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INTENSIVO I
Flávio Tartuce
Direito Civil
Aula 11

ROTEIRO DE AULA

Teoria Geral das Obrigações (CC, arts. 233 a 420)

1. Conceito de obrigação e seus elementos estruturais

Tanto o Código Civil de 1916 como o Código Civil de 2002 não definiram a obrigação. Essa tarefa foi atribuída à doutrina.

Conceito: A obrigação é uma relação jurídica transitória existente entre um sujeito ativo (credor) e um sujeito passivo
(devedor); e cujo conteúdo é uma prestação economicamente apreciável. Nos casos de inadimplemento, poderá o
credor satisfazer-se no patrimônio do devedor (Washington de Barros Monteiro, Limongi, Villaça, Pablo, Chaves,
Pamplona, Rosenvald).

São elementos obrigacionais:

1.1. Elementos subjetivos (pessoas)


a) Sujeito ativo: tem um direito subjetivo. É o credor.

b) Sujeito passivo: tem um dever jurídico. É o devedor.

➢ Simbologia:

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Observação: No mundo contemporâneo obrigacional, raras são as situações em que uma parte é só credora e a outra
somente devedora. Prevalecem, na prática, as hipóteses em que as partes são credoras e devedoras entre si, havendo a
proporcionalidade das prestações (sinalagma obrigacional).

Credor Devedor

A B

Devedor Credor

➢ O sinalagma forma a base objetiva do negócio jurídico.

➢ Quebra do sinalagma: é a quebra da base objetiva do negócio jurídico (onerosidade excessiva ou “efeito gangorra”).
Trata-se do desequilíbrio obrigacional.
O problema no sinalagma pode se dar de duas formas (Junqueira de Azevedo):

• Sinalagma genético: o negócio jurídico já nasceu desequilibrado. Exemplos: CC, arts. 1561 (estado de perigo) e
1572 (lesão).
• Sinalagma funcional: o negócio jurídico ficou desequilibrado depois (fato superveniente). Exemplos: CC, arts.
3173 e 4784 (revisão ou resolução do contrato pela teoria da imprevisão).

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CC, art. 156: “Configura-se o estado de perigo quando alguém, premido da necessidade de salvar-se, ou a pessoa de
sua família, de grave dano conhecido pela outra parte, assume obrigação excessivamente onerosa”.
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CC, art. 157: “Ocorre a lesão quando uma pessoa, sob premente necessidade, ou por inexperiência, se obriga a
prestação manifestamente desproporcional ao valor da prestação oposta”.
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CC, art. 317: “Quando, por motivos imprevisíveis, sobrevier desproporção manifesta entre o valor da prestação devida
e o do momento de sua execução, poderá o juiz corrigi-lo, a pedido da parte, de modo que assegure, quanto possível, o
valor real da prestação”.
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CC, art. 478: “Nos contratos de execução continuada ou diferida, se a prestação de uma das partes se tornar
excessivamente onerosa, com extrema vantagem para a outra, em virtude de acontecimentos extraordinários e

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1.2. Elemento objetivo (conteúdo)


Elemento imediato (mais próximo): prestação.
• Elemento mediato (mais remoto): coisa (dar), tarefa (fazer) ou abstenção (não fazer). Ou seja, o elemento
mediato é o bem jurídico tutelado.

Questão: Qual é o elemento imediato da prestação? É o elemento mediato da obrigação.

1.3. Elemento imaterial, virtual ou espiritual da obrigação


É o vínculo jurídico que une as partes ao objeto e que gera a responsabilidade civil contratual nos casos de
inadimplemento (CC, arts. 3895, 3906 e 3917).

Teorias explicativas da obrigação:


• Teoria monista: prevaleceu até o final do Século XIX. A obrigação está fundada em um único conceito:
prestação.
• Teoria dualista: surgiu no final do Século XIX (Alois Brinz) e prevalece na atualidade. A obrigação está fundada
em dois conceitos:
✓ Débito (“Debitum” ou “Schuld”).

imprevisíveis, poderá o devedor pedir a resolução do contrato. Os efeitos da sentença que a decretar retroagirão à data
da citação”.
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CC, art. 389: “Não cumprida a obrigação, responde o devedor por perdas e danos, mais juros e atualização monetária
segundo índices oficiais regularmente estabelecidos, e honorários de advogado”.
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CC, art. 390: “Nas obrigações negativas o devedor é havido por inadimplente desde o dia em que executou o ato de
que se devia abster”.
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CC, art. 391: “Pelo inadimplemento das obrigações respondem todos os bens do devedor”.

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✓ Responsabilidade (“Obligatio” ou “Haftung”): só surge se o débito não for cumprido.

Pela teoria dualista, são possíveis duas situações:

1ª: Débito sem responsabilidade (“Debitum sine obligatio” ou “Schuld ohne Haftung”): a dívida existe, mas não pode
ser exigida. É o que ocorre na obrigação natural ou incompleta. Exemplos: dívida prescrita (CC, art. 8828) e gorjeta.
2ª: Responsabilidade sem débito (“Obligatio sine debitum” ou “Haftung ohne Schuld”): a pessoa é responsável sem que
a dívida seja sua. Exemplo: fiador.

➢ Observação n. 1- Conceito de obrigação “propter rem” (própria da coisa). Também denominada real, mista, híbrida,
ambulatória ou reipersecutória: é a obrigação que uma pessoa tem sobre uma coisa e que a acompanha com quem
quer que ela esteja. Exemplos: tributos que recaem sobre o imóvel e dívidas condominiais (CC, art. 1.3459).

➢ Observação n.2 - Obrigação como processo (Clóvis do Couto e Silva): a obrigação representa um contínuo processo
de colaboração entre as partes, que conduz ao adimplemento (cumprimento).
Como tal, a obrigação tem:
• Deveres principais: dar, fazer e não fazer.
• Deveres anexos (ou laterais): inerentes à boa-fé objetiva.

2. Classificação da obrigação quanto à prestação (CC, arts. 233 a 251)

• Obrigação de dar (positiva):


✓ Coisa certa (específica).
✓ Coisa incerta (genérica).
• Obrigação de fazer (positiva):
✓ Fungível.
✓ Infungível (personalíssima).
• Obrigação de não fazer (negativa) – infungível (personalíssima).

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CC, art. 882: “Não se pode repetir o que se pagou para solver dívida prescrita, ou cumprir obrigação judicialmente
inexigível”.
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CC, art. 1.345: “O adquirente de unidade responde pelos débitos do alienante, em relação ao condomínio, inclusive
multas e juros moratórios”.

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2.1. Obrigação de dar

a) Obrigação de dar coisa certa


Denominada obrigação específica, pois a coisa encontra-se individualizada (o objeto é determinado). Assim, não há
necessidade de uma escolha.
Exemplo: contrato de compra e venda do imóvel “x”.
Na obrigação específica, o credor não é obrigado a receber coisa diversa, ainda que mais valiosa (CC, art. 31310) (“nemo
aliud pro alio”) – Princípio da identidade da prestação.

CC, art. 23311: em regra, a coisa certa abrange os seus acessórios (princípio da gravitação jurídica).
A regra se aplica aos frutos e às benfeitorias. As pertenças não seguem o principal, em regra (CC, art. 9412).

Oito regras de inadimplemento das obrigações de dar coisa certa, incluindo as obrigações de restituir:

➢ 1ª regra (CC, art. 23413): Obrigação de dar. Perda da coisa. Sem culpa do devedor.
Resolve-se a obrigação sem perdas e danos.
✓ “Resolve-se” = volta ao estado primitivo.

➢ 2ª regra (CC, art. 234): Obrigação de dar. Perda da coisa. Com culpa do devedor.
O devedor responde pelo equivalente à coisa com perdas e danos. Há a resolução com perdas e danos.

➢ 3ª regra (CC, art. 23514): Obrigação de dar. Deterioração da coisa. Sem culpa do devedor.
O credor poderá resolver a obrigação ou aceitar a coisa no estado em se encontrar, abatido de seu preço o valor
que perdeu.

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CC, art. 313: “O credor não é obrigado a receber prestação diversa da que lhe é devida, ainda que mais valiosa”.
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CC, art. 233: “A obrigação de dar coisa certa abrange os acessórios dela embora não mencionados, salvo se o
contrário resultar do título ou das circunstâncias do caso”.
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CC, art. 94: “Os negócios jurídicos que dizem respeito ao bem principal não abrangem as pertenças, salvo se o
contrário resultar da lei, da manifestação de vontade, ou das circunstâncias do caso”.
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CC, art. 234: “Se, no caso do artigo antecedente, a coisa se perder, sem culpa do devedor, antes da tradição, ou
pendente a condição suspensiva, fica resolvida a obrigação para ambas as partes; se a perda resultar de culpa do
devedor, responderá este pelo equivalente e mais perdas e danos”.
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CC, art. 235: “Deteriorada a coisa, não sendo o devedor culpado, poderá o credor resolver a obrigação, ou aceitar a
coisa, abatido de seu preço o valor que perdeu”.

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➢ 4ª regra (CC, art. 23615): Obrigação de dar. Deterioração da coisa. Com culpa do devedor.
O credor poderá resolver a obrigação (equivalente) ou aceitar a coisa no estado em que se encontrar, nos dois casos
com perdas e danos.

➢ 5ª regra (CC, art. 23816): Obrigação de restituir. Perda da coisa. Sem culpa do devedor.
Sofrerá o credor a perda e a obrigação se resolverá, ressalvados os seus direitos até o dia da perda.

Observação: “res perit domino”: a coisa perece para o dono.


Exemplos:
• Vigente um comodato, o veículo é roubado à mão armada. Nesse caso, o comodatário (devedor) nada deve
pagar ao comodante (credor).
• Vigente uma locação, o imóvel é destruído por um incêndio. O locatário só deve pagar ao locador eventuais
aluguéis em aberto.

➢ 6ª regra (CC, art. 23917): Obrigação de restituir. Perda da coisa. Com culpa do devedor.
O devedor responderá pelo equivalente à coisa mais perdas e danos. Há a resolução com perdas e danos.

➢ 7ª regra (CC, art. 24018): Obrigação de restituir. Deterioração da coisa. Sem culpa do devedor.
O credor somente pode exigir a coisa no estado em que se encontrar, sem indenização.

✓ Se a coisa perece para o dono totalmente, também perece parcialmente.

➢ 8ª regra (CC, art. 240): Obrigação de restituir. Deterioração da coisa. Com culpa do devedor.

A segunda parte do artigo 240 manda aplicar o artigo 239 (resolução com perdas e danos). De acordo com o Enunciado
n. 15 da I Jornada de Direito Civil19, aplica-se o art. 236 do Código Civil20.

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CC, art. 236: “Sendo culpado o devedor, poderá o credor exigir o equivalente, ou aceitar a coisa no estado em que se
acha, com direito a reclamar, em um ou em outro caso, indenização das perdas e danos”.
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CC, art. 238: “Se a obrigação for de restituir coisa certa, e esta, sem culpa do devedor, se perder antes da tradição,
sofrerá o credor a perda, e a obrigação se resolverá, ressalvados os seus direitos até o dia da perda”.
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CC, art. 239: “Se a coisa se perder por culpa do devedor, responderá este pelo equivalente, mais perdas e danos”.
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CC, art. 240: “Se a coisa restituível se deteriorar sem culpa do devedor, recebê-la-á o credor, tal qual se ache, sem
direito a indenização; se por culpa do devedor, observar-se-á o disposto no art. 239”.
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Enunciado n. 15, I JDC: “As disposições do art. 236 do novo Código Civil também são aplicáveis à hipótese do art. 240,
in fine”.

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Observação: cabe tutela específica para cumprimento das obrigações de dar coisa certa (desde 2002) (CPC, art. 49821).
Exemplo: fixação de multa diária ou "astreintes".

b) Obrigação de dar coisa incerta


É denominada obrigação genérica, pois a coisa é indicada pelo gênero e pela quantidade (CC, art. 243).22
Exemplo: compra e venda de 1 imóvel dentro do loteamento “y”.
Aqui há necessidade de uma escolha para que ocorra a concentração do objeto - O objeto determinável, com a escolha,
passa a ser determinado.

CC, art. 24423: a escolha, em regra, cabe ao devedor ☺. Porém, para manter o equilíbrio da obrigação, não poderá dar a
coisa pior, nem será obrigado a prestar a melhor. A escolha deve ser no gênero intermediário (princípio da equivalência
das prestações).
Com a concentração (cientificação do credor), passam a ser aplicadas as regras da obrigação específica (CC, art. 24524).

Antes da escolha, não cabe alegação de inadimplemento (CC, art. 24625) e também não cabe tutela específica para
forçar o cumprimento (CPC, art. 498, parágrafo único26).

✓ Observação: “genus non perit”: o gênero não perece.

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CC, art. 236: “Sendo culpado o devedor, poderá o credor exigir o equivalente, ou aceitar a coisa no estado em que se
acha, com direito a reclamar, em um ou em outro caso, indenização das perdas e danos.”
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CPC, art. 498: “Na ação que tenha por objeto a entrega de coisa, o juiz, ao conceder a tutela específica, fixará o prazo
para o cumprimento da obrigação.
Parágrafo único. Tratando-se de entrega de coisa determinada pelo gênero e pela quantidade, o autor individualizá-la-á
na petição inicial, se lhe couber a escolha, ou, se a escolha couber ao réu, este a entregará individualizada, no prazo
fixado pelo juiz.”
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CC, art. 243: “A coisa incerta será indicada, ao menos, pelo gênero e pela quantidade.
23
CC, art. 244: “Nas coisas determinadas pelo gênero e pela quantidade, a escolha pertence ao devedor, se o contrário
não resultar do título da obrigação; mas não poderá dar a coisa pior, nem será obrigado a prestar a melhor”.
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CC, art. 245: “Cientificado da escolha o credor, vigorará o disposto na Seção antecedente”.
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CC, art. 246: “Antes da escolha, não poderá o devedor alegar perda ou deterioração da coisa, ainda que por força
maior ou caso fortuito”.
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CPC, art. 498, parágrafo único: “Tratando-se de entrega de coisa determinada pelo gênero e pela quantidade, o autor
individualizá-la-á na petição inicial, se lhe couber a escolha, ou, se a escolha couber ao réu, este a entregará
individualizada, no prazo fixado pelo juiz”.

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2.2. Obrigação de fazer (CC, arts. 247 a 249)


Tem como conteúdo uma tarefa a ser desempenhada pelo devedor, que pode ser substituível ou insubstituível.
Exemplos: prestação de serviços e empreitada.

➢ Subclassificação:
a) Obrigação de fazer fungível
Pode ser cumprida por terceiro, por sua natureza ou por previsão no instrumento. Não é personalíssima ou "intuitu
personae".
Se houver inadimplemento com culpa do devedor, o credor poderá exigir (medidas judiciais):

• 1º: O cumprimento forçado da obrigação por tutela específica. Exemplo: multa diária (CPC, art. 49727).
• 2º: O cumprimento por terceiro, às custas do devedor originário (CPC, arts. 81628 e 81729; e CC, art. 24930).
• 3º: Resolução da obrigação com perdas e danos (CC, art. 24831).

Observação: além dessas medidas judiciais, em casos de urgência, há uma autotutela civil, independentemente de ação
judicial, prevista no art. 249, parágrafo único, Código Civil32.

b) Obrigação de fazer infungível


Não pode ser cumprida por terceiro. É, portanto, obrigação personalíssima ou “intuitu personae”.
Nos casos de inadimplemento com culpa do devedor, o credor poderá exigir:
• 1º: Cumprimento forçado, por tutela específica (CPC, art. 497).

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CPC, art. 497: “Na ação que tenha por objeto a prestação de fazer ou de não fazer, o juiz, se procedente o pedido,
concederá a tutela específica ou determinará providências que assegurem a obtenção de tutela pelo resultado prático
equivalente”.
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CPC, art. 816: “Se o executado não satisfizer a obrigação no prazo designado, é lícito ao exequente, nos próprios autos
do processo, requerer a satisfação da obrigação à custa do executado ou perdas e danos, hipótese em que se
converterá em indenização”.
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CPC, art. 817: “Se a obrigação puder ser satisfeita por terceiro, é lícito ao juiz autorizar, a requerimento do exequente,
que aquele a satisfaça à custa do executado”.
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CC, art. 249, caput: “Se o fato puder ser executado por terceiro, será livre ao credor mandá-lo executar à custa do
devedor, havendo recusa ou mora deste, sem prejuízo da indenização cabível”.
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CC, art. 248: “Se a prestação do fato tornar-se impossível sem culpa do devedor, resolver-se-á a obrigação; se por
culpa dele, responderá por perdas e danos”.
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CC, art. 249, parágrafo único: “Em caso de urgência, pode o credor, independentemente de autorização judicial,
executar ou mandar executar o fato, sendo depois ressarcido”.

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• 2º: Resolução com perdas e danos (CC, art. 24733).

➢ Nesses casos, não cabe autotutela civil.

➢ Por fim, nas duas obrigações de fazer, se houver inadimplemento ou impossibilidade sem culpa do devedor, a
obrigação estará extinta e resolvida (CPC, art. 248).
Exemplo: morte de um contratante na prestação de serviços (CC, art. 60734).

2.3. Obrigação de não fazer (CC, arts. 250 e 251)


➢ É a única negativa.
➢ É infungível ou personalíssima (“intuitu personae”).
Exemplo: contrato de confidencialidade (“secret agreement”).

Se houver inadimplemento com culpa do devedor, o credor poderá exigir (medidas judiciais):
• 1º: Que o ato não seja praticado ou que seja desfeito, por meio de tutela específica (CPC, art. 497 e CC, art.
25135).
• 2º: Resolução com perdas e danos (CC, art. 251).
Observação: aqui também há autotutela civil para os casos de urgência, o que causa perplexidade, pois a obrigação é
personalíssima (CC, art. 251, parágrafo único36).
Por fim, se houver inadimplemento ou impossibilidade sem culpa do devedor, a obrigação estará extinta e resolvida (CC,
art. 25037). Exemplo: o devedor morreu.

3. Classificação da obrigação quanto à complexidade da prestação


3.1. Obrigação simples. Só tem uma prestação.

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CC, art. 247: “Incorre na obrigação de indenizar perdas e danos o devedor que recusar a prestação a ele só imposta,
ou só por ele exequível”.
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CC, art. 607: “O contrato de prestação de serviço acaba com a morte de qualquer das partes. Termina, ainda, pelo
escoamento do prazo, pela conclusão da obra, pela rescisão do contrato mediante aviso prévio, por inadimplemento de
qualquer das partes ou pela impossibilidade da continuação do contrato, motivada por força maior”.
35
CC, art. 251, caput: “Praticado pelo devedor o ato, a cuja abstenção se obrigara, o credor pode exigir dele que o
desfaça, sob pena de se desfazer à sua custa, ressarcindo o culpado perdas e danos”.
36
CC, art. 251, parágrafo único: “Em caso de urgência, poderá o credor desfazer ou mandar desfazer,
independentemente de autorização judicial, sem prejuízo do ressarcimento devido”.
37
CC, art. 250: “Extingue-se a obrigação de não fazer, desde que, sem culpa do devedor, se lhe torne impossível abster-
se do ato, que se obrigou a não praticar”.

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3.2. Obrigação composta objetiva


Possui mais de uma prestação.

➢ Pode ser de duas modalidades:


a) Obrigação cumulativa ou conjuntiva (não tem previsão no CC/2002)
➢ Possui mais de uma prestação. Todas elas devem ser cumpridas pelo devedor, sob pena de inadimplemento.
➢ Conjunção “e”.
Exemplo: locação imobiliária de imóveis urbanos (Lei n. 8.245/91, arts. 22 e 23).

Lei n. 8.245/91, art. 22: “O locador é obrigado a:


I - entregar ao locatário o imóvel alugado em estado de servir ao uso a que se destina;
II - garantir, durante o tempo da locação, o uso pacífico do imóvel locado;
III - manter, durante a locação, a forma e o destino do imóvel;
IV - responder pelos vícios ou defeitos anteriores à locação;
V - fornecer ao locatário, caso este solicite, descrição minuciosa do estado do imóvel, quando de sua entrega, com
expressa referência aos eventuais defeitos existentes;
(...)”.

Lei n. 8.245/91, art. 23: “O locatário é obrigado a:


I - pagar pontualmente o aluguel e os encargos da locação, legal ou contratualmente exigíveis, no prazo estipulado ou,
em sua falta, até o sexto dia útil do mês seguinte ao vencido, no imóvel locado, quando outro local não tiver sido
indicado no contrato;
II - servir - se do imóvel para o uso convencionado ou presumido, compatível com a natureza deste e com o fim a que se
destina, devendo tratá-lo com o mesmo cuidado como se fosse seu;
III - restituir o imóvel, finda a locação, no estado em que o recebeu, salvo as deteriorações decorrentes do seu uso
normal;
IV - levar imediatamente ao conhecimento do locador o surgimento de qualquer dano ou defeito cuja reparação a este
incumba, bem como as eventuais turbações de terceiros;
V - realizar a imediata reparação dos danos verificados no imóvel, ou nas suas instalações, provocadas por si, seus
dependentes, familiares, visitantes ou prepostos;
(...)”.

b) Obrigação disjuntiva ou alternativa (CC, arts. 252 a 256)


➢ Possui mais de uma prestação, sendo certo que apenas uma delas deve ser cumprida pelo devedor, sob pena de
inadimplemento.

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➢ Conjunção “ou”.

Há a necessidade de uma escolha que, em regra, cabe ao devedor - ☺ (“favor debitoris”).


Exceções: a escolha pode ser feita pelo credor, por terceiro ou pelo juiz.

CC, art. 252: “Nas obrigações alternativas, a escolha cabe ao devedor, se outra coisa não se estipulou.
§ 1o Não pode o devedor obrigar o credor a receber parte em uma prestação e parte em outra.
§ 2o Quando a obrigação for de prestações periódicas, a faculdade de opção poderá ser exercida em cada período.
§ 3o No caso de pluralidade de optantes, não havendo acordo unânime entre eles, decidirá o juiz, findo o prazo por este
assinado para a deliberação.
§ 4o Se o título deferir a opção a terceiro, e este não quiser, ou não puder exercê-la, caberá ao juiz a escolha se não
houver acordo entre as partes.”

Exemplo: contrato estimatório ou venda em consignação (CC, arts. 534 a 53738).

CC, art. 534: “Pelo contrato estimatório, o consignante entrega bens móveis ao consignatário, que fica autorizado a
vendê-los, pagando àquele o preço ajustado, salvo se preferir, no prazo estabelecido, restituir-lhe a coisa consignada.”

O consignante (distribuidora de bebidas) cede as bebidas ao consignatário (botequim). O consignatário pode: pagar o
preço de estima ou devolver as coisas.

CONTINUA NA PRÓXIMA AULA...

38
CC, arts. 535 a 537: “Art. 535. O consignatário não se exonera da obrigação de pagar o preço, se a restituição da coisa,
em sua integridade, se tornar impossível, ainda que por fato a ele não imputável.
Art. 536. A coisa consignada não pode ser objeto de penhora ou seqüestro pelos credores do consignatário, enquanto
não pago integralmente o preço.
Art. 537. O consignante não pode dispor da coisa antes de lhe ser restituída ou de lhe ser comunicada a restituição.”

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