Você está na página 1de 9

proveniente do adjectivo grego ethnikos.

O adjectivo se deriva do substantivo ethnos, que significa


gente ou nação estrangeira. É um conceito polivalente, que constrói a identidade de um indivíduo
resumida em: parentesco, religião, língua, território compartilhado e nacionalidade, além da aparência
física

Um grupo étnico é um grupo de indivíduos que têm uma certa uniformidade cultural, que partilham as
mesmas tradições, conhecimentos, técnicas, habilidades, língua e comportamento.

A sociologia Africana, considera que uma etnia ou um grupo étnico é grupo de pessoas que têm uma
herança sociocultural comum, como uma língua e tradições comuns.

Encontramos uma diferença enorme entre Etnia, Tribo, Clã e Linhagem. A sua diferença com a Tribo,
surge no facto de que a Tribo referir-se a um conjunto humano que reúne várias famílias sob a
autoridade de um mesmo chefe e num espaço territorial dado. A Etnia difere do Clã, visto que este
último refere-se a um grupo de pessoas que têm um ancestral comum. Finalmente difere de linhagem,
uma vez que esta é uma descendência.

Noutras palavras, os povos ou as populações de ascendência comum constituem etnias; as etnias


subdividem-se em tribos, as tribos em clãs e os estes em linhagens. Em todos os países, cada pessoa tem
origens étnica, tribal, clânica e de linhagem
Antes da Conferencia de Berlim (Alemanha) de 1885, África era subdivida em Nações verdadeiras cada
uma das quais habitadas por pessoas de ascendência comum. Os países africanos resultantes da
Conferência de Berlim são compostos de várias etnias, quer dizer de várias nações, culturas e tradições.

Principiais grupos étnicos de Moçambique

Em Moçambique, existem diversos agrupamentos humanos com características socioculturais


específicas. Ainda não há unanimidade no que se refere a uma designação genérica desses grupos. Por
razões óbvias, durante o período colonial esses grupos eram designados por tribos, etnias ou grupos
étnicos. O termo povo, embora fosse utilizado por alguns antropólogos e historiadores, não teve um uso
sistemático referido a essas entidades.

De acordo com essa informação (MINED, 1986:36), os povos de Moçambique agrupar-se-iam de acordo
com uma característica cultural que se apresenta mais ou menos comum em algumas regiões do País: os
regimes de parentesco. O rio Zambeze constitui-se numa fronteira natural desses regimes em
Moçambique.

A norte daquele rio localizam-se os povos matrilineares: Makonde, Yao, Makhuwa, Nyanja e outros
localizados no Zambeze superior, como os Nsenga e os Pimbwe, por exemplo. A sul, encontram-se os
povos patrilineares congregados nos seguintes grupos: Shona, Tsonga, Chope e Bitonga. Entre os povos
patrilineares figura também o grupo Nguni, cujos núcleos se encontram espalhados pelo País.
No Vale do Zambeze, uma zona de transição, situam-se povos de simbiose das influências matrilinear e
patrilinear, dos quais se destacam: Chuwabo, Sena e Nyungwe. Para além dos grupos identificados,
existem outros localizados na costa norte, cuja característica particular é a influência patriarcal islâmica
que apresentam: são os Mwani.

1. Os makondes

Os Makonde localizam-se no extremo norte, junto ao rio Rovuma. Encontram-se igualmente no sul da
Tanzânia, em número maior que em Moçambique. Apresentam como traços culturais particulares a
escultura em madeira, o uso de máscaras nas cerimónias relacionadas com os ritos de iniciação e a
execução da dança tradicional conhecida por “mapico”. Foi em Mueda, centro dos Makonde, que em 16
de Junho de 1960 as autoridades portuguesas reprimiram uma manifestação política da população local
assassinando várias centenas de pessoas, fenómeno que passou a ser conhecido na história por
Massacre de Mueda. Foi na região dos Makonde, no posto administrativo de Chai, que em 25 de
Setembro de 1964 é desencadeada a Luta Armada de Libertação Nacional, 47 anos depois que essa
mesma região se constituiu no último foco da submissão à ocupação militar portuguesa.

2. Os Yaos
Os Yao, também conhecidos por Ajaua, ocupam a região junto ao lago Niassa e o norte da província com
o mesmo nome. Os Yao também se encontram no Malawi e no sul da Tanzânia. Fontes históricas
revelam que os Yao eram bastante activos o comércio à longa distância, ligando as regiões do interior
com a costa do Índico: Quílua, na Tanzânia, e Ilha de Moçambique. Antes dos finais do século XVIII eram
os principais fornecedores de marfim. Segundo Rita-Ferreira (1982:124) os Ajaua transitaram para as
formas de comércio internacional com Quílua e Ilha de Moçambique de uma forma gradual, a partir de
trocas regionais restritas e regionais de peles, produtos agrícolas e utensílios de ferro até atingir o nível
de uma florescente e bem organizada exportação de marfim, nos finais do século XVIII. Rita-Ferreira diz
ainda que no primeiro quartel do século XIX os Ajaua tinham-se transformado nos maiores fornecedores
de escravos exportados para Mossuril (ibid.:285). Dado o seu contacto regular com a costa de influência
muçulmana, os Ajaua islamizaram-se mais cedo que os outros povos do interior. Entretanto, uma
islamização significativa viria a acontecer depois de 1890, em resposta à pressões trazidas pela
ocupação colonial (Cf. Ibid.:289).

3. Makuwa

Os Makhuwa, por vezes considerados como duas entidades diferentes, constituem a etnia de
Moçambique dispersa por um vasto território que no passado se estendia, do rio Zambeze ao rio
Messalo, a Sul e Norte, respectivamente, do Oceano Índico, a Este, até à actual fronteira com o Malawi,
a Oeste;

Na actualidade, com o centro em Nampula, os Makhuwa-Lomwe espalham-se para partes das províncias
de Cabo Delgado, Niassa e Zambézia. Importantes agrupamentos Makhuwa encontram-se também no
Madagáscar, no sul da Tanzânia e no Malawi, também a sul. Os Makhuwa reclamam, segundo a
tradição, uma origem mítica comum, como comuns são também a sua organização sócio-familiar e a
língua que falam. Alguns estudos advogam ser este o grupo bantu mais antigo desta parte da África
Austral.
Entre os makuwas, as linhagens familiares estão extensivamente representadas em todo o território
[étnico], levando-nos à conclusão do íntimo parentesco existente entre as gentes que constituem aquilo
a que tem sido uso apodar de “tribos” Macuas. Igualmente, se encontram as mesmas linhagens
familiares (mahimo) em todas as “tribos” Macuas e Lomues, cada qual reportando-se ao mesmo
fundador antepassado. O que nos permite reconhecer que todas as chamadas “tribos” Macuas e
Lomues são afinal um mesmo povo, embora por vezes assumindo variações regionais (1970:106).

4. Maraves

A norte do rio Zambeze, na província de Tete e na parte ocidental da província do Niassa, encontram-se
os Marave. Os de Moçambique tomam a designação de Nyanja, enquanto os de Malawi são chamados
Chewa. Para além do Malawi, importantes sectores do povo Nyanja se localizam na Tanzânia, Zâmbia e
Zimbabwe. Os Marave são associados ao império do mesmo nome que se desenvolveu nas regiões onde
hoje é Zambézia e Nampula, por volta dos séculos XVI e XVIII e que, tal como os Ajaua, se envolveu no
comércio de marfim e de escravos. Possuem uma organização matrilinear e tradições culturais
particulares.

Junto ao rio Zambeze concentram-se inúmeras etnias com características específicas e exteriores aos
grupos étnicos referidos, como são os casos dos Chuwabo, Sena e Nhnungwe, designados
habitualmente como “Povos do Baixo Zambeze”.
5. Shonas

Os Shona ocupam os territórios entre os rios Save e Zambeze, subdividindo-se em três grupos distintos:
Ndau, Manyka e Tewe. De uma forma geral, surgem espalhados pelas províncias de Manica, Tete e
Sofala e, ainda, por algumas províncias do Zimbabwe. Esta etnia está associada às ruínas do grande
Zimbabwe, entre outros amuralhados de pedra da região.

Shonas ou Xonas são um grupo de povos de línguas bantu que habitam o Zimbábue, a norte do rio
Lundi, e no sul de Moçambique. Foram notáveis por suas peças de ferro, cerâmica e música, dentre os
quais podem ser destacados os zezuru, karanga, manyika, tonga-korekore e ndau. Com numeração cerca
de nove milhões de pessoas, que falam uma série de dialetos relacionados cuja forma normalizada é
também conhecida como Shona (Bantu). Um pequeno grupo de imigrantes falando Shona dos anos
1800 também vivem na Zâmbia, no vale do rio Zambeze, na área de Chieftainess Chiawa. O Shona era
tradicionalmente agrícola cultivando feijão, amendoim, milho, abóboras, e batata doce.

Os ndaus são um grupo étnico que habita o vale do rio Zambezi, do centro de Moçambique até o seu
litoral, e o leste do Zimbábue, ao sul de Mutare. Os ancestrais dos ndaus eram guerreiros da Suazilândia
que se misturaram com a população local, constituída etnicamente por manikas, barwes, tewes, nas
províncias moçambicanas de Manica e Sofala. A população local do Zimbábue, antes da chegada dos
Gaza Nguni, descenderia primordialmente de Mbire, próxima à actual Hwedza. Os ndaus falam um
idioma que pertence à família linguística xona, o ndau.
6. Bitonga e Chope

Os Bitonga e os Chope concentram-se no sul do país, junto à costa, e nos arredores da cidade de
Inhambane, os primeiros, e numa faixa que vai para mais a sul, os segundos que também povoam parte
de Gaza, mantiveram ao longo dos séculos uma proximidade cultural com os Tsonga.

Os chopes são dos distritos de Zavala e Inharrime, na província de Inhambane. Este povo viveu
tradicionalmente da agricultura de subsistência. Historicamente, alguns chopes foram escravizados e
outros tornaram-se trabalhadores migrantes na África do Sul. Os chopes são conhecidos
internacionalmente pelo instrumento musical mbila e dança associada, uma manifestação cultural
conhecida desde o tempo de Gungunhana, que foi considerada pela Unesco, como Patrimônio Oral e
Imaterial da Humanidade. Os chopes identificam-se culturalmente, como povo, com o elefante.

7. Os Tsongas

Os Tsongas subdividem-se em três grupos particulares: os Ronga (do extremo Sul até ao rio Limpopo), os
Changane (junto ao rio Limpopo) e os Tswa (a norte do rio Limpopo e até ao rio Save). Possuem uma
organização patrilinear. Os Tsonga constituem o grupo que, durante os três últimos quartéis do século
XIX estiveram sob influência directa do império nguni de Gaza.
Landins ou Vátuas, era o nome genérico dado aos indígenas de Moçambique, a sul do rio Save. Tinham
tradições guerreiras sendo o seu último grande imperador, Gungunhana o Leão de Gaza, sido
destronado pelos portugueses depois de grandes combates entre 1894 e 1895.

O grupo Tsonga tem continuidades nos territórios da África do Sul e da Suazilândia.

Referencia bibliográfica

FERREIRA, Antonio Rita. Agrupamento e Caracterização Étnica dos Indígenas de Moçambique.


Disponível em: http://www.malhanga.com/flipbook/estudos.documentos/

IVALA. Adelino Zacarias. O ensino de História e as relações entre os poderes autóctone e moderno em
Moçambique, 1975-2000. Doutorado em Educação/Currículo. Pontifícia Universidade Católica de São
Paulo. São Paulo. 2002

link comentar favorito

« anteriorinícioseguinte »

1 comentário

Sem imagem de perfil

Jaime Newton Gode


20.01.23

Agradeço pela informação. Óptimo trabalho

link responder

Comentar post

MACHACA

machaca.blogs.sapo.

Você também pode gostar