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DESINFECÇÃO
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Profª Msª Christiane Pereira Rocha Sousa
SaneamentoAmbiental – 2017
Engenharia Civil – Unifor/MG
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Nos sistemas públicos de abastecimento de água, objetiva-se definir qual processo de
desinfecção deve ser adotado, buscando-se a consecução dos seguintes objetivos:
• máximo desempenho do sistema;
• menor custo global;
• atendimento ao padrão de potabilidade vigente e/ou às condições de segurança
sanitária visando a minimizar os riscos de transmissão de doenças;
• minimização da formação de subprodutos com possíveis efeitos deletérios à saúde
humana;
• máxima eficiência do desinfetante, considerando-se a amplitude de variação possível
das características da água e do tempo de contato, este decorrente das inevitáveis
variações de vazão afluente à estação de tratamento.
Na prática, a dificuldade na consecução de todas as metas conduz a uma
hierarquização destes objetivos face a uma situação específica, estabelecendo balanço no qual
são priorizados alguns objetivos em detrimento de outros. Este balanço realiza-se
considerando aspectos diversos, tais como infraestrutura disponível na região, restrições
socioeconômicas relativas à implantação, operação e manutenção de desinfecção, além das
características da água a ser tratada.
A ação dos desinfetantes físicos e químicos sobre os microorganismos pode ser
basicamente sob três mecanismos diversos: pela ruptura da parede celular, difusão do
desinfetante no interior dos microorganismos e por interferência na reprodução celular.
Quando do emprego de agentes químicos, à exceção do ozônio, a desinfecção
manifesta-se por meio da destruição ou danificação da parede celular e posterior difusão do
desinfetante no interior da célula. Quando do emprego de agentes físicos, ocorre interferência
na biossíntese e reprodução celular, em razão dos danos fotoquímicos causados aos ácidos
nucleicos, coenzimas ou células estruturais.
No tratamento de água os dois tipos preponderantes de mecanismos de desinfecção são
a oxidação e, posterior ruptura da parede celular, e a difusão do desinfetante no interior das
células, com consequente interferência na atividade celular. A eficiência do sistema de
desinfecção, contudo, não depende apenas das características do agente desinfetante, mas de
vários outros fatores, tais como dose e tempo de exposição do agente, tipo e concentração dos
microorganismos, características físicas e químicas da água, entre outros.
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É interessante observar que se a oxidação fosse o único mecanismo responsável pela
desinfecção e, sob este aspecto, se devesse escolher um agente desinfetante, esta escolha seria
prioritariamente baseada na capacidade de oxidação deste agente, ou seja, no maior potencial
de oxidação. De acordo com a Tabela 1, a hierarquização seria ozônio, dióxido de cloro,
cloro, bromo e iodo. Contudo, a seleção do agente desinfetante é mais complexa em virtude
de vários outros fatores. Para a série de halogênios, a ordem de opção baseada na capacidade
de difusão nas células seria iodo, bromo e cloro. Esta ordem é exatamente oposta à ordem
expressa na forma de potencial de oxidação. Isto demonstra que a eficiência de um agente
desinfetante qualquer é dependente de tantos fatores que a maneira mais segura de se avaliar
sua ação, em determinada água, é por meio de ensaios laboratoriais e testes em unidades-
piloto.
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As características da instalação influenciam na eficiência em função do tempo de
contato, da dosagem aplicada e da homogeneidade da dispersão do desinfetante na massa
líquida. A Portaria 518 recomenda tempo mínimo de detenção de 30 minutos objetivando
maximizar a eficiência do processo e, em relação às características da água para a desinfecção
com compostos de cloro, pH inferior a 8.
Pode-se afirmar que as etapas do tratamento que precedem a desinfecção objetivam
otimizar a eficiência deste processo ao remover a matéria orgânica e as partículas suspensas e
dissolvidas presentes nas águas naturais, cuja presença reduziria o grau de inativação dos
microorganismos. As etapas de decantação e filtração acabam por reduzir a concentração de
microorganismos presentes e por otimizar a desinfecção. Na Figura 1 apresenta-se progressiva
redução de coliformes totais no decorrer do processo de potabilização verificada em três
estações de médio porte. Nota-se que para a ETA 3 a desinfecção prestar-se-ia tão somente
conferir concentração residual na rede de distribuição.
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proporcionando residual desinfetante ativo e, com isso, permitindo que haja inativação de
microorganismos, após o ponto de aplicação, seja ao longo das tubulações da rede de
distribuição ou mesmo nos reservatórios domiciliares dos pontos de consumo.
O objetivo principal do uso do cloro em sistemas de abastecimento de água é a
desinfecção. Contudo, devido ao seu alto poder oxidante, sua aplicação nos processos de
tratamento tem servido a propósitos diversos como controle de sabor e odor, prevenção de
crescimento de algas, remoção de ferro e manganês, remoção de cor e controle do
desenvolvimento de biofilmes em tubulações. Destes usos para o cloro, destaca-se a oxidação
do ferro e manganês, prática comum em diversas estações brasileiras, em particular na região
do Quadrilátero Ferrífero no estado de Minas Gerais.
Para fins de tratamento de água o cloro pode ser empregado na forma gasosa (Cl2) ou
em solução aquosa como hipoclorito de cálcio (Ca(OCl)2), ou de sódio (NaOCl). O gás cloro
constitui-se na alternativa empregada praticamente na totalidade dos sistemas de maior porte e
em expressiva parcela das médias e pequenas unidades do país. Em função da elevada
densidade, este gás, quando submetido a pressões superiores à pressão de vapor, condensa-se
em líquido, reduzindo seu volume em aproximadamente 45 vezes. Desta forma, vem
acondicionado em cilindros de 45 kg até 900 kg.
Com a supremacia do uso do cloro gasoso nos sistemas de maior porte, o hipoclorito
de cálcio e de sódio passaram a ser mais utilizados em sistemas de pequeno porte, em
embarcações, hotéis, piscinas e clubes de campo. O hipoclorito de cálcio é fornecido na forma
sólida como precipitado resultante da dissolução do cloro gasoso em solução de cal e
hidróxido de sódio.
O cloro quando apresentado na forma sólida tem sido utilizado em dispositivos
alternativos para desinfecção, clorador de pastilha e por difusão, direcionados a um sistema de
abastecimento de pequeno porte que captam predominantemente água subterrânea. Os
cloradores de pastilha são construídos em PVC e as pastilhas colocadas entre espaçadores de
mesmo material aptas a conferir cloro residual por meio do fenômeno de progressiva abrasão
da água em escoamento (Figura 2).
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O dióxido de cloro não integra o grupo dos compostos de cloro que ao se hidrolisarem
formam o ácido hipocloroso. Ele constitui o desinfetante extensivamente utilizado na
indústria de papel e celulose para o branqueamento da polpa, pela eficiência e por não gerar
compostos trihalometanos. Ele apresenta alta solubilidade em água, elevado potencial de
oxidação e bons resultados na inativação de patogênicos mais resistentes, como os
protozoários. Sua eficiência é pouco afetada quando o pH apresenta-se na faixa de 6 a 10,
além de não reagir com nitrogênio amoniacal e não romper as ligações entre os átomos de
carbono integrantes da matéria orgânica, condição vital para formação de trihalometanos. As
limitações ao emprego do dióxido de cloro referem-se essencialmente ao significativo maior
custo comparado ao cloro, restringindo seu espectro de aplicação aos sistemas de maior porte.
As cloroaminas, em razão do menor poder desinfetante quando comparadas ao cloro
gasoso, comumente são utilizadas em situações nas quais já se tem assegurada a qualidade
microbiológica da água, quer pela associação com outro desinfetante, quer pelo desempenho
das etapas anteriores, e objetiva conferir o residual na rede de distribuição, minimizando o
recrescimento microbiológico e a formação de thihalometanos. A utilização de cloroaminas
pode favorecer o processo de nitrificação no interior dos reservatórios do sistema de
abastecimento. Outro inconveniente é que o residual de cloroamina não é removido nas
membranas de osmose inversa dos equipamentos de hemodiálise e, mesmo a baixas
concentrações, apresenta significativa toxicidade para criações de peixes.
O ozônio é um gás instável, consistindo de três átomos de oxigênio, formado quando
moléculas de oxigênio (O2) são separadas e reagrupadas em O3. Na natureza o ozônio forma-
se por meio da quebra de molécula de O2, sob a ação da radiação UV da luz solar ou pela
descarga elétrica de raios ou relâmpagos. Constitui-se no agente químico mais eficiente em
termos de inativação de microorganismos e na oxidação de compostos orgânicos. Como os
demais desinfetantes atua fundamentalmente na ruptura da parede celular dos
microorganismos, mas diferentemente do cloro, não ocorre a difusão no interior da célula. A
ozonização como etapa de pré-oxidação pode ter os seguintes objetivos:
• remoção ou redução da matéria orgânica precursora da formação de trihalometanos;
• remoção de compostos fenólicos e outras substâncias passíveis de conferir odor e
sabor às águas de consumo;
• remoção de compostos inorgânicos combinados com matéria orgânica, tais como
ferro, manganês, sulfitos e nitritos.
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Todavia, o ozônio apresenta baixa solubilidade e praticamente inobservância residual.
Adicionalmente, a desinfecção de águas, com distintos teores de matéria orgânica, favorece a
formação de trihalometanos, ainda que em menores concentrações quando comparado ao
emprego do cloro e de outros desinfetantes.
Dos agentes físicos utilizados na desinfecção de águas de abastecimento, a radiação
UV apresenta aplicação mais extensiva. O emprego mais usual da radiação tem ocorrido em
sistemas de esterilização. No tratamento de águas para consumo humano é grande sua
utilização em navios de passageiros e em sistemas de aproveitamento da radiação UV
proveniente da luz solar. Os efeitos deletérios mais importantes da radiação UV ocorrem em
nível de DNA, especialmente junto às chamadas bases pirimídicas e junto às ligações
dissulfeto presentes nos complexos proteicos e enzimáticos, reações fundamentais no
processo de interrupção do ciclo biogeoquímico, o que leva à morte celular.
Vários fatores intervenientes na desinfecção por agentes químicos, também o são para
radiação UV. As características da água, o tipo e concentração de microorganismos e as
distintas configurações do sistema de desinfecção são as principais. Como vantagens cita-se
os baixíssimos tempos de contato, normalmente inferiores a 10 segundos, é uma das
principais, além da eficiência para ampla gama de microorganismos e a simplicidade e o
baixo custo de operação e manutenção.
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