Escolar Documentos
Profissional Documentos
Cultura Documentos
Em Moçambique, onde coabita uma miscigenação de mais de vinte etnias, o que corresponde a
igual número de grupos linguísticos, era presumível, em rigorosa observância dos postulados
aqui apresentados, que cada um dos grupos representasse uma unidade territorial, política e
cultural independente. Porém, o colonizador, ao definir as suas fronteiras, não respeitou estes
princípios, orientando-se nos acidentes naturais (rios e montanhas) e, noutros casos, em linhas
imaginárias contorcidas arbitrariamente. Assim, é frequente encontrar o mesmo povo dividido,
um de um lado e outro de outro lado da fronteira. Por outro lado, devido à sua localização junto
da costa índica, permitiu a confluência no território que corresponde à Moçambique de hoje, de
comerciantes chineses, árabes e indianos que implicitamente lançaram sementes para aculturação
do território.
Diante deste dado, Ngoenha (1992) argumenta que somos mistura de duas historicidades:
colonial e étnica. A primeira é a historicidade europeia, fonte das nossas instituições estatais e
guia da sociedade política institucional. A segunda, uma herança cultural autóctone, atrofiada
pelo choque de civilizações de que foi vítima e que caracteriza a consciência coletiva dos
moçambicanos. Assim, havendo falta de uma observância rigorosa dos pressupostos lançados
por Diop como condição da afirmação da identidade, no caso específico de Moçambique, para
acomodar o primeiro pressuposto (fator histórico) recorreuse ao colonialismo e à opressão
imperial como sendo o fator que une o povo todo do atual território moçambicano. Assim, de
acordo Gómez (1999), as autoridades, para justificarem a unicidade territorial, recorreram às
evidências coloniais explicando, por exemplo, que a resistência dos Makonde e Mataka no norte,
dos Bárue no centro e Ngungunhana no sul do país eram contra o mesmo inimigo, o
colonialismo.
Quanto ao segundo fator, havendo dificuldade de encontrar uma, entre mais de vinte línguas
nacionais, a mais representativa, as autoridades encontraram saída em adotar o Português, idioma
introduzido no território pelo respectivo colonizador. O idioma, embora não representativo em
termos dos seus falantes, pelo menos já era falado em todo o território e hoje é a língua nacional,
razão pela qual passou a ser incorporada como parte da cultura nacional e fator de identidade
deste povo. Mas isso não é tudo para criar uma nação unificada, pois é claro que entre os
elementos culturais que representam a base positiva mais importante para a formação do
sentimento nacional em toda a parte, um idioma comum é o mais destacado. Em relação ao
terceiro factor, o psicológico, é difícil indicar um único elemento que represente a forma de
pensar e de fazer do povo moçambicano como um todo, tendo em conta a diversidade étnica e
compreendendo que cada etnia tem os seus princípios psicológicos. No entanto, os princípios
psicológicos que sejam representativos de Moçambique estão em um processo de descoberta.
A cultura é usada para se referir aos padrões de vida de uma dada comunidade e a identidade, o
que distingue um do outro. Portanto, a extraordinária diversidade social entre os humanos
cumpre o papel de potenciar a afirmação da identidade. A cultura não é somente algo adquirido
por membros de um grupo como uma herança secular, como é também uma construção fruto da
interacção social. É o caso da cultura de solidariedade: o grau de coesão de um grupo mede-se
pelo nível de solidariedade entre os membros e esta é que garante a estabilidade da identidade.
No tocante à questão moçambicana, constatamos que é limitador identificar uma única
característica que represente a identidade dos moçambicanos como uma nação, em virtude da
multiplicidade de etnias e tendo em conta que cada etnia possui o seu legado histórico à parte, a
sua língua e um princípio psicológico, pressupostos básicos para a afirmação de uma nação.
Por isso, difícil é encontrar uma cultura nacional uniforme em todo o território e que sirva de
identidade dos moçambicanos. Por essa razão, afirma-se que em Moçambique não temos
identidade, mas identidades. Mas isso não significa uma impossibilidade de afirmação da nação.
Portanto, entende-se que, para acomodar o pluralismo cultural e promover o nacionalismo, é
preciso que haja uma solidariedade nacional, a tolerância, a valorização das diferenças, a
compreensão mútua e a inclusão social. Se faltar a observação destes elementos, a unidade
nacional será literal.
Actividade 14.3
Os makondes
Makuwa
Os Makhuwa, por vezes considerados como duas entidades diferentes, constituem a etnia de
Moçambique dispersa por um vasto território que no passado se estendia, do rio Zambeze ao rio
Messalo, a Sul e Norte, respectivamente, do Oceano Índico, a Este, até à actual fronteira com o
Malawi, a Oeste;
Os Yaos
Os Yao, também conhecidos por Ajaua, ocupam a região junto ao lago Niassa e o norte da
província com o mesmo nome. Os Yao também se encontram no Malawi e no sul da Tanzânia.
Fontes históricas revelam que os Yao eram bastante activos o comércio à longa distância,
ligando as regiões do interior com a costa do Índico: Quílua, na Tanzânia, e Ilha de
Moçambique. Antes dos finais do século XVIII eram os principais fornecedores de marfim.
Segundo Rita-Ferreira (1982:124) os Ajaua transitaram para as formas de comércio internacional
com Quílua e Ilha de Moçambique de uma forma gradual, a partir de trocas regionais restritas e
regionais de peles, produtos agrícolas e utensílios de ferro até atingir o nível de uma florescente e
bem organizada exportação de marfim, nos finais do século XVIII. Rita-Ferreira diz ainda que no
primeiro quartel do século XIX os Ajaua tinham-se transformado nos maiores fornecedores de
escravos exportados para Mossuril (ibid.:285). Dado o seu contacto regular com a costa de
influência muçulmana, os Ajaua islamizaram-se mais cedo que os outros povos do interior.
Entretanto, uma islamização significativa viria a acontecer depois de 1890, em resposta à
pressões trazidas pela ocupação colonial (Cf. Ibid.:289).
Auto-avaliação da Unidade