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MODERNISMO NO BRASIL – 1ª FASE

CONTEXTO HISTÓRICO

 A primeira fase do Modernismo no Brasil estende-se de 1922 a 1930. Período


em que o Brasil vive o fim da chamada República velha, quando as oligarquias
ligadas aos grandes proprietários rurais detinham o poder.

 Em termos econômicos, o mundo encaminhava-se para um colapso,


concretizado pela quebra da bolsa de Nova Iorque, em 1929. O Brasil, que
dependia em grande parte das exportações de café, sofreu um duro golpe com
a quebra da bolsa e passou a vivenciar um período de grande instabilidade
econômica.
A SEMANA DE ARTE MODERNA

 Anita Malfatti realizou uma exposição de


quadros.
 Monteiro Lobato, que assistiu à exposição,
publicou um polêmico texto: Paranoia ou
mistificação?
 No Estado de São Paulo
Há duas espécies de artistas. Uma composta dos que veem normalmente as coisas e em
consequência disso fazem arte pura, guardando os eternos ritmos da vida, e adotados para a
concretização das emoções estéticas, os processos clássicos dos grandes mestres.A outra
espécie é formada pelos que veem anormalmente a natureza, e interpretam-na à luz de teorias
efêmeras, sob a sugestão estrábica de escolas rebeldes, surgidas cá e lá como furúnculos da
cultura excessiva. São produtos do cansaço e do sadismo de todos os períodos de decadência:
são frutos de fins de estação, bichados ao nascedouro. Estrelas cadentes, brilham um instante,
as mais das vezes com a luz do escândalo, e somem-se logo nas trevas do esquecimento.
Embora eles se deem como novos precursores duma arte a vir, nada é mais velho do que a
arte anormal ou teratológica: nasceu com a paranoia e com a mistificação. De há muito já que a
estudam os psiquiatras em seus tratados, documentando-se nos inúmeros desenhos que
ornam as paredes internas dos manicômios. A única diferença reside em que nos manicômios
esta arte é sincera, produto ilógico de cérebros transtornados pelas mais estranhas psicoses; e
fora deles, nas exposições públicas, zabumbadas pela imprensa e absorvidas por americanos
malucos, não há sinceridade nenhuma, nem nenhuma lógica, sendo mistificação pura.
CONTRA-ATAQUE!

 O grupo modernista decide, em razão do


ataque sofrido, unir-se em torno de
objetivos comuns, em uma tentativa de
tornar mais visível para a opinião pública
as novas tendências artísticas europeias.
ANO DE 1922 – DIAS 13, 15 E 17 DE FEVEREIRO

 No Teatro municipal de São Paulo,


em noite de gala, seriam realizados
os eventos da Semana de Arte
Moderna!!
OS SAPOS – MANUEL BANDEIRA
O meu verso é bom
Frumento sem joio.
Enfunando os papos, Faço rimas com
Saem da penumbra,
Consoantes de apoio.
Aos pulos, os sapos.
A luz os deslumbra.
Em ronco que aterra,
Vai por cinquenta anos
Berra o sapo-boi: Que lhes dei a norma:
- "Meu pai foi à guerra!" Reduzi sem danos
- "Não foi!" - "Foi!" - "Não foi!". . A fôrmas a forma.
O sapo-tanoeiro,
Parnasiano aguado, Clame a saparia
Diz: - "Meu cancioneiro Em críticas céticas:
É bem martelado. Não há mais poesia,
Vede como primo Mas há artes poéticas..."
Em comer os hiatos!
Que arte! E nunca rimo
Urra o sapo-boi:
Os termos cognatos.
- "Meu pai foi rei!"- "Foi!"
- "Não foi!" - "Foi!" - "Não foi!".
Longe dessa grita,
Brada em um assomo Lá onde mais densa
O sapo-tanoeiro:
A noite infinita
- A grande arte é como
Lavor de joalheiro. Veste a sombra imensa;
Ou bem de estatuário.
Lá, fugido ao mundo,
Tudo quanto é belo,
Tudo quanto é vário,
Sem glória, sem fé,
Canta no martelo". No perau profundo
E solitário, é
Outros, sapos-pipas
(Um mal em si cabe),
Falam pelas tripas, Que soluças tu,
- "Sei!" - "Não sabe!" - "Sabe!". Transido de frio,
Sapo-cururu
Da beira do rio...
RESULTADO POSITIVO!!!

 Embora causassem escândalo, os


modernistas se fizeram notar! Deixaram
claro que não tinham apenas intenções
artísticas, mas um conjunto de obras em
que as novas propostas eram
concretizadas, demonstrando a viabilidade
dos novos rumos estéticos.
MANIFESTOS

 Manifestos: funcionavam como


espaço de definição e divulgação
dos próprios princípios modernistas.
MANIFESTO PAU-BRASIL – OSWALD DE ANDRADE

No manifesto, Oswald ironiza e critica a


visão “oficial” da história brasileira.
Contrapondo a uma visão parótica e
bem humorada.
Princípios do primeiro momento da
literatura modernista:
“Ver com olhos livres”.
Fazer uso da língua sem preconceitos,
tal qual se manifesta na fala popular
Recuperação do passado histórico sob
uma perspectiva crítica.
MOVIMENTO VERDE-AMARELO OU ESCOLA DA ANTA

 Movimento verde-amarelo ou a escola da anta(um


ano depois mudou para esse nome) é como ficou
conhecida essa corrente literária ultranacionalista do
modernismo brasileiro , surgida em 1926.
 Seus criadores foram os autores Cassiano Ricardo,
Menotti del Picchia e Plínio Salgado.
 Ufanismo é a característica que melhor define esse
movimento . Trata-se de uma exaltação do Brasil e,
ao mesmo tempo, hostilidade às proveniências
estrangeiras , por isso rejeitavam a arte acadêmica e
os movimentos das vanguardas europeias.
 A Escola da Anta recebeu esse nome como
representação da nacionalidade brasileira, dado o
contexto mítico desse animal na cultura tupi -
principal tribo indígena brasileira.
MANIFESTO ANTROPÓFAGO

 Oswald de Andrade, lança esse manifesto como


resposta ao nacionalismo do Grupo da Anta,
movimento conservador, associado ao fascismo.
 Antropo vem de Anthropos que quer dizer
homem. Fagia, por sua vez, vem de Phagein,
que quer dizer comer.
 Ao pé da letra a junção das duas palavras
significa canibalismo, que aqui ganha um
sentido metafórico, simbólico. O canibalismo do
índio tinha como objetivo incorporar os dons do
inimigo, as características positivas da vítima.
Contexto de publicação Objetivo do Manifesto

 O Manifesto Antropófago foi escrito em 1928. Ele  Ele pretendia celebrar o nosso multiculturalismo,
é considerado o principal texto do movimento a miscigenação.
tendo sido publicado na primeira edição da  O desejo era devorar o que vinha de fora, assimilar
Revista de Antropofagia (lançada em 1928). a cultura alheia. Não negar a cultura estrangeira,
pelo contrário: absorvê-la, degluti-la, processá-la e
 O movimento do grupo de artistas modernistas
misturá-la para dar origem ao que é nosso.
era o de mergulhar nas nossas raízes, recontar a
 Esse processo tinha a ver com a pesquisa pela
nossa história, rever o nosso passado.
nossa identidade nacional, com o objetivo final
de promover uma independência cultural. Através
da intertextualidade e do movimento de se beber em
várias fontes se procurava alcançar uma cultura
própria autônoma.
SUA ORIGEM SE DÁ A PARTIR DE UMA TELA FEITA POR TARSILA DO AMARAL, EM
JANEIRO DE 1928 BATIZADA DE ABAPORU ( ABA= HOMEM E PORU = QUE COME).
FRASES-CHAVE DO MANIFESTO ANTROPÓFAGO

“Só a antropofagia nos une. Socialmente. Economicamente.


Filosoficamente.”

“Tupi, or not tupi that is the question.”

“A nossa independência ainda não foi proclamada .”


CARACTERÍSTICAS LITERÁRIAS – 1ª FASE

 Negação do passado;
 Valorização do cotidiano;
 A primeira fase do modernismo, marcada
 Nacionalismo;
pelo signo de transformação, ficou
conhecida como fase “heroica” ou de  Redescoberta da realidade brasileira;
destruição. Tal designação deveu-se, em  Desejo de liberdade no uso das estruturas
grande parte, à opção pelo rompimento da língua;
com o passado, postura vista por muitos  Liberdade de expressão;
como anárquica e destruidora.
 Predominância da poesia sobre a prosa;
 Uso da paródia , da piada, do sarcasmo
para promover a destruição pretendida.
CANÇÃO DO EXÍLIO - GONÇALVES DIAS

Minha terra tem palmeiras, Minha terra tem primores,


Onde canta o Sabiá; Que tais não encontro eu cá;
As aves, que aqui gorjeiam, Em cismar –sozinho, à noite–
Não gorjeiam como lá. Mais prazer eu encontro lá;
Minha terra tem palmeiras,
Nosso céu tem mais estrelas,
Onde canta o Sabiá.
Nossas várzeas têm mais flores,
Nossos bosques têm mais vida, Não permita Deus que eu morra,
Nossa vida mais amores. Sem que eu volte para lá;
Sem que disfrute os primores
Em  cismar, sozinho, à noite,
Que não encontro por cá;
Mais prazer eu encontro lá;
Sem qu'inda aviste as palmeiras,
Minha terra tem palmeiras,
Onde canta o Sabiá. 
Onde canta o Sabiá.
CANTO DE REGRESSO À PÁTRIA
OSWALD DE ANDRADE

Ouro terra amor e rosas


Minha terra tem palmares
Onde gorjeia o mar
Eu quero tudo de lá
Os passarinhos daqui Não permita Deus que eu morra
Não cantam como os de lá Sem que volte para lá
Minha terra tem mais rosas
E quase que mais amores Não permita Deus que eu morra
Minha terra tem mais ouro Sem que volte pra São Paulo
Minha terra tem mais terra
Sem que veja a Rua 15
E o progresso de São Paulo
OSWALD DE ANDRADE

 A obra de Oswald de Andrade talvez


seja a única a reunir todas as
características que marcaram a
primeira fase do Modernismo. Ele
escreveu poesia, romance, teatro,
crítica e, em todos os gêneros,
deixou patente sua vocação para
transgredir, quebrar expectativas,
polemizar.
REVOLUCIONOU!

Pero Vaz de Caminha

A DESCOBERTA
 Transformação de textos do período Seguimos nosso caminho por este mar de longo
colonial em poemas que assumem Até a oitava da Páscoa
Topamos aves
uma conotação crítica da história E houvemos vista de terra
“oficial” do Brasil. OS SELVAGENS
Mostraram-lhes uma galinha
Quase haviam medo dela
E não queriam pôr a mão
E depois a tomaram como espantados
MÁRIO DE ANDRADE

 Escreveu poesia, prosa e contos.


 Foi o primeiro que escreveu um texto
teórico, no Brasil, sobre a natureza da arte
contemporânea – No prefácio de Paulicéia
Desvairada.
 Encontramos em suas poesias um fluxo de
lirismo, muitas vezes associado ao
cotidiano. Além de uma visão crítica da
elite, e a afirmação da possibilidade de
uma existência multifacetada (pessoal e
cultural).
ODE AO BURGUÊS
Eu insulto o burguês-funesto[cruel]!
Eu insulto o burguês! O burguês-níquel O indigesto feijão com toucinho, dono das tradições!
o burguês-burguês! Fora os que algarismam os amanhãs!
A digestão bem-feita de São Paulo! Olha a vida dos nossos setembros!
O homem-curva! O homem-nádegas! Fará Sol? Choverá? Arlequinal[Arlequim – palhaço]!
O homem que sendo francês, brasileiro, italiano, Mas à chuva dos rosais
é sempre um cauteloso pouco-a-pouco! o êxtase fará sempre Sol!

Eu insulto as aristocracias cautelosas! Morte à gordura!


Os barões lampiões! Os condes Joões! Os duques zurros! Morte às adiposidades cerebrais!
Que vivem dentro de muros sem pulos, Morte ao burguês-mensal!
e gemem sangue de alguns mil-réis fracos Ao burguês-cinema! Ao burguês-tiburi!
para dizerem que as filhas da senhora falam o francês Padaria Suíssa! Morte viva ao Adriano!
e tocam os "Printemps“[primavera] com as unhas! "— Ai, filha, que te darei pelos teus anos?
— Um colar... — Conto e quinhentos!!!
Más nós morremos de fome!"
PROSA
 Assim como na prosa de Oswald, Mário apresenta um questionamento das estruturas típicas
do romance do século XIX.
 O autor experimenta diferentes organizações para a prosa: ora eliminando a marcação de
capítulos, ora criando um narrador, que embora onisciente, atua quase como uma personagem
do livro, numa linguagem que explicitava a busca do português “brasileiro”.
 Em prosa, destaque para os dois romances de Mário de Andrade: Macunaíma (1928) e Amar,
Verbo Intransitivo (1927). Em Macunaíma está presente todo o seu nacionalismo e sua forte
ligação com o folclore. Há uma colagem de anedotas e lendas brasileiras, onde as culturas do
norte e do sul convivem juntas. O personagem Macunaíma, anti-herói (ou "herói sem nenhum
caráter", como sugere o livro) serve de ponte para a fusão de todas as nossas vertentes
culturais, nossas tradições e expressões de linguagem . Em Amar, Verbo Intransitivo, há a
denúncia da hipocrisia da elite burguesa de São Paulo, bem como uma profunda análise
psicológica dos personagens que retoma as teorias de Freud e desmistifica a relação familiar. 
MANUEL BANDEIRA

A solidão, as frustrações
provocadas por uma vida limitada
pela tuberculose, uma ternura
imensa e a capacidade de perceber
o lirismo nas pequenas coisas da
vida, serão as marcas
características da poesia de Manuel
Bandeira.
MOMENTO NUM CAFÉ
Quando o enterro passou
Os homens que se achavam no café
Tiraram o chapéu maquinalmente
Saudavam o morto distraídos
Estavam todos voltados para a vida
Absortos na vida
Confiantes na vida.
Um no entanto se descobriu num gesto largo e
demorado
Olhando o esquife longamente
Este sabia que a vida é uma agitação feroz e sem
finalidade
Que a vida é traição
E saudava a matéria que passava
Liberta para sempre da alma extinta.
Poética
POÉTICA
Estou farto do lirismo comedido
Do lirismo bem comportado
Do lirismo funcionário público com livro de ponto expediente protocolo e
manifestações de apreço ao sr. diretor.

Estou farto do lirismo que para e vai averiguar no dicionário o cunho


vernáculo de um vocábulo.

Abaixo os puristas.
Todas as palavras sobretudo os barbarismos universais
Todas as construções sobretudo as sintaxes de exceção
Todos os ritmos sobretudo os inumeráveis
.
Estou farto do lirismo namorador
Político
Raquítico
Sifilítico
De todo lirismo que capitula ao que quer que seja fora de si mesmo.

De resto não é lirismo


Será contabilidade tabela de co-senos secretário
do amante exemplar com cem modelos de cartas
e as diferentes maneiras de agradar às mulheres, etc.

Quero antes o lirismo dos loucos


O lirismo dos bêbados
O lirismo difícil e pungente dos bêbedos
O lirismo dos clowns de Shakespeare.

- Não quero saber do lirismo que não é libertação.


NOVO CAMINHO A SER TRILHADO

 Manuel Bandeira foi o único que conseguiu produzir uma poesia


que, embora refletindo as transformações estéticas do momento,
transcendeu seus limites históricos e refletiu sobre angústias e
conflitos de natureza universal, como o amor, a paixão pela vida, a
saudade de uma infância idealizada e o medo da morte.

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