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Aula 1 - 22/09/2021
Aula 2 - 24/09/2021
A compra e venda
Aula 3 - 29/09/2021
● Para o regente o nosso sistema consagra o sistema do título em todos os ramos do
direito
○ Mas há autores que discordam - Ferreira de Almeida, Assunção Cristas e
Mariana França Gouveia (no direito civil)
● Regente não tem uma visão puramente positivista historicista do direito (mas
também se importa com ela)
○ Visão contrária a que aprendemos em IED (jurisprudência muitas vezes
convoca o art. 9.º mas não o aplica) - depois veremos isto melhor quando
começarem a surgir questões interpretativas
● Fundamentação teórica da vontade como razão da força vinculativa dos contratos
○ Apesar do Direito Estatutário italiano já parecer conhecer a compra e venda
com eficácia translativa, a jurisprudência do ius commune permanecerá
durante muito tempo, ligada de forma tenaz ao princípio romano segundo o
qual a tradição e usucapião é que provocaram a transmissão da propriedade,
não a compra e venda.
● Compra e venda romana - natureza obrigacional
● O Código de Seabra
○ Código de Seabra consagrou entre nós o sistema do título
■ O código de seabra tratava a compra e venda nos artigos
1544º-1590º
○ Influência do CC francês
■ Como é que aí se consagrou o título tendo em conta que também
havia influência romana aí (“toma lá dá cá” - real)?
● Contributos da 2ª escolástica/peninsular (movimento que se
desenvolveu particularmente em pt e espanha como reação ao
humanismo - ligada também à reação católica aos
movimentos protestantes - aproveitamento jurídico dos textos
evangélicos) e do jusracionalismo (vão buscar o ensinamento
da 2ª escolástica e desenvolver uma teoria geral da vontade -
pessoas prendiam-se através da sua palavra - autovinculação)
○ Romanos atribuíam particular relevância à forma dos
negócios, os que se baseiam só na vontade muitas
vezes não tinham vinculatividade
○ Esta mudança abre as portas ao sistema do título
○ A nota principal da nova regulamentação consistia no facto de o contrato de
compra e venda passar a ter eficácia real translativa ou quoad effectum
apesar de algumas dúvidas suscitadas pelo art. 1544º e sensível porventura
à influência histórica do Direito anteriormente vigente e suas raízes.
■ Ordenações - regulavam a compra e venda (mas trata-se
essencialmente de direito romano); não tinham regulamentação para
a empreitada - remeteram para o direito comum (glosa de acúrsio,
etc)
○ “O contrato de compra e venda é aquele em que um dos contrahentes se
obriga a entregar certa cousa, e o outro se obriga a pagar por ella certo preço
em dinheiro” → compra e venda com eficácia obrigacional- nenhuma
referência ao efeito translativo
■ 715.º e 1549.º - daí resultava a eficácia translativa
● 1549.º não significa a consagração de qualquer forma de
modo nem de sistema obrigacional
(Nota de Reais: A vende um bem imóvel a B sem registo, o que acontece se A vender a C
registando? Dupla venda; art. 5.º e 17.º CRegPred e 291.º CC (aquisição tabular) -
dispensam tutela a alguém que não é titular do direito - o que é preciso para que C seja
protegido?
○ Em Portugal, sem ser na hipoteca, o registo não atribui direito (não tem efeito
constitutivo)
○ O direito protege C se este estiver de boa fé
○ B - direito real natural
■ ver o livro dele
Direito positivo
● A celebra um contrato com B pelo qual se transmite a propriedade do bem x do
primeiro para o segundo. As partes chamam a este contrato compra e venda mas
estipulam uma cláusula por força da qual B fica dispensado de pagar qualquer
preço a A. Quid iuris?
○ A noção legal de compra e venda consta do 874.º CC
■ 2 elementos essenciais - transferência de propriedade e obrigação de
pagar
■ Esta definição é estipulativa (como o 980.º) ou vinculativa? Pode
introduzir-se elementos de atipicidade?
● Art. 879.º - diz quais os efeitos essenciais da compra e venda
○ Em primeiro lugar, um efeito real - a transferência da
titularidade de um direito
○ Em segundo lugar, dois efeitos obrigacionais:
■ a obrigação, por parte do comprador, de pagar
o preço
■ a obrigação, pendente sobre o vendedor, de
entregar a coisa vendida
○ Dentro destes limites vale, como regra, o princípio da
liberdade contratual consagrado no art. 405 do CC. As
partes são, por conseguinte, em regra livres de
celebrar ou deixar de celebrar, um contrato de compra
e venda, bem como de estabelecerem o conteúdo que
entenderem, conquanto no respeito pelos elementos
essenciais antes mencionados
○ Partes podem querer o preço e não estipular - aí há um
conjunto de regras estabelecidas no nosso
ordenamento que depois veremos - mas o preço tem
de ser querido - vale pois entre nós o sistema do
título. Ou seja, na nossa compra e venda o vendedor
vende efetivamente por força do contrato de compra e
venda
○ Conclusão: tem de haver preço
Aula 4 - 01/10/2021
Compra e venda real ou obrigacional
● Olivia Rodrigo já tem carta de condução e passa, de carro, pelo antigo estúdio do
mítico compositor de Meat Loaf, Jim Steinman que morreu recentemente. Olivia
Rodrigo vê lá um quadro do compositor cujo preço é de 25 milhões de euros e
pretende comprá-lo. Os advogados de ambos não se entendem quanto à
possibilidade de existir ou não, no direito portugues contratos de compra e venda
com eficácia meramente obrigacional. Recorrem por isso ao parecer de um
jurisconsulto. Se fosse o parecerista consultado, o que responderia?
○ 2 pessoas que celebram um contrato de compra e venda - um advogado que
pretende celebrar um contrato de compra e venda meramente obrigacional e
outro que não considera isso possível
○ Art. 874.º e 879.º
■ Invocados pelos que defendem a eficácia real/translativa da compra e
venda
■ 874.º - noção de compra e venda
■ 879.º - inclui entre os efeitos essenciais a transferência de
propriedade - por isso um contrato do qual não decorra essa
transmissão não poderia ser qualificado como compra e venda
○ Art.º 408.º e 409.º
■ 408.º n.º 1 “A constituição ou transferência de direitos reais sobre
coisa determinada dá-se por mero efeito do contrato, salvas as
excepções previstas na lei.”
● “mero” - reporta-se só à eficácia real ou a uma eficácia real
com determinado sentido?
● Depois de concluída a análise das várias modalidades e
formas de compra e venda reguladas no nosso direito civil
constata-se nao existir nenhuma correspondente ao modelo
da compra e venda obrigacional
● Analisando estas exceções, não encontramos nenhuma
exceção que corresponda à compra e venda obrigacional
● Nem mesmo nos casos nos quais se assiste a uma falta de
coincidência entre, de um lado o momento da transferência da
propriedade da coisa ou titularidade do direito e, de outro, a
altura da celebração do contrato de compra e venda
○ Na venda de coisa ou bem futuro a transmissão da
propriedade ou titularidade ocorre apenas quando a
coisa for adquirida pelo alienante (408.º n.º 2 CC).
■ Posso vender uma coisa que não tenho,
podendo isso corresponder a vários cenários -
venda de bem alheio ou venda de bem futuro
■ O alienante fica, tão só, obrigado a desenvolver
as diligências necessárias para que o
comprador adquira os bens vendidos (880.º n.º
1 CC)
■ Ele não necessita de praticar nenhum ato
translativo de propriedade. Uma vez adquiridos
os bens a respetiva transferência ocorre por
simples efeito do contrato.
○ Na venda de coisa indeterminada, de coisa genérica ou
alternativa, a transferência de propriedade
(concentração/determinação) tanto poderá depender
de um ato do vendedor (539.º CC), como por outros
meios (ato do credor, ato de terceiro, causa fortuita -
como roubarem o bem, etc) (541.º e 542.º CC)
■ Ora, basta a possibilidade da concentração não
surgir como consequência ou resultado de um
ato do vendedor para logo se poder concluir ou
constatar não ter a venda de coisa
indeterminada, genérica ou em alternativa
caráter obrigatório - não há nenhum ato
especificamente destinado a operar uma
transferência que não resulte do contrato
○ Na venda sujeita a condição suspensiva ou sujeita a
termo inicial é o próprio contrato que fica paralisado
nos seus efeitos essenciais e não apenas a
transferência da propriedade. Trata-se, assim, uma vez
mais, de um caso de venda bem distinta de venda
obrigatória ou obrigacional
○ No caso da compra e venda de frutos naturais ou
partes componentes ou integrantes, a transferência
verifica-se no momento de colheita ou separação. Não
há pois qualquer obrigação de dare da qual fique
dependente a transferência de propriedade (não há
nenhum modo)
■ Colheita também pode ser feita por qualquer
um - criança, ladrão, vento, podem estar
maduros…
○ Na compra e venda de bens alheios, uma vez adquirida
pelo vendedor a titularidade do direito ou coisa
vendida, a venda consolida-se e verifica-se a
transmissão para o comprador (895.º CC)
■ Se alguém vende um bem alheio, a segunda
venda é, como vimos, nula - nulidade atípica -
consolida-se quando o comprador efetivamente
adquire o bem
■ O vendedor fica obrigado a sanar a nulidade da
compra e venda, através da aquisição da
propriedade da coisa ou titularidade do direito
vendido (897.º CC)
■ Contudo não tem qualquer obrigação de
transmitir
■ O comprador adquire por simples efeito do
contrato
○ Caso mais disputado é o da compra e venda com
reserva de propriedade - 409.º
■ 409.º n.º 1 “Nos contratos de alienação é lícito
ao alienante reservar para si a propriedade da
coisa até ao cumprimento total ou parcial das
obrigações da outra parte ou até à verificação
de qualquer outro evento.”
■ É justamente aqui que Ferreira de Almeida,
Assunção Cristas e Mariana França Gouveia se
apoiam para dizer que pode haver no direito
civil compras e vendas meramente
obrigacionais
● “Qualquer outro evento” poderia ser o
modo
■ Mas o artigo 409.º n.º 1 não pode ser
interpretado isoladamente, como se existisse
sozinho no universo jurídico. Ele tem de se
conjugar com os artigos 874.º e 879.º
● Ora estes preceitos são claros ao indicar
ser elemento essencial da compra e
venda a transmissão de propriedade de
uma coisa ou direito. Por isso, se essa
transferência se não verificar não
estamos já, perante o tipo compra e
venda de direito civil
● Temos uma situação de concurso de
normas
○ Havendo regra geral e regra
especial incompatíveis, prevalece
a especial - o 874.º e 879.º são a
regra especial, por isso para o
regente deve dar-se prevalência
a estes, ao contrário do que os
autores acima fazem
■ Para além disso, se formos em busca de
jurisprudência em que as partes tenham
subordinado a transferência da compra e venda
à tradição, não encontramos nada
● Há casos nos valores mobiliários em
que se discute isso, mas não por
vontade das partes, devido ao que está
consagrado no Código dos Valores
Mobiliários
■ Conclusão para o regente: o 409.º não permite
um caso de compra e venda obrigacional
○ A única particularidade está na circunstância de nos
casos de exceção não haver coincidência temporal
entre o momento da celebração do contrato de compra
e venda e o momento de transferência da propriedade
Recomendação de filme: A aventura é uma aventura- regente viu 12 vezes
Aula 5 - 06/10/2021
Art. 408.º n.º 1
● “A constituição ou transferência de direitos reais sobre coisa determinada dá-se por
mero efeito do contrato, salvas as excepções previstas na lei.”
○ “mero” do ponto de vista normativo:
■ No processo de interpretação jurídica, há um elemento de
compreensão.
■ A ideia de compreensão pressupõe que a relação sujeita a objeto não
existe e que aquilo é a minha leitura do objeto, não sendo este
pré-dado (é construído por nós).
■ A relação de interpretação é uma relação sujeito-sujeito
■ O jurista tem, por outro lado, de encontrar regras de solução, mas é
ele que as cria
■ O ato de interpretar e aplicar o direito é sempre um ato constitutivo
■ Os elementos interpretativos funcionam num sistema móvel. O ponto
de partida é o problema
○ 1ª hipótese - “mero” = por efeito do contrato
■ Portanto se for desta forma, isso significa que as exceções são casos
em que o efeito transmissivo não é efeito do contrato → é do título e
do modo, não apenas do título
○ 2ª hipótese - “mero” = é apenas efeito do contrato
■ Se assim for, os casos de exceção são casos em que o efeito
transmissivo ainda é efeito do contrato, mas não exclusivamente,
podendo depender também da condição
■ Estamos ainda a falar de sistema de título
■ Esta é a posição do regente
○ A única particularidade está na circunstância de nos casos de exceção não
haver coincidência temporal entre o momento de celebração do contrato de
compra e venda e o momento da transferência da propriedade
■ Esta, embora ainda decorra do contrato, depende também da
verificação de um outro pacto posterior à compra e venda
■ É a necessidade de verificação desse facto que dá a certas
modalidades de compra e venda um caráter excecional
■ Elas não deixam, por isso, de corresponder a contratos dotados de
eficácia real, pois o caráter real da venda significa que esta é a
causa da transmissão, seja esta imediata ou futura
Valores mobiliários
Caso: As Bandas London Grammar e Bad English juntam-se para comprar a sociedade
editora discográfica com os direitos das músicas de Greg Lake. Uma vez celebrado o
contrato, pretendem saber a partir de que momento se podem considerar proprietárias
da sociedade
● Quando é que se dá a venda? Com o contrato ou não?
● A situação da compra e venda de bens mobiliários é mais complicada.
● Vera Eiró, Coutinho de Abreu e Ferreira de Almeida defendem que a compra e venda
de valores mobiliários tem efeito obrigacional e que é o modo a operar a respetiva
transferência
○ Esta orientação tem adesão em alguma jurisprudência
● A forma de transmissão destes títulos é a seguinte:
○ Os valores mobiliários escriturais transmitem-se pelo registo na conta do
adquirente (art. 80.º n.º 1 CVM)
○ As ações ao portador foram abolidas recentemente
○ Os valores mobiliários ao portador transmitiam-se por entrega do título ao
adquirente ou ao depositário por ele indicado (101.º n.º 1 CVM)
○ Os valores mobiliários titulados nominativos transmitem-se por declaração
de transmissão, escrita no título, a favor do transmissário, seguida de registo
junto do emitente ou do intermediário financeiro que o represente (102.º n.º 1
CVM)
● Será que este regime consagra o modelo do título e do modo na compra e venda de
valores mobiliários?
○ Vera Eiró diz que sim
○ A doutrina vai, na maioria das vezes, para o sentido oposto
■ Chame-se desde logo a atenção para o artigo 80.º n.º 2 CVM
● Por força deste, a compra em mercado regulamentado de
valores mobiliários confere ao comprador, independentemente
do registo e a partir da realização da operação, legitimidade
para a sua venda nesse mercado
■ O artigo 210.º n.º 1 do CVM desmente, categoricamente, também no
âmbito do mercado regulamentado e negociação multilateral, a
afirmação de que, entre a data da compra e a efetivação do suposto
modo, a transferência não se opera
● De facto, diz-se aí pertencerem ao comprador, desde a data da
operação, os direitos patrimoniais inerentes a valores
mobiliários vendidos
Aula 6 - 08/10/2021
Um contrato de compra e venda em que o vendedor não está obrigado a entregar a coisa.
Passará a posse para o comprador por efeito do contrato, ou não? – Falar da posse e não da
propriedade, a propriedade já vimos que se transfere com o simples consenso, com o
simples negócio.
Caso: O líder de Oh The lacerny celebrou um contrato de compra e venda com Lana del
Rey, Tate MC Rae e Tanita Tikaram. Na sequência pretende saber se pode haver contrato de
compra e venda em que o vendedor não está obrigado a entregar a coisa? Passará a posse
para o comprador por efeito do contrato independentemente da entrega da coisa?
Ou noutra formulação: transfere-se a posse solo consensu?
● Será compra e venda aquele contrato em que as partes dizem que não entregam
a coisa ao comprador por esta já se encontrar em seu poder?
● Será compra e venda aquele contrato em que as partes dizem que não entregam
a coisa ao comprador, porque esta foi furtada ou roubada e não a tem em seu
poder e o comprador é livre de fazer o que quiser para voltar a recuperar a coisa?
○ Partes podem estipular não haver entrega da coisa, mas o comprador tomar
o efetivo controlo material da coisa
○ O regente considera que a consideração normativa do art. 879º, o efeito útil
que se pretende acautelar, não reside no comportamento do devedor, mas na
situação pretendida para o comprador. O comprador ter o bem à sua
disposição para poder exercer sobre ele os direitos correspondentes à
posição de proprietário.
○ Apesar de isso estar normalmente associado à entrega da coisa, o CC
estabeleceu como efeito essencial da compra e venda a obrigação
correspectiva à entrega da coisa. Aquilo que se mostra essencial, não a
entrega da coisa em si mesma, mas o efeito útil da entrega da coisa. Pode ser
obtido de forma diversa, impondo condutas distintas ao vendedor
■ Exemplo: o comportamento do alienante pode ser irrelevante para o
comprador, porque a coisa já se encontra em poder deste. A atitude
do transmitente também pode ser em não colocar obstáculos ao
comprador de adquirir a coisa para si.
■ A obrigação de entrega não tem sempre o mesmo efeito efetivo.
Aula 7 - 13/10/2021
(isto já era da última aula acho mas pronto)
Obrigação de entrega
● É contrato de compra e venda aquele em que as partes afastam a obrigação de
entrega…
○ …dizendo que o vendedor não está obrigado a entregar nunca a coisa que se
encontra em seu poder?
○ …dizendo que não entrega a coisa porque ela se encontra já em poder do
comprador?
○ …dizendo que não entrega a coisa pq ela foi roubada/furtada mas que o
comprador é livre de fazer o que bem entender para a recuperar?
Aula 8 - 15/10/2021
A posse (continuação)
● Problema da conceção objetiva da posse - a) do 1253.º
○ “São havidos como detentores ou possuidores precários: a) Os que exercem
o poder de facto sem intenção de agir como beneficiários do direito”
○ Solução para isto para o regente - teoria da causa (a intenção de ser
beneficiário do direito seria irrelevante em determinadas situações)
○ Teoria Objetiva da posse advoga que logo que alguém tenha uma coisa é
possuidor - esta posse assenta em dois elementos: controlo material e uma
vontade mínima; não é necessário nenhuma intenção, basta a vontade do
controlo material
○ Diferença entre a detenção e a posse - na posse há tutela possessória; dá
para recorrer àquelas ações possessórias
○ Teoria subjetivista - controlo não é posse, o ponto de partida é a detenção;
controlo fático não equivale logo a posse - é necessário acrescentar-lhe uma
vontade de exercer os poderes conferidos pelo direito ou de ser possessor
(animus possessório)
○ Olhando para o 1253.º a), ele parece consagrar a teoria subjetivista, mas
para o regente podemos olhar para ele como consagrando a teoria da causa
- não pode haver posse porque mesmo havendo essa vontade a posse está
vedada nessas situações
■ Há situações em que mesmo que se superem os limites mínimos, não
se pode ter a posse devido a determinadas normas (ex: mesmo que
se tenha mais de 18 anos, há situações em que, mesmo querendo,
uma pessoa não pode tirar a carta)
● Para o regente, o constituto possessório exemplifica isso
● O decurso do tempo permite a alguém adquirir a posse de algo que não era dele
inicialmente (usucapião)
● Pode haver concursos de posse sobre o mesmo bem
● 1251.º “Posse é o poder que se manifesta quando alguém actua por forma
correspondente ao exercício do direito de propriedade ou de outro direito real”
Preço
● Terceiro efeito essencial da compra e venda é a obrigação de pagar o preço
● Caso: Penny convence Sheldon Cooper, Leonard, Raj e Howard a vender o seu
sistema de navegação, não ao governo, mas às bandas Heavy, Dorothy, Dead Posey
e Black Sabbath. Entregam-lhes de imediato esse bem. As bandas deviam pagar o
preço quatro dias após a venda. Não o fazem. Sheldon interpela-as fixando, nos
termos do artigo 808.º do CC, um novo prazo, razoável, de mais quatro dias para
cumprir. B volta a não cumprir.
○ Podem os cientistas resolver o contrato com fundamento em incumprimento
definitivo?
○ A resposta seria diferente se houvesse convenção?
○ E se não tivesse havido entrega da coisa?
○ E se tivesse havido entrega mas com reserva de propriedade?
○ Artigos gerais:
■ 798.º e ss.
■ 801.º n.º 2 - condição resolutiva tácita - em regra a parte fiel pode,
nos contratos bilaterais, resolver o contrato
○ 886.º CC - para a falta de pagamento do preço - transmitida a propriedade
da coisa ou direito sobre ela, e feita a respetiva entrega, o vendedor não
pode, salvo convenção em contrário, resolver o contrato por falta de
pagamento do preço
■ Exceção à regra do 801.º n.º 2
■ Quando e que pode então haver resolução do contrato por falta de
pagamento do preço?
● i - Na eventualidade de isso ter sido convencionado
● ii - Na hipótese de não se ter ainda assistido a entrega da
coisa
● iii - No caso de, apesar da celebração do contrato de compra e
venda, o vendedor reservar para si a propriedade da coisa nos
termos do 409 CC, ate pagamento do preço
● Pretende proteger-se o comprador, que pode já andar a exibir
o bem que comprou
● Compra e venda comercial - se a compra e venda fosse meramente obrigacional , o
vendedor estaria protegido enquanto a coisa não fosse entrega
○ Galvão Telles - Trata disto - diz que isto se resolve facilmente através do
mecanismo de reserva da propriedade - desde que isto esteja possibilitado
pela lei não é necessária uma compra e venda meramente obrigacional
● Determinação do preço
○ Caso:
■ Chris Rea e Tony Joe White celebram com Mike Oldfield um
contrato de compra e venda das ações da sociedade X. Mas não
fixam o preço. É o contrato válido e se sim como se deve proceder?
● O preço é essencial, mas pode não estar determinado
● Como se fixa nesses casos - 883.º CC
○ Primeiro, relevará o preço fixado por entidade - se
existir
○ Sucessivamente, ao preço normalmente praticado pelo
vendedor à data da conclusão do contrato
○ Ao preço do mercado ou bolsa no momento do
contrato e no lugar em que o comprador se encontra
○ Tribunal estabelece o preço através de juízos de
equidade
■ Não fixam logo o preço, incumbindo o Senhor Morningstar de o fazer
segundo determinados critérios. Morningstar não respeita esses
critérios, prejudicando seriamente Chris Rea e Tony Joe White. O que
podem estes fazer?
● Em vez de estipularem o preço, as partes podem logo preferir
que a determinação seja confiada a uma ou outra das partes
ou terceiro - artigo 400.º CC
● Nesse caso, se tiverem sido fixado critérios, o preço será o
determinado por terceiro
● Não o havendo, prevê-se o recurso à equidade (400.º n.º 1 CC)
■ E o que poderiam Chris Rea e Tony Joe White fazer se as partes
tivessem apenas indicado que o preço seria determinado segundo
critérios de equidade, por Morningstar, e o resultado fosse
manifestamente injusto?
● Mesmo nos casos em que a parte ou terceiro decide de acordo
com equidade, normalmente ele não dispõe de nenhum poder
de criação jurídica ou constitutivo, mas apenas de fixação de
declaração, se se quiser conformador
● Se a determinação não puder ser feita ou não tiver sido feita
no tempo devido, sê-lo-á pelo tribunal, sem prejuízo do
disposto acercas das obrigações genéricas e alternativas
(400.º n.º 2)
Aula 9 - 20/10/2021
(continuação do caso)
○ Para quem entenda o problema de
interpretação-compreensão-aplicação do direito como
um problema normativo, dir-se-ia que o preceito em
análise só dá duas hipóteses: poder ser feita a
determinação ou não poder
○ Regente e entendimento determinante - não
concordam com esta visão
● Neste caso, pode ser feita a determinação mas mal. Quid iuris?
○ Uma solução passaria por se considerar a existência de
uma lacuna e aplicar analogicamente o 400.º n.º 2 à
suposta lacuna
○ Raúl Ventura considerava que se a determinação
chegou a ser feita, mas, tendo sido estipulados
critérios para o fazer, não foram estes obedecidos, o
recurso ao tribunal não é imposto pelo 400/2 mas
pode fazer-se outra coisa - primeiro recorre-se ao
tribunal para declarar que a determinação do preço foi
mal feita e partir daí deixa de haver essa determinação,
caindo-se no âmbito do 400/2
○ Regente: considera que se deve interpretar procurando
sempre o sentido jurídico das normas como critério de
decisão para problemas
■ Que problema está aqui em causa? que
resposta jurídica pretende esta norma dar?
■ Regente não acha necessário seguir nenhuma
das formas acima expostas, nem considera que
importe a determinação textual do 400.º n.º 2
● O que interessa apurar é o sentido
normativo do art. 400/2, o sentido
jurídico da menção “não poder a
determinação ser feita ou não ter sido
feita no tempo devido”
● Nesta perspetiva, não parece haver
dúvidas de que a realidade
normativamente intencionada pelo art.
não foi esta ou aquela concreta
perturbação a que literalmente se
parece estar a referir, mas sim a
qualquer perturbação ou incorreção no
processo de determinação do preço
● Uma determinação a fazer por uma das
partes ou por terceiros é inaproveitável
do ponto de vista normativo: é em tudo
equivalente a uma determinação que
não pode ser feita ou não foi feita em
tempo devido
● basicamente aplica-se o 400.º n.º 2
diretamente a qualquer perturbação
ou incorreção na determinação do
preço
● Se se remeter para o arbítrio, o art. 466.º do CCom estabelece,
para a venda comercial, a propósito da determinação do preço
poder este tornar-se certo por qualquer meio, que desde logo
fica estabelecido ou dependente do arbítrio de terceiro
○ Por sua vez, o parágrafo único do preceito em
referência esclarece que se o preço houver de ser
fixado por terceiro e este não quiser ou puder fazê-lo,
ficará o contrato sem efeito, se outra coisa não tiver
sido convencionada
○ Percebe-se, pois a determinação parece ser intuitu
personae
○ Embora isto só esteja consagrado para a compra e
venda comercial, o regente considera que a mesma
solução deve valer na compra e venda civil - uns dirão
que por analogia, embora o regente considere que vale
devido à interpretação (e temos ainda um elemento de
direito comparado que coadjuva isto - §318, 2 BGB)
■ E alguma coisa mudaria se houvesse dolo ou má fé na
eventualidade de se ter remetido para o arbítrio?
● Pode haver sindicância pelo tribunal
Aula 10 - 22/10/2021
○ III - Não faria sentido que no caso de bens imóveis
fosse necessário o registo para ser oponível a terceiros
e no caso de bens móveis não
■ Contra argumento - na compra e venda de bens
sujeitos a registo a própria oponibilidade da
venda depende de registo, o que implica que a
própria reserva de propriedade também há sde
depender de registo
● O mesmo não sucede com bens móveis
- a compra é oponível a terceiros
independentemente de registo
● Esta simetria implicaria que os negócios
sobre móveis não sujeitos a registo
nunca fossem oponíveis a terceiros de
boa fé
○ IV - Na hipótese de incumprimento (ex: pela falta de
pagamento de preço) cabe ao vendedor resolver o
contrato nos termos admitidos pelo 886.º, sendo que a
resolução não prejudica terceiros de boa fé (435.º n.º 1)
■ Contra argumento:
● O 435.º determina que a resolução do
contrato, ainda que expressamente
convencionada, não prejudica terceiros
de boa fé
● Como na compra e venda com reserva
de propriedade o vendedor conserva a
propriedade da coisa, a invocação dessa
reserva não afeta nenhum direito
adquirido por terceiro, dado que o
comprador, por não ser proprietário, não
pode transmitir ou alienar mais do que
os próprios direitos de que é titular
● 2 opções:
○ Bem é vendido sem menção da
oneração - aplica-se o regime da
compra e venda de bens alheios
(892.º e ss.)
○ Bem é vendido com menção da
oneração
○ Contra a posição de Martinez - art. 104.º n.º 4 CIRE
que admite, mesmo nos casos de insolvência do
comprador, a oponibilidade da cláusula de reserva de
propriedade apenas com subordinação ao requisito da
sua estipulação por escrito
■ Doutrina maioritária (Raúl Ventura, Ribeiro de Faria, Antunes Varela,
regente, etc) - é oponível a terceiros de boa fé
● Cláusula de reserva de propriedade a favor de terceiro
○ Caso: O stand The Everlove, assim chamado porque o seu dono é grande
fã da banda, vende o automóvel X destinado a servir de transporte ao
grupo Escape da Fate, financiado pela instituição de crédito C e,
estabelece, logo no contrato de compra e venda, a reserva de propriedade
de X a favor de C. É possível uma tal cláusula?
■ Na prática, é frequente o estabelecimento de cláusulas de reserva de
propriedade, em contrato sde crédito ao consumo (ta no livro depois
copio)
■ Mas este tema leva a uma divergência doutrinária e na jurisprudência
■ A favor disto, invocam-se frequentemente argumentos ligados à letra
do 409.º
■ No entanto, há quem fale em necessidade de interpretação atualista
do preceito e na necessidade de se preferem novas formas de tutela
do crédito (em 1966, quando o Código surgiu, não havia as
necessidades de consumo - ex: automóveis - que há hoje em dia)
■ Para o regente, a letra não pode ser o ponto de partida - o ponto de
partida deve ser o caso, o problema metodológico, a intencionalidade
normativa da norma e o prius metodológico representado pelo caso
● Tudo visto, não parece ser possível reservar a propriedade a
favor de quem não a tem. Pelo menos enquanto não houver
alguém dotado de poderes mágicos :)
● Além disso, não é necessária uma interpretação atualista. A
posição jurídica do vendedor é, como qualquer outra situação
não pessoal, transferível - basta-lhe transferir a sua posição
para o comprador para resolver o problema
○ Fazer uma reserva de propriedade a favor de terceiros
poderia, de acordo com o 236.º, ser interpretado como
tendo tido este intuito - só aí seria possível
● Não se está num domínio de autonomia privada - vale o
princípio da tipicidade dos direitos reais (1306.º CC)
● A exclusão da reserva de propriedade a favor de terceiro não
impede, porém, que se sujeite a transferência da propriedade
ao pagamento de terceiro - veremos isso mais à frente
● A questão da transmissibilidade da reserva de propriedade
○ Para o regente é transmissível, o que implica que o problema anterior não
é relevante
○ Caso: Marc Cohn (vendedor) celebra com o Vocalista dos Volbeat
(comprador) um contrato de compra e venda, com reserva de propriedade,
de um automóvel. Após a venda do automóvel, Marc vende o direito à
banda Manfred Mann Earth Band, que conserva sobre o automóvel
vendido, a Michael Poulsen. Pode fazê-lo?
■ Para o regente seria linearmente possível - se tenho um direito de
natureza patrimonial, porque é que não o poderia transmitir
■ Rui Pinto Duarte contesta, porém essa possibilidade.
● Argumentos:
○ 409.º não prevê essa transmissibilidade
■ Regente: antes da compra e venda com reserva
de propriedade o vendedor é proprietário pleno
● Depois da venda passa a ter uma
propriedade limitada e circunscrita a fins
de garantia - esta situação é um direito
subjetivo naturalmente transmissível
como qualquer outro
● Este argumento é errado porque o 409.º
não tinha de o dizer - a livre
transmissibilidade já é a regra dos
direitos subjetivos de natureza não
pessoal
○ Cláusulas dos contratos não são transmissíveis
■ Regente:
■ Também Gravato Morais levanta dúvidas. E alguma jurisprudência
acolhe as dúvidas, hesitações ou afirmações da impossibilidade
Aula 11 - 27/10/2021
A estipulação da reserva de propriedade a favor do alienante mas sujeita ao pagamento
a terceiro
● Caso: A vende a B, com reserva de propriedade, um automóvel. No contrato é
estipulado que a instituição e crédito C pagará, imediatamente, a A o preço do
automóvel e que B reembolsará C pagando-lhe, ainda, os juros associados às
prestações. Se não pagar, funciona a reserva de propriedade a favor de A. É possível
esta estipulação?
○ Regente - Sim - devido ao que o 409.º CC diz
○ Contra - Gravato Morais
■ Argumentos:
● I - O financiador, C, pode, em caso de incumprimento da
obrigação de pagar o mútuo, resolver o contrato (mútuo), mas
não pode exigir a restituição da coisa
○ Porquê? porque a contrapartida da transferência da
propriedade é o pagamento do preço, que já foi feito
● II - A não pode resolver o contrato pq já recebeu a totalidade
do preço (não há incumprimento do contrato de compra e
venda), muito menos tem legitimidade para resolver o
contrato de empréstimo
● III - C não pode socorrer-se do procedimento cautelar de
apreensão de veículo automóvel (DL 54/75) porque não é
titular do registo de reserva da propriedade
● IV - 18 n.º 1 do DL 74/75? para o vendedor - ver no livro
depois
■ Regente - parte dos argumentos do GM só se aplicam à compra e
venda com reserva de propriedade de veículos automóveis; existindo
uma união interna voluntária entre o contrato de compra e venda e o
de mútuo, o incumprimento do de mútuo acaba por ter incidência
direta na compra e venda com reserva de propriedade, facultando ao
vendedor a faculdade de exigir a entrega da coisa
● Para além disso, GM está se a referir à condição ……
● Relativamente a essa união, a demonstração será feita nos
termos do 236.º
○ Num caso deste tipo, com contratos celebrados ao mm
tempo, no mesmo local e em que alguém está a pagar
um preço essencial para o outro contrato, não é difícil
nos termos do 236.º demonstrar que há uma união
interna entre os contratos
○ DL 359/91 - passou a establecer.se uma relação de
reciprocidade dos efeitos da invalidade do contrato de
crédito e do contrato de compra e venda com o mesmo
coligado
■ Por isso, agora a invalidade do contrato de
mútuo gera também a invalidade do contrato
de compra e venda
A reserva de propriedade e a exigência de cumprimento do contrato
● Caso: A vende a B um automóvel x com reserva de propriedade a favor do primeiro.
B acaba por não pagar o preço devido a A pela compra do carro. O que pode ou
deve A fazer? Deve resolver o contrato para poder reaver o carro? Ou será que pode
exigir primeiro o cumprimento do preço em falta e, apenas na eventualidade de B
continuar relapso é que exigirá a resolução?
○ ius variandi
○ Alguma doutrina e jurisprudência têm entendido que o beneficiário da
reserva de propriedade só pode exigir a restituição da coisa quando exerça o
direito de resolução sem previamente ter exigido o cumprimento pontual do
contrato
○ Porém, o vendedor pode ter interesse em exigir o cumprimentoi e manter a
reserva de propriedade
○ A hipótese inversa é que é inadmissível dado não se poder exigir o
cumprimento de um contrato resolvido
○ Nada existe que retire ao vendedor a faculdade de exigir o cumprimento ou a
limite
○ Aliás, a simples mora no cumrpiemnto de um contrato bilateral não
desencadeia imediatamente o direito de resolver o negócio
○ Para isso suceder, mostra-se imprescindível transformar-se em
incumprimento definitivo, 808/1.º CC, através da fixação de um prazo para o
devedor cumprir
■ Mora transforma-se em incumrpiemnto definitivo em 3 casos:
● havendo termo
● Perda de interesse
● Passado o prazo admonitório
A transferência do risco na compra e venda com reserva de propriedade
● Caso: A vende a B um carro x com reserva de propriedade. Entretanto, numa
manifestação contra a austeridade, no decorrer da qual ocorre um tumulto público, o
carro é destruído. O seguro contratado para garantir os riscos do carro x contém
uma cláusula pela qual é afastada a responsabilidade da seguradora pelos danos
decorrentes de tumultos públicos. Admitindo que essa disposição é válida, quem
suporta o risco de destruição do carro?
○ Matéria muito discutida
○ Alguns autores partindo da consideração de que na compra e venda com
reserva de propriedade não se deu ainda a transferência do direito real
sustentam correr o risco da perda fortuita por conta do alienante
○ O entendimento é suscetível de parecer à primeira vista enquadrável no
796.º
○ Mas a reserva de propriedade visa garantir a posição do vendedor contra o
risco de não pagamento do preço ou da não verificação do evento associado
a essa transferência
○ Por isso, seria estranho que um mecanismo pensado para proteger o
alienante acabe afinal por o desguarnecer, sendo certo que a transferência
do domínio material e do gozo sobre a coisa não deixou de passar para o
comprador
○ O titular do direito alienado deixa de verdadeiramente o ser (de ter uma
propriedade plena) para passar a ter uma garantia real (propriedade limitada
ao papel de garantia se se preferir). O comprador passa a ter uma
expectativa real de aquisição do bem
Aula 12 - 29/10/2021
Aula 13 - 03/11/2021
Compra e venda a contento
● Duas modalidades: 923.º (a gosto) vs 924.º
○ A gosto (ad gustum)- é estipulado que a coisa terá de agradar ao comprador,
não se produzindo os efeitos típicos da compra e venda enquanto isso não
suceder
■ Produz a obrigação da entrega a cargo do alienante mas não há
transferência da propriedade da coisa enquanto não se der decurso
do prazo ou aceitação - não há transferência do risco ainda portanto
■ Desvio do 218.º - o direito atribui valor ao silêncio - se o comprador
não dizer em determinado prazo que a coisa não lhe agrada a coisa
considera-se aceite
● Se dentro do prazo o comprador rejeitar (sendo que não é
necessária fundamentação para a rejeição) o contrato tem-se
como não celebrado
■ 923.º n.º 3 - obrigatoriedade de a coisa ser facultada ao comprador
para exame
● Cumprimento disto pode ser exigido judicialmente
● Não há obrigatoriedade de realizar de facto o exame - o
comprador é livre de fazer como entender (não pode abusar
do direito)
■ Representa um contrato preliminar constitutivo de um direito típico de
opção - do negócio resulta a vinculação definitiva do vendedor,
acompanhada de obrigação de fornecer a coisa para apreciação e
exame por parte do comprador enquanto a outra se reserva a
faculdade de aceitar ou rejeitar
● Alguns autores têm dito que se estaria perante uma mera
proposta, mas o regente discorda - mais do que um direito
potestativo de produzir determinado efeito há já a tal
vinculação de uma das partes - se não cumprir essa obrigação
responde por incumprimento
○ 924.º - aquilo que se atribui ao comprador é o direito de resolver o contrato
(devolver a coisa) se não lhe agradar - o contrato produz todos os efeitos,
mas o comprador depois pode resolvê-lo
■ Aplicam-se as regras gerais da resolução - artigos 436.º e ss. - por
remissão direta do próprio 924.º n.º 1
■ Dá-se logo a transferência do risco por perda ou deterioração da coisa
● depende da tradição da coisa nos moldes do 796.º n.º3? este
artigo aplica-se?
○ Isto pressuporia que estivéssemos perante uma
condição resolutiva - o regente não considera que
estejamos - a resolução depende da vontade de uma
das partes, por isso no máximo é uma condição
potestativa - não é uma verdadeira condição e não
segue o regime da condição
■ Adquirente tem o direito de resolução (embora não seja uma condição
resolutiva) - exerce isto sem possibilidade de sindicância judicial
A compra e venda de bens alheios só existe a partir da compra e venda de coisa específica, e não de
coisa genérica (porque a coisa genérica não exige uma titularidade particular por conta do art. 408°/2 -
a propriedade só se transfere a partir da concentração da coisa)
● O problema de bens alheios no âmbito das coisas genéricas só se manifesta a partir do
momento da concentração, quando os bens genéricos deixam de ser genéricos
● O regime de compra e venda de bens alheios vale apenas para os casos de alienação como
própria de coisa alheia, que seja específica, considerada presente, e fora do âmbito das
relações comerciais
● Opinião maioritária vai no sentido da admissibilidade do contrato-promessa de coisa alheia,
porque aqui não há efetivamente a transmissão da propriedade da coisa em causa
○ Se o contrato não for celebrado e haver incumprimento do contrato-promessa, não
haverá a questão da venda de bens alheios
○ O regente concorda com Raúl Ventura (posição minoritária) no sentido de que, se o
contrato-promessa que tem por objeto uma coisa alheia só não é válida quando ele
vem acompanhado com a possibilidade ao recurso da execução específica
O vendedor não pode impor a nulidade ao comprador de boa-fé, e o comprador doloso não pode
impor a nulidade ao vendedor de boa-fé (892° CC)
● Dolo significa boa-fé em sentido subjetivo ético:
○ Contraposição da boa-fé ao dolo → esse dolo não é o mesmo dolo da
responsabilidade civil
● Admitindo que essa nulidade é invocável por alguma das partes, quais são os seus efeitos:
○ O vendedor tem que restituir o preço, e não havendo essa hipótese, ele fica obrigada a
devolver o valor equivalente
○ Art. 894° CC: número 1 vem estabelecer que o comprador de boa-fé, em caso de
nulidade, pode receber de volta o preço mesmo com a deterioração da coisa em causa
■ Número 2 coloca várias dúvidas e complexidades, sendo que a maioria dos
autores fazem uma interpretação ao contrário do número 1, para dizer que o
comprador de má-fé não tem o direito de restituição da totalidade do preço
em caso de deterioração da coisa, se limitando apenas aos limites do
enriquecimento sem causa
● Argumentos contra essa concepção (Diogo Bártolo)
○ Formalismo excessivo da interpretação a contrario
○ O direito de restituição resulta do art. 289° CC, o 894° CC
difere do regime geral ao tornar insensível a restituição a
perda ou deterioração da coisa - portanto, o comprador de
má-fé também pode ter direito à restituição do preço, ele só
não beneficia desse direito quando o bem já desapareceu (o
preço devolvido fica circunscrito às suas vicissitudes
894° CC + 1269° CC
● A responsabilidade do 1269° CC é a responsabilidade do possuidor face ao proprietário: se o
bem foi destruído com culpa pelo comprador, o bem foi destruído pelo proprietário
● Não entendi nada
Efeitos:
● Remissão ao regime do erro e do dolo (Menezes Leitão) → essencialidade do erro e da
cognoscibilidade do mesmo por parte do comprador
○ Professor regente não concorda:
■ Professor Baptista Machado veio defender que aqui não é uma hipótese de
aplicação do regime do erro e do dolo, mas sim ao regime geral do
incumprimento
■ Seguido depois pelo Prof. MC etc.
■ Situação de incumprimento nesse caso, na visão do professor
Aula 15 - 10/11/2021 - não temos
Aula 16 - 12/11/2021
Compra e venda de bens de consumo e bens digitais
● DL 84/2021 vem regular as matérias, transpondo as diretrizes 2019/771 e
2019/770 da UE
● O que é que este diploma vem regular?
○ A compra e venda de bens de consumo por força do artigo 1.º n.º 1 alínea b)
e vem também estabelecer o regime de proteção dos consumidores nos
contratos de fornecimento de conteúdos ou serviços digitais
○ Ainda certos aspetos relativos aos contratos de fornecimento de conteúdos e
serviços digitais conexos com determinados bens que são vendidos
○ Bens de consumo sejam móveis ou imóveis - alínea a) do artigo 1.º n.º 2 vem
dizer que os bens imóveis também estão abrangidos pelo diploma, além
disso regula a responsabilidade direta do produtor em caso de situações em
que o consumidor pode demandá-lo diretamente
■ Todas estas hipóteses são de falta de conformidade - o regime
aplicável à falta de conformidade no âmbito da empreitada de
consumo
○ Além disso, o diploma regula ainda a responsabilidade dos prestadores de
serviço em linha (ex: compra de produtos na amazon)
○ Finalmente, este diploma estabelece também o regime sancionatório
aplicável ao caso de incumprimento dos deveres do profissional
■ São estipulados alguns deveres que o profissional deve observar e há
previsão do conjunto de sanções e contra ordenações em caso de
violação desses deveres
● Há uma hierarquia quanto aos remédios a que o consumidor pode recorrer que não
existia no anterior diploma (apesar de os remédios serem basicamente os mesmos)
● O que é que se deve entender por consumidor? (ver livro)
○ A generalidade da doutrina e jurisprudência entende que o consumidor tem
necessariamente de ser pessoa física - se a compra for feita por pessoa
coletiva nunca estaríamos no âmbito de uma relação de consumo
■ Entendimento refutado por MC
■ O regente subscreve o entendimento porque o que está por detrás do
diploma não é a tutela da forma jurídica do consumidor, porque a
personalidade coletiva não pressupõe nenhum substrato real, não
existindo nenhum ente que esteja por detrás da personalidade
coletiva e que seja coletivo, o que há é um regime específico, sendo a
personalidade coletiva um regime que determina que certas normas
não funcionam em modo individual, mas em modo coletivo
● Mesmo que seja um sócio pessoa-física, há pessoas coletivas
que só têm um deste tipo
● De qualquer maneira, é um regime que determina a aplicação
de certas normas em modo coletivo, diferente do individual
● Portanto isto significa que a pessoa coletiva tem sido
entendida numa perspetiva meramente analítica com renúncia
à existência de substratos (é o que diz MC)
○ MC tem uma visão puramente analítica, só que apesar
de MC se dizer defensor da personalidade coletiva
numa perspetiva analítica, o regente diz que ele aceita
e afirma que a utilização do termo e personalidade não
é inócuo - quando usamos o termo estamos a convocar
valores, princípios e dimensão axiológica e valorativa
própria da ideia de pessoa, o que faz com que a
jurisprudência (quer nacional, europeia ou por exemplo
dos EUA) aceite que as pessoas coletivas têm alguns
direitos que normalmente estão associados à
personalidade singular e que podem ser aplicados às
pessoas coletivas por força da utilização da pessoa
neste contexto, como o direito à liberdade de
expressão ou tomar posições políticas
■ Nos EUA, existe uma legislação que obriga
empresas a disponibilizar às funcionárias pílula
do dia seguinte. Uma pessoa coletiva invocou
objeção de consciência para dizer que,
atendendo à circunstância dos sócios acionistas
daquela sociedade terem determinada
confissão religiosa, isso ia contra as suas
próprias convicções que eram transponíveis
para a pessoa coletiva - o tribunal deu razão à
pessoa coletiva
■ Alguns autores têm defendido que, em certos casos, há um direito à
personificação coletiva, não sendo o legislador e o Estado quem a
pode negar
■ Em rigor, por detrás das pessoas coletivas estão sempre pessoas
singulares (mesmo em casos de relação de grupo) - portanto o que o
regime pretende titular não é a forma jurídica (porque por trás dela
acabam por estar sempre pessoas singulares) - o que se pretende
titular verdadeiramente com este dispositivo é a assimetria
informativa e económica que existe entre o produtor, vendedor e
comprador em determinados contextos
● O professor diz que nestes casos de assimetria se aplica
também este regime a situações em que o comprador é
pessoa coletiva, quer por analogia quer por aplicação direta -
opinião minoritária
● Estrutura da regulamentação: (diploma dividido em vários capítulos)
○ 1.º capítulo - disposições gerais (não confundir com o capítulo 4.º, que diz
respeito a disposições comuns)
■ Objeto do diploma, definições, âmbito de aplicação (acima
mencionado), exclusões (diz-se que o diploma não é aplicável a vários
contratos que são de consumo, mas que pelo objeto ou outra
circunstância não se quis aplicar o diploma, como a venda de animais)
○ 2.º capítulo - regime da compra e venda de bens de consumo com ou sem
elementos digitais conexos incorporados
■ Dividido em 3 secções:
● I - O bem de consumo deve ser conforme e determina um
conjunto de requisitos objetivos e subjetivos para apurar se há
ou não conformidade
● II - Responsabilidade profissional, os prazos para fazer valer
as exigências de conformidade em caso de falta da mesma,
ónus da prova da falta de conformidade, direitos do
consumidor
● III - Compra e venda de bens imóveis (no âmbito da relação de
consumo)
○ 3.º capítulo - regime aplicável ao fornecimento de conteúdos e serviços
digitais, mas de forma autónoma, não estando incorporados ou não sendo
conexos com outros bens comprados no âmbito de relação de consumo
○ 4.º capítulo - disposições comuns
■ I - Responsabilidade do produtor e garantia comercial
■ II - Responsabilidade dos prestadores de mercado em linha
■ III - Fiscalização, contra ordenações e sanções
● Âmbito de aplicação:
○ O artigo 1.º estabelece que o presente DL é aplicado aos contratos de
compra e venda celebrados entre consumidores e profissionais, incluindo os
celebrados para fornecimento de bens a fabricar ou produzir.
○ Alínea b) clarifica que o diploma é aplicável aos contratos de empreitada ao
estabelecer que também se aplica aos bens fornecidos no âmbito de contrato
de empreitada ou qualquer prestação de serviços. O próprio contrato de
locação de consumo está também sujeito ao regime - nesse caso devem ser
feitas as devidas adaptações.
○ Alínea c) - aplicável aos conteúdos ou serviços digitais que estejam
incorporados em bens ou com com eles estejam interligados e que sejam
fornecidos com esses bens nos termos de contrato de compra e venda
independentemente de conteúdos ou serviços digitais serem fornecidos pelo
próprio profissional que procede à venda ou terceiro
○ N.º 2 - incorporados ou interligados - presume-se que os mesmos se
encontram abrangidos pelo próprio contrato de compra e venda sendo
aplicável o disposto no capítulo II também a esses conteúdos digitais
○ Além disso, o diploma por força do número 3 artigo 1.º aos contratos de
fornecimento autónomo de conteúdos ou serviços digitais com exceção do
que consta do capítulo II, desde que o profissional forneça ou se comprometa
a fornecer conteúdos e serviços digitais ao consumidor que pague ou
compromete a pagar o respectivo preço e que o profissional (...)
○ Também o fornecimento de conteúdos digitais se os seus conteúdos ou
serviços digitais forem desenvolvidos de acordo com especificações do
consumidor e suporte material for utilizado exclusivamente como meio de
disponibilização de conteúdos digitais
○ O artigo 1º estabelece quais são os contratos a que o diploma se aplica, mas
existem exclusões
○ Artigo 4º - princípio de conformidade de bens de acordo com um conjunto de
requisitos (6.º a 9.º bens de consumo) e (27º a 31º no caso da compra e venda
de conteúdos ou serviços digitais)
■ Estabelece também requisitos subjetivos e objetivos, o que significa
que o profissional está obrigado a entregar ao comprador bens que
cumpram todos os requisitos referentes nestas normas que impõe os
requisitos sob pena de os bens não serem considerados conforme.
Artigo 8º tem requisitos suplementares de conformidade que obriga o
profissional a fornecer atualizações em situações de fornecimento
contínuo.
○ Há também regulamentação no diploma para casos de instalação incorreta,
no caso dos bens de consumo, artigo 9º e conteúdos digitais no artigo 3.º.
Regula-se tanto a instalação incorreta por parte do profissional como por ato
do consumidor (em virtude de deficiência nas instruções). Em ambas as
situações responsabiliza-se o profissional por instalação incorreta
○ Também regulamentação específica no artigo 10º e 31º quando existam
direitos de terceiros que são restritivos da utilização de bens ou conteúdos
digitais
○ * Correção, no âmbito de aplicação - artigos 1.º e 3.º do DL
Aula 17 - 17/11/2021 (dada pelo nosso assistente :))
Continuação da aula anterior
● Princípio da conformidade
○ Art. 5.º do DL
○ Não tinha de lá estar porque a conformidade do bem estaria assegurada nos
termos gerais do direito civil
○ DL define os requisitos para que se estabeleça esta conformidade:
■ Art. 6.º - requisitos subjetivos
■ Art.º 7.º - requisitos objetivos
■ Art. 8.º
■ Esta distinção entre subjetivos e objetivos é questionável - no art. 6.º
também há requisitos subjetivos
○ Conteúdo digital - art. 27.º a 29.º
○ Falta de conformidade:
■ Se o violar algum dos requisitos
■ Se estivermos no cenário do artigo 9.º (ver o anotado acima)
● ver restrição do 10.º
○ 12.º - responsabilidade do profissional
■ garantia do bem num prazo de 3 anos (alarga o prazo normal que
seria 2 anos)
■ prazos de responsabilidade de estímulos (?) contínuos?
○ Regras de prova - art. 14.º
■ Ónus da prova só existe no prazo de garantia
○ 32.º - remissão para o 26.º
■ prova no 33.º
● DL 67/2003 - regime que atualmente está em vigor
○ Diferenças face ao outro DL
■ O regime atual não estabelece qualquer hierarquia de remédios por
parte do consumidor - reconhece ao consumidor um direito de
escolha entre reparação do bem, substituição do bem, redução do
preço e ainda resolução do contrato
● O outro estabelece os mesmos remédios mas sujeitos a uma
hierarquia - em caso de violação do princípio da conformidade,
o consumidor tem desde logo direito à reposição da
conformidade (ou seja, à reparação ou substituição do bem) -
15.º n.º 1 e n.º 2 -, redução do preço ou resolução do contrato
■ Atualmente, o consumidor tem obrigação de denunciar o defeito após
determinado prazo em que sabe dele - no novo DL isto não ocorre - o
22 elimina esse prazo, não há obstáculos para a denúncia por parte
do comprador
● prazo 2 anos (acho eu???) menos em bens imóveis em que é 3
■ Extensão do conceito de bens a bens de consumo com elementos
digitais
● O elemento digital pode constar desde o início ou ser inserido
posteriormente
■ Reforço da garantia dos bens imóveis e em caso de defeitos
estruturais (prazo de 5 a 10 anos)
● Bens digitais - 34.º
○ Direitos do consumidor em caso de não fornecimento
■ Violação da obrigação de entrega - pode exigir a entrega ou resolver
o contrato
● Art. 39.º - nos contratos que seja estipulado o fornecimento contínuo o profissional
tem o direito a alterar o conteúdo desses serviços desde que sujeito às condições
deste artigo
● Além da garantia legal existe a garantia voluntária - 43.º (o artigo diz “comercial”
mas é voluntária)
● 44.º - responsabilidade de prestador de mercado em linha- conceito de profissional -
responsabilidade solidária perante o consumidor.
○ o prestador de mercado em linha é responsável nos mesmos termos
Nota prática: na frequência estar atentos aos sujeitos (se um deles for um consumidor) e
às datas do caso (a partir de 2023 já se aplica o regime novo)
Contrato de empreitada
● 1207.º
● Legislador definiu empreitada, com todos os perigos que definir acarreta - foi
sintético na definição, estabelecendo os 2 elementos essenciais: a obra e o preço
○ Quanto ao preço, remissão para o que já estudámos na compra e venda
■ Principal dever do dono da obra
■ Regra geral, os empreiteiros não podem solicitar outros preços que os
acordados - só se as partes o acordarem
○ Quanto à obra:
■ Anos 80, querela jurisprudencial para decidir se a feitura de um filme
se enquadrava no conceito de obra, podendo assim ser aplicadas as
regras da empreitada
■ Assistente - dificuldade deste conceito advém de 3 aspetos: direito
romano, pandectística e trabalhos preparatórios do CC
● A maioria dos autores tem dificuldades em definir este
conceito porque não olha para este lado histórico, por isso
vamos olhar :)))))))))))))))) amo viver
○ Direito Romano - distinguiam a empreitada num
regime tripartido - locatio-conductio rei (atual locação),
operarum (atual?) e operis (atual contrato de
empreitada) (ver depois)
■ Discute-se se os romanos faziam de facto esta
tripartição ou se foi a pandectística que a fez
para facilitar a compreensão
● Trabalho manual era mal visto por isso
secalhar esta vertente do operi estava
só pensada para as profissões liberais
no direito romano
● Martinez - Afirma que o nosso direito civil é estranho na
distinção entre a locação e a empreitada
○ Assistente - tem razão se só olharmos para o direito
nacional, olhando para o direito comum (???) já não é
assim
○ Destoa do regente
■ Obra e preço são realidades sinalagmáticas
■ Pensamento cristão afastou-se do romano e isso teve reflexo no ius
commune
■ Direito histórico não há problema em enquadrar a obra, idem com o
direito comparado, resta saber se em termos sistemáticos isto é
compatível
● Aqui é que se levantam dificuldades - como é que se fiscaliza
uma obra se ela for, por exemplo, intelectual? como é que se
aplica o regime dos defeitos ocultos a isto?
○ STJ - 1983 - não obstante dever a obra no contrato de
empreitada constituir uma coisa corpórea, julgou ser
suficiente a existência do contrato em causa - o filme
teria de ter um suporte físico
■ Afirmação do conceito de obra como coisa
corpórea
● Maioria da doutrina concorda ???
■ Alguma abertura para essa coisa corpórea ser a
concretização de uma obra material
■ Esta decisão foi muito criticada - o objeto do
negócio foi o filme enquanto tal, não o seu
suporte - não estaríamos perante um contrato
de empreitada (embora em casos específicos
obras intelectuais possam ser empreitadas -
assistente - assistente - não basta a existência
de um corpus mecanicum ??? para que o
possam ser - outras características essenciais:
● resultado (opus) da obra tem de se
exteriorizar numa coisa concreta,
corpórea ou incorpórea, mas suscetível
de entrega
● resultado tem de ser específico e
concreto (preparado através de um
processo produtivo específico)
● resultado tem de ser obtido em
conformidade com um projeto (projeto
da obra - podemos estar tanto perante
uma planta, um caderno de encargos,
etc
■ Regime da aquisição da obra:
● 1208.º - deve ser executada conforme o convencionado, sem
vícios que reduzam o seu valor para o fim convencionado
○ O que é que acontece quando esses vícios surgem sem
responsabilidade do empreiteiro(?) ? Há uma violação
do 1208.º
■ Dever de entrega abrange o cumprimento do
projeto convencionado e de todas as leis
exatas????? relacionadas com esse projeto-
762.º n.º 1
■ Fiscalização da obra
● Imaginemos um caso em que houve incumprimento do 1208.º,
mas como não houve fiscalização é alegado que isso isenta o
empreiteiro
○ 1209.º n.º 1 - não é um ónus nem um dever técnico, é
um direito, uma faculdade - dono da obra pode
fiscalizá-la se quiser - por isso não pode ser
considerada ilícita a conduta do dono da obra que
não fiscaliza a obra que é depois entregue com vício
ou falta de qualidade; não implica a renúncia a
qualquer direito
■ O único caso em que não é assim é nos casos
do 1209.º n.º 2
● E se o empreiteiro não se aperceber dos defeitos mas o dono
da obra, ao fiscalizar, se apercebe deles, mas não os comunica
ao empreiteiro. Acontece algo à casa e o dono que
responsabilizar o empreiteiro. Quid iuris?
○ Anteprojeto do professor Vaz Serra tratava desta
hipótese - o dono era o responsável
○ Martinez - nesta situação o dono da obra está em
abuso de direito - venire contra factum proprium
○ ML - só admite esta possibilidade no n.º 2 do 1209.º
(esta possibilidade suponho que seja alegar abuso de
direito mas idk)
● Fiscalização não se confunde com a verificação do
cumprimento
○ Verificação - se a obra se encontra de acordo com o
convencionado no plano - 1218.º n.º 1
■ Dono da obra deve verificar a obra após a sua
conclusão e antes da aceitação: tal
comportamento visa confirmar a concordância
da obra com o acordado (art. 1218º/1). Para que
o dono da obra possa exercer esta posição
jurídica é necessária a comunicação, pelo
empreiteiro, da conclusão da obra e ainda que a
obra seja colocada à disposição do dono (este
dever, note-se, envolve condutas positivas e
condutas negativas).
■ Tal como na fiscalização, a posição jurídica do
dono da obra é debatida
● Para alguma doutrina (regente) é um
ónus material, em que ele pode escolher
não a realizar, mas isso pode acarretar
consequências negativas
● Outra doutrina - é uma faculdade
■ Prazo de verificação - apesar de o 1218.º n.º 2
remeter logo para os usos, o primeiro critério é
a vontade das partes
■ Com a comunicação da verificação e aceitação,
há transferência da obra - tem como
consequência direta a obrigação de pagar o
preço - 1211.º n.º 2
● Vencida esta, aplicam-se as regras
gerais de mora e incumprimento
● Transferência de propriedade (1212.º n.º
1) - haverá também transferência de
risco - 1228.º n.º 2 - determina a
irresponsabilidade do empreiteiro por
vícios conhecidos e pelos vícios
aparentes, que se presumem
conhecidos (1219º/1 e 2)
● É possível aceitação da obra com
reservas - início do prazo de garantia
legal ou convencional sobre os defeitos
(1224º/1).
○ Aceitação da obra com reserva
pressupõe que a obra tem
defeitos - a obra só é aceite na
parte em que não é influenciada
pela existência destes defeitos
○ Presunção de defeitos aparentes
como conhecidos é tida pela
doutrina como iuris tantum
(ilidível acho eu)
○ Ressalva-se os defeitos ocultos
Aula 18 - 19/11/2021
● Como vimos, grande parte da controvérsia sobre o conceito de obra tem motivos
históricos (direito romano)
○ AHAHAHAHA “em bom rigor jesus cristo era carpinteiro, o que significa que
era empreiteiro” - regente
● O dono de obra tem um conjunto de deveres acessórios e ónus materiais ou
encargos (para além dos deveres principais que vimos), que resultam
designadamente da boa fé
○ Remeteu para o livro
● Direitos do empreiteiro
○ O principal direito do empreiteiro é simétrico ao principal dever do dono da
obra - receber o preço
■ Prazo de prescrição deste direito - 317.º b) estabelece um prazo curto
de prescrição presuntiva (312.º) - este preceito é aplicável ao contrato
de empreitada? nomeadamente o segmento que refere “execução de
trabalhos”
● Há quem diga que sim
● Há quem diga que não
● Muita jurisprudência diz que não - neste caso os créditos que
estariam sujeitos a este regime dariam lugar a dívidas que
seriam pagas em prazo muito curto e de cujo o pagamento
não é comum exigir quitação - seria esse o sentido do 317.º
(aplicar-se-ia apenas a estes créditos) - esta ratio seria
também extensível ao 316.º
○ Créditos normalmente essenciais à subsistência do
credor ou então contraídos por ocasião de
necessidades urgentes do credor - nada disto
permitiria aplicar estes preceitos à empreitada
■ Regente discorda
● Considerando estes argumentos como
verdadeiros, eles justificam a aplicação
destes preceitos a pelo menos alguns
contratos de empreitada
○ O prazo de pagamento do
contrato de empreitada é por
norma muito inferior a 2 anos
○ Em alguns casos nestes
contratos exige-se quitação,
noutros não
● Contudo, não lhe parece que o 316.º e
317.º estejam necessariamente
associados a estes créditos
○ Este requisito não aparece
mencionado em nenhum dos
dois preceitos (embora esta
associação seja discutível na
mesma)
○ Podia considerar-se ser assim à
data da entrada do CC (317.º c))
■ Mas hoje há sociedades
de advogados com
milhares de funcionários
e que faturam milhares
de euros - claramente o
317.º c) vem sujeitar os
créditos das profissões
liberais a este prazo curto
de 2 anos - por isso o
regente diria que se a
razão de ser do preceito
fosse aquela não se
deveria aplicar a estes
cenários (e os créditos do
pequeno empreiteiro
deviam estar abrangidos
pelo 217.º b))
● Solução mínima - Teríamos de
distinguir, pelo menos, o pequeno
empreiteiro do grande empreiteiro, e
aplicar estes preceitos ao pequeno
empreiteiro
○ Mas causaria alguma
incerteza/dificuldade
○ Regente julga que não tem
razão de ser
■ 317.º b) refere-se aos
créditos de quem não
seja comerciante -
comerciantes hoje são
também alguns dos
maiores agentes
económicos do nosso
país - claramente no
âmbito de previsão do
317.º b) refere-se que
estes créditos estão
sujeitos a este prazo, por
isso a teleologia da
norma não poderia ser
esta
● Deveres do empreiteiro
○ Principal dever é realizar a obra cumprindo com todas as regras
■ Já foi referido que podem haver defeitos na obra imputáveis ao
projetista ou eventualmente à fiscalização - em que medida por o
empreiteiro ser responsabilizado por esses vícios e tem de se
envolver? - ver acima
■ Por força do regime do contrato de empreitada, o empreiteiro tem de
cumprir pontualmente a sua obrigação (que é uma obrigação de
resultado - embora haja quem diga que a distinção entre obrigações
de meios e resultados é relativa, incluindo o próprio regente)
● Deve ainda cumprir com, por exemplo, normas de natureza
administrativa - deve haver um cumprimento conforme com o
interesse do dono da obra
● Estas diversas regras servem para avaliar se de facto houve
um cumprimento diligente do empreiteiro
○ No silêncio do contrato, deve ser aferido objetivamente
- deve ter-se em conta todas as regras da arte na
época e local onde a prestação é realizada (empreiteiro
deve conhecê-las - é irrelevante se efetivamente as
conhece porque tinha o dever de as conhecer; também
é irrelevante se não dispõe de meios para as cumprir -
tem de passar a dispor)
■ Empreiteiro tem de apresentar o resultado a
que efetivamente se obrigou
● Não implica necessariamente que tenha
de conhecer as mais inovadoras técnicas
de construção, mas muitas vezes o
próprio contrato acaba por exigir isso
○ Ex: se alguém quiser construir
uma casa num terreno que se diz
logo à partida que é rochoso ou
pantanoso, o empreiteiro tem de
dominar as técnicas para
conseguir ultrapassar esses
problemas
■ Prazo
● Muitas vezes a obrigação tem um prazo certo (embora na
prática muitas vezes se arraste, especialmente se não houver
cláusulas penais/sanções previstas)
○ Empreiteiro tem de o cumprir - caso contrário haverá
mora e eventualmente incumprimento definitivo
● Mas nem sempre há um prazo estipulado, especialmente em
pequenas obras
○ Como é que se resolvem estes casos?
■ Normalmente quando não há qualquer prazo o
credor pode provocar o vencimento a qualquer
momento, mas aqui estamos perante uma
obrigação com características especiais - pela
própria natureza das coisas, não estamos
perante uma obrigação pura - o cumprimento
não está totalmente dependente das partes
● Por isso, o empreiteiro não entra
imediatamente em mora se o dono da
obra fixar um prazo que não seja
realista, e não permita cumprir com o
acordado
■ Resposta: 777.º n.º 2 - obrigações de prazo
natural - se for necessário fixar o prazo, não
havendo acordo entre as partes, o prazo será
fixado pelo tribunal
● Mas a solução deve sempre passar pelo
tribunal?
○ Isto por dois motivos:
■ Se o dono da obra fixar
um prazo razoável, não
parece necessário nem
justificável o recurso ao
tribunal
■ Enquanto o tribunal
decide, o empreiteiro
poderia já ter realizado a
obra, criando um prejuízo
enorme - não é razoável
ter de esperar que a
decisão transite em
julgado
○ Regente: Se o prazo for
razoável não é necessário, se
não for é, se for razoável e
mesmo assim o empreiteiro
discordar e for a tribunal, se o
tribunal der razão ao dono de
obra, há incumprimento/mora
da empreitada a partir do
termo desse prazo inicial
■ Alguma doutrina defende
que se o tribunal desse
razão ao dono da obra, o
prazo contará a partir daí
- regente acha esta
solução materialmente
inadequada e acha que
vai contra a solução
defendida por esta
doutrina em casos
materialmente
equivalentes em que a
prestação foi realizada
com vícios ou defeitos
(1221.º e 1225.º; aí dizem
que vale o prazo fixado
pelo dono da obra) - seria
uma contradição
valorativa desnecessária
● Entrega da coisa
○ Relevância da entrega da coisa
■ Não se deve confundir necessariamente com a verificação nem com a
aceitação - dono de obra pode aceitar a obra mas ainda não a ter
entregue
■ Momento da entrega é relevante para efeitos do 1217.º, 1224.º n.º 2 e
1225.º n.º 1, e também para a determinação do cumprimento dessa
obrigação de entrega e da sua mora e o incumprimento; pode
também ser relevante para a transmissão da propriedade da obra
(falaremos melhor quando virmos a resolução do contrato de
empreitada)
■ Pode não haver prazo para o cumprimento da obrigação da entrega
● Várias orientações:
○ I - o vencimento do dever de entrega da obra
verifica-se simultaneamente com a aceitação da obra
○ II - aplica-se o 777/2 por se tratar de uma obrigação
natural
○ III - depende da interpelação do credor da obra - 777/1
24/11/2021
● Entrega da coisa
○ A entrega da coisa propriamente dita não parece que possa ser uma
obrigação de prazo natural - esta é a obrigação de executar a obra.
■ O regente discorda de vencimento da obrigação de entrega se dar
com a aceitação da obra -a aceitação é o pressuposto da própria
obrigação de entrega
■ A aceitação não equivale necessariamente a uma interpelação para
cumprir (até pode suceder por declaração expressa do dono que
interpela o empreiteiro para entregar a obra)
■ Da declaração de aceitação não decorre sempre expressa ou
tacitamente o vencimento do dever de entrega
○ ML - há sempre coincidência entre o momento de aceitação e a obrigação de
entrega - se não fosse assim devíamos entender que o empreiteiro
suportaria o risco de perecimento da coisa da não entrega da obra aquando
da aceitação por força do 887, algo incompatível com o 1228.º
■ ML - 1228 seria uma norma fechada, não aceitando que o 887
pudesse ser tbm convocado para regular o risco
● Regente não concorda com esta justificação - o 1228.º não
afasta as regras gerais em matéria de incumprimento
● Mas acaba por sustentar a mesma posição que ML - só que
por considerar a aceitação como pressuposto da obrigação
de entrega, que não tem necessariamente de coincidir com
esta - será necessário um ato do dono da obra
(interpelação) para que a obrigação de entrega se vença
○ Risco corre por conta do empreiteiro se ele for proprietário da obra
■ "Está aqui um vendaval!”- Exclamou o regente
○ Se a coisa estiver à guarda do empreiteiro, ele tem um dever acessório de
guarda da obra - se a coisa se perder ou deteriorar aplica-se a presunção de
culpa do 799.º - para afastar a sua responsabilidade com base em culpa e
remeter para o regime do risco tem de ilidir esta presunção
○ A obrigação de entrega obedece a determinadas regras quanto ao local
do cumprimento:
■ Aplicam-se as regras gerais:
● deve ser cumprida no lugar do domicílio do devedor se for
coisa móvel - 772/1
● se o objeto for coisa imovel, pela própria natureza das coisas,
o local de cumrpiemnto da obrigação de entrega sera aquele
onde a coisa se encontre
● Vicissitudes da empreitada
○ Capítulo V parágrafo 9.º 1 2 do livro
○ ?
■ O que é que o empreiteiro deve solicitar?
● Há coisas que só podem ser solicitadas quando estamos em
sede de cumprimento defeituoso, e já não fazem sentido em
incumprimento definitivo
○ Regime prevê prazos relativamente curtos para exigir a
reparação de defeitos, mas tem-se entendido que
esses prazos curtos só valem para os remédios
previstos ???
■ Para haver responsabilidade do empreiteiro a obra tem de ter defeitos
- 1219.º
● O que são defeitos? Em sentido amplo, todas as
desconformidades entre a prestação devida e a que é
concretamente efetuada (incluindo a hipótese de ter sido
realizada uma obra diferente - ao contrário de na compra e
venda)
○ Ter em conta as regras da arte e padrão comum
○ Podemos distinguir os vícios das desconformidades em
sentido restrito - nesse sentido restrito as
desconformidades são uma divergência entre o que é
estipulado pelas partes, um desvio em relação ao
plano inicialmente traçado
■ A desconformidade em sentido estrito não
implica um juízo negativo ou de censura
(objetivo; poderia ser subjetivo); no outro o juízo
objetivo de censura reduz o valor da obra
■ Apesar desta distinção em termos conceptuais,
por vezes na prática é difícil distinguir uma de
outra - o regime acaba por ser igual: ambas dão
origem a um cumprimento defeituoso
● De acordo com as regras de distribuição
do ónus da obra, o dono da obra tem de
provar a existência dos factos
constitutivos do seu direito - 342.º n.º 1
- tem de provar os vícios ou
desconformidades
● Feita essa prova, há presunção de culpa
do empreiteiro - 799.º - é o empreiteiro
que tem de demonstrar que esses vícios
ou desconformidades não se devem a
cumprimento defeituoso da sua parte
■ Incumprimento parcial vs cumprimento defeituoso
● Parcial significa que o empreiteiro apenas realizou parte da
obra
● Por vezes podem coincidir
● Esta distinção é relevante porque só aos defeitos se aplica o
regime dos artigos 1218.º e ss. (cumprimento defeituoso)
● O cumprimento parcial segue o regime geral do direito das
obrigações - 798.º e ss.
● Mais uma vez, por vezes é difícil distinguir na prática:
○ Dica: o incumprimento parcial é um vício meramente
quantitativo - foi feito menos que o acordado; o defeito
é um vício qualitativo
■ Qual é o regime aplicável se houver vícios de direito?
● ex: empreiteiro utiliza bens onerados para a obra - utiliza
torneiras oneradas por garantia a terceiro
● Nesta eventualidade, aplica-se o regime dos 1219.º e ss. ou
dos 905.º e ss.?
○ Regente - podemos distinguir tal como na compra e
venda duas categorias de defeitos
■ Embora os 1219.º e ss. não façam distinção
entre vícios do direito e vícios materiais, é
patente que este regime está mais
direcionado para vícios materiais do bem
■ Parece-lhe que havendo vício de direito se
aplica os 905.º e ss, seja por analogia ou por
força da norma que diz que o regime da
compra e venda se aplica aos restantes
contratos onerosos (939ºCC)
● E se alguém se obrigar a construir uma vedação em zonas de
parte natural (tem determinadas exigências para permitir a
regeneração da biodiversidade) e o empreiteiro não obedece a
essas exigências?
○ Regente considera que também estamos perante um
vício de direito - não foram cumpridas as normas
jurídicas aplicáveis - aplica-se os 905.º e ss.
○ 1220.º - quando há defeitos, o dono da obra deve denunciá-los ao
empreiteiro no prazo de 30 dias a contar da descoberta do vício
■ n.º 2 - este prazo não é aplicável se o empreiteiro reconhecer esse
defeito
■ Para além desta denúncia, há também um prazo judicial para o
exercício dos direitos do dono da obra - 1224.º e 1225.º n.º 1, n.º 2 e
n.º 3
● Esse prazo de 30 dias do 1220.º deve conjugar-se com os de
caducidade destes artigos
● Prazo do 1224.º é um prazo de manifestação do defeito - se se
manifestar para lá dele, já não pode fazer nada, se for nele
tem 30 dias adicionais para denunciar o defeito
● n.º 1 - defeitos conhecidos; n.º 2 - desconhecidos;
● 1225.º - prazos mais largos para a empreitada de coisas
imóveis
■ Apesar de não haver aqui nada que corresponda ao 916.º da compra
e venda (dolo), deve valer na empreitada a mesma solução - nesse
caso não se aplica nenhum prazo de denúncia
● O empreiteiro ainda é responsável se o dono da obra descobrir
o defeito depois de passados os prazos de 2 ou 5 anos da
entrega da coisa? (se houver dolo)
○ Regente - havendo dolo estes prazos não se aplicam
■ O único limite que tem é os 30 dias desde o
conhecimento do defeito
■ Regente também acha que não se deve
equiparar aqui o dever de conhecimento ao
conhecimento efetivo (ao contrário de na
generalidade dos casos)
■ Dono da obra verifica a obra e recusa-a, exigindo uma nova. Pode
fazê-lo?
● Direito de recusa da obra - 1224.º n.º 1 (aparece quase no final
do regime mas não deixa de ser o primeiro dos direitos -
resulta do regime geral e do cumprimento pontual - ninguém
pode ser obrigado a aceitar uma prestação que não
corresponde ao contratualizado)
● Perante uma recusa, há um dever a cargo do empreiteiro de
eliminar os defeitos da obra - corresponde a uma forma de
restauração natural
○ Isto vem previsto no 1221.º, podendo revestir a
configuração de um dever de realização de uma obra
nova
Aula 26/11/2021
Empreitada:
● Dever de eliminar os defeitos
○ Tínhamos visto que era o primeiro dos direitos do dono de obra quando
recusa a obra
○ Pode consistir na elaboração de uma obra nova quando necessário nos
termos do 1221.º
■ Nada disto acontece se as despesas forem desproporcionais ao
proveito do dono de obra
○ Questão de se houver dolo - este direito não existe se houver dolo do
empreiteiro
○ Prazo:
■ fixado pelo dono de obra
○ Se o empreiteiro se recusar a eliminar os defeitos ou a fazer nova obra sem
razão o dono de obra deve exigi-lo - 817.º
○ Dono de obra verifica os defeitos - pode exigir logo a correção imediata em
sede de execução da obra/em sede de fiscalização?
■ Entre o ddo e o empreiteiro não existe uma relação de subordinação -
empreiteiro tem alguma autonomia
■ No entanto, para o regente esta autonomia não deve fundamentar o
desrespeito pelo plano da obra e pelas regras de arte - em certos
casos pode fazer sentido exigir a correção imediata - pode
portanto
○ Se houver realização de nova obra, pode acontecer que os defeitos da
anterior subsistam
■ Pode exigir a aplicação de outros remédios para além dos 1219.º e
ss.?
■ Cada tentativa falhada tem de passar por todo o processo do 1221.º e
1222.º?
● Regente e professor Raimundo - não - aí o dono da obra já
pode pedir a redução do preço ou resolução
○ Resolução - só se a obra se tornar desapropriada para
o fim a que se destina
■ À partida segue o regime especial da resolução,
com algumas especialidades:
● Bens móveis com materiais fornecidos
na maior parte pelo empreiteiro - tendo
já havido transferência da propriedade -
1212.º n.º 1 e na medida em que a
resolução opera retroativamente a
transferência da propriedade é
destruída, retornando a propriedade da
obra ao empreiteiro se este tiver
fornecido os materiais na sua maior
parte
● Bens móveis com materiais fornecidos
na menor parte pelo empreiteiro -
separação dos materiais e devolução ao
empreiteiro ou se não for possível
restituição do seu valor; a obra é sempre
propriedade do dono de obra (1212.º n.º
1)
● Bens imóveis em solo do dono mas com
materiais do empreiteiro - passam a
propriedade do dono no momento da
incorporação - 1212.º n.º 2 (vamos ver
melhor isto em reais - figura da acessão
industrial)
○ Dois cenários possíveis - para
além da resolução - ddo pode
destruir a obra e cobrar isso ao
empreiteiro ou mantê-la na sua
propriedade (para o regente esta
segunda hipótese não é
verdadeiro efeito do contrário -
tem direito a redução do preço)
● …
● Solo do empreiteiro mas com materiais
do empreiteiro - imóveis - havendo
resolução a obra fica na propriedade do
empreiteiro e ele pode fazer o que
entender
● Solo do empreiteiro e materiais do dono
de obra - empreiteiro tem de restituir o
seu valor
○ 1223.º - direito à indemnização - subsidiário relativamente aos restantes
remédios - serve para ressarcir os prejuízos que não sejam total ou
parcialmente eliminados pelos outros remédio
○ O que é que sucede se o dono de obra solicitar ao empreiteiro a remoção dos
defeitos e este nunca os corrigir de forma satisfatória/se recusar - ddo pode
solicitar a terceiros e imputar o custo ao empreiteiro?
■ Posição tradicional - não
■ Quem defende - em parte ML e curamariante???????
● Acho que o regente também pq a considera uma
indemnização
● Caducidade dos dtos do ddo
○ 1225.º
○ Questão dos defeitos estruturais ou não que já vimos
○ Prazo do 1224.º n.º 2 é de manifestação do defeito para o empreiteiro poder
ser responsabilizado - vimos a aula passada
○ 1225.º n.º 1 estende esta responsabilidade também a favor de terceiro
adquirente
○ 1225.º n.º 4
● Empreitada de bens de consumo
○ noção de consumidor + regime do novo diploma que já vimos
● Extinção do contrato de empreitada
○ Aplicam-se as causas gerais de extinção de contratos mas há algumas
hipóteses específicas a reter:
■ impossibilidade de cumprimento não imputável às partes - 1227.º
■ desistência do dono da obra (dono da obra pode sempre desistir
desde que indemnize o empreiteiro) - 1229.º
■ morte, incapacidade , extinção ou insolvência do empreiteiro - 1230.º
● A insolvência vem depois tbm no CIRE no 102.º n.º 1 e 111.º e
ss.
■ morte ou extinção do dono de obra - paralelo com o 1230.º
■ insolvência do dono de obra - 111.º CIRE
● Subempreitada
○ 1213.º - contrato no qual um terceiro se obriga perante um empreiteiro a
realizar a obra ou parte da a que ele se encontra vinculado
○ Corresponde à figura do subcontrato
○ 1213.º n.º 1 - o empreiteiro fica quase numa posição equivalente a do dono
de obra face ao subempreiteiro - regime é o mesmo nesta relação que nas
entre o ddo/empreiteiro
○ 800.º n.º 1 - o empreiteiro responde perante o ddo pelas imperfeições
originadas pelo subempreiteiro - depois tem direito de regresso - 1226.º
○ Quando é admissível o recurso à subempreitada - 264 por força da remissão
do 1213.º
■ tem-se entendido que é admissível quando haja uma especialização
de determinado tipo de obras - ex: eletricidade, canalização
○ Há relações diretas entre o ddo e o subempreiteiro?
■ Regente - sim - desde logo no contexto dos direitos decorrentes da
possibilidade de ação sub rogatória - 606.º e ss.
■ Além disso, brecha ao principio da relatividade dos contratos numa
situaçao em que o CC claramente a estabelece - 1225.º n.º1 parte
final- imóveis de longa duração quanto a terceiros adquirentes -
nessa medida, o que vale para o terceiro ha de valer tambem para o
dono de obra inicial
■ Para além disso, estamos no abito do principio da autonomia privada
- as partes podem estabelecer contratualmente estas relações diretas
no momento da subcontratação
■ Ver posição do regente vs posição do joao serras de sousa?
● regente tem uma posição mais lata - a subempreitada ta
inserida em algo mais complexo dotado de unidade - oq ue
interessa ao dono da obra é o resultado - nao ha razao para se
negar ao dono de obra o exercicio destas relaçoes diretas
● Generalidade da doutrina tem reconhecido ao subempreiteiro
dto de retençao - dto real oponivel a terceiros - se o
em,preiteiro n pagar ao sub, o sub n entrega a obra - e aí o
que é que o ddo pode fazer? pagar-lhe - o regente n ve como
e que, havendo este dto, se pode negar que ha uma pretençao
do subempreiteiro oponível ao ddo - questão de materialidade
subjacente e também por uma questão de justiça e equilíbrio
contratual - se o sub pode isto, o ddo tbm deve poder exigir
por exemplo a correção de defeitos
● Vicissitudes do objeto da empreitada
○ Alterações ao plano convencionado
■ As instruçoes integradoras do ddo e opçoes livres do empreiteiro n se
enquadram aqui!!!!!
■ A realizaçao de alterações por iniciativa do empreitada e sem
autorização é a partida vedada pelo 1214.º n.º 1 - não é assim se
houver alterações necessárias
● se apos a celebraçao do contrato e do plano de obra houver
regras tecnicas ou necessidades de terceiro que as exigem -
1215.º
○ n.º 1 - comporta ainda outra eventualidade no seu
sentido normativo - alteraçoes ao projeto deteminadas
por ato de poder publico
■ 1215.º n.º 2 - se o preço, em virtude destas alteraçoes, for elevado em
mais de 20% face ao valor inicial, o empreiteiro pode denunciar o
contrato e exigir uma indemnização equitativa
■ Dono de obra pode sempre exigir alterações do plano convencionado
- 1214.º
● Limites a este poder - dois tipos - qualitativos e quantitativos
- 1216.º n.º 1
● Além destes limites, há tambem limites decorrentes de
principios e regras gerais - principio da boa fé e institutos por
ela inspirados (ex: abuso de dto)
● Não devemos confundir estas alterações com alterações
posteriores a entrega da obra e com obras novas previstas no
1217.º
Conclusão: sai tudo para a frequência
“votos de força e energia para enfrentar este período” não tenho mas obrigada senhor
preocupa-se com o nosso bem estar e sucesso - empático