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Índice
I. Introdução.................................................................................... 1
II. Objetivo ........................................................................................ 2
III. Geração de energia elétrica a partir de biogás ......................... 2
IV. Potencial de Geração de Energia a partir da geração de Metano
proveniente de Esgotamento Sanitário ..................................................... 3
Biogás Gerado pelo Tratamento de Esgoto .................................. 3
V. Alternativas para Deposição de Resíduos Sólidos em
Pequenos Municípios.................................................................................. 5
Consórcios Públicos ...................................................................... 5
VI. Metodologia para Análise do Potencial de Geração de Energia
Elétrica pelo Biogás de Disposição de Resíduos Sólidos ....................... 6
Seleção do Universo de Pesquisa ................................................. 6
Visitas Técnicas ............................................................................ 8
Método adotado para cálculo do potencial de geração de biogás .9
VII. Potencial de Geração de Energia a partir da geração de Metano
proveniente da Disposição de Resíduos Sólidos ..................................... 9
Resultados da Pesquisa ................................................................ 9
Resultados da pesquisa .............................................................. 10
Potencial de Geração de Energia Elétrica pelo Biogás ............... 11
Modelagem de Viabilidade Econômica........................................ 12
Investimentos .............................................................................. 13
Receitas ...................................................................................... 15
Custos Operacionais e Financeiros ............................................. 15
Análise de Viabilidade Econômica para os Locais Pesquisados 16
VII.4.1. Resultados agregados dos 56 locais ............................. 16
VII.4.2. Resultados agregados pelas cinco regiões do País .................... 17
Análise de Viabilidade Genérica ao Longo do Espectro de Potenciais de
Geração de 1MW a 30MW ......................................................................... 20
Vazadouros a céu aberto (lixões) ................................................ 21
Aterros sanitários ........................................................................ 25
Ressalvas quanto à modelagem ................................................. 28
VIII. Mecanismos de Políticas Públicas .......................................... 29
Simulação de Viabilidade Econômica para Seis Possíveis Intervenções
Públicas 29
Taxa de financiamento subsidiada ............................................................ 30
Financiamento de longo prazo .................................................................. 31
Isenção fiscal ............................................................................................. 32
Tarifa de energia elétrica subsidiada ......................................................... 33
Créditos de carbono subsidiados .............................................................. 34
Partilha da receita oriunda da comercialização dos créditos de carbono
com as prefeituras dos municípios ............................................................ 35
Contexto das Políticas Públicas ................................................................. 37
Fontes de Financiamento ........................................................................... 38
IX. Conclusões ................................................................................ 39
X. Recomendações........................................................................ 42
Lista de Tabelas
Tabela 1 - Resumo das principais informações da pesquisa
Vazadouros a céu aberto (lixões) constituem -se na forma mais inadequada de disposição de
resíduos sólidos urbanos, pois não contemplam cuidados que evitam danos ambientais e à
saúde. Os resíduos depositados em um lixão causam poluição ao solo, ao ar e à ág ua;
atraem vetores de doenças; não restringem os resíduos de serem levados pela ação do vento
e por animais; não controla o risco de deslizamentos, fogo e explosões; e por fim mantêm, em
sua maioria, catadores.
De acordo com a Pesquisa Nacional de Saneamento Básico do IBGE de 2008, metade dos
mais de cinco mil municípios brasileiros destinam seus resíduos para lixões. Conforme o
próprio relatório, "tal situação se configura como um cenário de destinação reconhecidamente
inadequado, que exige soluções urgentes e estruturais para o setor" (PNSB 2008, IBGE
2010, página 60). Uma das soluções mais latentes foi recentemente tomada por meio da
aprovação da Política Nacional dos Resíduos Sólidos (PNRS) em 02/08/2010, após mais de
20 anos em trâmite no Congresso Nacional.
A PNRS vem para regulamentar a destinação final dos resíduos sólidos produzidos, inclusive
os urbanos, agindo como um marco regulatório que reúne princípios, objetivos, instrumentos
e diretrizes sob os quais a integração entre os agentes públicos envolvidos, principalmente os
municípios, deverão seguir. Adicionalmente, o PNRS adota medidas restritivas como a
proibição: da coleta de materiais recicláveis em lixões ou aterros; do lançamento de resíduos
em praias, rios e lagos; e das queimadas de lixo a céu aberto. A Política também delineia o
caminho para a reciclagem, reutilização e uso mais consciente dos materiais ao
responsabilizar as empresas geradoras pela logística reversa de seus produtos descartáveis
e também à própria sociedade civil pela geração do lixo.
Dos 168 projetos de MDL registrados em diversos setores no Brasil, 25 são realizados em
aterros sanitários. Destes, apenas 7 foram registrados com intuito de geração de energia,
constituindo-se uma oportunidade promissora para promover a sustentabilidade social e
ambiental do desenvolvimento municipal no país, por meio do estímulo a uma gestão mais
apropriada dos resíduos sólidos urbanos.
II. Objetivo
O objetivo do estudo é quantificar o potencial de geração de energia elétrica proveniente de
gás metano oriundo de resíduos de saneamento, enfatizando lixo e esgoto. Cabe ressaltar
que este estudo subsidiará a formulação de políticas públicas no setor energético e a
definição de ações coordenadas, visando à sustentabilidade ambiental da matriz energética
brasileira, por se tratar de uma fonte com bom potencial de geração de energia,
principalmente para atendimento à demanda local, ainda pouco incentivada e com ganhos
ambientais e sociais significantes.
Tanto o autoprodutor como o produtor independente, que utilizam fonte térmica (exceto
nuclear), deve solicitar autorização à ANEEL, no caso de potência superior a 5.000 kW (5
MW), ou apenas comunicar à ANEEL, para registro, no caso de uma usina com capacidade
reduzida (até 5.000 kW ou 5 MW), nos termos da Lei nº 9074/95 e observado o disposto na
Resolução nº 390 de 15 de dezembro de 2009.
O Brasil apresenta ainda dificuldades adicionais. A primeira dela condiz ao elevado déficit nos
serviços de saneamento básico, especialmente em relação à coleta e tratamento de esgotos
sanitários nas áreas urbanas, que hoje resulta em sérios problemas relacionados à
propagação de doenças de veiculação hídrica e à mortalidade infantil.
Outra dificuldade diz respeito aos equipamentos necessários, que apresentam custos
elevados por serem, em sua maioria, importados, requerendo ainda recursos para sua
manutenção. Dependendo da potência instalada na estação de tratamento de esgoto e do
volume de biogás gerado, o investimento torna-se muito elevado, podendo inviabilizar o
projeto.
As empresas do setor podem adotar o sistema de cogeração de energia com utilização dos
gases de exaustão para aquecimento dos digestores e do secador de lodo, aumentando a
eficiência do processo, com concomitante redução de custos de instalação e possibilidade de
comercialização do excedente de eletricidade (CENBIO, 2001).
Deste modo, a adoção do método de utilização do biogás no país deve ser precedida de
estudos para obtenção de tecnologias aprimoradas, respaldad as em instrumentos jurídicos,
institucionais e econômicos, possibilitando assim o surgimento de novos projetos eficazes no
aproveitamento energético a partir de esgoto sanitário.
Aterros sanitários que atendem a pequenos municípios têm custo operacional unitário (por
tonelada aterrada) elevado quando comparados àqueles que recebem grandes volumes de
resíduos. Dessa forma, a composição de consórcios entre pequenos municípios é vantajosa e
tende a viabilizar financeiramente a gestão de resíduos, visto que o compartilhamento reduz
consideravelmente tanto os custos operacionais como os investimentos iniciais.
O ganho de escala alcançado pela operação conjunta de aterros por meio de consórcios
permite o aperfeiçoamento da capacidade técnica, gerencial e financeira, melhorando assim
a prestação de serviços públicos. Entre as principais vantagens do aterro sanitário
compartilhado estão (adaptado do Portal da Cidade de Londrina):
▪ Redução das áreas afetadas pelos aterros, dando assim solução solidária, compartilhada
e regional ao problema;
▪ Racionalização do uso de máquinas e equipamentos para operação, garantindo
economia de escala;
▪ Rateio dos custos de instalação e operação entre municípios;
▪ Viabilidade de adesão dos municípios que ainda depositam os resíduos em lixões,
aperfeiçoando a gestão dos resíduos e melhorando a qualidade ambiental;
▪ Facilidade na obtenção de recursos e a universalização dos serviços;
▪ Viabilização econômica de se instalar um projeto de captura, queima e geração de
energia elétrica, uma vez que quanto maior o volume de resíduos orgânicos depositados
em um único aterro, maior a geração de gás metano, além de possibilitar a implantação
de um projeto de MDL.
Para garantir o sucesso de um consórcio visando o compartilhamento de soluções a
problemas comuns, sua definição deve ser exaustivamente discutida de forma a estabelecer
as obrigações recíprocas entre os consorciados. Os consórcios públicos são uma forma de
associação e de coordenação entre entes federativos para a gestão de serviços públicos de
forma conjunta ou coordenada e tem natureza contratual. Como é basea do no exercício de
competências comuns, pode ter cláusula de penalização por não cumprimento do
estabelecido ou por prejuízos causados pela retirada do consórcio (IBAM 2007, p.24).
Assim, a formação de consórcios é positiva e deve ser incentivada. A união dos diversos
recursos de municípios a partir da formação de consórcios públicos objetivando solução
comum para reduzir, mitigar ou eliminar problemas de gestão de resíduos sólidos urbanos
tem mostrado tendência eficiente e pode ser uma boa prática especialmente para municípios
com populações inferiores a 100.000 habitantes.
Os critérios adotados para seleção dos municípios a serem abrangidos neste estudo levaram
em consideração dados populacionais, bem como a quantidade mínima de resíduos
necessária para viabilizar empreendimentos de recuperação do biogás, para fins de geração
energética, conforme detalhado abaixo:
▪ Municípios pertencentes a Regiões Metropolitanas ou Aglomerados Urbanos;
▪ População superior a 200 mil habitantes;
▪ Volume de resíduos suficiente para gerar, no mínimo, 300 kWh de energia;
▪ Potencial de produção de biogás por um período de dez a quinze anos.
Mediante adoção dos critérios supracitados, do total de 517 municípios brasileiros inseridos
em regiões metropolitanas (IBGE, 2010), 91 foram selecionados para participarem desta
pesquisa. O montante representa 79,51% do total da população presente nas regiões
metropolitanas que totaliza 88.939.853 habitantes. A população abrangida nos 91 municípios
corresponde a 70.713.151 habitantes.
Foram ainda incluídas algumas “exceções” que não atenderam os critérios de seleção pré -
estabelecidos, porém apresentam características ou peculiaridades relevantes para esta
pesquisa. Cabe mencionar que as “exceções” consideradas foram determinadas, também,
com base no conhecimento aprofundado dos especialistas participantes da equipe envolvida.
Desta forma foram incluídos dezoito municípios.
Foram enviados 113 (cento e treze) questionários para os 109 municípios (91 municípios
obtidos após a linha de corte e 18 municípios considerados “exceções”). Esta disparidade se
deve ao fato de que alguns municípios contam com mais de um local de disposição de
resíduos. Cabe citar, como exemplo, a cidade de São Paulo, que atualmente deposita seus
resíduos em dois aterros e ainda conta com outros dois aterros que foram recentemente
desativados e todos possuem potencial de geração de energia elétrica.
Visitas Técnicas
Para realização deste estudo considerou-se importante e estratégico a realização de algumas
visitas técnicas em locais de disposição de resíduos, frente às diferentes características
regionais, políticas, geográficas, ambientais e sociais dos municípios brasileiros. Esta
abordagem permitiu um conhecimento técnico aprofundado, de alguns lixões, aterros
sanitários ou controlados. Desta forma foram definidos onze locais a serem visitados1.
A seleção dos locais onde seriam realizadas as visitas técnicas levou em consideração os
seguintes critérios:
▪ Abrangência nas cinco regiões brasileiras: Norte, Nordeste, Sul, Sudeste e Centro -
Oeste;
▪ Aterros com características ou peculiaridades distintas, consideradas relevantes para
esta pesquisa, conforme conhecimento aprofundado da equipe envolvida neste projeto;
1
As visitas técnicas foram realizadas nas cinco regiões do País, a saber: 1) Amazonas, Aterro Controlado de Manaus; 2)
Pernambuco, CTR Candeias em Recife; 3) Rio Grande do Norte, Aterro Sanitário Braseco em Natal; 4) Goiás, Aterro Sanitário
de Goiânia; 5) Distrito Federal, Lixão Jóquei em Brasília; 6) São Paulo, Aterro Sanitário Bandeirantes, na cidade de São Paulo;
7) Rio de Janeiro, Aterro Controla de Jardim Gramacho, na cidade do Rio de Janeiro; 8) Minas Gerais, CTR Macaúbas em Belo
Horizonte; 9) Espírito Santo, Aterro Sanitário Marca Ambiental em Cariacica; 10) Paraná, Aterro Sanitário Caximba em Curitiba;
e 11) Santa Catarina, Centro de Gerenciamento de Resíduos de Tijuquinhas em Biguaçu.
▪ Diferentes formas de disposição: Aterro Sanitário, Aterro Controlado e Lixão;
▪ Projetos registrados na ONU para fins de obtenção e venda de créditos de carbono.
Cabe mencionar que esta Metodologia também pode ser utilizada para calcular a quantidade
de créditos de carbono associada a cada projeto. Foi aprovada e consolidada para o cálculo
da linha de base de projetos em aterros no âmbito do MDL - Mecanismo de Desenvolvimento
Limpo.
Este modelo inclui diversas variáveis considerando as especificidades de cada aterro, como
por exemplo, a classificação dos resíduos, a taxa de degradação por diferentes frações de
carbono orgânico degradável, entre outras. O modelo calcula a produção de metano com
base na quantidade de resíduos depositados em uma série histórica, começando com o
primeiro ano após o início das atividades do projeto até o último ano do projeto.
Para os locais de disposição de resíduos que irão receber lixo nos próximos anos e que não
informaram as devidas quantidades anuais a serem depositadas, foi necessária uma projeção
destes dados por meio do método de mínimos quadrados, através de análises de correlação
e seus coeficientes (R2), objetivando o conservadorismo na estimativa. O método aplicado
neste estudo possibilita a utilização de uma modelagem matemática que infere resultados
mais conservadores e próximos da realidade dos locais de disposição de resíduos. Isto
ocorre devido à complexidade das variáveis necessárias para realizar os cálculos.
A discrepância entre os dados das Pesquisas Nacionais (IBGE) e da pesquisa atual não
indica necessariamente uma melhora no tratamento dos resíduos, mas sim a diferença na
abrangência das populações pesquisadas. Os critérios de seleção da pesquisa atual, ao
almejar agregar municípios com potencial de geração de energia elétrica a partir de biogás,
não consideram pequenos municípios com menores condições de investimento em
saneamento.
Calculou-se prospectivamente a curva de vazão do biogás para dez anos, de 2010 até 2020,
conforme demonstrado na Tabela 3 abaixo. Os potenciais estimados individualmente, quando
agregados, somam 311 MW de "potência instalada" em biogás gerado pela decomposição
dos resíduos sólidos municipais, que poderia abastecer uma população de 5,6 milhões de
habitantes e equivale a praticamente a cidade do Rio de Janeiro. Tal potência representa a
abundância do combustível biogás, renovável e subproduto do modo de vida atual.
A utilização do biogás como combustível para geração de energia elétrica não apenas
aproveita de forma sustentável este subproduto da disposição dos resíduos sólidos, como
também evita que o gás metano nele contido seja emitido para a atmosfera. Como o metano
tem potencial 21 vezes maior que o CO 2 para aumento do efeito estufa, a queima do biogás
na produção de energia gera emissões evitadas deste gás. A quantidade de carbono
equivalente que potencialmente seria impedido de alcançar a atmosfera da Terra, assim,
equivale a 12 milhões de toneladas no primeiro ano de geração de energia por meio da
recuperação e utilização do biogás. Em 2020 as emissões evitadas quase totalizam 10
milhões de CO 2 equivalente. Ao longo do período estudado de 11 anos a soma, de 121
milhões de toneladas, demonstra a expressiva redução potencial de gases de efeito estufa.
Tais emissões evitadas podem ser credenciadas para a geração de créditos de carbono, que
são títulos comercializados em mercado. Os créditos de carbono representam uma segunda
fonte de receita para os aterros que geram energia por meio do biogás, complementando
assim a receita oriunda da geração e comercialização da energia elétrica.
2
Muitos dos locais estudados atingirão o fim de suas vidas úteis dentro do período da projeção realizada. Para se obter a
medida do potencial das regiões metropolitanas estudadas sem o viés decrescente por conta do encerramento dos aterros e
lixões adotou-se uma metodologia de estimação que parte do pressuposto de que a geração de resíduos é linear e contínua a
partir dos dados históricos de disposição levantados pela pesquisa. É estimado que essa geração crescente de resíduos
encontre locais de disposição correspondentes, independente das dificuldades inerentes ao processo de licenciamento etc.
Ademais, como a legislação ambiental tende a ser mais criteriosa na concessão de licenças para novos aterros, assumiu-se que
os novos locais serão aterros sanitários.
(lixões), realizou-se complexa modelagem econômica para cálculo da viabilidade de tais
projetos.
Detalha-se a seguir a modelagem adotada para cálculos de viabilidade, que inicia-se com o
levantamento dos investimentos necessários para o projeto. O segundo passo é o
levantamento das receitas prospectivas, oriundas tanto da venda da energia elétrica como
dos créditos de carbono. Por fim, foram levantados os custos e despesas operacionais, que
incorrem ao longo do período simulado, incluindo aqueles com o financiamento dos
investimentos iniciais e os impostos gerados.
▪ O intervalo temporal modelado, por ser tratado sob a ótica de mercado, foi considerado
como de dez anos (de 2010 a 2020). Tal premissa se apóia em dois fatos: a) como
compete aos municípios a responsabilidade pelos locais de disposição e os instrumentos
jurídicos para a contratação de um empreendimento dessa natureza são a concessão ou
contrato de prestação de serviços, ambos respeitam características de longo prazo . E
por fim: b) o investimento inicial é de montante significativo, o que remete a prazos
relativamente longos para plena amortização e, assim, atração de capital privado. A
geração de biogás de um local de disposição não necessariamente encerra-se em dez
anos, bem como as máquinas de geração de energia elétrica não são integralmente
depreciadas nesse intervalo de tempo. Não obstante, sob a ótica de mercado adotada o
prazo de concessão ou contratação de dez anos permite um horizonte compatível com o
estabelecimento de linha de corte conservadora e factível para obtenção dos
financiamentos.
▪ É assumida a comercialização dos créditos de carbono em todas as etapas da análise,
desde o investimento em seu projeto, passando pela apropriação de receitas de sua
venda, até a dedução de seus custos operacionais. Tal assunção se mostra coerente
uma vez que os investimentos para certificação de créditos de carbono são marginais aos
necessários para geração de energia elétrica. Isto é, os custos para geração de energia
elétrica embutem integralmente os custos que se fariam necessários para certificação de
créditos de carbono. Importante notar que os créditos de carbono adentram na
modelagem de forma paralela à venda de energia elétrica, pois são complementares: o
mesmo biogás gera ambas as receitas.
▪ A modelagem ora apresentada foi realizada a partir de dados reais de projetos que
atualmente encontram-se em operação e que vivenciam na prática situações quer sejam
econômicas, financeiras, técnicas, ambientais e operacionais que, de certa forma,
agregam novos conceitos e parâmetros que podem ser aplicados em projetos futuros.
▪ Outrossim, cabe citar que embora A análise de viabilidade se fez sob a ótica de um
investimento privado, isso é, com valores correntes de mercado, onde as receitas
amortizam o investimento inicial, fazem frente ao fluxo de custos e despesas e por fim
resultam em caixa livre.
Investimentos
Seguindo modelagem de viabilidade econômica padrão, o primeiro passo se dá pelo
levantamento do investimento, e são diversos os necessários pois englobam as etapas
necessárias desde a captação do gás nos maciços de resíduos até a venda da energia
elétrica por meio de sua transmissão. A particularidade de tais investimentos é que o custo da
matéria prima (o gás) está embutido no próprio custo de investimento, contrário a um sistema
de produção padrão onde este é variável e incorrido juntamente com o processo produtivo3.
3
Como exemplo, uma termelétrica a carvão vegetal pode comprar menores ou maiores quantidades de carvão (até o limite de
sua capacidade instalada) para suprir respectivamente uma menor ou maior demanda de energia elétrica. Esse custo é incorrido
quando da necessidade do combustível e ao longo da vida útil da usina. Já no caso do biogás, há necessidade de se realizar
larga soma de investimentos para a captação da matéria prima nos maciços de resíduos. Uma vez realizados, tais investimentos
são amortizados ao longo da operação, cujas despesas e custos operacionais são relativamente baixos.
Há uma significativa diferença entre locais de disposição classificados como aterros sanitários
e os classificados como vazadouros a céu aberto (lixões). Os aterros sanitários operam sob
as normas da NBR 8419/1984 e detêm obrigatoriamente, como premissa de sua própria
classificação, mecanismos de drenagem de chorume e de biogás.
Receitas
A apropriação de receitas contempladas na modelagem condiz com a somatória da
comercialização de energia elétrica com a comercialização dos créditos de carbono. Tomou -
se como base primária a produção do biogás, que é o combustível para ambas.
Nota-se que dos 56 locais pesquisados, 4 possuem unidades de geração de energia elétrica
e apropriação dos créditos de carbono operando. Assim sendo, estes aterros foram
considerados como exceção à análise de viabilidade e encontram-se devidamente subtraídos
das simulações subseqüentes.
A potência que pode ser instalada caso fossem considerados os 52 locais contemplados sob
um grande projeto de geração de energia elétrica, totaliza 286 MW. Essa quantidade de
energia elétrica é, segundo os padrões de consumo da Empresa de Pesquisa Energética,
(EPE, 2007), suficiente para abastecer quase um milhão de habitantes.
Gráfico 2 - Investimento em R$/MW por regiões do país (eixo esquerdo) e o valor presente
líquido médio em R$ MM (eixo direito)
Cabe mencionar que diversos locais foram interpelados pela pesquisa, que cobriu as cinco
regiões do país de forma proporcional às regiões metropolitanas que apresentavam um
mínimo de 200 mil habitantes. De diversas regiões, entretanto, obtiveram -se respostas de
poucos locais, notadamente das regiões Norte e Centro-oeste, com 3 locais cada. Embora
significativos em termos de população representada na pesquisa, os dados agregados para
estas regiões são suscetíveis às particularidades destes locais, demandando cautela em sua
interpretação.
A região Norte detém três locais de disposição de resíduos que responderam à pesquisa e,
logo, estão considerados. Entre estes o potencial energético é de 13 MW ao custo R$ 30,5
milhões. O investimento, tendo como receitas a comercialização da energia elétrica produzida
e dos créditos de carbono gerados, consegue se pagar em apenas 3 anos, ao custo por MW
de R$ 268, o menor de todas as regiões. Ao final do período de simulação os projetos
retornam o equivalente em valores presentes à quase R$ 24 milhões, ou seja, praticamente
R$ 8 milhões por local. Adicionalmente, tais empreendimentos gerariam a redução da
emissão de mais de quatro milhões de toneladas de CO 2 equivalente.
A Tabela 5 abaixo reproduz os dados citados, sendo que as segundas-linhas dos indicadores
da viabilidade trazem a média por local de disposição.
A maior potência de geração de energia elétrica encontra-se na região Sudeste, que dispõe
de 170 MW de potencial energético para ser gerado pelo biogás - não menos por esta região
deter as maiores concentrações populacionais e consequentemente o maior número de
depósitos de resíduos. Concomitante, o Sudeste apresenta de forma agregada o maior índice
de redução de emissão de metano, equivalente à expressiva quantia de 54 milhões de
toneladas. O custo do MW na região é de aproximadamente R$ 317, gerando de impostos
mais de um bilhão de reais, juntamente com um resultado líquido de R$ 165 milhões em
valores presentes. O investimento necessário é pago integralmente com 5 anos de projeto,
metade do período simulado.
Por análise genérica compreende-se não tratar de nenhum local de disposição específico,
mas sim de um local cujas características sejam compatíveis com a de um aterro sanitário e a
de um lixão (vazadouro a céu aberto).
Torna-se importante notar que, ao se ter como unidade de referência das análises
subseqüentes o potencial de geração de energia, há de se fazer a correlação deste com a
quantidade de habitantes que abastecem os locais de disposição para cada potência (de 1
MW a 30 MW) 4. A Tabela 6 abaixo realiza tal correlação, que é apenas indicativa haja visto
os diversos fatores que influenciam a produção de biogás, combustível para a geração de
energia.
4
O conhecimento da correlação entre número de habitantes atendidos e o potencial de geração correspondente é fundamental
para fins de planejamento público, tanto nos âmbitos Federal e Estadual como também no Municipal.
Tabela 6 - Correlação indicativa entre quantidade de habitantes atendidos por local de
disposição e a potência energética correspondente
A análise da viabilidade do presente bloco foi segregada entre os vazadouros a céu aberto
(lixões) e os aterros sanitários haja vista que os primeiros não detêm sistemas de drenagem,
captação, bombeamento e queima de biogás. Assim sendo, tornam-se mais custosos na
implementação de sistemas de geração de energia elétrica. Já os aterros sanitários detêm,
desde sua concepção, sistemas de drenagem e coberturas superficiais que facilitam a
recuperação do biogás.
A curva encontrada ao longo dos diferentes potenciais de geração de energia elétrica detém
quatro características importantes:
A diferença entre estes é evidenciada no Gráfico 4 abaixo pelas distâncias entre as curvas. A
curva azul, que traz a simulação padrão, indica que são poucos os lixões que trazem valor
presente positivo (9 MW, 13 MW, 14 MW e 19 MW), evidenciando que os investimentos em
usinas com os demais potenciais não se configuram como bons investimentos sob a ótica do
capital privado. Mesmo os valores positivos são muito próximos do zero, requerendo cautela
ante a classificação como bons investimentos6.
5
Como ilustração simplificada, tem-se uma van que transporta crianças à escola e tem capacidade para 8 delas: da primeira à
oitava criança, o custo da van por criança é decrescente. A partir do momento que uma nona criança precisa ser transportada há
necessidade de se adquirir uma nova van, o que eleva o custo médio por criança transportada.
6
As classificações de investimentos como bons ou ruins estão sendo realizadas estritamente sob a luz da análise financeira, não
contemplando as externalidades positivas que seriam geradas pelas melhorias necessárias nos lixões e também não
contemplando as emissões evitadas de gases de efeito estufa. Externalidades são oriundas de atitudes tomadas pelo gerador
que afetam a terceiros sem a necessária intencionalidade. Podem ser positivas quando geram benefícios aos terceiros ou
negativas quando a estes geram custos. Para a economia dos recursos naturais, a externalidade está vinculada a diferença
entre os custos sociais e os custos privados, a exemplo de uma fábrica que lança seus efluentes num curso d'água: enquanto os
custos da empresa não se alteram pela disposição indevida, os custos para a sociedade existem e se materializam por meio de
Uma vez que os projetos de geração de energia contemplam toda a estrutura necessária
para a obtenção de créditos de carbono, torna-se condição lógica fazê-lo, pois as receitas
oriundas de sua comercialização são extremamente significativas. Isso é evidenciado pela
distância entre as curvas vermelha e azul. Os créditos de carbono representam, assim, uma
indispensável fonte de recursos para os lixões que geram energia elétrica por meio do
biogás. Projetos de geração de energia elétrica, portanto, deverão estar sempre
acompanhados de projetos de geração de créditos de carbono.
Já a comparação entre as curvas azul e verde revela, de maneira contra intuitiva, que a
possibilidade de se investir apenas na geração de créditos de carbono por conta da captura e
queima do biogás é a forma mais viável de aproveitamento do biogás para os lixões7.
Gráfico 4 - Valor presente líquido em milhões de reais para vazadouros a céu aberto (lixões)
Enquanto novos lixões não serão mais permitidos por conta da Política Nacional dos
Resíduos Sólidos (PNRS) 8, o País continua a contar com um contingente de mais de 2 mil
água imprópria para o consumo para aqueles à jusante. Tal empresa deveria, nesse caso, internalizar o malefício ambiental e
social causado por meio da adoção de filtragem de seus efluentes, equiparando assim o custo (privado) ao social. São inúmeras
as razões que fazem com que custos sociais sejam maiores do que custos individuais: i) inexistência de um mercado; ii)
competição imperfeita; iii) existência de bens públicos; iv) inexistência ou má alocação de direitos de propriedade; v) informação
incompleta; e vi) altos custos de transação.
7
Duas observações, entretanto, se fazem necessárias: a primeira delas é o fato de o risco dos projetos de crédito de carbono,
embora existentes e significativos, apresentarem-se como uma fração daquele assumido quando da operação de uma usina
termelétrica. A segunda é que a modelagem adotou receitas constantes da ordem de 10 euros por tonelada de carbono
equivalente para os créditos de carbono. Enquanto é esperado que o valor dos créditos de carbono aumentem devido ao arrocho
percebido pelas mudanças climáticas, a configuração do Protocolo de Quioto a partir de 2012, sob o qual modelou-se a
comercialização dos créditos de carbono, é incerta.
municípios cujo destino do lixo é ambiental e socialmente inadequado. Visto que a vida útil
média dos locais de disposição é superior a duas décadas, a substituição dos atuais lixões
por aterros sanitários se dará de forma apenas gradual. Tal horizonte de tempo não deveria
furtar, portanto, a realização de investimentos em melhorias ambientais nos lixões atualmente
em operação.
Lixões raramente conseguem ser transformados em aterros sanitários, haja vista que para
além de largas somas financeiras, há também certas barreiras técnicas por vezes
intransponíveis9. Todavia, melhorias ambientais e sociais significativas poderão ser
realizadas em lixões de forma a:
Inevitavelmente, a realização de tais melhorias demanda investimentos por parte dos titulares
dos serviços de disposição - definidos como os municípios pela Lei Nacional de Saneamento
Básico10. Tais investimentos, entretanto, acabam por concorrer com outras prioridades para
os recursos municipais, tais como investimentos em saúde, educação, transporte público e
segurança.
Não obstante o contexto exposto, as simulações realizadas pelo presente estudo apontam
para a viabilidade econômica positiva que projetos de geração de créditos comercializáveis
de carbono para lixões detêm. Os investimentos necessários para a recuperação e queima
do biogás para gerarem os créditos de carbono motivam, por sua vez, a execução de
diversas das melhorias ambientais e sociais supracitadas. A exploração do biogás poderá
assim financiar a execução das importantes melhorias ambientais correlatas.
Adicionalmente, a operação de lixões gera, ao longo de sua vida útil, significativos passivos
ambientais relacionados a solos contaminados, cursos d'água comprometidos e saúde
pública deteriorada. Investimentos em sua melhoria, conseqüentemente, amenizariam
8
A PNRS foi aprovada em 02/08/2010, após mais de 20 anos em trâmite no Congresso Nacional, e objetiva regulamentar a
destinação final dos resíduos sólidos produzidos, inclusive os urbanos. Agindo como um marco regulatório, reúnem princípios,
objetivos, instrumentos e diretrizes sob os quais a integração entre os agentes públicos envolvidos, principalmente os
municípios, deverão seguir. Adicionalmente, a PNRS adota medidas restritivas como a proibição: da coleta de materiais
recicláveis em lixões ou aterros; do lançamento de resíduos em praias, rios e lagos; e das queimadas de lixo a céu aberto. Por
fim, a PNRS delineia o caminho para a reciclagem, reutilização e uso mais consciente dos materiais ao responsabilizar: i) as
empresas geradoras pela logística reversa de seus produtos; e ii) a própria sociedade civil pela geração do lixo.
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Uma das maiores dificuldades técnicas da conversão de lixões em aterros é a dificuldade em se realizar a impermeabilização
inferior necessária à prevenção da poluição das águas (superficiais e subterrâneas) e do solo após o depósito inicial de resíduos.
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Conforme exemplificado pela Pesquisa Nacional de Saneamento Básico 2008 (IBGE, 2010), os custos com a coleta,
tratamento e disposição de resíduos pode representar até uma quinta parte (20%) do orçamento municipal.
dispêndios futuros com a administração de tais passivos ambientais - muitas vezes
irremediáveis.
Uma vez que os investimentos nas melhorias ambientais dos lixões são financiados pelos
projetos de crédito de carbono, os custos evitados pelos municípios com os lixões podem ser
canalizados para outros fins, inclusive os de incentivo à criação de cooperativas de triagem e
reciclagem de resíduos, recuperação ambiental de áreas degradadas e etc.11
11
Pode-se compreender o valor das receitas oriundas da comercialização dos créditos de carbono como o equivalente ao
pagamento pelos serviços ambientais prestados por um manguezal para filtrar água, criar barreiras contra enchentes e abrigar
peixes e crustáceos com valor de uso para o homem. Assim, o pagamento pelo serviço de se tratar o biogás e não deixar com
que sua emissão prejudique o clima global internaliza esta externalidade negativa. Ademais, gera externalidades positivas com o,
entre outros, a drenagem de parte do chorume, a cobertura superficial que evita a produção de mais chorume, a emissão de
odores evitados pela queima do biogás.
O custo para instalação do megawatt incorrido pelos aterros sanitários, como de se esperar, é
menor do que o incorrido pelos vazadouros a céu aberto (lixões), apresentando uma média
de R$ 293 contra R$ 370. Observa-se no Gráfico 5 acima comportamentos equivalentes aos
da viabilidade dos lixões, porém com a curva oscilando em patamares mais reduzidos.
A comparação entre a curva azul e vermelha (projeto de geração de energia elétrica sem os
créditos de carbono) evidencia o efeito dos créditos de carbono: sem os quais nenhum aterro,
independente de sua potência, consegue se tornar viável economicamente. Os créditos de
carbono tornam-se, como no caso dos vazadouros a céu aberto (lixões), o fiel da balança.
Gráfico 6 - Valor presente líquido para aterros sanitários com geração de energia elétrica e
crédito de carbono e apenas geração de energia elétrica (milhões de reais)
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Diferentemente da modelagem para os lixões, não foi simulada a viabilidade de projetos em aterros sanitários que contemplam
apenas a geração de créditos de carbono. Isso ocorre uma vez que a infraestrutura dos aterros sanitários já contempla, pela
NBR 8419.2984, a recuperação e tratam ento do biogás.
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Mesmo no caso de substituição de energia equivalente proveniente de fontes hídricas, tecnicamente renováveis, deixou -se de
alagar áreas, desviar rios e reassentar moradores involuntariamente.
Muito embora não se deva jamais incentivar a geração e disposição de resíduos orgânicos
como forma de se obter combustível para a geração de energia elétrica, tal matéria prima
tende a se tornar ainda mais abundante no curto e médio prazo. São diversos os fatores que
corroboram para a instalação de usinas de geração de energia elétrica pelo biogás, a saber:
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Estes programas segregam, em sua maioria, papel e/ou papelão, plástico, vidro e metal (materiais ferrosos e não ferrosos).
Embora ainda haja um longo caminho para que a totalidade dos mais de 5 mil municípios brasileiros detenham programas de
coleta seletiva, o aumento no número de municípios que os adotaram de duas décadas atrás para hoje é muito exp ressivo: de
58 para quase mil (dados da Pesquisa Nacional de Saneamento Básico 2008 do IBGE, publicada em 2010).
otimizações logísticas e/ou de custos de importação que melhorarão a viabilidade de novos
entrantes.
Por fim, torna-se importante frisar que o potencial de geração de energia elétrica por conta do
biogás não é produzido em volumes suficientes para atender a demanda de energia elétrica
do país - motivo pelo qual é fonte alternativa para suprir parte desta de forma sustentável por
ser de fonte renovável e oriunda, literalmente, do lixo.
Dificuldades de modelagem
Existem alguns valores de referência quanto ao uso do biogás como combustível que, por
mais que tenham sido previamente pesquisados e estimados de forma conservadora, podem
apresentar variações ao longo dos anos, bem como variações oriundas de es pecificidades
locais. São estes:
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Avaliações superficiais e com pouco embasamento técnico podem acarretar em sub ou superdimensionamento dos
equipamentos, principalmente dos motogeradores. Isto pode acarretar problemas respectivos de baixo aproveitamento ou
ociosidade das máquinas. Em ambas as situações os investimentos realizados são impactados consideravelmente.
autorizações ambientais para instalação da usina e, em especial, da linha de transmissão
também são de difícil mensuração, pois dependem de situações particulares.
Custos imprevistos
Assim como em qualquer outro investimento em geração de energia elétrica, há diversos
riscos inerentes ao processo que dificilmente podem ser modelados, como a eventual
necessidade de compra de energia de back-up ou ainda uma parada mais delongada para
manutenção ou troca de peças dos motogeradores. Para tais imprevistos o empreendimento
deverá apresentar rentabilidade suficiente para que se provisionem tais recursos.
Outros imprevistos que podem ocorrer advém da interface da usina termelétrica à biogás
com: i) órgão ambiental estadual; ii) concessionário local de energia elétrica; e iii) Agência
Nacional de Energia Elétrica 16.
▪ Órgão ambiental estadual: gastos imprevistos podem ocorrer quando do: a) licenciamento
das instalações da usina geradora e principalmente das linhas de transmissão por meio
de custos com supressão de vegetação ou mesmo com a execução de programas
básicos ambientais; e b) consideração da emissão de NO x como poluentes17.
▪ Concessionário local de energia elétrica: há necessidade de consenso com as condições
operativas determinadas pelo concessionário local de energia elétrica que, por falta de
regularização homogênea, poderá provocar gastos significantes quando da conexão à
rede.
▪ Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel): produtores independentes de energia
elétrica, não obstante o combustível utilizado ou o porte do empreendimento devem ser
registrados junto à agência federal que regulamenta o setor, cujo arcabouço legal poderá
se traduzir em imprevistos de custo e prazo.
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Os imprevistos que advém das interações com outros domínios da política pública podem ser mitigados ou até totalmente
evitados mediante programas holísticos de incentivo à produção de energia e créditos comercializáveis de carbono pelos locais
de disposição de resíduos, utilizando-se assim o combustível renovável de forma economicamente viável. As conclusões
apresentam discussão mais aprofundada.
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O NO e o NO2, por tratarem-se de óxidos que reagem na atmosfera e estarem relacionados à efeitos ambientais negativos
como a chuva ácida e a eutrofização de cursos d'água e danos à saúde humana, estes gases detém legislações específicas
quanto ao controle de suas fontes emissoras. Se considerados como poluentes, os aterros que produzem energia elétrica
estarão sujeitos à multas e taxações que podem vir a inviabilizar suas atividades, muito embora estejam evitando em
concomitância a emissão de emissão de metano, também poluente e causador do efeito estufa.
melhorias ambientais para o caso dos lixões, cuja execução de obras para a captação e
queima do biogás para geração de créditos de carbono incita melhorias.
Por fim, comparam-se todas as intervenções modeladas com o cenário base, isso é,
nenhuma intervenção. Em todas as simulações foram mantidos todos os outros parâmetros
da modelagem constantes, salvo a intervenção simulada.
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De forma alguma se pretende esgotar as possibilidades destas com as seis intervenções ora modeladas. A gama de
simulações intenta abranger diferentes âmbitos de intervenção pública de forma ilustrativa. Justamente por isso não é realizada
descrição detalhada dos resultados das modelagens, mas sim apresentam-se os resultados de valor presente líquido e índice de
rentabilidade por meio de gráficos.
Como parâmetro de modelagem da intervenção, reduziu-se a taxa de financiamento de
10,75% ao ano (equivalente à taxa básica atual de juros da economia, a taxa Selic), para a
taxa de 6,5% ao ano.
Eis que uma das formas de se intervir a favor do uso do biogás como combustível é conceder
a exploração do local de disposição e financiar os investimentos necessários por prazo mais
longo. Simulou-se, portanto, uma mudança de prazo de 10 para 15 anos (2010 a 2025).
Como em todas as simulações, os demais parâmetros da modelagem não se alteraram.
Isenção fiscal
A terceira simulação de possíveis intervenções públicas diz respeito a uma eventual política
de âmbito federal: isenção fiscal. O incentivo às energias limpas via redução direta de
impostos é a mais praticada pelos países em desenvolvimento.
Como forma de se investigar qual seria o efeito de uma tarifa-prêmio (ou subsidiada) na
viabilidade econômica, adotou-se a premissa de que seriam garantidos para os produtores de
energia elétrica por meio do biogás preços 10% superiores aos praticados no mercado19.
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As tarifas de energia elétrica utilizadas na modelagem padrão (ou cenário base) foram de R$ 145,00 por MWh no Mercado
Regulado (ACR) e de R$ 230,00 por MWh no Mercado Livre (ACL). Ademais, a modelagem considerou a venda de 50% da
energia elétrica para cada uma das duas categorias de preço (ACR e ACL). Assim sendo, a tarifa ACR subsidiada foi de R$
159,50 e a ACL de R$ 242,00, novamente mantendo-se todos os outros parâmetros e premissas constantes.
Gráfico 14 - Resultados de viabilidade para simulação de taxa de energia elétrica subsidiada -
aterros sanitários
Como premissa vislumbrou-se uma elevação no preço da tonelada de carbono dos 10 euros
modelados como cenário base para 15 euros. Esse patamar de preços justifica-se por ter sido
o negociado no mercado europeu de 2008 ao início de 2010. Note-se que todos os demais
parâmetros e premissas da modelagem permanecem constantes, inclusive no tangente à
comercialização paralela de energia elétrica.
Como as regras dessa partilha (ou royalties) são de inteira responsabilidade dos municípios,
optou-se por não considerar tal partilha na modelagem padrão realizada. Como forma de se
investigar a interferência que tal partilha teria na viabilidade econômica, adotou-se como
premissa para a simulação um percentual de 50% de partilha para o município sobre a receita
oriunda da comercialização dos créditos de carbono.
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O Mecanismo de Desenvolvimento Limpo (MDL), considerado pela modelagem para fins de comercialização dos créditos de
carbono, abriga-se sob o Protocolo de Quioto. Exemplo de transação de créditos de carbono exógenas ao Protocolo de Quioto é
realizado pela prefeitura da cidade de São Paulo, por meio da Secretaria Municipal de Meio Ambiente (SVMA). Esta recebe
créditos de carbono oriundos da concessão para exploração do biogás do Aterro Sanitário Bandeirantes, os acumula em
quantidades substantivas e lança uma concorrência para oferta de sua cota através de leilões monitorados pela Bolsa de
Mercadorias e Futuros / Bolsa de Valores de São Paulo.
Justifica-se tal simulação como forma de mensurar o efeito que os poderes municipais detêm
de incentivar a exploração do biogás em seus locais de disposição por conta da prerrogativa
de como e quanto cobrarem como partilha.
A título de exemplo, vislumbra-se mecanismo de incentivo para uso do biogás por parte do
município que crie um escalonamento de percentuais da partilha acima de um patamar
mínimo de viabilidade, onde quanto melhor fossem os resultados, maior seria o percentual de
partilha. De forma oposta, caso o projeto não estivesse atingindo patamares mínimos, o
percentual de partilha seria nulo. Dessa forma, o capital privado teria maior segurança em
realizar o investimento inicial demandado.
Existe uma miríade de mecanismos de políticas públicas em uso ao longo dos mais diversos
países para incentivar o desenvolvimento de energias renováveis. Pode-se resumi-las nas
categorias abaixo:
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As políticas de incentivo, adotadas com bastante ênfase pelos países da União Européia, vem surtindo efeito gradual, porém
notável. Segundo o relatório do Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente (PNUMA) intitulado Global Trends in Green
Energy 2009, de toda a energia elétrica adicionada em 2009 na União Européia, 60% é advinda de fontes renováveis. Nos
Estados Unidos, metade das fontes energéticas instaladas no mesmo ano é oriunda de fontes renováveis. Estima-se que os
investimentos em energias como a de biomassa, bicombustíveis, hídrica, solar e eólica totalizaram 162 bilhões de dólares em
2009. A capacidade de geração de energia elétrica proveniente de fontes outras que não a nuclear, gás natural e carvão mineral,
representou, em 2009 uma potência de 80 GW em todo o mundo. Desse montante, 31 GW correspondeu à grandes hidrelétricas
e o restante se obteve de demais fontes limpas, novamente segundo o Global Trends in Green Energy 2009.
O uso da biomassa oriunda de processos agrícolas, florestais e resíduos municipais (biogás)
gera mundialmente estimados 54 GW de acordo com o Renewables 2010: Global Status
Report. O Gráfico 19 abaixo relaciona a participação dos maiores players mundiais desse
setor, onde os maiores destaques pertencem aos Estados Unidos e à União Européia.
Fontes de Financiamento
Após a prospecção do potencial de geração de energia elétrica a partir dos aterros sanitários,
vazadouros a céu aberto (lixões) e do esgotamento sanitário utilizando como combustível o
biogás, cabe elencar as linhas de financiamento disponíveis no mercado - por meio de fundos
de investimento, programas de incentivos e outros - para incrementar o uso do biogás como
fonte de energia elétrica sustentável.
IX. Conclusões
O Relatório publicado em 2007 pelo Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas
(IPCC) aponta a geração de energia elétrica como sendo a principal atividade humana que
contribui para as emissões globais de gases de efeito estufa, representando 26% do total 23.
Ademais, há a premente e crescente demanda por energia elétrica, especialmente em países
como o Brasil, ainda em fase de desenvolvimento e enriquecimento.
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O levantamento de fontes de financiamento não pretende esgotar a listagem das inúmeras linhas cabíveis, mas sim ilustrá-las.
23
As demais fontes, em ordem decrescente, são as emissões da indústria (19,4%), as oriundas das perdas e queimadas de
florestas (17,4%), as geradas pela agricultura (13,5%) e finalmente pelos transportes (13,1%).
O atendimento dessa demanda por meio do biogás, subproduto da atividade humana, torna -
se, nesse contexto, importante para o aprimoramento da matriz energética nacional com
recurso renovável. Mesmo tendo uma matriz energética limpa, a utilização do combustível
que brota, literalmente, do lixo deve ser incentivada 24. Adicionalmente, uma vez que os
aterros e lixões com potencial encontram-se locados e operando, há possibilidade de se obter
representativa capacidade instalada em prazos relativamente curtos quando comparados à
outras fontes.
Como forma de tornar tangível o potencial energético apresentado pelo biogás e tomando-se
como base que o consumo médio de energia elétrica para fins residenciais no Brasil gira em
torno de 150 kWh por mês por pessoa, os 56 locais pesquisados gerariam energia elétrica
suficiente para abastecer quase um milhão de habitantes (Empresa de Pesquisa Energética,
2007). Adicionalmente, têm-se investimentos reduzidos em linhas de transmissão uma vez
que os locais de disposição de resíduos encontram-se em sua maior parte próximos aos seus
centros geradores - que por sua vez demandam a energia elétrica de uso residencial.
Importante frisar que a geração de energia elétrica por meio do biogás não alcançará volume
suficiente para substituir outras fontes de energia elétrica como a hídrica. Ademais, sua
exploração é fundamentalmente uma medida paliativa a ser aplicada no curto e médio prazo.
Tal medida paliativa deverá ser, no longo prazo, substituída por outras fontes de energia
elétrica renovável.
A adoção das premissas delineadas na Política Nacional de Resíduos Sólidos, tais como a
operacionalização de sistemas de logística reversa, recuperação de materiais, reciclagem e
principalmente a intensificação da prática da compostagem, reduzirão a quantidade de
resíduos cujo destino final será os aterros sanitários 25. Em concomitância, reduz-se a
produção do combustível biogás.
24
A matriz energética brasileira é em sua maioria baseada nas fontes hídricas. Estas causam significativos impactos ao meio
ambiente através da modificação da vazão e característica dos rios, alagamento de áreas (muitas delas com florestas nativas),
bloqueio de corredores de biodiversidade, entre outros impactos geológicos e afins, sem nem entrar na seara dos diversos
impactos sociais causados pelos reassentamentos involuntários, alagamento de cemitérios, igrejas e outros. Os aproveitamentos
hídricos estão incorrendo cada vez mais em custos ambientas e sociais indiretos que concedem um limite próximo à sua
exploração.
25
A prática da compostagem para resíduos orgânicos de origem urbana por meio de decomposição aeróbia em menores escalas
ou por meio de decomposição anaeróbia em biodigestores de m aior escala resultam ainda na criação de húmus. A utilização
desse adubo natural apresenta ainda uma alternativa ao uso de adubos e fertilizantes químicos que causam inúmeros prejuízos
ao meio ambiente (externalidades como a contaminação de cursos d'água e etc.).
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Torna-se ilustrativo lembrar que em 2001 o Brasil passou muito próximo da racionalização forçada de energia elétrica por
conta de um período mais severo de estiagem - provocando o "apagão". Salvo em algumas regiões do país, o racionamento
forçado foi, em grande parte, evitado devido ao uso mais racional da energia, motivado por campanhas para evitar o desperdício.
A produção de energia elétrica em larga escala demanda planejamento de longo prazo e
geralmente incorre em elevados investimentos financeiros. A Tabela 7 abaixo traz um
comparativo entre as tipologias de geração de energia elétrica renovável.
Tipologia Energética R$ / MW
Ao deter posição de fiel da balança, os créditos de carbono devem ser analisados com o
devido cuidado devido às incertezas quanto à forma de continuação do Protocolo de Quioto,
sob o qual abriga-se o principal mecanismo mundial de transação dos créditos de carbono, o
Mecanismo de Desenvolvimento Limpo (MDL).
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Investimentos em saneamento básico, do qual a disposição de resíduos é parte int egrante, tendem a internalizar ao menos
algumas das externalidades ambientais e sociais, gerando ganhos líquidos para a sociedade. Evidência disso está em uma
Sob a ótica equivalente, a implantação de sistemas de geração e transmissão de energia
elétrica em aterros sanitários é recomendada dada sua viabilidade econômica atrativa e
relativa facilidade de adição de expressivos megawatts de potência próximos aos locais de
alto consumo.