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ZUMBI (A FELICIDADE GUERREIRA) A CARNE

(Gilberto Gil) (Elza Soares)

Zumbi, comandante guerreiro A carne mais barata do mercado é a carne negra


Ogunhê, ferreiro-mor capitão
Da capitania da minha cabeça (Tá ligado que não é facil, né, mano?)
Mandai a alforria pro meu coração (Né, mano? Vixe!)
(Se liga aí!)
Minha espada espalha o sol da guerra
Rompe mato, varre céus e terra A carne mais barata do mercado é a carne negra
A felicidade do negro é uma felicidade guerreira A carne mais barata do mercado é a carne negra
Do maracatu, do maculelê e do moleque bamba A carne mais barata do mercado é a carne negra
A carne mais barata do mercado é a carne negra
Minha espada espalha o sol da guerra (Só serve o não preto)
Meu quilombo incandescendo a serra
Tal e qual o leque, o sapateado do mestre-escola de samba Que vai de graça pro presídio
Tombo-de-ladeira, rabo-de-arraia, fogo-de-liamba E para debaixo do plás.co
Que vai de graça pro subemprego
Em cada estalo, em todo estopim, no pó do mo.m E pros hospitais psiquiátricos
Em cada intervalo da guerra sem fim
Eu canto, eu canto, eu canto, eu canto, eu canto, eu canto assim: A carne mais barata do mercado é a carne negra (diz aí!)
A carne mais barata do mercado é a carne negra
A felicidade do negro é uma felicidade guerreira! A carne mais barata do mercado é a carne negra
A felicidade do negro é uma felicidade guerreira! A carne mais barata do mercado é a carne negra
A felicidade do negro é uma felicidade guerreira!
Que fez e faz história
Brasil, meu Brasil brasileiro Segurando esse país no braço, mermão
Meu grande terreiro, meu berço e nação O cabra aqui não se sente revoltado
Zumbi protetor, guardião padroeiro Porque o revólver já está enga.lhado
Mandai a alforria pro meu coração
E o vingador é lento
Mas muito bem intencionado
E esse país vai deixando todo mundo preto
E o cabelo es.cado

Mas, mesmo assim


Ainda guardo o direito de algum antepassado da cor
Brigar su.lmente por respeito
Brigar bravamente por respeito

Brigar por jus.ça e por respeito (pode acreditar)


De algum antepassado da cor
Brigar, brigar, brigar, brigar, brigar
(Se liga aí!)

A carne mais barata do mercado é a carne negra


(Na cara dura, só serve o não preto)
A carne mais barata do mercado é a carne negra
A carne mais barata do mercado é a carne negra
(Na cara dura, só serve o não preto)
A carne mais barata do mercado é a carne negra

(Tá ligado que não é fácil, né, mano?)

Negra
Negra
Carne negra (pode acreditar)
A carne negra
COTA NÃO É ESMOLA E culturas assassinadas
(Bia Ferreira) É a voz que ecoa do tambor
Chega junto, venha cá
Existe muita coisa que não te disseram na escola Você também pode lutar, ei!
Cota não é esmola E aprender a respeitar
Experimenta nascer preto na favela pra você ver Porque o povo preto veio para revolucionar
O que rola com preto e pobre não aparece na TV
Não deixe calar a nossa voz, não!
Opressão, humilhação, preconceito Não deixe calar a nossa voz, não!
A gente sabe como termina, quando começa desse jeito Não deixe calar a nossa voz, não!
Desde pequena fazendo o corre pra ajudar os pais Revolução
Cuida de criança, limpa casa, outras coisas mais
Não deixe calar a nossa voz, não!
Deu meio dia, toma banho vai pra escola a pé Não deixe calar a nossa voz, não!
Não tem dinheiro pro busão Não deixe calar a nossa voz, não!
Sua mãe usou mais cedo pra poder comprar o pão Revolução
E já que tá cansada quer carona no busão
Mas como é preta, pobre, o motorista grita: Não! Nascem milhares dos nossos cada vez que um nosso cai
Nascem milhares dos nossos cada vez que um nosso cai, é
E essa é só a primeira porta que se fecha Nascem milhares dos nossos cada vez que um nosso cai
Não tem busão, já tá cansada, mas se apressa Nascem milhares dos nossos cada vez que um nosso cai
Chega na escola, outro portão se fecha E é peito aberto, espadachim do gueto, nigga samurai!
Você demorou! Não vai entrar na aula de história
Espera, senta aí, já já dá uma hora É peito aberto, espadachim do gueto, nigga
Espera mais um pouco e entra na segunda aula É peito aberto, espadachim do gueto, nigga
E vê se não atrasa de novo, a diretora fala É peito aberto, espadachim do gueto, nigga
Peito aberto, espadachim do gueto, nigga samurai!
Chega na sala, agora o sono vai batendo
E ela não vai dormir, devagarinho vai aprendendo que É peito aberto, espadachim do gueto, nigga
Se a passagem é 3,80 e você tem 3 na mão Aberto, espadachim do gueto, nigga
Ela interrompe a professora e diz, 'então não vai ter pão' É peito aberto, espadachim do gueto, nigga
É peito aberto, espadachim do gueto, nigga samurai!
E os amigos que riem dela todo dia
Riem mais e a humilham mais Vamo pro canto onde o relógio para
O que você faria? E no silêncio o coração dispara
Vamo reinar igual Zumbi, Dandara
Ela cansou da humilhação e não quer mais escola Odara, Odara
E no natal ela chorou, porque não ganhou uma bola
O tempo foi passando e ela foi crescendo Vamo pro canto onde o relógio para
Agora la na rua ela é a preta do sovaco fedorento No silêncio o coração dispara
Que alisa o cabelo pra se sen.r aceita Odara, Odara, ei!
Mas não adianta nada, todo mundo a rejeita
Experimenta nascer preto, pobre na comunidade
Agora ela cresceu, quer muito estudar Você vai ver como são diferentes as oportunidades
Termina a escola, a apos.la, ainda tem ves.bular E nem venha me dizer que isso é vi.mismo
E a boca seca, seca, nem um cuspe Não bota a culpa em mim pra encobrir o seu racismo
Vai pagar a faculdade, porque preto e pobre não vai pra USP
Foi o que disse a professora que ensinava lá na escola Existe muita coisa que não te disseram na escola
Que todos são iguais e que cota é esmola Cota não é esmola!
Cota não é esmola!
Cansada de esmolas e sem o dim da faculdade Cota não é esmola!
Ela ainda acorda cedo e limpa três apê no centro da cidade
Experimenta nascer preto, pobre na comunidade Eu disse: Cota não é esmola!
Cê vai ver como são diferentes as oportunidades Cota não é esmola!
Cota não é esmola!
E nem venha me dizer que isso é vi.mismo Cota não é esmola!
Não bota a culpa em mim pra encobrir o seu racismo!
E nem venha me dizer que isso é vi.mismo São nações escravizadas
Que isso é vi.mi, que isso é vi.mi, que isso é vi.mismo E culturas assassinadas
É a voz que ecoa do tambor
E nem venha me dizer que isso é vi.mismo Chega junto, venha cá
Não bote a culpa em mim pra encobrir o seu racismo! Você também pode lutar, é
E nem venha me dizer que isso é vi.mismo E aprender a respeitar
Que isso é vi.mi, que isso é vi.mi, que isso é vi.mismo Porque o povo preto veio revolucionar

São nações escravizadas Cota não é esmola!


EU NÃO SOU RACISTA
(Nego Max) Primeiro que isso não é nenhuma novidade
Que somos humanos, eu sei, explica isso pra sociedade
Primeiramente, com todo respeito Mas depois de séculos de atrocidade
Somos todos seres humanos pra mim Percebi que na verdade, o homem branco que perdeu a
Não existe essa de branco ou preto humanidade
Dentro disso eu não consigo sen.r pena Sua pena é a úl.ma coisa que eu preciso
Vocês problema.zam tudo, esse é o grande problema Guarda que tu vai precisar quando eu for cobrar o prejuízo
Não sei o porquê esse hábito de vi.mismo Quer falar o que quiser, mas não quer ter a preocupação
Não posso mais abrir a boca porque hoje tudo é racismo Isso só mostra o quão nojenta é a sua intenção
Eu até queria ficar do seu lado Trago marcas profundas na minha memória
Mas 'cês nem sabe se é de negro ou de preto que 'cês querem ser Abolição aqui só aconteceu nos livro de história
chamado Nessa conversa só existe dois lados
Falando de escravidão como se fosse atual O com o passado escravocrata e o outro com o passado
Mas se ela exis.sse ainda, 'cês 'tavam passando mal escravizado
Já passaram duzentos anos e 'cês ainda tão nessa Polícia brasileira é a que mais mata no mundo
Não consegue sair da fossa e diz que a culpa é nossa? No Brasil morre um preto a cada vinte e três minuto
Aliás, culpar os outros é o que 'cês mais adora Agora, sejamos francos
Culpa o Estado, a Igreja, culpa a polícia e os branco Quantas pessoas cê conhece que morreu só por ser branco?
Branco morre e 'cês não faz um gesto Você não é racista? Tá bom
Preto morre e 'cês quer parar o mundo com seus protesto Mas sua jus.fica.va afirmou o quanto cê é boçal
Eu não sou racista, eu não Tá encrustado, enraizado na mente o padrão
Inclusive a empregada e o jardineiro da família são negros Que relação normal com preto é de patrão e serviçal
A babá também era, mas foi desligada Sequestraram guerreiros, estupraram rainhas
Depois que começou a fazer a facul, chegou duas vez atrasada Aplicaram todo .po de crueldade e covardia
Olha tamanha irresponsabilidade Nosso sangue é base dessa economia
Depois quer vim falar de falta de oportunidade E você tem coragem de falar de meritocracia?
Engraçado, né? 'Cês gosta memo é de pegar atalho Cota não é esmola, é a inclusão
Mas a conquista só vem com o mérito do trabalho De um povo sequestrado e deixado sem reparação
Vocês que vivem de cota, Bolsa isso, Bolsa aquilo Olha o seu atraso
Têm coragem de falar que eu sou o privilegiado? Não quer ou não percebe que a violência é consequência do seu
Enquanto 'cês tão na rua roubando e traficando descaso?
Eu tô dentro do escritório dando um trabalho dobrado A burguesia fede, 'cês são tudo arrombado
Bando de marginal, vagabundo e fedido Parece e merece o presidente que 'cês têm
Com essas música, essas gíria e essas roupa de bandido Falam da minha cultura, mas vive sugando ela
Honro meus imposto em nome da família Se apropriando e querendo nos fazer de refém
Enquanto 'cês só quer saber de droga e putaria Cidadão de bem? Hipocrisia
Adoram o Mano Brown como se fosse Cristo Nós sabe bem o que cê faz escondido da sua família
E assim suas crianças seguem o ciclo maldito Sua filha quer bandido pra viver na adrenalina
Pare com essas porra e obedeça as leis E seu filho com a mesada enche o cu de cocaína
Talvez assim a polícia pare de matar vocês O Mano Brown pra mim não é Jesus, ele é real
Eu não sou racista, ahn Que me ensinou a sobreviver nesse inferno racial
Mas quando não perigosos, são preguiçosos e isso é fato E se a lei fosse cobrar quem rouba e mata
Eu não sou racista A cadeia tava lotada de terno e gravata
E vocês têm que se responsabilizarem pelos seus atos Você é racista, igual aos teus antepassados
É isso que eu acho Vocês fazem parte da escória, tudo racista
Mas como jogaram na minha cara uma vez E se não fossem, estariam fazendo uma pra mudar a história
Que esse não é o meu lugar de fala
Eu quero ouvir o seu lado da história
A juventude negra empoderada, não é não?

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