Você está na página 1de 7

Sustentabilidade (Educação Ambiental)

Discente: Vilson Franco de Oliveira


Graduação em Engenharia Ambiental e Sanitária

Atividade 7 - Apresentar a letra e o “link” de duas músicas que possam ser


utilizadas em educação ambiental. Apresentar uma breve análise de cada
uma das letras, de modo que justifiquem sua indicação. Pode ser na língua
inglesa, desde que seja traduzida para o português.

Recomendação 1 - Passarinhos (part. Vanessa da Mata) de Emicida


Disponível em: Emicida - Passarinhos ft. Vanessa Da Mata

A Babilônia é cinza e neon, eu sei

Meu melhor amigo tem sido o som, ok

Tanto carma lembra Armagedom, orei

Busco vida nova tipo ultrassom, achei

Cidades são aldeias mortas, desafio nonsense

Competição em vão, que ninguém vence

Pense num formigueiro, vai mal

Quando pessoas viram coisas, cabeças viram degraus

No pé que as coisas vão, Jão

Doideira, daqui a pouco, resta madeira nem pros caixão

Era neblina, hoje é poluição

Asfalto quente, queima os pés no chão

Carros em profusão, confusão

Água em escassez, bem na nossa vez

Assim não resta nem as barata

Injustos fazem leis e o que resta pro cêis?

Escolher qual veneno te mata


Análise e apresentação:

Emicida, um dos maiores nomes do Hip-Hop brasileiro, é um lutador, um


sobrevivente e um artista que transborda a emoção de uma vivência
extraordinária, e, ao mesmo tempo, semelhante a muitas outras no país.
Desde o início de sua carreira, tratou de temas diversos e de inúmeras
injustiças sociais. Em sua música “Passarinhos”, ele decide falar sobre o
meio-ambiente e desflorestação (“Daqui a pouco, resta madeira nem pros
caixão”), a má governança (“Injustos fazem leis e o que resta pro cêis?”) e o
desenvolvimento desenfreado (“Carros em profusão, confusão”).

A canção é um convite para avaliar e questionar sobre a situação atual do


mundo, do país, da cidade e do seu bairro. Um recado urgente, e um aviso
de que não estamos cultivando um futuro promissor. As crianças, tais
como os pássaros, têm o direito de voar livres e conviver em um ambiente
acolhedor, sem que suas vozes sejam silenciadas e seus corpos
engaiolados.

Os trechos denotam uma transição entre um plano de paz e equilíbrio e o


de morte e escassez. Nisso, de forma sutil, ou quase, ainda aborda o
capitalismo e a competição mandatória desastrosa que resulta apenas na
derrota coletiva. E ainda que quando “pessoas viram coisas, cabeças viram
degraus”. Sendo assim, quando as pessoas são tratadas como mercadoria,
quando não se tem valor sensível ou abstrato, a exploração das classes
operárias se torna lucrativo e um meio de “ascender”.

Há diversas possibilidades para trabalho educativo, formulação de


pensamento e apresentação de referencial cultural. Evidentemente, há seu
viés político na música, uma vez que o próprio compositor e cantor é
extremamente posicionado de uma maneira geral, tecendo críticas diretas
ao governo despreocupado, mas o valimento de suas letras é
incomensurável.
Recomendação 2 - This is Not America (part. Ibeyi) de Residente
Disponível em: Residente - This is Not America ft. Ibeyi

Há um tempo, quando vocês chegaram

As pegadas dos nossos sapatos já estavam aqui

Roubaram até a comida do gato

E ainda estão lambendo o prato

Muito puto com esses ingratos

Hoje vou rufar forte os tambores

Até me acusarem de maus tratos

Se você não sabe interpretar dados

Bem, então te demonstro em cumbia

Bossa nova, tango ou vallenato

Firme como Ilomba e Bambu, muito Frontú

Com sangue quente tipo Timbuktu

Estamos incluídos no menu

2pac se chama 2pac pelo Túpac Amaru do Peru

A América não é apenas os EUA, mano

Ela vai desde a Terra do Fogo até o Canadá

Tem que ser muito ignorante, muito cabeça-oca

É tipo dizer que África é só o Marrocos


Esses canalhas

Se esqueceram que o calendário que eles usam foi inventado pelos Maias

Com a Valdívia pré-colombiana

Há muito tempo, ah

Este continente já anda

Mas nem mesmo com toda a marinha

Eles conseguem jogar a peste rural pela janela

Essa aqui vai para o feitor da empresa

O facão não serve só pra cortar cana

Também serve pra cortar cabeças

Estamos aqui, estamos sempre

Nós não fomos embora, nós não vamos

Estamos aqui pra você se lembrar

Se você quiser, meu facão vai te pegar

Os paramilitar, a guerrilha

Os filhos do conflito, as gangues

Listas negras, os falsos positivos

Os jornalistas assassinados, os desaparecidos

Os governos de milícia, tudo que eles roubaram

Aqueles que se manifestam e os que foram esquecidos

As perseguições, os golpes de Estado

O país falido, os exilados

A moeda desvalorizada
O tráfico de drogas, os cartéis

As invasões, os imigrantes sem documentos

Cinco presidentes em onze dias

Baleado à queima-roupa pela polícia

Mais de cem anos de tortura

A nova trova cantando em plena ditadura

Somos o sangue que sopra a pressão atmosférica

Gambino, meu irmão

Esta, sim, é a América

Análise e apresentação:

This Is Not America foi lançada pelo cantor e compositor porto-riquenho,


René Pérez, com participação das gêmeas franco-cubanas Lisa-Kaindé e
Naomi Díaz, que formam o duo Ibeyi. Cheia de referências às culturas
latino-americanas, a canção se propõe a mostrar a América de ponta a
ponta.

Já evidenciando, o nome da música, e propriamente a construção dela na


totalidade, é referência a “This Is America”, do rapper norte-americano
Childish Gambino, que traz uma crítica à sociedade “americana”, resumida
aos Estados Unidos.

Residente é um fã propriamente de “Childish Gambino”, e o segue


avidamente, mas ficou surpreso com a ausência de todo o continente
americano em uma música que teoricamente o abrange. Ele teve a
impressão de que era uma obra extremamente necessária, mas que
poderia ser implementada, uma vez que não cobria todas as dificuldades
aqui presentes.

Nos primeiros versos ele tenta tratar da história, do “DNA” musical e da


cultura que aqui já se tinha muito antes dos estadunidenses, e dos
colonizadores de uma forma geral. Tal como a referência de “2Pac”, a
menção do calendário maia traz a tona a grande ancestralidade histórica
que os latino-americanos tem, e em como tiraram isso de nós. Também
evidencia o quanto tentam tirar o significado e o poder da palavra
“América” quando se limitam aos Estados Unidos.

Ele ainda faz um apelo, lembrando da exploração que foi sofrida por todo o
continente durante a colonização, com a extração de riquezas naturais
valorizadas em diversos aspectos pelos povos que aqui habitavam. O
poema que ele insere aqui, “Danza Negra”, ainda recorda as milhares de
pessoas escravizadas nas Américas. “Estamos dentro do menu”,
referenciando o Calabó, uma madeira originária da África, e o Bambu da
Ásia, tratando dos indivíduos que foram arrastados de seus povos, terras e
cultura.

E no refrão, a obra trata que apesar de todo o massacre, todo o esforço para
apagar os povos daqui e sua cultura, a América ainda resiste e continua
aqui. Os povos originários ainda lutam e perduram. O videoclipe é ainda
mais gráfico quanto a tudo isso e contribui enormemente para o vínculo
genuíno com a narrativa e com a música.

A História ambiental e a educação ambiental andam de forma conjunta.


Muitos pesquisadores, como o próprio Marcos Reigota, não as veem
separadamente. A história dos anônimos, a memória, os relatos e
narrativas, as fotografias, e documentos privados ou coletivos, sobre as
relações sociais que constroem, destroem e recriam ambientes, são
fundamentais. O “ambiental” é parte vital da história, seja nos micro ou
macro-conflitos. Trazer ao espaço público os relatos daqueles que viveram
e sobreviveram às barbáries da história é de crucial importância política e
pedagógica.

Você também pode gostar