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Os Bantu

Origem e Migrações (Expansão)

Até o início do primeiro milênio a.C., as regiões da floresta e da savana do continente


africano eram muito esparsamente povoadas por grupos nômades que viviam da caça
e da coleta, e por grupos de pescadores que habitavam aldeias sedentárias nas
margens dos rios, lagos e estuários.
A partir do século X a.C., esses diferentes povos assistiram à chegada de pequenos
grupos cujos antepassados haviam começado a se movimentar dois milênios antes,
provavelmente a partir de uma zona de transição entre a savana e a floresta, ao sul do
rio Benué, na atual República dos Camarões.
Lá, esses povos que migraram já dominavam a agricultura do dendê, do inhame e de
outros tubérculos, faziam cerâmicas, navegavam pela costa, pescavam no mar e em
rios, e criavam cabras e cachorros, além de coletar extensivamente frutas e castanhas.
Essas migrações dos povos bantus não foram um movimento rápido de conquista, nem
uma migração populacional avassaladora o que ocorreu por ali; ao contrário, foi uma
expansão feita por uma infindável série de pequenos deslocamentos em busca de
novas terras para cultivo ou moradia, ou de rios e lagos piscosos ainda pouco
explorados. A cada geração, o território ocupado se expandia, em geral não mais do
que um dia de marcha, ou cerca de trinta quilômetros.
Esse imenso e lento processo migratório parece ter durado de 3.000 a.C. até O século
VI d.C. e chegou a abranger, aproximadamente, um terço de todo o território do
continente africano.
O fato de os antepassados longínquos desses migrantes falarem o mesmo idioma (ou
um conjunto de idiomas muito semelhantes) faz das línguas de boa parte da África
Central, Oriental e Austrais elementos de uma mesma grande família, conhecida como
bantu (palavra que designa "gente" ou "povo" em boa parte delas).
Os povos Bantu como povo etino-linguístico como conhecemos hoje são originários, da
parte Ocidental do continente africano, concretamente nos Camarões e na parte
sudeste da Nigéria.
Os Bantus tiveram a sua expansão no ano 1000 a.c, tendo alcançado o Centro e o este
do continente africano. Mas foi apenas nos seculos III e IV d.c. que chegaram ao
Sudeste da costa africana.
A sua expansão teve como ponto de partida a região ocidental e foi dividida em três
fases, sendo que na primeira atingiram a floresta equatorial e a África Central. Na
segunda atingiram o Leste. Na terceira e última fase atingiram a parte sul do
continente e foi nesta fase que os Bantu entram em contacto com o território
angolano.
A diferenciação linguística acompanhou as principais direções da expansão migratória:
assim, existe um grupo de línguas denominado de bantu ocidental (faladas pelos
grupos que atravessaram a floresta e chegaram às savanas da África Central) e outro
grupo chamado de bantu oriental (cujos idiomas são falados pelos grupos que
contornaram a floresta e se estabeleceram nos grandes lagos, nas savanas orientais ou
na costa do Oceano Índico).
Dos vários fatores que motivaram as migrações Bantu, podemos apontar os seguintes:
 A procura de novas terras para o cultivo, levando a absolvição das
populações nativas de caçadores, recolectores, com quem entraram em
contacto.
 O aumento populacional resultante de um desenvolvimento de novas
técnicas de cultivo e de novos produtos.
 A introdução de instrumentos de ferro que possibilitaram uma
alimentação mais equilibrada.
Mas não são todos os fatores, visto que muitos outros podem ter contribuído para que
ocorresse as migrações dos povos Bantus.

Economia

A economia dos povos bantus era de troca de produtos, cujo nome dado é a permuta.
Em que se desdobra no fato de que os artigos de troca são em regra os produtos
agrícolas.
Seguramente, cada família ou mesmo cada uma das mulheres recolhe e armazena o
que é necessário para o consumo normal. Mas do excedente, cada um dispõe e leva-o
para ser vendido nas melhores condições possíveis.
Ainda no seio das comunidades Bantu havia divisão do trabalho: a agricultura era
praticada por homens e mulheres, mas as mulheres executavam o trabalho principal.
Os homens faziam a desmatação e lavravam pela primeira vez os terrenos, mas eram
as mulheres que cultivavam e colhiam durante todo o resto do ano, para além da
responsabilidade de lidar do lar e dos filhos. Quando o solo das lavras se esgotava,
mudavam-se para novos terrenos, sendo, portanto, uma agricultura itinerante.
Quanto à pastorícia, era nómada, com a criação de bois, sendo o gado acompanhado
de região em região sempre à procura de capim fresco e abundante. Nos primeiros
tempos, todas as lavras pertenciam a todo o clã; todos trabalhavam e o produto era
dividido por igual; não havia escravos.
Desta forma podemos notar que nos primórdios os Bantus se organizavam
economicamente da seguinte maneira:
 a propriedade das terras, dos rios e das florestas era coletiva – pertencia a todo
o clã;
 apesar da propriedade coletiva, cada família possuía uma lavra particular;
 o direito por linha materna dava a passagem das lavras e outras riquezas de
tios para sobrinhos;
 a herança do poder político passava para o sobrinho, filho da irmã mais velha,
quando o rei soba morria;
 existiam escravos, devidos aos excedentes de produção e resultado do
desenvolvimento das forças produtivas e da divisão de classes sociais (senhores
e escravos).
Em resumo, podemos caraterizar a economia tradicional Bantu da seguinte forma:
 economia de subsistência;
 economia artesanal: não são as riquezas que preocupam os membros da
sociedade, mas sim as relações sociais e o bem-estar geral;
 economia dominada pelas práticas tradicionais aliadas aos rituais religiosos;
 economia que se processa dentro de uma estrutura social orientada por mitos,
obedecendo ao absoluto e ao sagrado.

Organização Social
No que toca nas relações de parentesco nessas sociedades linhageiras, a união dos
grupos étnicos ocorria mediante sistemas conhecidos como:
Sistema patrilinear, em que a descendência ou linhagem ocorria por via masculina. A
figura masculina detinha importância preponderante nesse processo, sendo que o filho
pertencia a sua família e recebia o nome de sua linhagem. O patriarca mais velho
detinha a autoridade, e a mulher passava a residir na família do marido. A educação, a
religiosidade, o patrimônio, a autoridade e a sucessão se baseavam na linhagem
materna. E os aspectos sociais e culturais assentavam-se nos laços paternos.
Já no sistema matrilinear, o filho pertencia à família materna, e a herança ocorria por
meio da mulher. O homem passava a residir na localidade da esposa, e o pai é o tio
materno. Além de os aspectos socioculturais estarem firmados nos laços maternos, a
autoridade do clã ou aldeia baseava-se no tio materno, mais velho.
Ainda no seio das comunidades bantus, propriamente no seio dos homens livres,
distinguia-se os homens livres ricos e homens livres pobres. Os últimos, em certas
situações, pediam empréstimos aos homens livres ricos que por eles cobravam juros
elevadíssimos e, por vezes, na impossibilidade de saldar as dívidas, eram
transformados em escravos.
Os Bantus no território angolano
Os povos Bantu começaram a emigrar para o atual território de Angola antes de 1200,
e as últimas migrações ocorreram nos anos de 1800.
As populações de origem Bantu formaram em Angola nove (9) etnias ou povos que
são:
1. Os Kikongo ou Bakongo;
2. Os Ngangela ou Ovangangela;
3. Os Nhaneka-Khumbi ou Vanyaneka-Lunkumbi
4. Os Herero ou Ovaherero;
5. Os Cokwé ou Lunda-Tchokwé/Tu-Lunda, Tu-Tchokwé;
6. Os Ambó ou Ovambo/Xikwanyama;
7. Os Ovakwangali ou Kwangari/Kuvangar;
8. Os Umbundu ou Ovimbundu;
9. Os Kimbundu ou Ambundu/Mbundu;
Estes grandes grupos por sua vez, estão subdivididos em outros mais pequenos, cuja
designação baseia-se sobretudo nas diferenças de ordem linguística existentes entre
os diversos grupos.
Quanto as migrações bantu que ocorreram no território angolano, podemos dividilas
da seguinte maneira:
Apartir dos anos de 1200, o grupo Bakongo atravessou o rio Zaire (ou rio Congo) e
instalou-se na sua margem esquerda. Caminhando para sul, este povo foi-se fixando
em áreas já antes ocupadas pelos Ambundo.
A partir dos anos de 1300, alguns homens do grupo Nganguela deslocaram-se para
oeste e atravessaram o Alto Zambeze até ao Cunene.
A partir dos anos de 1400 ou do início dos anos de 1500, os Nyanekas (ou Vanyanekas)
povos de pastores, entraram pelo Sul de Angola, atravessaram o Cunene e instalaram-
se no planalto da Huila. Nesses anos entraram também os Hereros.
Entre 1500 e 1600 começaram a chegar à região da Lunda povos caçadores, os Côkwe
(ou Tchokwe), vindos do planalto de Luba.
Nesses mesmos anos, os Côkwe abandonaram o Katanga, atravessaram o rio Cassai e
vieram instalar-se na Lunda, no Nordeste angolano. Mas os Lundas vieram cobrar
impostos ao povo recém-chegado, e os Côkwe voltaram a emigrar, principalmente
para o sul.
Entre 1700 e 1800, entraram no território angolano os Ovambos (ou Ambos). Este
povo deixou o seu território no Baixo-Cuango e veio instalar-se entre o rio Alto-
Cubango e o rio Cunene. Os Ovambos eram grandes mestres a trabalhar o ferro.
Finalmente, entre 1800 e 1900, aparece o último povo que veio instalar-se em Angola -
os Ovo Kwangali (ou Kuangares).
De notar que cada uma das etnias referidas falava a sua língua materna, como o
Kimbundu, o Kikongo, o Nganguela, o Côkwe, o Cuanhama ou o Oshiwambo.
À medida que ocorriam as migrações cada um desses povos bantu que vieram ocupar
uma porção do atual território angolano, estes povos organizaram-se até formar
importantes reinos.
Os principais reinos formados antes da ocupação europeia foram o Reino do Kongo, o
Reino do Ndongo, o Reino de Kassanje, o Reino de Matamba, o Reino da Lunda, o
Reino do Bailundo, e o Reino de Kwanyama.

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