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Saneamento Ambiental – 2017

Engenharia Civil – Unifor/MG


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FILTRAÇÃO

No tratamento de água, a filtração constitui-se no processo que tem como função


primordial a remoção das partículas responsáveis pela cor e turbidez, cuja presença reduziria a
eficácia da desinfecção na inativação dos microorganismos patogênicos. Apesar desta
evidência, a filtração e outras etapas do tratamento tornam-se prescindíveis quando a
qualidade da água bruta, oriunda sobretudo de mananciais subterrâneos, permite efetuar
apenas a desinfecção. Nas estações de tratamento convencionais cabe à filtração
provavelmente a função mais relevante, por se constituir na etapa na qual as falhas porventura
ocorridas nas etapas anteriores, podem ser corrigidas, assegurando a qualidade da água
tratada.
Sua referida relevância está consolidada pelas portarias e resoluções que estabelecem,
embora com distintos requisitos de qualidade, a necessidade desta etapa na distribuição da
água captada em mananciais superficiais.
O referenciado emprego de filtros no tratamento das águas de consumo humano,
norteou-se pela perspectiva de remoção das partículas de maior dimensão, quando
comparadas aos interstícios do meio filtrante, que podem variar de 0,1 a 0,2 mm, para grãos
de 0,5 mm, até 0,3 a 0,6 mm para grãos de 1,2 mm. Embora vinculadas ao êxito da
coagulação e floculação, pode-se admitir que as dimensões dos flocos variem de 0,5 a 2 mm
(Figura 1). Desta forma, a coagem ou ação de coar, constitui-se no primeiro e mais evidente
mecanismo de transporte responsável pela retenção de partículas.

Figura 1 - Interstício típico entre grãos de meio filtrante

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Meio filtrante

Na quase totalidade dos filtros empregados no tratamento de água, o meio filtrante


assenta-se sobre camada de cascalho, pedregulho ou seixos rolados, denominada camada
suporte. O meio filtrante e a taxa de filtração guardam entre si relação intrínseca. Com base na
taxa de filtração a ser utilizada, o que definirá os filtros como rápidos ou lentos, estabelece-se
o tipo de meio filtrante, como poder-se afirmar também o inverso.
Definido o meio filtrante, estabelecem-se as taxas de filtração passíveis de serem
aplicadas. Pela conjunção de ambos, define-se o nível inicial de operação, pela perda de carga
inicial, estima-se o nível d’água para lavagem e consequentemente a altura do filtro.
No Brasil utiliza-se quase que exclusivamente meios filtrantes constituídos apenas por
areia, denominados filtros de areia ou de camada simples, ou areia e antracito nos filtros de
camada dupla.
Além da espessura, os meios filtrantes caracterizam-se por uma conjunção de fatores:
• tamanho e distribuição dos grãos;
• esfericidade
• porosidade
• densidade
• dureza

Provavelmente a característica proeminente dos meios filtrantes relaciona-se ao


tamanho e distribuição dos grãos, que é o que mais influencia a ação de coar e, por isso, há de
interferir na duração das carreiras de filtração, pois é significativa a relevância dos grãos no
desempenho dos filtros, quer em termos de qualidade do efluente quer na duração das
carreiras de filtração.
Com base nas características relacionadas na Tabela 1, nota-se o motivo pelo qual é
grande o emprego de filtros de camada dupla (areia e antracito), pois o antracito possui menor
densidade que a areia, por isso mantem-se acima da camada de areia por ocasião das lavagens
em escoamento ascendente, além de a maior porosidade permitir penetração mais significativa
das partículas através do meio filtrante, prolongando a duração das carreiras e tendo
significativa elevação das taxas de filtração.

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Tabela 1 - Principais características do meio filtrante

Uma classificação dos filtros, baseada na taxa de filtração e no sentido do escoamento,


encontra-se abaixo (Figura 2). Tal classificação balizou-se nas características predominantes
do seu funcionamento.

Figura 2 - Classificação da filtração no tratamento das águas de abastecimento

Pré filtros

Surgiram como forma de pré tratamento objetivando minimizar o aporte de sólidos,


mais usualmente, às unidades de filtração lenta, classificando-se em função do sentido do
escoamento, vertical ou horizontal. Esta característica de minimizar a afluência de sólidos
assume maior relevância para países tropicais cujo regime de chuvas resulta em alterações
mais significativas nas características da água bruta.

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Aliada à qualidade da água bruta, a magnitude da vazão do manancial constituía-se em
importante restrição ao emprego mais extensivo desta tecnologia, destinando-a
predominantemente a pequenas comunidades, a purificar águas de baixas cor e turbidez,
posteriormente submetidas à desinfecção. Atualmente, mantendo as características originais,
os filtros dinâmicos prestam-se ao pré-tratamento, isoladamente ou em conjunto com outras
unidades, como integrantes de sistemas de filtração em múltiplas etapas de águas passíveis de
afluir posteriormente a unidades de filtração lenta. Nesse contexto passaram a contar apenas
com meios de pedregulhos e para seu emprego, em função da qualidade da água bruta e da
frequência de variação da concentração de sólidos, dois objetivos principais descortinam-se:

1. como a primeira etapa da potabilização para melhorar a qualidade da água bruta;


2. como unidade com função principal para redução dos picos de afluência de sólidos,
algas, cor e coliformes.

As características do meio de pedregulho e as taxas de filtração são definidas com base


no principal objetivo da unidade de pré-tratamento. Meios filtrantes de menor espessura
associados a taxas mais elevadas fornecem à unidade de filtração dinâmica a capacidade de
reduzir os picos de afluxo de sólidos característicos dos períodos chuvosos. Em contrapartida,
pré-filtros dotados de meios mais espessos e aos quais afluem menores vazões prestam-se à
melhoria da qualidade do afluente às unidades de filtração lenta. Na Tabela 2 são
apresentados alguns parâmetros de projeto para os filtros dinâmicos de acordo com o objetivo
principal ao qual estas unidades se prestam.

Tabela 2 - Parâmetros de projeto para unidades de filtração dinâmica

Os pré-filtros de escoamento horizontal constituem-se em canais de seção retangular


ou trapezoidal preenchidos por meio de pedregulho de altura de 1,0 a 1,5 m, de comprimento
variável em função das dimensões do meio filtrante. São usualmente utilizadas três camadas

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de pedregulho de granulometria decrescente no sentido do escoamento, e a lavagem ocorre
por meio de descarga de fundo. Na Figura 3 é apresentado pré-filtro de escoamento horizontal
comumente instalados juntos à captação.

Figura 3 - Vista perspectiva de um pré-filtro de escoamento horizontal típico

Embora poucas distinções hajam em relação à diferença de performance,


essencialmente no que tange à redução da turbidez e microorganismos, algumas estações
empregam os pré filtros de escoamento descendente ou ascendente (Figura 4).

Figura 4 – pré-filtro de escoamento ascendente de câmara única

Filtros lentos

Empregados na purificação de águas de baixa cor verdadeira, turbidez e concentração


de algas, quase sempre como única etapa da potabilização, operando com taxas de 1 a 7,5
m3/m2.dia, por vezes precedidos por unidades de pré-filtração.

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A operação de limpeza efetua-se pela raspagem periódica desta película concorrendo
para gasto inferior a 0,2 a 0,6 % do volume filtrado, necessário apenas ao enchimento do filtro
antes do retorno à operação e da lavagem da areia retirada durante a limpeza, também
favorecido por carreiras de filtração de 45 a 180 dias resultado do pequeno aporte de sólidos à
unidade. Esse aporte pequeno de sólidos resulta na conjunção entre a baixa turbidez da água
bruta e taxas de filtração de pequena magnitude. A areia retirada durante a lavagem é
armazenada para posterior retorno à unidade filtrante.
Os custos de operação são também depreciados pela significativa maior vida útil do
meio filtrante que, por não serem lavados por meio de velocidade ascensional que promova o
choque entre os grãos, suas características são mantidas originais por longos tempos.
Além da qualidade do efluente, as unidades de filtração lenta apresentam diversas
vantagens quando comparadas às demais tecnologias. O fato de prescindir da coagulação
química e equipamentos eletromecânicos, torna a operação muito mais simples quando
comparada à demais tecnologias. Somam-se a esta constatação as baixas taxas de filtração que
ocasionam a lenta evolução da perda de carga, tornando o monitoramento do efluente mais
simples. Como consequência da ausência da coagulação, não há geração de lodo.
Pela inexistência da lavagem ascensional como nos filtros rápidos, as unidades de
filtração lenta apresentam meio filtrante de granulometria mais fina, assentado sobre camada-
suporte de cascalho ou seixos rolados usualmente de 30 a 50 cm. O meio filtrante e a camada-
suporte são comumente dispostos sobre tubos perfurados. Na Tabela 3 apresentam-se os
principais parâmetros de projeto para uma unidade de filtração lenta relacionados ás
características do meio filtrante.

Tabela 3 – Parâmetros de projeto para unidades de filtração lenta

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Nota-se que há consenso, como para outros fatores, no intervalo de variação
recomendado para a taxa de filtração, que é inferior a 6 m3/m2.dia, quando os filtros lentos
funcionam como única etapa de tratamento, precedidos ou não de pré-filtros. Contudo,
dependendo das características da água bruta, taxas mais elevadas podem ser empregadas sem
comprometer a qualidade do efluente. Na Figura 5 apresenta-se o desenho típico de uma
unidade de filtração lenta de escoamento descendente.

Figura 5 - Filtro lento de escoamento descendente

Diversos fatores intervêm no desempenho das unidades de filtração lenta. Dentre os


mais relevantes podem ser citadas as características da água bruta e do meio filtrante
(tamanho dos grãos), a existência das unidades de pré-tratamento, a taxa de filtração e alguns
parâmetros relacionados à operação.
As principais limitações ao emprego da filtração lenta referem-se essencialmente ás
características da água bruta e, para os sistemas de maior porte, à maior necessidade de área.

Filtros Rápidos

Os filtros rápidos de gravidade e escoamento descendente constituem no tipo de


unidade filtrante mais largamente utilizado no Planeta. A Figura 6 apresenta o desenho típico
de um filtro de camada simples.

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Figura 6 – Filtro rápido de escoamento descendente de camada simples

Os principais parâmetros de projeto destas unidades estão arrolados na Tabela 4, de


acordo com a norma nacional e associações internacionais.

Tabela 4 – Parâmetros de projeto para filtro de escoamento descendente de camada simples

Nota-se que as características do meio filtrante não diferem muito entre si, havendo
maior distinção na espessura do meio filtrante. Nos filtros de escoamento descendente a
pressão em qualquer ponto do meio filtrante será a altura d’água até a superfície livre
subtraída da perda de carga
Já com relação aos filtros de camadas múltiplas, visando elevar as taxas de filtração,
sem abreviar as carreiras, filtros de camada dupla (areia e antracito) têm sido extensivamente
empregados. Constituem-se na alternativa mais extensivamente empregada, justamente por
propiciar significativa redução da área filtrante. Os principais parâmetros de projeto destas
unidades estão apresentados na Tabela 5, de acordo com as normas nacionais e internacionais.

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Tabela 5 – Parâmetros de projeto para filtros de escoamento descendente de camada simples

Já os filtros de escoamento ascendente sempre apresentam o meio filtrante constituído


apenas por areia, assentado sobre camada-suporte de seixos rolados ou pedregulho de 0,40 m
e operam com taxas entre 120 e 180 m3/m2.dia. Na Figura 7 apresenta-se um desenho
esquemático de um filtro de escoamento descendente.

Figura 7 - Filtro de escoamento ascendente

Vale ressaltar que, como quaisquer unidades, as taxas de filtração aplicáveis aos filtros
de escoamento estão condicionadas às características da água bruta.

Sistema de drenagem

Os sistemas de drenagem prestam-se a acomodar a camada-suporte e o meio filtrante.


Para os filtros rápidos, soma-se a função de distribuir o mais uniformemente possível a água

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de lavagem, e para os descendentes, também realizar a coleta do efluente. Associados ao
método de lavagem e às características da camada-suporte, os sistemas de drenagem
utilizados no Brasil abrangem os tubos e vigas perfuradas, fundo falso com bocais e blocos
cerâmicos ou de plástico (Figura 8).

Figura 8 – Bloco de plástico integrante de sistema de drenagem de filtros

Os tubos perfurados predominam nas unidades de filtração lenta e nas estações de


menor porte, pelo menor custo e simplicidade de construção. Constituem-se tubos de PVC
perfurados, com os orifícios voltados para baixo, conectados a uma tubulação principal
construída em concreto de seção quadrada.

Camada suporte

A principal função da camada suporte consiste em evitar que os grãos do meio filtrante
passem através dos orifícios dos dispositivos de coleta de água filtrada e sejam arrastados com
o efluente. A esta função somam-se, para os filtros rápidos, a otimização da adequada
distribuição da água de lavagem e, para as unidades de escoamento ascendente, além desta, a
retenção de partículas. A espessura da camada-suporte relaciona-se ao tipo de meio filtrante e
dispositivo de coleta de água filtrada, apresentando-se usualmente entre 30 e 50 cm.

Calhas de coleta de água de lavagem

Após a determinação do grau de expansão do meio filtrante durante a lavagem, as


calhas devem estar instaladas acima desta cota para que a coleta da água de lavagem dê-se da
forma mais uniforme. A NBR 12216 recomenda que o fundo das calhas de coleta esteja

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próximo ao meio filtrante expandido, para com isso reduzir a altura da estrutura do filtro e o
dispêndio com água de lavagem.
As calhas de coleta apresentam fundo plano, arredondado ou em forma de V e devem
ser dotadas de declividade longitudinal para minimizadas a deposição de partículas (Figura
10).

Figura 10 - Formato de calhas de coleta de águas de lavagem

Na Figura 11 apresentam-se calhas de coleta de água de lavagem do filtro.

Figura 11 – Calhas de coleta de água de lavagem do filtro

Lavagem do meio filtrante

A operação de lavagem nos filtros rápidos, por meio de água tratada, dá-se em fluxo
ascendente na maioria dos casos objetivando a fluidização do meio filtrante. A ressalva

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quanto à maioria refere-se ao emrpego da lavagem auxiliar com ar quando esta não visa à
expansão do meio filtrante, como no caso de filtros de camada simples de maior espessura.
A água para lavagem advém de reservatórios elevados construídos para este fim ou
instalações de bombeamento valendo-se do tanque de contato. A NBR 12216 recomenda que
a velocidade ascensional da água de lavagem deva ser superior a 60 cm/min, para uma
duração mínima de 10 minutos e conferir expansão de 20 a 50 % do meio filtrante.

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