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Índice
Introdução e evolução histórica ........................................................................................................................... 3
Acontecimentos e relatório de mar ...................................................................................................................... 7
Abalroação......................................................................................................................................................... 11
Salvação marítima ............................................................................................................................................. 26
Avarias............................................................................................................................................................... 37
Arribadas forçadas ............................................................................................................................................. 54
Conceitos de mar ............................................................................................................................................... 65
Responsabilidades relativas à expedição marítima ........................................................................................... 66
Agente transitário .............................................................................................................................................. 76
Pilotos ................................................................................................................................................................ 78
CLC e CBankas ................................................................................................................................................. 79
Incoterms ........................................................................................................................................................... 89
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Introdução e evolução histórica
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marítima e acabou até por propor um código marítimo. A autonomização da matéria marítima no
código comercial atual não é tão intensa, aplicando-se a parte geral. O livro III do código comercial
atual trata do comercio marítimo sendo que os outros livros tratam de matérias comerciais ex. regime
do seguro, sendo que este é bastante importante. Veiga Beirão não deu à matéria marítima o mesmo
grau de autonomia que foi dada por Ferreira Borges, mas fez referência a esta matéria.
Em termos internos, ou seja, em relação à legislação interna, as coisas durante muito tempo
estiveram num certo pousio, até que se sentiu a necessidade da reforma da legislação marítima; isto
teve consequências a nível do código das sociedades comerciais, sendo que sempre se discutiu o que
fazer com a matéria marítima. Opções:
1. Criar um código marítimo e chegou a haver nos anos 50 um código de navegação marítima,
no entanto nunca mais se fez referência a este. Foi um projeto que seguiu de perto a lógica
italiana- estes operaram a unificação do direito privado, o código civil dos italianos contém a
matéria comercial e foi aprovado um código da navegação que regula a navegação marítima e
a navegação aérea em 1942. O direito aéreo nasceu a partir do direito marítimo e autonomizou-
se mais tarde.
Assim, o nosso projeto de código da navegação marítima inspirou-se no projeto italiano,
existiam várias correntes e esta discussão em torno do que fazer com a matéria marítima continuou até
aos anos 80.
2. Criar uma lei geral da navegação marítima;
3. Criação de legislação avulsa: ou seja, pegar em várias figuras e disciplinar essas figuras, e foi
o que aconteceu nos anos 80- surgiu um conjunto de diplomas que saíram do código comercial
para legislação à parte, no entanto mantiveram-se outras matérias no código comercial. A
legislação dos anos 80 foi influenciada pelos franceses e Mário Raposo seguiu muito isto.
Nesta época, foi criado o tribunal marítimo pelo impulso de Mário Raposo, sendo que nos anos
90 surge um novo núcleo de legislação chamado núcleo expo 98. Foi aquando da expo 98 que foi
aprovado um pacote legislativo marítimo, que já não foi pelo impulso de Mário Raposo, que regula
matérias bastante importante, ex. estatuto legal do navio, regime da salvação marítima.
Em termos de polos normativos, temos no código comercial ex. matérias de acontecimento de
mar, polo dos anos 80 etc e depois foi aparecendo mais legislação devido à necessidade de criar direito
interno. Temos também legislação europeia ex. segurança ambiental.
Em termos internacionais, há uma essencialidade da vertente do direito marítimo, este sempre
foi internacionalista ex. legislação aplicável a certos acontecimentos de mar.
Há nos diversos mares práticas comuns: temos nos diversos mares compilações de práticas e
usos marítimos que eram aceites, mas não como códigos. No mediterrâneo, havia o consulado do mar
que era aplicável em várias áreas do mediterrâneo. Quando, no séc. XIX, a opção era cada país ter um
código, a matéria marítima foi encaixada nos códigos comerciais, mas veio ao de cima a insuficiência
desta solução porque o internacionalismo do comércio marítimo exigia um regime comum - tudo isto
para explicar o facto de no principio do séc. XX terem começado a surgir convenções internacionais
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marítimas, primeiramente, através do comité marítimo com sede em Bruxelas, depois começou a ter o
apoio das nações unidas.
No direito marítimo, temos que estudar as convenções internacionais, sendo que estas estão
estruturadas através de temas específicos. Por cima destas, há uma grande convenção que é a
convenção de Montego Bay que tem pontos de regime importantes onde se regulam os espaços
marítimos etc que não é privativa do direito do mar, tem muitos pontos importantes ex. estatutos dos
navios.
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por uma situação de arresto. A questão é saber se estamos num caso de abalroação, logo temos que ver
na convenção de Bruxelas e ver se cabe lá esta situação- se estiver em princípio ficamos aí, se não
estiver não estamos nessa situação. À priori, não é um caso de abalroação, temos que ir à convenção,
ir ao regime interno, a abalroação pressupõe a existência de abordagem em toque- se não há mais do
que 2 navios em choque em princípio não há abalroação, em principio aplicar-se-á o art 483 nº2 CC–
matéria de direito civil – responsabilidade civil.
1. Introdução
Se seguirmos a força das palavras, acontecimento de mar será todo e qualquer evento que ocorra
no mar e que, como tal, tenha reflexos na navegação marítima ou nas atividades que no mar se
desenvolvem. Contudo, a expressão é utilizada em Direito Marítimo num sentido mais seletivo, para
designar eventos não ordinários ou comuns, maxime quando provocam ou são suscetíveis de provocar
danos de qualquer natureza.
Encontramos uma noção de acontecimento de mar no art. 13º/1 do DL 384/99, de 23 de
Setembro: todo o facto extraordinário que ocorra no mar, ou em águas sob qualquer jurisdição
nacional, que tenha causado ou possa causar danos a navios, engenhos flutuantes, pessoas ou coisas
que neles se encontrem ou por eles sejam transportadas.
Apesar de instrumental em relação ao documento relatório de mar, a noção di art. 13º/1 do DL
384/99 coincide com aquela que tem sido genericamente aceite pela doutrina, mesmo para situações
em que não está diretamente em causa o relatório.
Nem o Código Comercial de Ferreira Borges nem o de Veiga Beirão definiam acontecimento
de mar. Contudo, o mesmo era pressuposto da elaboração e apresentação do relatório de mar.
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com caracterizações jurídicas ou conceitos de direito. Na verdade, as avarias grossas não serão, em
bom rigor, um acontecimento de mar, mas, antes, a caracterização jurídica, para efeitos de regime (art.
634º e ss. do Ccom.), de um determinado acontecimento, como seja, por exemplo, o alijamento,
também constante da “lista”.
Art. 13º/2 de onde consta o elenco (não taxativo) de acontecimentos de mar: “Consideram-se
acontecimentos de mar, nomeadamente, a tempestade, o naufrágio, o encalhe, a varação, a arribada,
voluntária ou forçada, a abalroação, a simples colisão ou toque, o incêndio, a explosão, o alijamento
ou o simples aligeiramento, a pilhagem, a captura, o arresto, a detenção, a angária, a pirataria, o roubo,
o furto, a barataria, a rebelião, a queda de carga, as avarias particulares do navio ou da carga, bem
como as avarias grossas, a salvação, a presa, o ato de guerra, a violência de toda a espécie, a mudança
de rota, de viagem ou de navio, a quarentena e, em geral, todos os acidentes ocorridos no mar que
tenham por objeto o navio, engenhos flutuantes, pessoas, cargas ou outras coisas transportadas a
bordo.”
Uma expressão por vezes usada como sinónima de acontecimentos de mar é fortunas do mar,
expressão esta que encontramos, por exemplo, no art. 604º do Cccom., precisamente para caracterizar
genericamente alguns dos acontecimentos de mar elencados no art. 13º/2 do DL 384/99.
Contudo, a fortuna de mar (no singular) tem, tipicamente, um significado bem diferente,
contrapondo-se a fortuna de terra, sendo utilizada, genericamente, em sede de limitação da
responsabilidade do proprietário ou armador do navio, traduzida, nos sistemas de inspiração francesa,
no abandono do navio. A expressão fortuna do mar é também utilizada para designar um acidente
marítimo. Esta expressão tem, assim, uma diversidade de significados.
Para Cunha Gonçalves, a expressão fortuna do mar- equivalente a risco do mar- engloba
“qualquer sinistro ocorrido no mar ou por causa do mar, previsto ou imprevisto, sólito ou insólito,
vulgar ou extraordinário, devido a uma força maior ou a um caso fortuito”.
A enumeração de fortunas do mar constante do art. 604º, para efeitos de seguro marítimo,
engloba, também exemplificativamente, os seguintes acontecimentos: borrasca, naufrágio, varação,
abalroação, mudança forçada de rota, de viagem ou de navio, alijamento, incêndio, violência injusta,
explosão, inundação, pilhagem e quarentena superveniente.
Já de afastar como sinónima de acontecimentos de mar é a expressão sinistros marítimos,
expressão essa que está associada a desastres, tendo, de resto, um lugar de relevo no campo dos
seguros.
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o facto se passou, das causas que o originaram, bem como das possíveis responsabilidades de cada um
dos interessados”.
Refira-se que se mantém em vigor o art. 151/2 do Regulamento Geral das Capitanias, que
impõe ao capitão (ou quem desempenhe funções de comando) que entre em porto nacional o dever de
apresentar na repartição marítima, dentro do prazo de 24h, entre outros, o diário de navegação,
esclarecendo o artigo que tal apresentação é feita “a fim de a autoridade marítima proceder nos termos
do C. C.”. Suscita-se a questão de saber se se mantém a necessidade de visar o Diário de navegação
conforme impunha o revogado art. 506º do CCom. A dúvida pode suscitar-se- apesar de tal necessidade
não surgir mencionada no DL 384/99- em virtude da remissão feita pelo art. 151/2 do Regulamento
Geral das Capitanias. Remissão essa que deveria ser lida como reportada, desde logo, ao disposto no
art. 506º do Ccom.
De acordo com o disposto no art. 14º/1 do DL 384/99, a elaboração do relatório de mar pertence
ao capitão ou a quem exerça as funções de comando, devendo ser efetuado “após a ocorrência de
acontecimento de mar”.
Quanto às menções que devem constar do relatório de mar, as mesmas estão descritas e
enunciadas no art. 14º/2: o relatório deve conter a descrição de todos os elementos úteis que
caracterizam o acontecimento de mar a que respeitam, sendo enunciados, claramente de forma não
exaustiva, os seguintes: identificação e qualidade do subscritor, elementos identificadores e
características técnicas do navio e outras coisas relacionadas, identificação dos proprietários, entre
outros.
De acordo com o art. 14º/3, o relatório de mar deverá, depois, ser apresentado à autoridade
marítima ou consular, com jurisdição no primeiro porto de escala onde essa autoridade exista, no prazo
de quarenta e oito horas contadas a partir do momento em que o navio atracar ou fundear no
mencionado porto.
Prevenindo a hipótese de perda total do navio, o art. 14º/3 determina que, nesse caso, o prazo
conta-se desde a data da chegada do capitão ou de quem o substitua.
Após o decurso do prazo de quarenta e oito horas sem que o relatório de mar tenha sido
apresentado, não fica precludida a possibilidade de apresentação, mas deixa de ser possível a respetiva
confirmação, conforme decorre do disposto no art. 14º/4. Mais concretamente, a autoridade continua
adstrita às investigações a que esteja obrigada, mas está impedida de confirmar o relatório, devendo
referir expressamente essa impossibilidade nas conclusões que lavre, a final. Compreendem-se as
razões que estão na base da indicação de um prazo perentório: é importante, até para salvaguardar a
genuinidade dos dizeres, dos testemunhos e das provas, que a apresentação seja feita dentro de um
prazo curto e firme. Resulta deste regime que se a autoridade marítima ou consular confirmar o
relatório, apesar de o mesmo ter sido apresentado fora do prazo, tal confirmação é nula enquanto tal,
com as consequências que daí advêm Admite-se, porém, que, nesse caso, as conclusões possam valer
como elemento a considerar, a par de outros, em termos de prova.
Tal como no regime anterior, o art. 14º/5 estabelece que enquanto o procedimento de
confirmação do relatório não estiver concluído, não pode iniciar-se a descarga do navio, salvo havendo
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cumulativamente, urgência nessa mesma descarga e autorização concedida por escrito pela autoridade
competente para a confirmação.
Para além do relatório de mar previsto no DL 384/99, a lei pode prever a necessidade de feitura
de relatórios específicos que obedecem a regimes não coincidentes.
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Estamos perante uma presunção relativa, iuris tantum, admitindo-se que aquele a quem não
interessar o teor do relatório confirmado, possa fazer prova do contrário, nos termos gerais de direito
(350º/2 CC).
Abalroação
1. Introdução
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A abalroação é um acontecimento de mar, enquadrando-se na previsão do art. 13º do DL
384/99, de 23 se Setembro.
Está regulada pelos arts. 664º e ss. do Ccom, e a nível internacional pela convenção de Bruxelas
de 1910. Também é importante referir o COLREG, a que Portugal também se encontra vinculado e
que tem como objetivo evitar abalroações no mar. De referir também as regras de Lisboa, instrumento
de soft law, que são aplicáveis se as partes assim o quiserem.
Entendem alguns que a abalroação supõe o contacto direto, lendo-se, por exemplo, Adriano
Anthero que a abalroação é “o encontro de um navio contra outro”; em consequência, não considera
haver abalroação no caso em que a submersão ou dano do navio fosse causado pela brusca agitação
das ondas, produzidas por outro navio que passasse muito veloz junto dele. Cunha Gonçalves: não
haverá abalroação também quando um navio, pela velocidade da sua deslocação, agitar as águas de
modo a fazer desequilibrar e naufragar um barco junto do qual passou.
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Refira-se, porém, que esta conceção restritiva não coincide com a constante da CB de 1910,
cujo art. 13º considera a Convenção “aplicável à indemnização dos danos que, quer por execução ou
omissão de manobra, quer por inobservância de regulamentos, um navio houver causado a outro navio
ou às coisas ou pessoas que se achavam a bordo, posto que não tenha havido abalroação”. A mesma
clareza no sentido da desnecessidade de colisão encontramos no art. 4º da CB de 1952 para a unificação
de certas regras relativas à competência civil em matéria de abalroação.
Refira-se também que as Regras de Lisboa de 1987 (CMI) vão no mesmo sentido.
Entre nós, Vasconcelos Esteves, ao afirmar a nítida diferença entre os conceitos do Ccom. e da
CB, parece concluir que a interpretação correta, face ao Ccom., será a restritiva, de acordo com a qual
“para que haja abalroação, é necessário contacto direto”.
REGENTE: não acompanha a conceção restritiva identificada: para além de, como se disse
supra, ela não ter por si, de forma decisiva, a letra dos arts. 664º e ss. do Ccom., a mesma desconsidera
as realidades da navegação e a real existência de situações em que há danos claramente provocados
por outro navio, ainda que não tenha havido contacto físico.
Face ao entendimento exposto, prejudicada está a questão de saber se a colisão tem de ser
violenta. De qualquer modo, sempre diremos que, a ser adotada a visão restritiva acima criticada, de
acordo com a qual seria necessário um choque ou colisão, não veríamos razão para excluir o simples
“toque” (art. 13º/2 do DL 384/99) do conceito e do regime da abalroação: uma tal exclusão não teria
razão de ser, quer face ao regime do Ccom. quer face ao da CB de 1910.
O regime da abalroação constante do Ccom. está norteado em função da situação de abalroação
típica ou usual: aquela que provoca danos: isto é claro logo no art. 664º, continuando nas disposições
seguintes.
No entanto, a ocorrência de danos não é um elemento caracterizador ou constitutivo da
abalroação. Se do contacto físico (se tiver sido esse o caso) entre navios não resultou qualquer dano,
nem por isso deixamos de estar perante uma abalroação: o que acontece é que não há um pressuposto
essencial para o funcionamento da responsabilidade civil, o que não significa, obviamente, que o
acontecimento não tenha relevância noutros campos, designadamente no disciplinar.
Quanto ao conceito de navio: o art. 664º Ccom. refere-se, de facto, a abalroação de navios. O
conceito de navio é-nos dado, no direito interno, pelo DL 202/98, de 10 de Julho, que o define, para
efeitos do diploma (estatuto legal do navio), como “o engenho flutuante destinado à navegação por
água”.
Para efeitos de abalroação e respetivo regime, releva não só a ocorrência (maxime colisão) com
a própria estrutura do navio (casco) mas também com quaisquer elementos que façam parte integrante
do mesmo (art. 1º/2 do Estatuto Legal do Navio): assim, está também sujeito ao regime da abalroação
o embate contra a âncora e respetiva corrente presa ao navio.
O princípio é o de que o regime do Ccom., apesar de pensado em função da realidade dos
navios mercantes, será aplicável a todas as demais embarcações, incluindo as de pesca e as de recreio.
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Ficamos, ainda assim, longe da noção de navio das Regras de Lisboa do CMI, que envolve as
plataformas fixas, noção que vale para os específicos efeitos das Regras.
Quanto ao hidroavião amarado, o mesmo não é considerado embarcação para efeitos do RGC;
contudo, ele é considerado navio para efeitos do COLREG, conceito este que é definido (Regra 3,
parágrafo a) como “todo o veículo aquático de qualquer natureza, incluindo os veículos sem imersão;
os veículos WIG e os hidroaviões, utilizado ou suscetível e ser utilizado como meio de transporte sobre
a água”. REGENTE: favorável a uma interpretação ampla, que considere complexivamente todos os
normativos aplicáveis, numa lógica de sistema, propendendo-se, assim, para a aplicação do regime da
abalroação também ao hidroavião amarado.
A jurisprudência portuguesa não tem colocado reservas à aplicação do regime da abalroação
do Ccom. a situações que envolvam barcos de pesca. AC.RLx 10.03.1961: “os barcos de pesca são
considerados navios para efeitos de abalroamento”.
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3.2.1.1 Regime do Ccom. e da CB de 1910
De acordo com o art. 665º Ccom, se a abalroação for causada por culpa de um dos navios, os
prejuízos sofridos serão suportados pelo navio abalroador. O regime do art. 665º, consagrado também
no art. 3º da CB 1910, é explicável à luz da responsabilidade aquiliana, cujos requisitos constam do
art. 483º CC- regime que se aplica na integralidade, tendo de considerar-se, depois, o disposto o art.
562º e ss. do CC, em relação à obrigação de indemnização.
Refere a doutrina que a culpa tanto pode resultar de ação como de omissão.
A culpa que pode estar em causa tanto se pode traduzir em dolo como em negligência,
admitindo-se a aplicação do art. 494º CC.
A referência a abalroações por culpa dos navios é usual e tem mesmo expressa previsão na letra
dos arts. 665º e 666º do Ccom., bem como nos arts. 3º e 4º da CB 1910. Não sendo o navio pessoa
jurídica, a expressão tem sentido metafórico. A culpa que está em causa tanto pode ser do capitão ou
de outro membro da tripulação.
A consideração da culpa do navio passa por um juízo de cotejo ou confronto com aquilo que é
exigido a um capitão, a um piloto ou a um profissional marítimo competente.
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O regente é, assim, numa primeira abordagem da questão, favorável ao enquadramento da
atividade de navegação marítima no âmbito de previsão do art. 493º/2 do CC. Simplesmente, no que
diz respeito à abalroação, existe um regime especial estabelecido a nível internacional na CB 1910 e,
a nível interno, no art. 664º e ss. do Ccom., regime esse que afasta o regime geral do CC. Diversamente
do regime geral de presunção de culpa, que flui do art. 493º/2, no campo da abalroação o regime regra
é, antes, o da presunção de caso fortuito, do art. 669º Ccom., conquanto a mesma só seja aplicável aos
casos em que tenham sido observados os regulamentos gerais de navegação e os especiais do porto.
Assim sendo, considera aplicável o regime geral da presunção de culpa do art. 493º/2 do CC
nos casos que não devam ser considerados como abalroação para o Ccom., como o do embate de um
navio contra um cais.
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Quanto aos prejuízos causados a terceiros, maxime carregadores, eles estão indicados na
previsão do art. 666º Ccom.: cada navio responderá na proporção da gravidade da culpa respetiva,
constituindo o regime do art. 666º do Ccom. um regime especial em relação ao regime geral do art.
497º do CC, do que resultaria a responsabilidade solidária das “várias pessoas responsáveis pelos
danos”.
Posição diferente era sustentada por Cunha Gonçalves para quem, relativamente às cargas e às
pessoas que estavam a bordo, os navios respondem solidariamente pela totalidade dos prejuízos “como
no caso de ser duvidosa a culpa, aplicando-se por analogia a segunda parte do artigo 668”.
A posição defendida por Cunha Gonçalves não parece ao regente sustentável: o artigo 666 do
código comercial tem um âmbito de aplicação próprio, diferente do traçado no artigo 668 para a
abalroação duvidosa, estabelecendo um regime próprio, onde não é possível identificar uma lacuna
cuja integração permita suscitar a aplicação do regime do artigo 668- regime que, pressupõe a
inexistência o, pelo menos, o não apuramento de culpa, que é um pressuposto da aplicação do artigo
666. Aliás, é bem evidente a diferença de redação entre os artigos 666 e 668 do código comercial, com
o segundo a consagrar um regime de solidariedade, mas num quadro claramente diferente do do âmbito
de aplicação do primeiro.
O artigo 666 do código comercial consagra, assim, um regime de parciariedade em sede de
responsabilidade, face, por exemplo, aos carregadores. Para tentar obter ressarcimento integral pelos
danos causados à mercadoria transportada no navio A, culpado em 70%, os carregadores respetivos
terão de demandar também o navio B, culpado em 30%, já que, de outro modo, apenas lograrão obter
70% da indemnização devida. O problema deste regime é que o transportador A pode, em função do
regime aplicável, ter uma causa de exoneração de responsabilidade, por exemplo, por a abalroação
estar abrangida no elenco dos excepted perils do art. 4º/2 da CB 1924, relativa à unificação de certas
regras em matéria de conhecimentos de carga, circunstância que determina, pelo menos prima facie,
que o carregador apenas poderá exigir indemnização ao navio B, indemnização essa que, pautando-se
pelo regime da parciariedade e não da solidariedade, será determinada pela medida da culpa, o que
significa que, no exemplo referido, estará a limitada a 30% doa danos apurados.
Ou seja, em situações como esta, estamos perante um claro concurso da responsabilidade extra
obrigacional com as regras da responsabilidade obrigacional, problema que, neste caso, parece dever
ser resolvido, no que diz respeito às relações entre o carregador e o “seu” navio, pela prevalência do
regime do transporte, em detrimento do funcionamento da responsabilidade extra obrigacional: não
faria sentido, no exemplo dado, que o navio A tivesse que satisfazer 70% do valor da indemnização
para, depois- e só depois- numa lógica de solve et repete, fazer atuar a exclusão de responsabilidade
por falta náutica, face ao regime da CB de 1924.
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estabelecer-se a proporção, a responsabilidade é partilhada em partes iguais; idêntico regime é
aplicável se as culpas se mostrarem equivalentes.
De acordo com o 2º parágrafo, os danos causados (aos navios, aos seus carregamentos, aos
efeitos ou outros bens das tripulações, dos passageiros ou demais pessoas que se encontrem a bordo)
são suportados pelos navios culpados na proporção referida no 1º parágrafo, sem solidariedade
relativamente a terceiros.
Podemos dizer, assim, que até ao segundo parágrafo inclusive, o regime do artigo 4º da CB
1910 consagra, tal como no artigo 666 do código comercial, um regime de parciariedade.
Esta parciariedade é, porém, excecionada, no sentido de solidariedade, quando haja danos
pessoais (mortes ou ferimentos), sem prejuízo do direito de regresso daquele que haja pago uma
quantia superior àquela que deveria suportar, de acordo com o critério do primeiro parágrafo do mesmo
artigo. Note-se, porém, que haverá que considerar o regime da Convenção de Bruxelas de 10/10/1957,
sobre responsabilidade de proprietários de navios de alto-mar.
O 4º parágrafo, finalmente, comete às legislações nacionais a determinação, no que diz respeito
ao regresso, do alcance e efeitos das disposições contratuais ou legais que limitem a responsabilidade
dos proprietários dos navios para com as pessoas que se encontram a bordo.
Ressalta, portanto, do regime do artigo 4º da CB 1910 a constatação de que, com exceção das
situações de danos e ferimentos a terceiros- nas quais existe uma responsabilidade solidária dos navios
envolvidos na abalroação- o regime da CB é harmónico com o do artigo 666 do código comercial.
Também neste campo se suscitam as questões relativas ao concurso de responsabilidade extra
obrigacional com a obrigacional, sendo que, no âmbito de aplicação da Convenção, o artigo 10 dá
força à posição acima adotada no âmbito interno.
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Ora, é precisamente a circunstância da responsabilidade solidária consagrada no artigo 668 que
impõe a autonomização, no direito interno, da abalroação duvidosa, não podendo, porém, deixar de se
reconhecer que a mesma tem um difícil campo de delimitação face a abalroação fortuita.
O critério para determinar o caráter duvidoso da abalroação não pode, no entender do regente,
deixar de ser o seguinte: a abalroação duvidosa é aquela em que não foi possível apurar o caráter
fortuito ou culposo. O regime da abalroação duvidosa acaba, assim, por ser subsidiário em relação ao
da abalroação fortuita e ao da abalroação culposa.
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2. Responsabiliza apenas o rebocador “porque lhe cumpre efetuar em boas condições o reboque”;
3. Deve responder o navio rebocado “porque é ele quem dirige a manobra do rebocador”
Segundo o autor, não seria possível sustentar soluções uniformes, tudo dependendo das
circunstâncias do caso.
Atualmente, face ao disposto no art. 10º do DL 431/86, de 30 de Dezembro, a solução dessas
situações passa pela determinação da parte do contrato de reboque que tem a direção do trem de
reboque- arts. 8º e 10º do mesmo DL.
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Parece ao regente que o regime do art. 673º Ccom., nos termos no mesmo expressos, está
ultrapassado- estando tacitamente revogado- primeiro face à Lei 35/86, de 4 de Setembro, e, depois,
face ao regime dos arts. 13º e 14º do DL 384º/99, de 23 de Setembro.
Não há, assim, formalidades prévias impeditivas, se não realizadas, de uma ação de perdas e
danos, cujo prazo de prescrição será o fixado no art. 498º CC, para a responsabilidade aquiliana: três
anos a contar da data em que o lesado teve conhecimento do direito que lhe compete. Quando, porém,
o regime aplicável seja o da CB de 1910, o prazo de prescrição das ações de indemnização que tenham
a abalroação como causa de pedir é de dois anos a contar do evento. De acordo com o 2º parágrafo, é,
porém, de um ano o prazo para intentar as ações de regresso a que se refere o 3º parágrafo do art. 4º
da mesma Convenção.
Nos termos do art. 13º do DL 384/99, a abalroação é um acontecimento de mar que deve dar
lugar a um relatório de mar (art. 14º), a apresentar, em princípio, no prazo de 48h, calculado nos termos
do art. 14º/3. A importância do relatório de mar, quando confirmado, decorre do art. 15º/7: os factos
presumem-se verdadeiros, salvo prova em contrário.
O art. 675º Ccom. refere-se ao tribunal competente para a ação, mas o mesmo encontra-se
prejudicado pelo art. 79º CPC, que o revoga tacitamente, sendo que o regime é muito semelhante: “A
ação de perdas e danos por abalroação de navios pode ser proposta no tribunal do lugar do acidente,
no do domicílio do dono do navio abalroador, no do lugar a que pertencer ou em que for encontrado
esse navio e no do lugar do primeiro porto em que entrar o navio abandonado”.
Há, porém, que considerar a procedência, quando a haja, das regras constantes da Convenção
Internacional para a unificação de certas regras relativas à competência civil em matéria de abalroação,
assinada em Bruxelas em 10 de Maio de 1952.
Há ainda a considerar a Convenção Internacional para a unificação de certas regras relativas à
competência penal em matéria de abalroação e outros acidentes de navegação, também assinada em
Bruxelas na mesma data.
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6. Exclusão e limitação da responsabilidade do proprietário do navio
No domínio da vigência do art. 492º Ccom., o seu nº1 estabelecia a responsabilidade civil do
proprietário do navio “pelos atos e omissões do capitão e da tripulação”, mas o parágrafo 1º do mesmo
artigo não incluía essas situações dentro daquelas que podiam originar o abandono liberatório do navio
e do frete ganho ou a vencer. Na verdade, este parágrafo 1º só permitia o abandono liberatório (exceto
no caso de obrigações contraídas para pagamento de soldadas
à tripulação) nas situações de responsabilidade do proprietário (492º/2) “pelas obrigações contraídas
pelo capitão relativas ao navio e sua expedição”.
Este regime era considerado ilógico para alguns autores. Viegas Calçada: “Para as obrigações
contraídas pelo capitão na sua atividade administrativa, isto é, para aquelas obrigações que o próprio
armador pode contrair, a lei concede a este limite de responsabilidades por meio do abandono do navio
e do frete; para os atos técnicos de transporte e navegação virgula atos que o armador não pode ou não
sabe praticar, a lei não concede limitação de responsabilidade”. Ainda para o mesmo autor, tal situação
“encerra algo de contra senso e não se nos afigura nem lógica, nem justa, nem útil, e para mais contraria
a proteção que todas as legislações dispensam aos empreendimentos de tráfego marítimo”.
É neste ambiente crítico que Viegas Calçada procura uma base legal para defender a limitação
da responsabilidade do património no caso de abalroação, acabando por fundamentá-la nos artigos 665
a 668 do código comercial, na acentuação que fazem da responsabilidade e culpa do navio, que não do
seu proprietário. “Parece que o legislador com a forma de dizer que empregou, teve ideia e até
propósito de tornar o dono somente responsável até ao valor do navio, pois em outros espaços do
código, como nas arribadas e salvação- arts. 659º a 689º- faz referência expressa a responsabilidade
do dono e do capitão”.
REGENTE: não concorda com a posição de Viegas Calçada. Refira-se, em primeiro lugar, que
os artigos 659 e 689 do código comercial limitam expressamente a responsabilidade do sujeito, o
mesmo não acontecendo, no artigo 654º e ss.; ora, isso pode querer significar exatamente o contrário
do sustentado pelo autor. Em segundo lugar, não é razoável supor que um aspeto de regime tão
importante quanto o é a limitação da responsabilidade possa ser apenas “inferido” de expressões
“personificadoras” do navio, expressões essas que, de resto, são usuais em Direito Marítimo.
O exposto não significa que não haja vias de limitação da responsabilidade do proprietário do
navio: o que pretendemos significar é que as mesmas não se fundam no regime dos artigos 664 a 675
do código comercial: no direito interno português, há que considerar, agora, o regime do abandono
liberatório consagrado no artigo 12º do DL 202/98, de 10 de Julho; a nível Internacional, há que atentar,
designadamente, nas convenções de Bruxelas de 1924 e 1957 sobre limitação de responsabilidade de
navios, na Convenção de Bruxelas de 1924 relativa à unificação de certas regras em matéria de
conhecimento de carga ou na CLC de 1992.
De acordo com o estabelecido no art. 1º da CB 1924 para a unificação de certas regras relativas
à limitação da responsabilidade de navios do mar, o proprietário de um navio do mar só é responsável
até à concorrência do valor do navio, do frete e dos acessórios do navio pelas indemnizações aí
enumeradas, destacando-se, com interesse para a temática da abalroação, os números 1º e 2º: pelas
indemnizações devidas a terceiros por prejuízos causados, em Terra ou no mar, por factos ou faltas do
capitão, da tripulação, do piloto ou de qualquer outra pessoa ao serviço do navio (1º); pelas
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indemnizações devidas por prejuízos causados tanto à carga entregue ao capitão para ser transportada,
como a todos os bens e objetos que se achem a bordo (2º).
Essa limitação de responsabilidade não é aplicável, de acordo com o artigo 2, entre outras, “`às
obrigações resultantes de factos ou faltas do proprietário do navio”; contudo (art. 2º/III), se o
proprietário ou com proprietário do navio for ao mesmo tempo o capitão, não poderá invocar a
limitação da sua responsabilidade em relação às faltas que cometer e que não sejam de caráter náutico
e às faltas das pessoas ao serviço do navio.
Saliente-se, ainda, o facto de, de acordo com o artigo 3, o ónus da prova do valor do navio, do
frete e dos acessórios do navio pertence ao proprietário que invocar a limitação da responsabilidade.
A data ou época a considerar na determinação do valor é indicada no mesmo preceito.
A Convenção de Bruxelas de 1957- Convenção Internacional sobre limite de responsabilidade
dos proprietários de navios de alto-mar- permite, no seu artigo 1º/1, que o proprietário de um navio de
alto mar limita a sua responsabilidade ao montante determinado no artigo 3 da mesma Convenção, em
relação aos pedidos de indemnização resultantes de qualquer das causas enumeradas nas suas diversas
alíneas, a menos que o motivo que deu origem ao referido pedido tenha resultado de culpa pessoal do
proprietário.
De acordo com o art. 2º/1, a limitação de responsabilidade- cuja invocação não implica o
reconhecimento de responsabilidade (art. 1º/7)- é aplicável ao conjunto dos pedidos de indemnização,
quer corporais, quer materiais, que tenham derivado do mesmo evento, sem se referir aos pedidos de
indemnização resultantes ou que venham a resultar de um outro evento. Esclarece, depois, o art. 2º/2
que se o conjunto dos pedidos de indemnização que derivam do mesmo evento exceder os limites de
responsabilidade, tais como são determinados pelo art. 3º, o montante global correspondente a esses
limites poderá constituir-se num fundo de limitação único; o fundo assim constituído, será, então,
confirme dita o art. 2º/3, exclusivamente consignado ao pagamento dos pedidos de indemnização em
relação aos quais a limitação de responsabilidade pode ser invocada.
Ressalvando o disposto no art. 3º/2, o art. 4º da Convenção dispõe que as normas relativas à
constituição e repartição do fundo de limitação, se as houver, e todas as normas de processo devem ser
determinadas pela lei nacional do Estado em que o fundo for constituído.
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O dever de prestar socorro impende (parágrafo 1º) sobre o capitão de cada um dos navios
envolvidos na abalroação e tem por objeto a outra embarcação, os seus tripulantes e passageiros. O
dever cessa quando a respetiva prestação envolva grave perigo para o navio, respetiva tripulação e
passageiros. Por outro lado, a intensidade do socorro está naturalmente limitada à medida do possível.
A nível interno, há que realçar o art. 166º do Regulamento Geral das Capitanias.
Por sua vez, o art. 3º/1 do DL 203/98- que regula a salvação marítima- estabelece
genericamente um dever de prestar socorro “a pessoas em perigo no mar, desde que isso não acarrete
risco grave para a sua embarcação ou para as pessoas embarcadas, devendo a sua ação ser conformada
com o menor prejuízo ambiental”.
Pode o armador ser responsabilizado pelo incumprimento por parte do capitão, de um dever
de prestar assistência?
REGENTE: neste campo não funciona a responsabilidade objetiva, como comitente, dos arts.
4, 5 e 6 do SL 202/98, uma vez que o dever em causa deve ser configurado como um dever pessoal.
Fora do quadro da responsabilidade objetiva, é de admitir a responsabilidade subjetiva do armador
quando haja culpa própria na não prestação de assistência, maxime em caso de culpa na escolha do
capitão (culpa in elegendo).
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Dentre as definições constantes da regra 3, destaca-se a de navio: “A palavra “navio” designa
todo o veículo aquático de qualquer natureza, incluindo os veículos sem imersão, os veículos WIG e
os hidroaviões, utilizado ou suscetível de ser utilizado como um meio de transporte sobre a água”.
A parte B contém “Regras de manobra e de navegação”- Regra 6: “Todo o navio deve manter
uma velocidade de segurança tal que lhe permita tomar as medidas apropriadas e eficazes para evitar
um abalroamento e para parar numa distância adequada às circunstâncias e condições existentes”.
Temos ainda tem a Parte C e os anexos.
Salvação marítima
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Deve-se começar, para a situar, por falar de uma figura, do ius naufragium - designação
vulgarizada na Alta Idade Média no sentido de que os bens, pessoas, navios, fragmentos que o mar
levasse às costas e fosse encontrado, era propriedade de quem os encontrasse - admissão da figura da
ocupação em direitos reais. Isto constituía um retrocesso relativo ao direito romano, porque se entendia
que a ocupação dos bens em função do naufrágio, só era um modo de aquisição originária de
propriedade na medida em que fosse demonstrado e presumido o animus de abandonar o navio. Só era
possível a ocupação na medida em que tal fosse demonstrado por parte dos proprietários.
A abolição do ius naufragium foi lenta, porque tinha efeitos perversos, havendo populações
que deliberadamente provocavam o naufrágio de navios, e viviam disso. Acabou por haver a
condenação dessa prática, com a morte, e estabelecendo um dever de socorrer as pessoas em perigo do
mar, e, em última instância, tornava-se proprietário o Estado.
Em Portugal, foi abolido, exceto em relação aos infiéis e inimigos, ficando da pertença da
Fazenda Real, mas encontramos uma lei de D. Afonso II mais antiga, que condena, com exceções, no
entanto.
Em função do ius naufragium, conduz lentamente ao instituto da salvação marítima e à
necessidade de se regular o achamento de bens - os bens encontrados, quer nas praias, quer no mar,
com um regime próprio. Atualmente, temos de tomar em conta o regime da abalroação e o regime
aplicável aos bens arrojados às praias.
Não se confunde com o salvamento levado a cabo pela Marinha enquanto autoridade pública,
sendo de direito privado, cujos traços normativos constam de 2 convenções internacionais - a CB 1910,
no mesmo dia e mês da convenção sobre abalroação. Esta é para unificação de regras em matéria de
assistência e salvação marítima, a outra convenção é a de Londres de 1989, não ratificada por Portugal
- só estamos vinculados à CB 1910, apesar de haver esta, mais recente.
Estas convenções foram promovidas pelo Comité Marítimo Internacional (Bruxelas), e a de
Londres foi pela OMI, sendo mundial. As grandes preocupações desta última são a segurança marítima
e a proteção ambiental. Esta liga a salvação marítima a preocupações sobre o ambiente.
PRESSUPOSTOS- PERIGO NO MAR
O DL 203/98 veio revogar os arts. 676º a 691º Ccom., estabelecendo um novo regime de
salvação marítima.
Na esteira da CB 1910 e da CL de 1989, cessa a diferenciação entre assistência e salvação,
passando a ser tudo salvação marítima.
A CL 1989 é uma convenção internacional sobre salvação e a al. a) do art. 1 não define
“salvação marítima” mas “operação de salvação”, como qualquer ato ou atividade desenvolvida para
assistir a um navio ou a qualquer outro bem em perigo em águas navegáveis ou em quaisquer águas.
Tal como no direito interno anterior, na CB 1910 e na CL 1989, o perigo no mar é um
requisito essencial da salvação marítima, afirmado explicitamente no art. 1º/1, al. a) da LSM.
O problema está na determinação das situações em que, para efeitos do regime da salvação, há
perigo no mar. Nessa determinação importará começar por deixar claro que o perigo no mar não pode
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ser sinónimo de risco de mar. O ser perigo no mar não significa que o mesmo deva estar estritamente
associado aos riscos particulares da navegação marítima.
À partida, cada expedição marítima está sujeita a riscos- à fortuna do mar, podendo, a priori,
identificar-se vários. Contudo, a sujeição de um navio no mar a riscos de mar não o coloca em perigo
no mar.
Mais complexas são as situações de perigo virtual, entendendo-se por tal a ocorrência de uma
situação anormal para o navio que permita supor de maneira razoável, a ocorrência de danos num
futuro mais ou menos próximo, que não possam ser evitados sem ajuda ou assistência.
Vasconcelos Esteves: o perigo não tem de ser iminente, mas deve ser real e não meramente
hipotético. No mesmo sentido, Mário Raposo considera que o perigo tem de ser grave, não tendo,
contudo, de ser iminente.
REGENTE: o determinante é que o perigo, quando não seja imediato, seja de concretização
altamente provável, à luz da experiência das coisas; aqui se incluem as situações em que o perigo é
iminente, mas também aquelas em que, não o sendo, embora, a ocorrência do sinistro surge, num juízo
de prognose (também póstuma), como um efeito normal previsível do conjunto dos elementos
conhecidos. Ademais, o perigo deve, em qualquer das variantes referidas, ser objetivamente grave.
Um elemento a que é de prestar especial atenção é o pedido de auxílio e seus termos.
Quanto ao objeto da salvação, o art. 1/1, al. a) refere-se a qualquer ato ou atividade que vise
prestar socorro a “navios, embarcações ou outros bens, incluindo o frete em risco”.
Na salvação marítima, a sua definição nacional está no DL 203/98, que define (1º/1) como todo
o ato ou atividade que visa prestar socorro a navios, quando em perigo no mar. Antes, era aplicável o
regime comercial, com 2 figuras - mas assim colocou-se a par do direito internacional o direito interno.
A grande particularidade e divergência do diploma interno, é que tinha mais lógica denunciar a CB
1910, e ratificar a convenção mais moderna em Londres, porque o regime interno atual inspira-se nela.
Falamos de toda a atividade de prestar socorro quando em perigo no mar - o navio tem de estar
em perigo no mar, se não não se aplica a salvação marítima, tendo de se ver no caso concreto.
É um regime de direito privado e não de salvação pública. Existe o problema da CB de 1910,
à qual nos vinculámos, mas não à mais recente e atualizada de Londres, em 1989. Esta última preocupa-
se mais a nível de proteção ambiental.
Para interpretarmos a lei da salvação marítima, temos de considerar o regime da convenção de
Londres de 1989 - não se trata da técnica de interpretação de conformidade com a diretiva e a sua
transposição, mas uma vez que sabemos que a convenção de Londres de 89 influenciou o nosso
diploma interno, enquanto elemento interpretativo, temos necessidade de ir à convenção londrina.
Este tema só começou, na prática a ter a dignidade que tem hoje, a partir da navegação a vapor;
até aí, os navios não tinham capacidade de manobra que a navegação a vapor veio permitir.
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Proibição de ocupação - equivalente atual, no DL 203/98 (lei da salvação marítima), à previsão
do 12º/1. Um navio apanhado numa tempestade e incapaz de sair, o mais provável era quebrar-se ao
perder-se. Esta proibição vem desde o direito romano, e isto articula-se com o tema dos naufrágios - a
lógica do ius naufragium é a de que era possível a ocupação, e por isso é que tinha os efeitos perversos
de provocação, para se apoderarem dos navios e dos seus restos/mercadorias, ou até das pessoas
(escravidão). Na literatura jurídica portuguesa do séc. XX, encontramos obras que se referem a esta
realidade, sugerindo que ela prejudicava.
No CCom havia 2 institutos: assistência e salvação - era necessário distinguir ambas:
● Assistência: se bem-sucedidas, o navio que prestasse assistência tinha um salário de assistência;
● Salvação: recebiam um salário de salvação.
Mas como se distingue? (jurisprudência) - quem presta ajuda ao navio queria que os institutos
prestassem remuneração superior, e o navio objeto de socorro queria que a situação fosse caracterizada
de maneira onerosa - no CCom encontramos referências, no art. 681º, etc. Isto dava em 3 figuras:
assistência, salvação e bens arrojados, mas como se distinguiam os 3?
Atualmente, a salvação e assistência são o mesmo instituto, tanto a nível interno como
internacional - em função dos vários itens. Em princípio estamos a falar de bens e não de pessoas, ou
seja, bens patrimoniais. Quanto a pessoas, não prestam socorro a bens em perigo do mar, mas há um
dever de prestar socorro a pessoas em perigo no mar (art. 3º) - nas convenções internacionais, no
entanto, também se presta assistência a bens.
Relacionar isto com o estatuto do capitão - o dever de salvação de pessoas impende sobre o
capitão, e o seu incumprimento responsabiliza apenas o capitão, não pode haver uma imputação
secundária ou sequencial ao comitente ou ao armador (art. 3º lei salvação marítima).
Houve uma extensão que resulta da convenção de Londres a outras águas, sobre jurisdição
nacional - a convenção de Bruxelas também já falava de navegação interior, mas passa a ser mais claro
também na nossa lei interna.
A situação clássica é a de um navio em perigo que se perde, e depois pede socorro, lançando
um cabo de reboque, por exemplo, que permite retirar o navio do centro da tempestade ao rebocá-lo,
mas é verdade que é todo o ato ou atividade, que pode ser a partir de terra, telefone, etc. Um requisito
incontornável é, no entanto, o facto de existir perigo no mar - situação de navio em perigo, sendo o
navio objeto do ato de salvação.
A embarcação ou outros bens, quando em perigo no mar - teoricamente isto pode ser aplicado
também a construções de mar que não são navios (plataformas), mas essa não é a situação comum. O
perigo no mar é essencial, e muitas questões que chegam a tribunal é para saber se é um caso de
salvação ou não, passando sempre por este tema - o navio foi objeto de ajuda, assistência, e estava em
perigo no mar ou não? - o regime estendeu-se, em termos normativos, para além das águas marítimas,
embora o seu essencial de aplicação seja o mar.
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O que é perigo no mar?
● Caso Ilha da Madeira: um navio, “ilha da madeira”, que fazia uma viagem, perdeu a capacidade
de navegação e ficou à deriva, tendo de pedir ajuda. Quem acudiu a prestar socorro foi um
sister ship, um navio do mesmo proprietário. Lançou um cabo de reboque ao ilha da madeira,
e foi transportado com dificuldade até ao porto. Veio-se sustentar que era salvação marítima, e
tinha direito ao salário - o salvador, não apenas o armador, mas toda a tripulação, tem este
direito;
● Modo de repartição - 8º DL 203/98 - o navio estava em perigo no mar ou não? O STJ
considerou, e o Regente concorda, que, não - apesar de não ter capacidade de autonavegação,
o mar estava calmo, o navio não estava numa corrente marítima que impedisse uma prestação
de assistência comum por parte do navegador, etc. Faltava o requisito incontornável de perigo
no mar.
A questão da dicotomia entre estas situações em que o caso não é de salvação muitas vezes
acabam por serem encaixadas ou inseridas na lógica do reboque - aqui temos de distinguir: o reboque
material difere-se do jurídico:
● Navio em perigo, e outro lança um cabo de reboque que o prende e retira do perigo, como uma
tempestade, rebocando-o para um porto e fora daquela zona - aqui é um caso de salvação
marítima, porque o navio objeto de assistência está em perigo no mar, e houve uma alteração
material, com o reboque - pode a situação consumar-se e ter um resultado útil através de uma
ajuda material do reboque.
● O contrato de prestação de serviços do reboque é diferente, no sentido jurídico, que se fala a
propósito da presunção de culpa que não existe na abalroação, mas existe uma presunção de
culpa no regime do reboque - se houver danos no âmbito do art. 10º decorridos durante a
execução do contrato, que impende sobre quem tem a direção do trem do reboque. É importante
para os casos em que não estamos perante o regime da salvação marítima.
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direito, e ainda em casos específicos - coação de perigo, salário excessivo ou diminuto em relação aos
serviços prestados.
O legislador nacional remete para os termos gerais e para a convenção de Londres - há coisas
nas alíneas específicas que já resultam dos termos gerais (repetição da lei).
Estado de necessidade - exemplo de vício da formação do contrato antigamente - mas
atualmente não é isso, está no 339º e é uma cláusula de exclusão da ilicitude.
É possível convencionar tudo nos contratos exceto o que respeita aos arts. 3º, 4º, 9º e 16º DL
203/98. A salvação marítima assenta no facto de o salvador prestar auxílio a um navio em perigo, e,
em consequência disso, mas apenas e se houver um resultado útil - o salário depende deste resultado
útil, mas nalguns códigos permite-se que, pelo menos, o custo das operações seja sempre coberto. Isto
manifesta a lógica do mar, porque o navio perde-se, e depois ainda se exige do mesmo o salário -
lógica/princípio de solidariedade. Isto resulta do CCom eCB 1910. Mas, com a CL 1989 foi introduzida
uma amenização neste princípio - está traduzido, em termos normativos, também no DL 203.
Art. 5º/1 DL 203/98 - sem resultado útil não há salário, e como se acha? Nos termos do art. 6º,
com o que se deve ter em consideração e o limite. Mas o 5º/2 fala dos casos sem resultado útil, mas
minimizar danos ambientais, em que é remunerado nos termos do 9º e 10º, sendo uma compensação
especial. É a CL de 1989 (OMI da ONU), que influencia isto.
COMPENSAÇÃO ESPECIAL (Aula prática)
Na lógica da convenção de londres de 1989, não existe apenas salário de salvação. Há também
a partir daí preocupações ambientais. As primeiras grandes convenções ambientais- como CLC- são
do final dos anos 60 e revelam essa preocupação, mas nos anos 80 ela existia já e foi refletida na
convenção de londres- na compensação especial.
Instituto muito polémico. Temos compensação especial quando não há a logica do salário de
salvação.
Art. 5º LSM- havendo resultado útil para o salvado, há salário de salvação marítima. Se não
tiver nos termos do nº2- compensação especial. Lógica: varia consoante há ou não resultado útil. Se
houver- salário; se não- pode haver lugar a contribuição especial- se minorarem danos ambientais.
A diferença parece clara. E se houver resultado útil e ao mesmo tempo tiverem sido minorados
danos ambientais? Art. 6º/d)
Se houver resultado útil e tiverem sido evitados ou minorados danos ambientais, isso entra em
linha de cálculo no salário de salvação.
Discussão sobre se é necessário haver resultado útil na prevenção ou minoração desses danos:
basta que eu tenha tentado mitigado ou prevenir os danos ambientais, ou é necessário que eles sido
evitados ou prevenidos?
Há dúvidas. Se olharmos para a convenção de Londres de 89, não se fala em resultado útil
quanto à minoração dos danos ambientais.
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Art. 13º Convenção de Londres que corresponde ao art. 6º/b) LSM- esforços desenvolvidos
pelo salvador e eficácia destes a fim de prevenir ou minorizar o dano ambiental- este último não reflete
o 13º/b) da convenção de Londres
14º da convenção de londres, que corresponde ao nosso art. 9º- não diz que tem de ter evitado
esses danos.
Prof. assistente- DL é inspirado pela convenção de Londres. Metade do DL é quase tradução
da convenção de londres. Devemos considerar a convenção, mas esta não exige um resultado útil para
a compensação especial- basta esforços. Admite, todavia, que o tema seja controverso.
Como calcular a compensação especial?
Igual ao montante das despesas (reembolsadas) acrescido de 30% (prémio por estes esforços
em evitar os danos ambientais).
Correções: estas compensações especiais podem ser majoradas no caso do art. 9º/3- até igual
ao dobro das despesas efetuadas. Aqui a convenção de londres é diferente art. 14º. Porque? Ninguém
sabe.
14º/2 convenção de londres- se houver esses esforços há lugar a compensação especial e essa
é paga- compensação pelas despesas, acrescido de 30%; na convenção de londres diz-se até 30%-
margem para o juiz ou para os peritos avaliarem o grau de esforço, a eficácia dessas atuações. A
convenção de londres é mais maleável e bem. 9º/3- pode o tribunal elevar até montante igual ao dobro-
na convenção de londres vai de encontro, mas esta diz que o juiz deve ter em conta outras
circunstâncias.
Outra regra a chamar à atenção: art. 14º/3 da convenção de londres que não tem reflexo da
LSM, por razões que não se sabe explicar. A compensação especial será paga apenas na extensão em
que essa compensação seja maior ao salário de salvação. Pago ao salvador nos termos do 13º. Regra
engraçada porque permite fazer uma comparação entre o que se receberia num salário de salvação e o
que se receberia numa compensação especial. Imaginemos que há lugar a salário, mas a compensação
especial seria maior- nesse caso paga-se compensação especial. Isso vai contra a subsidiariedade da
compensação especial da LSM. Na convenção de londres há subsidiariedade, mas muito mais relativa
do que no LSM- mecanismo de correção do 14º/4 da convenção de londres.
A diferença entre compensação especial e salvação é menos linear do que parece.
Na convenção de londres, a compensação é paga 14º/1- 14º/6 nada neste art. prejudicará
qualquer sub-rogação por parte do proprietário do navio. Quem deve é o proprietário do navio. Regra
da parcieridade
Art. 9º LSM: direito a compensação especial da responsabilidade dos proprietários do navio e
dos bens que não se conseguiram salvar- iguala o regime do salário ao regime da compensação
especial- difícil entender- legislador opta por uma solução diversa.
Art. 9º/4- algo que não está na convenção- o segurador da responsabilidade civil pode ser
demandado pelo salvador- aqui é prevista ação direta contra o segurador.
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9º/4- tem por substrato não uma situação de parcieridade- diz o segurador do devedor- só 1-
pensa na lógica da convenção.
Danos ambientais vêm definidos no 5º/3 - todos os prejuízos causados à saúde humana, vida
marinha, costas, etc. A matriz da proteção do ambiente é muito importante e já vem da convenção de
1989. Introduz-se um conceito de compensação especial para além do salário.
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A CL prevê uma situação em que haja cumulação de compensação especial com salário de
salvação marítima, o que, à partida, parece estranho, porque a compensação especial funciona nos
casos em que não há resultado útil e, logo, não há salário. A cumulação é possível nos casos em que,
tendo havido embora um resultado útil, caso em que há salário, se conclui que, caso não houvesse
resultado útil, o salvador receberia, por exemplo, 500, em termos de compensação especial (art. 5º e
9º - critérios), mas, apura-se, que afinal houve resultado útil, e o valor atribuído em termos de salário
de salvação marítima foi de 300. E vamos admitir que o salvador praticou atos que, fora o resultado
útil, tinha direito a compensação especial - fica prejudicado pelo facto de haver resultado útil, e recebe
menos do que receberia sem resultado útil. Nestes casos, a CL, e o Professor Regente que também se
admite, pela sua razão de ser, aplicável ao salário de salvação - pode receber compensação especial até
ao limite do que receberia sem resultado útil.
Fator ambiental:
● É contemplado também nas situações comuns, em que haja resultado útil, e não é só para os
casos em que há depois compensação especial (5º/2 e 9º DL 203);
● 6º/1 b) DL 203/98 - casos em que houve resultado útil e entra o fator ambiental, sendo
influência da convenção de Londres.
Fixação do salário:
● Aplica-se o art. 6º, e há grande margem de fixação da parte do juiz. A matéria de salvação
estava repartida em 2 institutos no regime comercial, mas agora é único, por isso havendo
várias situações e graduações a ter em conta pelo juiz tendo em conta também o que foi de
facto salvo.
● 6º/1 d) - natureza e grau de risco que o salvador correu - na fixação do salário, o juiz toma isto
em conta na fixação.
Limites:
● Art. 6º/3 - limites máximos de fixação.
Salvação de pessoas:
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● Regime específico do art. 11º DL 203/98: se não houver resultado útil e sem salário, não se
aplica o nº1, mas sim o nº2 do preceito;
● A salvação de pessoas tem outra lógica muito diferente- regulada no 3º e 11º da LSM. São
diferentes- salvação de pessoas não pode ser premiada- não tem de ter um salário pois salvar
pessoa é uma obrigação. Quando muito há o reembolso das despesas. O art. 11º/1 é claro nesse
sentido- a pessoa salvou outra, não é premiada por um salário, antes são-lhe pagas essas
despesas.
Apesar de o arresto não ser uma garantia, o modo como o arresto de navio funciona permite
ou impõe que convoquemos sempre esse regime, para saber se é possível ou não arrestar o navio por
créditos emergentes de salvação marítima: temos um navio salvador, que pratica o ato de salvação
marítima, e o navio salvado ficou a dever os créditos daí emergentes, não pagou, e então levanta-se a
questão de saber se o navio salvador pode arrestar o navio ou não.
O critério da CB 1952 tem o critério de identificação - se estiver na lista de créditos marítimos,
pode dar-se o arresto.
Os créditos emergentes de salvação marítima e de salário tem esta vantagem ou garantia de ter
a seu favor, e permitir, o arresto de navio, nos termos da CB 1952, no seu art. 1º c), que elenca os
créditos.
Podemos levantar a dúvida de saber se os créditos de compensação especial também gozam
da vantagem do arresto, nos termos da mesma convenção? Em 1952 não havia compensação especial,
só havendo com a CL 1989, e na LSM só existe desde 1998. Temos uma questão interpretativa que o
Professor Regente admite ser atualista quanto à CB 1952, cabendo lá todos os créditos que emergem
de salvação marítima, até porque a expressão o permite.
Outra previsão importante é o direito de retenção, sendo uma garantia real na LSM (art. 14º).
Não se articula facilmente com o art. 12º/2, o que foi destacado por MÁRIO RAPOSO. O art. 4º e) é
também tido em conta aqui. Há uma dificuldade na articulação entre o 14º e estas previsões, no entanto,
de acordo com o Professor Regente, são os três compatíveis - o salvador deve entregar os bens a quem
de direito, nos termos da lei e dos regulamentos, a não ser que tenha elementos para exercer o direito
de retenção, nos termos do art. 14º. Não se circunscreve às situações de abandono, porque tem direito
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de retenção sobre os bens salvos, e só o tem se houver um requisito incontornável: a detenção - só
pode exercer o direito de retenção se tiver os bens no seu poder.
No que respeita à compensação especial, chama-se à atenção a outra garantia lato sensu, do art.
10º LSM - garantia adicional que se traduz no salvador, que pratica atos que impedem danos
ambientais, quando, nessa consequência, fique constituído na posição de credor, nos termos do art. 5º
e 9º, o seu nº1 define quem é responsável, e, depois, o 10º, dá uma vantagem ou segurança adicional
ao salvador, na medida em que, passados 60 dias de interpelação judicial ou extrajudicial, se não pagar,
o Estado pode exigir (10º/1). Se o Estado pagar, fica subrogado nos direitos do salvador. Este
procedimento foi instaurado ou aprovado com o propósito de incentivar práticas ambientais. MÁRIO
RAPOSO criticou: o Estado, quando paga, não receberá nada de volta.
● Nos termos do nº3, fica dependente da união de vários ministros, o que se afigura possível. Isto
inviabiliza a eficácia do nº1 e do nº2? De acordo com o Professor Regente, não, mas
simplesmente não há procedimento administrativo especial, aplicando-se o regime geral.
Pretende-se um mecanismo mais célere e expedito que não exista. Este procedimento de o
Estado pagar acontece também em relação à salvação de pessoas, de acordo com o art. 11º.
Avarias
O conceito de avarias que se encontra plasmado no art. 634º do Ccom. é um conceito amplo
(de dano), que abarca as chamadas avarias grossas ou comuns e as avarias particulares ou simples.
Do art. 634º Ccom. resulta serem reputadas avarias, para efeitos do regime deste código, dois
tipos de situações:
a) Todas as despesas extraordinárias feitas com o navio ou com a sua carga, conjunta ou
separadamente;
b) Todos os danos que acontecem no navio, desde que começam os riscos de mar até que acabam.
A noção do art. 634º Ccom. deixa, assim, evidenciada a primeira grande classificação, neste
domínio, entre:
→ Avarias-despesas: o parágrafo 1 do art. 634º estabelece um recorte negativo- não são reputadas
avarias, mas simples despesas a cargo do navio as que ordinariamente se fazem com a sua saída
e entrada, assim como o pagamento de direitos e outras taxas de navegação, e ainda com as
despesas tendentes a aligeirá-lo para passar os baixos ou bancos de areia conhecidos à saída do
lugar de partida. Só relevam, de acordo com a lei, as extraordinárias: não cabem aí, portanto,
as despesas usuais ou ordinárias, algumas das quais se encontram, de resto, no recorte negativo
do parágrafo 1 do mesmo art. 634º; quanto a estas, a respetiva inserção no dito recorte
apresenta-se repetida, uma vez que já estariam, à cabeça, excluídas- a contrario- da própria
noção de avarias;
→ Avarias-danos: não surge qualquer delimitação complementar no art. 634º: a maior dúvida
suscetível estará em saber se os danos ocorreram efetivamente no arco temporal- que nem
sempre será de fácil determinação- que vai do começo dos riscos de mar até ao fim dos mesmos
ou se ocorreram a montante ou a jusante deste arco. Trata-se de uma questão determinante para
a definição do regime a aplicar.
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2. Natureza supletiva do regime das avarias. As regras Y-A
Decorre do parágrafo 2 do art. 634º do Ccom. que o regime constante dos arts. 634º a 653º é
supletivo: as avarias regulam-se por convenção das partes, valendo. Na sua falta ou insuficiência, as
disposições do código.
O caráter supletivo do regime do código comercial é independente do tipo de avarias: avarias-
danos ou avarias-despesas. Contudo, tal previsão tem sobretudo interesse para as avarias-danos ou
avarias-despesas que constituam avaria grossa ou comum, sendo conhecida a cláusula “franco de
avaria” ou “franco de avaria recíproca”, através da qual os carregadores e armadores renunciam a fazer
valer as pretensões que resultariam da aplicação do regime de tais avarias. O maior destaque, neste
domínio, vai, porém, para as Regras de York-Antuérpia.
Importa, no entanto, deixar aqui expressa uma precisão: a supletividade aberta pelo parágrafo
2º do art. 634º circunscreve-se às matérias diretamente tratadas nos arts. 634º a 653º, não podendo os
interessados na expedição conformar a atuação do capitão na “boa condução da expedição marítima”
(art. 5º/2 do DL nº 384/99, de 23 de Setembro).
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A Regra Paramount é uma regra de razoabilidade, a qual se compreende facilmente, tendo, no
entanto, a desvantagem de introduzir uma maior discricionariedade na qualificação de uma avaria
como grossa ou comum.
3.1 Introdução
O nosso Ccom. começa por dar uma noção de avarias no seu art. 634º, a partir da qual se
desdobram avarias-despesas e as avarias-danos.
O Código introduz, depois, no art. 635º, uma outra classificação, dispondo que as avarias são
de duas espécies: avarias grossas ou comuns e avarias simples ou particulares.
Esta classificação não se coloca ao mesmo nível da anterior, já que quer as avarias-despesas
quer as avarias-danos tanto podem ser grossas como simples. Estamos perante classificações ou
modalidades que tomam como ponto de partida critérios diferentes: ao distinguirmos avarias-despesas
de avarias-danos, estamos a classificar as avarias em função do tipo de desvantagem económica
acontecida; ao distinguirmos avarias comuns ou grossas de avarias particulares ou simples, estamos já
a fazer uma distinção estrutural ou intrínseca com relevantíssimas repercussões em matéria de regime.
Os arts. 636º e 637º do Ccom. deixam bem evidenciada a diferença de regime entre as avarias
grossas e as avarias simples.
Contudo, em termos de opções legislativas, não tinha de ser assim: o legislador podia ter optado
por regular exclusivamente a avaria grossa (seja ela avaria-despesa ou avaria-dano), deixando a avaria
particular para o regime geral de suportação de danos e da responsabilidade civil.
No entanto, é de nos questionarmos se, substancialmente, o nosso Ccom. se preocupa,
efetivamente, com o regime das avarias particulares; dizendo de outro modo, é de questionarmos se o
próprio regime do art. 637º não estará mais gizado em função de preocupações de delimitação da avaria
grossa e respetivo regime do que em função de uma genuína preocupação com o regime das avarias
particulares já que, em rigor, estas avarias estão sujeitas ao regime comum dos danos, que não ao
regime especial- marítimo- das avarias grossas ou comuns.
A especialidade está, portanto, nas avarias grossas que, conforme decorre dos arts. 636º e 637º,
não estão sujeitas ao regime (comum) da suportação ou da responsabilidade, mas, antes, a um regime
de repartição e contribuição, que tem como pressuposto uma comunidade de interesses numa aventura
marítima comum.
Umas são suportadas por alguém: em princípio por quem as sofre; outras são repartidas. Ora,
nesta diferença entre suportação e repartição está a explicação para o facto de a qualificação das avarias
ser, com frequência, um “campo de batalha” judicial, já que, em princípio, aquele que está, à partida,
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indicada para “suportar” ou para “responder”, quererá repartir e aquele que está indicado para
“repartir” pretenderá que seja outrem a suportar.
Assim, nesta sede, o importante é delimitar a avaria grossa: identificadas as situações de avaria
grossa, dentro do universo das avarias, determinadas, por exclusão, ficarão as avarias particulares ou
simples.
A priori, a identificação das avarias grossas pode ser feita por uma de três vias: pela enunciação
de um critério geral, pela enumeração das situações de avaria grossa e, finalmente, por uma via mista
de enumeração exemplificativa, seguida ou precedida da enunciação de um critério.
O código comercial vigente segue a primeira via identificada. De acordo com o parágrafo 1º
do art. 635º do atual código, são avarias grossas ou comuns “todas as despesas extraordinárias e os
sacrifícios feitos voluntariamente com o fim de evitar um perigo pelo capitão ou por sua ordem, para
a segurança comum do navio e da carga, desde o seu carregamento e partida até ao seu retorno e
chegada”. No código de Ferreira Borges procedia-se antes a uma enumeração, no seu art. 1816º.
Exemplos eram: as coisas alijadas para a salvação comum, os danos causados pelo alijamento às
fazendas restantes a bordo, entre outros.
As mesmas vias são grosso modo seguidas quanto à caracterização da avaria particular ou
simples: enquanto o parágrafo 2º do art. 635º do atual código considera que as mesmas são “as despesas
causadas e o dano sofrido só pelo navio ou só pelas fazendas”, o art. 1818º do código de1833 também
procedia a uma enumeração.
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O parágrafo 1º do art. 635º do Ccom., enuncia, literalmente, 3 requisitos:
a) Caráter voluntário: a despesa ou o sacrifício deverão ter sido feitos voluntariamente pelo
capitão ou por sua ordem;
b) As despesas ou os sacrifícios deverão ter por fim evitar um perigo;
c) O objetivo último deverá ser a “segurança comum do navio e da carga”.
Existe ainda a polémica de saber se, para além dos requisitos enunciados, será ainda de
acrescentar o “resultado útil”, conforme tem sido sustentado pelo Prof. regente.
Na opinião do prof. regente, os 3 requisitos elencados têm natureza diversa, já que um deles
assume um relevo especial, sendo o ponto de partida- o pressuposto- para os demais. Distinguimos,
assim, entre um pressuposto e dois requisitos. O pressuposto é a existência de um perigo comum para
o navio e para a carga: se este pressuposto não estiver verificado, a equacionação da avaria grossa não
faz sentido, devendo, então, a atuação do capitão, que se traduza na prática de atos de sacrifício,
merecer outro enquadramento jurídico. Seguem-se 2 requisitos:
a) Uma despesa ou um sacrifício intencional;
b) A despesa ou o sacrifício deverão ter por objetivo a salvação comum do navio e da carga.
Parametrização temporal das avarias grossas: no dizer do parágrafo 1º do art. 635º do Ccom.,
elas deverão acontecer, para serem relevantes, “desde o seu (do navio) carregamento e partida até ao
seu retorno e descarga”.
Podemos questionar se esse arco temporal coincide ou não com o arco, também temporal,
estabelecido no art. 634º: “desde que começam os riscos de mar até que acabam”. A priori, não há
razão para introduzir, em sede de avarias grossas, uma parametrização temporal das avarias diferente
daquela que é feita, em geral, no art. 634º. Contudo, mais do que discutir se os arcos temporais do art.
634º e do parágrafo 1º do art. 635º coincidem rigorosamente, o que importa é saber se os riscos de mar
formulados no art. 634º entram na “composição” do arco temporal do parágrafo 1º do citado art. 635º.
A “prova dos nove” estará nas situações em que os danos têm lugar quando o navio já está
carregado, mas ainda está atracado no cais; se deflagra um incêndio no armazém do porto, que se
comunica, por virtude do vento ao navio, ameaçando a sua segurança e a da carga, os danos provocados
pelo combate ao incêndio decidido pelo capitão entrarão em avaria grossa ou devemos considerar que
falta o pressuposto da exposição do navio e carga aos riscos de mar? Neste sentido, podemos dizer que
militaria a letra do próprio parágrafo 1º do art. 635º, que não se refere apenas ao “carregamento”, mas
ao “carregamento e partida”.
A questão suscita-nos algumas dúvidas. Contudo, autores como Cunha Gonçalves ou Azevedo
Matos parecem tomar a interpretação que flui da letra do parágrafo 1º do art. 635º como pacífica,
bastando o carregamento, para que as situações de avaria grossa possam ter lugar. O regente tem, no
entanto, dúvidas relativamente a esse entendimento, uma vez que lhe parece questionável que o mesmo
considere devidamente a necessidade, que faz parte do coração do instituto, de haver riscos de mar, o
que apontaria para a circunscrição da aplicação da avaria grossa à fase de navegação.
Outro exemplo, agora na oposta fase em que o navio aportou e atracou, não tendo a mercadoria
sido ainda descarregada quando deflagra o incêndio no armazém do porto, o qual se comunica ao
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navio, fazendo perigar a sua segurança e a da carga; os danos provocados pelo combate ao incêndio,
ordenado pelo capitão, constituem (ainda) avaria grossa? Ou dependerá essa qualificação de a origem
do incêndio ser “interna” ao navio?
Não convencido, embora, o regente admite que o legislador, neste âmbito, possa ter querido
evitar as polémicas que seriam, necessariamente, provocadas por uma ausência de definição clara,
tendo optado por um critério pragmático, bem visível na seguinte passagem de Ripert: “A partir do
momento em que estão a bordo, as mercadorias estão unidas ao navio, mesmo antes da partida, sendo
que a estadia no porto comporta certos riscos”.
Aula prática- O dano dá-se quando o navio está no porto. Problema de parametrização
geográfica. Art. 635º- desde o seu carregamento e partida até ao seu retorno e chegada- “e”- uma coisa
mais outra e não uma coisa ou outa. Ele tem de estar carregado e partido e ele não partiu logo à letra
não estamos perante um caso de avarias grossas. Mas há aqui uma contradição e dentro de uma lógica
de sistema, as contradições devem ser sanadas- em que consiste esta contradição? Para o prof. isto é o
caso de avaria grossa:
- as regras de Y-A apenas falam de aventura marítima comum- feita de forma intencional para
acabar com esta discussão. O legislador português continua com a contradição- desde o carregamento
e partida até ao seu retorno e chegada. Mas a lei diz até ao retorno e chegada- se o navio tiver parado
no porto de escala 1, 2, no porto de destino e se depois tiver parado no porto de escala- quando regressa
ao porto inicial se tiver atracado, mas não tiver descarregado há avaria grossa- se for ao contrário já
não há problema. O Cód. Comercial trata de forma diferente situações materialmente iguais- a lei diz
menos do que aquilo que quer.
Ou recorremos ao 634º proémio e interpretar em consonância ou então fazemos uma
interpretação extensiva da regra do art. 635º Ccom. Temos de ter em consideração as regras de Y-A:
muito aplicadas no comércio internacional.
3.2.2 A existência de um perigo comum para o navio e carga como pressuposto da avaria
grossa
Existência de um perigo para a aventura marítima- um perigo que ameaça a segurança comum
do navio e da carga. É discutida a natureza do perigo, designadamente se tem de ser atual ou se pode
ser futuro, sendo também objeto de polémica a questão de saber se tem de ser iminente ou real.
A doutrina dá, em geral, nota da caracterização do perigo relevante, mas é também evidente a
dificuldade em definir critérios firmes. Lê-se, em Rodiere que “não basta que o acidente seja
imaginário, é necessário que surja, se não como provável, ao menos como certo a curto prazo, em
termos de a ausência de toda e qualquer intervenção correr o risco de agravar as perdas ou mesmo de
não as lograr evitar, mas também na condição de que a medida tomada apresente o caráter
extraordinário exigido pelos textos e não seja apenas a medida de prudência exigida a todo o marítimo
cioso das suas responsabilidades”.
Neste particular, relevará, em especial o juízo do capitão, como marítimo especialmente
qualificado, de quem é exigível uma avaliação ciente e prudente da situação identificada como
potencialmente perigosa e da sua evolução previsível, à luz da experiência do mar, podendo também
dizer-se, designadamente à luz das Regras Y-A (Regra A), que a avaliação da existência de perigo e
respetiva dimensão devem ser feitas com razoabilidade.
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Podemos falar num juízo de probabilidade feito razoavelmente pelo capitão. Cunha Gonçalves:
a realidade do perigo não pode ser estabelecida por caracteres objetivos; é uma apreciação subjetiva
reservada ao capitão, atendendo a todas as circunstâncias do momento: estado moral e física da
tripulação, resistência do navio, natureza da carga, etc. E, como essa apreciação pessoal tem de ser
fiscalizada pelos tribunais, se estes decidirem que o capitão podia razoavelmente supor a existência de
um perigo real, deverão os danos entrar em avaria comum”; e ainda: “Pelo contrário, se o perigo for
fantasiado ou exagerado pelo espírito excessivamente timorato do capitão, que se apavorou e fez uma
despesa ou causou um dano, que um capitão prudente, corajoso e sereno evitaria, falta ao perigo a
realidade ou probabilidade (…)”.
O exposto evidencia a importância do juízo experiente de prognose do capitão relativamente a
uma situação de perigo potencial para a expedição. Essa tónica não nos permite, porém, prescindir da
enunciação de um perigo real, como pressuposto da avaria grossa, sendo, assim, possível sindicar a
decisão do capitão, mas agora em prognose póstuma, devendo ser tidas em conta todas as
circunstâncias presentes aquando da decisão.
O julgador deve, nesse juízo de prognose póstuma, considerar qual é que seria a correta decisão
de um “bom capitão”, colocado exatamente naquele navio, em idênticas circunstâncias.
O perigo só é relevante para efeito de avaria grossa se for comum ao navio e à carga.
Naturalmente que a avaliação do caráter comum do perigo repousa, também ela, no juízo razoável do
capitão. A avaliação feita pelo capitão pode, em concreto, conduzir a que um perigo que, diretamente
e no imediato, apenas incide sobre o navio, deva ser avaliado como perigo comum para o navio e carga,
considerando a previsível evolução dos acontecimentos, à luz das circunstâncias e da experiência do
mar.
Para o efeito da caracterização do perigo relevante será indiferente que o mesmo decorra de
caso fortuito ou de força maior, de facto de terceiro ou mesmo de culpa do proprietário do navio ou do
capitão. Esta conclusão pode parecer estranha no caso de na origem do perigo (causa remota) estar a
inavegabilidade do navio ou uma falha de um membro da tripulação.
Silva Lisboa: as situações de inavegabilidade do navio deviam determinar a aplicação do
regime da avaria particular. Para Cunha Gonçalves, contudo, para a caracterização de uma avaria como
avaria comum é indiferente a respetiva causa; segundo o autor, a caracterização das situações em
apreço como avaria particular era inaceitável já que “porque aos lesados é indiferente que o perigo
haja resultado de culpa doutrem ou de caso fortuito ou de força maior; e, desde que há interessados
que aproveitaram com o sacrifício feito, forçoso será que contribuam à indemnização do lesado,
ficando-lhe apenas salvo o direito de exigirem ao culpado a contribuição que pagaram”.
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A questão que se pode colocar é se esta solução pragmática, incluída nas regras Y-A, é
compatível com o regime das avarias do Ccom., quando o mesmo não tenha sido afastado a favor
daquelas Regras ou de outro regime: a priori, parece que a lógica da avaria grossa, com o seu regime
de repartição e contribuição, deveria ceder perante a identificação de uma imputação e de uma
consequente verificação dos pressupostos da responsabilidade civil, como no caso em que fique
provado que a causa próxima consubstanciada na decisão voluntária do capitão teve como causa
remota o estado de inavegabilidade do navio ou no caso em que seja provado que a decisão voluntária
do capitão no sentido de combater um incêndio teve na sua origem um comportamento negligente de
um tripulante ou de um carregador.
Parece ao regente, porém, que a solução do direito interno não pode deixar de acompanhar
aquela que se identifica com a lógica da avaria grossa e com a sua natureza, tal qual reconhecida
internacionalmente devido.
Vários fatores impedem aqui a aplicação de uma lógica estritamente civilista com base nas
regras da responsabilidade civil:
→ A internacionalidade do Direito Marítimo;
→ A especificidade do instituto da avaria grossa;
→ Esta solução apresenta-se também como a solução mais lógica já que as relações inerentes à
contribuição se desenrolam num plano diferente daquele que respeita às relações derivadas
das situações de responsabilidade civil.
Sendo, embora, indiferente a causa remota do ato de avaria grossa, já não fará sentido que o
causador pretenda beneficiar do regime desta. Podemos também chegar a estas conclusões fazendo
intervir os princípios gerais, de modo a paralisar pretensões que se mostrem, em concreto, contrárias
ao princípio da boa fé. Assim, deve ser paralisada a pretensão de repartição com base no regime da
avaria grossa feita pelo proprietário do navio nesta situação, em que a causa remota da decisão de
despesas extraordinárias ou do sacrifício feita pelo capitão tenha sido o estado de inavegabilidade do
navio; o mesmo relativamente a similar iniciativa promovida pelo carregador cujo comportamento
negligente tenha estado na causa do incêndio: tais paralisações são explicadas à luz da proibição de
venire contra factum proprium.
Isto significa que o sacrifício ou a despesa extraordinária deverão ser objeto de uma decisão do
capitão ou de alguém que exerça as correspondentes funções (art. 4º do DL 384/99, de 23 de Setembro).
Esta decisão terá de ser intencional.
O art. 635º do Ccom. não exige que haja uma deliberação motivada. No entanto, de acordo na
alínea h) do art. 6º do DL 384/99, de 23 de Setembro- que, substancialmente, constitui a continuação
do revogado no nº6 do art. 508º do código- o capitão é obrigado “a convocar a conselho oficiais,
armadores, carregadores e sobrecargas, sempre que for previsível a ocorrência de perigo para a
expedição suscetível de causar danos ao navio”. Evidentemente que convocar tal conselho estará, à
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partida, prejudicado nas situações em que a urgência não se compadeça com a delonga que o mesmo
implica.
Por não verificação deste requisito, não constituirá uma situação de avaria grossa aquela em
que determinada carga no convés é arrastada para o mar pela força das ondas. Estamos aqui perante
uma situação de avaria particular, com as correspondentes consequências a nível de responsabilização
ou de suportação de danos: nesta situação ou haverá fundamento para responsabilizar o transportador
por má colocação ou arrumação da mercadoria ou haverá dano por caso de força maior.
Refira-se, porém, que atualmente, designadamente ao abrigo das Regras Y-A, o caráter
voluntário do ato como requisito da avaria grossa não pode ser absolutizado, conhecendo exceções
que, no entanto, não põem em causa a exigência do caráter voluntário ou intencional, enquanto regra,
mas cuja existência já não nos permite dizer, como fazia Cunha Gonçalves, que a voluntariedade era
um “requisito essencialíssimo” da avaria grossa.
A situação que corporiza estas exceções é a das despesas com a salvação do próprio navio (e
carga. Ora, conforme é sabido, uma vez que a salvação tanto pode ser espontânea como contratada,
não haverá dúvidas que o salário de salvação contratada (art. 6º do DL 203/98 e art. 8º da Convenção
de Bruxelas de 1910 para a unificação de certas regras em matéria de assistência e de salvação
marítimas) resulta de um ato voluntário: da própria celebração do contrato de salvação.
As dúvidas acontecem se a salvação for espontânea. Suponhamos que o navio está à deriva e o
capitão e restante tripulação tiveram que o abandonar ou não estão em condições de tomar decisões;
poderá, ainda assim, a salvação ser tida como um ato voluntário? Tal conclusão não parece possível,
mas não fará, por outro lado, sentido que as despesas extraordinárias consubstanciadas no salário de
salvação não entrem em regra de avaria grossa. É assim que se explica que a Regra VI das Regras Y-
A estabeleça que o salário de salvação é considerado ainda que não tenha havido contrato. É assim
também que se explica o facto de, a nível do nosso direito interno, o art. 7º do DL 203/98 estabelecer
que o pagamento do salário de salvação marítima é feito pelos salvados de harmonia com as regras
aplicáveis à regulação da avaria grossa ou comum.
Outra questão: saber se, tendo as despesas ou sacrifícios sido voluntariamente feitas ou
sofridos, deverão continuar a ser tidos como de avaria grossa se se concluir, com segurança, que o
mesmo efeito ocorreria ainda que tal decisão não tivesse sido tomada. Suponhamos que a mercadoria
arrumada no convés é alijada por ordem do capitão no interesse comum da expedição, mas que se
conclui que ainda que tal ordem não tivesse sido dada, a força das ondas teria, seguramente, projetado
tal mercadoria para o mar.
Solução do regente: atribuir à causa virtual um relevo negativo para exclusão da avaria grossa,
adotando-se, em função da razão de ser do instituto, um regime correspondente ao da ressalva
constante da parte final do art. 469 do códice della navigazione: ainda que estejam verificados os
requisitos da avaria grossa no momento do ato de avaria, não se aplica o regime da avaria grossa
quando o dano voluntariamente produzido seja aquele que se verificaria necessariamente, de acordo
com o curso normal dos eventos. O regente não vê razão para que sejam tratadas de modo diverso as
mercadorias que são “varridas” pela tempestade e aqueles que o teriam sido também, com segurança,
se não tivesse havido um alijamento anterior, voluntariamente feito para segurança comum do navio e
da carga.
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3.2.3.2 O sacrifício deve ser feito para segurança comum do navio e da carga
Na base deste requisito está a consideração da comunidade de interesses entre o navio e carga,
a aventura marítima comum.
Assim, se deflagra um incêndio em certa mercadoria que, pela sua natureza e colocação na área
do navio, não poe em causa a segurança das demais mercadorias e do próprio navio, os danos
provocados no combate ao incêndio não entram em avaria grossa, não havendo, consequentemente,
lugar a repartição com base nesse regime.
Também não contribuirão as mercadorias que já tenham sido desembarcas quando deflagra um
incêndio a bordo que ponha em causa a segurança do navio e da carga ainda carregada: os danos
provocados pela decisão de combater o incêndio e respetiva execução não serão repartidos pela carga
que já está fora da comunhão de interesses.
Pela mesma razão, por faltar a união material, estabelece o art. 644º Ccom. que não contribuem
nas perdas acontecidas a bordo, para cuja carga eram destinadas, as fazendas que estiveram em terra:
podemos dizer, relativamente às mesmas, que ainda não começou a aventura marítima comum, não
havendo ainda comunhão de interesses.
A despesa ou o sacrifício devem ser feitos com razoabilidade, como se lê na Regra Paramount
de Y-A. Não corresponde a esta exigência a atitude do capitão que sacrifica mercadoria (alijamento,
por exemplo) em quantidade excedente à medida que seria razoavelmente necessária para o efeito
pretendido. A consequência que daqui decorre é não serem considerados como avaria grossa os
sacrifícios que excedam aquela medida.
Mas o regente não concorda que a razoabilidade deva ser erigida como requisito autónomo da
avaria grossa ou comum. No seu entender, a exigência de razoabilidade é inerente ao dever de um
capitão diligente (art. 5º/3 do DL 384/99).
Uma questão controversa é a de saber se o que releva, no âmbito deste requisito, é a segurança
comum ou o proveito comum. Esta questão, que tem estado bem presente nas revisões das Regras Y-
A, tem sobretudo interesse quanto às despesas: podem entrar como avaria grossa as despesas feitas em
proveito comum do navio e da carga, conquanto não o sejam, a bom rigor, para a segurança comum?
Estamos perante conceções diferentes de avaria grossa e do respetivo âmbito de aplicação.
Cunha Gonçalves, considerando, embora, defensável, essa possibilidade, entendia que a mesma
esbarra na letra do parágrafo 1º do art. 635º Cccom., que se refere à “segurança comum” do navio e da
carga.
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Como se disse, as avarias particulares são determinadas por exclusão de partes. Sendo
particulares as avarias que não são grossas.
Importa, no entanto, salientar que a caracterização feita no parágrafo 2º do art. 635º do Ccom.
é enganadora, já que sugere, erradamente, que a avaria particular só pode incidir, alternadamente, sobre
o navio ou sobre a carga. Não é, porém, assim, já que o dano provocado por caso fortuito ou de força
maior, ou mesmo por decisão voluntária que não corporize uma avaria grossa, pode atingir, a um
tempo, o navio e a carga: se a tempestade provoca danos no navio e nas mercadorias carregadas a
bordo, estaremos seguramente perante uma situação de avarias particulares ou simples.
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do proprietário dos bens alineados, tratada em conformidade com o regime dos arts. 10º e 11º do DL
384/99.
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Sendo a avaria particular: não há repartição. Estabelece o art. 637º do Ccom. que “as avarias
simples são suportadas e pagas ou só pelo navio ou só pela coisa que sofreu o dano ou ocasionou a
despesa”. Aplicação do princípio do casum sentit dominus; o dano será suportado por aquele que o
sofre, que será, em princípio, o proprietário; pode, porém, haver imputação em termos de
responsabilidade civil, tudo isto independentemente de poder ter havido transferência de riscos através
de um seguro.
→ Recondução da figura à gestão de negócios: falha, desde logo, pelo facto de o “gestor” - que
seria o capitão- agir não apenas no interesse dos carregadores, mas também no do navio, ou
seja, no interesse do seu comitente, o armador do navio. Como é sabido, o gestor de negócios
age no interesse e pro conta de terceiro, com quem não tem, à partida, qualquer relação,
diversamente do que acontece na avaria grossa, atenta a relação de comissão entre o capitão e
o armador ou o proprietário do navio (art. 4º do DL 202/98 de 10 de Julho). E o capitão te, por
força da lei (art. 5º/2 do DL 284/99), o dever de atuar profissionalmente co vista a uma boa
condução da expedição marítima. Afastamos, assim a hipótese de explicação da avaria grossa
através do instituto da gestão de negócios;
→ Explicar o instituto através do ESC: insatisfatória- natureza subsidiária do ESC e é dificilmente
sustentável a ideia de que os proprietários da carga não sacrificada enriquecem com a
manutenção de algo que já é seu;
→ Estado de necessidade (Cunha Gonçalves): a avaria comum seria determinada por um estado
de necessidade; é um mal menor, voluntariamente causado a uns, para evitar um mal maior- o
de todos. A vantagem é que, tal como no estado de necessidade, há, na avaria grossa, uma
situação de ofensa lícita a direitos de outrem. Contudo, essa similitude- efetiva- não chega para
explicar plenamente a avaria grossa;
→ REGENTE: as tentativas de explicação plena da avaria grossa com recurso às figuras do direito
civil falham muito na medida em que desconsideram a especificidade e o particularismo da
avaria grossa, como instituto de Direito Marítimo. Isto não significa que não encontremos
similitudes neste ou naquele instituto. A ratio encontra-se na comunhão de riscos no perigo,
ou seja, na aventura marítima, na solidariedade também. Alguma doutrina aponta como
fundamento da avaria grossa a lei ou o contrato, consoante seja aplicado o regime supletivo
legal ou um regime convencional, mas este entendimento assenta num equívoco- tal
fundamento só poderia valer para as obrigações de contribuição, e não para o próprio instituto.
Não podemos deixar de diferenciar o ato do capitão- ato de avaria grossa- da contribuição de
avaria grossa.
Uma questão que neste âmbito se suscita- fruto, em grande parte, do facto de os interessados
na expedição marítima poderem, à partida, modelar os termos da contribuição, é a de saber o que é que
acontece em sede de composição das massas, quando os regimes de contribuição dos diversos
interessados sejam diferentes.
49
Suponhamos que a mercadoria sacrificada, por exemplo, por alijamento, pertencia ao
carregador A, cujo conhecimento de carga continha una cláusula de aplicação das Regras Y-A e que,
quando da regulação das avarias, se constata que os outros carregadores, cuja mercadoria foi salva,
beneficiavam da cláusula franco de avaria, recusando-se, por tal razão, a contribuir.
Uma solução possível seria aplicar, em relação a cada um dos interessados, o regime clausulado
no respetivo conhecimento de carga (se for este o caso), deixando, porém, ao carregador prejudicado
pelo facto de os demais não estarem vinculados nos mesmos termos, o direito de agir contra o
transportador, por culpa in contrahendo, por não ter acordado em relação a todos o mesmo regime de
avaria grossa. Mas o Regente não concorda com esta solução.
REGENTE: se no contrato entre o transportador e o carregador X fica acordada a aplicação das
Regras Y-A, isso tem um significado que vai claramente para além das estritas relações entre as partes,
já que essas Regras pressupõe que, numa situação de avaria grossa, todos contribuem, não havendo
privilégios traduzidos no facto de alguém, cujos bens foram salvos à custa do sacrifício de outros,
poder paralisar uma pretensão de contribuição, quando, na situação oposta, beneficiaria da
contribuição dos demais interessados.
Será uma questão de interpretação, determinar, qual é o regime aplicável a essa relação: se o
do Ccom., o das Regras Y-A ou outro, dúvida que poderá ser resolvida atentando no panorama global
dos diversos contratos existentes. Assim, valerá, em princípio, o regime acordado para a maioria dos
contratos, ficando, porém, o carregador que, em concreto, se considere prejudicado pelo facto de não
ter sido seguido o regime especificamente acordado com o transportador, com o direito de ação contra
este. A solução mais cristalina será aplicar as Regras Y-A; contudo, essa solução parece forçada nas
situações em que tais Regras não tenham sido consideradas em qualquer dos conhecimentos de carga.
50
6.2 Situações especiais
A determinação das massas credora e devedora suscita dificuldades especiais, apresentando,
por vezes, grande complexidade.
O art. 640º do Ccom. regula a questão de saber o que é que acontece relativamente à carga
“clandestina”, ou seja, relativamente à carga “de que não houver conhecimento ou declaração do
capitão ou que se não achar na lista ou no manifesto”.
Uma tal carga está sujeita a um duplo regime desfavorável: o respetivo proprietário não recebe,
mas paga. Tal carga contribui na avaria grossa, salvando-se, o que bem se compreende, já que beneficia
da despesa extraordinária ou do sacrifício. Contudo, se tal carga for sacrificada- se for “alijada”, diz o
art. 640º- tal carga não fará parte da massa credora, tudo se passando, relativamente a essa carga, como
se a avaria fosse particular.
Este regime é consonante com a Regra XIX das Regras Y-A.
A explicação de tal regime é obvia: o combate à fraude e ao transporte clandestino, o que
justifica a sanção da não inclusão na massa credora, fazendo, porém, todo o sentido a inclusão na massa
devedora.
Quanto às mercadorias no convés, as mesmas têm um regime especial, constante do art. 641º
Cccom, regime especial esse que não é aplicável à composição da massa devedora, já que, se as
mesmas se salvarem contribuem. No que respeita às regras Y-A, tem relevo a Regra I.
Não se salvando as mercadorias, o código consagra um regime especial, regime esse que tem
como pano de fundo o facto de as mercadorias carregadas no convés estarem sujeitas a um maior risco
ou probabilidade de alijamento no caso de tal ser necessário para o bom sucesso da expedição marítima
comum.
Assim, se os bens em causa tiverem sido carregados na coberta sem o consentimento do dono,
sendo os mesmos alijados ou danificados pelo alijamento, o proprietário tem direito a ação de
indemnização “contra o capitão, navio e frete” (parágrafo único do art. 641º do Ccom.); atento o regime
consagrado nos arts. 4º e 5º do DL 202/98, essa ação de indemnização poderá ser intentada contra o
proprietário ou armador, como comitente, e contra o capitão como comissário, respondendo
solidariamente.
Se, porém, tiver havido consentimento do dono para que os bens sejam carregados na coberta,
há lugar a uma contribuição especial que não prejudica a contribuição geral para as avarias comuns de
todo o carregamento; nessa contribuição especial, só entram o navio, o frete e as mercadorias em causa
e as demais mercadorias carregadas nas mesmas circunstâncias.
Importa ainda referir, de novo, o regime do art. 644º: não contribuem nas perdas acontecidas a
navio, para cuja carga eram destinadas, as fazendas que estiverem na terra. A razão de ser é lógica:
essas mercadorias ainda não integram a expedição marítima comum- a comunhão de interesses a esta
inerente.
´
51
6.3 Estimação da carga
Revela-se igualmente muito importante a estimação da carga na composição das massas
credora e devedora.
O art. 648º Ccom. trata da estimação das fazendas e mais objetos, estabelecendo que as
fazendas e os mais objetos que devem contribuir, assim como os objetos alijados ou sacrificados, serão
estimados segundo o seu valor, deduzidos o frete, direitos de entrada e outros encargos de descarga,
tendo-se em consideração os conhecimentos, as faturas e, na sua falta, outros quaisquer meios de prova.
Pode acontecer que nos conhecimentos ou outros documentos estejam designados uma
qualidade e um valor das mercadorias que não corresponda ao seu valor real. Nessa situação, há que
distinguir consoante as mercadorias valham mais ou menos: se valerem mais (1º parágrafo do art.
648º), contribuirão pelo seu valor real, mas em caso de alijamento ou avaria, conta o valor dado nos
conhecimentos; se valerem menos (2º parágrafo do art. 648º), as mercadorias contribuem segundo o
valor indicado se forem salvas, mas atender-se-á ao valor real se forem alijadas ou estiverem avariadas.
Revela-se também importante a estimação da avaria na carga, dispondo o parágrafo único do
art. 638º que nessa estimação é determinado qual teria sido o valor da carga, se tivesse chegado sem
avaria, o qual deve ser confrontado com o seu valor atual, tudo isso independentemente da estimação
do lucro esperado, sem que, em caso algum, possa ser ordenada a venda de carga para se lhe fixar o
valor, salvo a requerimento do respetivo dono.
Finalmente, o art. 649º contém um regime especial para a estimação das mercadorias
carregadas: ela é feita, segundo o seu valor, no lugar da descarga, deduzidos o frete, os direitos de
entrada e outros de descarga. Os parágrafos 1º a 3º do mesmo art. 649º contemplam situações especiais.
O parágrafo 1º reporta-se às situações em que a repartição for feita em lugar do país donde o navio
partiu ou tivesse de partir; o parágrafo 2º trata da estimação dos objetos avariados e o parágrafo 3º cura
da estimação nas situações em que “a viagem se rompeu ou as fazendas se venderam fora do reino e a
avaria não pôde lá regular-se”.
A estimação dos valores das cargas quer das sacrificadas quer das salvas consta das Regras
XII, XVI e XVII de Y-A.
→ Alijamento: acontecimento de mar que melhor ilustra as situações de avaria grossa, admitindo,
claro está, que estão, em concreto, verificados os respetivos pressupostos e requisitos. Tanto
52
que serve de paradigma para as situações de avaria grossa: assim acontece, por exemplo, no
art. 640º, cujo regime não vale apenas para a carga alijada, mas, em geral, para a carga
sacrificada. Ex. arts. 640º, 641º, 642º e 646º Cccom.; Regras I e II de Y-A;
→ Incêndio a bordo: apesar de incluído na enumeração do art. 13º/2 do DL 384/99, o incêndio
não será, propriamente, um típico acontecimento de mar. As causas dos incêndios a bordo estão
normalmente associadas a caso fortuito ou a situações de negligência a bordo. Face a uma
situação de incêndio, os danos diretamente provocados por este constituem avaria particular.
Já quanto aos danos resultantes do combate ao incêndio, decidido pelo capitão para salvação
comum do navio e da carga, os mesmos constituem avaria grossa;
→ Varação, encalhe do navio feito voluntariamente: em sede de avaria grossa, só interessa a
varação que seja feita intencionalmente para salvação comum do navio e da carga. A questão
que se poderia discutir é a de saber se os danos decorrentes da varação também entram em
avaria grossa nas situações em que se conclua que, não fora o ato voluntário do capitão, o navio
teria encalhado. Regra V de Y-A: quando, por manobra voluntária, um navio der à costa para
salvação comum, quer esse navio pudesse ou não ter dado à costa, as consequentes perdas ou
danos sofridos pela propriedade envolvida na aventura marítima comum são permitidas em
avaria grossa. As Regras VII e VIII de Y-A tratam da inclusão em avaria grossa de danos e
despesas eventuais subsequentes à varação.
O que acontece se, pese embora a prática de atos tendentes à salvação comum do navio e da
carga, ocorre a perda total do navio?
Art. 642º Ccom.: se, não obstante o alijamento ou o corte de aparelhos, o navio se não salva,
não há lugar a contribuição alguma e os objetos salvos não respondem por pagamento algum em
contribuição das avarias dos objetos alijados, avariados ou cortados. A ideia subjacente a este regime
é a de que se, apesar do corte de aparelhos ou do alijamento de mercadorias o navio não se salvar, é
porque esse resultado era inevitável, não fazendo, então, sentido que os objetos salvos responsam pelo
navio.
O parágrafo 1º do mesmo art. 642º reporta-se a uma situação diferente: se pelo alijamento ou
corte de aparelhos o navio se salva, e continuando a viagem perece, os objetos salvos contribuem só
por si no alijamento no pé do seu valor, no estado em que se acharem, deduzidas as despesas de
salvação. Se o corte dos aparelhos e alijamentos contribuíram para salvar o navio e os demais objetos,
embora o navio pereça depois, é justo que esses objetos contribuam também para a avaria que resultou
desse corte de aparelhos e alijamento. Naturalmente que entre os bens que entram na contribuição por
avaria grossa, não se conta o navio, por se ter perdido, não figurando em nenhuma das massas.
Na linha da solução do corpo do art. 642º, o seu parágrafo 3º estabelece que “a carga não
contribui para o pagamento do navio perdido ou declarado inavegável”; isso é justificado por Adriano
Anthero, como sendo corolário do princípio de que “perdendo-se o navio, não há contribuição”.
Importa, no entanto, deixar claro que, apesar da redação do art. 642º, existem situações em que,
pela aplicação dos princípios da avaria grossa, a perda total do navio não impede a contribuição. Assim,
se o navio foi, ele próprio, sacrificado, vindo a perder-se totalmente contra as rochas da costa para
onde foi atirado pelo capitão, não há lugar à aplicação do art. 642º, já que, como refere cunha
53
Gonçalves, de resto, uma coisa é “navio perdido”, outra é “navio sacrificado”. Isto pressupondo, claro,
que a manobra foi feita para segurança comum do navio e da carga.
Arribadas forçadas
1. Introdução
Acontecimento de mar, regulado nos arts. 654º a 663º Ccom. O código não dá noção de arribada
forçada. O art. 1610 do código de ferreira Borges dizia que arribada forçada é a entrada necessária em
porto ou lugar distinto dos determinados na viagem do navio. Ato de entrar num porto durante a
viagem, que não é a do destino ou de escala estipulada no fretamento.
54
Apesar de as disposições do Ccom. estarem gizadas no pressuposto de o lugar de arribada ser
um porto (art. 660º e 663º) não tem de ser necessariamente assim: o local de arribada pode ser, por
exemplo, uma baía ou uma enseada onde o navio se abriga, por exemplo, para se furtar a uma
perseguição de piratas.
Por identidade de razão, o regente acha que deverá ser aplicado o regime da arribada forçada
às situações em que o navio retarda a saída de um porto de escala, por exemplo, em virtude do temor
fundado de inimigos: não faria sentido que, para aplicar o regime da arribada, fosse necessário forçar
o navio a sair a barra, com sério perigo para a expedição, para de imediato regressar ao porto. Trata-
se de uma situação diferente daquela que surge diretamente regulada no art. 663º Ccom., já que esta
última pressupõe que o porto em causa seja um porto de arribada e não um porto de escala.
A arribada forçada distingue-se da arribada voluntária. O ponto de partida é o conceito de
arribada, sendo voluntária aquela que não é forçada. Trata-se de uma distinção enganadora pois mesmo
as chamadas arribadas forçadas são voluntárias, no sentido estrito e natural do termo, uma vez que são
efetuadas pro decisão voluntária do capitão. A diferença está no facto de nas arribadas forçadas o
capitão se ver forçado, em virtude de um determinado evento ou de uma situação, a procurar um porto
ou lugar não previsto na rota, o qual pode consistir no porto de embarque ou no porto de anterior
escala- ou mesmo no porto de destino, na medida em que o capitão tenha de “sacrificar” algum porto
de escala para arribar.
O capitão toma a decisão de arribar porque a tanto o obriga o sucesso da expedição marítima
ou a segurança do navio, das pessoas ou dos bens. Cunha Gonçalves: a arribada é voluntária quando
motivada por mero capricho do capitão ou deste e dos tripulantes. É forçada ou necessária quando
determinada por um caso fortuito ou de força maior.
Para o efeito da determinação do caráter forçado da arribada, é necessário que, na base da
mesma, exista uma justa causa.
Na consideração da justa causa, deverá ser ponderada a situação concreta, desde logo no que
respeita à escolha do porto ou lugar de arribada: se um navio navega diretamente de Lisboa para os
Açores e o capitão constata a insuficiência de combustível quando está a poucas milhas da Madeira, a
priori, a arribada adequada à situação passará pela escolha de um porto madeirense, pois surge mais
próximo e conveniente, sendo inadequada aquela que se traduza num regresso a o proto de origem: se
for este o caso, ainda que a arribada pareça legítima à luz do previsto no nº1 do art. 658º do Ccom., ela
deve ser tratada parcialmente como ilegítima, no que respeita ao percurso e ao tempo despendidos em
excesso, comparativamente com aqueles que seriam o percurso e o tempo se o porto de arribada tivesse
sido bem escolhido. O caráter legítimo da arribada não sofrerá, já, contestação se o regresso ao porto
de embarque for, por exemplo, ditado pelo mau tempo no mar daquela ilha.
55
A primeira dúvida que se pode gerar é sobre o caráter taxativo ou simplesmente exemplificativo
do elenco do art. 654º. Aparentemente, a lista é fechada, posição esta que parece reforçada pela redação
do art. 655º, quando, ao enunciar as formalidades a cumprir, remete para “qualquer dos casos previstos
no artigo precedente”.
Ainda que interpretadas atualisticamente, as causas enunciadas no art. 654º não cobrem o
universo de situações justificadoras da arribada. Deve, assim, considerar-se como justa causa de
arribada toda a situação em que esta se apresente como necessária ao bom êxito da expedição marítima,
não podendo, portanto, considerar-se a enumeração constante do art. 654º como um numerus clausus
de justas causas de arribada forçada. O regente defende assim um caráter não taxativo das justas causas
do art. 654º. Assim, pode ser considerada também justa causa de arribada a entrada num porto não
previsto na rota, para abrigar-se de uma súbita e forte tempestade que force o capital a tal decisão, ou
a situação- que, no entanto, numa determinada interpretação, admitimos que possa caber no nº3 do art.
654º- em que sobrevenha uma avaria no sistema de comunicações. Em rigor, uma tal avaria não
inabilitará o navio de “continuar a navegação”, mas pode, considerando o mar onde navega e o seu
estado, impedi-lo de fazer uma navegação minimamente segura.
56
2.2 Formalidades da arribada forçada
O art. 655º do Ccom. disciplina as formalidades a cumprir pelo capitão antes de proceder à
arribada, tratando o parágrafo 1º da posição dos interessados na carga face à “deliberação tomada de
proceder à arribada” e o parágrafo 2º da feitura do relatório de mar perante a autoridade competente.
O parágrafo 2º apresenta então um prazo de 48h para a elaboração do relatório.
Apesar de não ter sido objeto de revogação expressa, o art. 655º Ccom. foi tacitamente
revogado pelo DL. 384/99, mais concretamente pelo estabelecido nas alíneas h) e j) do art. 6º.
Na verdade, de acordo com a citada alínea h), o capitão é obrigado a convocar a conselhos
oficiais, armadores, carregadores e sobrecargas, sempre que for previsível a ocorrência de perigo para
a expedição suscetível de causar danos ao navio, tripulantes, passageiros ou mercadorias. Cremos que
a perspetiva da necessidade de arribada, em função, por exemplo, do temor de inimigos, cabe, desde
logo, na previsão da alínea h), sendo de afastar a interpretação segundo a qual nas situações de arribada,
ao capitão bastaria uma informação ex post.
Há uma aparente diferença de regime entre o regime do Ccom. e o que resulta, agora, da alínea
h) do art. 6º do DL 384/99: Enquanto, no domínio do parágrafo 1º do art. 665º daquele código, os
interessados na carga não pareciam poder participar do processo tendente à decisão de arribada, só
podendo intervir depois, manifestando o seu protesto, face à citada alínea h), os interessados
(armadores, carregadores e sobrecargas) participam no processo, manifestando a sua posição, que pode
ser de oposição.
Contudo, essa diferença de regime não é segura, sendo sustentado por alguns, no domínio do
código comercial, que o capitão devia também ouvir os interessados na carga: não deixando de
reconhecer que os interessados na carga não eram “principais da tripulação” (art. 655º), Cunha
Gonçalves dava relevo ao disposto no nº6 do art. 508º, também do Código, que impunha ao capitão
“chamar a aconselho os oficiais, armadores, caixas e carregadores que estiverem a bordo, ou seus
representantes, em qualquer evento importante de onde puder vir prejuízo à embarcação ou a sua
carga”. Posição oposta a esta era sustentável por Adriano Anthero, para quem se justificava a exclusão
dos interessados na carga: “Os interessados na carga que estiverem a bordo não são ouvidos; porque
não são técnicos, e, por outro lado, o interesse de não interromper a viagem ou qualquer terror pânico
podia cegá-los”.
REGENTE: tem razão Adriano Anthero.
Qual é o efeito de uma oposição à arribada? Conforme já realçava Cunha Gonçalves, conquanto
no quadro do parágrafo 1º do art. 665º do Ccom., a oposição ou protesto pode ter lugar, mas não
paralisa a decisão do capitão, como magíster navis que é. Contudo, a oposição à arribada,
designadamente- mas não só- quando manifestada pelos oficiais, não impedindo, embora, a arribada,
pode ser de grande relevância para futuro, designadamente no que diz respeito à caracterização da
arribada como legítima ou ilegítima. Ter em atenção dever de informação a que está adstrito o capitão-
art. 6º, alínea j) do DL 384/99.
O incumprimento pelo capitão, do dever estabelecido na alínea h) ou mesmo na alínea j) do art.
6º do DL 384/99 inquina, de algum modo, o processo ou condiciona o regime da arribada? REGENTE:
pensa que não, sem prejuízo de considerar que o estabelecimento de tais deveres de informação faz
57
pleno sentido. O que não parece sustentável é que o cumprimento dos mesmos constitua um requisito
ou uma condição da arribada, podendo, no entanto, a pessoa que se sinta lesada por ausência ou
deficiência de informação exigir indemnização nos termos gerais da responsabilidade aquiliana (art.
483º e ss. do CC).
Importa, finalmente, salientar que a revogação tácita do parágrafo 2º do art. 655º do Ccom. não
decorre das citadas alíneas h) e j) do art. 6º do DL 384/99, mas, antes, do art. 14º (Relatório de mar)
do mesmo diploma.
58
A situação do temor fundado de inimigos (art. 654º/2 e 658º/2) é, neste aspeto, peculiar: uma
vez que a arribada, para ser forçada, tem de ser legítima, terá de ser feita prova do justo temor de
inimigos, prova essa necessariamente objetivada por fatores positivos: se ela existir, a arribada é
forçada e é legítima; se não existir, é voluntária e, logo, ilegítima.
59
ato voluntário inspirado pela salvação comum; em todos estes casos, a arribada forçada, além de ser
legítima, constituirá uma avaria comum”.
61
Ainda de acordo com a mesma Regra, também serão admitidas como avaria grossa as despesas
decorrentes da saída do navio a partir desse porto ou lugar após tal entrada ou retorno, com toda ou
parte da carga inicial.
Assim, não constituirá avaria grossa a situação em que um navio não avariado procura porto
ou lugar de abrigo apenas para evitar uma muito provável tempestade ou vento muito forte; contudo,
se tivesse ocorrido algo de tal forma que o navio e a sua carga estejam em perigo, já estaremos perante
matéria de avaria grossa. Tudo dependerá, porém, no entender do regente, do relevo que se dê às
circunstâncias extraordinárias, parecendo que o “anúncio” fundado de uma tempestade que se revele,
a priori, perigosa para a segurança do navio e carga, se poderá enquadrar neste âmbito.
De acordo com a Regra XI (a), os salários e a manutenção do capitão, oficiais e da tripulação,
quando em termos razoáveis, e o combustível e provisões consumidos durante o prolongamento da
viagem ocasionada por um navio que entre num porto ou lugar de refúgio ou regresse ao seu porto ou
local de carregamento, será tido como avaria grossa quando as despesas de entrada nesse porto ou
lugar sejam permitidas como avaria grossa, de acordo com a Regra X (a).
62
O artigo 662 suscita a questão, tal como a propósito do artigo 660, de saber se, face ao regime
dos artigos 10 e 11 do DL 384/99, se mantém em vigor a existência de autorização. O regente defende
que essa exigência se mantém.
Claro que a exigência de autorização só faz sentido no caso de o capitão ou o armador não
conseguirem contactar o interessado na carga, sendo certo, face ao disposto no artigo 5/2 e na alínea j)
do art. 6º do DL 384/99, que o capitão deve tentar obter Previamente indicações específicas sobre o
destino da carga. Na atualidade, serão certamente raras as situações em que o capitão ou o armador
não conseguem esse contacto.
A articulação do art. 662º Ccom. com o disposto no art. 10º do DL 384/99 permite destacar a
eventualidade de situações em que, por ocasião da arribada, seja necessário proceder à alienação de
coisas que se encontrem a bordo, no interesse da expedição. Se for esse o caso, a mercadoria pode ser
vendida nos termos do citado no art. 10º, sem necessidade da autorização mencionada no art. 662º.
A diferença de regime é ditada pelo facto de, nesses casos, estarem em jogo ou em causa os
interesses da expedição- cujo julgador é o capitão- e não apenas o interesse de um ou mais
carregadores.
63
A articulação com o regime do DL 384/99 não suscita dificuldades: o art. 663º apresenta-se
como uma disposição especial em sede de arribada, contendo um regime aplicável a uma situação que
não se encontra contemplada em qualquer das alíneas do art. 6º do diploma.
64
Conceitos de mar
Convenção de Montego Bay (1982), direito interno e CRP - a convenção traduz-se no direito
interno através de diplomas específicos - Lei 34/2006 e o DL 43/2002.
Art. 5º/2º CRP, assim como o art. 84º quanto ao domínio público. A definição dos limites das
águas territoriais da ZEE são da exclusiva competência da AR, sendo que as RA têm poderes para
participar.
Art. 209º - tribunais marítimos.
A nível internacional, temos a convenção de Montego Bay, sendo as suas definições
continuadas na legislação interna. Quando falamos em mar territorial falamos em território, e são as
águas que integram o território nacional - temos soberania sobre essas águas (art. 2º convenção). Deixa-
se uma margem ao direito interno, mas com limites. Este critério tem de ser rigoroso.
Trata também de questões do espaço aéreo, não apenas as águas, de acordo com o art. 2º/2.
Os limites do mar territorial, para saber até onde vai a soberania e o território do Estado, estão
no art. 3º - todo o Estado tem direito a fixar a largura do seu mar territorial até um limite que não
ultrapasse as 12 milhas, sendo as bases fixadas através da linha da maré - a partir daí contam-se até 12
milhas. O art. 4º refere-se ao limite exterior do mar territorial.
Contíguo ao mar territorial temos a zona contígua, e sai-se do conceito de soberania - art. 33º
- zona contígua ao seu mar territorial, que não se pode estender a mais de 24 linhas marítimas contadas
a partir das linhas base do mar territorial (linhas da maré). Temos aqui uma zona em que o conceito de
soberania é abandonado, mas onde o Estado tem largos poderes para tomar medidas necessárias para
evitar infrações à lei sanitários e de emigração antes que os navios entrem no seu mar territorial, assim
como impedir incumprimento de leis nacionais, que se aplicam à zona contígua.
Depois, temos o conceito de perseguição quente (hot pursuit), que pode até ao alto mar, até
entrar no mar territorial de um outro Estado. É o caso de um navio apanhado em pesca ilegal.
Outro conceito é o de zona económica exclusiva, no art. 55º (direitos, jurisdição do estado
costeiro) - zona situada além do mar territorial, sujeita a um regime específico, e que não se estende
das 200 milhas a partir das linhas de base (são importantes para, a partir daí se contarem até às 200
milhas). Aqui também não tem soberania, mas tem um conjunto de poder importantes respeitantes à
utilização e exploração económica desse espaço. O art. 58º regula os direitos e deveres dos outros
Estados.
O conceito de plataforma continental é importante para não se confundir com a ZEE e zona
contígua. É uma plataforma que corresponde ao leito e subsolo das áreas marítimas (até ao bordo
exterior da margem continental, ou 800 milhas marítimas desde as linhas de base). Um Estado pode
pedir a extensão da plataforma continental, o que se sucede atualmente com Portugal - art. 76º.
65
O alto mar trata-se no art. 86º, que compreende todas as partes do mar não incluídas nos
conceitos anteriores, definindo-se por extensão. A liberdade de alto mar é definida nos termos da
convenção, com uma liberdade fundamental, a de navegação - art. 90º - todos os estados têm direito
de fazer navegar no alto mar navios. Depois o 89º diz que o estado não pode submeter à sua soberania
qualquer parte do alto mar.
Interessam também previsões sobre estatuto e nacionalidade dos navios, assim como deveres
de prestar assistência (art. 98º - abalroação).
A nível interno, temos a Lei 34/2006 que define todos estes conceitos. Por exemplo, no que
respeita à matéria de deveres do estado-bandeira, no 94º da convenção e 98º de prestar assistência, etc
- não havendo soberania nem jurisdição no alto mar, nenhum navio pode ficar sujeito a ser visitado
por outro - consagram-se previsões que limitam e excecionalmente admitem que haja uma visita de
um navio por outro.
Art. 110º - navio de guerra que encontre no alto mar um navio estrangeiro, que não goze de
completa imunidade de acordo com o 95º e 96º não terá o direito de visita, a menos que exista motivo
razoável de suspeita de pirataria, tráfico de escravos, é utilizado para transmissões não autorizadas,
etc.
O hot pursuit permite que um navio persiga um navio estrangeiro, mesmo no alto mar, desde
que se tenha iniciado no mar territorial ou zona contígua (pesca ilegal, crimes ambientais). A
perseguição tem de ser ininterrupta, até à entrada no mar territorial de um estado.
Lei 17/2014 - política de ordenamento do Estado - DL 78/2015 - trata-se do ordenamento e da
gestão do espaço marítimo nacional, sobretudo na ZEE.
Nível internacional:
Convenções internacionais: situação mais díspar com várias convenções sobre matérias
diferentes (salvação marítima e abalroação, por exemplo, das quais emerge esta responsabilidade).
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- CB 1957 sobre responsabilidade dos proprietários do navio de mar e a LLMC, a mais
importante em matéria de limitação de responsabilidades (1976 e protocolo de alteração
de 1996 - Portugal está atualmente vinculado - limitation of liability)
- Mistas: são, ao mesmo tempo, convenções de imputação e limitação, sendo um exemplo as
Regras de Haia, ou seja, a convenção que disciplina o transporte marítimo e de mercadorias -
diz quem é responsável pelos danos, mas também limita (Regras de Hamburgo que não
vinculam Portugal e as de Roterdão, que não está em vigor, mas visa substituir as outras 2)
Nível interno:
Articulado com o DL 384/99, existe o diploma central, o DL 202/98 - depois demos diplomas
específicos sobre matérias específicas. Por exemplo, quando tratamos o transporte de mercadorias,
temos de considerar o DL 352/96.
DL 202/98 - já foi falado a propósito do art. 5º DL 384/99. Temos aqui uma remissão clara
para o art. 500º CC - o seu regime, civil, passa por uma dupla imputação, de acordo com o nº1, primeiro
uma imputação primária (ao comissário) e depois secundária (ao comitente, em virtude da relação de
comissão).
Há a necessidade de, sobretudo nas convenções, uma vez que as definições parametrizam o
âmbito de aplicação desses textos e conformam-no, é importante nós sabermos cada uma dessas
definições e apurá-las. Por isso é que, sendo um diploma marítimo, o legislador tenha optado por uma
definição nestes termos.
67
Mais difícil é a noção de armador - há uma outra CV, de Bancaroil (?), que acompanha de
muito perto a CLC na sua previsão, e que responsabiliza os armadores dos navios pelos danos
provocados em consequência do derrame nos navios, como o combustível, e não como a carga. Aqui
quem é responsável é o armador, e há lá uma definição, um conceito amplo em que também é
proprietário do navio. Portugal está vinculado e é uma convenção mista.
A definição de armador no DL 202 não é feliz, porque é quem arma e equipa o navio. Se, na
sequência de uma expedição marítima, o navio é abastecido num porto grego, é evidente que o que faz
sentido é a relação obrigacional de um contrato de abastecimento, e faz sentido trazer ao de cima a
lógica credor-devedor - a responsabilidade recai sobre quem explora o navio, que será o lesante.
● Exemplo de abalroação com culpa exclusiva do navio A - não há dúvida que a responsabilidade
do navio A é uma expressão para dizer que a responsabilidade está nessa esfera - a
responsabilidade deverá ser do armador e não do proprietário, numa lógica de indissociação.
O art. 4º, com a noção de armador, é uma noção que fica aquém da verdadeira noção. Armador
não apenas equipa o navio, mas também explora o navio - é preciso uma noção dinâmica e não estática.
O armador é o empresário. O armamento, por outro lado, é um conjunto de atos para o navio estar em
condições de seguir viagem (art. 1º d) DL 202). O art. 2º diz que, salvo algo em contrário, presume-se
que quem é proprietário é também armador.
Faz sentido também esta presunção, por ser quem explora o navio, sendo importante para saber
quem designa o capitão do navio (art. 3º), fazendo sentido que seja o armador e não o proprietário do
navio - assim que há uma dissociação entre armador e proprietário, a posição do proprietário é
estritamente real, e a do armador é empresarial.
A previsão do art. 5º está pensada em função da relação entre capitão e armador, não é entre
capitão e proprietário e armador.
● Exemplo: o navio A é explorado por uma empresa e abalroa o navio B, sendo então culpa
exclusiva de A. Se faz sentido responsabilizar alguém em termos subjetivos é o armador,
simplesmente, no entanto, há um ponto essencial, em que o navio é o principal do direito
marítimo, por isso, os lesados olham para o navio e não para o armador, é tudo em função do
navio - o objetivo do credor é “penhorar” o navio. Se se ficar estritamente entre a relação
lesado-lesante subjetivo (armador), não podem fazer penhorar o navio, mas a real razão da
68
responsabilidade subsidiária é permitir aos lesados ir ao navio. O sistema civil romano-
germânico em que quem responde é a pessoa pelo seu património, não a coisa -
responsabilizando o proprietário do navio permite aos lesados fazer penhorar o navio, e
satisfazer os seus créditos.
Quando o art. 6º dispõe isto, se os credores lesados não conseguirem satisfazer os seus créditos
com recurso à ação que intentem contra o armador, podem subsidiariamente agir contra o proprietário
do navio, e, por via disso, fazer penhorar o navio - refere-se apenas ao armador ou também ao capitão,
admitindo que a culpa é sua? - o proprietário pode invocar a necessidade de excussão prévia do
património do armador e capitão? Regente - apenas o armador e o navio.
O que interessa, assim, é “apanhar” o navio - remissão do art. 11º sobre o próprio navio.
O navio, a priori, no sistema civil português, não pode ser responsabilizado, mas sim o
armador/proprietário - quando o 11º admite a responsabilidade do navio é nos casos em que não seja
possível identificar. Deve-se perceber em que termos e situações excecionais é que o navio pode
responder - não sendo o navio pessoa, e prevendo o ELN personalidade judiciária ao navio nos casos
previstos na lei, temos aqui um caso desses.
Art. 8º DL 202/98 e art. 8º DL 384/99 - é importante destacar o nº2 - ou estamos no local da
sede do proprietário ou armador, em que funciona a lógica de empresa no armador e propriedade no
caso do proprietário, fora da sede, percebe-se que a representação legal para, em termos judiciais e
extrajudiciais, pertença ao capitão do navio. Exemplo: situação de penhora e arresto de navio num
porto - o capitão é o representante do proprietário e do armador.
A questão passa de novo pela centralidade do navio - porque é que, fora do local da sede, temos
esta situação, em que quem representa o armador a bordo é o capitão? O capitão não pode remeter para
o armador, é uma representação legal - para os credores, é a solução com mais segurança.
A referência seguinte é a limitação da responsabilidade:
Qual é o regime interno? Além das limitações de responsabilidades admitidas pelas convenções
vigentes em Portugal, se estas não se aplicarem, o proprietário do navio pode restringir a sua
responsabilidade. Aqui nós temos que, afirmada e consagrada a responsabilidade do armador, temos
que ver se e em que termos é possível a limitação da responsabilidade; ou é uma situação de convenção
internacional ou não.
Avulta cada vez mais a importância da LLC - esta convenção, tal como a CB 1957 que a
precede e a que continuamos vinculados, se nós, para admitirmos a limitação de responsabilidade face
à LLC, temos que olhar para o seu texto, e ver em que termos é que permite a limitação; para que
créditos, para que situações.
Dispõe que por créditos de determinado tipo, é possível limitar segundo o seguinte critério, e
estabelece diferenças em função das várias situações - se a situação não couber aí, temos a hipótese da
parte final do art. 12º, quando dispõe que o proprietário do navio pode restringir a sua responsabilidade
ao navio. Temos aqui a manutenção de uma figura que iniciou o regime da limitação, desde Hugo
Grócio, que veio sustentar que não era justo que, numa expedição marítima, o proprietário do navio
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responde-se por todo o seu património de mar e terra, porque é o armador que equipa e arma o navio,
assim como corre os riscos de mar, então quem está no navio beneficia dessas vantagens, portanto é
lógico que não responda por tudo. Assim, pode abandonar os credores, entregando-lhes o navio -
situação de insolvência, mas sem envolver o património todo.
O abandono aqui referido é o abandono liberatório dos credores.
--
DL 202/98 relativo às responsabilidades no âmbito da expedição marítima - articulação com o
art. 5º DL 384/99, sobre o comissário do armador, e a propósito disso fala-se do estatuto do capitão -
esta presunção de culpa do capitão do navio é importante o DL 202, embora seja claro que a presunção
de culpa consagrada é apenas do capitão, e não de todos os propostos indicados no DL 202, como a
tripulação, o piloto, etc. A presunção de culpa faz parte da excecionalidade das presunções legais, que
não se podem estender sem razões fundadas.
Sequência entre o art. 4º e 6º - primeira previsão da responsabilidade do proprietário ou
armador, do armador não proprietário, e depois do simples proprietário. Importância da
responsabilização do simples proprietário enquanto caminho para “apanhar” o navio - o simples
proprietário ou armador a priori, não faz sentido que responda ele mesmo; a sua responsabilidade, que
é subsidiária em relação à responsabilidade do armador, mas não em relação ao capitão do navio. A
prova de que a responsabilidade do simples proprietário é um processo para conduzir à apreensão ou
penhora do navio (responsabilidade do navio) está no facto de este diploma admitir em termos
excecionais a responsabilização do próprio navio, caso em que tem personalidade judiciária e é
representado pelo agente de navegação.
Previsão da limitação - a limitação da responsabilidade tem de ser sempre equacionada, mesmo
que se chegue à conclusão de que não funciona no caso concreto. Perda de direito à limitação - aquele
que à partida tem direito à limitação, em concreto, apura-se que tem um comportamento antijurídico
que o torna desmerecedor da limitação.
LLMC inglesa - DL 18/2017 de 16 de junho - é importante ter em conta.
No que respeita aos limites de responsabilidade, o art. 12º manda aplicar o regime admitido nos
tratados vigentes em Portugal - o proprietário pode restringir a responsabilidade e abandonando os
credores.
Noção de fonte de limitação - 5º/1 h) - montante global a que o proprietário do navio pode
limitar a sua responsabilidade por danos causados a terceiros (conceito insuficiente, de acordo com o
Regente, porque é mais do que isto - não é apenas a cifra ou montante global, é uma realidade, uma
estrutura patrimonial
Processo de limitação de responsabilidade (por via do 12º 2ª parte) - o art. 13º complementa no
que respeita ao modo de constituição deste abandono aos credores (abandono liberatório).
É como se o navio fosse o único bem do proprietário do navio - o proprietário de mar pode ter
vários navios, mas aquele navio concreto que dá origem a créditos marítimos, como por abalroação,
por exemplo, o abandono dá-se apenas em relação a esse navio. Depois cria-se um fundo de limitação
de responsabilidade - é tratado como um processo de execução, sendo semelhante ao singular ou
universal (insolvência).
Os credores são chamados e os seus créditos são satisfeitos numa lógica semelhante aos
processos executivos (604º CC). Aplica-se, à partida, o DL 49/28 e 69 - sequência da ratificação por
Portugal de limitação de responsabilidade (CB 1957 - tem vindo a ser abandonada para se usar a
LLMC) - Portugal ratifica a de 1957, e o DL 49/28 coloca-a em vigor - a CB 1957 passou a ter
simultaneamente 2 valências, a valer como direito interno português, para além da valência enquanto
convenção internacional. Prevê-se aqui um mecanismo do DL 49/1021 em conjugação com o DL
49/1029 de limitação - o art. 1º tem a tramitação do processo em causa. Há uma sentença de graduação
de créditos (processo executivo). Os créditos desses credores, de acordo com a graduação, são
satisfeitos pelo bem abandonado, o navio.
Art. 13º DL 202/98 - aplicam-se as normas de processo de limitação - DL 49/1028 e 1029, mas
introduz um regime especial fora desses diplomas que regula a graduação dos créditos pelos vários
credores, considera-se constituído o fundo de limitação. Temos uma tramitação especial (14º e ss.) das
previstas nos 2 diplomas.
O abandono liberatório do navio tem um âmbito de aplicação circunscrito, porque as situações
estão no geral abrangidas pelas convenções internacionais (CB 1957 ou LLMC).
Mesmo o armador pode limitar a sua responsabilidade - quem responde pela responsabilidade
do navio é o armador e subsidiariamente o proprietário do navio - o armador pode limitar a
responsabilidade? Aqui já estamos no âmbito das CV e não do abandono liberatório (aqui só o
proprietário pode). O sistema de limitação atual não está estruturado na lógica do abandono liberatório,
avançou-se mais, então o armador pode - a limitação é feita com base na constituição de um fundo de
limitação de responsabilidade, determinando-se o seu valor em função dos créditos em causa,
tonelagem do navio e de acordo com a convenção:
● Crédito marítimo - podem dar lugar a limitação e estão presentes na convenção - têm de estar
na lista
● Determina-se depois como se materializa a limitação - art. 2º - créditos sujeitos a limitação.
Sempre que temos uma situação que se enquadra na lista dos créditos marítimos, sendo créditos
de responsabilidade obrigacional e extraobrigacional
● Delimitação negativa - créditos que não abrangem a aplicação da convenção, mas podem estar
sujeitos a limitação por outra via
71
Protocolo de 96 - Portugal também se vinculou - temos de ver as normas da convenção que
foram alteradas pelo protocolo - o 6º/1 foi alterado.
O fundo constitui-se previamente a pensar para o caso da fixação. Quando há danos, o princípio
que resulta da articulação entre o 483º e 562º ou 798º e 562º, aponta-se para a totalidade dos danos,
sem prejuízo do nexo de causalidade que restringe.
--
Cruzamento entre as previsões do DL 202/98, as definições e o caminho da responsabilidade
dos arts. 4º, 6º deste DL. A imputação ao comissário é necessária para operar a imputação secundária
(não é primária por ser mais importante, é porque a 1ª imputação ao comissário e depois do comitente
- remissão para o 500º CC).
O sistema de civil law estrutura a responsabilidade leva a que a pessoa responda pelo seu
património, neste caso o navio, que é do património do navio, e este pode não ser armador (4º). Pelas
vicissitudes da atividade marítima faz sentido que responda o armador porque é o empresário marítimo
(fornecimento de combustível, salvação, abalroação), por isso faz sentido que recaia objetivamente
sobre o armador como comitente - relação de responsabilidade solidária com o proprietário do navio.
Muitas vezes temos situações em que os proprietários ou proprietários-armador só têm um
navio. Como é que os armadores estruturam as respetivas responsabilidade? É a lógica da sociedade,
cada navio forma uma sociedade (ship companies), e o objetivo é que o navio não tenha sister ships.
Se a pessoa responde com todo o seu património, se tem vários navios todos podem em princípio ser
penhorados; se só tiver aquele navio e o seu objetivo principal for a responsabilidade só se ataca esse,
e é legítimo, o que leva a dinamismo empresarial e económico. Tem também vantagens a nível da
navegação e o seu exercício.
É isto que explica a responsabilidade do proprietário, simplesmente é subsidiária - tem de ser
entendida em termos razoáveis, não é em relação ao armador, capitão e tripulação, mas sim em relação
ao armador.
Nas situações em que não seja possível identificar, na lógica do sistema de civil law, o art. 11º
permite a responsabilidade direta do navio. O estatuto legal do navio (DL 202/98) define navio, e diz,
no art. 7º, que os navios têm personalidade judiciária, sendo este um dos casos previstos na lei.
Temos depois a previsão e possibilidade da limitação - a sua lógica é importante, tanto em
situações obrigacionais como extraobrigacionais - se pensarmos nas regras de Haia (CB 1924 que
disciplina o transporte marítimo de mercadorias), essa convenção prevê imputação e limitação ao
mesmo tempo - é lógico que, na arrumação das convenções e as suas tipologias há 3 categorias -
limitação, imputação e mistas. A lógica da limitação percorre o direito marítimo e, por isso, este
diploma prevê a limitação; ninguém pode dizer, no entanto que sempre que há créditos marítimos há
limitação - mesmo que haja à partida limitação, pode não ter lugar na medida em que aconteceu um
comportamento preclusivo da limitação do caso concreto.
É o caso de ter cometido faute inexcusable (falta sem desculpa em francês), que gera loss of
the right to limitation. É uma conduta impeditiva da limitação. A possibilidade de limitação é a regra
geral, mas pode alterar-se em função da situação.
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Art. 11º - remete para as convenções internacionais vigentes em Portugal - linhas gerais da
LLMC (1976-1996, pela vinculação tardia à CV e protocolo). Porque é que o legislador publica o
protocolo separado e não une? Porque é que Portugal ratificou a convenção e o protocolo? Tem
a ver com a especificidade das convenções internacionais; são situações que podem depois gerar
litígios com operadores de várias nacionalidades, e há países que não se vincularam/estão vinculados
à convenção só, e outros estão apenas vinculados à LLMC, sendo por isso benéfico tratá-los
autonomamente. vamos considerar o texto mais atualizado da LLMC à luz do protocolo.
A LLMC visa substituir a CB 1957, e esta, por sua vez, visou substituir a CB 1924, mas é
verdade que ambas continuam em vigor.
O mecanismo resulta do 17º/4 LLMC - no que respeita às relações entre os estados que
ratificam a convenção, a presente convenção substitui e revoga a convenção internacional sobre a
responsabilidade internacional. Por isto é que as CB continuam em vigor, e Portugal não as denunciou,
continuando vinculado também. No entanto, quando estão em causa estados vinculados pela LLMC,
são se aplica a CB, mas sim a LLMC.
Quanto ao modo de funcionamento da LLMC, este é relativamente simples - podemos utilizar
noções parametrizadas. Quem é que pode limitar? São os proprietários, assistentes, etc - proprietário
do navio significa (1º/2) proprietário, fretador ou operador do navio de comércio. E se for um navio
de navegação de pesca, pode limitar? Na versão em inglês não fala de navio de comércio, sea going
ship apenas, e é diferente. Este é apenas navio de navegação de mar. O texto em português não faz fé
ao inglês. Temos de interpretar a convenção em português à luz das versões inglesas - destaca-se com
maior relevo a versão inglesa.
O mecanismo é identificar, a partir das definições, os conceitos basilares, ver quais são os
créditos sujeitos a limitação, estando aqui créditos de base obrigacional e extraobrigacional. A partir
daí, vê-se se não há uma situação de exclusão da limitação do 3º e, admitindo que não há faute
inexcusable (se houver, quem tem de invocar são os credores, porque o armador vai suscitar a limitação
através da constituição do fundo de limitação). O modo de limitar é relativamente simples - direito de
saque especial e determinar o montante.
O protocolo tem uma medida que se reveste de particular importância: o protocolo vem alterar
arts. da LLMC de 1976, e depois tem uma medida importante, a do art. 8º - vem permitir uma
atualização da alteração através de mecanismo mais expedito, uma maioria entre os membros (maioria
qualificada), e passa a aplicar-se a todos sem as delongas e maiores complexidades de haver uma nova
convenção ou um novo protocolo, porque sempre que se quisesse alterar haveria um novo protocolo.
Agora temos um critério remissivo per relationem.
No entanto, isto apresenta um problema constitucional, devido ao art. 8º CRP. Este art. exige a
publicação e os novos limites não serão publicados, sem prejuízo de serem objeto de comunicação,
mas com procedimento diferente. O problema é que um estado não aceita mas pode ficar vinculado
aos novos limites sem concordar, e não acontece com o protocolo porque aqui ratifica ou não ratifica,
adere ou não adere.
No caso de estarem em causa pedidos de indemnização não abrangidos por CV de vinculação
portuguesa, são os limites internos.
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Questão: a CB 1957 não foi revogada, e, olhando de novo para o art. 17º/4 da CB, a grande
questão é saber se esta convenção ainda está em vigor. Se um armador lesante e responsável pode
escolher por aplicar, uma vez que Portugal se encontra vinculado às 3 convenções, pode escolher a
que lhe der mais jeito.
Regente - não pode, a não ser com a aplicação do art. 17º, só se pode invocar essa, em
substituição, e não outra. Os estados que aderiram queriam substituir a anterior pela nova, e aqui é
assim, para haver segurança jurídica, devendo ser assim também no direito interno. Não pode ser
escolhido; o regime de limitação passou a ser o da LLMC a nível interno, a sobrevivência das CB é
possível, mas apenas nos termos do art. 17º/4.
Outra figura falada é a do agente de navegação (DL 202/98) - é diferente dos agentes
transitários porque estes são de todos os tipos de transporte, enquanto estes estão ligados ao transporte
marítimo e aéreo. Tipicamente, o transitário, está ligado ao transporte de várias matérias, mas a quem
é que o produtor recorre para o aconselhar e tratar da parte do transporte, deslocando a mercadoria e
condicionando-a, assim como armazenando-a em função da característica do bem? Este agente, que
escolhe os melhores armazéns e navios de transporte. Vai identificar um determinado navio como o
certo para a situação, e não trata com o navio nem armador, mas sim o representante do navegador, o
agente de navegação. Este agente de navegação está do lado do armador/transportador, enquanto
transitário presta serviços ao vendedor/expedidor.
O agente de navegação é definido no 1º f) para efeitos deste diploma - tem uma pluralidade de
funções. Mas o leque de funções do agente de navegação é mais reduzido do que o transitário (1º DL
384 com o 1º f) DL 202).
Importa vincar que o agente de navegação, conforme resulta do art. 9º, a sua atividade rege-se
pelas disposições legais aplicáveis ao mandato com representação e disposições respeitantes ao
contrato vigente (regime do DL 178/86). Os atos praticados pelo agente de navegação vinculam ou
repercutem-se na esfera jurídica do representado. O agente comercial pratica atos tipicamente
materiais, prestando serviços (angariação de clientela) - causa perplexidade que este art. remeta para o
regime do mandato de representação, porque esta só se dá em relação a atos jurídicos e não materiais.
Na agência é preciso haver a representação apenas quando são conferidos poderes. Como é que se
aplica então a agência subsidiariamente se está dissociada em termos essenciais da representação? A
resposta passa pelo conjunto de atividades que o agente de navegação pratica - DL 264/2002 - contém
o regime jurídico de acesso do agente de navegação. Depois existe o DL 295/1999 do regime jurídico
do agente transitário. O agente de navegação pratica atos tipicamente comerciais e angaria clientes
para o seu navio, fazendo sentido aplicar-se o regime da agência. Pode haver lugar à indemnização de
clientela pelo 33º.
--
Pontos de regime da LLMC e agente de navegação (com referência ao regime do DL 202/98)
Art. 28º DL 352/86 - admite a responsabilidade do navio fazendo um paralelo com o DL
202/98, mas aqui em sede específica de transporte marítimo de mercadorias - refere situações
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subsidiárias, de exceção, em que há responsabilidade do navio. Nessa situação, em que o navio possa
ser responsabilizado, é atribuída personalidade judiciária ao navio.
Facto de o agente de navegação ser considerado um representante - no nosso sistema jurídico,
a representação está associada à prática de atos jurídicos, e isto liga-se ao núcleo essencial da atividade
do agente de navegação, a prática de atos jurídicos - perplexidade relativa à parte final do art. 9º,
quando diz, supletivamente, que se aplica o contrato de agência.
O núcleo essencial da atividade do agente comercial, nos termos do DL 78/96 é a prática de
atos materiais e não jurídicos. O art. 9º, à primeira vista, aplica o regime da representação, e em termos
subsidiários um regime que não tem a representação - têm de ser conferidos poderes para haver
representação, não é natural do regime.
DL 264/2012 - no conjunto de atividades do agente de navegação está também a angariação de
clientes. Na alínea b) do art. 3º, sobre a atividade do agente de navegação, há uma atividade de
angariação - nessa medida, compreende-se que se possa aplicar estritamente o regime da agência
comercial. Existe a eventual consequência de encontrar situações de indemnização de clientela (art.
33º DL 78/86).
Quanto ao DL 264/2012, temos um excelente exemplo de má publicação de diploma - cheio de
erros de composição e ortografia.
No seu núcleo central, caracteriza o que é o agente de navegação e o que faz tipicamente, assim
como é que se pode licenciar essa atividade (em que termos e os seus requisitos).
Art. 3º - atividade do agente de navegação - abrange a prática de vários atos; “por conta”
quer dizer por ordem, mas refere os dois. No seu círculo de atividade parece que tem um leque de
funções e poderes amplos; o que importa vincar, no entanto, é que há aqui questões de muita
responsabilidade, de saber quem vincula quem, sendo um problema dos agentes - o agente representa
a pessoa, a entidade por conta de quem ou para quem atua ou não? Se tiver poderes de representação,
sim, se não tiver, não - temos de ver se tem ou não poderes resultantes de uma procuração ou conferidos
por instrumento contratual - não podemos prescindir de saber se atua em concreto ou não com poderes.
O problema dos agentes assume foros noutros agentes, os agentes alfandegários - é uma figura
que tem cada vez mais interesse (pós-Brexit) para as situações de trânsito de mercadorias com países
fora da UE - fazem-no em nome dos importadores, em nome próprio, apesar de ser por conta? O
diploma em causa vai ao ponto de falar em representação indireta, sendo uma linguagem do código de
seabra (indireta seria um mandato sem representação). A importante dos agentes é grande, e as
questões de responsabilidade que podemos associar a estas figuras são muito importantes.
Art. 4º - direitos do agente de navegação - caracteriza-se o contrato como contrato de
mandato, com ou sem representação.
Depois o diploma refere os requisitos de exercício, registo da atividade, etc (consequências do
exercício da atividade sem autorização).
Questão: é mesmo necessário o transportador ou armador ter um agente de navegação no porto,
não pode exercer diretamente estas atividades? Sim, pode ter ele próprio um empregado em vez de
recorrer a um agente, ou um escritório, mas tal não é frequente. Pode ser exercida diretamente pelos
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armadores ou transportadores marítimos na sua sede social, havendo essa limitação (tem de ser o porto
da sua sede social).
Pode ser responsabilizado por atos ou omissões do seu cliente, concretamente? Por exemplo,
taxas portuárias devidas pelo armador do porto. O agente de navegação pode dizer que é apenas um
representante e quem ficou a dever foi o armador. É difícil ver sempre quem é responsável, por
exemplo em termos de responsabilidade civil.
Quanto às taxas, a resposta é colocada de forma difícil no art. 5º, quando, a propósito dos
deveres do agente de navegação.
Relacionada com isto é a questão da garantia financeira a favor da autoridade portuária -
dever de prestar garantia financeira para segurança dessa responsabilidade. Art. 5º/2 - garantia
financeira para assegurar o pagamento dos serviços prestados (relaciona-se com a previsão da alínea
c) do nº4) - o agente de navegação é responsável pelos atos que pratica; para assegurar o pagamento
de assunção de danos causados a clientes ou terceiros na sua atividade, presta-se a garantia a favor da
autoridade, sendo algo que não faz muito sentido.
Há um cliente que sofre danos em consequência de má atuação do agente de navegação -
responsabilidade civil - seguro marítimo - mas quem é o beneficiário do seguro? A autoridade portuária
- esta é beneficiária do seguro, e é ela que pode acionar o seguro/garantia financeira - como é que a
autoridade pode acioná-la por danos sofridos por terceiros e não por ela própria?
Agente transitário
O transitário tem grande importância na atividade dos transportes, não apenas marítima ou
portuária; o transitário é um “arquiteto dos transportes”, a propósito da multiplicidade de funções.
A sua atividade é regulada no DL 255/99, que afirma que se aplica ao acesso ao exercício da
atividade, e define-a (controlo e direção relacionada com as atividades de expedição).
Podemos ter, imaginando uma situação comum, um caso de compra e venda internacional de
mercadorias com transporte marítimo de mercadorias - o vendedor ou exportador da mercadoria é
quem costuma recorrer ao transitário, sendo quem tem de meter a mercadoria a bordo do navio, mas
nem sempre, pode acontecer que seja a mercadoria comprada em termos de ser entregue na própria
fábrica. A entrega da mercadoria e a transferência do risco é na fábrica ou armazém do vendedor; quem
tem de tratar do transporte é o comprador, que irá muito provavelmente socorrer-se de um transitário,
que vai estruturar e organizar o transporte, e eventualmente conjugando com a necessidade de
armazenar a mercadoria nalgum sítio + documentos alfandegários, etc.
O núcleo de atividade do transitário clássico é encontrar um transportador para deslocar a
mercadoria de um lugar para o outro; no nosso caso, supondo que o vendedor, disponível para entregar
a mercadoria no porto, só quer que o transitário encontre um bom transportador marítimo, e a entrega
76
da mercadoria deve ser feita a bordo do navio, sendo aí que está o risco. Para este efeito, contrata o
transitário, que encontra o transportador que, em função da especificidade da mercadoria e contrato de
compra e venda celebrado entre o cliente e o terceiro, é aquele navio e rota que servem melhor os
interesses do seu cliente, tendo em conta as qualidades técnicas do navio, etc.
O transitário era tradicionalmente comissário dos transportes (francês), que celebra contratos
em nome próprio, mas por conta de um cliente, como acontece na figura do comissário do CCom
(mandato sem representação); mas também pode encontrar apenas um transportador e indica ao seu
cliente, ou ele próprio tem poderes para celebrar o contrato em nome do vendedor-carregador.
Há várias situações, mas sempre a importância de saber como atuam, com que poderes e
função, dado que isso depois dita as questões das responsabilidades, e a quem imputar os danos.
Exemplo: vamos supor que o transitário desempenhou bem a sua função e encontrou um
excelente transportador para aquela carga, tendo o navio apenas um porto de escala (sem perturbações
de viagem), e a dada prevista para chegada ao porto é confortável dentro dos prazos do contrato de
compra e venda celebrado; vamos supor que a mercadoria era azeite e chega como vinagre ao destino,
porque o transportador se esqueceu que o azeite não podia ir no azeite, tinha de ir no porão a dada
temperatura, que foi ultrapassada. Quem responde perante quem?
- O destinatário pode responsabilizar o transportador, porque, de acordo com o contrato de
transporte, a mercadoria deve ser entregue em bom estado no porto de destino - se
anteriormente não foi feita reserva feita à mercadoria, responde perante o destinatário ou
perante o carregador-vendedor;
- Pode acontecer que o carregador não tenha vendido ainda o azeite mas leva-o já para o destino,
e quando chega lá, o carregador vê que o azeite ficou em mau estado, e pretende responsabilizar
o transportador no âmbito do contrato de transporte, mas coloca-se a questão de poder
responsabilizar o transitário, porque não lidou diretamente com a companhia do transporte, o
transitário sim. O transitário aqui é garante porque escolheu o garante? - responsabilidade del
credere do agente comercial (regime da agência); no caso do comissário, no CCom, responde
se foi convencionado ou resulta dos usos comerciais, no caso do art. 10º da agência, só responde
com convenção nesse sentido. No caso do transitário, é um caso de del credere legal,
responde porque a lei obrigada (art. 15º). Respondem pelo incumprimento de obrigações de
terceiro perante o seu cliente porque é ele que está próximo dos terceiros - aumenta a diligência
para contratarem transportadores de referência e de confiança. Vai responder nos termos em
que o transportador responde, porque também não pode ser mais prejudicado do que o
transportador. Art. 15º/2 - se o transportador invoca limitação de responsabilidade, o transitário
também pode, etc. Isto afasta-se do regime da comissão do CCom e do regime da agência
comercial.
Quanto ao prazo para exercício de ação contra o transitário, o art. 16º dispõe que prescreve no
prazo de 10 meses a contar da conclusão da prestação de serviço contratada - prazo de prescrição. Nos
termos gerais do CC, opera regra geral o prazo de caducidade para exercício de direitos, a não ser que
a lei expressamente indique que é de prescrição.
77
O prazo, pelo menos no que respeita às situações de responsabilidade del credere, de 10 meses
de prescrição, não faz sentido - a responsabilidade do transitário devia acompanhar naturalmente o
prazo de responsabilidade do transportador. O prazo, de acordo com o DL 356, é de 2 anos. Devia
responder no prazo ou nos termos do transportador (crítica Regente).
No entanto, pode-se fazer uma interpretação restritiva do art. 16º, em que o prazo de 10 meses
só se aplicaria aos factos do 15º/1, mas é difícil de se fazer.
As empresas transitárias e o que respeita ao transporte de serviços pode ser feita por
instrumento contratual específico ou cláusulas contratuais gerais das empresas - isto existe porque são
diplomas pensados para um setor de atividade, são normas ou disposições legais que se limitam a
chamar à atenção para algo que já resulta de outra fonte normativa.
O transitário é, na atualidade, uma gente fundamental de direito dos transportes, e quando
falamos em transporte multimodal, acresce a importância dos transitários, porque a lógica
internacional está pensada em uma convenção para cada modo de transporte - se as regras de amsterdão
de 2009 não entram ainda em vigor, pensadas na lógica multimodal, até lá é um modo para cada
convenção. Quem é que celebra estes contratos? São os transitários, e depois subcontratam para o
modo rodoviário, marítimo, etc. Assumem-se como uma figura incontornável no direito dos
transportes.
Pilotos
Saber quais são as responsabilidades que podem ser imputadas ao piloto, em função do estatuto do
piloto e da circunstância de termos várias referências ao longo da legislação marítima a membros da
tripulação e a pilotos.
No quadro legal atual, a tripulação releva para que efeitos? - podemos destacar o facto de esta matéria
se cruzar com o direito marítimo laboral. O princípio está no art. 1º do DL 384, em que se trata do
conjunto de todos os marítimos para exercer a bordo. Há legislação específica sobre os termos dos
contratos e exigências administrativas. O capitão, dentro da tripulação, a categoria mais elevada do
escalão dos oficiais é o capitão do navio, por força do art. 3º DL 384, e 3º 202/98.
O piloto tem um estatuto ambíguo, híbrido - art. 4º DL 202/98, o armador, que seja simultaneamente
proprietário do navio, responde pelos danos, e depois diz, na alínea b), dos pilotos ou práticos a bordo,
ainda que seja imposto por lei, regulamento ou uso. O piloto é também, quer seja pilotagem obrigatória
ou facultativa, o piloto é o comissário do armador - DL 48/2002 - serviço de pilotagem.
Art. 4º e 5º DL 202 - por exemplo, para entrada nos portos - o piloto sobe a bordo para escadas lançadas.
O armador responde pelos atos do piloto, aplicando-se uma lógica de relação entre comitente e
comissário. A importância dos pilotos vem de há muito tempo e é de grande relevo; ao estudar a
abalroação referiu-se o 662º CCom - está desatualizado porque o centro da responsabilidade não é do
capitão mas sim do armador.
78
Acentua-se a lógica tradicional, não na relação de capitão-piloto, mas sim armador-piloto (202/98).
No 384/99 o piloto é um assessor do capitão, o que não afeta a responsabilidade. O piloto é uma espécie
de consultor ou assessor do capitão, quando o piloto dá uma indicação ao capitão do navio, quem
assume as responsabilidades desse ato perante terceiros é o capitão - e voltamos ao 202/98, em que o
piloto estaria fora nesta lógica do art. 7º 384/99.
Num 2º momento é que o armador poderia exigir responsabilidade ao piloto nos termos gerais de
direito.
Não significa que a entidade pública que nomeou o piloto não possa ser responsabilizada - regime da
pilotagem obrigatória - referência ao serviço público de pilotagem, quem exerce as funções -
corporação que nomeia o piloto, podendo essa entidade ser responsabilizada, não havendo razões em
contrário. A administração portuária que indicou um piloto para assessorar o navio, mas não atendeu
às especificidades do navio, pode ser responsabilizada, nos termos gerais de direito.
E quanto aos pilotos eles próprios? - não podemos deixar de atribuir o relevo que tem de ser dado em
função dos pilotos obrigatórios serem funcionários públicos e, nessa medida, para efeitos de
responsabilidade, temos de aplicar a L 67/2007, de responsabilidade do Estado e demais entidades
públicas (posição do regente diferente da do livro sobre limitação).
Temos de tomar em conta se estarmos neste quadro legislativo - atos de gestão privada e pública (501º
- os de gestão pública passa para a lei 67). Se não for uma pilotagem obrigatória, não aplicamos o seu
diploma nem o da responsabilidade do Estado. Aplica-se apenas um regime de direito privado,
funcionando a lógica de comissão dos arts. 4º e 5º DL 202/98 e 500º CC. Se tivermos um piloto
facultativo que funcione como simples assessor, e não como alguém que manobra efetivamente o navio
(diferente de dar meras indicações porque faz mesmo manobras), temos de aplicar o art. 7º do 384/99.
Para o exercício de atividades administrativas, tem-se um regime diferente do civil, no art. 500º. A
responsabilidade do comissário é um pressuposto objetivo da do comitente, e, a partir daí, é solidária.
A maioria da doutrina considera que a responsabilidade do comissário é subjetiva, mas o entendimento
mais recente diz que, seja a que título for, havendo relação de comissão, pode-se imputar.
Supondo que há uma atuação negligente do comissário nos termos do regime civil, há responsabilidade
civil do comissário, e pode ser responsabilizado o comitente, pelo art. 500º CC. Mas se estivermos no
âmbito de aplicação da L 67 não é assim: apesar de o regime base ser o da comissão, o Estado e demais
entidades são responsáveis por atos cometidos por culpa leve pelos funcionários no exercício da função
administrativa e por causa desse exercício - o Estado é o único que responde quando haja culpa leve
pelo comissário, mas não é assim no regime civil (art. 8º), afastando-se também do 4º e 5º do DL 384.
CLC e CBankas
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- Apenas de imputação - CB 1910
- Apenas de limitação - LLMC
- Mista - CB 1924 - imputa a responsabilidade (perda ou dano de mercadoria), mas, no mesmo
passo, prevê a limitação de responsabilidade
A CLC e CBankas estabelecem relações com o direito marítimo ambiental - a CLC tem de ser
articulada com outra, a FIPOL.
Falamos na CLC 92 porque começou por ser de 1969, e depois houve um protocolo de 1992 - civil
liability convention. Fenómeno semelhante ao que vimos na LLMC (76-96).
A CLC nasce na sequência dos grandes desastres com petroleiros, navios que provocaram catástrofes
nos mares e costas. Em virtude da sua insuficiência, evoluiu com o protocolo de 1992 - os instrumentos
internacionais que existiam até 1969 eram insuficientes e inadequados para resolver o problema dos
danos provocados por poluição, na sequência do transporte de mercadoria, e, para sancionar quem, de
forma direta ou indireta os provocasse, e para compensar os lesados.
No entanto, à data existia a CB 1957 sobre limitação de responsabilidade, que é uma convenção apenas
de limitação - é o que faz a CLC e mais tarde a CBankas imputar responsabilidades relativamente a
danos provocados por hidrocarbonetos, sobretudo os transportados por petroleiros, grandes navios de
transporte de mercadorias. Banker oil convention - visa também imputar, assim como limitar, a
responsabilidade por danos provocados em combustíveis de navios.
02.05.2022
Termos CIF
No transporte marítimo de mercadorias, deve-se referir a sua história:
Séc. XIX - período do liberalismo - liberdade contratual e direito de propriedade - responsabilidade
ius receptum - tem de entregar a mercadoria nos mesmos termos em que a recebeu - sistema de
responsabilidade intensa pelo transportador, porque este é uma espécie de depositário ou segurador,
porque garante ao carregador que a mercadoria que lhe é entregue para transporte será entregue no
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local de destino incólume - responde pela mercadoria tal qual a recebeu. O regime supletivo legal era
facilmente ultrapassado por cláusulas dos armadores nos contratos de transporte - aqueles que não
tinham armamento estavam sujeitos às contingências de exclusão da responsabilidade (liberdade
contratual).
Final do séc. XIX - EUA - afirmavam-se como potência agrícola (cereais) - lei harder - condições de
transporte americano que visavam reagir contra os excessos da liberdade contratual, impondo um
equilíbrio entre interesses dos transportadores e carregadores - distinção entre falta náutica e comercial,
sendo os transportadores sempre responsáveis e responderia por qualquer falta comercial - se a
mercadoria chega estragada são faltas comerciais, se estivéssemos perante faltas náuticas, no entanto,
permite-se uma atenuação da responsabilidade.
Exemplo - A navio culpado da abalroação - o navio A responde por todos os danos, quer da carga e
pessoas no navio, quer relativamente aos danos provocados a terceiro. Relativamente à carga
transportada no navio abalroador culpado, como há contrato de transporte, vê-se o seu regime, e o
transportador pode excluir a sua responsabilidade na medida em que foi falta náutica, como negligência
do capitão, caso em que não responde.
Grande diferenciação entre falta náutica e falta comercial - o equilíbrio passa por o transportador ter
de ter o navio em bom estado de navegabilidade e responde por todas as faltas comerciais, mas não
por faltas náuticas. Para além disso, veio prever um conjunto de causas de exclusão de
responsabilidade, que permitem ao transportador excluir a sua responsabilidade. Era uma lei americana
e não convenção internacional, mas pelo peso dos EUA e firmeza de aplicação dos seus tribunais, a lei
harder acabou por ter um raio mais amplo, para além do seu perímetro de aplicação - consideram-se
essas normas e esse regime, para determinados efeitos e em determinados termos:
● No princípio do séc. XX, na cidade de Haia (Holanda), com forte inspiração no harder act,
foram elaboradas regras de soft law para contratos de transporte marítimo de mercadorias,
sempre que os transportadores e carregadores incorporassem essas regras nos seus
conhecimentos de carga. Eram soft law, mas tiveram um impacto tão grande que em 1924 se
assinou uma CB de transporte de mercadorias que adota basicamente o texto das regras da Haia
de soft law, mas agora com uma natureza diferente, porque é uma convenção internacional. É
designada, por isso, como regras da Haia - tem na sua base ou origem regras de soft law
formadas/construídas tendo por referência as regras de Haia e consequentemente o hard act.
81
O carregador entrega a mercadoria ao transportador, o qual emite o BL, que tem o valor de recibo, o
que significa que declara que recebeu a mercadoria em certos termos:
● Nos termos declarados pelo próprio carregador, que emite uma declaração de vontade com
qualidade e características da mercadoria - o transportador recebe e, ou faz uma declaração
concordando ou emite ele próprio um BL, que, em princípio, acompanhará os dizeres da
declaração do próprio carregador, até por remissão
O BL é fundamental devido à figura das reservas, falada mais adiante - vamos supor que o carregador
leva 10 contentores com azeitona, mas o transportador só conta 9 - declara isso - o reconhecimento de
carga pode ser negociado por ser um título de crédito, e estão-se a negociar os direitos sobre
mercadorias - quando o transportador chega ao destino, quem exige os 10 contentores é o senhor que
entretanto os comprou, que circulou de acordo com a lei do título - quem exige a entrega da mercadoria
no porto de destino? Aquele a quem, de acordo com a lei de circulação do título, foi atribuído. Mas o
transportador só recebeu 9 e tem prova disso, mas, apesar disso, não fez uma reserva, indo então
responder pelos 10 contentores na lógica dos títulos de crédito, porque há um terceiro de boa fé que
recebeu os direitos do título.
Tratando-se de uma CV, é importante ver o seu perímetro de aplicação - transporte port to port de
mercadorias, e não de passageiros. Também transporte titulado por BL ou documento equivalente.
Esta convenção e regime estão associados ao transporte regular, de linha - fica-se a saber a rota mais
adequada, navio, etc - por ser o transporte de linha regular tem a seu favor razões de interesse público
e comércio internacional. Está então associada, no seu regime e compromissos, ao transporte de linha
- alguém toma fretamento do navio ou parte, para transportar mercadorias.
É um regime tendencialmente imperativo porque não é 2 way mandatory, mas 1 way mandatory - não
é imperativo para os 2 lados, mas é imperativo 1 way mandatory, sendo possível alterar o regime da
convenção quando tal se torne mais benéfico para a carga - se for desfavorável à carga, essas cláusulas
apostas no BL são nulas.
Art. 3º/8 CB 1924 - se se convencionar, por exemplo, que o transportador não pode excluir a sua
responsabilidade em caso de falta náutica, essa cláusula será válida, porque o regime da convenção
permite ao transportador excluir a sua responsabilidade excluir a falta náutica. Se no BL consta que o
transportador afinal não pode excluí-la, isso favorece a carga, logo a cláusula é válida.
Se, em situação diferente, se prevê que a pode excluir nas situações do art. 4º, mas também noutras,
será nula, porque desfavorece a posição do carregador. É uma convenção de compromisso de interesses
dos carregadores e transportadores, assim como entre países.
82
É uma convenção cujo perímetro de aplicação é definido por ela mesma, o que é importante, porque
tem havido uma tentação de direitos internos de interpretar a própria convenção, mas isso não pode
ser feito - tem de se saber interpretar globalmente a convenção para determinar quando é aplicável. Se
não for aplicável o direito uniforme internacional, temos de entrar em consideração com uma
multiplicidade de diplomas, e podemos chegar à conclusão de que não se aplica o direito português.
Quando surge, tem um boom de aplicação e de adesões/ratificações - a navegação e comércio mudou,
o que explica porque é que a CV não é em princípio aplicável a mercadoria no convés do navio, porque
esta está sujeita aos efeitos atmosféricos, e também se deu o aparecimento de contentores, que alterou
todo o processo.
Dúvidas geradas em relação a preceitos da convenção - alteram-se alguns artigos e alteram-se outros -
os Estados que ratificaram este protocolo de Visby começaram a designar como Regras da Haia Visby.
Em 1979 surge outro protocolo, SDR, que altera mais artigos - Portugal não ratificou nenhum destes
protocolos.
Exemplo: transporte de mercadoria entre Lisboa e Santos - é um transporte marítimo internacional,
sem dúvida, mas se for entre Portugal é transporte interno - aplica-se ou não a convenção?
● Se estamos vinculados à convenção pelo 8º CRP pode acontecer que esta se aplique mesmo
internamente - art. 10º CB - o reconhecimento de carga foi criado dentro do país, por isso
poderia aplicar-se. No entanto, isto é uma discussão doutrinária e jurisprudencial desde o início
da aplicação - não obstante o art. 10º, deveria ou não ser aplicada?
○ A convenção é aplicável ao transporte internacional de mercadorias - mas isto é para
quem se vinculou ao protocolo, e Portugal não está, aplicando-se a redação anterior - o
Regente não considera bem assim, porque quando interpretamos o 10º temos de
considerar o facto de este ter sido objeto de alteração - não se aplica a nova redação
diretamente, mas temos de a tomar em conta quando interpretamos (sombra normativa
do Protocolo de Visby - não estamos vinculados mas temos de considerar o seu regime,
sobretudo em matérias interpretativas e que fazem parte do sistema geral do transporte;
não no caso de matérias novas, no entanto).
Entretanto esta convenção sofreu pressão internacional para ser substituída por uma nova convenção
dos países em desenvolvimento que sustentam que as regras da Haia eram demasiado simpatizantes
com os transportadores (discussão armamento vs carga), nascendo as Regras de Hamburgo de 1978.
04.05.2022
Transporte marítimo de mercadorias em termos internacionais - evolução legislativa - soft law e
convenções internacionais
O regime que encontramos na CB 1924 é um regime que resulta de um compromisso de interesses de
operadores, entre transportadores e carregadores, mas também de países de compromissos económico-
políticos - essa disputa entre operadores, países e sistemas continua a existir na atualidade - disputa de
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interesses geo estratégicos entre zonas do globo e operadores diferentes (polémicas à volta das regras
de roterdão).
Convenção simultaneamente unimodal (door to door) e multimodal na medida em que será aplicável
se e na medida um segmento marítimo internacional.
A CB 1924 foi difícil de fazer no sentido em que foi aparentemente fácil mas com peso dos EUA e
armadores europeus. Também ficou claro que é uma convenção com regime imperativo unidirecional
(1 way mandatory), porque sempre que haja cláusulas com reconhecimento de cargas que sejam
desfavoráveis à carga, carregadores ou destinatários de mercadorias, são nulas - 8º/3 CB.
Mas se forem cláusulas favorávies à carga, são válidas - é uma convenção imperativa, mas
imperatividade unidirecional.
Está estruturada com base na existência de um BL ou documento equivalente - a importância do BL,
embora a matéria dos títulos de crédito não tenha o apogeu que já teve, a verdade é que a estrutura
destes títulos é importante para conhecer o BL, as suas vicissitudes e especificidades - funciona como
o título de crédito que representa a mercadoria - é possível negociar direitos sobre mercadoria, o que
torna muito importante esse instrumento - a importância foi crescendo à medida da aceleração do
transporte, mas continua a ser forte.
É aplicável ao transporte de linha regular - operador, transportador, etc que sabe de antemão,
recorrendo aos especialistas de transporte, os navios que tocam os portos, as rotas e características -
sistema de comércio internacional muito importante presente no background da convenção - isto
explica a natureza imperativa. Isto não quer dizer que não possam ser transportadas mercadorias fora
desse regime, mas não com base em BL, mas sim um documento diferente, a carta partida, que obedece
ao princípio da liberdade contratual.
Esta diferença expressa-se em 2 decretos diferentes - DL 352/86 (transporte marítimo de mercadorias)
e 191/87 (fretamento) - no pólo de legislação dos anos 80, temos esses 2 diplomas, inspirados no
regime de legislação francesa em que temos o regime para o transporte marítimo de mercadorias e um
para o fretamento de navios nas suas diversas modalidades.
Termos estes 2 documentos não significa que não possa suceder em concreto um concurso entre os 2
documentos - a convenção, no art. 1º, e o DL de 86 são claros distinguindo consoante os intervenientes.
Se foi emitido um BL, que circulou e foram negociados os direitos sobre a carga que estão expressos,
o portador legítimo do BL não pode ver ser oposto um outro qualquer contrato, de fretamento, a que
ele é completamente alheio. Relativamente a este portador, em situação de concurso, o que prevalece
é o BL - os títulos de crédito funcionam assim relativamente a terceiros de boa fé e cuja posição merece
ser protegida, aplicando-se o regime do BL.
Questão da evolução do regime - a convenção desatualizou-se, atualizando-a através de 2 protocolos,
o de Visby (1968) e SDR (1979) - o SDR vem alterar o modo de cálculo do limite máximo de
indemnização, que antes tinha por referências moedas e passou a ter por referência as unidades de
conta - o mais importante é o de Visby, e a maioria dos países que se vincularam também o fizeram de
acordo com o de Visby, mas nem por isso estamos dispensados de estudar o de Visby, apesar de não
podermos dizer que estamos vinculados em termos normativos, no entanto temos necessariamente de
considerar o regime de Visby pelo menos nalguns pontos centrais.
84
Sistema próprio de responsabilidade - importam os pontos 6 a 9 do livro - sombra normativa do
protocolo de Visby - parametriza os conceitos e no interior do seu regime delimita-se o perímetro
aplicativo pela própria aplicação - interpreta-se a convenção de modo a ver a que situações se aplica.
Art. 10º - a convenção é aplicável a todo o conhecimento de carga criado num dos estados contratantes.
● Exemplo: carga carregada em Lisboa com destino aos Açores - o BL é emitido num estado
contratante - aplica-se diretamente a CB 1924? Dúvida face ao art. 10º - há um entedimento
maioritário no sentido negativo, devendo ser apenas quanto ao transporte internacional, e o
protocolo aceitou isso e alterou o art. 10º, deixando claro que a convenção, concretamente as
regras de haia visby são aplicáveis ao transporte marítimo internacional, porto a porto, em
função dos portos, independentemente da nacionalidade do navio e do armador, aplicando-se
a convenção.
○ Não podemos aplicar o art. 10º diretamente mas não podemos desconsiderar a nova
redação, tendo de a considerar para, na interpretação que fazemos do art. 10º, tomar
como elemento interpretativo, o facto de o protocolo ter optado por alterar a redação,
daí o conceito sombra normativa, não se aplica em termos diretos.
Reservas e BL - sendo um título de crédito, os terceiros que celebram com base nele confiam no que
o BL diz - por vezes há situações em que o transportador emite o BL à ordem do operador em causa
mas aparece outra pessoa - o BL pode ser negociado através de endosso, e quando surge alguém no
porto de destino, exibindo o título, tem de entregar a mercadoria - dinâmica dos conhecimentos de
transporte.
O BL circula e suscita confiança nos termos dos respetivos dizeres, sendo a lógica dos títulos de crédito
- fala-se do princípio da literalidade - o que conta é o que consta do título. Art. 26º DL 352 -
indemnização pelos prejuízos se tiver problemas no porto de destino.
O transportador, emitindo o conhecimento de carga, responsabiliza-se nos termos em que ele é
declarado e lá está, não pode depois, perante um terceiro de boa fé - a partir do momento em que o
título circula para além das relações transportador - carregador o terceiro não pode ser prejudicado,
mesmo que seja feita prova de que afinal não recebeu mercadorias na quantidade/qualidade que
descreveu - BL sujo - é sujo quando tem reservas.
● O transportador diz que o carregador entregou 10 contentores mas só estão lá 9 - é um problema
na negociação, eventual recurso ao crédito - para evitar isto há o recurso com frequência às
cartas de garantia, mas que não são oponíveis pelo transportador ao terceiro de boa fé
● Art. 3º/4 - o conhecimento constitui presunção salvo prova em contrário da receção das
mercadorias conforme o parágrafo 3 a) b) e c)
● Protocolo de visby - a prova de contrário não pode ser feita por terceiro de boa fé - em termos
normativos não podemos aplicar mas podemos invocar em termos de invocar em termos de
interpretação da norma
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Modo de estruturação das responsabilidades no transporte com base nas Regras de Haia:
À partida é esse o regime que vem desde 1924, e mesmo desde o harder act americano - temos um
sistema em que se responsabiliza o transportador numa lógica de responsabilidade ex receptum, ou
seja, o transportador responde pela mercadoria tal qual a recebeu - é como se fosse uma espécie de
depositário da mercadoria.
Princípio - havendo perda da mercadoria, o transportador responde - há uma presunção de
responsabilidade, e a dúvida é saber se é de responsabilidade ou de culpa (Regente - mista).
Quando há perda ou dano da mercadoria - neste caso, responde pela mercadoria. A própria CB admite
que o transportador possa excluir a sua responsabilidade nalgumas situações - art. 4º.
2 artigos fundamentais para a responsabilidade - arts. 3º e 4º - o art. 3º é a favor do carregador e o 4º a
favor do transportador, tendencialmente. O 4º atribui causas de exclusão à responsabilidade do
transportador - a mais famosa é a falta náutica.
Diferença entre falta náutica e falta comercial - no sentido em que o transportador não responde por
falta náutica, mas por falta comercial (equilíbrio das regras de haia).
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Quando falamos do sistema de responsabilidade do transportador temos várias fases:
1. Presunção de responsabilidade do transportador
2. Possibilidade de exclusão de responsabilidade do transportador - se o conseguir, a questão
acaba aqui, não havendo responsabilidade mas sim suportação (se for celebrado um contrato
de seguro a sua lógica funciona, mas a companhia não adquire melhor posição do que a do
segurado, porque fica subrogada na posição do segurado e continua sem ter pretensão
indemnizatória), mas admitindo que o transportador não a exclui, então é responsável e
confirma-se, de facto, a presunção da 1ª fase
3. Limitação da responsabilidade - possibilidade que é dada na convenção ao transportador de
limitar a sua responsabilidade nos termos previstos no art. 4º/5 - DL 352/86 aprofunda este
aspeto no art. 24º, sobre os volumes ou unidades de carga
a. Exemplo: situação em que a mercadoria é distribuída e perde-se e o transportador
reconhece a sua responsabilidade pretendendo limitada - qual é o montante? - 4º/5 -
importância do descrito no BL - o volume ou unidade tem sempre por referência essas
descrições, sem elas tudo é volume ou unidade e o montante pode ser irrisório - é
limitabilidade e não limitação porque tem de ser invocada, é um ónus do transportador,
não pode ser automático
b. O transportador nunca é responsável acima de x de unidade - mas isto acontece mesmo
com dolo ou negligência grosseira? - faute inexcusable (França) - há faltas que não têm
desculpa - figura da LLMC da perda do direito à limitação do art. 4º - as regras de haia,
no texto original que nos vincula, não prevêem esta hipótese, foi acrescentada pelo
protocolo de visby - a questão está em saber se, na fórmula de visby, cabe também a
culpa consciente (Regente - sim, e sendo a culpa em sentido ético e não psicológico,
cabe a negligência grosseira, em que não previu mas devia enquanto transportador);
c. Esta perda do direito é reconhecida como medida que integra o atual sistema do direito
dos transportes, sendo o protocolo mesmo assim aplicável - a limitação e direito à sua
perda está em todas as convenções e, nessa medida, não obstante a redação do texto
original da convenção, podemos sustentar a perda do direito à limitação sempre que o
agente tem um comportamento antijurídico, e no limite podemos invocar o abuso de
direito. O que resulta das opções do legislador é, na responsabilidade e sistema civil, a
responsabilidade por todos os danos e a limitação excecional, por isso se o
comportamento for lesivo não pode invocar;
d. Concurso entre responsabilidade obrigacional e extraobrigacional - o lesado, invocando
que houve uma ofensa do seu direito, pode desconsiderar o contrato e alijá-lo,
invocando o 483º CC? - Regente - não é possível, independentemente do regime geral
nesta matéria civil - no quadro dos transportes e internacional tem-se um equilíbrio já
por si complexo, e as convenções mais recentes recusam-no expressamente (exemplo -
CMR dos anos 60 sobre o transporte rodoviário de mercadorias)
09.05.2022
Sistema de responsabilidade eventual do transportador de mercadorias marítimas - evolução
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Países em desenvolvimento - decidiram que era necessário suscitar questões de novo, fazendo aprovar
as regras de hamburgo (1968) - transporte marítimo de mercadorias.
Contém um sistema que ilumina a diferenciação entre a falta náutica e falta comercial - a convenção
entrou em vigor, mas os países que são parte têm pouca expressão em termos marítimos.
Isto demonstra a questão do equilíbrio de interesses presentes - países entre operadores diferentes, e
também entre países, regiões e zonas em estados de desenvolvimento diferentes.
Em 2009 voltou-se a colocar a questão com uma nova convenção - as regras de roterdão:
● Simultaneamente port to port e door to door (modo de transporte marítimo) - até agora as
convenções só se aplicavam à primeira.
1 regime de responsabilidade apenas - cada um destes modos tem regimes diferentes e tipos de
documentos fundamentais - a lógica da convenção de genebra de 1980 era disciplinar o transporte door
to door - mas não entrou em vigor porque apareceu cedo de mais e trata todos os modos por igual (trata
do mesmo modo a situação em que a mercadoria percorre o modo terrestre e ferroviário, assim como
a marítima internacional e rodoviária). O modo marítimo é predominante em termos de valores
envolvidos, etc - deste modo, por essa razão, sobre a égide da comissão da ONU de comércio
internacional, em colaboração com o comité marítimo, deu-se uma nova convenção aprovada em 2009
em Roterdão (assinatura).
Regula o transporte marítimo internacional de mercadorias total ou parcialmente por mar - desde que
seja umt transporte marítimo internacional pode ser port to port ou door to door - procura introduzir
disciplina na confusão em termos internacionais. Só que visa também disciplinar o transporte porta a
porta, desde que tenha um segmento marítimo internacional - o peso marítimo está muito presente
nesta convenção.
É uma convenção tecnicamente bem feita, mais complexa do que as outras, porque visa disciplinar não
apenas um tipo de transporte, mas sim o transporte multimodal, preocupando-se com mais sujeitos, a
situação dos portos, os auxiliares. Os documentos eletrónicos de transporte são uma realidade muito
atual e também está abrangida.
Atende à específicidade do transporte marítimo internacional, porque considera as particularidades do
multimodal, porque atende aos vários intervenientes na operação de transporte, porque introduz um
regime novo para os documentos de transporte, quer comuns quer eletrónicos, etc. Por isto, é
necessária.
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Países de carga, sendo um cenário semelhante ao hard act - sobretudo países sul-americanos e da
américa central, sobretudo de carga, que vieram colocar dúvidas e reservas a esta convenção,
sustentando que põe em perigo, na medida em que exprime o princípio da liberdade contratual, a
posição dos carregadores.
Contrato de volume (regras de roterdão) - contrato que disciplina o transporte de mercadorias por
volume, ou seja, entre um determinado operador e uma companhia de navegação, convenciona-se que
esta transportará x toneladas e cereais - temos um género e a obrigação que é assumida é transportar
parte desse género, transportando ao longo de um dado período de tempo - isto permitiria aos
transportadores introduzir cláusulas de exclusão de responsabilidade, limitação, etc, uma vez que tem
um regime especial mais livre dentro das regras de roterdão.
Companhias de transitários - operadores que não têm navios.
Quem assume contratualmente o dever de transportar são os transitários - relações do transitário com
o especialista de transporte e relações sobre quem recorre para o transporte.
Na relação entre o transporte e a carga, temos um único operador, regime de responsabilidade e
documento, o que facilita e torna as regras de roterdão importantes - a mercadoria percorre na mesma
diversos segmentos (rodoviário, aéreo, etc) e aí podemos ter problemas específicos que são em
princípio resolvidos e assumidos na relação entre os transitários e quem de facto recorre.
● Transportador contratual: celebra o contrato
● Transportador de facto: são normalmente sub transportadores
Incoterms
Instrumento de soft law - regras da câmara de comércio internacional - instrumento para normativo
essencial no transporte marítimo internacional de mercadorias - comércio internacional de
mercadorias.
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As partes disciplinam pontos fundamentais do momento de entrega, transferência do risco, entrando
aqui os INCOTERMS, no que respeita ao contrato que incide sobre as mercadorias.
CIF e FOB - os mais importantes - disciplina-se a questão da transferência do risco, por exemplo
EXY - é um termo de acordo com o qual a entrega da mercadoria é feita na fábrica ou armazém do
vendedor - se a entrega e transferência do risco, o comprador tem de a ir buscar e corre o risco do
perecimento da mercadoria (risco - é ele que suporta, o que significa que é ele que tem de arcar com
as consequências, mesmo que fique sem a mercadoria para o preço).
Os INCOTERMS não disciplinam todos os pontos, mas os mais importantes - entegra e transferência
do risco - para o pagamento do preço, é frequente o recurso a outras regras da CCI, que são as regras
sobre o crédito documentário - o preço é feito por um banco que assume a obrigação de pagar o preço
assim que receba documentos que as partes fixaram no contrato - estas regras não estão disciplinadas
nos INCOTERMS e são importantes, por isso decorre do contrato, do recurso a outras regras, etc.
Pensando nos termos principais, CIF e FOB, a colocação da mercadoria a bordo do navio no porto de
embarque (entrega) - aqui o risco transfere-se para o comprador. Ser CIF ou FOB é importante, no
entanto, sobre o transporte e seguro - se for CIF, quem tem de tratar do transporte e seguro é o
vendedor, e o seguro tem de poder beneficiar o comprador. Se o termo for FOB, quem trata do
transporte é o comprador - quem trata do seguro? Não se obriga a celebrar o contrato de seguro, é só
um ónus do comprador - tem de celebrar um contrato de seguro porque se comprou a mercadoria tem
interesse em trazê-la para o seu porto.
Estamos a falar de um conjunto de situações contratuais com ligação entre si (união de contratos).
Pode-se acrescentar ainda o contrato de crédito documentário para agilizar o pagamento - vários
contratos com união entre eles - são contratos diferentes uns dos outros mas que têm uma união
(codependência entre os mesmos) - em função de uma determinada pretensão, temos de nos situar no
contrato de que se trate.
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