
e na sua utilização é necessário ter em conta a variabilidade natural da dureza da madeira.
Este ensaio pode ser complementado com o uso ao ensaio de resistência à perfuração,
sendo que este último é baseado na resistência providenciada pelo material ao avanço
constante de uma broca de pequeno diâmetro. Uma das principais vantagens deste ensaio é
possibilitar a deteção de fissuras, vazios ou degradação biológica (superficial e/ou interna),
permitindo estimar a secção residual. No entanto, somente permite a obtenção de
resultados num ponto específico da estrutura deixando também um pequeno orifício no
local do teste.

P.B. Lourenço, J.M. Branco e H.S. Sousa (eds.) 2014


Hélder S. Sousa, Jorge M. Branco, Paulo B. Lourenço 65

Por sua vez, o ensaio de ultrassons consiste na medição da velocidade de propagação de


ondas mecânicas através de um meio sólido. A partir dessa medição é possível estudar o
coeficiente de atenuação do elemento em causa e relacionar esse parâmetro com outras
características mecânicas, tais como densidade e rigidez, no entanto é necessário ter em
atenção a forte dependência dos resultados com a direção da onda de propagação e o fio da
madeira.

(a) (b) (c)

Figura 10 – Ensaios não-destrutivos; (a) Penetração por impacto; (b) Perfuração


controlada; (c) Ultrassons.

2.3. - Ensaios mecânicos (destrutivos)

No caso de ser necessário conhecer com exatidão as propriedades de determinado


elemento, poder-se-á considerar a remoção desse elemento da estrutura ou de provetes de
menores dimensões para a realização de ensaios mecânicos destrutivos. Estes ensaios,
realizados em laboratório, consistem na determinação da rigidez e resistência dos
elementos quando sujeitos a carregamento até à rotura.
Estes ensaios permitem aferir diretamente sobre as propriedades em estudo, ao contrário
dos ensaios não destrutivos que somente podem utilizar correlações empíricas para esse
mesmo efeito. Mesmo assim, os resultados obtidos para um elemento poderão não ser
extrapoláveis para os restantes devido à variabilidade entre elementos, sendo que estes
devem portanto ser complementados com os resultados da inspeção visual previamente
realizada.

3. MÉTODOS DE ANÁLISE E AVALIAÇÃO DE SEGURANÇA

Após a definição pormenorizada das ligações e dos elementos de madeira, e tendo em


conta o seu estado de conservação e desempenho analisados nas fases prévias de inspeção,
é possível iniciar uma análise e avaliação de segurança da estrutura. Independentemente do
método considerado para análise, quanto mais plausível for a estimativa das propriedades
mecânicas da madeira melhor e mais precisos serão os resultados desta, e
consequentemente mais substanciado será o planeamento de intervenções.
No entanto, mesmo após uma primeira fase detalhada, existirá inevitavelmente algumas
incertezas na descrição do material que irá afetar a precisão de qualquer processo analítico.
Tais incertezas provém do facto que algumas propriedades poderão ser impossíveis de

P.B. Lourenço, J.M. Branco e H.S. Sousa (eds.) 2014


66 Da inspeção à avaliação de segurança na reabilitação de estruturas de madeira

obter para o caso de estruturas existentes ou o próprio esquema de carregamento poderá


ter-se, inesperadamente, alterado desde a fase inicial de construção da estrutura [12].
Para mitigar essas incertezas, o responsável pela determinação do nível de segurança
poderá servir-se de uma análise qualitativa, que irá ter em conta o desempenho de
estruturas semelhantes, e aplicá-la no contexto da estrutura em estudo. Isso requer que a
história da estrutura e as consequências de eventos passados sejam devidamente
conhecidos para determinação precisa das condições atuais da estrutura. No entanto, este
método é baseado na experiência do inspetor e poderá não ter em conta eventos não
expectáveis que acontecem devido aos danos, defeitos ou degradação da estrutura em
estudo. Assim os métodos qualitativos não são um método globalmente aceite, mas no
entanto são um importante contributo quando servem de complemento a análises
quantitativas.
Independentemente do método escolhido para obtenção do possível estado de tensão a que
a estrutura está sujeita (tais como modelação numérica, modelação por elementos finitos
ou por simulação), a análise qualitativa ou quantitativa do estado de segurança da estrutura
existente em madeira é usualmente levado ao nível da unidade estrutural, ou seja ao nível
do elemento de madeira ou da ligação.
De seguida apresentam-se diferentes métodos para a análise e avaliação de segurança de
estruturas de madeira.

3.1. Métodos semi-determinísticos, caso do Eurocódigo 5

Os métodos correntes para avaliação estrutural são baseados no princípio de utilização de


coeficientes parciais de segurança, onde o nível de segurança é obtido deterministicamente
pois resulta da consideração de valores fixos (determinísticos) de ações e de resistência
(valores médios ou característicos). Neste âmbito, os valores de resistência e ações são
considerados de forma conservativa, de modo que a resistência seja considerada
suficientemente baixa e as ações suficientemente altas para que se garanta um nível
adequado de segurança.
Na Europa, o Eurocódigo 5 [13] descreve diversos procedimentos baseados no conceito de
estados limites (tanto últimos como de serviço) e no uso de coeficientes parciais de
segurança, para o dimensionamento de estruturas de madeira.
A incerteza nas propriedades do material é considerada através do uso de valores
característicos (usualmente o percentil de 5%) e pela aplicação de um coeficiente de
segurança para o material, M. Este coeficiente toma em consideração as incertezas do
modelo, variações dimensionais e a possibilidade de uma variação desfavorável em relação
ao valor característico.
No Eurocódigo 5, o valor de dimensionamento para uma propriedade resistente da madeira
deverá também ter em consideração o efeito do teor em água e da duração da carga através
do uso de diferentes coeficientes parciais de segurança, como evidenciado na Equação (1):
k1
Xd   X k  kh (1)
M

onde Xd é o valor de dimensionamento de uma propriedade material, k1 é o coeficiente


parcial de segurança que considera o efeito da duração de carga e do teor em água que
assume os valores de k1 = kmod para propriedades de resistência ou k1 = 1/(1 + kdef) para
propriedades de rigidez, M é coeficiente de segurança do material, Xk é o valor de
característico ou médio da propriedade material e kh o factor de escala.

P.B. Lourenço, J.M. Branco e H.S. Sousa (eds.) 2014


Hélder S. Sousa, Jorge M. Branco, Paulo B. Lourenço 67

Apesar da sua simplicidade de uso, o Eurocódigo 5 poderá levar a considerações


inadequadas quando usado na análise de estruturas existentes, pois estas podem ter sido
dimensionadas através de metodologias diferentes. No caso de estruturas históricas é
mesmo desaconselhado utilizar tais regulamentos se não for tomado em conta as
especificidades da estrutura, do seu projeto inicial e estado atual de conservação. Assim, no
caso de elementos de madeira em obra, poder-se-á ter em conta um coeficiente de
segurança kcon para atender ao efeito de degradação biológica e um coeficiente de
segurança ka para atender ao efeito à degradação física e mecânica do material devido ao
seu tempo em serviço [14], tal como apresentado na Equação (2).
k1
Xd   X k  k h  k con  k a (2)
M

Nesse âmbito e com um procedimento análogo ao Eurocódigo 5, em [14] é combinada a


avaliação das propriedades mecânicas da madeira com fatores de modificação (Figura 11).

Avaliação das propriedades mecânicas

Espécie da madeira
Classificação visual

Classificação de Classe de resistência


resistência

Valor característico ou médio da propriedade Xk


de referência de resistência ou rigidez

Dano ou perigo de Geometria dos


Teor em água
degradação elementos

Fatores de modificação

Figura 11 – Fatores correntes para a definição de propriedades mecânicas de elementos de


madeira em obra [14].

3.2. Métodos probabilísticos de fiabilidade, o caso do Probabilistic Model Code

Nas últimas décadas, é visível um interesse acrescido na análise de fiabilidade estrutural


tendo em conta a possibilidade que estes métodos têm de atender e comportar diferentes
níveis de incerteza nos modelos [15]. O conceito básico de fiabilidade prende-se com a
avaliação da probabilidade de um determinado estado limite não ser cumprido, em função
das distribuições de resistência e de ações.
Para o caso de estruturas de madeira, o JCSS (Joint Committee for Structural Safety)
concebeu um documento para a avaliação e dimensionamento probabilístico de elementos
de madeira, designado por Probabilistic Model Code [16]. Nesse documento são propostas
as distribuições de probabilidade e correlações entre propriedades mecânicas para a análise

P.B. Lourenço, J.M. Branco e H.S. Sousa (eds.) 2014


68 Da inspeção à avaliação de segurança na reabilitação de estruturas de madeira

de elementos de madeira. Informação sobre as propriedades mecânicas em termos de valor


são requeridas explicitamente para as propriedades de referência (módulo de elasticidade à
flexão, resistência à flexão e densidade), sendo que as restantes são obtidas implicitamente
através de correlações empíricas.
A utilização desta metodologia depende, portanto, do conhecimento destas propriedades de
referência, e assim é verificada a importância da fase inicial de inspeção para a análise de
estruturas existentes. Os modelos dados por este código são meramente genéricos e como
tal podem, e devem, ser atualizados atendendo às informações recolhidas previamente, tais
como através de inspeção visual ou de ensaios em amostras de pequenas dimensões [17].

4. DIFICULDADES
O processo de inspeção, diagnóstico e avaliação da segurança de estruturas existentes em
madeira é um processo multidisciplinar que, por incontáveis situações, encontra diversas
dificuldades. Uma delas depreende-se com o uso de códigos e regulamentos atuais para
tentar avaliar estruturas que foram construídas muito antes de estes existirem. Por outro
lado, existe ainda uma considerável falta de formação relativamente à reabilitação de
estruturas em madeira e às técnicas de construção neste material, sendo também difícil
atualmente encontrar em Portugal mão-de-obra especializada para este fim.
Outra situação perante uma obra de reabilitação de uma estrutura de madeira, e porventura
aquela que maiores dificuldades apresenta, é a correta atribuição de valores de resistência
aos elementos, assim como a definição do seu estado de conservação/degradação.
De mencionar também que por vezes o sistema de carregamento poderá não ser óbvio ou
intuitivo numa primeira análise, e alterações durante a vida útil da estrutura poderão
fortemente influenciar o desempenho atual da estrutura.
Da metodologia de inspeção e diagnóstico de estruturas em madeira, apresentada
anteriormente, deve ser salientado que embora as técnicas tradicionais referidas (inspeção
visual e ensaios não destrutivos) puderem ser utilizadas facilmente por pessoal menos
especializado, a caraterização da estrutura e de zonas críticas, compreensão do
funcionamento estrutural e planeamento das intervenções a efetuar só serão possíveis
através da análise de pessoal técnico especializado.
Na fase de verificação de segurança, é comum verificarem-se dificuldades e erros na
modelação dos elementos e da interação destes, como por exemplo admitir que as ligações
funcionem de uma forma quando estas, devido à sua tipologia e configuração, não
permitem transmitir determinados esforços. Assim, por muitas vezes, a dificuldade reside
em modelar a estrutura tendo em conta o observado em obra, e não assumindo
indiscriminadamente premissas baseadas em códigos ou normas.

5. CONCLUSÕES
Este trabalho apresentou uma metodologia de inspeção e diagnóstico de estruturas
existentes em madeira, salientado a importância de diferentes fases de análise. Especial
atenção foi dado à fase de diagnóstico por inspeção visual e ensaios não destrutivos, por se
tratarem de prática corrente, apesar de por vezes os seus fundamentos serem mal
interpretados e empregues erroneamente.
A partir dos resultados de cada uma das fases de análise foi referido como aferir o nível de
segurança da estrutura, através de diferentes métodos de avaliação.
Por fim, foram enumeradas algumas das dificuldades usualmente sentidas no processo de
avaliação de segurança de uma estrutura existente de madeira, que deverão ser mitigadas

P.B. Lourenço, J.M. Branco e H.S. Sousa (eds.) 2014


Hélder S. Sousa, Jorge M. Branco, Paulo B. Lourenço 69

através do uso de processos metódicos, como o mencionado neste trabalho, de forma a


diminuir a possibilidade de intervenções com baixa eficiência ou durabilidade.

6. REFERÊNCIAS

[1] ICOMOS, Principles for the preservation of historic timber structures. International
Council on Monuments and Sites, Outubro 1999.
[2] Yeomans D., The Engineer as Detective. The Mortise and Tenon, n.º 27, pp. 8-11,
2007.
[3] Kasal B., Tannert T., In situ assessment of structural timber. RILEM state of the art
reports, n.º 7, 2010.
[4] Cruz H., Yeomans D., Tsakanika E., Macchioni N., Jorissen A., Touza M., Mannucci
M., Lourenço, P.B., Guidelines for the on-site assessment of historic timber
structures. International Journal of Architectural Heritage,
doi.org/10.1080/15583058.2013.774070, 2013.
[5] Lourenço P.B., Sousa H.S., Brites R.D., Neves, L.C., In situ measured cross section
geometry of old timber structures and its influence on structural safety. Materials
and Structures, n.º 46, pp. 1193-1208, 2013.
[6] Kasal B., In Situ Assessment of Structural Timber: State-of-the-Art, Challenges and
Future Directions. Advanced Materials Research, n.º 133, pp 43-52, 2010.
[7] UNI 11119, Cultural Heritage - Wooden artifacts - Load-bearing structures - On site
inspections for the diagnosis of timber members. UNI, Milão, 2004.
[8] Medeiros P. Sousa H.S., Lourenço P.B., Ferreira F., Plano de reconhecimento e
inspecção do futuro Centro Interpretativo do Tapete de Arraiolos - Arraiolos.
Relatório 10-DEC/E-17, Universidade do Minho, 95 pp., 2010.
[9] Branco J.M., Sousa H.S., Silva C.V., Inspeção e diagnóstico estrutural do armazém
da estação de Foz Tua. Relatório 11-DEC/E-28, Universidade do Minho, 58 pp.,
2011.
[10] NP 4305, Madeira serrada de Pinheiro Bravo para estruturas. Classificação visual.
Instituto Português da Qualidade, 1995.
[11] EN 338, Structural timber – strength classes. European Standard, CEN, Bruxelas,
2009.
[12] Yeomans D., Saving Structures. Journal of Architectural Conservation, n.º 10(3), pp.
59-72, 2004.
[13] EN 1995-1-1, Eurocode 5: Design of timber structures - Part 1-1: General - Common
rules and rules for buildings. European Standard, CEN, Brussels, Novembro 2004.
[14] Machado J.S., Lourenço P.B., Palma P., Assessment of the structural properties of
timber members in situ: a probabilistic approach, SHATIS’11 - International
Conference on Structural Health Assessment of Timber Structures, 16-17/06/2011,
Lisboa, Portugal, 2011.
[15] Brites R.D., Neves L.C., Machado J.S., Lourenço P.B., Sousa H.S., Reliability
analysis of a timber truss system subjected to decay. Engineering Structures, n.º 46,
pp. 184-192, 2013.
[16] JCSS, JCSS Probabilistic Model Code, Part 3: Resistance models - 3.5 Properties of
Timber. Probabilistic Model Code, Joint Committee on Structural Safety, Internet
Publication: www.jcss.ethz.ch.
[17] Sousa H.S., Branco J.M., Lourenço P.B. Prediction of global bending stiffness of
timber beams by local sampling data and visual inspection, European Journal of
Wood and Wood Products, doi.org/10.1007/s00107-014-0800-1, 2014.

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70 Da inspeção à avaliação de segurança na reabilitação de estruturas de madeira

P.B. Lourenço, J.M. Branco e H.S. Sousa (eds.) 2014


Seminário Intervir em construções existentes de madeira 71

Reforço de elementos existentes de madeira


Jorge M. Branco
ISISE, Departamento de Engenharia Civil, Universidade do Minho, Guimarães
jbranco@civil.uminho.pt

SUMÁRIO

É objetivo deste trabalho definir quais as melhores soluções para reabilitação ou reforço
adequados aos diferentes problemas estruturais, nos diversos elementos construtivos.
Existem várias técnicas de reabilitação e reforço, sendo importante fazer a sua distinção e
avaliar as situações mais adequadas para a sua utilização.

PALAVRAS-CHAVE: ANOMALIAS, REFORÇO, PAVIMENTOS, COBERTURAS

1. INTRODUÇÃO

As técnicas de reabilitação estrutural são, habitualmente, divididas em dois grupos: as


técnicas de reparação ou consolidação e as técnicas de reforço. As técnicas de reparação ou
consolidação têm como objetivo a reposição das capacidades resistentes dos vários
elementos, enquanto as técnicas de reforço pretendem diminuir ou limitar as deformações e
aumentar a capacidade de carga dos mesmos [1]. A escolha das técnicas de reabilitação ou
reforço a utilizar deve ser resultado de uma análise completa à estrutura. Para qualquer tipo
de problema estrutural existem inúmeras técnicas de intervenção. A necessidade de
reparação ou reforço estrutural e as técnicas e materiais a aplicar devem ser ponderadas em
função dos objetivos da intervenção, custo, grau de degradação, características do edifício
e vantagens e desvantagens de cada uma das técnicas perante o elemento a reabilitar [1-2].
Em pequenas intervenções, quando a estrutura apresenta um bom estado de conservação e
não se prevê uma alteração de uso do edifício, é razoável repor as condições de segurança
originais e reparar apenas os elementos deteriorados. Contudo, se for necessária uma
intervenção profunda ou se estiver prevista uma alteração do uso, é exigência habitual que
o edifício recuperado obedeça aos regulamentos em vigor [2]. Na implementação de
soluções de reabilitação ou reforço é importante assegurar a manutenção da autenticidade
original das estruturas de madeira [3]. Desta forma, [4] faz as seguintes recomendações:
 Sempre que se usarem materiais e soluções modernas, deve respeitar-se o passado
preservando, tanto quanto possível, os materiais existentes. Não se deve intervir de
uma forma destruidora, a melhor solução é a que implica o menor número de
alterações;
 Deve aceitar-se a necessidade de intervenções futuras, respeitando também as
intervenções precedentes e o seu contexto;
 Deve ser preparado um plano de monitorização e manutenção para a construção em
fase de utilização, que assegure o adequado acompanhamento da estrutura;

P.B. Lourenço, J.M. Branco e H.S. Sousa (eds.) 2014


72 Reforço de elementos existentes de madeira

 A intervenção deve ser exaustivamente documentada de forma a permitir, no


futuro, uma atuação compatível com as decisões tomadas em cada contexto.
O mesmo autor, [4], refere ainda alguns cuidados a ter aquando a reabilitação de estruturas
de madeira:
 Antes das ações de reabilitação devem eliminar-se todas as causas existentes de
degradação, tais como humidade ou ataque por agentes biológicos;
 Deve assegurar-se a ventilação dos apoios dos elementos estruturais evitando o
contacto da madeira com materiais que retenham humidade ou impeçam a
ventilação;
 É conveniente manter as estruturas num nível adequado de esforço mecânico;
 Deve manter-se, sempre que possível, o nível existente de restrições ao
deslocamento e de condições de apoio, evitando mudar a forma como os diversos
elementos estruturais se encontram em serviço em relação ao esforço;
 Deve verificar-se a estabilidade, nível de degradação e deformabilidade dos
elementos de suporte das estruturas de madeira antes da intervenção;
 Sempre que possível deve possibilitar-se a visualização das estruturas
intervencionadas, de forma a permitir a realização de inspeções periódicas.

1.1. Anomalias em pavimentos

As principais anomalias em pavimentos de madeira relacionam-se com a presença da água


e consequentes efeitos sobre a construção. A humidade de precipitação afeta os pavimentos
a partir de infiltrações que ocorrem através da caixilharia exterior, paredes e cobertura,
afetando principalmente as entregas dos vigamentos de madeira nas paredes resistentes e
criando, desta forma, condições propícias para o desenvolvimento de agentes biológicos.
As ações dos agentes biológicos conduzem à destruição dessas zonas dos pavimentos,
podendo, sem o respetivo tratamento e manutenção, expandir-se até que todo o pavimento
esteja afetado. Estes ataques provocam a redução da secção útil das peças e eventual
destruição nos apoios, resultando em movimentos de deslocação verticais e rotações,
acompanhados da redistribuição de esforços da estrutura. Como resultado, é possível
observar uma deformação acentuada do pavimento, com grandes flechas a meio vão e
deslocamentos verticais, junto às paredes, indiciando a destruição total dos apoios e
vibrações acentuadas dos pisos. Embora o foco sejam os edifícios antigos, é possível já
terem ocorrido obras de alteração, manutenção ou reparação, afetando os pavimentos com
a humidade de construção. O caso mais frequente diz respeito à adaptação dos edifícios
para instalação de redes de água e esgotos e respetivas instalações sanitárias e cozinhas. A
humidade do terreno tem pouca expressão, quer pelo contacto direto dos elementos de
madeira, quer pela ascensão da humidade por capilaridade, através das paredes. Uma outra
anomalia tem origem exterior aos pavimentos, podendo estar relacionada com anomalias
em paredes resistentes ou com o uso indevido dos pavimentos.
Algumas deficiências observadas em pavimentos de madeira têm origem no projeto e
construção iniciais. O projeto foi-se simplificando, resultando em pavimentos mais leves e
económicos, o que é possível observar, por exemplo, em edifícios construídos no século
XVIII e ampliados nos séculos XIX e XX. A qualidade da madeira decresce, tal como as
dimensões dos vigamentos, enquanto aumenta o seu espaçamento; perdem-se hábitos e
técnicas construtivas.

P.B. Lourenço, J.M. Branco e H.S. Sousa (eds.) 2014


Jorge M. Branco 73

1.2. Anomalias em coberturas

As coberturas dos edifícios antigos são, provavelmente, o elemento de construção que


apresenta um quadro mais generalizado de anomalias. A maioria dos problemas tem a sua
causa em deficiências de projeto e execução, nomeadamente, na construção de estruturas
com secção insuficiente, por desconhecimento das características reais de resistência e
deformabilidade dos materiais. A cobertura encontra-se exposta, de forma contínua, à ação
da água da chuva, poluição, variações de temperatura, entre outros. Tradicionalmente é
constituída por elementos de madeira deficientemente selecionada e protegida em relação
aos agentes biológicos mais comuns.
A ação da água da chuva é especialmente gravosa em coberturas, provocando infiltrações
quando esta não desempenha a sua função. As estruturas de madeira deformam-se
naturalmente e os efeitos de fluência do material podem ser suficientes para explicar
deformações excessivas. Deste modo, a alteração da configuração geométrica da estrutura
provoca movimentos de adaptação do próprio revestimento da cobertura, facilitando a
infiltração de água da chuva.
Um caso particular de anomalias em coberturas está relacionado com as asnas de madeira,
em que a deterioração do material atinge a ligação nos apoios entre a barra da linha e das
pernas. Quando se rompe esta ligação, perde-se o efeito de asna, passando as paredes a
receber impulsos horizontais, devido ao peso da cobertura, transmitido pelas asnas.
A danificação das redes de drenagem de águas pluviais é mais uma causa para as
anomalias mencionadas, quer seja por entupimento devido a causas fortuitas, quer seja por
falta de manutenção. Nos casos em que os tubos de queda se encontram embebidos nas
paredes, a sua rotura dará origem a que grandes quantidades de água penetrem nas paredes,
danificando estes elementos e, consequentemente, pavimentos e paredes interiores.

2. MEDIDAS DE REFORÇO

Foram selecionadas algumas técnicas para reabilitação de pavimentos e coberturas, tendo


como base os critérios estabelecidos pelo (ICOMOS) Comité Científico Internacional para
a Análise e Restauro de Estruturas do Património Arquitetónico [5]. Desta forma, e para
permitir uma leitura mais direta, foi executada uma tabela (ver Tabela 1), contendo todas
as técnicas de reabilitação selecionadas e respetivos problemas estruturais associados.

2.1. Problemas estruturais

De seguida, é apresentada uma descrição dos principais problemas estruturais, presentes


em estruturas de pavimentos e coberturas.

Secção insuficiente

Este problema é detetado quando se verificam deformações excessivas ou quando são


visíveis roturas locais na estrutura do pavimento. Pode ocorrer devido ao ataque de agentes
biológicos, a um aumento da capacidade de carga ou a um aumento das sobrecargas
associadas a mudanças de uso.

P.B. Lourenço, J.M. Branco e H.S. Sousa (eds.) 2014


74 Reforço de elementos existentes de madeira

Tabela 1 – Técnicas para reabilitação de pavimentos e coberturas, e respetivos problemas


estruturais [6].

Deformação Excessiva

Problemas nos apoios

Falhas nas uniões

contraventamento
Deficiências de

Encurvadura
Secção insuficiente

e fendas
Empenamentos
Técnicas

Aumento de secção dos


elementos
Reconstrução das vigas pela
utilização de varões de reforço
selados com resina epoxídica
Reforço pela introdução de
resinas epoxídicas com peças
metálicas ou materiais
compósitos

Aplicação de chapas metálicas

Aplicação de tirantes
metálicos
Reparação de fendas em
elementos de madeira
Consolidação de nós nas
estruturas de madeira com
reforço com chapas coladas
Colocação de novas estruturas
de suporte
Reforço da ligação
pavimento-parede

Colocação de novas vigas a


dividir os vãos
Substituição de elementos
estruturais
Introdução de uma lajeta de
betão
Introdução de um novo soalho
sobre o existente

Cruzes de Santo André

Escoras de boneca

P.B. Lourenço, J.M. Branco e H.S. Sousa (eds.) 2014


Jorge M. Branco 75

Deformação excessiva

Este problema tem origem em efeitos de fluência, colocação de peças ainda verdes em
obra, presença de defeitos na madeira ou a secção insuficiente dos elementos, podendo
resultar em roturas a longo prazo. Estas patologias podem ser limitadas ou eliminadas pela
adoção de algumas medidas preventivas:
 Secagem da madeira antes da colocação em obra;
 Controlo do grau de humidade e das condições de serviço previstas;
 Dimensionamento efetuado tendo em conta os estados limite de utilização;
 Isolamento térmico.
Nos pavimentos, é na zona de meio vão que se deteta maior apetência para o aparecimento
de anomalias, devido a esforços de flexão. Estas deformações podem ter origem em
patologias do material, variação da intensidade ou da aplicação das cargas, espaçamento
exagerado entre vigas e falha no dimensionamento das secções e tarugamento em projeto.
As deformações excessivas podem provocar danos graves na estrutura do pavimento,
afetando a sua utilização e aspeto.

Problemas nos apoios

As zonas de apoio são zonas favoráveis a sofrerem patologias. São zonas sujeitas a
elevados níveis de humidade que consequentemente propiciam o ataque de agentes
biológicos. Desta forma, são frequentes as reduzidas secções dos elementos, existindo
roturas ao corte ou deficiente apoio dos elementos. É fundamental intervir quando se
detetam degradações, uma vez que são zonas fundamentais para o funcionamento da
estrutura.

Empenamentos e fendas

As fendas e empenamentos nos elementos de madeira de edifícios antigos têm a sua


origem em processos de secagem não controlados, assimetria de cargas ou transmissão de
esforços entre elementos não previstos no dimensionamento da estrutura. A existência de
fendas provoca uma redução da capacidade resistente dos elementos, podendo culminar no
colapso da estrutura. Facilita, também, o ataque de agentes biológicos e infiltração de
humidade com a consequente degradação dos elementos. Os empenamentos podem
provocar deficiência de apoio de alguns elementos e, consequentemente, má distribuição
de esforços no pavimento, levando à sobrecarga de elementos que não foram
dimensionados para tal. A forma mais frequente de tratamento e eliminação destes
problemas consiste na utilização de resinas epoxídicas e de elementos metálicos, que
permitem a selagem das fendas e a redução ou eliminação dos empenamentos.

Falha nas uniões

A falha nas uniões ou a rotura dos ligadores em estruturas de cobertura podem ocorrer
devido a um mau dimensionamento, desenho incorreto ou excesso de esforços na ligação,
por carga excessiva ou alteração do funcionamento da estrutura.
As ligações são pontos críticos, embora não tenham um peso preponderante no
dimensionamento da estrutura. As coberturas antigas são frequentemente constituídas por

P.B. Lourenço, J.M. Branco e H.S. Sousa (eds.) 2014


76 Reforço de elementos existentes de madeira

configurações e ligações complexas que obrigam a uma elevada compreensão da sua


constituição e comportamento. O dano nas ligações pode modificar o comportamento
global do edifício [7].

Deficiências de contraventamento

Deformação no plano normal ao da estrutura ou elemento estrutural. Acontece


normalmente nos elementos submetidos à compressão e pode levar à rutura do elemento
estrutural ou ao colapso progressivo da estrutura. A forma de evitar estas deformações
passa pela colocação de elementos ou sistemas no plano normal da estrutura, denominados
elementos ou sistemas de contraventamento, que impeçam o desenvolvimento das mesmas.

Encurvadura

A encurvadura dos elementos comprimidos é frequentemente originada pelo excesso de


esbelteza das peças de madeira, ou por solicitações excessivas e não previstas.

2.2. Técnicas para reabilitação de pavimentos e coberturas

Neste ponto, é feita uma análise das técnicas selecionadas para reabilitação de pavimentos
e coberturas.

Aumento de secção dos elementos

O aumento de secção transversal dos elementos é feito pela fixação de novas peças de
madeira aos elementos originais, através de chapas ou cintas metálicas e pregos, pernos ou
parafusos protegidos contra a corrosão, colocados numa zona sã do elemento degradado,
de forma a unir os dois elementos [1]. É uma solução geralmente utilizada na reabilitação
de elementos com secção insuficiente para suportar as cargas atuantes, com fendas de
grande dimensão, roturas localizadas e degradação por ataque de agentes biológicos ou
ambientais. É importante referir que os novos elementos de madeira devem ter um teor de
humidade semelhante ao da madeira existente. As Figuras 1 e 2 ilustram formas de
aplicação deste método.

Figura 1 – Aumento de secção transversal adicionando novos elementos (adaptado de [8]).

P.B. Lourenço, J.M. Branco e H.S. Sousa (eds.) 2014


Jorge M. Branco 77

Figura 2 – Reparação do apoio através de empalmes com novas peças de madeira


(adaptado de [8]).
A introdução de elementos de madeira é uma opção de reforço adequada e pouco intrusiva,
uma vez que consiste na adição de um material com características semelhantes ao
existente. No entanto, é de referir que os elementos de madeira adicionados devem ser
tratados uma vez que ficarão em contacto com peças de madeira deterioradas, passando,
assim, a estar sujeitos a ataques de agentes biológicos [3]. Uma variante desta técnica
consiste na aplicação de empalmes denteados, através de varões de reforço, colocados no
elemento degradado oblíqua ou transversalmente, e colados com resina epoxídica (Figura
3).

Figura 3 – Aplicação de empalmes denteados (adaptado de [8]).

Reconstrução das vigas pela utilização de varões de reforço selados com resina
epoxídica

Uma das soluções mais utilizadas em zonas afetadas por podridão ou pelo ataque de
insetos consiste na substituição da parte degradada do apoio da viga por uma resina
epoxídica ou por um novo elemento de madeira, que se ligam à madeira sã por varões de
reforço de aço inox ou de fibras, normalmente de vidro. Este método consiste na
reconstrução da parte degradada da madeira, utilizando resina epoxídica e varões, de forma
a garantir a correta ligação à madeira sã, utilizando cofragens perdidas que, no futuro,
servirão de proteção ao fogo. Se a zona degradada for muito extensa, é feita a sua
substituição por um novo elemento de madeira, ligado à parte sã da madeira existente
através de varões de aço ou material compósito, deixando uma junta de contacto
posteriormente preenchida com resina epoxídica [1].

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78 Reforço de elementos existentes de madeira

Esta solução é normalmente mais utilizada nos apoios, embora possa ser utilizada em
qualquer outro elemento. Os procedimentos habitualmente adotados são os seguintes:
1. Escoramento da viga ou do elemento em que se vai intervir, para posterior remoção
da parte degradada;
2. Determinação das zonas da madeira que necessitam de substituição. Remoção de
zonas degradadas, até chegar à madeira sã, fazendo-lhe uma impregnação com
resina epoxídica. Se a zona degradada for extensa, deve-se substituir o segmento
degradado por um novo em madeira (Figura 4);
3. Realização de furos e entalhes na parte sã da madeira, para o alojamento dos varões
de reforço (Figuras 4 e 5);

Figura 4 – Corte da zona degradada da viga e execução de furos (adaptado de [8]).

Figura 5 – Furação a partir das faces laterais da viga (adaptado de [8]).

4. Limpeza de furos com jato de ar ou aspirador para remoção de poeiras e sujidade,


para que a aderência não seja prejudicada;
5. Preenchimento dos furos com resina epoxídica;
6. Introdução de varões ou cavilhas de FRP pultridas imprimindo um movimento de
rotação, de forma a evitar bolhas de ar (Figura 6);
7. Caso a opção seja a substituição do elemento por resina epoxídica, faz-se a
montagem de uma cofragem de madeira para reconstrução dessa zona (Figura 6);

Figura 6 – Introdução de varões e execução da cofragem (adaptado de [8]).


8. Aplicação de resina epoxídica na cofragem, de módulo de elasticidade semelhante
ao da madeira, de modo a obter uma melhor compatibilização das deformações
(ver Figura 7);
9. Preenchimento dos furos existentes com cola (ver Figura 7);
10. Remoção do escoramento após polimerização dos materiais epoxídicos.

P.B. Lourenço, J.M. Branco e H.S. Sousa (eds.) 2014


Jorge M. Branco 79

Figura 7 – Aplicação de resina epoxídica na cofragem e nos furos (adaptado de [8]).

Em coberturas, todas as ligações podem ser reforçadas recorrendo a este método. É uma
solução de moderada intrusividade e mecanicamente eficaz (Figura 8).

Figura 8 – Reparação e reforço de ligações e apoios em coberturas (adaptado de [7]).

Reforço pela introdução de resinas epoxídicas com peças metálicas ou materiais


compósitos

Há três formas de executar esta solução: pela introdução de barras de reforço; pela
aplicação de placas de reforço internas; ou pelo envolvimento da peça com mantas, tecidos
ou laminados FRP. A introdução de barras de reforço consiste na ligação de duas partes
separadas de um elemento por meio de varões de reforço em aço inox ou FRP, através de
uma resina epoxídica. A rigidez do elemento reforçado aumenta, diminuindo as suas
deformações. A aplicação de placas de reforço internas seladas com resina epoxídica,
conferem uma grande rigidez à ligação. Este método consiste na execução, a partir da face
superior, de aberturas para alojamento das placas, com posterior aplicação da resina
epoxídica e introdução das placas de reforço, normalmente em aço, mas podem ser
também em materiais compósitos (ver Figura 9).
Os procedimentos a seguir neste método são os seguintes (ver Figura 9):
1. Eliminação da parte degradada da madeira ou consolidação com uma resina
epoxídica;
2. Execução das aberturas para alojamento das placas, com o cuidado de assegurar
uma profundidade regular e de evitar desvios;

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80 Reforço de elementos existentes de madeira

3. Colocação de uma chapa de apoio sobre a parede para que a carga concentrada das
placas não provoque o seu corte ou esmagamento local. Introdução das placas de
reforço, de aço ou de materiais compósitos;
4. É possível colocar peças de madeira ou resina a recobrir as placas, com dupla
função, estética e contra o fogo.

Figura 9 – Reforço com placas internas seladas com cola epoxídica (adaptado de [8]).
O envolvimento do elemento a reforçar com mantas, tecidos ou laminados FRP consiste
num reforço por cintagem, em que o compósito, mais frequentemente fibra de vidro, é
colado em torno do elemento a reforçar, de forma aumentar a capacidade resistente da
madeira e de confinar a secção que apresente fendas ou outros defeitos [9]. Esta é uma
técnica muito utilizada para reforçar localmente as zonas de ligação mecânica das
estruturas de madeira, que são normalmente executadas com recurso a chapas metálicas
fixadas por cavilhas, pregos ou parafusos de porca [10].

Aplicação de chapas metálicas

Esta é uma solução muito usada no reforço ou reabilitação de estruturas de madeira. É um


método de fácil aplicação, de moderada intrusividade, e que não exige a remoção da
madeira degradada. As chapas ou perfis metálicos são fixados à parte sã do elemento
deteriorado através de pernos ou parafusos de porca, evitando a remoção do material
degradado (Figura 10). Esta solução dá origem a uma viga mista com capacidades
superiores à solução previamente existente. Contudo, ao longo do tempo, perde capacidade
de carga e pode sofrer grandes deformações. É um método que provoca algum impacto
visual sendo por isso usado na maioria dos casos quando os elementos não se encontram à
vista.

Figura 10 – Reforço de peças recorrendo a chapas e perfis metálicos (adaptado de [8]).


Gattesco [11] sugere uma outra forma de aplicação desta solução, que consiste em fixar à
face superior de cada viga uma chapa metálica, separada pelo soalho e fixa por ligadores
metálicos (ver Figura 11).

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Jorge M. Branco 81

Figura 11 – Colocação de chapas metálicas sobre as vigas (adaptado de [11]).

Esta solução pode ser complementada com uma treliça horizontal, fornecendo ao
pavimento uma maior rigidez no plano. Esta estrutura é obtida pela fixação de uma
cantoneira metálica às paredes de alvenaria que, por sua vez, se liga às vigas de madeira e
às chapas metálicas do pavimento. Posteriormente, um sistema de chapas diagonais é
soldado à cantoneira metálica perimetral, de forma a completar a treliça. Este sistema de
reforço é usualmente coberto por um novo soalho (Figura 12).

Figura 12 – Esquema da treliça horizontal (adaptado de [11]).

Aplicação de tirantes metálicos

Este método é utilizado em pavimentos de forma a reduzir as deformações excessivas em


vigas ou barrotes de grande vão, no entanto, não é uma técnica com aplicação frequente.
No caso de coberturas, é aplicado quando estas sofrem deformações excessivas ou secção
insuficiente, sendo essencialmente aplicado a pernas e madres. A colocação de tirantes
metálicos na parte inferior das peças permite aumentar a sua inércia e melhorar o estado de
tensão da madeira, ficando o elemento estrutural comprimido e o tirante tracionado (ver
Figura 13). Segundo Arriaga [8], é um método que não aumenta consideravelmente a
capacidade resistente do elemento. A grande dificuldade surge na colocação dos tirantes
nas extremidades dos elementos, exigindo, por vezes, o seu desmonte.
As soluções que utilizam varões e chapas de ancoragem de aço são pouco intrusivas na
estrutura existente, contudo, requerem mão-de-obra especializada, grandes espaços, e
esteticamente podem não ser as mais apelativas, ou seja, a sua aplicação não é sempre
possível. É uma técnica reversível, com alguma complexidade e custo elevado [3].

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82 Reforço de elementos existentes de madeira

Figura 13 – Aplicação de tirantes metálicos para reforço estrutural (adaptado de [8]).


Uma outra possível aplicação desta técnica, consiste na colocação de tirantes de aço
através dos barrotes existentes no pavimento. As barras de aço são fixadas aos cantos das
divisões e postas em tensão por meio de esticadores localizados a meio-vão, entre os
barrotes (Figura 14). É uma técnica bastante usada na reabilitação, principalmente em áreas
reduzidas.
O procedimento a adotar para a aplicação deste sistema é o seguinte:
 Levantamento do soalho e abertura de orifícios nos barrotes para a passagem dos
varões;
 Colocação de perfis e outros elementos metálicos juntos às paredes, para permitir
uma devida ancoragem;
 Colocação de varões e dos respetivos esticadores;
 Colocação do soalho.

Figura 14 – Reforço do pavimento com tirantes de aço (adaptado de [1]).

Reparação de fendas em elementos de madeira

É possível reparar fendas em elementos de madeira recorrendo a resinas epoxídicas e


varões de reforço; chapas e perfis metálicos e parafusos de porca. As resinas epoxídicas e
os varões de reforço, em aço inox ou materiais compósitos, são colocados transversalmente
às fendas, permitindo a sua devida selagem. É feita a limpeza da fenda e injeção de resina
epoxídica. Posteriormente, são executados furos transversais à fenda, nos quais se
introduzem os varões de reforço e resina epoxídica (ver Figura 15).

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Jorge M. Branco 83

Figura 15 – Reparação de fendas com cola epoxídica e varões de reforço (adaptado de [7]).
A utilização de chapas metálicas tem como objetivo principal reduzir e evitar a propagação
de fendas existentes no elemento de madeira. As chapas são colocadas paralelamente ao
plano da fenda nas faces opostas do elemento a reforçar, e ligadas por parafusos de porca
(Figura 16). Esta solução permite uma maior continuidade do elemento e um aumento da
sua rigidez. Com a aplicação de chapas de maior dimensão é possível reforçar mais que um
elemento estrutural ao mesmo tempo. É um método com algum impacto visual, podendo
ser inconveniente em pavimentos que estejam à vista. Para que o sistema funcione é
importante apertar com regularidade os parafusos, o que se torna pouco prático [3].

Figura 16 – Reparação de fenda recorrendo a chapa metálica exterior (adaptado de [8]).

Os perfis metálicos são utilizados na mesma perspetiva que as chapas metálicas, embora
sejam colocados lateralmente aos elementos de madeira, provocando um aumento da
secção útil das peças. São ligados ao elemento de madeira através de parafusos ou pernos
(Figura 17).

Figura 17 – Reparação de fenda recorrendo a perfis metálicos (adaptado de [8]).

Em alguns casos é possível utilizar simplesmente parafusos de porca perpendicularmente


ao plano das fendas, de forma a diminuir a sua abertura [1]. As desvantagens desta solução
estão relacionadas com a necessidade regular de ajuste dos parafusos, o elevado impacto
visual e a redução de secção resistente dos elementos. No entanto, é uma solução rápida e
de fácil aplicação, efetuada em obra conjuntamente com a aplicação de resinas epoxídicas,
para permitir uma maior rigidez e eficácia da intervenção.

Consolidação de nós nas estruturas de madeira com reforço com chapas coladas

A utilização de chapas como elemento de reforço, apesar de menos frequente, é também


uma técnica possível. Consiste na construção de peças de aço inoxidável, colocadas em
negativos feitos na asna, os quais são preenchidos com resina epoxídica (ver Figura 18).

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84 Reforço de elementos existentes de madeira

Esta solução permite o reforço e a consolidação de nós de estruturas de madeira


danificados, fissurados ou com reduzida rigidez face aos esforços aplicados. É
preferencialmente aplicável em ligações perna-linha e pendural-perna [7].

Figura 18 – Reforço de nós nas estruturas de madeira com chapas coladas (adaptado
de [8]).

Reforço da ligação pavimento-parede

Um dos problemas frequentemente encontrados nos edifícios antigos é a degradação da


ligação entre as estruturas dos pavimentos e das paredes. Esta é particularmente importante
no travamento horizontal das paredes estruturais e este reforço pode ser feito recorrendo a
ferrolhos, chapas ou tirantes metálicos. Os ferrolhos são introduzidos na parede estrutural à
qual estão ligados outros componentes metálicos. São solidarizados ao elemento de
madeira através de parafusos de porca. As chapas ou vergalhões de aço são aplicadas sob o
soalho, fixadas diagonalmente às vigas do pavimento e chumbadas às paredes transversais
(e não às paredes de apoio do vigamento), paralelas às vigas de madeira (Figura 19).

Figura 19 – Aplicação de vergalhões de aço, em planta, à esquerda, e em corte, à direita


(adaptado de [1]).
A introdução de tirantes permite ligar os panos de parede de alvenaria opostos, o que, no
caso das empenas soltas, paredes orientadas na direção das vigas do pavimento, se torna
fundamental [3].

Colocação de novas vigas a dividir os vãos

Esta técnica é bastante utilizada quando a estrutura do pavimento apresenta grandes


deformações. Consiste na introdução de novas vigas de madeira, que dividem o vão do
pavimento em dois ou mais, permitindo a redução da deformabilidade do pavimento.

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Jorge M. Branco 85

É uma solução eficaz, no entanto aumenta a espessura do pavimento, não sendo de possível
aplicação em todos os casos. A nova viga de reforço passa a receber grande parte da carga
do pavimento, provocando a necessidade de reforço nos apoios desta na parede de
alvenaria. É possível usar perfis metálicos em vez de vigas de madeira. Os perfis são
colocados transversalmente às vigas do pavimento e apoiados nas paredes ou em outros
perfis colocados paralelamente às vigas.

Introdução de uma lajeta de betão

Por vezes surge a necessidade de substituir todo o pavimento. No entanto, e para manter o
valor patrimonial do edifício, mantém-se o pavimento antigo, apenas com função estética,
e faz-se a alteração funcional do edifício, pela instalação de uma lajeta de betão.
A substituição funcional recorrendo a uma lajeta de betão armado é aplicada quando se
quer conservar a vista inferior da estrutura, mesmo que as vigas do pavimento se
encontrem degradadas e com grandes flechas. Consiste na construção de uma lajeta de
betão armado, com espessura entre os 8 e os 15 cm sobre o pavimento de madeira,
utilizando o soalho como cofragem perdida (Figura 20). Segundo Branco [12], as
principais vantagens desta solução são o aumento da capacidade de carga em relação ao
original, aumento da rigidez à flexão e o aumento do funcionamento como diafragma.
Aumenta, também, a espessura do pavimento, no entanto, o nível de vibrações diminui, o
isolamento térmico e acústico aumentam de forma considerável, tal como a resistência ao
fogo. É um método fácil e económico de implementar em obra.
As principais desvantagens estão relacionadas com o significativo aumento de peso e altura
do pavimento e com a complexidade na execução das ligações entre a laje e a parede e
entre o betão e a madeira. A questão das ligações é fundamental, na medida em que a sua
má execução pode provocar danos graves na estrutura do pavimento, da mesma forma que,
se não houver solidarização estrutural, a lajeta de betão funcionará apenas como massa
adicional, não contribuindo para a resistência do conjunto.

Figura 20 – Colocação de lajeta de betão sobre pavimento de madeira (adaptado de [8]).

Introdução de uma camada de soalho sobre a existente

Esta solução, descrita por Appleton [13], consiste na aplicação de um novo soalho
perpendicularmente ao existente. No entanto, para facilitar a aplicação, o soalho existente
tem de estar devidamente nivelado. É um método que melhora o desempenho estrutural do
pavimento, embora só seja possível aplicar em alguns casos, uma vez que aumenta a cota
do pavimento.

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86 Reforço de elementos existentes de madeira

3. CONSIDERAÇÕES FINAIS

Foram analisadas diversas soluções de intervenção, recorrendo a diferentes materiais,


como madeira, metal e compósitos, tendo em conta o grau de intrusividade das técnicas, bem
como a sua reversibilidade. Foi dado especial destaque, por um lado, às técnicas inovadoras,
que permitem a manutenção dos elementos construtivos originais ou, em alternativa, aos
métodos que, sendo intrusivos, se servem dos materiais originalmente existentes.

4. AGRADECIMENTOS

Este trabalho insere-se nos objetivos do comité RILEM TC 245 RTE Reinforcement of
Timber Elements in Existing Structures. Não posso ainda deixar de agradecer aos meus
alunos pela cedência de imagens.

5. REFERÊNCIAS

[1] Costa L.F.S., Tipificação de soluções de reabilitação de pavimentos estruturais em


madeira em edifícios antigos. Relatório de projeto submetido para satisfação parcial
dos requisitos do grau de mestre em Engenharia Civil – Especialização em
Construções Civis, Faculdade de Engenharia da Universidade do Porto, 2009.
[2] Cruz H.M., Inspeção, avaliação e conservação de estruturas de madeira. 1as
Jornadas de Materiais de Construção, 2011.
[3] Dias T.I.M.P., Pavimentos de madeira em edifícios antigos. Diagnóstico e
intervenção estrutural. Tese de Mestrado, Faculdade de Engenharia da Universidade
do Porto, 2008.
[4] Faria J.M., Reabilitação de coberturas em madeira em edifícios históricos. A
intervenção no Património: Práticas de Conservação e Reabilitação, 2002.
[5] ICOMOS, Recomendações para a análise, conservação e restauro estrutural do
património arquitectónico. (D.d. Universidade do Minho, Ed., & T.p. Oliveira, Trad.)
[6] Silva S.M.D., Reabilitação estrutural da casa burguesa do Porto. Tese de Mestrado.
Mestrado Integrado em Arquitetura, Universidade do Minho, 2012.
[7] Lopes M.C., Faria J.A., Tipificação de soluções de reabilitação de estruturas de
madeira em coberturas de edifícios antigos. PATORREB, 3º Encontro sobre
Patologia e Reabilitação dos Edifícios, 2009.
[8] Arriaga F., Intervencion en estruturas de madera. Madrid: AITIM, 2002.
[9] Silva S.P.L., Juvandes L.F.P., Técnicas avançadas de reforço de estruturas de
madeira com compósitos reforçados com fibras (FRP). CIMAD 04. 1º Congresso
Ibérico. A madeira na construção, 2004.
[10] Cruz H.M., Machado J.S., Moura J.P., Silva V.C., Reforço local de elementos
estruturais de madeira por meio de compósitos.
, 2000.
[11] Gattesco N., Macorini, L., Strengthening and stiffening ancient wooden floors with
flat steel profiles. Structural analysis of historical constructions. New Delhi, 2006.
[12] Branco J.M., Cruz P.J.S., Lajes mistas de madeira-betão, in Revista de Engenharia
Civil, Departamento de Engenharia Civil, Universidade do Minho, n.º 15, 2002, pp.
5-18, 2002. URL: http://hdl.handle.net/1822/2537.
[13] Appleton J., Reabilitação de edifícios antigos. Patologias e tecnologias de
intervenção. 1ªed. Amadora: Orion, 2003. ISBN 972-8620-03-9.

P.B. Lourenço, J.M. Branco e H.S. Sousa (eds.) 2014


Seminário Intervir em construções existentes de madeira 87

As estruturas tradicionais de madeira antes e agora – Análise de alguns


exemplos de recuperação
Filipe Ferreira
AOF
filipeferreira@aof.pt

SUMÁRIO

A madeira tem feito parte das construções, ao longo dos tempos. Como material natural e
acessível que é, tem sido aplicada nos vários elementos construtivos e com as mais
variadas funções, desde a função estrutural, à de compartimentação de espaços, à
decorativa, entre outras.
Na época em que nos encontramos, numa grande sensibilização para os problemas
ambientais e de sustentabilidade é importante refletir sobre o tipo de intervenção a fazer e
os materiais e técnicas a utilizar, desde as tradicionais às novas tecnologias.
Numa construção deve ser analisada a sua génese construtiva, decidindo, a partir daí, o tipo
e grau de intervenção a fazer, seja de manutenção dos sistemas pré-existentes, seja
recorrendo a outras técnicas. Para isso é fundamental o conhecimento das técnicas
tradicionais de construção em madeira e da sua aplicabilidade, a par das novas tecnologias,
com respeito pelo definido nas cartas internacionais em vigor.
Contudo, para que uma intervenção seja bem sucedida é necessária uma equipa de
profissionais qualificados, que abarquem todas as especialidades em causa, desde os
projetistas aos que executam o trabalho com o seu saber, passando por arqueólogos e
historiadores. Essa equipa deverá interagir entre si, de forma a garantir que o processo
corra bem. O projeto de execução é, a este nível, o começo de todo o processo. Durante os
trabalhos de intervenção, surgem frequentemente muitos dados novos, muitas surpresas,
que irão condicionar a solução final.
Apresentam-se neste artigo alguns casos de estudo, de intervenções em alguns edifícios
representativos portugueses.

PALAVRAS-CHAVE: ESTRUTURAS DE MADEIRA, TABIQUE,


REABILITAÇÃO, DEFICIÊNCIAS EQUIPAS MULTIDISCIPLINARES

1. CONTEXTO – BREVE ABORDAGEM DO TEMA

Uma grande parte das construções do nosso património forma feitas empregando madeira,
sendo muitas delas, quase exclusivamente constituídas por este material.
A sua aplicação teve a ver com vários fatores, como a disponibilidade de materiais de
construção existentes numa região, a sua facilidade de transporte, o tipo de edifício e a
classe social dos proprietários, o grau de conhecimento, entre outros fatores.
Na intervenção em edifícios confrontamo-nos muitas vezes com situações limite, em que é
necessário optar por uma solução. Muitas vezes estamos na presença de operações simples

P.B. Lourenço, J.M. Branco e H.S. Sousa (eds.) 2014


88 As estruturas tradicionais de madeira antes e agora

de manutenção, o que não oferece dificuldade, dado bastar limitarmo-nos a afinar ou


substituir algum elemento ou revestimento. Muitas vezes basta uma pintura com uma tinta
de protecção. O problema começa a surgir quando houve dano e a recuperação da estrutura
passa, por exemplo, pela substituição de algumas partes da sua estrutura ou, no caso limite,
na reformulação de toda a sua estrutura com eventual substituição integral.
Outro fator a ter em conta tem a ver com as eventuais alterações à arquitetura dos edifícios,
que poderá implicar a utilização de um sistema construtivo diferente.
Um problema frequente nos nossos dias é o das estruturas em betão armado, existentes nos
nossos edifícios antigos, executadas no século passado. A grande intrusividade dessas
estruturas traduziu-se numa enorme perda patrimonial, com a supressão dos sistemas
tradicionais de madeira, e num grande problema para os edifícios, dado o comportamento
muitas vezes incompatível com o dos outros elementos, como por exemplo as ações
estruturais sobre as estruturas primitivas e a sua pouca durabilidade ao nível das
armaduras, bem como a degradação acelerada que provocam nos outros materiais, como
por exemplo nas madeiras. As várias tentativas pensadas para a sua remoção e substituição
por estruturas semelhantes às primitivas terão de ser cuidadosamente ponderadas, dados os
estragos que poderão originar no edificado. Teremos portanto de considerar a possibilidade
de encarar essas estruturas como uma fase mais na vida do edifício, passando a fazer parte
da sua história e adaptá-las às funções atuais.
São estas e outras reflexões que se farão nos exemplos a apresentar.

2. ALGUMAS CASOS DE UTILIZAÇÃO DE MADEIRA NAS CONSTRUÇÕES

A madeira tem vindo a ser utilizada em várias partes dos edifícios.


O tipo de madeira, bem como as secções, tem variado, ao longo do tempo, em função dos
locais de proveniência.
No caso das estruturas de madeira, as mais correntes em estruturas são o pinho, eucalipto,
castanho e o carvalho.
Em síntese, poderão enumerar-se os seguintes tipos de aplicação, ver Tabela 1.

Tabela 1 – Alguns casos de aplicação de madeira em edifícios antigos.


Parte do edifício Sistema construtivo
Fundações Estacaria
Estrutura Vigamentos, colunas, travamentos
Gaiola
Paredes exteriores
Taipa de rodísio
e divisórias
Taipa de fasquio
Estrutural (Asnas, madres, barrotes)
Coberturas
Revestimento (soletos)
Caixilharias (portas e janelas)
Vãos
Gradeamentos

Numa intervenção deverão ser analisadas as as formas de aplicação, as suas caraterísticas,


para, se escolher o melhor critério de intervenção, de forma a preservar a identidade do
edifício, seja ela arquitetónica, estrutural, artística ou simbólica.
No caso das estruturas de madeira importa refletir sobre a sua geometria e sobre a
geometria dos seus constituintes, como na Figura 1.

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Filipe Ferreira 89

(a) (b)

Figura 1 – Exemplos da geometria de estruturas de madeira e dos seus constituintes; (a) e


(b) Perspetivas de estruturas de cobertura de madeira, com as várias partes que a compõem.
Muitas vezes verificam-se geometrias complexas, de desenho apurado, de grande
qualidade e dimensões, que nos fazem refletir sobre as dificuldades de que se terá revestido
a sua execução, como no caso da estrutura da cobertura da Escadaria Nobre do Palácio da
Bolsa, Porto, conforme se poderá verificar na Figura 2.

Figura 2 – Estrutura da cobertura da Escadaria Nobre do Palácio da Bolsa.


O desenho das estruturas e dos seus acessórios é fundamental, tendo chegado aos nossos
dias exemplares de grande qualidade.

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90 As estruturas tradicionais de madeira antes e agora

3. AS LIGAÇÕES

Ao longo dos tempos tem havido vários tipos de conexão entre as várias peças de madeira,
desde as ligações madeira/madeira, até às peças metálicas.
Na sua essência os sistemas em si mantêm-se, para além dos novos pormenores, resultado
da evolução do conhecimento e da investigação em novas técnicas (Figuras 3 e 4).

(a) (b) (c)

(d)

(e)

(f)

Figura 3 – Exemplos; (a) a (e) Ligações madeira/madeira; (f) Ligações metálicas.

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Filipe Ferreira 91

Figura 4 – Exemplos de ligações contemporâneas.

4. ALGUMAS DEFICIÊNCIAS ENCONTRADAS NAS INTERVENÇÕES

Quando analisamos em pormenor uma construção, particularmente no caso de coberturas


de madeira, observamos várias anomalias, típicas da degradação como a fluência, a
degradação biológica e as consequências das ações termo-higrométricas, com
predominância de umas ou outras, caso a caso, em função dos vários fatores existentes,
resultantes da especificidade da construção, ver Tabela 2 e Figura 5.

P.B. Lourenço, J.M. Branco e H.S. Sousa (eds.) 2014


92 As estruturas tradicionais de madeira antes e agora

Tabela 2 – Anomalias mais usuais em estruturas tradicionais de cobertura em madeira.


Anomalias Possíveis causas
Insetos xilófagos
Presença de água
Podridões
Má qualidade das madeiras
Elementos estranhos em contacto (BA)
Secção mal dimensionada
Assentamentos, rotações do edifício
Deformações
Ocorrência de danificações
Ligações deficientes entre as peças
Presença de água
Fungos
Contacto com o ambiente exterior
Falta de manutenção

(a) (b) (c)

(d) (e) (f)

(g) (h)

Figura 5 – Exemplos de anomalias mais usuais encontradas em estruturas de coberturas em


madeira; (a), (b), (f) e (h) Podridões; (c) Deformações; (d) Fungos; (e) Ligações
deficientes; (g) Fraturas.

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Filipe Ferreira 93

5. OPÇÕES E METODOLOGIA DE INTERVENÇÃO

A intervenção neste tipo de estruturas poderá ser feita em vários níveis, consoante o seu
estado de conservação ou alteração, as características arquitetónicas e a sua autenticidade.
De uma forma geral, poder-se-ão considerar vários níveis de intervenção, desde a menos
intrusiva, como reparação pontual de uma pequena parte, até à substituição integral, em
casos extremos de degradação, ver Tabela 3. Numa intervenção deste tipo, muitas vezes
não há uma única solução.

Tabela 3 – Níveis de intervenção em estruturas de madeira em coberturas.


Níveis de intervenção:
1. Reparação pontual de elementos degradados
2. Substituição pontual, com materiais e técnicas tradicionais
3. Substituição integral com materiais e técnicas semelhantes às existentes
4. Reforço de estruturas existentes com recurso à aplicação de elementos
novos de outra natureza
5. Substituição integral por uma nova solução estrutural com recurso
eventual a novos materiais e novas técnicas

Nas intervenções de reabilitação quer no património classificado, quer no Património


corrente, deverá ser seguida uma metodologia que salvaguarde as características do
edifício. Essa metodologia deverá compreender várias fases, ver Tabela 4.

Tabela 4 – Metodologia a seguir para uma intervenção.


Intervenções de conservação, reparação e recuperação - Fases:
1. Recolha de informação de avaliação da capacidade de desempenho da
construção
2. Determinação das causas da existência de danos
3. Avaliação correta da importância e extensão das degradações
4. Escolha de medidas corretivas menos intrusivas e melhor adaptadas
5. Definição atempada e planeada das intervenções
5. Monitorização do comportamento, após as intervenções

Contudo, como foi já referido neste texto, os trabalhos de intervenção definitivos são
sempre pensados na fase de obra, com uma equipa multidisciplinar, que entenda o
Património e os seus problemas e responda com boas soluções aos imprevistos que sempre
surgem nestas intervenções (Figura 6), ver Tabela 5.

P.B. Lourenço, J.M. Branco e H.S. Sousa (eds.) 2014


94 As estruturas tradicionais de madeira antes e agora

Tabela 5 – Passos para o tratamento “in loco” das estruturas em madeira.


Fases da intervenção:
1. Trabalhos preliminares de proteção;
2. Remoções faseadas;
3. Aspiração e limpeza;
4. Mapeamento das anomalias e definição do plano de intervenção;
5. Remoção manual das partes não funcionais de madeira;
6. Desinfestação dos madeiramentos e do coroamento das paredes;
7. Substituição total ou parcial das partes disfuncionais;
8. Tratamento dos elementos em betão armado;
9. Fornecimento e aplicação de reforços em aço inoxidável;
10. Aplicação de parafusos autorroscantes em aço inoxidável;

(a) (b) (c)

(d) (e) (f)

Figura 6 – Alguns aspetos do tratamento das estruturas de madeira; (a) Medição do teor de
humidade; (b) Desbaste de podridões; (c) Pulverização com produto xilófago;
(d), (e) e (f) Injecção com produto xilófago.

6. ALGUNS CASOS DE ESTUDO

Serão abordados de seguida alguns casos de estudo. A abordagem não será exaustiva,
abrangendo a totalidade das intervenções. Serão focados, em cada caso, apenas alguns
casos de realce, tendo sido escolhidos vários contextos diferentes. Serão analisadas,
sumariamente, as possíveis causas das anomalias, o enquadramento arquitetónico e
histórico e as soluções encontradas, ver Tabela 6.

P.B. Lourenço, J.M. Branco e H.S. Sousa (eds.) 2014


Filipe Ferreira 95

Tabela 6 – Casos de estudo escolhidos.


Casos de Estudo Caso apresentado
Casa Barbot, V. N. Gaia Reabilitação de uma parede de tabique
Parque da Boavista Paredes de tabique

6.1. Casa Barbot

Trata-se de uma antiga residência unifamiliar, erguida em 1904, da autoria do arquiteto


Ventura Terra, ", o escultor Alves de Sousa, o mestre estucador Domingos Baganha, e o
pintura Veloso Salgado, responsável pela decoração de algumas divisões. Encontra-se
classificado como Imóvel de Interesse Público desde 1982, pertencendo à Câmara
Municipal de Gaia onde instalou a Casa da Cultura, e área destinada a exposições e à
promoção de eventos como debates, colóquios, seminários, workshops, lançamento de
livros e momentos musicais.
É o único exemplo de arte nova em V.N. de Gaia.
A intervenção apresentada foi feita numa parede de tabique, onde se verificava uma
deformação acentuada para fora do plano vertical, motivada pelas infiltrações de água,
numa época anterior da casa, do esgoto de uma banheira no andar superior.
O projeto d arquitetura foi executado pela arquiteta Cristina Costa, da C. M. Gaia e o
projeto de estruturas esteve a cargo do Prof. Aníbal Costa e da Engª Esmeralda Paupério,
do NCREP.
A intervenção compreendeu o acesso à estrutura pela face mais acessível, revestida a
azulejo, visto a outra face estar revestida a estuque, com ornamentos, e pintura mural. Essa
face foi protegida com escoramento almofadado e aplicação de um “faccing”, para
proteção desses revestimentos.
A infiltração continuada de água provocou o apodrecimento de grande parte dos
madeiramentos, quer dos pranchões, quer do fasquio.
Tratava-se de uma parede de tabique, com fasquio por ambas as faces e duas camadas de
pranchões de madeira de pinho, uma vertical e outra inclinada a em “X”.
As peças com podridão foram substituídas pontualmente, com a colocação de próteses do
mesmo tipo de madeira, com tratamento preventivo em autoclave.
As ligações metálicas, em ferro, entre a parede de tabique e a parede de alvenaria pedra
exterior foram tratadas com remoção das partes em degradação e aplicação de um
conversor de ferrugem.
Forma colocados ligadores novos, em aço inoxidável AISI 316, nas ligações em “X”.
Por fim, foi feito um reboco, em argamassa de cal extinta e areia, semelhante ao primitivo,
e foi reaplicado o azulejo, também com recurso a argamassa de cal (Figura 7).

P.B. Lourenço, J.M. Branco e H.S. Sousa (eds.) 2014


96 As estruturas tradicionais de madeira antes e agora

(a) (b) (c)

(d) (e) (f)

(g) (h) (i)

(j) (l) (m)

(n) (o) (p) (q)

Figura 7 – (a) Casa Barbot; (b) e (c) Escoramentos; (d) “Faccing” na face de pintura mural;
(e) e (f) Escoramentos; (g), (h) e (i) Estrutura de madeira, após remoção do revestimentos,
na face revestida a azulejo; (j) Ligador após tratamento; (l) e (m) Ligadores em aço
inoxidável; (n) e (o) Estrutura da parede após intervenção; (p) e (q) Revestimentos pelas
duas faces.

P.B. Lourenço, J.M. Branco e H.S. Sousa (eds.) 2014


Filipe Ferreira 97

6.2. “Parque da Boavista”, Braga

O edifício em causa, concluído em 1910, sofreu um grande incêndio na primeira metade do


século passado, que lhe destruiu a maior parte das coberturas e revestimentos de tectos,
com, por exemplo estuques. A posterior reconstrução da cobertura apresentava uma má
solução construtiva.
Nos trabalhos de reconstrução do edifício, a opção foi a de manter as estruturas e
compartimentação pré-existentes, sendo apenas alterada a cobertura, recriando a inicial,
sendo esta última a opção escolhida pela equipa, constituída pelos Arq.tos Francisco
Azeredo, L. Costa e Teresa Ferreira. Esta opção foi tomada por razões de coerência do
desenho inicial e por razões funcionais, para evitar a constante entrada de águas das chuvas
no edifício (Figuras 8 e 9).

(a) (b)

(c) (d) (e)

Figura 8 – (a) Parque da Boavista; (b), (c) e (d) Cobertura antes da intervenção; (e)
Reconstituição da cobertura primitiva.

(a) (b)

Figura 9: (a) e (b) Compartimentação antes e após a intervenção.

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98 As estruturas tradicionais de madeira antes e agora

As divisórias interiores, em tabique, foram reabilitadas, com aplicações pontuais de


próteses do mesmo tipo de madeira, substituição do fasquio e tratamento das ligações
metálicas (Figura 10).

(a) (b)

(c) (d)

(e) (f)

(g) (h)

Figura 10: (a) a (d) Antes da intervenção; (e) e (f) Durante a intervenção; (g) e (h)
Compartimento antes e depois da intervenção.

P.B. Lourenço, J.M. Branco e H.S. Sousa (eds.) 2014


Filipe Ferreira 99

7. REFERÊNCIAS

[1] Cóias V., Inspeçoes e Ensaios na Reabilitação de Edifício, Lisboa, IST Press, 2006.
[2] Cóias V., Reabilitação Estrutural de Edifícios Antigos, Lisboa,
Argumentum/GECoRPA, 2006.
[3] Appleton J., Reabilitação de Edifícios – Patologias e Tecnologias de Intervenção
Lisboa, Edições Orion, 2003.
[4] Paula R.F., Cruz H., Reabilitação pouco intrusiva de vigas de madeira – um caso de
estudo, 2º PATORREB, Porto, 2006
[5] Cruz P.J., Negrão J.H., Branco J.M., A Madeira na Construção. CIMAD 04 – 1º
Congresso Ibérico A Madeira na Construção, 25-26/03/2004, Guimarães, Portugal,
2004.
[6] Adam J.P., La Construction Romaine, matériaux et techniques, 1989.
[7] Chudoba, M., On Wood Joints in Construction. Meri-Lappi Institute, University of
Lapland & University of Oulu

P.B. Lourenço, J.M. Branco e H.S. Sousa (eds.) 2014


100 As estruturas tradicionais de madeira antes e agora

P.B. Lourenço, J.M. Branco e H.S. Sousa (eds.) 2014


Seminário Intervir em construções existentes de madeira 101

Intervenções no património edificado – Castelo dos Mouros, Sintra


Ricardo Miranda
UBIQUIDADE – Arquitectura e Multimédia, Lda. Lisboa
rm@ubiquidade.com

SUMÁRIO

Estudo de caso sobre a metodologia de abordagem ao nível do projecto de arquitectura da


intervenção efectuada no Castelo dos Mouros em Sintra. Trata-se da instalação de um
centro de apoio ao visitante no interior do cerco de muralhas no lugar das antigas
cavalariças, que tem como principais características a utilização de madeira na sua
construção, particularmente a madeira de acácia, e a preservação do património
arquitectónico e arqueológico.

PALAVRAS-CHAVE: INTERVENÇÕES, PATRIMÓNIO, CASTELO, MOUROS

1. INTERVENÇÕES NO PATRIMÓNIO EDIFICADO - CASTELO DOS


MOUROS, SINTRA

Figura 1 – Centro de Apoio ao Visitante do Castelo dos Mouros – Parques de Sintra Monte
da Lua.
A criação do núcleo de apoio ao visitante decorreu da inexistência de qualquer estrutura de
apoio no interior do castelo e à necessidade da musealização do conjunto de modo a

P.B. Lourenço, J.M. Branco e H.S. Sousa (eds.) 2014


102 Intervenções no património edificado - Castelo dos Mouros, Sintra

proporcionar uma experiência de visita mais completa, que se limitava à utilização do


castelo como miradouro, ignorando todo o potencial histórico, arqueológico e
arquitectónico.
A intervenção tem como premissas a preservação do património construído e arqueológico,
a acessibilidade e a sustentabilidade, mas marcada por um carácter próprio e
contemporâneo e que seja uma mais valia na experiência da visita ao Castelo dos Mouros.
Tendo em conta a importância patrimonial, arqueológica e ambiental do recinto, optou-se
por criar uma solução de total reversibilidade, sendo as opções formais e materiais reflexo
dessa intenção, sobretudo através da utilização de madeira local, proveniente de abates de
limpeza das matas dos Parques de Sintra. A criação de construções sobrelevadas procura
reduzir a pegada no solo e permitir a fruição e utilização dos espaços das ruínas. Procurou-
se ainda a utilização de materiais não agressivos com o ambiente e soluções construtivas
que procuram não interferir com as estruturas existentes (Figura 1).

1.1. O Castelo dos Mouros [1]

O Castelo dos Mouros, construído no topo de um dos cumes rochosos mais altos da Serra
de Sintra, localiza-se no interior da Paisagem Cultural de Sintra, classificada pela
UNESCO como Património Mundial (1995), e é um dos símbolos mais significativos da
ocupação muçulmana da Península Ibérica. Figura 2.

Figura 2 – Vista aérea sobre o castelo dos mouros.


Classificado como monumento nacional em 1910, foi sempre um dos locais mais visitados
da região de Lisboa, devido à sua relação simbólica com o passado histórico da região e
pelo sítio, de onde é possível admirar uma espectacular vista panorâmica da costa, da vila
de Sintra e até Mafra.
O Castelo, construído no século X, foi considerado uma das principais estruturas militares
do Gharb al-Andalus, funcionando como defesa da Costa Atlântica e do acesso marítimo à
cidade de Lisboa.

P.B. Lourenço, J.M. Branco e H.S. Sousa (eds.) 2014


Ricardo Miranda 103

Apresenta duas cinturas irregulares de muralhas em alvenaria de granito, sendo a interior


constituída por cinco torres principais e várias pequenas torres de forma quadrada ou
circular, encimadas por caminhos de ronda e ameias. Figura 3.

Figura 3 – Infografia: Anyforms Design.


Integra uma Alcáçova, que alberga a Torre de Menagem, ruínas de dois edifícios antigos
adjacentes às muralhas comumente identificados como Antigas Cavalariças uma Cisterna
com 100m2 e encimada por duas clarabóias de pedra, e agrega ainda, entre as duas cinturas
de muralhas, as ruínas da Igreja de S. Pedro de Canaferrim (século XII). Figura 4.

P.B. Lourenço, J.M. Branco e H.S. Sousa (eds.) 2014


104 Intervenções no património edificado - Castelo dos Mouros, Sintra

(a) (b)

(c) (d)

Figura 4 – (a) Alcáçova; (b) Antigas cavalariças; (c) Cisterna; (d) Igreja S. Pedro
Canaferrim.
Na muralha exterior existem duas portas: a que permite o acesso através da Calçada da
Pena e a que dá acesso para quem vem a pé da vila de Sintra por Santa Maria.

1.2. O desafio arquitectónico do projecto do castelo dos Mouros

O desenvolvimento de um projecto de arquitectura é a busca da resolução de um conjunto


alargado e variado de problemas (técnicos, estéticos, económicos, financeiros, emocionais,
entre muitos outros) e a sua descodificação num objecto formal/espacial. Na elaboração do
núcleo de acolhimento ao visitante do Castelo dos Mouros essa teia de questões tornou-se
ainda mais complexa pela delicadeza da envolvente patrimonial histórica e natural,
precisamente o objecto da missão da Parques de Sintra – Monte da Lua, S.A. responsável
pela gestão, recuperação e conservação do património histórico e natural da Paisagem
Cultural de Sintra, classificada como Património da Humanidade pela Unesco.
A abordagem a este local único e tão imbuído de carga histórica e simbólica determinaram
a singularidade desta projecto onde se pretendia a preservação do património, mas ao
mesmo tempo criar um objecto arquitectónico marcado por um carácter próprio e
contemporâneo.

P.B. Lourenço, J.M. Branco e H.S. Sousa (eds.) 2014


Ricardo Miranda 105

Num contexto de intervenção em estruturas já existentes é sempre adicionado um elevado


grau de incerteza ao projecto, as soluções apresentadas buscaram integrar em si mesmas
um factor de elasticidade de modo a puderem enfrentar os imponderáveis próprios da
incerteza tomar parte em algo que à partida não se consegue determinar, ao contrário das
situações típicas de construção onde o processo ocorre de forma linear (a envolvente é
perfeitamente determinada e se trabalha “do chão para cima”), no campo da reabilitação, e
por diversos motivos, é normalmente impossível proceder às escavações e demolições
numa fase anterior ao desenvolvimento do projecto.
A descoberta do conjunto de vestígios e objectos na zona de implantação das construções a
erigir e a sua importância obrigaram a rever todo o projecto desde a sua fase mais inicial –
o programa base -, obviamente com implicações e alterações nas fases subsequentes, mas a
agilidade da abordagem permitiu encontrar soluções no seio do próprio projecto e resolver
o novo programa sem comprometer a abordagem e o desenho desenvolvidos até aí.

1.3. O projecto

A criação núcleo de acolhimento ao visitante decorre da inexistência de qualquer estrutura


de apoio ao visitante no interior do castelo e à necessidade da musealização do conjunto de
modo a proporcionar uma experiência de visita mais completa, que se limita actualmente à
utilização do castelo como miradouro, ignorando todo o potencial histórico, arqueológico e
arquitectónico. A análise à experiência de visitação do castelo revelou que esta estrutura
tinha um poder de atracão enorme sobretudo pela localização acima da Vila e era
demonstrada nos números de visitantes.
A recuperação dos caminhos pedonais de acesso ao castelo, sobretudo o acesso por Santa
Maria, reforçaram a ligação directa entre a vila e o castelo. A chegada de visitantes não se
restringia agora apenas a um único ponto de acesso como anteriormente e o esquema de
funcionamento das bilheteiras do Castelo tornara-se ineficaz.
Existia uma grande deficiência na informação ao público sobre as estruturas construídas e
naturais, sobre a história do local e dos seus ocupantes, quer por ausência de meios físicos
de informação quer porque simplesmente ainda não haviam sido estudados.
Era necessário criar um núcleo de acolhimento no interior da muralha do Castelo dos
Mouros, que contivesse os serviços de recepção, bilheteira, loja, cafetaria e áreas de apoio
às diversas actividades a desenvolver, nomeadamente a possível utilização da praça de
armas como recinto para eventos.
O local escolhido é o das duas antigas cavalariças dentro do perímetro da Cerca Interior da
Muralha, junto à sua entrada, delimitado pela Muralha do Castelo e pelos paramentos das
ruínas das cavalariças.
O desafio principal deste projecto foi o contacto entre as novas estruturas e o património
edificado, a ligação entre o antigo e o novo e modo como essa relação seria estabelecida.
Como garantir a preservação de uma herança patrimonial milenar ao introduzir elementos e
programas contemporâneos? Em resposta a esta questão procuramos uma solução holística
que definisse a nossa abordagem. Esta atitude deveria ver-se reflectida em todas as
vertentes da intervenção.
A palavra chave foi assim a reversibilidade, que se tornou numa premissa básica ao longo
de todo o processo de desenvolvimento do projecto.
Quer ao nível da abordagem ao património edificado, quer ao natural ou ambiental a
escolha foi a de um respeito pelo existente e a busca pela criação de uma construção
transitória no tempo.

P.B. Lourenço, J.M. Branco e H.S. Sousa (eds.) 2014


106 Intervenções no património edificado - Castelo dos Mouros, Sintra

Obviamente o conceito de transitório é alterado por uma visão mais alargada do tempo, ou
por um entendimento não relacionado com a escala humana desse mesmo tempo. A
realidade ou o tempo correm em ritmos diferentes, esta percepção leva-nos a entender que
o tempo do programa definido para este espaço funciona num ciclo temporal que embora
se considere longo em termos humanos será muito breve quando comparado com o tempo
de vida do castelo, ou com os ciclos naturais mais longos.
Esta ideia de transitório foi materializada pela utilização de componentes e métodos
construtivos que não agredissem a envolvente e que fossem passíveis de remoção e
reciclagem. A procura de minimizar ao máximo os pontos de contacto foi também um
factor importante.
A opção tomada foi a de criar um conjunto de edificações sobrelevadas sobre estacas e
interligadas por passadiços acima do solo, constituídos sobretudo por rampas de modo a
permitir a acessibilidade de um modo mais abrangente e fluído.
A ideia da utilização na construção de madeira proveniente dos abates de limpeza das
matas dos Parques de Sintra surgiu numa das visitas ao local quando se procedia a esse
trabalho e veio reforçar conceptualmente e materialmente a ligação ao local que se
pretendia. A materialidade dos objectos construídos seria uma reinterpretação da
envolvente natural.
Um momento em particular revelou-se crítico neste processo e pôs à prova todas as nossas
opções. Foi, curiosamente, na data combinada para a entrega do projecto de execução que
fomos informados dos achados nas escavações arqueológicas. Entre eles encontravam-se
os silos e o paramento de alvenaria de pedra que nos “retiravam o chão” na zona da
cavalariça Norte.
Surgia no entanto a oportunidade perfeita para dar ao visitante um local onde se pudesse
assistir à génese da existência do Castelo, onde as diferentes camadas que o compõem e
que mostram as distintas ocupações ao longo dos tempos eram visíveis, uma câmara onde
se viajasse no tempo e onde o visitante poderia vislumbrar a História.
A primeira consequência foi a que o conjunto de estruturas situadas na cavalariça Norte
perdia a localização dos pilares que as sustentavam porque conflituava com a localização
dos achados, a segunda foi que a fragilidade da rocha onde se situavam os silos obrigava a
que o local fosse abrigado dos elementos, sobretudo das águas pluviais que poderiam levar
à completa desagregação dos silos.
Perante este cenário vimo-nos obrigados a fazer desaparecer todos os elementos que
constituíam o piso 0 da cavalariça norte para dar lugar ao novo espaço expositivo. A
solução encontrada foi a de – literalmente – seccionar esta zona e introduzir uma
plataforma que servisse de cobertura a essa área. Por baixo correria um passadiço que
permitiria a visitação a este novo espaço.
Estes achados colocaram ainda um outro desafio que até agora tinha sido evitado, a criação
de uma cobertura completa numa das áreas da intervenção, que implicava um contacto
linear continuo com a muralha para a recolha das águas da chuva. Esse contacto tinha
ficado limitado até então a um único ponto. A solução encontrada passa pela introdução
um rufo de zinco inserido nas juntas dos blocos de pedra que constituem as muralhas
evitando qualquer dano permanente às alvenarias, sendo que as massas das juntas também
irão passar por um processo de reabilitação. Esta abordagem quase cirúrgica foi a forma
encontrada de garantir que as muralhas não seriam perfuradas.

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Ricardo Miranda 107

1.4. Considerações finais

As premissas consideradas de raiz estiveram presentes ao longo do projecto e também na


resolução desta alteração. Tomar a sustentabilidade e de um modo mais específico a
reversibilidade como estratégia de abordagem às preexistências históricas e naturais
revelou-se uma estratégia muito preciosa no projecto do núcleo de acolhimento ao visitante
do Castelo dos Mouros pois permitiu fazer face a todas as demandas que surgiram ao longo
do processo e integrar na construção (de diversas formas) partes desse próprio património.
Acreditamos que as opções tomadas serão uma mais valia e que o núcleo de acolhimento
ao visitante irá potenciar a experiência da visita ao Castelo dos Mouros. Figura 5.

(a)

(b) (c)

(d) (e)

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108 Intervenções no património edificado - Castelo dos Mouros, Sintra

(f) (g)

Figura 5 – (a) Centro de apoio ao visitante – vista geral; (b) Acolhimento e loja;
(c) Passadiços e volumes; (d) Vista geral; (e) Antigas cavalariças; (f) Igreja S. Pedro
Canaferrim – vista geral; (g) Interior.

2. AGRADECIMENTOS

Um agradecimento particular ao Prof. António Lamas.


Muito agradeço ao Engº Jorge Branco pelo convite a participar no seminário.
Quero agradecer a toda a equipa que participou na intervenção:
- Proprietário do imóvel
Parques de Sintra – Monte da Lua, S.A.
- Gestão / coordenação da intervenção
Eng. Daniel Silva, PSML
Eng.ª Vanessa Ferreira, PSML
Dr.ª Maria João Sousa (Responsável Arqueologia), PSML
- Financiamento
Parques de Sintra – Monte da Lua, S.A. (2,6 milhões de euros)
PIT - Programa de Intervenção do Turismo (600 mil euros)
- Empresa de construção
AOF
Eng. Filipe Ferreira
Eng. Pedro Santos
Eng. Pedro Sarmento
Apoio na execução de estruturas em madeira lamelada
PORTILAME
Apoio na recuperação e restauro de muralhas
IN SITU
HENUTAL
SOTECNOGAIO

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Ricardo Miranda 109

Serração e Tratamento de madeira de acácia


MARTO E OLIVEIRA
FRANCISCO SARAIVA
Enquadramento paisagístico
IDEALJARDINS
Grua-teleférico de carga
LEDESCHER CABLECRANE SYSTEMS
SOVEPER
- Arquitetura
Arq. Ricardo Miranda
Arq. Miguel Fevereiro (Anteprojecto, Execução e 3D)
UBIQUIDADE
- Paisagismo
Nuno Oliveira – Diretor Técnico para o Património Natural da Parques de Sintra – Monte
da Lua SA
Inês Castro Caldas – Arquiteta Paisagista da Parques de Sintra – Monte da Lua SA
- Projecto de Engenharia
Estruturas de Madeira
Prof. Aníbal Costa
Eng. Tiago Ilharco
Eng. Walter Lopes
FEUP / NCREP
Estruturas Metálicas
Prof. Augusto Gomes
Prof. Francisco Virtuoso
Eng. André Silva
CIVILSER
Especialidades
Eng. Luís Ribeiro (IE e Iluminação Cénica)
Eng. Paulo Sampaio (IE)
Eng. António Dias (IM)
Eng. Vítor Ribeiro (IH)
ECA PROJECTOS
Parceiros do Projecto
IST – Instituto Superior Técnico
UNL – Faculdade de Ciências Sociais e Humanas

3. REFERÊNCIAS

[1] Sousa M.J., Castelo dos Mouros, Revista Património, n.º 2, 2014.

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110 Intervenções no património edificado - Castelo dos Mouros, Sintra

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Seminário Intervir em construções existentes de madeira 111

Construções em madeira – Vantagens plásticas na reabilitação


António Monteiro Guedes
Monteiro Guedes, Arquitectura, Lda., Porto
antonio.guedes@amguedes.com

SUMÁRIO

Questões que importam na decisão de reabilitar, problemas de princípio e questões de


ordem plástica, artística e sensorial

PALAVRAS-CHAVE: REABILITAÇÃO, HABITAÇÃO, ASPECTOS PLÁSTICOS

1. PONTO PRÉVIO

Vivo numa casa do final do século XIX, no Porto que reabilitei em 2008. Confesso que na
questão da construção e particularmente da habitação tenho uma envolvente muito
conservadora onde as casas vão passando de antepassados para as novas gerações que por
sua vez fazem todos os esforços para transmitir esse legado às gerações vindouras. O artigo
que aqui apresento, longe de ser um artigo académico, é uma reflexão sobre a minha
experiência na área de Restauro e Reabilitação de Edifícios.

Figura 1 – Casa Almendra e Guedes (Porto 2008) Detalhe da escada central.

P.B. Lourenço, J.M. Branco e H.S. Sousa (eds.) 2014


112 Construções em madeira - Vantagens plásticas na reabilitação

2. INTRODUÇÃO

Faço a ressalva quanto à questão da habitação porque entendo que, como profissionais e
principalmente como teóricos, nos princípios que defendemos, é fácil distanciarmo-nos do
verdadeiro objectivo do nosso trabalho, a construção de espaços eficazes, em equilíbrio
com os seus habitantes.

Figura 2 – Casa Almendra e Guedes (Porto 2008) Sala de Estar.


O facto de residir numa casa restaurada de acordo com os princípios que defendo trouxe-
me – não o posso esconder – algumas surpresas, (nem todas boas) mas reforçou no
essencial a postura que tenho em relação a estes edifícios. São edifícios que, seguindo um
plano de manutenção indicado, resistem muito bem ao envelhecimento. Por outro lado os
seus problemas são facilmente detectáveis através de sinais claros que a própria construção
nos transmite sem recurso a equipamento especializado. Grande parte das suas peças são
substituíveis e raramente corremos o risco de serem descontinuadas ou haver rotura de
stock. São ainda construções facilmente adaptáveis – em termos construtivos – às
necessidades reais da habitação actual.

3. REABILITAÇÃO – QUESTÕES FREQUENTES (FAQ)

A Reabilitação coloca-se geralmente como uma alternativa em contraponto com a


construção, uma equação na qual pesam uma série de argumentos esgrimidos por várias
partes intervenientes na obra com interesses muitas vezes distintos.
É inegável a facilidade com que hoje podemos controlar tecnicamente vários factores de
forma a aproximar uma construção tradicional dos standards e normas actuais.

P.B. Lourenço, J.M. Branco e H.S. Sousa (eds.) 2014


António Monteiro Guedes 113

Figura 3 – Teatro Cinema de Fafe (Fafe 2003/09) Vista da Plateia.


Entendo, que a reabilitação passa essencialmente por um problema de consciência

1. Numa vertente global na medida em que os recursos de que dispomos não são
infinitos,
2. Consciência sobre a paisagem uma vez que a sua diversidade está inversamente
relacionada com a quantidade de construção que produzimos.
3. Económica na medida em que começando pelo valor do solo até aos recursos que
são aplicados na construção de uma habitação nova a diferença de custo é
geralmente significativa.
4. Histórica na medida em que cada construção contém um património histórico
indissociável, contado pela sua localização, construção ou uso conhecido e passível
de ser lida nos elementos construtivos que a compõem. Lembro aqui a importância
que ultimamente têm ganho os centros históricos das cidades que se revelam
Museus abertos à custa da reabilitação cuidada do seu parque imobiliário e que
Guimarães é um exemplo pioneiro no nosso país.
5. Cultural, uma vez que a construção está intimamente ligada ao quotidiano dos seus
habitantes, é por eles criada e transformada de acordo com a sua cultura
contemporânea.

P.B. Lourenço, J.M. Branco e H.S. Sousa (eds.) 2014


114 Construções em madeira - Vantagens plásticas na reabilitação

4. REABILITAÇÃO – QUESTÕES PLÁSTICAS

Além destas questões incontornáveis existe uma mais-valia significativa na reabilitação -


aqui permitam que me estenda a outras artes da construção – de ordem plástica.

Figura 4 – Casa Raquel Guimarães (Guimarães 2005/13) Acessos durante a Obra e após a
intervenção.
Antes de mais, pela capacidade que temos hoje de recuperar edifícios em elevado estado de
degradação, com técnicas apuradas trazendo-os para a actualidade em todo o seu esplendor
artístico e construtivo. Este só por si poderia ser um argumento determinante, mas durante
a minha prática profissional tenho experimentado algumas formas de intervenção com
alguma surpresa enquanto aos seus resultados.
A utilização de métodos tradicionais de construção permite recriar sobre o original,
ambientes, texturas e mesmo sensações que contribuem para o ambiente geral da Obra.
Trata-se muitas vezes de aspectos que não são reproduzíveis por fotografias, mas apenas
pela experiência tridimensional e acima de tudo sensorial. Falo da aplicação ou restauro de
materiais tradicionais que imprimem na obra um aroma ou um determinado equilíbrio
higrométrico muito distinto (não quero aqui fazer distinções de valor).
Por exemplo a aplicação de tintas à base de óleo de linhaça, cujo aroma permanece por
alguns anos realça a expressividade do edifício através de um sentido pouco comum (ou
pouco estudado) na área técnica: O olfacto. Mas os exemplos não param aqui. A madeira

P.B. Lourenço, J.M. Branco e H.S. Sousa (eds.) 2014


António Monteiro Guedes 115

de riga imprime nas construções também um aroma característico e mesmo o pinho com o
seu aroma a resina seca é capaz de despertar a memória de alguma casa antiga acabada de
reparar por onde passamos.
Por outro lado as estruturas tradicionais de madeira revelam-se muito equilibradas
permitindo a transferência de vapores e temperaturas dentro do edifício resultando num
ambiente muito uniforme. A própria superfície de uma parede em tabique com uma pintura
caiada pode revelar texturas inusitadas que se deformam com o tempo através de pequenas
intervenções ou do próprio movimento do edifício criando dessa forma a sua própria
narrativa.

Figura 5 – Casa Raquel Guimarães (Guimarães 2005/13) Acessos.


A minha perspectiva de reabilitação plástica de um edifício não se reduz no entanto ao uso
de materiais tradicionais. Retomando a questão do início deste texto, entendo que a
manutenção destas estruturas passa pela sua actualização e reparação. Na minha prática
tenho tentado criar uma gramática de intervenção que me tem servido de orientação em
edifícios de habitação. Trata-se de um princípio de “verdade da construção. Chamei-lhe
assim na última comunicação que realizei porque resume bastante bem o conceito e o
resultado do trabalho. Trata-se essencialmente de estabelecer uma regra sob a qual todos os
elementos transparecem a sua identidade, idade e método construtivo e aplica-se
essencialmente a elementos danificados onde a questão se coloca entre a substituição ou
um certo tipo de imitação para aproximação à envolvente. As novas peças por falta de
oxidação ou pela contemporaneidade do desenho, começam por assumir um aspecto
dissonante se vistas em pormenor mas acabam por integrar-se pela forma repetida do
conjunto e pela sua evolução física.
A questão plástica, para além da perspectiva física e sensorial que acabei de descrever
engloba ainda o projecto e a forma de intervir.

P.B. Lourenço, J.M. Branco e H.S. Sousa (eds.) 2014


116 Construções em madeira - Vantagens plásticas na reabilitação

Figura 6 – Casa Jorge Pedrosa (Abrunheira 2007) Detalhe de pavimento.

5. O PROJECTO SEGUNDO UMA MAIS-VALIA PLÁSTICA

Definitivamente o que mais me entusiasma no início de um trabalho é a possibilidade de


evoluir a partir de uma base complexa onde estão invariavelmente pré-definidas estruturas
programáticas, físicas e métodos construtivos. A possibilidade de criar ou recriar espaços
e ambientes complexos, cheios de informação, memórias e sensações. Essa é a mais-valia
plástica no processo criativo.
No nosso trabalho tentamos que ela seja visível nos detalhes e na complexidade do edifício
sem fugir à responsabilidade de datar as nossas intervenções mas aproveitando as
capacidades que obra e materiais têm para oferecer. O trabalho toma a dimensão de uma
equação com infinitas variáveis, o que a meu ver aumenta exponencialmente as
possibilidades de soluções e consequentemente o prazer em descobri-las.

Figura 7 – Casa Jorge Pedrosa (Abrunheira 2007) Sala de Jantar.

P.B. Lourenço, J.M. Branco e H.S. Sousa (eds.) 2014


António Monteiro Guedes 117

6. AGRADECIMENTOS

Aos proprietários das habitações descritas no artigo e durante o seminário nas pessoas da
Prof. Dra. Raquel Guimarães e Prof. Dr. Jorge Pedrosa.

7. REFERÊNCIAS

[1] Fotografia do Teatro Cinema de Fafe FG+SG

P.B. Lourenço, J.M. Branco e H.S. Sousa (eds.) 2014


118 Construções em madeira - Vantagens plásticas na reabilitação

P.B. Lourenço, J.M. Branco e H.S. Sousa (eds.) 2014


Seminário Intervir em construções existentes de madeira 119

Restoration of historical timber structures – Criteria, innovative


solutions and case studies
Giorgio Croatto, Umberto Turrini
ICEA, Department of Civil, Environmental and Architectural Engineering, University of
Padua, School of Engineering
giorgio.croatto@unipd.it, umberto.turrini@unipd.it

ABSTRACT

The topic of the restoration of historical timber structures is actually very important and it
is still susceptible to possible improvements and enhancements, especially considering the
numerous mistakes that were made in the past years as a result of a certain superficiality
and also of the enthusiasm created by the advancement of knowledge in the field of
chemicals products such as epoxy resins or resin shotcretes. From an initial
experimentalism, not properly governed by appropriate standards, specific rules have been
created together with the definition of new concepts concerning wood restoration,
especially with regard to the fields of reversibility and compatibility of materials. The
designers, both as regards to the timber floors and roofs, now have several possibilities of
intervention such as substitution, restoration, collaboration between existing structures, but
specific rules and criteria are needed with the aim of satisfying modern structural safety
requirements and conservative restoration principles.

KEYWORDS: RESTORATION, WOOD STRUCTURES, TIMBER TRUSSES,


HISTORICAL MONUMENTS

1. INTRODUCTION

Problems related to the recovery of historical elements, buildings or parts of them, draw
attention to which should be the main criteria to be taken as a basis for planning
interventions. Is it correct to think of replacing parts with new ones, preserving or
integrating them? And how could they relate the preexisting?
In the restoration of historical timber as in historical building, actually, the main criteria to
follow should be the conservation. Some general values concerning the building such as
the original design concept or the construction techniques are cultural values to be
preserved especially for monument or building with recognized artistic value.
The maintenance of such values has become a topic of considerable interest, so much that
the focus of the regulations has gradually moved towards this area. This also was made
with the aim of putting a limit to the empirical experimentalism of the half of the last
century that caused extensive damage, often associated with the use of inappropriate
materials of which designers and contractors did not yet know the full extent of use.

P.B. Lourenço, J.M. Branco e H.S. Sousa (eds.) 2014


120 Restoration of historical timber structures

Many damages have been done between the seventies and eighties by the use of resins on
stones and sculptures without any prior verification or survey; resins that are now difficult
or in some cases impossible to remove. These issues introduce concepts of reversibility and
compatibility of materials that today can not be underestimated.
The mandatory regulations have introduced the concepts of preservation following this
direction and have formulated criteria for intervention that highlight the survey phases of
the building, giving them the necessary importance.
Is worth pointing that the best recovery, for the purpose of durability, is not always that of
the act if the necessary preliminary studies established the possibility of maintaining the
"status quo" unchanged.
The issue of recovery of the wooden elements came back to this field and should be
approached with the same premises. Even in this field the initial experimentalism led to
interventions that in many cases caused the lost of the original signs of the historic building
or element. Just think of the widespread use of implants made with epoxy resin to rebuild
heads trusses or deteriorated head beams. In these cases we have lost not only the original
formal identity but have also failed criteria of material compatibility and future
reversibility. The issue of the recovery of timber structures is intrinsically linked to three
factors: the material, the structure and the construction details. The joint of these three
elements contributes to the creation of the work itself, which can be found used together in
structural wooden floors or roof structures such as trusses.
While in many traditions of northern Europe and of overseas countries such as United
States or Canada, wood fully contributes to the definition of the building as it is present
both in vertical and horizontal structures, in Italy, where the traditional use of the
masonries, beginning from the Roman period, is of prime importance; the wood has always
been mainly used for horizontal structures as floors or roofs. This is especially true as one
considers monumental buildings or with artistic value where significant structural capacity
of wood, related to the specific weight, have always been used with success.
A frequent occasion for upgrading timber structures is now offered by the need of seismic
strengthening. In case of wooden roofs, with or without wooden trusses, the problem of
the intervention on the nodes is considerably complex, both from a structural and formal
point of view especially considering the future reversibility. Even in the context of the
recovery of wooden structures one may unfortunately notes that the above experimentalism
of the seventies, eighties led to the loss of a significant cultural heritage due to complete
replace of deteriorated elements. The complete replacement of parts of the wooden
elements was due to several factors: the shortcomings of laws, lower cost of operation due
to substitution with respect to the restoration but especially the lack of knowledge,
sensitivity and cultural heritage of designers and owners.
At present, much remains to be done; assessment of existing wood is a big issue, and it's
not completely solved especially with regard to reinforcement methods that are not purely
aimed at obtaining the mere structural performance but also oriented to concepts of
compatibility and reversibility. It's also necessary to include the possibility of a static
downgrade of the structural element (floor or beam) if this contributes to the preservation
of the same.
In conclusion, the assessment of existing wooden structures appears as a delicate search for
a compromise among affordability, historical, artistic and technical.
In this paper, criteria that can be used as rules of interventions of assessment will be
analyzed together with the main restoration systems of historic floors and roofs in full
compliance with prior discussions.

P.B. Lourenço, J.M. Branco e H.S. Sousa (eds.) 2014


Giorgio Croatto, Umberto Turrini 121

2. NORMATIVE FRAMEWORK

In conservation, maintenance and restoration of historical timber as structures belonging to


in historical buildings, actually, the main criteria to follow should include the topics of
compatibility and reversibility: too many interventions have been executed in the past
without any attention to the compatibility of materials and to the possibility of bringing
back the element or restoring to its original aspect. Considering the history of the process
of restoration, starting from the beginning of the twentieth century, we can find many
connections to the modern concept of reversibility; the Athens Charter of 1931 [1], for
example, established, for the first time, the fundamental principles of restoration. The
contribution given to the development of a vast international movement has been
remarkable. Consequently, specific documents have been developed in various countries,
in which sensitivity and critical thinking have been applied to increasingly complex and
multiple problems. From the fundamental principles of the Charter one can notice the need
to preserve the evidence, avoiding total reconstructions and respecting the historical and
artistic works of the past in its entirety. It is important to note that by this time the
reversibility emerges as a constraint in the restoration, but it was with the publication of
Brandi's Theory of Restoration, in 1963 [2], which took place the first encoding of the
concept of reversibility in the form of "singularity of the removal" Brandi claims that the
work of art, the product of human activity, is the result of ingenuity and imagination of
theoretical, practical and manual skills, and so it shows an historic, artistic and aesthetic
message through its material nature that must be entirely respected.
A further application of these criteria to the historic buildings and structures in ruins were
examined by Paul Philippot, particularly in his writings and in his lectures ICCROM
(Philippot, 1976) [3]. Brandi, on the basis of this, formulated three principles:
1. The integration should always be easily recognizable, even if, observed from a distance,
the integration must not disturb the unity that was intended to restore;
2. The material that forms the image is not replaceable only when it is a part of the
appearance and not of the structure;
3. Restorations should not prevent future interventions for conservation, but rather
facilitate them.
The last topic is significantly important, because confirms the need to think about a
restoration compatible with the existing but also with what could be proposed in the future.
In other words, it officially introduces the concept of reversibility of the conservation.
The fundamental concept of reversibility, which specifies that the restoration should not be
definitive, but must permit, if necessary, further actions, is clearly set out in the subsequent
Italian Charter for the Restoration (1972) [4]. This document lists historic and artistic
buildings to preserve and underline the concept that the building has artistic value both as
an object in itself and as an object in its context. In addition, it defines the first guidelines
in the selection of products and methodologies to be used in restoration. A detailed
analysis of the twelve articles of the Italian Charter for the Restoration, shows that the
opinion of Brandi has been fully implemented. The article n° 8 declares: "Any intervention
on the element or even near it (..) should be performed in such a manner and with such
techniques and materials to be able to permit that the future will not make impossible a
possible new intervention or restoration ". This statement contains implicitly the need for
action to avoid changes that would result in irreversible changes of the product. The
discussion relating to this requirement was further continued and developed together with
the scientific research carried out in the field of physics and chemistry, however, making
more progress in the field of preservation of materials.

P.B. Lourenço, J.M. Branco e H.S. Sousa (eds.) 2014


122 Restoration of historical timber structures

Aware of the fact that the restoration project is based on a balance between use and
conservation, the subsequent Restoration Charter of Krakow 2000 [5] widened the
purposes and principles of the restoration by developing new conceptual tools for the
transmission of cultural heritage respecting its authenticity and extending them to
multidisciplinary fields. Section 10 of the Charter of Krakow reports: "The role of the
techniques in the field of conservation and restoration is closely related to interdisciplinary
scientific research on specific materials and technology specifications used in the
construction" (..) The intervention selected must comply with the original function and
ensure compatibility with the materials, textures and architectural values (..) When the
application of new techniques in situ is particularly important for the preservation of the
original element, it is necessary to provide a continuous monitoring of the results obtained,
taking into account their behavior over time and the possibility of any subsequent
reversibility".
The complete reversibility of the products applied or of the interventions are also reiterated
in the latest standards of the Italian Ministry for Cultural Heritage "Risk Map of Cultural
Heritage" in 1995 and Legislative Decree 22/11/2004 n ° 42, "Code of cultural heritage
and landscape" which define guidelines, technical standards, criteria and intervention
models for programmed maintenance of cultural heritage.
Summarizing, the objective of restoration is to operate on the historical building in such a
way that what is done at a certain time for a recovery may be subsequently removed -
avoiding as much as possible too innovative techniques and excessive changes - for further
interventions. This concept of restoration and reversibility is indeed substantially similar to
what was declared in the directives expressed by 'Institutional Council on Monuments and
Sites (ICOMOS)[6] at the conference "Principles for the conservation of ancient wooden
structures", which states that interventions should be or completely reversible or at least
not such as to impair or prevent further action in the future when they become necessary
again. From these principles it is clear the opportunity to define gradually reversibility in
both the design phase as operational phases.
While it is true that the objective which you tend is not easily accessible, on the other hand
it is essential to evaluate, for each action, the level of reversibility that is reasonably
achievable [7]. Furthermore, the Italian Standard UNI 11138:04 [8], presents criteria for
the preliminary evaluation, planning and possible execution of conservation, and
maintenance and restoration of wood structures in buildings of cultural, historical, and
artistic interest. In cases where we should not expect to get a total intervention of recovery
or restoration,, or also preliminary to the intervention itself, it is useful to consider the UNI
11119:04 [9] concerning structural diagnosis of the timber elements which gives
information related to the assessment of the conservation status of the artifact and
guidelines on how to achieve the necessary knowledge of the damaged or decayed
elements.
Completing the context, also the other Italian Standards UNI 11118:04 [10] and UNI
11161:05 [11] should be considered. They establish, respectively the criteria for the
classification of wood species and guidelines for the conservation, restoration and
maintenance of wooden element. Moreover, with reference to the possible types of
restoration available for a specific element or building, surely the designer must correlate
the structural safety of the element together with it's historic value which usually is
preserved by restrictions imposed by the supervisors for the cultural heritage.

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Giorgio Croatto, Umberto Turrini 123

3. IDENTIFYING POSSIBLE CRITERIA FOR INTERVENTIONS

A possible methodological approach to the problem of recovery is provided by the above


mandatory regulations that summarize the basic steps that a designer should follow in
order to reach a proper recovery of the wooden historical elements.
In particular, main criteria should be: preliminary evaluation of the state of conservation,
planning of the intervention, criteria for controlling the efficiency of an intervention,
methodology and techniques in the execution of an intervention and, finally, periodic
inspections.
The phase of preliminary evaluation of the state of conservation establishes the importance
of a correct phase of investigation in order to determine the characteristics of the elements
as well as their state of preservation; the historical survey, the characterization of the
material, the geometric survey, the detection of degradation, and the structural analysis are
all essential steps through which can be achieved the preliminary knowledge of the
element.
The historical survey is executed to permit the dating of the material as well as to provide
knowledge of construction techniques used at that time in that specific geographical area.
For the characterization of the material it may be useful to consider the additional codes
such as Italian Standards UNI 11119:04 [12], comparing the measurements obtained
among different survey methods necessary due to the high levels of uncertainty present.
The geometric survey should include the relief of degradation and structural deformations,
both at a general and particular level of detail. Particular attention should be devoted to
exactly highlight and distinguish wherever the level of deformations of materials are due to
stresses applied to the structure or to inadequate static sections. These defects must be
considered when one performs static analysis realizing a structural model that should
consider defects and dimensional changes of the sections that in real cases are never
constant.
The detection of damages and decays should consider the possible interaction between
decays and environmental conditions such as microclimate that may have influenced the
development of the same.
Finally, the general static conditions are assessed by mean of a structural analysis that
should evaluate both the general static of the building and the details of the single timber
elements and nodes.
Considerations, that could be performed planning interventions and possible criteria to be
adopted, involve different topics that need to be considered. Specifically, the following
ones could be mentioned :
I) Compatibility , traceability and reversibility; these three criteria should coexist in a
recovery intervention; the compatibility should preliminary be related to material but also
should refer to static structural models of computation which must be as close as possible
to the original structural scheme, especially considering the security levels as defined by
the standards; the traceability of the intervention is the need to not hide what designer has
done, but to harmonize it with the existing context; the reversibility is a goal to be pursued
knowing that it is intimately linked to concepts of permeability of the intervention with the
existing one. The more new materials will be blended to existing elements, the less will be
the level of reversibility expected for the intervention.
II) As far as possible the study of the stability of the building should join the new structural
requirements with the original schemes. The study of joints has to be done maintaining as
much as possible the original stiffness, unless it can be demonstrated that the stiffness
values present are responsible for the failures detected. A typical case of wrong application

P.B. Lourenço, J.M. Branco e H.S. Sousa (eds.) 2014


124 Restoration of historical timber structures

of this rule is the reinforcement of heads of trusses realized applying a metal cage with
steel bars ad bolts that increases the stiffness and capacity but block rotations of the
element.
III) The partial or total replacement of a deteriorated wooden element can be carried out if
no artistic value is present. In this case designer should use wooden prosthesis of the same
wood species as the existent one. The current practice of past years of using concrete and
epoxy resins, as already indicated in the introduction, should be avoided. For this reason,
the use of epoxy resins is to be expected only to allow the anchoring of the prosthesis to
the existing wood with steel of fiber bars (Figure 1).

(a) (b)

Figure 1 – Example of replacement of deteriorated wooden element; (a) Resin prosthesis;


(b) Steel bars ready for the wooden prosthesis.
IV) Complete replacement of the element should be performed only in cases of real
structural inefficiency and realized using only materials compatible with the deteriorated
ones, according to the results of the surveys and analysis carried out in previous actions.

4. ACTIONS FOR RECOVERY

The restoration works that could be performed on a wooden structure can be summarized
as:
- Reinstatement of material;
- Restoration of structural continuity;
- Restoration of structural functionality;
- Strengthening of structures with mixed structures (timber-concrete or timber-timber).
Generally, the reintegration of material and structural continuity should be performed with
materials similar to existing ones, restoring the original joints using traditional structural
models. For this purpose, it is desirable to use, as much as possible and according to the
static actions, simple connections using wooden or metal elements, as the traditional ones.
The use of resins should be admitted specifically in seismic contexts and limited to specific
adhesives for wood. In this area of intervention one of the most used technique is the
replacement of decayed items with wooden prosthesis connected to the existing ones by
means of fiber, carbon or steel bars. The types of interventions are the most varied:
connections can be lateral sides, upper / lower sides, internal or external, all as regards to
floor beams or trusses (Figure 2).

P.B. Lourenço, J.M. Branco e H.S. Sousa (eds.) 2014


Giorgio Croatto, Umberto Turrini 125

(a) (b)

Figure 2 – Example of interventions using connections; (a) Lateral side; (b) Inside the
section.
The bars are inserted into the wood in the same manner in which they are embedded in
reinforced glulam. They usually are positioned at the upper and at the bottom side of the
section, so as to fully restore it and delegating to the bars the function of restore the
structural continuity of the element. Although the technique is widely used , there are
aspects that still need to be investigated further. The behavior of the glue, for example,
introduces a structural elastic-brittle in the ultimate behavior of the section whilst the
reversibility and compatibility has yet to be studied at all.
With regard to the restoration of the functionality of the wooden structure, it is necessary to
analyze it in the same original structural context, because it can considerably contributes to
the overall static of the entire building. The analysis should define the contribution offered
to the global static by the investigated element, both in the actual state but especially in the
future arrangement, also considering the global actions that will be present in the future
and defining appropriate interventions such as supplementary connection of the wooden
structure to the perimeter walls with metal connections and wall-plates.
Interventions that use mixed structures mainly concern the wooden floors [12]. In this
area, the strengthening of timber structures is more documented. The reinforcement is
normally reached adding a slab to the beams. The slab can be realized using concrete,
wood or plywood that are joined to the underlying beams by means of metal connectors
and epoxy resin (Figure 3).

(a) (b)

Figure 3 – Example of interventions using mixed structures (slabs); (a) Concrete slab; (b)
Plywood slab.

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126 Restoration of historical timber structures

This strengthening intervention, widespread in the past, today must be carefully assessed if
one consider the new mandatory regulations, as it induces increases in stiffness and
suspended masses, especially in the case of reinforced concrete, which can be deleterious
to the global static in the case of seismic actions. At present, research is evaluating
alternative solutions of the mixed structure with particular regard to the compatibility of
materials with existing structures even at the expense of the absolute performances
technically achievable by the system.

5. CASE HISTORY : THE "PIEVE" IN CAVALESE: THE RECOSTRUCTION


OF THE TIMBER ROOF AS A RESULT OF A FIRE.

5.1. History

The church of "Santa Maria Assunta", called "Pieve", is located in Cavalese (Trento) and is
considered, from the local citizens one of the most important historic buildings of the
region. The building has a symbolic role: it is the place that preserves the memory of the
historical events of the community in the valley (Figure 4).

Figure 4 – External views of the Church.


The parish church is built in 1134. The church has been altered several times during the
years, leading to the formation of an architectural complex in which individual elements
reflect different styles. Everything comes from an original nucleus of the twelfth century,
the remains of walls reveal the seniority of a rectangular room without apse and consists of
three aisles by pillars. Between the fifteenth and sixteenth centuries were performed
substantial interventions as a result of which the building took on the Gothic connotation
still present. A polygonal apse with buttresses was added to the church. The Chapel of the
Rosary is of late Gothic and is plastered with baroque stucco. In 1610 the fourth aisle was
built on the north side. Of the same period is the sacristy, the volume of which protrudes
from the northern prospect. The belfry was built later and is realized on a building dating
back to previous centuries. The sacristy, located south, was built in the same period. The
current plant is characterized by an important building. One can find a large hall, an apse,
two chapels, one bell tower and two vestries.

P.B. Lourenço, J.M. Branco e H.S. Sousa (eds.) 2014


Giorgio Croatto, Umberto Turrini 127

The plant consists of a nave with cross-vaulted ceiling, two aisles symmetrical with acute
ribbed vault and a span with additional vault. There are also two side chapels covered by a
dome.
On the opposite side is located the choir with the organ. Of the same period is the minor
sacristy, the volume of which protrudes from the northern prospect. The present apse was
built in the eighteenth century, built to replace the old one. The belfry was built later and is
built on a building dating back to previous centuries.
The sacristy, built in the same period, is located south (Figure 5).

Figure 5 – Historical plan of the Church.

5.2. The destructive event

On April 29, 2003 the church was affected by a disastrous event which resulted in the total
destruction of the wooden roof. In addition to that, also the static ad architectural
arrangements of the building has been significantly altered consequently to a large fire.
The original trusses, together with the roof structures such as tables and wooden mantle,
went entirely destroyed, collapsing on the vaulted structures below. This fact has led to a
considerable heating and consequent damage of the masonries.
The structural stability of the building was altered, as well as the integrity of architectural
elements such as paintings or frescoes (Figure 6).

(a) (b)

Figure 6 – The progression of the fire; (a) The roof; (b) Firemen in action.

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128 Restoration of historical timber structures

As usual in these events, it has been activated a set of preliminary investigation and
surveys that highlighted the need to put in place temporary structures in order to avoid
possible collapses of the walls. Simultaneously specific scaffolding and a provisional cover
were prepared with the dual purpose, firstly to allow a thorough investigation and
inspection of damaged elements and secondly to provide a shelter of the vaulted structure
below the roof destroyed in order to avoid further damage due to the arrival of the winter
season (Figure 7).

(a) (b)

Figure 7 – Preliminary actions; (a) Provisional cover; (b) Suspended scaffolding.

5.3. The reconstruction of the roof

As a result of the fire the entire wooden roof of the building has been lost, with the
exception of the roof of the tower, too high to be affected by the flames.
The operations of the reconstruction of the wooden roof, designed in a critical way, had to
be aimed at the restoration of the identity of the building as well as to the initial impact of
architectural figurative, restoring, as far as possible, the original core values. This meant,
for example, a critical selection of possible technical solutions, trying to keep the
distinctive historical and aesthetic characteristics and following the criteria of reversibility,
compatibility and minimum intervention probable.
All these things aimed at sustainability and conservation of wooden structures. Operating
in this way it was possible to restore the original form of the old roof and ensure
compatibility with the historical artifact.

5.4. Preliminary surveys

Most of the preliminary analysis has been devoted to the study of materials and their nature
and deterioration, as well as the determination of the geometry of the roof construction that
has been lost.
Preliminarily the main characteristics of the wooden elements of the roof have been
identified. The remaining original wooden beams of the trusses were analyzed by
dendrochronological investigations according to UNI 11141:04 [13]. This survey, based on
the study of the growth rings of wood, covered 19 wheels, chosen among the samples in
better condition.

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Giorgio Croatto, Umberto Turrini 129

The wood species identified were three: Larch (Larix decidua), Spruce (Picea abies) and
pine (Pinus sylvestris section). Using the analysis of the samples it was possible to
determine the date of felling of trees which happens to be between 1544 and 1607 A.D.
(Figure 8).

(a) (b)

(c) (d)

Figure 8 – Dendrochronological investigations; (a) The remaining original wooden beams


after the fire; (b,c) Testing phases; (d) The result of the analysis.

5.5. The geometry

The next step involved the determination of the geometry of the original nave's trusses.
There were no geometric surveys and the only sources were some photographs of the
interior of the roof. An extensive geometrical and typological survey was conducted on the
surrounding churches of the same period to identify similarities.

(a) (b) (c)

Figure 9 – Different typologies of trusses analyzed in churches in the nearby areas; (a)
“Nostra Signora” in Egna; (b) “Santi Martiri” in Sanzeno; (c) “San Giovanni” in Vigo di
Fassa.

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130 Restoration of historical timber structures

As different geometries have been found, the research did not exhausted the doubts, but, in
spite of this, the survey allowed designers to verify the details of the structural nodes and
the overall structural configuration.
Tree roofs of churches were analyzed: “Nostra Signora” in Egna (second half of the 15th
century, first half of the 16th century), “Santi Martiri” in Sanzeno (15th century) and “San
Giovanni” in Vigo di Fassa (latter half of the 15th century) (Figure 9).
In Sanzeno and in Vigo di Fassa, scissors braced trusses are used to cover the vaulted nave,
while in Egna the rafters are braced only by collar beams. All the trusses are closely spaced
(about 90-100 cm). The spatial bracing system is provided either by boarding or by wind
braces in the plane of the roof. In "Pieve di Cavalese" two type of trusses are designed: the
first, called "type A", in which the rafters are connected with three horizontal beams in
order to reduce the sagging. The structure is then completed by perimeter structures, in the
form of triangles, providing support to the lateral walls. The second typological truss,
called type ‘B’, is a scissor truss. Horizontal beams are also present at two levels. Scissor
trusses were commonly used in roof framing to accommodate interior vaulting, domes and
coves, or whenever the center of the ceiling beneath was designed to rise higher than the
wall plates of the building (Figure 10).

(a) (b)

Figure 10 – Different typologies of trusses; (a) Type "A"; (b) Type "B".
A third truss completes the series of the main trusses. It rests on the horizontal beams and
on wooden pillars and supports the longitudinal bracing system (Figure 11).

(a) (b)

Figure 11 – Roof schemes; (a) Assembly of three type of trusses; (b) General view of the
roof.

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Giorgio Croatto, Umberto Turrini 131

Different scales of analysis were adopted to define such intervention. In particular,


concerning the trusses of the nave, the static of the single element has been studied, and
then, at a global scale, the interaction of many trusses with adjacent structures such as
perimeter walls (Figures 12 & 13).

(a) (b)

Figure 12 – Static analysis of the new roof; (a) Specific; (b) Global.

(a) (b)

Figure 13 – Realizing the new roof: (a,b) Construction phases.


During the research concerning the realization of the wooden trusses, historical demands
combined with current needs were considered. On one hand the new trusses should not
modify the loads originating on the pre-existing walls and on the other hand they had to be
adapted to the new building technologies in order to meet the safety criteria required by
today's standards. New carpentry joints were chosen following this criteria and considering
the historic survey previously mentioned. During the preliminary analysis of the roofs of
the neighboring churches, nodes of the trusses were also studied. Elements common to all
of them are precisely details of the nodes. In particular, the half laps are especially used at
the diagonal crossing of in-plane continuous members. The dovetails and the birdsmouth
joints are used when one of the two connected members terminates at the joint. The

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132 Restoration of historical timber structures

traditional carpentry joints are always reinforced by double-threaded screws, in order to


maintain the functionality of the joint in adverse and unpredictable conditions. In fact, the
traditional internal joints generally work "at gravity". Stability is obtained by simple wood
cavities, thanks to the correct positioning and the mutual clamping, relying on the action
that each wooden element exerts on those with which it is in contact. For these reasons,
these connections are not generally able to withstand reversals efforts, such as those caused
by seismic events and so screws are used in order to avoid splitting along the grain in
lapped joints (Figure 14 & 15).

(a) (b)

Figure 14 – Designing the new joints: (a,b) The traditional carpentry joints reinforced by
double-threaded screws.

(a) (b)

Figure 15 – Realizing the new joints; (a,b) Construction phases.

5.6. The material

The material used for the new trusses is ‘duo-glued timber’, that can be considered and
graded as massive wood. This material is obtained using two or three sections of a wooden
beam glued together as it is done with a glulam. Using this solution, the external part of the
original beam, correctly dried (12% U.R.), is rotated and positioned inside the section of
the new element permitting to the core of the beam, now positioned on the external side, to
reach a correct drying as the internal one did. The advantages of this material are: stability
against humidity variations, absence of cracks in time, general high quality due to a very

P.B. Lourenço, J.M. Branco e H.S. Sousa (eds.) 2014


Giorgio Croatto, Umberto Turrini 133

accurate production. The same species of the original timbers, that is Larch (Larix decidua
Mill.), as proven by the dendrochronological analysis, has been used. The choice of this
species, one of the ones with the higher mechanical properties and durability, has been
realized also for the importance of the original roof of the building. The presence of some
elements in spruce and pine, as some wall-plate beams, let assume that these species, less
valuable, they were used for elements of "sacrifice", which precisely those in contact with
the masonry and thus more easily perishable. The roof partly rests on the central pillars and
partly on the external walls. In these areas a wall-plate is needed for static reasons and with
the aim of connecting all structures together. Traditionally this element is made of wood
but, in this case, it performs the only function of connecting element between the truss and
the vertical wall and it is not able to reacts effectively to horizontal stresses due, for
example, to an earthquake. For this reason, today, concrete castings are used (where
permitted) or metal structures made of stainless steel profiles positioned so as to offer
maximum strength in the direction perpendicular to the plane of the walls. The connection
of these metallic elements with the underlying masonry is realized with metal connectors
anchored with epoxy resins. In this recovery, a kind of innovative wall-plate has been
experienced. It consists of wall-plates realized with Armalam ® trusses. Such material is
made by inserting steel or carbon rods within a section of glulam arranging them at the
sides of the reagent section so as to significantly increase the load bearing capacity of the
element (Figure 16).

(a) (b)

Figure 16 – Armalam ® trusses: (a,b) Example of elements.

(a) (b)

Figure 17 – Wall-plates: (a) Use of Armalam ® trusses for wall-plates of the dome; (b) Use
of Armalam ® trusses for wall-plates on the walls of the aisles.

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134 Restoration of historical timber structures

The trusses rest on Armalam® wall-plates, placed on the top of the wall with their sections
rotated by 90 degrees with respect to the classical use as floor beams and so as to offer
maximum resistance to any static and seismic action with perpendicular direction to the
masonry. Also in this case the wall-plate is connected to the underlying masonry by metal
connectors and epoxy resin.
As completion of the intervention, walls below the wall-plate are injected with natural lime
to strengthen them and to permit a perfect contact each other (Figure 17).

6. CONCLUSION

The knowledge of techniques and materials, today, allow the definition of restoration and
conservation projects oriented to maintain and preserve the original characters of the
historic building, whether architectural or structural. The recovery, indifferently directed
to the building or to the single element, should use techniques and methods representative
of the highest level of technological knowledge available in the temporal context in which
the intervention is made. High levels of compatibility and reversibility are permitted by
evolution and technological innovation in this particular field of interest and in the light of
criteria and guidelines provided by mandatory regulations aimed at safeguarding and
preserving the historic heritage. The recovery of timber structures, analyzed in this context,
must not be considered only a simple act of restoring the original structural features, but
also a re-appropriation of the evidences and of the common knowledge related to
typological and constructive traditions.
Floors and especially wooden roofs are built not only to fulfill practical needs, but also to
summarize, in themselves, the specific characteristics related to the shape and to the final
image of the entire building. The recovery of them must, as far as possible, consider these
characteristics and allow to point out the proper meanings and the original values, as well
as give shape again to what is visible but especially to what it is not, because concealed by
architectural harness; all must contribute to the recreation of the identity of the primitive
artefact.
Very often one can see restorations that cannot be considered philologically correct as they
do not use techniques consistent with the historical ones. This, although such techniques
propose solutions for recovery or reconstruction of deteriorated elements that visually and
aesthetically return a semblance of the original element.
Of course it would be wrong to propose the reuse of historic building techniques "tout
court", without a critical analysis looking at the modern wealth of scientific and
technological experiences. One can think of a joint of a truss that, if repeated using
traditional techniques, would not be able to meet the static and dynamic performances
required by mandatory regulations; it is more correct to propose, instead, a formal
approach to the topic that includes the search for synergy between old constructive
methodology and contemporary manufacturing techniques.
(…) “the use of technologies that may be considerably different from those present in the
building to be recovered, requires the verification of the features offered and of the
executive logics in order to avoid creating incompatibility with the Technological System
of the building” [14].
In the context of the joints of timber elements, for example, it is correct to assume their
execution using traditional carpenters techniques, such as "halfwood" or scarf joints, but
improving their static performances by the use of the most advanced current techniques,
such as double treaded screws, metal bars with epoxy resin of fish plates and through bolts.

P.B. Lourenço, J.M. Branco e H.S. Sousa (eds.) 2014


Giorgio Croatto, Umberto Turrini 135

The project for the recovery of "Pieve di Cavalese" follows this conceptual methodology.
Designers reproduced the architecture of the past, now lost due to the fire, providing the
necessary formal completion of the building together the stereotyped image, historically
established; at the same time, the project has allowed the achievement of the required
parameters of the new static regulations. The synergy between traditional techniques and
new technologies can meet conditions required by institutions responsible for preservation
of monuments; this synergy recovers, although not entirely, traditional and cultural
architectural values as well as traditional constructive knowledge of the site. Not least, the
issue concerning the building site is noticeably affected by the contribution given by new
construction techniques; manual skill and accuracy of the carpenter regain strength in the
execution of the joints by the use of the most advanced technologies which also
considerably influence the phases of building site. The wooden elements, which
historically were assembled on site, or directly built "in place" for the lack of sophisticated
lifting systems, can now be directly assembled outside the work site or "at ground", near it.
The building site changes as a result of modern technological developments. In this
context, it is clear that the construction technique, when applied to contemporary
architecture, could offer benefits unimaginable until a few years ago. But no one can
refrain from reflecting on the role of technology in the world of contemporary buildings
and on the role of recovery in topics where more and more frequently technique is replaced
by unnecessary technicalities. This fact, forgetting that one can hide a bad picture but a
wrong restoration may impair centuries of history that no one can ever give back.

7. REFERENCES

[1] The Athen Charter, International museum office, 1931.


[2] Brandi C., Teoria del restauro, Edizioni di Storia e Letteratura, Einaudi, Roma, 1963.
[3] International Centre for the Study of the Preservation and Restoration of Cultural
Property (ICCROM), Philippot, 1976.
[4] Italian Charter for the Restoration, Ministero della Pubblica Istruzione, Circ.n°
117,1972.
[5] De Naeyer A., Arroyo Sp., Blanco Jr., Restoration Charter of Krakow - principles for
conservation and restoration of built heritage, Bureau Krakov,2000.
[6] ICOMOS. Recommendations for the analysis, conservation and structural restoration
of architectural heritage. [Online], 2001.
[7] Cf.: Franchini F., Turrini U., Parametri di reversibilità nel recupero architettonico e
strutturale, pp.1-4, Ed. Libreria Progetto, Padova, Italy, 2012.
[8] UNI 11138: Cultural heritage - Wooden artefacts - Building load bearing structures -
Criteria for the preliminary evaluation, the design and the execution of works. UNI
Milano, 2004.
[9] UNI 11119: Cultural Heritage - Wooden artifacts – Load-bearing structures – On site
inspections for the diagnosis of timber members. UNI Milano, 2004.
[10] UNI 11118: Cultural heritage - Wooden artefacts - Criteria for the identification of
the wood species. UNI Milano, 2004.
[11] UNI 11161: Cultural heritage - Wooden artefacts- Criteria for conservation,
restoration and maintenance, UNI Milano, 2005.
[12] Turrini G., Piazza M., Il comportamento statico della struttura mista legno
calcestruzzo. in Recuperare, 1983.
[13] UNI 11141: Cultural heritage - Wooden artefacts- Criteria for dendrochronologic
analysis, UNI, Milano, 2004.

P.B. Lourenço, J.M. Branco e H.S. Sousa (eds.) 2014


136 Restoration of historical timber structures

[14] Caterina G., Prefazione, in M.R. Pinto, Il riuso edilizio. Procedure metodi ed
esperienze, UTET, Torino, 2004, pag. VIII.

8. BIBLIOGRAPHICAL SYNTHESIS

- The Athen Charter, International museum office, 1931.


- Brandi C.: Teoria del restauro, Edizioni di Storia e Letteratura ,Einaudi, Roma, 1963.
- Italian Charter for the Restoration, Ministero della Pubblica Istruzione, Circ.n°
117,1972.
- International Centre for the Study of the Preservation and Restoration of Cultural
Property (ICCROM), Philippot, 1976.
- Turrini G., Piazza M.: Il comportamento statico della struttura mista legno
calcestruzzo. in Recuperare, 1983.
- De Gotzen S.,Laner F.: La chiglia rovesciata, Ed. F. Angeli, Milano, 1989.
- Del Bufalo A.: Conservazione edilizia e tecnologia del restauro, Edizioni Kappa,
Roma, 1992.
- De Naeyer A., Arroyo Sp, Blanco Jr: Restoration Charter of Krakow - principles for
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- ICOMOS. Recommendations for the analysis, conservation and structural restoration
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- Carbonara G.: Restauro architettonico, Utet, Torino, 2003.
- UNI 11035-1: Structural timber - Visual strength grading: terminology and
measurement of features. UNI Milano, 2003.
- UNI 11035-2: Structural timber - Visual strength grading rules and characteristic
values for Italian structural timber population. UNI Milano, 2003.
- Scarzella P., Zerbinatti M.: Recupero e conservazione dell'edificio storico, Alinea
Editrice s.r.l., Firenze, 2004.
- UNI 11138: Cultural heritage - Wooden artefacts - Building load bearing structures -
Criteria for the preliminary evaluation, the design and the execution of works. UNI
Milano, 2004.
- UNI 11119: Cultural Heritage - Wooden artifacts – Load-bearing structures – On site
inspections for the diagnosis of timber members. UNI Milano, 2004.
- UNI 11118: Cultural heritage - Wooden artefacts - Criteria for the identification of
the wood species. UNI Milano, 2004.
- Caterina G, Prefazione, in M.R. Pinto, Il riuso edilizio. Procedure metodi ed
esperienze, UTET, Torino, 2004, pag. VIII.
- UNI 11141: Cultural heritage - Wooden artefacts- Criteria for dendrochronologic
analysis, UNI, Milano, 2004.
- UNI 11161: Cultural heritage - Wooden artefacts- Criteria for conservation,
restoration and maintenance, UNI Milano, 2005.
- CNR DT-206/2007: Istruzioni per il Progetto, l'Esecuzione e il Controllo delle
Strutture di Legno, CNR, 2007.
- Cf.: Franchini F., Turrini U., Parametri di reversibilità nel recupero architettonico e
strutturale, pp.1-4, Ed. Libreria Progetto, Padova, Italy, 2012.

P.B. Lourenço, J.M. Branco e H.S. Sousa (eds.) 2014


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