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Floculação

Considerações iniciais

A floculação é uma das operações unitárias da clarificação que se constitui um


conjunto de fenômenos físicos, nos quais se tenciona em ultima instância reduzir o
numero de partículas suspensas e coloidais presentes na massa liquida. Para tal,
fornecem-se condições, em termos de tempo e agitação - como para as unidades de
mistura rápida, vale afirmar, tempo de detenção e gradiente de velocidade -, para que
ocorram os choques entre as partículas anteriormente desestabilizadas pela ação do
coagulante objetivando a formação dos flocos a serem posteriormente removidos por
sedimentação/flotação ou, nas estações de filtração direta, nas próprias unidades de
filtração. Também no mesmo contexto das unidades de mistura rápida, a energia
dissipada na massa liquida para fomentar a aglutinação das partículas pode ser de
origem mecânica ou hidráulica.
Para as estações convencionais de tratamento a aferição do êxito da floculação
efetua-se pelas características da água decantada, cujo monitoramento centra-se na
turbidez e, com menor frequência, na cor aparente.

Mecanismos de transporte e intervenientes na floculação

Na realidade a menção aos mecanismos intervenientes na floculação refere-se


a forma como o transporte das partículas desestabilizadas realiza-se para a formação
dos flocos. O mecanismo de transporte predominante será função das dimensões das
partículas desestabilizadas e da progressiva formação e crescimento dos flocos. O
transporte das partículas pode ocorrer em virtude basicamente de três fenômenos:
i) ao movimento Browniano - denominado floculação pericinetica ;
ii) às diferenças de velocidade das linhas de corrente do fluido em escoamento
- denominado floculação ortocinetica;
iii) as distintas velocidades de sedimentação dos flocos {sedimentação
diferencial).
O movimento aleatório das partículas coloidais de dimensão inferior a 1 µm
permite que ocorram os primeiros choques. Pode-se afirmar que os primeiros contatos
entre as partículas desestabilizadas iniciam-se já na unidade de mistura rápida,
decorrentes do movimento Browniano e da ação da gravidade.
Já a floculação ortocinetica decorre da introdução de energia externa que
fomenta a aglutinação das partículas desestabilizadas e dos microflocos - formados
inicialmente por intermédio do movimento Browniano -, para a formação de flocos de
maior peso, passiveis de serem removidos por sedimentação ou flotação.
O terceiro mecanismo de floculação refere-se a sedimentação diferencial,
decorrente da desuniformidade de volume e de densidade dos flocos formados. Assim,
os flocos adquirem distintas velocidades de sedimentação, concorrendo para que no
movimento descendente na unidade de decantação ocorram os choques e a
consequente formação de flocos mais pesados.
Mecanismos de agregação e ruptura dos flocos

Convergem-se em dois mecanismos: a agregação e a ruptura dos flocos.


Nessa premissa, em função das características da água e das condições de
coagulação e floculação, o crescimento dos flocos efetua-se at€ um tamanho limite
para o qual se equivalem as tensões de cisalhamento e as forças de aglutinação que
mantém as partículas desestabilizadas aderidas a estrutura do floco. Com o
progressivo aumento das dimensões e da densidade, aliada a melhor
sedimentabilidade, ocorre elevação da área superficial dos flocos favorecendo a
prevalência das forças heterodinâmicas que tendem a provocar o descolamento
destas partículas.
Concorre para maximizar os efeitos da ruptura o fato dos flocos rompidos
dificilmente voltarem a se formar para as mesmas condições de floculação, mesmo
quando se verifica o emprego de polímeros orgânicos como coagulantes primários.
Nestes casos, após a ruptura do floco, ha tendência de que os segmentos dos
polímeros envolvam completamente a mesma partícula, reestabilizando-a e evitando a
reagregacão.
Os resultados de estudos da variação da eficiência da floculação em função de
Tf e Gf., comprovaram a eficácia do modelo proposto e demonstraram a inviabilidade
do Numero de Camp como parâmetro balizador da floculação. Para tempos de
floculação de 8, 12, 16 e 24 min e baixa velocidade de sedimentação, demonstrou-se
que há clara associação entre Tf e Gf.
Neste mesmo trabalho os autores concluíram ainda que:
• os parâmetros físicos concernentes a eficiência da floculação são,
basicamente, o tempo de detenção e a potencia aplicada a massa liquida (gradiente
de velocidade);
• há um tempo de detenção mínimo abaixo do qual as taxas de agregação e
erosão se equivalem, reduzindo substancialmente a eficiência da floculação;
• um maior numero de câmaras resulta em maior eficiência para um mesmo
tempo de detenção devido a redução do efeito de curto-circuito;
• para cada tempo de detenção existe um gradiente de velocidade a ele
associado, pois há uma relação direta entre o numero de choques e a taxa de erosão
dos flocos.
Embora a consistência do floco varie com as condições de coagulação e
características da água bruta, pode se afirmar que, em escala real, gradientes de
velocidade mais baixos (inferiores a 30 s-1) somente em circunstancias atípicas, em
termos de tempo de floculação, haverão de favorecer a ruptura dos flocos. Para
gradientes mais baixos a tendência assintótica do aumento da eficiência com o tempo
de floculação deixa de ocorrer somente para tempos mais elevados e neste contexto €
absolutamente incomum no Pais unidades de floculação com tempos de detenção
superiores a 50 min. Em contrapartida, para gradientes de velocidade mais elevados,
o tempo a partir do qual predominam os mecanismos de ruptura ocorre dentro do
intervalo no qual se insere a maioria das unidades de floculação em operação nas
estações de tratamento de água brasileiras. Desta forma, verifica-se, a não ser em
situações muito peculiares, o aumento na eficiência da floculação - obtenível com a
construção de novas câmaras ou de unidades de floculação em paralelo - quando o
tempo de detenção € elevado e os gradientes de velocidade aplicados são de menor
magnitude.

Fatores intervenientes na floculação

Evidentemente que todos os fatores intervenientes no processo da coagulação


podem ser listados como relevantes na eficiência da floculação. Alem da coagulação
propriamente dita, o gradiente de velocidade e o tempo de detenção ou tempo de
floculação constituem-se indubitavelmente nos principais fatores intervenientes na
floculação, ainda que para as unidades mecanizadas as geometrias das câmaras e
das paletas possam também ser secundariamente mencionadas. Tais parâmetros
governarão a densidade e o tamanho dos flocos formados, reduzindo a turbidez e/ou
cor aparente da água decantada ou, para estações de filtração direta, conferindo aos
flocos maior resistência aos efeitos de cisalhamento provocado pelas forcas
heterodinâmicas do escoamento maximizando a retenção nos interstícios do meio
filtrante.

Tempo de detenção

Até meados da década de 1960, nos projetos de estações de tratamento


elaborados no Pais, as unidades de floculação hidráulicas eram dimensionadas em
função da velocidade de escoamento e do tempo de detenção hidráulico. O primeiro
parâmetro deveria ser de tal magnitude, usualmente inferior a 0,30 m/s, que permitisse
os choques entre as partículas e evitasse a ruptura ou sedimentação dos flocos
formados nas primeiras câmaras. Para as unidades mecanizadas, alem do tempo de
detenção, empregava-se a velocidade periférica das paletas, limitada em 75 cm/s.
Atualmente, ainda que o tempo de detenção continue sendo fator preponderante, a
inserção do conceito de gradiente de velocidade de floculação relegou a velocidade de
escoamento como parâmetro de projeto papel secundário no dimensionamento destas
unidades.
No sentido estrito do termo, o tempo de detenção hidráulico corresponderia a
razão entre o volume útil da unidade de floculação e a vazão afluente a mesma. Este
parâmetro abarca o tempo necessário a redução do numero de partículas
desestabilizadas, consequência dos choques promovidos pela energia dissipada na
massa liquida. Contudo, na pratica o valor teórico somente se verifica para as
unidades de floculação hidráulica dotadas de maior numero de câmaras
(preferencialmente superior a oito). Para as unidades mecanizadas, cujo numero de
câmaras raramente € superior a quatro, há significativo efeito de curto-circuito. Nestes
casos, parcela substancial da vazão afluente permanece na unidade por tempo inferior
ao teórico - e esta redução € tão mais significativa quanto menor o numero de
câmaras para o qual podem ter sido definidas as dosagens dos produtos químicos
utilizados na coagulação.
Os efeitos negativos de curto-circuito são implicitamente contemplados nas
próprias recomendações normativas. Por esta razão, a NBR 12216 preconiza que, na
ausência de ensaios, os tempos de detenção para as unidades de floculação
hidráulicas e mecanizadas devam ser de 20 a 30 min e 30 a 40 min, respectivamente.

Gradiente de velocidade

As dimensões e a densidade dos flocos formados são fortemente influenciadas


pelas colisões decorrentes das diferentes velocidades das linhas de corrente contiguas
na seção transversal ao escoamento. A magnitude destas diferenças de velocidade
atribui-se denominação de gradiente instantâneo de velocidade. Nas unidades de
floculação hidráulicas e mecanizadas a agitação conferida a massa liquida pode ser
decorrente, respectivamente, das mudanças de direção do escoamento ou da rotação
dos agitadores.
Para as unidades de mistura rápida mecanizadas, há sensível desuniformidade
da potencia dissipada na massa liquida, concorrendo para variações sensíveis do
gradiente de velocidade no interior da câmara. Desta forma, o gradiente de velocidade
médio de floculação (Gf), corresponde ao trabalho total por unidade de tempo e
volume.
A influencia do gradiente de velocidade na formação dos flocos tem sido
avaliada há mais de três décadas. A relação tamanho/densidade do floco em função
do gradiente de velocidade de floculação já foi comprovada experimentalmente e,
embora não possa ser considerado um paradigma o emprego de gradientes de
velocidade mais elevados tende a favorecer a formação de flocos mais densos e de
menor dimensão e vice-versa.
Nesta linha, outro estudo realizado com água sintética e baixas velocidades de
sedimentação, concluiu que o aumento da dosagem de coagulante conduz a redução
do Gf ótimo para o mesmo Tf, apontando para maior probabilidade de ruptura flocos
produzidos por dosagens mais elevadas. Por outro lado, conforme salientado, o
efluente de um floculador com alto Gf e baixo Tf tende a apresentar, via de regra,
flocos de menores dimensões, mais densos e mais resistentes ao cisalhamento,
apropriados a filtração direta ascendente ou descendente. Nesse caso parcela mais
significativa do meio filtrante será efetivamente empregada na filtração, concorrendo
para gradual evolução da perda de carga e maior duração das carreiras dos filtros.

Variação do gradiente de velocidade ao longo das câmaras

Como nas unidades de mistura rápida, ha na floculação relação intrínseca


entre o tempo de detenção (Tf) e o gradiente de velocidade médio (Gf) aplicado a
massa liquida. Tal relação materializa-se no adimensional Gf.Tf usualmente
denominado Numero de Camp (NC). O conceito que o fundamenta se refere a
perspectiva de conferir idêntica probabilidade de choques entre as partículas
desestabilizadas. Assim, em tese, obter-se-ia eficiência de mesma magnitude se
menores tempos de detenção hidráulico estiverem associados a gradientes de
velocidade mais elevados ou vice-versa. Este pesquisador preconiza que unidades de
floculação com NC de 20.000 a 200.000, gradientes de velocidade de 20 a 74 s-1, hão
de apresentar performance satisfatória.
Contudo, a floculação realizada com gradiente de velocidade variável
decrescente apresentou consistentemente melhores resultados em termos de
remoção de turbidez, quando comparada a floculação com gradiente constante.

Geometria dos agitadores e das câmaras de floculação

Para as unidades de floculação com tempos de detenção mais curtos é de se


esperar que as câmaras de base quadrada apresentem desempenho inferior quando
cotejadas as de base circular, em função da maior possibilidade de zonas mortas.
Contudo, para tempos de detenção mais longos a forma das câmaras possivelmente
não interferira significativamente na eficiência da floculação e o desempenho da
unidade será governado pelo numero de câmaras e pela disposição das passagens.
Evidentemente que as câmaras de floculação de seção quadrada são as mais
extensivamente empregadas por permitirem arranjos que viabilizam otimizar a área
destinada a estação de tratamento e reduzir o custo da construção pelo
aproveitamento comum das paredes. Câmaras de seção circular predominam nas
estações pré-fabricadas, em especial com o uso de bandejas perfuradas como meio
de conferir o gradiente de velocidade a massa liquida. Secundariamente, as vazões
para as quais estas unidades são usualmente construídas concorrem para que a área,
e consequentemente o material despendido, seja de menor magnitude.
Por fim, embora não seja fator usualmente mencionado, concorre também para
aumento da eficiência da floculação a construção da unidade de mistura rápida
contigua ao(s) floculador(es), minimizando a denominada floculação incidental que
ocorre nos longos canais de água coagulada, ocasionando a ruptura dos flocos na
primeira câmara da unidade.

Tipos de unidades de floculação

A distinção dos tipos de floculadores fundamenta-se na forma de transferir


energia a massa liquida, hidráulica ou mecânica, para que possam ocorrer os choques
entre as partículas desestabilizadas e a consequente formação dos flocos. Para
quaisquer tipos de unidades, a relevância do gradiente de velocidade e do tempo de
detenção como balizadores da floculação confirma-se pelos parâmetros de projeto
recomendados na literatura técnica listados na tabela 8.7.
Unidades de floculação hidráulica

Para as unidades de floculação hidráulica, o gradiente de velocidade deve-se a


perda de carga nas passagens entre as sucessivas câmaras.
Para estações existentes, de acordo com a magnitude da vazão afluente, a
determinação da declividade da linha d’água após as passagens e do volume de cada
câmara fornecerá o gradiente de velocidade de floculação.
Para floculadores de escoamento horizontal, a perda de carga e função do
escoamento entre as chicanas e das mudanças de direção causadas nas passagens
de uma câmara para outra. Desta forma, inserem-se as respectivas velocidades de
escoamento e estima-se a perda de carga em uma equação.
Para floculadores de escoamento vertical e helicoidal - os primeiros, caso todas
as passagens estejam abaixo da linha d’água -, a perda de carga pode ser estimada
por meio de uma equação para escoamento através de orifícios.
Tanto para as unidades mecanizadas quanto para as hidráulicas o gradiente de
velocidade nas passagens deve ser inferior ao da câmara anterior, objetivando evitar a
ruptura dos flocos. A determinação do gradiente de velocidade nas passagens,
quando estas estão abaixo da linha d’água, considera-se a perda de carga em conduto
forcado, cujo comprimento e a espessura da chicana ou parede.

Floculadores de escoamento helicoidal

Nas unidades hidráulicas de escoamento helicoidal comumente dispõem-se em


lados alternados aberturas inferiores dotadas de anteparos ou curvas de 90° para
impingir o escoamento sempre na direção ascendente. Quando construídas em
concreto, usualmente, o numero de câmaras € inferior a 12, podendo com emprego de
divisórias em madeira atingir at€ 24 câmaras.
Estas unidades são utilizadas em estações de tratamento de pequeno e médio
porte, recebendo também a denominação de floculadores Alabama.

Floculadores de escoamento horizontal

As unidades de floculação hidráulica de escoamento horizontal, raramente


empregadas no Pais - a exceção de algumas estações de pequeno porte no Espírito
Santo -, constituem-se em ultima análise canais dotados de chicanas através das
quais ocorrem as alterações da direção do escoamento que hão de favorecer a
formação dos flocos.
Em função da disposição e espaçamento das chicanas confere-se o gradiente
de velocidade para a promoção dos choques e formação dos flocos.

Floculadores de escoamento vertical

Os floculadores hidráulicos de escoamento vertical apresentam-se com


chicanas ou aberturas superiores e inferiores. No primeiro caso ocorre escoamento
livre por sobre as chicanas nas passagens superiores e estas unidades
frequentemente são dotadas de at€ 40 câmaras. No segundo caso, as aberturas
instaladas abaixo da linha d’água asseguram-lhes o escoamento forçado, com o
numero de câmaras via de regra inferior a 10.
Assim como para as unidades de escoamento horizontal, recomendam-se
velocidades de escoamento superiores a 0,10 m/s, objetivando minimizar a precoce
deposição de flocos.

Unidades de floculação mecanizadas


As unidades de floculação mecanizadas distinguem-se basicamente pelo eixo,
vertical ou horizontal, por meio do qual as paletas, turbinas ou hélices estão
conectadas aos conjuntos motor-redutor. Os floculadores de eixo vertical apresentam-
se com at€ cinco câmaras, mais comumente três, e dotados de uma ou mais paletas
paralelas ou perpendiculares ao eixo. A alternativa mais utilizada nas estações
brasileiras constitui-se de paletas paralelas ao eixo de rotação, de duas a quatro
instaladas em dois ou quatro braços, sendo raro o emprego de paletas
perpendiculares ao eixo. A faixa de gradientes de velocidade de floculação usualmente
aplicada culmina em rotação de 2 a 15 rpm.
Para unidades mecanizadas com agitadores tipo turbina a determinação da
potencia dissipada na massa liquida - e consequentemente do gradiente de velocidade
de floculação - e idêntica a utilizada para mistura rápida, valendo-se da grandeza
adimensional denominada Numero de Potencia (Np).
Para agitadores do tipo paletas, a potencia (P) dissipada na massa liquida e
função da forca de arraste (Fd) e da velocidade da paleta em relação a água (V) de
acordo com uma equação.
Para regime turbulento (Re > 1000), o coeficiente de arraste (Cd) relaciona-se
com as dimensões da paleta, comprimento (L) e largura (b), variando de 1,1 a 1,5.
As unidades de floculação mecanizada de eixo horizontal comumente dispõem
de mais de um conjunto de braços em função do tamanho das câmaras. Já os
floculadores de eixo vertical dispõem de apenas um conjunto de braços (Nc = 1), a
exceção dos agitadores de câmaras sobrepostas, utilizados nas primeiras concepções
das estações de tratamento pré-fabricadas no final da década de 1970.

Floculação em malhas

Embora não se constitua em um dispositivo especifico de floculação, as telas


de fios de nylon ou arame tem sido utilizadas em canais de água coagulada ou mesmo
nas passagens entre as câmaras das unidades de floculação. Sua aplicação
apresenta-se como alternativa interessante para estações existentes, operando com
sobrecarga, dotadas de canais de água coagulada ou floculada de maiores
dimensões. Nesta ultima circunstancia € possível com a instalação destas malhas
prolongar o tempo de floculação. Evidentemente, pela mesma razão de minimizar a
ruptura dos flocos, que no primeiro caso as malhas devem conferir gradientes de
velocidade superiores ao da primeira câmara de floculação e no segundo inferiores ao
da ultima. Quando utilizadas a jusante da unidade de mistura rápida, as malhas
prestam-se a auxiliar a aplicação dos produtos químicos utilizados na coagulação,
como os polímeros, ou mesmo dos compostos de flúor quando este processo e
realizado no inicio do tratamento.
A perda de energia que se sucede quando água em escoamento atravessa a
malha - passível de ser desprezada na maioria dos casos práticos -, como para as
unidades hidráulicas de floculação, a magnitude desta relaciona-se com o gradiente de
velocidade aplicado a massa liquida.

Comparação entre os tipos de floculadores

Na definição do tipo de floculador a ser empregado, os métodos hidráulicos tem


sido, via de regra, preteridos pelos mecanizados nos recentes projetos de construção
e ampliação de estações de tratamento de água de médio e grande porte. A despeito
desta supremacia, na comparação entre as distintas unidades de floculação algumas
constatações são inequívocas. Os floculadores hidráulicos praticamente prescindem
de manutenção e não demandam gastos com energia elétrica, sendo a alternativa
mais viável para as localidades distantes dos centros mais desenvolvidos.
Adicionalmente, apresentam custo de implantação inferior ao das unidades
mecanizadas, a exceção, provavelmente, dos floculadores de escoamento horizontal
de menor profundidade. Desta forma, como já foi ressaltado, constituem em numero
absoluto o tipo de unidade mais extensivamente empregada no Pais, sobretudo em
estações de tratamento para pequenas e médias comunidades onde as prováveis
dificuldades inerentes a manutenção dos equipamentos inviabilizariam o uso da
floculação mecanizada.
As principais restrições a este tipo de unidade residem na maior perda de
carga, como consequência do maior numero de câmaras e do tamanho da abertura
relacionar-se com o gradiente de velocidade na câmara, e na discutível dificuldade de
alteração da magnitude dos gradientes de velocidade, para adequa-los aos câmbios
das características da água bruta. A primeira restrição, dependendo do ponto de vista,
pode apresentar-se como vantagem pela redução dos curtos-circuitos. A variação do
gradiente de velocidade nos floculadores apresenta nítida dicotomia. A elevação do
gradiente de velocidade torna-se menos problemática, uma vez que a inserção de um
dispositivo que reduza a dimensão das passagens - aumentando a perda de carga -
atingiria tal intento. Também a instalação de dispositivos que permitam a variação da
lamina d’água pode também atingir este objetivo. Em contrapartida, a redução deste
parâmetro pressupõe o aumento das dimensões das passagens, operação
usualmente mais complicada para alguns tipos de unidades e praticamente impossível
para os floculadores de escoamento helicoidal nos quais foram utilizadas curvas de
90° para impelir o escoamento no sentido ascendente.
Tem sido apontadas como vantagens do emprego dos floculadores
mecanizados:
• perda de carga praticamente nula como consequência do menor numero de
câmaras e do fato das aberturas não desempenharem, ao contrario das unidades
hidráulicas, nenhum papel na perspectiva de ocorrência dos choques entre as
partículas;
• maior facilidade de instalação em estações existentes, especialmente as
unidades de eixo vertical, cujos conjuntos motor-redutor são mais facilmente
instalados nas passarelas sobre as câmaras de floculação;
• facilidade de adaptação na perspectiva de automação do processo de
tratamento;
• maior flexibilidade de operação em função das variações das características
da água bruta.
As desvantagens referem-se ao consumo de energia, a desuniformidade da
agitação dentro da câmara de floculação, a maior probabilidade de curtos-circuitos e,
em especial, a necessidade de manutenção dos equipamentos. Esta ultima limitação
apoia-se no fato de não ser incomum unidades de floculação desativadas, mesmo em
estações de médio porte, em razão da avaria nos conjuntos motor-redutor.
Em relação as unidades mecanizadas, a definição recorrente em diversos
projetos de estações de tratamento de água pelos floculadores de eixo vertical
fundamenta-se basicamente em três fatores:
i) tais unidades dispensam o poço seco contiguo as câmaras para instalação
dos motores, imprescindível aos de eixo horizontal;
ii) eventual defeito em um dos motores não paralisa toda a unidade de
floculação, como fatalmente ocorreria em uma unidade de eixo horizontal;
iii) eixos verticais de menor dimensão, raramente excedendo 3 m, reduzem os
danos nos mancais e os efeitos de flambagem.
Na tabela 8.11 são apresentadas as principais características dos floculadores
hidráulicos e mecanizados de eixos vertical e horizontal.

Por fim, assim como para a tecnologia de tratamento, para definição do tipo de
unidade de floculação a ser utilizada há de se considerar primordialmente a
localização geográfica da estação e as características da população a ser abastecida
— permitindo estimar os custos, e a perspectiva de manutenção adequada dos
equipamentos e da qualidade da operação al€m do nível de proteção do manancial,
visando a avaliar as possibilidades de alterações significativas das características da
água bruta.

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