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Sobre as Origens e História dos Maconde (Makonde) de Moçambique

Gerhard Liesegang

Introdução: a inserção regional e cultural


Quem são os Maconde (Makonde) da África Oriental que se distinguiram na segunda
metade do séc. XX por uma arte plâstica "neo-tradicional", identificada por um termo
étnico?
Do ponto de vista cultural inserem-se no grupo austral da parte oriental da chamada cintura
matrilinear de África, estudada por Audrey Richards, Mary Douglas e Hermann Baumann.
Deste grupo austral fazem parte os Makhuwa em Moçambique e Tanzania, os Lomwe
espalhados entre os Makhuwa de Moçambique, os Chewa-Nyanja,, Yao, Mwera,
Matambwe, e os Maconde (Mavia) e Makonde dos respectivos planaltos do norte de
Moçambique e sul da Tanzania, talvez também os Ngindo, entre outros. Em muitos deles
encontramos danças com o uso de máscaras no fim de períodos de iniciação.
No que toca ao nome notamos que existem Makonde ao norte do rio Rovuma e Makonde
ao sul do Rio Rovuma, mas que os Makonde ao norte do rio Rovuma chamaram, pelo
menos entre 1880 e 1940, os Makonde ao sul do rio de Mavia ou Mabiha. Existem de facto
diferenças linguisticas entre ambos os grupos referidos por especialistas (cf. L. Harries
1940). No entanto, em Moçambique, portugueses e outros residentes no litoral da zona de
Ibo e Quissanga chamaram, já no início do séc. XIX, os habitantes do interior do planalto
dos Macondes de Makonde e não de Mavia.
Maconde (ou Makonde) é possivelmente um termo geográfico, referindo-se a um certo tipo
de ambiente, um mato de planalto, geralmente secundário, formado encima de campos
abandonados, em pousio. Este mato é relativamente fechado e cresceu num solo arenoso
relativamente fértil, que permete boas colheitas por alguns anos (Dias 1964, Gillman 1948).
Por isso permitiu a formação de densos núcleos de população. Este termo geográfico serviu
para distinguir povos de certas áreas do interior daqueles do litoral, conhecidos por Mwani.
Mas há zonas aonde os Makonde chegam quase a costa, como em Palma. Ali entraram
numa simbiose com populações de vida marítima e foram chamados de Makwe.
Parece, portando, que originalmente “Maconde” não era um termo étnico-linguístico. Era
uma referência a uma pertença regional, tal qual como o seu antónimo Mwani, que significa
litoral, costa, baía, ou como o termo Nyanja (do lago), Yao (originalmente habitantes de um
certo tipo de formação montanhosa). Mas a experiência histórica e oposição a grupos
étnico-culturais como Makhuwa também permitiam operacionalizá-lo como termo etnico-
cultural.
Aventou-se nas insistentes pesquisas de Felix Chami, que os Bantu não foram os primeiros
agricultores na região. Na região de Kilwa, no sul da Tanzania, se encontram-se vestígios
atribuidos à olaria neolítica de tipo Kansyore, do segundo ou primeiro milénio antes da
nossa era, primeiro identificada no Uganda. É possível, portanto, que já os primeiros bantu,
possivelmente no séc. II da nossa era, encontraram uma população local agrícola, vivendo
talvez em contacto com caçadores pigmeus, e que cada uma das ondas posteriores
lembradas na população absorveu populações anteriores. Foram identificados por
Adamowicz (comunicação pessoal 2012) na zona de Mocimboa e Palma traços das olaria
Kwale-Matola. Das antigas populações Kansyore econtramos até agora poucos traços em
Cabo Delgado. Traços posteriores na zona costeira nas ilhas como Vamizi datam talvez de

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do séc. VII e depois do séc. XIII, quase coincidindo com maciças presenças de cerâmica
Lumbo.

Primeiras referências e história e estrutura 1800-1918


As primeiras referências preservadas ao nome Maconde na documentação portuguesa do
Ibo, que praticamente só se inicia por volta de 1770, são de 1807 e 1809. Na altura
registaram-se entre Quissanga (perto de Ibo)e Amiza (Vamizi), na altura no extremo norte
do povoamento português, crónicamente pequenos assaltos de "Macuas e Macondes" em
retaliação a venda arbitrária dos seus irmãos". Em 1810 outro ofício confirma um estado
latente de razzias do "pequeno regno Maconde" de onde se atacavam "escravaturas nas
maxambas" , portanto zonas agrícolas, dos portugueses do Ibo no continente e para aonde
fugiam escravos.
Era cinquenta anos antes de as primeiras ondas de povos movimentados pelos Mfecane
terem atingido esta zona por volta de 1860-70. Esses dados empurram para trás as tradições
sobre migrações do interior que vários autores encontraram (ver Dias 1964:60 segg) e que
os dois grupos de Makonde partilham com vizinhos. Segundo estes vieram do curso
superior do rio Lugenda. Não se pode indicar uma data para esta migração.. Tanto se
poderia ligar a migrações ligadas aos Marave e Zimba do séc. XVI-XVII como a
movimentos anteriores de grupos representados pela tradição cerâmica de Lumbo (séc.XI-
XI ou XIII-XIV), que se encontra em muitos sítios de Nampula e Cabo Delgado e que pode
talvez ser subdividido em várias fases e parece ancestral à cerâmica Maconde, policromada
e com impressões. O lexema utilizado pelos Maconde para variola é choba, que tem a
mesma raiz como a palavra ntomba utilizado por Shona e chewa. Isso podia ligar os
Maconde ligar ao mesmo estrato ou nivel cronológico como Lumbo ou Marave. Não é ndui
ou etthuwi que vem do swahili e que se tinha generalizado entre os Makhuwa
possívelmente antes da vinda dos Maconde. Possivelmente podem ter sido ligados so
Mongalo do Norte de João dos Santos, que ouviu dele cerca de 1585 ou ao Manyanga de
Gaspar Bocarro 1616. O que é estranho nesse caso que a memória de uma centralização
política se perdeu em três séculos.
Voltemos à identificação sociocultural dos Makonde nos séculos XVIII e XIX. No fim do
séc. XVIII, se não muito antes, já deve ter existido uma cultura de razzias, ataques
repentinas de pilhagem e captura, que envolvia pequenos grupos de Mwani, Makonde e
Makhuwa e que havia de ficar quebrada só por volta de 1913-1917. Nas zonas makonde e
makhuwa as aldeias na região atrás da costa se escondiam atrás de palissadas e cinturas de
árvores e arbustos, identificado pelo termo njengo ou chengo; termo de origem swahili ou
mwani, derivado do verbo "ku-jenga", (construir, edificar, em Swahili). Entre os Makonde
um homem só podia casar se tivesse uma arma de fogo a oferecer à linhagem da noiva. Os
vizinhos makhuwa no sul e sudoeste ainda na altura da luta armada (1964-1974)
identificaram os Makonde com os guerreiros que tinham assaltado as suas povoações e
machambas e raptado as suas mulheres cinquenta a setenta anos antes. Ainda em 1906-
1910 corriam boatos ao norte do rio Rovuma, que aldeias Yao e Makonde iriam ser
atacadas pelos Mavia ou Maconde de Moçambique. Não só os vizinhos africanos, também
os conquistadores portugueses da Companhia do Nyassa (depois Niassa) sentiram essas
acções armadas.
Tanto os Makonde ao norte do rio Rovuma como os ao sul não tinham uma linhagem
dominante, nem autoridade politica central. Havia entre eles sempre quatro ou cinco chefes
mais conhecidos, mas, também, outros menos conhecidos e igualmente independentes. Os
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mais conhecidos combinavam a fama de guerreiro com a legitimidade linhageira, que dava
direito ao título de mahumu. Os mais conhecidos controlavam possivelmente terras mais
férteis. Caçadores e guerreiros que queriam organizar caças ou razzias comuns tinham certa
autonomia para fazê-lo, e ficaram com a maior parte do produto e a responsabilidade o que
toca às consequências.
Os Maconde tinham uma ordem de sucessão matrilinear, tais como os seus vizinhos, para a
sucessão dos chefes linhageiros ou mahumu. Certas relações de solidariedade horizontal e
solidariedade do grupo linhageiro local eram reforçadas pelas escolas de iniciação
masculina e feminina praticadas ao nivel de aldeias preferivelmente em anos de boas
colheitas. Ao nível do seu simbolismo cultural e instrumentos religiosos os Maconde
partilham muitos institutos culturais com os seus vizinhos Yao, Makua - Lomwe e
possivelmente outros. O uso de certas árvores no culto, em parte plantados a volta dos
túmulos, locais sagrados e povoações, o do "rabo de guerra", que distingue todo o grupo
influenciado pelos marave, alguns elementos das iniciações, eram partilhados com os
vizinhos. O que os colocou à parte eram identificações geográficas e étnicas. A sua olaria,
já estudada por volta de 1958-60 por Margot Dias e recentemente amplificada por novas
formas pela oleira Reinata Sadimba, insere-se talvez, como já referido, na "tradição
Lumbo" que tem uma idade de talvez cerca de 700 a 800 anos na região. Os Makonde
estavam também abertas a certas inovações. Aceitaram casas de tipo costeiro, a fechadura
romana, ou mediterrânea, que encontramos como "clef bambara" no Mali, e muitos
emprêstimos costeiros (swahili) na língua, os panos de algodão, armas de fogo etc.. Outros
elementos vieram possivelmente do interior, ou preservaram-se como o “rabo de guerra”, o
uso de certas árvores. Os Makonde, principalmente ao norte do Rovuma, conheciam danças
sobre andas, não só simplesmente de máscaras. As danças de máscaras permitiam a
caricatura de figuras conhecidas e reconhecidas pela população.
Os Makonde foram os últimos na região a abandonar a tatuagem e afiação dos dentes
(limação pelo menos dos incisores), o disco nos lábios, elementos que séculos antes eram
mais comuns na área e foram utilizados também pelos Makhuwa e Mwera.
Os Makonde ou Mavia não atacavam nem pilharam apenas. Vendiam ou trocavam,
também, por volta de 1870-1913, produtos locais como borracha extraída de lianes
(trepadeiras) e goma copal, para poder vestir as mulheres com panos importados e obter
espingardas e pólvora. Produziam também, para venda aos vizinhos, caixas de rapé ou
pólvora (mitete), com tampas, que representavam varios tipos etnográficos locais (quer
dizer homens e mulheres de grupos étnicos), e ainda animais.

A conquista colonial 1913-1919


As tentativas de conquista colonial devem ter começado em 1907, treze anos depois do
Estado colonial português ter entregue a área de Cabo Delgado, incluindo a área maconde,
à Companhia do Niassa, uma Companhia Magestática de Direito Português, na qual estava
investida bastante capital britânico. Mas a conquista levava anos devido a multiplas
resistências. Uma das campanhas em Julho-Outubro de 1913 era dirigido contra os
Makonde e resultou aparentemente na instalação dos postos de Chai e "Enguri" [Nguri,
Inguri]. Provavelmente nos meados de Agosto atacou-se o "chengo" do chefe "Meticama" .
Em Maio de 1915 foi montado o posto de Nangade a 30 km ao NO de Macomia. Pouco
depois os portugueses entraram na 1a Guerra Mundial como beligerentes e mandaram
tropas para a fronteira junto ao Rovuma. A Companhia do Niassa retirou os seus

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funcionários, especialmente aonde houve também tropas britânicas que combatiam os
alemães que invadiam a área em 1917. Para segurar as suas linhas de comunicação o
governo português mobilizava milícias makhuwa em Nampula (antigo Distrito de
Moçambique) sob Neutel de Abreu que pouco antes tinham ajudado a acabar a conquista
desta província actual de Moçambique.
Em fins de Abril de 1917 quatro grupos de 350 homens cada foram mobilizados para
operar junto à estrada de Mocimboa da Praia a Chomba. Encontraram lá machambas de
milho e mandioca. Houve um combate maior em Mahunda e a seguir foram queimados
cerca de 150 "chengos" com 70 palhotas em média. Esse número de palhotas aponta para
uma população media de cerca de 175 pessoas por povoação. No início de Maio as tropas
teriam actuado perto de Nacature.
Uma descrição caracteriza os "chengos" -os da seguinte forma:

".. os chengos, eram instalados numa clareira no mato espesso, em torno da qual abatiam as árvores
numa circumferência de perto de 100 metros. Em torno, cresciam arbustos e plantas espinhosas,
formando uma fortaleza inexpugnavel. Entrava-se no chengo por 2 ou 3 entradas formadas por um
corredor de troncos unidos que obrigaram a pessoa a entrar curvado, havendo outras saidas no mato,
apenas conhecidas da população. A maior parte destas povoações estavam fortificadas com
trincheiras ao longo dos corredores de entrada ou perpendicularmente".

Nas zonas menos expostos as guerras as povoações também eram circulares, mas menos
fortificadas.
Depois do fim da guerra em 1918 o território de Cabo Delgado não foi logo devolvido à
Companhia do Niassa. Saíram as tropas britânicas e ficaram as portuguesas, vivendo nas
suas guarnições e mantendo as suas comunicações. Entre Março e Junho de 1919 as forças
portuguesas no norte de Moçambique foram reorganizados. Foram extintos a "Expedição
de Moçambique" e o "Comando Superior do Território d'além Msalu" (Msalo, ou Messalo),
este último só instituido em Março de 1919 e chefiado pelo General Gomes da Costa,
futuro marechal de campo e organizador e cara do golpe de estado de 1926. Ficou um
"comando do território Maconde" (ou "Comando das forças de ocupação do território
Makonde e Kionga)".
Desde Novembro de 1919 este comando deve ter exercido alguma actividade: Pela ordem
nº 15, datado de Mocimboa da Prais de 5 de Dezembro de 1919, há um louvor para o
alferes Justino Botelho Moniz Teixeira Vasconcelos e Sá da 13ª Companhia de Infanteria
Indígena que teria sufocado o "movimento de rebelião que se pretendia levar a efeito na
região de Mahunda nas terras do capitão-mor Diancar" [Diancali].
No dia anterior tinham dado entrada no "comando da base" 24 presos nominalmente
descriminados. O primeiro era o Capitão mór "Diancar". No dia 11 estes presos
embarcaram no vapor costeiro"Chinde" provavelmente com destino à Fortaleza de S.
Sebastião na Ilha de Moçambique. [ Um descendente ou sucessor deste Diankali, seria em
1962 o representante da MANU de Mombasa no Quénia.]
A administração colonial e os primórdios do mercado de arte
A partir de Março de 1920 planifica-se a dissolução deste corpo e em Maio ou Junho a área
Maconde é entregue a Companhia do Niassa.
O Boletim da Companhia do Niassa menciona em 6 de Maio de 1920 a planificação de uma
"coluna" dos Macondes. Pensamos que essa "coluna" não era mais do que um golpe

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publicitário. Marcharam funcionários administrativos incluindo talvez uns 130 cipaios e
ocupando os postos que as tropas portuguesas entregaram.
Pelo menos um dos funcionáros envolvidos na ocupação recebeu um louvor oficial. Já no
ano seguinte o "Comando militar dos Macondes" é extinto por o território ser
"completamente ocupado e absolutamente pacificado". Dois anos depois, em 1923, juntam-
se todos os Macondes numa única Circunscrição, por ser um "núcleo único de população"
mas a iniciativa não parece ter sido aprofundada por outras medidas e relatórios até ao fim
do período da concessão da Companhia do Niassa em 1929.
Como referido, os Makonde não eram só guerreiros, faziam também algum comércio e
faziam bonitas caixinhas de madeira para o rapé (ou tabaco moido) e pólvora. Estas
caixinhas eram já por volta de 1908 objecto de troca em toda a região. Depois da conquista,
depois da 1a Guerra Mundial, os caçadores desportivos que caçaram na zona vizinha,
levaram colecções de máscaras e outros objectos de artesanato (cf. Schwerin 1939). Alguns
dos funcionários mais cultos da Companhia do Niassa, como o jurista Nunes de Oliveira,
que subiu por volta de 1936-38 a governador geral substituto de Mocambique, e que tinha
trabalhado em Pemba desde 1919 ou 1920, compravam objetos de pau preto, que começou
a ser matéria prima de eleição para objectos de exportação a partir desta altura. Ao mesmo
tempo o torno de madeira começou a ser utilizado para o fabrico de objectos redondos ou
torneados em pau preto.
Alguns especialistas trabalharam o mesmo pau leve utilizado nas máscaras e produziram
figuras como o “administrador” no Museu de Nampula. As máscaras da dança mapiko
também foram compradas por alguns coleccionadores neste período, como p.e os irmãos
Schwerin.
As missões cristãs tinham-se fixado relativamente tarde em Cabo Delgado, mas deixaram
um grande impacto em algumas áreas, incluindo a dos Maconde. Os padres Monfortinos
constroem missões em Namuno em 1922 e Nangololo em 1924. Eram padres holandeses e
franceses que fundaram as missões. A província de Cabo Delgado é a província
moçambicana com menos presença protestante. Os monfortinos já tinham tindo uma base
na Niassalândia britânica. Nangololo, a 40 km de Mueda (Mahunda), foi escolhido porque
possuía um acesso mais fácil à água. Estes missionários, também, estavam interessados em
objetos de pau preto. Pensamos que nos fins dos anos 20 já foram produzidas as primeiras
madonas e talvez as primeiras figuras de Jeus crucificado em pau preto.

Os Maconde e a luta de libertação


Vinte e cinco anos depois da primeira implantação dos missionários, já tinha sido criada
entre os Makonde que por volta de 1950 contaram cerca de 135.000 indivíduos em
Mocambique, uma "elite das missões" com professores e catequistas católicos. Os
Makonde recrutados em trabalho forçado para as plantações de sizal na zona islâmica perto
da costa foram, ja nos anos 40 e 50, identificados muitas vezes como católicos. O trabalho
forçado e melhores salários na Tanganyika aonde tinha até 1960 muitas plantações de sizal,
levam muitos Makonde a emigrar para o norte. Cresce uma diaspora importante em Lindi,
Dar-es-Salaam e Hinterland, Zanzibar e Mombasa, portanto na Tanganyika, na ilha de
Zanzibar e Kenia. Viviam em estreito contacto com os Swahili e sua folclore de espíritos,
djinns ou sheitanis.
Os contactos se estenderam também à absorpção de ideias políticas. Um grupo de pessoas
conotados com a MANU aconselhou em 1960 o administrador de Mueda a ajudar a

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conceder a independência política aos africanos. O resultado foi o massacre de Mueda, que
levou a mais refugiados e emigrantes Maconde na Tanganyika, e mobilizou também a elite
das missões para a luta de libertação. Quatro anos mais tarde, em 1964, começou a luta
armada, com forte envolvimento dos Maconde. Dai que depois da independência o Bairro
Militar em Maputo, se ter transformado quase num bairro Maconde, aonde quase
anualmente se celebraram ceremonias de circunscisão.
Moças Maconde, que vindo das escolas das missões, se juntavam a luta armada, foram uma
das bases mais fortes para a emancipação das mulheres moçambicanas e a sua integração
formal nela a partir de1965 ou 66. Elas participaram na luta e ainda hoje constituem uma
das base da organização da mulher moçambicana (O M.M.), então parte do movimento de
libertação e hoje uma organização do Partido Frelimo. Estiveram também um dos grupos
fortemente representados no exército moçambicano depois da independência, e os
especialistas em pesquisas antropológicas frequentaram o quartel de Maputo, por volta de
1980, para assistir a ceremónias de iniciação masculina e danças mapiko. Estes soldados
foram entretanto desmobilizados e reformados, alguns regressaram a Mueda. Os escultores
e torneiros makonde que se tinham estabelecido em algumas vilas e cidades de
Moçambique como Marrupa, Nampula, Quelimane e Maputo conseguiram em parte
sobreviver como artesãos, como também na Tanzania e Kenya, e adaptaram-se a novos
estilos. Os estilos ujamaa e sheitani foram complementados, por volta de 1987/8 por uma
linha de figuras com feições étnicas masai bastante estilizadas.
Apareceram tambem ceramistas, a mais conecida ]e Reinata Sadimba, nascida em 1945 em
Nimu, Mueda. Ela iniciou a sua actividade artistica por volta de 1975, tendo ficado de
1980 a 1992 na Tanzania.

Conclusão
Nesta resenha da trajectória conhecida dos Maconde destacámos os seus origens comuns
com os vizinhos, a importância da formação de grupos regionais, o seu passado de artesãos
e guerreiros, alguns momentos da sua incorporação no espaço colonial moçambicano por
volta de 1913-1919, e as suas transformações em cidadãos de Moçambique e alguns estados
da África Oriental. Já por volta de 1920 tinham assumido uma grande visibilidade entre os
africanos. De notar que identidade própria não significa isolamento, falta de interacção com
vizinhos, mas formação de uma unidade num habitat próprio. Culturalmente os Maconde
estão relativamente perto dos seus vizinhos, mas nenhum grupo desenvolveu a escultura em
madeira a um grau comparável com os Maconde.

FONTES E BIBLIOGRAFIA
Fontes orais: Gianfranco Gandolfo, Leonard Adamowicz, Maio de 2012
Abreviacões
AHM Arquivo Histórico de Moçambique, Maputo
AHU Arquivo Histórico Ultramarino, Lisboa
1.Fontes não publicadas
1a. AHM
Fundo do séc. XIX,
Gov. do Distrito de Cabo Delgado, Cx. 8-8
Cod. 11-1830, 11-1857, 1859, Cod. 4094, 4307,Cod. 11-4465
Fundo GG

6
Cota, Missão etnognósica
1b. AHU. Fundo de Moçambique (visto em 1983)
1.c Bona, Alemanha (Arquivo do Ministério dos Negocios Estrangeiros. Visto em 1982,
hoje provavelmente em Potsdam. (Referências a plantadores de sisal que utilizaram a
embaixada de holanda para se transferir da Tanganyika para Moçambique)
1d Fontes orais e documentos privados
Eugeniusz Rewuski, Fotos 1980, informações orais 1988
3.Teses
Nachaque, Paulo Pedro 1998: Transformações Sociais, estratégias de desenvolvimento e
realidades socio-económica e culturais: O caso do Distrito de Mueda, 1917-1992. .
Maputo: UEM, Diss. Licenciatura História (91pp).
Natal, João 2010 A istoria da Cerâmica em Moçambique: Estudo de Caso da Ceramista
Reinata Sadimba. Diss. Lic. Em istoria (4 anos) 29pp
Ngole, Severino Gabriel 1997: Ritos de Iniciação Masculinos e suas transformações
sociais no Planalto de Mueda entre 1924-1994. Maputo: UEM, Diss. Licenciatura História
(85 & 45 pp).
West, Harry 1997 Sorcery of construction and sorcery of ruin: power and ambivalence on
the Mueda Plateau (1882-1994). Wisconsin Ph. D. em Antropologia.[University
Microfilms]

Outros títulos manuscritos


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estudo para a solução dos problemas etnográficos do Império coligidos do Censo da
populaçâo indigena da colónia de Moçambique efectuado em 1940. (Manuscrito 295 pp, 2ª
versão 1947, no A.H.M.).
Obras Publicadas
Adam, Y. 1993: Mueda, 1917-1990: Resistência, colonialismo, libertação e
desenvolvimento. Arquivo (Maputo, Moçambique) 14: 9-101
Alpers, E.A. 1977: Madagascar and Mozambique in the nineteenth century, the era of the
Sakalava Raids (1800-1820). Manuscrito para colloque des historiens e juristes Academie
Malgache Set 1997 (DAA, UEM)
Alvarinho, Luís 1992: Pemba, sua gente, Mitos e a História 1850 a 1960. [impresso em
Reggio Emília 1992, datado Maputo 1991, 56pp]
Anuário de Lourenço Marques. Lourenço Marques: Bayly [desde ca. 1910 a 1975]
Art makondé/ tradition et modernité. Paris : Ministère des Affaires Étrangères, Sécrétariat
dÉtat au relations Culturelles Internationales, Association français dÁction artistique 1989
(catálogo, resultado de uma cooperação multinacional com artigos de diversos autores,
210pp, levantamento mais completo da arte dos Makonde ao norte e sul do rio Rovuma e
na diáspora começando com Carlos Themudo recolhidos em 1876, cf. pp. 45-47até à arte
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Baumann, Hermann 197 Völkerkunde Afrikas Wiesbaden : Steiner vol. 2


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Bennett, N.R. 1987b: Zanzibar, Portugal e Moçambique: Relações dos fins do séc. XVIII
até 1890.Rev. Intern. de Est. Africanos 6-7: 9-36. (trad. de Bennett 1987a)
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editais, regulamentos, louvores etc. para os territórios da Companhia do Niassa. A númeraç
o das páginas é contínua do número 1 até ao fim da série).
Cazzaninga, Rosa Carla 1994 Missão de Nangololo” Actos dos Apóstolos do Século XX
1924-1994. Maputo: EdiBosco
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Lisboa (Reimpressão Lisboa: CNCDP com novo prefácio de R.M. Pereira 1998)
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Lourenço Marques
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Arte Makonde
Whiteley, wilfred

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