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Actividade 14.

Em Moçambique, onde coabita uma miscigenação de mais de vinte etnias, o que corresponde a
igual número de grupos linguísticos, era presumível, em rigorosa observância dos postulados
aqui apresentados, que cada um dos grupos representasse uma unidade territorial, política e
cultural independente. Porém, o colonizador, ao definir as suas fronteiras, não respeitou estes
princípios, orientando-se nos acidentes naturais (rios e montanhas) e, noutros casos, em linhas
imaginárias contorcidas arbitrariamente. Assim, é frequente encontrar o mesmo povo dividido,
um de um lado e outro de outro lado da fronteira. Por outro lado, devido à sua localização junto
da costa índica, permitiu a confluência no território que corresponde à Moçambique de hoje, de
comerciantes chineses, árabes e indianos que implicitamente lançaram sementes para aculturação
do território.

Diante deste dado, Ngoenha (1992) argumenta que somos mistura de duas historicidades:
colonial e étnica. A primeira é a historicidade europeia, fonte das nossas instituições estatais e
guia da sociedade política institucional. A segunda, uma herança cultural autóctone, atrofiada
pelo choque de civilizações de que foi vítima e que caracteriza a consciência coletiva dos
moçambicanos. Assim, havendo falta de uma observância rigorosa dos pressupostos lançados
por Diop como condição da afirmação da identidade, no caso específico de Moçambique, para
acomodar o primeiro pressuposto (fator histórico) recorreuse ao colonialismo e à opressão
imperial como sendo o fator que une o povo todo do atual território moçambicano. Assim, de
acordo Gómez (1999), as autoridades, para justificarem a unicidade territorial, recorreram às
evidências coloniais explicando, por exemplo, que a resistência dos Makonde e Mataka no norte,
dos Bárue no centro e Ngungunhana no sul do país eram contra o mesmo inimigo, o
colonialismo.

Quanto ao segundo fator, havendo dificuldade de encontrar uma, entre mais de vinte línguas
nacionais, a mais representativa, as autoridades encontraram saída em adotar o Português, idioma
introduzido no território pelo respectivo colonizador. O idioma, embora não representativo em
termos dos seus falantes, pelo menos já era falado em todo o território e hoje é a língua nacional,
razão pela qual passou a ser incorporada como parte da cultura nacional e fator de identidade
deste povo. Mas isso não é tudo para criar uma nação unificada, pois é claro que entre os
elementos culturais que representam a base positiva mais importante para a formação do
sentimento nacional em toda a parte, um idioma comum é o mais destacado. Em relação ao
terceiro factor, o psicológico, é difícil indicar um único elemento que represente a forma de
pensar e de fazer do povo moçambicano como um todo, tendo em conta a diversidade étnica e
compreendendo que cada etnia tem os seus princípios psicológicos. No entanto, os princípios
psicológicos que sejam representativos de Moçambique estão em um processo de descoberta.

A cultura é um conjunto de manifestações sociais que podem ser conhecimentos, crenças


religiosas, máximas da moral, costumes, hábitos, entre outras habilidades que o homem
conquista como herança e construção social. Por seu turno, essas particularidades da cultura, por
não serem uniformes em toda a extensão humana, criando assim distinções entre um povo do
outro, dão lugar à identidade.

A cultura é usada para se referir aos padrões de vida de uma dada comunidade e a identidade, o
que distingue um do outro. Portanto, a extraordinária diversidade social entre os humanos
cumpre o papel de potenciar a afirmação da identidade. A cultura não é somente algo adquirido
por membros de um grupo como uma herança secular, como é também uma construção fruto da
interacção social. É o caso da cultura de solidariedade: o grau de coesão de um grupo mede-se
pelo nível de solidariedade entre os membros e esta é que garante a estabilidade da identidade.
No tocante à questão moçambicana, constatamos que é limitador identificar uma única
característica que represente a identidade dos moçambicanos como uma nação, em virtude da
multiplicidade de etnias e tendo em conta que cada etnia possui o seu legado histórico à parte, a
sua língua e um princípio psicológico, pressupostos básicos para a afirmação de uma nação.

Por isso, difícil é encontrar uma cultura nacional uniforme em todo o território e que sirva de
identidade dos moçambicanos. Por essa razão, afirma-se que em Moçambique não temos
identidade, mas identidades. Mas isso não significa uma impossibilidade de afirmação da nação.
Portanto, entende-se que, para acomodar o pluralismo cultural e promover o nacionalismo, é
preciso que haja uma solidariedade nacional, a tolerância, a valorização das diferenças, a
compreensão mútua e a inclusão social. Se faltar a observação destes elementos, a unidade
nacional será literal.

Actividade 14.3
Os makondes

Os Makonde localizam-se no extremo norte, junto ao rio Rovuma. Encontram-se igualmente no


sul da Tanzânia, em número maior que em Moçambique. Apresentam como traços culturais
particulares a escultura em madeira, o uso de máscaras nas cerimónias relacionadas com os ritos
de iniciação e a execução da dança tradicional conhecida por “mapico”. Foi em Mueda, centro
dos Makonde, que em 16 de Junho de 1960 as autoridades portuguesas reprimiram uma
manifestação política da população local assassinando várias centenas de pessoas, fenómeno que
passou a ser conhecido na história por Massacre de Mueda. Foi na região dos Makonde, no posto
administrativo de Chai, que em 25 de Setembro de 1964 é desencadeada a Luta Armada de
Libertação Nacional, 47 anos depois que essa mesma região se constituiu no último foco da
submissão à ocupação militar portuguesa.
Auto-avaliação

1. Preencha o quadro seguinte:

Etnia Localização Lingua


Os makondes localizam-se no extremo norte, junto ao rio Rovuma. Encontram-se Emakonde
igualmente no sul da Tanzânia, em número maior que em
Moçambique.
Os Yaos ocupam a região junto ao lago Niassa e o norte da província com o ajaua
mesmo nome. Os Yao também se encontram no Malawi e no sul da
Tanzânia.
Makuwa constituem a etnia de Moçambique dispersa por um vasto território
que no passado se estendia, do rio Zambeze ao rio Messalo, a Sul e
Norte, respectivamente, do Oceano Índico, a Este, até à actual
fronteira com o Malawi, a Oeste;
Emakuwa
Na actualidade, com o centro em Nampula, os Makhuwa-Lomwe
espalham-se para partes das províncias de Cabo Delgado, Niassa e
Zambézia. Importantes agrupamentos Makhuwa encontram-se
também no Madagáscar, no sul da Tanzânia e no Malawi, também a
sul.

Maraves A norte do rio Zambeze, na província de Tete e na parte ocidental da Cheua e


província do Niassa Nsenga
Shonas Os Shona ocupam os territórios entre os rios Save e Zambeze, chiShona
subdividindo-se em três grupos distintos: Ndau, Manyka e Tewe. De
uma forma geral, surgem espalhados pelas províncias de Manica,
Tete e Sofala e, ainda, por algumas províncias do Zimbabwe.
Bitonga concentram-se no sul do país, junto à costa, e nos arredores da Bitonga
cidade de Inhambane, e numa faixa que vai para mais a sul,
Chope são dos distritos de Zavala e Inharrime, na província de Inhambane ChiChope
Os Tsongas os Ronga (do extremo Sul até ao rio Limpopo), os Changane (junto Ronga e
ao rio Limpopo) e os Tswa (a norte do rio Limpopo e até ao rio chichangana
Save).

O grupo Tsonga tem continuidades nos territórios da África do Sul e


da Suazilândia.
2. Escolha duas etnias indicadas no quadro e apresente as suas características
socioculturais.

Makuwa

Os Makhuwa, por vezes considerados como duas entidades diferentes, constituem a etnia de
Moçambique dispersa por um vasto território que no passado se estendia, do rio Zambeze ao rio
Messalo, a Sul e Norte, respectivamente, do Oceano Índico, a Este, até à actual fronteira com o
Malawi, a Oeste;

Na actualidade, com o centro em Nampula, os Makhuwa-Lomwe espalham-se para partes das


províncias de Cabo Delgado, Niassa e Zambézia. Importantes agrupamentos Makhuwa
encontram-se também no Madagáscar, no sul da Tanzânia e no Malawi, também a sul. Os
Makhuwa reclamam, segundo a tradição, uma origem mítica comum, como comuns são também
a sua organização sócio-familiar e a língua que falam. Alguns estudos advogam ser este o grupo
bantu mais antigo desta parte da África Austral.

Entre os makuwas, as linhagens familiares estão extensivamente representadas em todo o


território [étnico], levando-nos à conclusão do íntimo parentesco existente entre as gentes que
constituem aquilo a que tem sido uso apodar de “tribos” Macuas. Igualmente, se encontram as
mesmas linhagens familiares (mahimo) em todas as “tribos” Macuas e Lomues, cada qual
reportando-se ao mesmo fundador antepassado. O que nos permite reconhecer que todas as
chamadas “tribos” Macuas e Lomues são afinal um mesmo povo, embora por vezes assumindo
variações regionais (1970:106).

Os Yaos

Os Yao, também conhecidos por Ajaua, ocupam a região junto ao lago Niassa e o norte da
província com o mesmo nome. Os Yao também se encontram no Malawi e no sul da Tanzânia.
Fontes históricas revelam que os Yao eram bastante activos o comércio à longa distância,
ligando as regiões do interior com a costa do Índico: Quílua, na Tanzânia, e Ilha de
Moçambique. Antes dos finais do século XVIII eram os principais fornecedores de marfim.
Segundo Rita-Ferreira (1982:124) os Ajaua transitaram para as formas de comércio internacional
com Quílua e Ilha de Moçambique de uma forma gradual, a partir de trocas regionais restritas e
regionais de peles, produtos agrícolas e utensílios de ferro até atingir o nível de uma florescente e
bem organizada exportação de marfim, nos finais do século XVIII. Rita-Ferreira diz ainda que no
primeiro quartel do século XIX os Ajaua tinham-se transformado nos maiores fornecedores de
escravos exportados para Mossuril (ibid.:285). Dado o seu contacto regular com a costa de
influência muçulmana, os Ajaua islamizaram-se mais cedo que os outros povos do interior.
Entretanto, uma islamização significativa viria a acontecer depois de 1890, em resposta à
pressões trazidas pela ocupação colonial (Cf. Ibid.:289).

Auto-avaliação da Unidade

1. Como é que a evolução da agricultura opera transformações na sociedade?

A introdução e sistematização da agricultura constituiu uma significativa revolução ou mudança


na sociedade.

2. Indique as transformações ocorridas a partir da introdução da actividade agrícola

A actividade agrícola permitiu melhorar as condições de vida, o crescimento demográfico e uma


melhor estruturação da sociedade – dieta alimentar, construções mais robustas, diversificação de
actividades, intercâmbio de produtos.

3. Relacione a introdução da agricultura com o surgimento de novas unidades


sociopolíticas

Essas condições levaram à formação de novas unidades sociopolíticas a partir da criação de um


excedente de produção e da criação duma rede de relações de subordinação.

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