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Professoras: Joana Farrajota e Margarida Rego

❖ Introdução ao Direito das Obrigações (Art.397º - Art.873º)


➢ ramo do direito privado que regula (na esmagadora maioria dos casos) as
relações jurídicas entre privados
■ excluindo então entidades públicas
● As entidades públicas podem realizar negócios jurídicos como
se se tratassem de privados, despojando as suas vestes de
entidades públicas, sujeitando-se aos regimes obrigacionais
como qualquer privado.
◆ ex: se uma câmara municipal arrenda um espaço, esse
espaço estará sujeito às mesmas regras do regime
jurídico do arrendamento como se se tratasse de um
privado.
➢ os indivíduos são livres de proceder à criação (ou não criação) de obrigações
na sua esfera jurídica para com outros indivíduos
■ É então relevante saber identificar se num determinado caso houve a
criação de uma obrigação ou não
■ ex: por meio do tipo/forma/conteúdo/intenção da declaração que emiti
● aqui entra então o conceito de bom senso.
➢ Art.397º
■ vínculo jurídico por virtude do qual uma pessoa fica adstrita para com
outra à realização de uma prestação.
■ é um vínculo, uma relação, ou seja, há alguém com o direito de exigir
algo (credor) e outro alguém com o dever de realizar algo (devedor)
● prestação = conduta a ser realizada pelo devedor
■ OBS: prestação é o objeto da obrigação
■ Obrigação em sentido estrito
● direito de crédito (credo + devedor)
● prestações principais: direito de cobrar e dever de cumprir
■ Obrigação complexa
● prestação adjacentes que complementam, normalmente, as
prestações principais
● ex: entrego a máquina de lavar (obrigação) mas também
preciso entregar o manual (adjacente), no entanto, o conjunto
disto tudo mantém-se como obrigação
➢ Art.398º
■ 1: liberdade de definição do conteúdo da prestação
● obviamente, em observância pelo Art.280º CC
● positiva: tem-se de dar ou fazer algo
◆ ex: pintar as paredes
● negativa: tem-se de abster de dar ou fazer algo (omissão)
◆ ex: acordo de confidencialidade; cláusula de não
concorrência
■ 2: definição de prestação
● uma prestação não precisa necessariamente ter um custo, ou
seja, ser um património
◆ ex: prestação de desmentir uma notícia
● ainda sim, para ser considerada prestação, há de ter relevância
jurídica/tutela jurídica
◆ ou seja, ser regulada pelo direito!
◆ qualquer prestação regulada por outra norma normativa,
não pode ser prestação
■ OBS: prestação de facto X prestação de coisa
● de facto: alguém obriga-se a realizar certa ação
◆ seja a prestação positiva ou negativa, mas ação
◆ ex: pintar uma parede
● de coisas: alguém obriga-se a dar algo
◆ nesse caso, a prestação é sempre positiva pois não tem
como se abster de entregar
◆ ex: dar crédito a alguém
➢ Cumprimento das Obrigações
■ fator importante: cumprimento de forma voluntária
● quando o cumprimento de uma obrigação é realizado de forma
involuntária, há a extinção da obrigação
◆ extinção da obrigação, e não o cumprimento em sentido
estrito
➢ em sentido abstrato, haveria cumprimento, a
conduta foi realizada mas involuntariamente
◆ nestes casos, pode gerar responsabilidade civil
■ 2º - incumprimento das obrigações
● há um conjunto de instrumentos do direito para o credor
resolver esta situação
● no entanto, há situações em que não é possível existir
incumprimento
◆ ex: posição sujeição e ônus
➢ Dever jurídico genérico
■ deveres com indivíduos não especificados
● ex: dever de respeitar propriedade
◆ não há especificação dos sujeitos, mas eu sou obrigado
a respeitar a propriedade alheia
➢ Relatividade da Obrigação
■ a obrigação não produz efeitos relativos a terceiros, apenas a quem está
envolvido na relação obrigacional
➢ Exercício de Compra e Venda
■ “Zé vê que já não tem sal e vai até a uma mercearia. Pega num pacote
de sal, deixa um euro ao balcão e vai à sua vida. Xerxes, o dono,
assiste a tudo e não reage.”
■ Estamos então perante um contrato de compra e venda, regulado no
Art.874º e seguintes do CC. O Art.879º descreve os efeitos deste tipo
de contrato, e mostra que surgem duas obrigações dele:
● 1º: A obrigação de entregar a coisa;
◆ o comprador está na situação jurídica passiva
● 2º: E a obrigação de pagar o preço.
◆ o vendedor está na situação jurídica passiva
■ Na esfera jurídica do comprador, surge o direito de receber a coisa e o
dever de pagar o preço. Na esfera jurídica do vendedor, surge o direito
de exigir o pagamento da coisa e o dever de entregar a coisa.
■ Para o ordenamento jurídico, o nascimento da obrigação é dependente
de dois momentos distintos: a celebração do contrato e o momento de
realização das condutas.
■ No caso de um contrato de compra e venda, (especificamente quando
vamos às compras) não existem esses dois momentos distintos.
● Ao tirarmos produtos das prateleiras estamos a impedir a
criação da obrigação da entrega da coisa
◆ ela não chega sequer a surgir na esfera jurídica do
vendedor
● O mesmo não se pode dizer em relação à obrigação de pagar o
preço para o comprador no momento em que coloca os
produtos no tapete rolante da caixa, mas mesmo assim podemos
tirar produtos do tapete e não somos obrigados a pagá-los se
não os levarmos.
◆ ou seja, se eu vou levar o produto, eu sou obrigado a
pagar, mas o simples ato de colocar no caixa, não me
obriga a comprar
■ Assim, apesar de haver contrato, não se chegaram a formar obrigações!
➢ Art.402º
■ Obrigações Naturais
● reconhecidas pelo ordenamento jurídico, mas tuteladas de
forma extremamente restrita em comparação às obrigações
civis
■ Não posso exigir em tribunal o seu cumprimento!!
● ele é titular do direito de crédito, mas não pode ir a tribunal
exigir o cumprimento daquela obrigação/conduta
■ A obrigação natural, traduz-se em um dever de justiça!
OBS: se só dizer “obrigação” no exame, presume-se que são as civis, porque as naturais
são exceções.
■ ex: Davi e Julia apostem qual time é melhor (benfica x sporting), Julia
ganhou e davi pagou-lhe 100€
● assim, diana (irmã de davi) invocou a nulidade do negócio e
exigiu o dinheiro de volta, logo, não produz mais efeitos
jurídicos a aposta realizada entre davi e julia
● no entanto, dado o aproveitamento do credor, este não é
obrigado a devolver a prestação já prescrita
◆ logo, Julia não precisa devolver os 100€ que recebeu
após ganhar a aposta
● Art.1245º - regula esse caso de apostas e jogos = casos mais
comuns de obrigações naturais
■ exemplos: obrigações prescritas (art.304º,2) e alimentos (art.495º,3) +
jogos e apostas (art.1245º)
➢ Art.403º
■ não posso exigir uma prestação de volta
■ Direito de aproveitamento do credor e da prestação que foi feita, e da
impossibilidade de exigir de volta a prestação cumprida
● ou seja, o credor tem direito de ficar com a prestação, não é
obrigado a devolver
➢ Exercício nº4
■ Diana quer que emerja uma obrigação natural
● neste caso, há um problema de que necessitava a existência de
um acordo entre as partes, algo que não foi discutido e nem
estipulado
◆ principalmente para defendermos a posição da
professora
■ problemática: as partes podem convencionar, com sua liberdade de
estipulação, quando uma obrigação é natural ou não?
● discussão doutrinária: quais os limites de autocomposição dos
interesses das partes
● resposta maioritária: as partes não podem definir uma
obrigação como natural ou não, pois traduz-se como nula nos
termos do art.809º, mantendo-se uma obrigação civil
● Posição da professora: só deve haver limitação da liberdade de
atuação se justifique um interesse muito superior ao privado
que necessita intervir
◆ como no direito privado, eu posso fazer tudo que não é
proibido, dada a liberdade de atuação, não preciso
utilizar do 809º, uma forma super violenta e coercitiva
do estado de se intrometer, e apenas utilizar a ideia de
tutela do credor por meio do abuso do direito ou da
usura para defender o credor
➢ neste caso, o devedor não fica protegido
➢ Art.809º
■ artigo visa salvaguardar o interesse do credor, proteção/tutela do credor
● ele não pode, antecipadamente, renunciar os direitos que o
ordenamento o atribua
● o credor, antes do problema, não pode dizer “não quero os
instrumentos para reagir a um problema futuro”
◆ ele pode estar em um momento de fragilidade e
necessitar celebrar um contrato (usura - problema de
provar: tem que preencher todos os pressupostos)
● regime da nulidade
➢ Art.778º
■ Obrigações cum voluerit
● o devedor cumpre a prestação quando quiser,
compreendendo-se, portanto, a obrigação como natural
■ nesse caso, posso salvar o negócio convertendo uma obrigação
supostamente civil, para natural - dando a liberdade de estipulação e
atuação aos privados - e o devedor irá pagar quando quiser
● sujeitando-se a uma obrigação civil apenas no caso de morte do
devedor
❖ Cumprimento e Não Cumprimentos das Obrigações
➢ Art.762º
■ realização voluntária da prestação por parte do devedor
● realizada da conduta devida
■ para poder dizer que há cumprimento, tem que corresponder
exatamente a aquilo que o devedor se vinculou a fazer
● Princípio da Pontualidade
◆ Art.406ºnº1: o contrato deve ser pontualmente cumprido
➢ mesma ideia, eu cumpro quando realizo
pontualmente o que eu vinculei
◆ Art.837º
➢ mesmo que eu de mais, só se o credor aceitar,
que se dá por cumprido
➢ extinguindo a obrigação
● Princípio da integralidade
◆ Art.763ºnº1: concretização do princípio da pontualidade
◆ consequências do princípio: em uma situação que o
devedor é presente apenas parte da prestação, o credor
tem a faculdade de recusar a prestação
➢ o credor faz licitamente a recusa da prestação
pela falta da sua integralidade
➢ mas, ele também pode aceitar, se ele quiser né
■ nº2: boa-fé no cumprimento das obrigações
● necessidade de observância do interesse por trás do
cumprimento, não bastando apenas a realização da conduta
independemente da situação e o interesse/satisfação por trás
● deveres acessórios de conduta - emergem do conceito de boa-fé
◆ deveres de lealdade
➢ atingir a finalidade do uso que o credor projeta
pela prestação
■ ex: o credor deve colaborar com o
devedor para o cumprimento da
prestação - não devo dificultar a atuação
do devedor
◆ deveres de proteção
➢ proteger as partes de quaisquer danos
(patrimoniais ou não, ou seja, de valor
pecuniário ou não) que possam surgir da
execução da prestação
■ ex: peço a alguém para pintar minha casa
e não sujar nada, eu ajudo tirando o
máximo de coisas possíveis do
caminho/espaço que será pintado para
facilitar e proteger o outro tbm
● OBS: deveres acessórios de conduta ≠ deveres secundários
◆ tudo gira a volta da prestação principal
◆ e depois tem os planetas que surgem como prestações
secundárias
◆ e depois vão surgindo mais merdas, mais prestações e
deveres acessórios de conduta
◆ pode ser responsabilizado civilmente pela violação dos
deveres acessórios de conduta
➢ Art.763º
■ a prestação deve ser realizada na sua totalidade
■ eu cumpro integralmente, e não em partes
● exceto, obviamente, se houver acordado ou lei diversa
(liberdade de atuação)
● ex: comprar a prestações um telefone; pagar um empréstimo
concedido pelo banco; contrato de compra e venda
(Art.934º)
■ o credor pode pedir só uma parte da prestação ao devedor
● mas, o devedor pode cumprir com a sua prestação na
integralidade, indiferentemente da opção do credor de querer
receber apenas uma parte
● e o credor tem a obrigação de aceitar
◆ se não aceitar, ele entra em mora, ou seja, em
incumprimento/violação do seu dever de aceitar a
prestação - Art.813º
➢ Exercício nº5
■ Princípio da materialidade subjacente (doutrina)
● o direito procura a obtenção de resultados efetivos
● neste caso, o objetivo do cumprimento é o aproveitamento
efetivo da prestação por parte do credor
● o interesse que se impõe é o da satisfação do credor
■ a conduta pode até ter sido feita, mas o que interessa é o que está por
trás da conclusão, foi o interesse realmente satisfeito?
■ Art.762º nº2 - necessidade do princípio da boa-fé
● neste caso, ricardo até cumpriu com sua conduta, no entanto,
não houve a observância do interesse por trás do cumprimento
● e ainda sim, Ricardo agiu em má-fé, considerando a enorme
possibilidade dele e João serem assaltados
● Ricardo não teve em conta os interesses do João, ele tinha que
ser leal e assegurar o aproveitamento da prestação pelo João
● portanto, Ricardo agiu em violação do princípio da boa-fé
● pode ser responsabilizado civilmente pela violação dos deveres
acessórios de conduta
➢ Exercício nº6
■ o resultado não é possível de ser assegurado pelo xavier
■ o interesse da prestação é o despejo, mas está fora das mãos do xavier
realizar tal ato
● ele poderia ir a tribunal tudo certo e ainda sim perder a ação
■ quando há cumprimento?
● eu preciso fazer um trabalho prévio sobre qual é a conduta que
a pessoa se vinculou
● ou seja, determinar o objeto da prestação
● depende se houve cumprimento ou não cumprimento de acordo
com o resultado que se está a obrigar
■ neste caso, Xavier realizou as diligencias necessárias para obtenção do
resultado e ainda de acordo com a obrigação a qual ele se vinculou
● por acaso, zé fez com que o resultado final fosse atingido ao
entregar as chaves a vera, no entanto, não exclui o facto de que
xavier realizou todo o seu papel, vulgo, a sua parte do negócio
que era realizar esses resultados intermédios para no fim tentar
obter o resultado final
● portanto, vera deve pagar a xavier pelo seu trabalho e
cumprimento da prestação a que este se vinculou

➢ Obrigações ditas de meio e Obrigações ditas de resultado

■ todas as obrigações são ditas de meio e de resultado


■ meio: não me obrigo a atingir determinado resultado, porque esse
resultado, em regra geral, está fora do meu controle
● exemplo clássico: médico salvar o paciente, ou advogado
ganhar uma causa
● ainda sim, mesmo que ele não se obriga a um certo resultado,
há um resultado que eu me obriguei
◆ o médico não se obriga a salvar o paciente, mas se
obriga a constituir equipe, realizar o mínimo necessário
para o cuidado e ações no paciente, ele só não se obriga
ao resultado final
● o resultado final não permite aferir se houve cumprimento ou
não cumprimento
◆ porque há uma série de resultados intermédios, aos
quais as pessoas se vinculam, que por vezes e pelos
maiores esforços que possam realizar, não irão garantir
a concretização do resultado final, uma vez que este está
fora de seu controle
■ resultado:
● ex: me obrigo a entregar as cadeiras, e entrego as cadeiras
◆ é a obrigação ao resultado final, que é possível e está
dentro do seu controle
➢ Prestações
■ Execução instantânea
● elas consomem-se em um único momento
● ela extingue-se no momento da realização do ato
■ Execução duradoura

■ Pecuniária
➢ Exercício nº7
■ 1-
■ 2 - prestação de execução instantânea
■ 3 - prestação
● seria instantânea se tivesse pago o casaco e entregue o casaco
● mas como ela pede a alteração da sua prestação, pede que seja
fracionada
◆ João - credor / Elvira - devedor

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