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Saneamento Ambiental – 2017

Engenharia Civil – Unifor/MG


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FLOCULAÇÃO

A floculação é uma das operações unitárias da clarificação que se constitui um


conjunto de fenômenos físicos, nos quais se tenciona em última instância reduzir o número de
partículas suspensas e coloidais presentes na massa líquida. Para tal, fornecem-se condições,
em termos de tempo e agitação, para que ocorram os choques entre as partículas
anteriormente desestabilizadas pela ação do coagulante objetivando a formação dos flocos a
serem posteriormente removidos por sedimentação/flotação. Também no mesmo contexto das
unidades de mistura rápida, a energia dissipada na massa líquida para fomentar a aglutinação
das partículas pode ser de origem mecânica ou hidráulica. A Figura 1 representa
esquematicamente este conceito de progressiva redução do número de partículas presentes na
água bruta (N0) ao longo das sucessivas câmaras da unidade de floculação (N1, N2, N3,...).

Figura 1 – Representação esquemática do papel da floculação no tratamento de água

Para as estações convencionais de tratamento, a aferição do êxito da floculação efetua-


se pelas características da água decantada, cujo monitoramento centra-se na turbidez e, com
menor frequência, na cor aparente.
Sempre que a tecnologia de tratamento envolver o processo de coagulação, a
floculação ocorre mesmo na ausência de uma unidade específica para tal finalidade. Para as
estações convencionais de tratamento, a ineficiência da floculação, intrinsecamente
relacionada ao desempenho da coagulação, aumentará a afluência de partículas às unidades
filtrantes, favorecendo a perspectiva de deterioração da água filtrada e reduzindo o intervalo
entre lavagens podendo tornar o processo de potabilização antieconômico. A avaliação da
eficácia da floculação, além do monitoramento mencionado, pode ser inferida por ocasião das
limpezas das unidades de decantação de escoamento horizontal. O perfil de depósito das

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partículas sedimentadas permite avaliar a sedimentabilidade dos flocos no período entre duas
limpezas consecutivas (Figura 2)

Figura 2 – Perfil do depósito do lodo em decantadores de escoamento horizontal

No desenho esquemático da Figura 2 evidencia-se que as condições de coagulação e


floculação que culminaram no Perfil 1 produziram flocos de melhor sedimentabilidade,
passíveis de se depositarem no início da unidade de decantação. Nas condições representadas
pelo Perfil 2, descortina-se a perspectiva de afluência das partículas aos filtros, quer pelo
menor volume depositado quer pela distribuição mais uniforme ao longo do cumprimento da
unidade de decantação. Na Figura 3 apresenta-se o mencionado perfil longitudinal em escala
real de um decantador de escoamento horizontal implantado em estação de tratamento na qual
as operações de coagulação e floculação são realizadas de forma eficaz.

Figura 3 – Perfil do lodo em decantador de escoamento horizontal de estação de médio porte

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A menção aos mecanismos intervenientes na floculação refere-se à forma como o
transporte das partículas desestabilizadas realiza-se para a formação dos flocos. O mecanismo
de transporte predominante será função das dimensões das partículas desestabilizadas e da
progressiva formação e crescimento dos flocos. O transporte das partículas se dá basicamente
em virtude de três fenômenos:
a) Ao movimento Browniano – floculação pericinética;
b) Às diferenças de velocidade das linhas de corrente do fluido em escoamento –
floculação ortocinética;
c) Às distintas velocidades de sedimentação dos flocos – sedimentação diferencial.

O movimento aleatório das partículas coloidais de dimensão inferior a 1 µm permite


que ocorram os primeiros choques. Pode-se afirmar que, os primeiros contatos entre as
partículas desestabilizadas, iniciam-se já na unidade de mistura rápida, decorrentes do
movimento Browiano e da ação da gravidade. Nesta fase, as partículas colidais
desestabilizadas remanescentes são governadas pelo movimento Browniano.
Já a floculação ortocinética decorre da introdução de energia externa que fomenta a
aglutinação das partículas desestabilizadas e dos microflocos, para a formação de flocos de
maior peso, passíveis de serem removidos por sedimentação ou flotação. Os parâmetros
inerentes à eficiência da floculação são o gradiente de velocidade e o tempo de detenção
hidráulica, quer no processo de agregação das partículas, quer no processo de erosão dos
flocos. Assim, a floculação ortocinética é o único mecanismo no qual o profissional pode
atuar de forma a otimizar a operação.
O terceiro mecanismo de floculação refere-se à sedimentação diferencial, decorrente
da desuniformidade de volume e de densidade dos flocos formados. Assim, os flocos
adquirem distintas velocidades de sedimentação, concorrendo para que no movimento
descendente na unidade de decantação ocorram os choques e a consequente formação de
flocos mais pesados. Tal fenômeno sucede-se com maior intensidade no início da unidade de
decantação, quando a concentração de flocos afluente é mais elevada. Acresce-se ainda o fato
do tempo de detenção nestas unidades ser da ordem de 2 horas, elevando a probabilidade de
novos contatos entre os flocos favorecendo a posterior deposição.

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Na Figura 4 apresenta-se desenho esquemático dos mecanismos de floculação e
respectiva unidade da estação de tratamento na qual os mesmos predominantemente se
sucedem.

Figura 4 –Mecanismos de formação dos flocos em ETA convencional

Agregação e ruptura dos flocos

O conjunto de fenômenos físicos que caracterizam os mecanismos de transporte


intervenientes na floculação abordados anteriormente converge para outros dois mecanismos,
tão essenciais quanto conflitantes à eficiência desta operação: a agregação e a ruptura dos
flocos. Nessa premissa, em função das características da água e das condições de coagulação
e floculação, o crescimento dos flocos efetua-se até um tamanho limite para o qual se
equivalem as tensões de cisalhamento e as forças de aglutinação que mantêm as partículas
desestabilizadas aderidas à estrutura do floco. Com o progressivo aumento das dimensões e da
densidade, aliada à melhor sedimentabilidade, ocorre elevação da área superficial dos flocos
favorecendo o descolamento destas partículas.
Concorre para maximizar os efeitos da ruptura o fato dos flocos rompidos dificilmente
voltarem a se formar para as mesmas condições de floculação, mesmo quando se verifica o
emprego de polímeros orgânicos como coagulantes primários. Nestes casos, após a ruptura do

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floco, há tendência de que os segmentos dos polímeros envolvam completamente a mesma
partícula, reestabilizando-a e evitando a reagregação.
Embora a consistência dos flocos varie com as condições de coagulação e
características da água bruta, pode se afirmar que gradientes de velocidade mais baixos
(inferiores à 30 s-1) somente em circunstâncias atípicas, em termos de tempo de floculação,
haverão de favorecer a ruptura dos flocos.

Fatores intervenientes na floculação

Evidentemente que todos os fatores intervenientes no processo da coagulação podem


ser listados como relevantes na eficiência da floculação. Além da coagulação propriamente
dita, o gradiente de velocidade e o tempo de detenção ou tempo de floculação constituem-se
indubitavelmente nos principais fatores intervenientes na floculação, ainda que para as
unidades mecanizadas as geometrias das câmaras e das paletas possam também ser
secundariamente mencionadas. Tais parâmetros governarão a densidade e o tamanho dos
flocos formados, reduzindo a turbidez e/ou cor aparente da água decantada.
A distinção dos tipos de floculadores fundamenta-se na forma de transferir energia à
massa líquida, hidráulica ou mecânica, para que possam ocorrer o choque entre as partículas
desestabilizadas e a consequente formação dos flocos. Para quaisquer tipos de unidades, a
relevância do gradiente de velocidade e do tempo de detenção como balizadores da floculação
confirma-se pelos parâmetros de projeto recomendados, conforme Tabela 1. Vale ressaltar
que os gradientes de velocidade de 20 a 74 s-1 são corroborizados pela maioria dos
pesquisadores.
Tabela 1 – Parâmetros de projeto de unidades de floculação

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Unidades hidráulicas de floculação são utilizadas em estações de tratamento de


pequeno e médio porte, sendo que comumente construídas em concreto, com números de
câmaras inferior a 12, podendo chegar a 24 com o emprego de divisórias em madeira (Figura
5)

Figura 5 – Floculador hidráulico de escoamento helicoidal

Já as unidades de floculação hidráulicas de escoamento horizontal, constituem-se em


canais dotados de chicanas através das quais ocorrem as alterações da direção do escoamento
que hão de favorecer a formação dos flocos (Figura 6).

Figura 6 – Floculador hidráulico de escoamento horizontal

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Os floculadores hidráulicos de escoamento vertical apresentam-se com chicanas ou
aberturas superiores e inferiores. No primeiro caso ocorre escoamento livre por sobre as
chicanas nas passagens superiores e estas unidades frequentemente são dotadas de até 40
câmaras. No segundo caso, as aberturas instaladas abaixo da linha d’água asseguram-lhes o
escoamento forçado, com o número de câmaras, normalmente inferiores a 10 (Figura 7).

Figura 7 – Floculador hidráulico de escoamento horizontal de passagem forçada

As unidades de floculação mecanizada distinguem-se basicamente pelo eixo, vertical


ou horizontal, por meio do qual as paletas, turbinas ou hélices estão conectadas aos conjuntos
motor-redutor. Os floculadores de eixo vertical apresentam-se com até cinco câmaras, mais
comumente três, e dotados de uma ou mais paletas paralelas ou perpendiculares ao eixo
(Figura 8).

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Figura 8 – Agitador de eixo vertical com quatro braços e três paletas pro braço

As Figuras 9 e 10 representam, respectivamente, estruturas montadas de um floculador


mecânico com braços e paletas e um floculador hidráulico de escoamento horizontal.

Figura 9 - Floculador de paletas

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Figura 10 - Floculador em chicanas vertical

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