Você está na página 1de 4

‭Quem eram as negras e os negros minas da capitania de Minas Gerais no século XVIII?


‭Aldair Rodrigues‬

‭-‬ A ‭ nálise‬‭da‬‭polissemia‬‭mina‬‭e‬‭os‬‭sentidos‬‭que‬‭o‬‭termo‬‭adquiriu‬‭na‬‭zona‬‭mineradora‬‭da‬
‭América Portuguesa.‬
‭-‬ ‭Nomenclatura mais específica vinculada aos povos oriundos da África Ocidental.‬
‭-‬ ‭Dependendo‬ ‭do‬ ‭contexto‬ ‭e‬ ‭do‬ ‭momento‬ ‭da‬ ‭vida‬ ‭de‬ ‭uma‬ ‭pessoa,‬ ‭a‬‭nação‬‭que‬‭estava‬
‭associada‬ ‭poderia‬ ‭designar‬ ‭topônimos‬ ‭das‬ ‭macro-áreas‬ ‭da‬ ‭organização‬ ‭do‬ ‭tráfico,‬
‭portos‬ ‭de‬ ‭embarque,‬ ‭reinos‬ ‭e‬ ‭impérios,‬ ‭micro‬ ‭filiações‬ ‭políticas,‬ ‭classificações‬
‭linguísticas‬ ‭de‬ ‭diversos‬ ‭níveis,‬ ‭etnônimos‬ ‭que‬ ‭designavam‬ ‭identidades‬ ‭mais‬
‭específicas e auto adscrição.‬
‭-‬ ‭Essa‬ ‭polissemia‬ ‭era‬ ‭constituída‬ ‭em‬ ‭meio‬ ‭a‬ ‭uma‬ ‭ampla‬ ‭cadeia‬ ‭afro-atlântica‬ ‭de‬
‭produção‬ ‭de‬ ‭conhecimento‬ ‭articulada‬ ‭por‬ ‭ladinos,‬ ‭intérpretes,‬ ‭marinheiros,‬
‭missionários,‬‭agentes‬‭comerciais‬‭estabelecidos‬‭nas‬‭feitorias,‬‭traficantes,‬‭proprietários‬‭e‬
‭pelos‬ ‭próprios‬ ‭africanos,‬ ‭cuja‬ ‭ação‬ ‭histórica‬ ‭interferia‬ ‭na‬ ‭construção‬‭dos‬‭sentidos‬‭da‬
‭taxonomia sobre suas origens.‬
‭-‬ ‭Não‬‭se‬‭tratava‬‭de‬‭um‬‭processo‬‭unilateral‬‭e‬‭tampouco‬‭as‬‭nações‬‭possuíam‬‭significados‬
‭primordiais que linearmente remontavam à África.‬

‭Dinâmicas sociais e configurações da nação mina‬


‭-‬ ‭Na‬ ‭percepção‬ ‭do‬ ‭governo‬ ‭colonial,‬ ‭o‬ ‭tráfico‬ ‭transatlântico‬ ‭do‬ ‭século‬ ‭XVIII‬ ‭estava‬
‭organizado‬ ‭em‬ ‭dois‬ ‭grandes‬ ‭eixos:‬ ‭portos‬ ‭da‬ ‭África‬ ‭Ocidental‬ ‭e‬ ‭portos‬ ‭da‬ ‭África‬
‭Centro-ocidental.‬
‭-‬ ‭Essa lógica causava impactos diretos na nomenclatura das nações.‬
‭-‬ ‭Escravizados da‬‭África Ocidental‬‭eram classificados‬‭como minas.‬
‭-‬ ‭Escravizados da África centro Ocidental eram classificados como Angola.‬
‭-‬ ‭Optavam por classificar os africanos por macro-área.‬
‭-‬ ‭Problemática‬ ‭da‬ ‭categorização‬ ‭de‬‭muitos‬‭em‬‭um‬‭só,‬‭o‬‭que‬‭silencia‬‭histórias,‬‭línguas,‬
‭culturas,‬ ‭costumes‬ ‭e‬ ‭religiões,‬ ‭sem‬ ‭historicizar‬ ‭os‬ ‭sujeitos‬ ‭e,‬ ‭também,‬ ‭sem‬ ‭levar‬‭em‬
‭consideração suas memórias e histórias.‬
‭-‬ ‭Ao‬ ‭mesmo‬ ‭tempo‬ ‭que‬ ‭o‬ ‭apelativo‬ ‭mina‬ ‭englobava‬ ‭a‬‭diversidade‬‭de‬‭povos‬‭da‬‭África‬
‭Ocidental,‬‭ele‬‭estava‬‭lastreado‬‭principalmente‬‭na‬‭densidade‬‭da‬‭concentração‬‭de‬‭grupos‬
‭falantes de línguas gbe deportados para o Brasil.‬
‭-‬ ‭Extensão‬‭da‬‭faixa‬‭litorânea‬‭onde‬‭os‬‭africanos‬‭poderiam‬‭ser‬‭embarcados:‬‭ia‬‭da‬‭Costa‬‭do‬
‭Ouro (atual Gana) até à Costa dos Escravos (atual Benim).‬
‭-‬ ‭Diversidade‬ ‭geográfica‬ ‭formada‬ ‭pelos‬ ‭portos‬ ‭não‬ ‭era‬ ‭proporcional‬ ‭ao‬ ‭número‬ ‭de‬
‭embarcados‬‭(no‬‭documento‬‭Galera‬‭Aleluia‬‭da‬‭Ressurreição‬‭e‬‭Almas,‬‭aponta-se‬‭o‬‭porto‬
‭de Ajudá como predomínio absoluto do local de embarque).‬
‭-‬ ‭Maioria falante de língua gbe e, alguns, de iorubá.‬
‭-‬ ‭População‬ ‭classificada‬ ‭como‬ ‭mina‬ ‭vinha‬ ‭de‬ ‭uma‬ ‭área‬ ‭muito‬ ‭mais‬ ‭extensa‬ ‭do‬ ‭que‬ ‭a‬
‭percorria‬‭pelo‬‭registro‬‭Galera‬‭Aleluia‬‭da‬‭Ressurreição‬‭e‬‭Almas‬‭(Cabo‬‭Lahú,‬‭Anambú,‬
‭Popo e Ajudá), englobando toda a África Ocidental.‬
‭-‬ ‭Lista de, aproximadamente, 29 nações.‬
‭-‬ E ‭ videntemente,‬ ‭nem‬ ‭toda‬ ‭tinham‬ ‭a‬ ‭mesma‬ ‭densidade‬ ‭demográfica.‬ ‭Alguns‬ ‭grupos‬
‭eram‬ ‭traficados‬ ‭ocasionalmente,‬ ‭enquanto‬ ‭outros‬ ‭constituíam‬ ‭comunidades‬ ‭e‬
‭identidades‬ ‭formadas‬ ‭por‬ ‭milhares‬ ‭de‬ ‭pessoas‬ ‭da‬ ‭mesma‬ ‭localidade‬ ‭ou‬ ‭de‬ ‭suas‬
‭proximidades.‬
‭-‬ ‭O contraste da classificação mina com os “centro-africanos)‬
‭-‬ ‭Minas‬ ‭como‬ ‭grupos‬ ‭étnicos‬ ‭falantes‬ ‭de‬ ‭língas‬ ‭gbe‬ ‭(fon,‬ ‭ewe,‬ ‭gun,‬ ‭hueda‬ ‭e‬ ‭mahi)‬
‭deportados provavelmente por Ajudá e, em menor proporção, Jaquem.‬
‭-‬ ‭Habitantes‬ ‭dessa‬ ‭região‬ ‭africana‬ ‭compartilhavam‬ ‭uma‬ ‭série‬ ‭de‬ ‭afinidades‬ ‭culturais,‬
‭sendo uma das principais delas a religião vodun.‬
‭-‬ ‭Eles‬ ‭teriam‬ ‭sido‬ ‭escravizados‬ ‭sobretudo‬ ‭nos‬ ‭conflitos‬ ‭decorrentes‬ ‭da‬ ‭expansão‬ ‭do‬
‭reino‬ ‭do‬‭Daomé,‬‭que‬‭avançou‬‭do‬‭planalto‬‭de‬‭Abomey‬‭para‬‭o‬‭litoral,‬‭conquistando‬‭os‬
‭reinos de Aladá, em 1724,e Uidá, em 1727.‬
‭-‬ ‭Identidade‬‭tecida‬‭a‬‭partir‬‭de‬‭complexas‬‭relações‬‭sociais,‬‭estabelecidas‬‭principalmente‬
‭por meio de compadrio.‬
‭-‬ ‭A‬ ‭documentação‬ ‭cartorial‬ ‭analisada‬ ‭evidencia‬ ‭que‬ ‭nações‬ ‭mais‬ ‭específicas,‬ ‭como‬
‭ladá/ladano,‬ ‭courá/courano,‬ ‭sabarú‬ ‭etc.,‬ ‭não‬ ‭existiam‬ ‭apenas‬ ‭entre‬ ‭as‬ ‭comunidades‬
‭africanas.‬ ‭Eram‬ ‭termos‬ ‭plenamente‬ ‭correntes‬ ‭na‬ ‭sociedade‬ ‭mineradora,‬ ‭por‬ ‭isso‬
‭afloram na documentação oficial, inclusive de forma independente do rótulo mina.‬

‭Para além dos povos gbe: Cabo Verde, Nagô, Caravali, Chambá etc.‬
‭-‬ ‭A‬ ‭ampla‬ ‭diversidade‬ ‭geográfica‬ ‭e‬ ‭geopolítica‬ ‭que‬ ‭poderia‬ ‭estar‬ ‭associada‬ ‭ao‬ ‭termo‬
‭mina‬ ‭vai‬ ‭muito‬ ‭além‬ ‭dos‬ ‭grupos‬ ‭gbe‬ ‭descritos‬ ‭acima,‬ ‭embora‬ ‭eles‬ ‭constituíssem‬ ‭a‬
‭maioria absoluta da população afro-ocidental que vivia em Minas Gerais.‬
‭-‬ ‭Diferentemente‬‭da‬‭Bahia‬‭,‬‭onde‬‭as‬‭pessoas‬‭de‬‭nação‬‭nagô‬‭eram‬‭classificadas‬‭de‬‭forma‬
‭separada‬‭dos‬‭gbe-falantes‬‭(nação‬‭jeje‬‭),‬‭em‬‭Minas‬‭Gerais‬‭os‬‭subgrupos‬‭iorubás‬‭eram‬
‭associados ora à nação mina (mina nagô), ora formavam uma nação autônoma (nagô).‬
‭-‬ ‭Embora‬ ‭seja‬ ‭possível‬ ‭determinar‬ ‭suas‬ ‭localizações‬ ‭geográficas‬ ‭de‬ ‭forma‬ ‭precisa,‬ ‭os‬
‭nagôs‬‭trazidos‬‭para‬‭o‬‭Brasil‬‭ao‬‭longo‬‭do‬‭Setecentos‬‭seriam‬‭grupos‬‭étnicos‬‭que‬‭viviam‬
‭na‬‭parte‬‭ocidental‬‭dos‬‭territórios‬‭iorubás,‬‭que‬‭constituíam‬‭uma‬‭ampla‬‭região‬‭a‬‭sudoeste‬
‭de Ile Ife e ao nordeste do Daomé.‬
‭-‬ ‭Os‬ ‭iorubás‬ ‭enviados‬ ‭da‬‭Bahia‬‭para‬‭as‬‭províncias‬‭do‬‭sudeste‬‭brasileiro‬‭como‬‭parte‬‭da‬
‭política‬ ‭repressiva‬ ‭à‬ ‭Revolta‬ ‭dos‬ ‭Malês‬ ‭de‬ ‭1835,‬‭nos‬‭quadros‬‭do‬‭aumento‬‭do‬‭tráfico‬
‭interprovincial,‬ ‭tenderiam‬ ‭a‬‭ser‬‭categorizados‬‭como‬‭minas,‬‭principalmente‬‭no‬‭Rio‬‭de‬
‭Janeiro e Rio Grande do Sul.‬
‭-‬ ‭Chambás‬ ‭(tchambás)‬ ‭e‬ ‭Cabo‬ ‭Verde‬ ‭com‬ ‭poucas‬ ‭informações‬ ‭a‬ ‭respeito‬ ‭de‬ ‭seu‬
‭contexto‬ ‭de‬ ‭escravização‬ ‭e‬ ‭deslocamento‬‭até‬‭o‬‭interior‬‭brasileiro,‬‭assim‬‭como‬‭outros‬
‭presentes grupos e povos.‬
‭-‬ ‭Infelizmente,‬‭não‬‭foi‬‭encontrado‬‭subsídios‬‭para‬‭decifrar‬‭as‬‭origens‬‭de‬‭outros‬‭pequenos‬
‭grupos‬ ‭que‬ ‭aparecem‬ ‭com‬ ‭pouca‬ ‭frequência‬ ‭na‬ ‭documentação‬ ‭e,‬ ‭por‬ ‭vezes,‬ ‭são‬
‭atrelados‬‭aos‬‭minas,‬‭o‬‭que‬‭configura‬‭cada‬‭vez‬‭mais‬‭o‬‭silenciamento‬‭e‬‭apagamento‬‭de‬
‭identidades.‬

‭O que o termo genérico mina esconde?‬


‭-‬ O ‭ ‬ ‭fato‬ ‭de‬ ‭a‬ ‭maioria‬ ‭dos‬‭testadores‬‭optar‬‭por‬‭caracterizar‬‭os‬‭afro-ocidentais‬‭por‬‭meio‬
‭do‬ ‭termo‬ ‭genérico‬ ‭mina‬ ‭não‬ ‭significa‬ ‭que‬ ‭desconhecessem‬ ‭suas‬ ‭origens‬ ‭em‬ ‭níveis‬
‭mais detalhados.‬
‭-‬ ‭Em testamentos, há listagens como “Antonio courano e Francisco Courano”.‬
‭-‬ ‭Se‬ ‭artifícios‬ ‭como‬ ‭especificidades‬ ‭de‬ ‭“nação”‬ ‭foram‬ ‭recorridos,‬ ‭significa‬ ‭que‬
‭esperavam‬ ‭que‬ ‭os‬ ‭interlocutores‬ ‭que‬ ‭iriam‬ ‭ler‬ ‭e‬ ‭executar‬ ‭os‬ ‭testamentos‬ ‭também‬
‭saberiam o que significava ser, por exemplo, de origem courá.‬
‭-‬ ‭A‬‭grade‬‭de‬‭terminologias‬‭específicas‬‭emerge‬‭nos‬‭testamentos‬‭por‬‭meio‬‭de‬‭mais‬‭outras‬
‭duas‬‭configurações.‬‭Uma‬‭delas‬‭era‬‭a‬‭formação‬‭de‬‭nações‬‭compostas‬‭para‬‭expressar‬‭as‬
‭vinculações‬ ‭entre‬ ‭o‬ ‭geral‬ ‭e‬ ‭o‬ ‭particular,‬ ‭tais‬ ‭como‬ ‭“mina‬ ‭ladina”,‬ ‭“ladá‬ ‭mina”,‬ ‭ou‬
‭“mina sabarú”, “mina cobu”, entre outras.‬
‭-‬ ‭Como‬ ‭vemos,‬ ‭o‬ ‭termo‬ ‭genérico‬ ‭mina‬ ‭convivia‬ ‭em‬ ‭um‬ ‭mesmo‬ ‭documento‬ ‭com‬
‭construções em que eram destacados os subgrupos englobados pela nação mina.‬
‭-‬ ‭Em‬ ‭outros‬ ‭registros,‬ ‭as‬ ‭origens‬ ‭que‬ ‭despontam‬ ‭como‬ ‭subgrupos‬ ‭atrelados‬ ‭ao‬ ‭meta‬
‭etnônimo‬ ‭mina‬ ‭poderiam‬ ‭se‬ ‭desprender‬ ‭e‬ ‭ganhar‬ ‭autonomia‬ ‭como‬ ‭nação.‬ ‭Se‬ ‭no‬
‭exemplo anterior sabarú era um subgrupo mina, aqui torna-se uma nação.‬
‭-‬ ‭Os‬‭testamentos‬‭permitem‬‭ainda‬‭uma‬‭análise‬‭das‬‭dinâmicas‬‭subjacentes‬‭à‬‭terminologia‬
‭das origens a partir das relações sociais tecidas nas senzalas.‬
‭-‬ ‭No‬‭cotidiano‬‭da‬‭senzala,‬‭do‬‭trabalho‬‭nas‬‭lavras‬‭e‬‭roças,‬‭das‬‭ruas,‬‭vendas,‬‭irmandades,‬
‭terreiros‬ ‭e‬ ‭outros‬ ‭espaços‬ ‭de‬ ‭convivência‬ ‭social,‬ ‭os‬ ‭africanos‬ ‭dialogicamente‬
‭construíam‬‭e‬‭difundiam‬‭narrativas‬‭sobre‬‭suas‬‭origens‬‭e‬‭seus‬‭pertencimentos‬‭como‬‭é‬‭o‬
‭exemplo‬ ‭de‬ ‭“Sebastião‬ ‭Sabarú‬ ‭sem‬ ‭sinal‬ ‭algum”,‬ ‭ou‬ ‭seja,‬ ‭sem‬ ‭marcas‬ ‭rituais‬ ‭desse‬
‭povo.‬
‭-‬ ‭Esta‬ ‭nomenclatura‬ ‭mais‬ ‭permeável‬ ‭à‬ ‭auto‬ ‭identificação‬ ‭não‬ ‭ficava‬ ‭restrita‬ ‭às‬
‭comunidades‬ ‭formadas‬ ‭pelos‬ ‭forros‬ ‭e‬ ‭escravizados;‬ ‭adquiriram‬ ‭ampla‬ ‭circulação‬ ‭na‬
‭sociedade colonial.‬
‭-‬ ‭Este‬ ‭fenômeno‬ ‭explicaria‬ ‭um‬ ‭aspecto‬ ‭importante‬ ‭da‬ ‭grande‬ ‭ressonância‬ ‭do‬ ‭termo‬
‭mina.‬ ‭Com‬ ‭o‬ ‭tempo,‬ ‭tanto‬ ‭os‬ ‭portugueses‬ ‭como‬ ‭os‬ ‭africanos‬ ‭e‬ ‭seus‬ ‭descendentes‬
‭aprenderam‬‭a‬‭manejar‬‭os‬‭códigos‬‭sociais‬‭e‬‭culturais‬‭encapsulados‬‭pelas‬‭nações‬‭e‬‭suas‬
‭complexidades.‬‭Aprendiam‬‭sobre‬‭as‬‭possibilidades‬‭de‬‭transformação‬‭dos‬‭termos‬‭mais‬
‭específicos‬ ‭na‬ ‭nomenclatura‬ ‭genérica‬ ‭que‬ ‭designava‬ ‭a‬ ‭macroárea‬ ‭mina;‬ ‭assim‬ ‭como‬
‭poderiam‬ ‭ter‬ ‭consciência‬ ‭de‬ ‭que‬ ‭o‬ ‭termo‬ ‭genérico‬ ‭se‬ ‭desdobrava‬ ‭em‬ ‭etnónimos‬ ‭e‬
‭topônimos africanos.‬
‭-‬ ‭Por‬‭outro‬‭lado,‬‭a‬‭força‬‭do‬‭termo‬‭mina‬‭e‬‭sua‬‭maleabilidade‬‭estava‬‭também‬‭atrelada‬‭ao‬
‭fato‬‭de‬‭nem‬‭sempre‬‭ser‬‭necessário‬‭mobilizar‬‭um‬‭conjunto‬‭de‬‭conhecimentos‬‭sobre‬‭as‬
‭origens‬ ‭no‬ ‭momento‬ ‭de‬ ‭nomear‬ ‭a‬ ‭nação‬ ‭de‬ ‭alguém.‬ ‭Elas‬ ‭não‬ ‭necessariamente‬ ‭se‬
‭tornaram‬ ‭evidentes‬ ‭no‬ ‭cotidiano‬ ‭das‬ ‭relações‬‭sociais‬‭e‬‭nem‬‭todos‬‭os‬‭senhores‬‭teriam‬
‭necessidade‬ ‭ou‬ ‭interesse‬ ‭em‬ ‭defini-las.‬ ‭Nesses‬ ‭casos,‬ ‭o‬ ‭termo‬ ‭mina‬ ‭teria‬ ‭o‬ ‭seu‬
‭significado‬ ‭definido‬ ‭simplesmente‬ ‭em‬ ‭contraste‬ ‭com‬ ‭os‬ ‭centro-africanos.‬ ‭Daí‬‭ficaria‬
‭também evidente a força do tráfico no estabelecimento das nações e seus significados.‬

‭O que caracterizava os minas? Como eram diferenciados dos outros africanos?‬


‭-‬ ‭Moacir‬ ‭Maia‬ ‭sugere‬ ‭que‬ ‭o‬ ‭critério‬ ‭linguístico‬ ‭seria‬ ‭um‬ ‭dos‬ ‭principais‬ ‭elementos‬
‭mobilizados pelos agentes eclesiásticos ao estabeleceram o rol das nações.‬
-‭ ‬ “‭ Nação mina de língua geral”.‬
‭-‬ ‭Acreditava-se‬ ‭que‬ ‭o‬ ‭aumento‬ ‭do‬ ‭tempo‬ ‭de‬ ‭convivência‬ ‭com‬ ‭a‬ ‭população‬ ‭africana‬
‭tendia a aumentar a especificação das origens nos assentos.‬
‭-‬ ‭Importância da língua geral da mina como critério de definição da nação mina.‬
‭-‬ ‭Alguns‬‭autores‬‭acreditam‬‭que‬‭a‬‭língua‬‭geral‬‭da‬‭mina‬‭falada‬‭em‬‭Minas‬‭Gerais‬‭teve‬‭seu‬
‭processo‬ ‭formativo‬ ‭relacionado‬ ‭à‬ ‭concentração‬ ‭de‬ ‭grupos‬‭étnicos‬‭falantes‬‭de‬‭línguas‬
‭gbe na área mineradora.‬
‭-‬ ‭Grau‬ ‭de‬ ‭intercompreensão‬ ‭entre‬ ‭as‬ ‭línguas‬ ‭gbe‬ ‭e,‬ ‭assim,‬ ‭talvez‬ ‭o‬ ‭que‬ ‭a‬ ‭sociedade‬
‭mineradora chamava de língua mina fosse esse processo de intercompreensão.‬
‭-‬ ‭O‬ ‭domínio‬ ‭desse‬ ‭conhecimento‬ ‭sobre‬ ‭as‬ ‭línguas‬ ‭era‬ ‭primordial‬ ‭no‬ ‭governo‬ ‭dos‬
‭escravizados,‬ ‭pois‬ ‭permitia‬ ‭aos‬ ‭proprietários‬ ‭escolher‬ ‭quais‬ ‭deles,‬ ‭quando‬ ‭ladinos,‬
‭poderiam‬ ‭servir‬ ‭de‬ ‭intermediários‬ ‭para‬ ‭se‬ ‭comunicar‬ ‭com‬ ‭outros‬ ‭africanos‬ ‭de‬ ‭sua‬
‭propriedade.‬

‭ referência‬ ‭por‬ ‭origens‬ ‭africanas‬ ‭na‬ ‭mineração‬ ‭e‬ ‭a‬ ‭preponderância‬ ‭dos‬ ‭povos‬‭gbe‬‭em‬
P
‭Minas Gerais‬
‭-‬ ‭Polissemia‬‭mina:‬‭esse‬‭termo‬‭como‬‭um‬‭descritor‬‭genérico‬‭referente‬‭à‬‭classificação‬‭dos‬
‭africanos‬‭por‬‭macro-área,‬‭ou‬‭seja,‬‭Mina‬‭eram‬‭as‬‭pessoas‬‭trazidas‬‭da‬‭África‬‭Ocidental,‬
‭quando‬ ‭o‬ ‭critério‬ ‭classificatório‬ ‭fosse‬ ‭o‬ ‭contraste‬ ‭com‬ ‭a‬ ‭origem‬ ‭da‬ ‭África‬
‭Centro-ocidental.‬‭Assim,‬‭o‬‭termo‬‭abrange‬‭uma‬‭ampla‬‭variedade‬‭de‬‭povos‬‭que‬‭viviam‬
‭na vasta zona que ia da Sengâmbia até o golfo de Biafra.‬
‭-‬ ‭Após‬ ‭investigação‬ ‭de‬ ‭fontes,‬ ‭descobriu-se‬ ‭que‬ ‭suas‬ ‭origens‬ ‭específicas,‬ ‭em‬
‭esmagadora‬‭maioria,‬‭eram‬‭grupos‬‭da‬‭Baía‬‭do‬‭Benim.‬‭Dentre‬‭eles,‬‭estavam‬‭os‬‭nagôs‬‭e,‬
‭sobretudo,‬ ‭povos‬ ‭falantes‬ ‭de‬ ‭gbe‬ ‭(fons,‬ ‭ladanos,‬ ‭couranos,‬ ‭cobus‬ ‭e‬ ‭savalous),‬
‭escravizados‬ ‭no‬ ‭contexto‬ ‭conflituoso‬ ‭da‬ ‭construção‬ ‭e‬ ‭afirmação‬ ‭da‬ ‭hegemonia‬
‭daomeana na região durante as primeiras décadas do século XVIII.‬
‭-‬ ‭Classificados‬‭como‬‭melhores‬‭e‬‭mais‬‭hábeis‬‭para‬‭as‬‭minas‬‭de‬‭ouro.‬‭Quanto‬‭aos‬‭preços,‬
‭advertia‬ ‭que‬ ‭“se‬ ‭compram‬ ‭estes‬ ‭por‬ ‭dobrado‬ ‭dinheiro‬ ‭que‬ ‭os‬ ‭de‬ ‭Angola‬ ‭por‬ ‭serem‬
‭inúteis para tirar ouro”‬
‭-‬ ‭Predileção brasileira pela nação courá, por serem “melhores nos trabalhos das minas”.‬
‭-‬ ‭Depois‬‭de‬‭meados‬‭da‬‭centúria,‬‭houve‬‭uma‬‭grande‬‭mudança‬‭demográfica‬‭na‬‭população‬
‭africana‬ ‭das‬ ‭regiões‬ ‭centrais‬ ‭da‬ ‭capitania,‬ ‭os‬ ‭centro-ocidentais‬ ‭passaram‬ ‭a‬ ‭ser‬ ‭a‬
‭maioria em vários arraiais.‬
‭-‬ ‭Busca pela historicização desses sujeitos.‬

Você também pode gostar