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3 ANO MÉDIO

MODERNISMO BRASILEIRO – SEMANA DE 22

 A Semana de Arte Moderna de 22, realizada entre 11 e 18 de fevereiro de


1922 no Teatro Municipal de São Paulo, contou com a participação de
escritores, artistas plásticos, arquitetos e músicos.

 Seu objetivo era renovar o ambiente artístico e cultural da cidade com "a
perfeita demonstração do que há em nosso meio: em escultura, arquitetura,
música e literatura, sob o ponto de vista rigorosamente atual", como
informava o Correio Paulistano a 29 de janeiro de 1922.

 A produção de uma arte brasileira, afinada com as tendências vanguardistas


da Europa sem, contudo, perder o caráter nacional, era uma das grandes
aspirações que a Semana tinha em divulgar.

 Esse era o ano em que o país comemorava o primeiro centenário da


Independência e os jovens modernistas pretendiam redescobrir o Brasil,
libertando-o das amarras que o prendiam aos padrões estrangeiros.

 Seria, então, um movimento pela independência artística do Brasil.

 SERIA MESMO?

PODCAST: MITOS SOBRE A SEMANA E ARTE MODERNA


https://open.spotify.com/episode/5Mv6yPvM2DxtuHBj5KkMgI?si=5b790830f8a044c3

✤ Para refletir: repercussão da semana, adeptos da semana, estados alvo,


apagamento de alguns nomes na música, cinema, artes plásticas.
Pixinguinha, samba carioca, cordel. Por que só arte erudita?

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http://www.artigonal.com/literatura-artigos/semana-de-arte-moderna-1983586.html
http://www.youtube.com/watch?feature=player_embedded&v=tJKYZdGU4rA#!
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✤ Reinvenção da semana (pós 1945), grupo Clima, Antonio Candido, Décio de


Almeida Prado entre outros filhos da USP, nasce então o mito Mário de
Andrade.

 Os jovens modernistas da Semana negavam, antes de mais nada, o


academicismo nas artes. A essa altura, estavam já influenciados
esteticamente por tendências e movimentos como o Cubismo, o
Expressionismo e diversas ramificações pós-impressionistas.

 Pretendiam utilizar tais modelos europeus, de forma consciente, para uma


renovação da arte nacional, preocupados em realizar uma arte nitidamente
brasileira, sem complexos de inferioridade em relação à arte produzida na
Europa.

(pergunta: essa arte já não existia aqui?) Apagemento de artistas e obras pela
Caravana modernista. Procedimento semelhante ao que aconteceu no
“descobrimento” do Brasil. Em 1924, uma caravana formada por Mário de
Andrade, Oswald de Andrade, Tarsila do Amaral e o poeta franco-suíço Blaise
Cendrars, entre outros, percorreu as cidades históricas mineiras e acabou
entrando para os anais do Modernismo.

 De acordo com o catálogo da mostra, participavam da Semana os seguintes


artistas: Anita Malfatti, Di Cavalcanti, Zina Aita, Vicente do Rego Monteiro,
Ferrignac (Inácio da Costa Ferreira), Yan de Almeida Prado, John Graz,
Alberto Martins Ribeiro e Oswaldo Goeldi, com pinturas e desenhos.

O homem amarelo – Anita Malfatti

Observação: Essa obra possui características cubistas e expressionistas; no quadro,


a figura humana passa de personagem principal a elemento secundário perante a
explosão de cores, pinceladas firmes. O principal acontecimento deste quadro e a
operação cromática, bem diferente do naturismo que predominava no Brasil.
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A Boba – Anita Malfatti

Observação: Feita durante sua estada nos Estados Unidos, A Boba é um dos pontos
mais altos da pintura de Anita. É fruto de uma fase em que a sua pintura
expressionista absorve elementos cubofuturistas. A Boba faz parte de um momento
de "busca ativa", a tela é construída com a cor, numa orquestração de laranjas,
amarelos, azuis e verdes, realçando as zonas cromáticas delineadas pelas linhas
negras, na maioria diagonais - ordenação cubista. No primeiro plano, uma angulosa
e assimétrica figura recebe aplicação irregular da cor. Na fisionomia, a expressão
anormal e vaga é ressaltada por traços negros, segundo a estética expressionista
do irracional e desarmônico. O fundo, elaborado com rápidas pinceladas, serve de
contraponto.

 Marcavam presença, ainda, Victor Brecheret, Hildegardo Leão Velloso e


Wilhelm Haarberg, com esculturas; Antonio Garcia Moya e Georg
Przyrembel, com projetos de arquitetura.

 Além disso, havia escritores como Mário de Andrade, Oswald de Andrade,


Menotti del Picchia, Sérgio Milliet, Plínio Salgado, Ronald de Carvalho,
Álvaro Moreira, Renato de Almeida, Ribeiro Couto e Guilherme de Almeida.

 Na música, estiveram presentes nomes consagrados, como Villa-Lobos,


Guiomar Novais, Ernâni Braga e Frutuoso Viana.

 Patrocinada pela elite letrada paulistana (a elite cafeeira), a Semana "foi o


ponto de encontro das diversas tendências modernas de São Paulo e do Rio.
Ocorreu em três noites, 13, 15 e 17 de fevereiro de 1922, no Teatro Municipal
de São Paulo.

 Na primeira noite (13 de fevereiro), Graça Aranha, que, como membro da


Academia Brasileira de Letras, conferia ao evento um ar de respeitabilidade,
profere a conferência "A Emoção Estética da Arte Moderna, ilustrada com
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poemas declamados por Guilherme de Almenida e Ronald de Carvalho,


acompanhados por Ernâni Braga ao piano, executando, de Eric Satie, a
paródia da Marcha Fúnebre de Chopin.

 Na segunda noite (15 de fevereiro), começa com um discurso de Menotti del


Picchia sobre romancistas contemporâneos, acompanhado por leitura de
poesias e números de dança. É aplaudido. Segue-se um trecho da
conferência:

"Queremos lua, ar, ventiladores, aeroplanos, reivindicações obreiras, idealismos,


motores, chaminés de fábricas, sangue, velocidade, sonho na nossa arte. E que o
rufo do automóvel, nos trilhos de dois versos, espante da poesia o último deus
homérico, que ficou, anacronicamente, a dormir e a sonhar, na era do jazz band e
do cinema, com a flauta dos pastores da Arcádia e dos seios de Helena!"

 Mas, quando foi anunciado Oswald de Andrade, começaram as vaias e


insultos na plateia. É lido o poema, “Os Sapos”, de Manuel Bandeira, por
Oswald de Andrade.

Os Sapos – Manuel Bandeira

Enfunando os papos,
Saem da penumbra,
Aos pulos, os sapos.
A luz os deslumbra.

Em ronco que aterra,


Berra o sapo-boi:
- "Meu pai foi à guerra!"
- "Não foi!" - "Foi!" - "Não foi!".

O sapo-tanoeiro,
Parnasiano aguado,
Diz: - "Meu cancioneiro
É bem martelado.
Vede como primo
Em comer os hiatos!
Que arte! E nunca rimo
Os termos cognatos!

O meu verso é bom


Frumento sem joio
Faço rimas com
Consoantes de apoio.

Vai por cinquenta anos


Que lhes dei a norma:
Reduzi sem danos
A formas a forma.

Clame a saparia
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Em críticas céticas:
Não há mais poesia,
Mas há artes poéticas . . ."

Urra o sapo-boi:
- "Meu pai foi rei" - "Foi!"
- "Não foi!" - "Foi!" - "Não foi!"

Brada em um assomo
O sapo-tanoeiro:
- "A grande arte é como
Lavor de joalheiro.

Ou bem de estatuário.
Tudo quanto é belo,
Tudo quanto é vário,
Canta no martelo."

Outros, sapos-pipas
(Um mal em si cabe),
Falam pelas tripas:
- "Sei!" - "Não sabe!" - "Sabe!".
Longe dessa grita,
Lá onde mais densa
A noite infinita
Verte a sombra imensa;

Lá, fugindo ao mundo,


Sem glória, sem fé,
No perau profundo
E solitário, é

Que soluças tu,


Transido de frio,
Sapo-cururu
Da beira do rio.

 As vaias só param quando sobe ao palco a aclamada pianista Guiomar


Novais. Após, Mario de Andrade, sob vaias, lê poemas que constituíram o
livro A Escrava que não é Isaura, Renato de Almeida critica o Parnasianismo
e Villa-Lobos entra no palco de chinelos (pois teria um calo no pé) e guarda-
chuva, indignando o público.

 A terceira e última noite (17 de fevereiro) é totalmente dedicada à música


de Villa-Lobos. As vaias continuam até que a maioria pede silêncio para ouvi-
lo. Os instrumentistas tentam executar as peças incluídas no programa
apesar do barulho feito pelos espectadores e levam o recital até o fim.
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Detalhes importantes

o O movimento modernista foi o responsável pelo primeiro contato do país


com as revoluções estéticas das vanguardas europeias que surgiam no início
do século XX.

o Mário de Andrade foi o escritor que encabeçou o movimento modernista.


Sua atividade estendeu-se à poesia, ao romance, à crítica e ao estudo das
tradições do folclore: em 1922 publicou sua Pauliceia Desvairada, de ampla
e diversa repercussão.

o É lançado o conceito de verso harmônico, em que há a sobreposição de


imagens aparentemente desconexas, que surgem diretamente do
inconsciente do escritor.

o No romance, em 1928, a "rapsódia" Macunaíma: o herói sem nenhum


caráter é publicado, oferecendo este um quadro bastante vivo do país
enquanto lugar de grande miscigenação cultural.

o Neste romance, as tradições culturais indígenas dos primórdios do país


andam ao lado da modernidade europeizada dos centros urbanos brasileiros
da época.

o No entanto, na Semana há pouquíssima (para não dizer que não há)


referência à cultura africana ou índigena.

o Oswald de Andrade é, sem dúvida, outro dos grandes nomes do movimento


modernista. Sua poesia de feições rebeldes, da maneira como ele próprio se
apresentava em sua vida, forneceu inclusive as bases para ideias que viriam
muito mais tarde nas concepções do Cinema Novo, na década de 1950.

o Como dizia a tradição, não convidem para a mesma mesa Mário de Andrade
e Oswald de Andrade. Tem gente que os supõe irmãos. Não tinham nenhum
parentesco. Outros os imaginam cada um a metade de um mesmo todo.
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Foram durante uns poucos anos, logo tomaram rumos diversos. Pelo menos,
defenderão terceiros, foram amigos.

o Mário (1893-1945) e Oswald (1890-1954) foram os mais destacados


participantes da famosa Semana de Arte Moderna, realizada no Teatro
Municipal em fevereiro de 1922. Nesse tempo, a parceria funcionou como a
alavanca que jogou São Paulo, a São Paulo ainda provinciana, mas crepitante
de uma riqueza que do café se desdobrava em centro industrial, para o
centro da renovação artística e cultural do país.

o • Manifesto Pau-Brasil: escrito por Oswald de Andrade, publicado no jornal


“Correio da Manhã”, em 18 de março de 1924, apresentou uma proposta de
literatura vinculada à realidade brasileira e às características culturais do
povo brasileiro, com a intenção de causar um sentimento nacionalista, uma
retomada de consciência nacional. Estado novo (década de 1930/40) recupera
esses ideais – ditadura militar apoia essa perspectiva – a postura política atual
advém dessa noção de brasilidade e moderno.

o • Antropofagia: publicado entre os meses de maio de 1928 e fevereiro de


1929, sob direção de Antônio de Alcântara Machado, surgiu como “nova”
etapa do nacionalismo “Pau-Brasil” e resposta ao “Verde-Amarelismo”. Sua
origem se dá a partir de uma tela feita por Tarsila do Amaral, em janeiro de
1928, batizada de Abaporu ( aba= homem e poru = que come). Assinado por
Oswald de Andrade, tinha, como diz Antônio Cândido, “uma atitude
brasileira de devoração ritual dos valores europeus, a fim de superar a
civilização patriarcal e capitalista, com suas normas rígidas no plano social
e os seus recalques impostos, no plano psicológico”. Fase contraria a 22 – fala
que 22 é falso modernismo.

Abaporu – Tarsila do Amaral


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Observação: Abaporu, de Tarsila do Amaral, é a tela brasileira mais valorizada no


mundo. Abaporu é um nome tupi, que significa "homem que come gente". Tarsila
estava na fase antropofágica do Modernismo, que propunha deglutir a arte e cultura
estrangeira e adaptá-la ao Brasil. Um dos criadores deste movimento foi o marido
da pintora, Oswald de Andrade, a quem a obra foi oferecida. A artista brasileira
criou Abaporu com mãos e pernas grandes para valorizar o trabalho braçal pelo
qual passava a maioria dos trabalhadores do país. Em detrimento, percebe-se que
a cabeça dele é bem menor que os outros membros, mostrando a desvalorização do
trabalho mental na época.

o • Verde-Amarelismo: este movimento surgiu como resposta ao


“nacionalismo afrancesado” do Pau-Brasil, em 1926, apresentado,
principalmente, por Oswald de Andrade, liderado por Plínio Salgado. O
principal objetivo era o de propor um nacionalismo puro, primitivo, sem
qualquer tipo de influência (como assim?). A busca pela brasilidade é o
moderno – encontra eco contemporaneamente na chamada extrema direita)

o • Anta: parte do movimento Verde-Amarelismo, representa a proposta do


nacionalismo primitivo elegendo como símbolo nacional a “anta”, além de
vangloriar a língua indígena “tupi”.

Operários – Tarsila do Amaral

Operários foi pintada em 1933 (pertence hoje ao acervo do governo estadual)


e exibe a força do estilo de Tarsila ao retratar a diversidade cultural da população
paulistana e, ao fundo, chaminés e fábricas em formas geométricas. Operários é um
marco porque consegue traçar um paralelo perfeito entre o tema proposto na tela
e a grande revolução industrial na qual São Paulo estava envolvida naquele
momento. O quadro é um verdadeiro painel da nossa gente, a mesma que veio dos
quatro cantos do país e do mundo para pegar pesado nas fábricas, que na época
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começavam a transformar a paisagem brasileira. A obra é um exemplo da etnia


brasileira. Ilustra o momento político e social brasileiro do início dos anos 30:
industrialização, migração de trabalhadores. Há quem diga que os rostos estão
sérios, sem sorrisos para representar a dureza do trabalho nas fábricas, presentes
na obra sob a forma de um prédio austero e chaminés cinzentas.

o
Essa Semana tão comemorada não inaugurou o movimento, foi apenas a
festa planejada para anunciar o engatinhar de uma nova mentalidade.

ODE AO BURGUÊS
De Pauliceia desvairada (1922)
Mário de Andrade

Eu insulto o burguês! O burguês-níquel,


o burguês-burguês!
A digestão bem-feita de São Paulo!
O homem-curva! o homem-nádegas!
O homem que sendo francês, brasileiro, italiano,
é sempre um cauteloso pouco-a-pouco!

Eu insulto as aristocracias cautelosas!


Os barões lampiões! os condes Joões! os duques zurros!
que vivem dentro de muros sem pulos;
e gemem sangues de alguns mil-réis fracos
para dizerem que as filhas da senhora falam o francês
e tocam os "Printemps" com as unhas!

Eu insulto o burguês-funesto!
O indigesto feijão com toucinho, dono das tradições!
Fora os que algarismam os amanhãs!
Olha a vida dos nossos setembros!
Fará Sol? Choverá? Arlequinal!
Mas à chuva dos rosais
o èxtase fará sempre Sol!

Morte à gordura!
Morte às adiposidades cerebrais!
Morte ao burguês-mensal!
ao burguês-cinema! ao burguês-tílburi!
Padaria Suissa! Morte viva ao Adriano!
"– Ai, filha, que te darei pelos teus anos?
– Um colar... – Conto e quinhentos!!!
Mas nós morremos de fome!"

Come! Come-te a ti mesmo, oh gelatina pasma!


Oh! purée de batatas morais!
Oh! cabelos nas ventas! oh! carecas!
Ódio aos temperamentos regulares!
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Ódio aos relógios musculares! Morte à infâmia!


Ódio à soma! Ódio aos secos e molhados!
Ódio aos sem desfalecimentos nem arrependimentos,
sempiternamente as mesmices convencionais!
De mãos nas costas! Marco eu o compasso! Eia!
Dois a dois! Primeira posição! Marcha!
Todos para a Central do meu rancor inebriante
Ódio e insulto! Ódio e raiva! Ódio e mais ódio!
Morte ao burguês de giolhos,
cheirando religião e que não crê em Deus!
Ódio vermelho! Ódio fecundo! Ódio cíclico!
Ódio fundamento, sem perdão!

Fora! Fu! Fora o bom burgês!...

LEITURAS OBRIGATÓRIAS:

WISNIK: SEMANA DE 22 AINDA DIZ MUITO SOBRE A GRANDEZA E A


BARBÁRIE DO BRASIL DE HOJE

https://racismoambiental.net.br/2022/02/13/wisnik-semana-de-22-ainda-diz-muito-
sobre-a-grandeza-e-a-barbarie-do-brasil-de-hoje/

OS “NOVOS MODERNISTAS”: ONZE ARTISTAS QUE BUSCAM ROMPER


IDEIAS CONSERVADORAS

https://vejasp.abril.com.br/cultura-lazer/os-novos-modernistas/

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