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O GRITO DA COR
Por Dutti Moreira
PRÓLOGO
(Fundo musical com instrumental da música “Negri Drama”, dos Racionais MC’s. Um ator/bailarino entra
pela plateia executando um solo com uma corda, fazendo referência à temática da escravidão negra,
racismo, discriminação, etc).
ATOR/BAILARINO - “Ninguém nasce odiando outra pessoa por sua cor da pele, sua origem ou sua religião. As
pessoas podem aprender a odiar e, se podem aprender a odiar, pode-se ensiná-las a aprender a amar. O amor
chega mais naturalmente ao coração humano que o contrário.” Nelson Mandela
Após isso, o restante do elenco entra declamando a letra da mesma música, vendados e amarrados por uma
corda só.
Nego drama,
Eu sei quem trama e quem tá comigo
O trauma que eu carrego,
Pra não ser mais um preto fodido
(No proscênio, de frente para o público, os atores, desatam os nós da corda em suas mãos e
iniciam as falas de protesto)
(O elenco repete continuamente a última fala, retirando as vendas de seus olhos e caminhando para
o palco, posicionando-se de forma aleatória em preparação para o ATO II)
(Fundo musical instrumental de tambores africanos. O elenco, que até então se manteve estático,
começa a correr de um lado para o outro, em ritmo de fuga e de repente sai de cena. O mesmo
ator/bailarino do início, agora executa uma coreografia com a mesma corda. Ao final, o elenco
retoma à cena, correndo para a extremidade direita. O ator enlaça todos de uma vez e os puxa para
o centro do palco o vai girando-os de uma ponta a outra, enquanto eles gritam fervorosamente:)
(Todos gritam e arrebentam a corda, correndo pelo palco até parar na mesma posição inicial do Ato).
TODOS – “Liberdade, liberdade, abre as asas sobre nós. E que a voz da igualdade, seja sempre a nossa
voz.”
(Na parte final da última fala, todos levantam o braço direto com punho cerrado em sinal de luta e
resistência. Aos poucos baixam o braço e vão se encolhendo, deitando-se no chão em posição fetal).
ATOR I – Numa sociedade racista, não basta não ser racista. É necessário ser antirracista.
(Angela Davis)
ATOR II – Na luta antirracista, todos temos lugar, mas o protagonismo é de quem sofre o preconceito
na pele. (Marianna Moreno)
ATOR III – Enquanto a cor da pele for mais importante que o brilho dos olhos, haverá guerra. (Haile
Selassie)
ATOR IV – Eu tenho um sonho que meus quatro pequenos filhos um dia viverão em uma nação onde
não serão julgados pela cor da pele, mas pelo conteúdo do seu caráter. Eu tenho um sonho hoje."
Martin Luther King
ATOR V - A democracia só será uma realidade quando houver, de fato, igualdade racial no Brasil e o
negro não sofrer nenhuma espécie de discriminação, de preconceito, de estigmatização e de
segregação, seja em termos de classe, seja em termos de raça. (Florestan Fernandes)
ATOR VI – Ser negro no Brasil é, pois, com frequência, ser objeto de um olhar enviesado. A chamada
boa sociedade parece considerar que há um lugar predeterminado, lá em baixo, para os negros e assim
tranquilamente se comporta. (Milton Santos).
ATOR V – Davam-nos água imunda, podre e dada com mesquinhez, a comida má e ainda mais porca:
vimos morrer ao nosso lado muitos companheiros à falta de ar, de alimento e de água. É horrível
lembrar que criaturas humanas tratem a seus semelhantes assim e que não lhes doa a consciência de
levá-los à sepultura asfixiados e famintos! (Maria Firmina dos Reis)
(Todos os atores permanecem estáticos. Fundo sonoro de briga ou desentendimento entre brancos
e negros, ao passo em que um ator interpreta um dos negros, recuando com medo, implorando para
não ser agredido. A cena finaliza com som de tiros e o ator cai ao chão, desacordado. Todo o elenco
ainda estático, coloca as vendas nos olhos e diz:)
(Fundo musical de mix de reportagens sobre crimes cometidos contra negros no Brasil. O elenco
recolhe o ator que está no chão e o carrega nos ombros saindo pela plateia, como num cortejo
fúnebre.)
FIM