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ESCRAVIDÃO
ERACISMO
Segunda edição
revista e acrescida do Apêndice
EDITORA HUCITEC
ISBN 85-271-0049-5
Foi feito o depósito legal
SUMÁRIO
ESCRAVIDÃO E CAPITALISMO 15
Acumulação primitiva e trabalho escravo. 15
Aspectos da formação social escravista 26
crise da escravatura 35
Expansão capitalista e
senhor e[cravo 41
O e o .
RAÇA E CLASSE 71
Raça e cultura 71
Casta e classe 77
Reprodução social das raças 82
Consciência de alienação 88
Consciência politica 95
Segunda parte
ESCRAVIDÃO E HISTÓRIA .. 105
O presente e a idealização do passado.. 105
Eficácia e humanidade da escravatura 110
Apêndice
O MARXISMO E A QUEST RACIAL 181
PREFÁCIO A SEGUNDA EDIÇÃO
tra expressão.
São Paulo, janeiro de 1987 Octavio Ianni
PREFACIO A PRIMEIRA EDIÇÃO
(13) Karl Marx, 0 capital, citado, Livro 1, vol. 2, cap. XXV, intitu-
lado "Teoria moderna da colonização", p. 883-894; Enrique Semo,
Historia del capitalismo en Mérico, citado, esp. cap. V.sobre o tra-
balho em "La República de los Españoles", p. 188-229.
26 ESCRAVIDÃO E RACISMO
a esfera da comercialização
precisou subordinar-se às exi
comércio de matérias-primas
gências da produção. Isto é, o
e manufaturados passou a ser comandado pelas exigências
da reprodução do capital na esfera da produção. Dai por.
a combater a escravidão em suas
que a Inglaterra passou
próprias colônias. Quando o capital industrial adquiriu
predomínio sobre o comercial, o lucro passou a ser o resul
40 ESCRAVIDÃO E RACISMO
O SENHOR E O ESsCRAVO
222-225.
pany, New York, 1956, p.
(54) E. J. Hobsbawm, The age of revolution: 1789-1848. Mentor
Books, New York. 1964.
56 ESCRAVIDÃO E RACISMo
mais (0).
LIBERDADE E MAIS-VALIA
vestir maiores
versificar as aplicações em capital variável (salários)
Assim
segundo as exigências do ciclo do capital produtivo.
em escravaria.
ele livra da inversã Ociosa, ou arriscada,
se
escravatura criam-se ou-
Antes da mais nada, ao abolir-se a
e circulaa-
tras e mais amplas possibilidades de produção
70 ESCRAViDAO E RACISMO
RAÇA E CULTURA
transforma-se
Na América Latina e no Caribe, o africano
em negro e mulato. Ao longo de
vários séculos, e sob as
mais variadas condições sociais, o africano passa por per
sonificações ou figurações sociais como as seguintes: es
cravo, boçal, crioulo, ladino, ingênuo,
liberto, mulato oou
o indio, o mestiço, o
negro. No confronto com o branco,
outros tipos so-
imigrante europeu, o imigrante asiático e
ciais, paulatinamente o africano é transformado em negro
e mulato. E s o estes, o negro e o mulato, que aparecem
no horizonte social do branco e de si mesmos, no século
XX. Aparecem nas relações de trabalho, relações políticas,
sociais que
religiosas, sexuais, lúdicas e outras, como tipos
fenotíi
são diferentes do branc0, em seus atributos fisicos,
Na trama das relações
picos, psicológicos ou culturais (').
sociais, o branco, e o próprio negro, acabam por pensar
e
outra cultura, outro modo
agir como se o negro posuisse
() A partir deste ponto, o negro e o mulato serão englobados
freqüentemente na negro. Algumas vezes, conforme as
expressão
da narraçã0, destacarei um ou outro. Outra observação:
exigências o país e a época, em geral a dis-
Salvo nos casos em que especifico
o conjunto dos países da Amé-
cussão feita neste trabalho engloba
houve escravatura de africanos e
rica Latina e do Caribe nos quais
descendentes. Em nenhum momento a discussão enfoca a si-
seus
Cuba socialista.
tuação racial em
72 ESCRAVIDÃO E RACISMO
de avaliar as
relações dos homens entre si, com a natureza
e o sobrenatural. Não é como o branco, é diferente, outro,
estranho. Em geral, é uma raça subalterna. Em quase to
dos os paises, o negro aparece como a segunda ou a
tercei
ra raça, depois do branco ou índio.
Esse é o significado
sociológico de raça negra. As dife-
renças raciais, socialmente reelaboradas, engendradas ou
codificadas, são continuamente recriadas e reproduzidas,
preservando, alterando, reduzindo ou mesmo acentuandoo
OS caracteristicos
físicos, fenotípicos, psicológicos ou cul-
turais que distinguiram o branco do negro. As
distinções e
diferenças biológicas, nacionais, culturais, lingüísticas, reli
giosas ou outras são continuamente recriadas e reproduzi-
das nas relações entre as
pessoas, as famílias, os grupos e
as classes sociais. Nas
várias esferas da organização social,
nas relações de trabalho, na
prática religiosa, nas relações
entre os sexos, na família, na
produção artística, no lazer
e em outras
situações, as raças são seguidamente recriadas
e reproduzidas como socialmente distintas e desiguais. Em
cada país pode variar a
composição dos critérios sociais
para classificar as pessoas, famílias, grupos ou classes em
brancos, indios, mestiços, negros, mulatos e outras catego
rias sociais. Mas em todos, para o
branco, índio, mestiço,
italiano, alemão, japonés, inglês, francês e outros, o negro
pertence a outra raça, a um universo de valores e padrões
sócio-culturais pouco ou muito diferente daquele do branco.
Em termos mais especificos, nas
Américas o critério para defi-
nir raças sociais difere de
região para região. Em dada região, en-
fatiza-se a descendência, em outra ressaltam-se os critérios
culturais e, ainda sócioo-
numa outra, a aparência física é base
para classificar a pessoa segundo a raça social. Isso primeira a
produção.
Essas três interpretações não são necessariamente exclu
sivas. Uma pode ser compreendida pela outra. Sob certo
aspecto, a primeira e a segunda podem ser englobadas pela
terceira. O fato de que as relações e estruturas capitalistas
criem os elementos culturais (materiais, organizatórios, es-
pirituais e outros) que lhes correspondem não impede que
alguns elementos culturais africanos e escravistas também
estejam presentes. As relações e estruturas capitalistas têm
a faculdade de criar e recriar tanto o que é novo como o
que é velho. A heterogeneidade, a desigualdade e a contra-
dição culturais (em termos materiais e espirituais) fazem
parte necessária da heterogeneidade, desigualdade e con-
tradição característica das relações e estruturas capita
listas.
O que está no centro de cada uma das interpretações
sobre a contribuição cultural das populações da África às
sociedades da América Latina e do Caribe) é a singularida-
de do negro: em que termos e por que ele aparece ao bran-
co e a si mesmo como um tipo social singular, como outra
raça, outra forma de pensar, sentir e agir? A questão cen-
tral, pois, é explicar como se produz historicamente a me
tamorfose do africano em negro.
Para aparecer no século XX como negro, na América La-
tina e no Caribe, o africano n o só foi escravo mas tam-
bém transformou-se em operário. Mais que isso, no século
XX o negro foi transformado ou transformou-se em operá-
rio industrial, operário agrícola, braçal, especializado, fun-
cionário, empregado, comerciante, sitiante, estudante, polí-
tico, intelectual e outras figurações sociais. E é sob essas
formas que ele se reproduz no século XX; não se reproduz
nem como africano nem como escravo. O que há de africa
no ou escravo em sua cultura, ou visão do mundo, não se
explica apenas como sobrevivência, mescla de culturas ou
articulações sincréticas sob as quais se esconde o ex-afri-
cano ou ex-escravo. O que há de africano ou escravo na
cul
RAÇA E CLASSE 77
CASTA E CLASSE
Regro não espere do branco senã iavores, não lhe copie os modelos
de vida não tenta integrar-se no seu grupo, preferindo ficar "entre
OS seus", onde não sofrerá, na verdade, qualquer frustração, já que
evita a luta. A festa, por outro lado, mistura bem, numa mesma
alegria, as etnias e as cores, mas cada uma fica separada; nas pro-
cissões religiosas, as confrarias dos negros vêm na frente e as con
Trarias dos brancos vêm em seguida, com as autoridades munici-
pais; os brancos dançam nos salões, os negros na rua; as cores se
acotovelam mais do que se fundem verdadeiramente. Assim, se o
grupo negro tem, em toda a América Latina, ao contrário da Amé-
rica anglo-saxônica, relações amigáveis com os outros grupos ra-
clais, permanece separado na vida privada, familiar e cotidiana (14).
CONSCIENCIA DE ALIENAÇÃO
CONSCINCIA POLfTICA
A metamorfose do escravo em negro e mulato é também
a metamorfose de uma fornma de alienação a outra. Na es
cravatura, o escravo é alienado no produto do seu trabalho
e em sua pessoa. E é nessa condição que ele reelabora ou
recria elementos da cultura africana, em combinaç o com
a cultura da sua própria condição escrava. Nesse contexto,
a religião, magia, música, folclore e língua tornam-se a ex-
pressão de um empenho em garantir um universo sócio-
cultural restrito, no qual o escravo se refugia, expressa,
afirma e resiste à cultura da escravidão. A casta dos senho-
res concede esse refugio. Inclusive toma esse universo só
cio-cultural como prova de que a casta dos escravos é de
fato outra raça. A despeito disso, as relações, os valores e
as estruturas articulados em torno da religiao, magia, m
sica, folclore e língua acabam por tornar-se o universo só-
cio-cultural em que o escravo se refugia e guarda a sua
rebeldia, o seu protesto, a sua negação da condição escra
va. Aqui, o negro e o mulato estão subsumidos na condi
ção escrava, da casta escrava. Ao passo que na sociedade
96 ESCRAVIDÃO E RACISMOo
agricu ltura escrav ista não era inefic az; o escrav o típico
não era pregu içoso, incapa z nem impro dutivo ; a escravi-
dão não era incom patíve l com a produ ção indus trial; ao
contrá rio de promí scua ou desorg anizad a, a famíli a escra-
va era organ izada e proteg ida; as condi ções mater iais de
vida do escrav o eram compa tíveis com as do operá rio; o
escrav o aprop riava-se de cerca de 90 por cento da renda
produ zida por ele; longe de achar- se estagn ada, a econo mia
escrav ista havia cresci do bastan te no períod o que antece de
à guerr a civil ( 16 ) . Todas essas questõ es, no entan to, não
nos explic am ou indica m nem como o sistem a se f armou
nem como ele sucum biu. Seria neces sário prova r, pela pes-
quisa histór ica, que a guerra foi um equívo co, um aciden-
te, ou um fato extern o ao funcio namen to da escrav atura.
Além do mais, em Time on the Cross não se explo ram os
proble mas, as inquie tações e os antago nismo s vigen tes no
Sul, ou produ zidos nas relaçõ es do Sul com o Norte . Por
exemp lo, não analis am as implic ações da coexis tência e das
articu lações entre a força de trabal ho escrav a e a força de
trabal ho livre, quant o às possib ilidad es de desenv olvim en-
to da divisã o do trabal ho social, sofisti cação profis sional ,
produ tivida de, monta nte e versat ilidad e de capita l neces-
sário para sua compr a, eficác ia dos incent ivos ao trabal ha-
dor, custo das técnic as de contro le e repres são. Tamb ém
não analis am as tensõe s, latent es ou explíc itas, entre capi-
talista s e senho res de escrav os, no Sul e nas relaçõ es do Sul
com o Norte , quant o às doutri nas e prátic as econô micas e
sociai s; quant o às relaçõ es intern as no Sul, e recípr ocas en-
tre o Sul e o Norte ; quant o às relaçõ es extern as; e quant o à
mane ira de contro lar e dividi r o poder nacion al.
São essas, em resum o, as razões porqu e a anális e reali-
zada por Fogel e Engen nan sobre a escrav atura no Sul dos
Estad os Unido s deixa de lado e esque ce ·a histor icidad e do
sistem a analis ado. Ocorr e que em Time on the Cross a his-
tória não tem duraç ão. É verda de que os seus autore s con-
centra m a pesqu isa num períod o histór ico perfei tamen te
delim itado e explíc ito : as décad as que antece dem a guerr a
( 1s) Jb id e m , p. 123.
( 10 ) Robert W . Fogel and Stanley L. Engerm an, Op. cit., 2 vols.
ESCRA VIDAO E HISTóRIA 121
O probl ema princ ipal é expli car como a form ação socia l
escra vista é const ituída , ou se const itui, repro duz e entra
em crise . Toda vez que a análi se se limit a a expli car como
funci ona o sistem a escra vocra ta, a inter preta ção fica in-
comp leta, ou pode mesm o induz ir a um enten dime nto in-
corre to. Nesse sentid o, a interp retaç ão econo micis ta reali-
zada por Robe rt W. Fogel e Stanl ey L. Enge rman em Time
on the Cross , parec e-me incom pleta . E induz à concl usão
de que o escra vismo do Sul dos Estad os Unid os era uma
form ação socia l capit alista . Essa impre ssão é refor çada
pelas análi ses que impu tam comp ortam entos e relaç ões ca-
pitali stas a escra vos e senho res, quan to a econo mias de
escal a, comb inaçõ es ótima s de violê ncia e renda pecun iá-
ria, grada ção judic iosa da. força aplic ada ao escra vo na
plant ation , políti ca de plena utiliz ação do poten cial do tra-
balho escra vo etc. Impr essão essa que se refor ça ainda
mais pelo uso da induç ão quant itativ a, que categ oriza os
fenôm enos econô mico s na persp ectiv a da plant ation e do
senho r de escra vos, visto s como a empr esa e o empr esári o
capit alista s. Depo is de expli car a escra vatur a no Sul dos
Estad os Unid os como uma econo mia eficaz, prósp era, em-
presa rial e capit alista , como fazem Fogel e Enge rman , ob-
viam ente cabe pergu ntar : Por que, então , esse sistem a en-
trou em confl ito com o Norte , este sim em expan são capi-
talist a? Seria m dois sistem as capit alista s diver sos e anta-
gônic os econô mica e politi came nte? A verda de é que o Nor-
te aboli u a escra vatur a e inves tiu capit ais no Sul, além de
incor porar o merc ado sulin o na sua. área de influê ncia. Ao
mesm o temp o, abrir am-se outra s e prova velm ente nova s
possi bilida des de desen volvi ment o das força s produ tivas
no Sul. Com a vitór ia do Norte sobre o Sul, ter-se -ia reali-
zado o últim o ato da const ituiçã o do pode r burgu ês nos
Estad os Unido s, supri mind o-se pouc o a pouc o os valor es
e os padrõ es sócio -cultu rais e organ izató rios da form ação
socia l escra vista. De fato, a form ação socia l escra vista do
Sul não era capit alista , ainda que estive sse impr egna da de
ESCRAVI DÃO E HISTÓRIA 123
ciais do Sul, tanto quanto o seu atraso, podem ser buscados na rela-
ção senhor-escravo ( i:1).
() Tbidem, p. 133.
() Glberto Freyre, Sobrados e mocambos (decadência do pa-
triarcado rural e desenvolvimento urbano), 3 vols., 2 edição, Livra-
ria José Olympio Editora, Rio de Janeiro, 1951, 3° vol., p. 1.076.
(6) Tbidem, p. 1.077.
(7) Ibidem, p. 1.083.
(8) Ibidem, p. 1.086.
ESCRAVIDÃO E RACISMO 131
oS
padrões das estruturas de castas,lugar das estrutu
em
ras de classes que prevalecem nas relações entre os bran
cOs. Nesse país, desde a escravatura, as relações de inte
gração e antagonismo entre negros e brancos estariam Iun-
dadas num singular e persistente maniqueíismo cultural e
ideológico.
ESse, em forma breve, o entendimento que se estruturou
na famosa tipologia formulada por Frank Tannenbaum,
em seu livro intitulado Slave & Citizen, sobre as relações
entre brancos e negros nas Américas. Vejamos algumas
das proposições de Tannenbaum, apenas para recordar o
leitor sobre a letraeo espirito da tipologia mais divulgada
até o momento, sobre as semelhanças e as diferenças, reais
e imaginárias, entre situações raciais nas Américas; isto é,
nos países anglo-saxônicos e latinos das Américas e Anti
has, como se pode entender.
(10) Frank Tannenbaum, Slave & citizen (the negro in the Ame-
ricas), Vintage Books, New York, 1946. p. 8.
(11) Ibidem, p. 82.
(12) Ibidem, p. 103.
134 ESCRAVIDÃO E RACISMo
relações de integração
culo XX.
e
antagonismo vigentes no sé
A conclusão geral
que emerge dessa comparação de sistemas es-
cravistas é que as suas diferenças não são
fundamentais para ex-
plicar as diferenças nas relações raciais contemporâneas. E evidente
que as diferenças nas práticas escravistas, no Brasil e nos Estados
Unidos, podem muito bem ser devidas a acidentes de geografia, de-
mografia, economia e às conseqüentes diferenças de atitudes em
face dos negros, em lugar de serem devidas a diferenças legais, ou
de práticas da Igreja e do Estado, relativamente à escravatura (s0).
(30) Carl N. Degler. Neither black nor white (slavery and race
relations in Brazil and the United States), The MacMillan Compa-
ny. New York, 1971. p. 92.
148 ESCRAVIDÃO E RACISMO
A HISTORICIDADE DO PRESENTE
continua a industrializar-se, e
Degler: Contudo, como o Brasil
expande-se a sociedade competitiva, da mesma forma também pode
DESIGUALDADE ECONOMICA
CONDIÇÃO RACIAL E
A
mudança para uma posição revolucionária antiestablishment,
proposta por Huey Newton, Eldridge Cleaver e Bobby Seale como
uma solução para os problemas das colônias negras da América,
tem se consolidado no pensamento dos irmãos. Agora eles mostram
grande interesse nos pensamentos de Mao Tsê-tung, Nkrumah, Lê-
nin, Marx e nas realizações de homens como Chê Guevara, Giap ee o
Tio Ho (13).
explícitas,fato de
ao
çam em pequenas referências, mais
que o proletariado da Inglaterra é dividido entre os ingle
os irlandeses; e que havia preconceitose diversida-
Sese
des internas no seio da ciasse operária, inclusive em pre
juízo dos irlandeses.
Nessas reflexões, que são às vezes muito fragmenta
das, às vezes mais elaboradas, Marx expõe uma tese que
é extremamente interessante. Diz que
a emancipaçao do
proletariado inglês, pensando na revolução, passa pela
emancipação do povo da Irlanda, da classe trabalhadora.
Isto é, ele começa a ver uma relação muito forte entre
as desigualdades que existem na Irlanda, provocadas pe
lo colonialismo inglês, e as condições de melhor partici
pação na renda nacional do proletariado inglês. Afirma,
então, que as lutas do proletariado ingl s devem se vin-
cular em alguma medida as lutas do proletariado e do po-
vo da Irlanda, porque a emancipaç o de um e do outro será
simultânea; não é concebível que este se emancipe inde-
pendente daquele. Se um pensa que está se emancipando,
na verdade está se beneficiando da exploraç o do outro.
Essas análises, que são episódicas e fragmentárias, às ve
zes artigos de jornais, apontam a presença do problema
étnico, racial e cultural.
Não há dúvida de que há no pensamento marxista um ele-
mento eurocentrista, tanto que a maneira pela qual Marx e
Engels lidam com o problema colonial, com os camponeses
do Terceiro Mundo, com0 diríamos hoje, é às vezes precon-
ceituosa. Mas estavam trabalhando com a hipótese de que
o capitalismo é um modo de produção inexorável que inva-
de a Terra, que penetra nas diferentes sociedades; portan-
to, a emancipação do hindu, do mexicano, do latino-ameri
cano em geral, passa pelo desenvolvimento das relações ca
pitalistas de produção. Essa era a hipótese em que acredi
tavam: o modo de produção asiático e outras formas de
produção precisariam ser revolucionadas, superadas pelo
desenvolvimento da empresa, da produç o capitalista, e
184 ESCRAVIDÀO E RACISMO