Você está na página 1de 15

Índice

Introdução………………………………………………………………………………..2

Evolução histórica……………………………………………………………………….3

Importância do Direito do Mar…………………………………………………………..4

Direito do Mar…………………………………………………………………………...5

Perspectivas para o Direito do Mar……………………………………………………...8

Desafios impostos ao Direito do Mar………………………………………………........9

Direito do Mar moçambicano…………………………………………………………..11

Conclusão………………………………………………………………………………13

Bibliografia……………………………………………………………………………..14

1
Introdução

A importância do mar aumenta na medida que a ciência, tecnologia e a inovação


permitem desvendar novas perspectivas sobre seu uso e riquezas. Além das ciências do
mar, o direito também exerce um papel importante na construção de políticas e
estratégias dos Estados para o mar, em especial sob o prisma do exercício da soberania
sobre recursos naturais, segurança e defesa. O objectivo deste trabalho é de avaliar
alguns aspectos jurídicos e interdisciplinares do regime jurídico do marrem especial do
regime jurídico das águas (mar territorial, zona contigua, zona económica exclusiva) e
regime jurídico de solo e subsolo (plataforma continental e Área).

Os temas do mar estão muito mais próximos que se percebe. Aliás, é exactamente a
alteração de percepções sobre o mar ao longo dos séculos, na opinião de Steinberg
(2002), que permitiu a ampliação do conhecimento sobre os usos e recursos do mar, do
seu uso secular para navegação e pesca, passando pela exploração de energias fósseis,
até a produção de energia pelo movimento das ondas e ventos e mineração dos fundos
marinhos. Por todas essas razões não exaustivas o mar é cenário de choques de
interesses em torno de temas de defesa e segurança, interna e internacional.

2
1. Evolução historíca

A expressão Direito do Mar é relativamente recente. Nascida nas Conferências


de 1958 e 1960 foi consagrada pela III Conferência das Nações Unidas sobre o Direito
do Mar; mas, é de facto um dos ramos mais antigos do Direito Internacional.
Na formação e evolução do Direito do Mar é possível distinguir três grandes
períodos: o primeiro surge no início da Idade Moderna. Caracteriza-se por uma
lenta e longa evolução nas tentativas de ordenar o Direito Internacional Público
do Mar pelas potências marítimas da época. Tendo como ponto fundamental as
comunicações e os descobrimentos, até aos primeiros projectos de codificação no
século XX, no período conhecido como “entre guerras”.

O segundo inicia-se na sequência do término da II Guerra Mundial e estendesse


até meados da década de sessenta. Esse período marcou o fracasso do Direito
Internacional Clássico na resolução dos problemas de natureza económica surgidas
com a revolução tecnológica, esses que exigiram a criação de novas normas
internacionais e que passaram a coexistir com princípios tradicionais, aclamados
durante séculos.
O terceiro decorre entre a década de sessenta e 1982, com a III Conferência das
Nações Unidas sobre o Direito do Mar, em Montego Bay, quando foi aberta para
assinatura do Acto Final e a Convenção, em 10 de Dezembro de 1982.

A expressão Dreito do Mar, foi consagrada pela II Conferência das Nações Unidas
sobre o Direito do Mar, mas é de facto um ramo mais antigos do Direito Internacional.
Na Evolução do Direito do Mar é possível distinguir três períodos:

˗ O primeiro caracteriza˗se por uma lenta e longa evolução nas tentativas de ordenar o
Direito Internacional do Mar pelas potências marítimas da época

˗ O segundo é maracado pelo fracasso do Direito Internacional Clássico na resolução


dos problmas de natureza económica surgidas com a revolução tecnológica, que exigiu
inovação do Direito Internacional

˗ Decorre com a III Conferência das Nações Unidas sobre Direito do Mar

3
2. Importância do Direito do Mar

O Direito marítimo é a parte importante do direito internacional público e suas normas


durante muito tempo, não estiveram definidas. A codificação dessas normas ganhou
alento já sob o patrocínio das Nações Unidas, havendo˗se concluído em Genebra, em
1958.

˗ Uma convenção sobre alto mar territorial e a zona contígua

˗ Uma convenção sobre alto mar

˗ Uma Convenção sobre pesca e conservação dos recursos vivos do alto mar

˗ Uma Convenção sobre plantaforma continental.

A aceitação não chegou a ser generalizada, produziu˗se no limiar de uma era marcada
pelo questionamento das velhas normas e princípios. O factor económico, tanto mais
relevante quanto enfantizado pelo progresso técnico. O lazer e turismo náuticos, as
praias limpas para banho, a riqueza da camada pré-sal de petróleo são percepções
válidas da importância do mar. Além daquelas que citamos, há muitas outras: mineração
do solo e subsolo marinhos, produção de energia, defesa e segurança nacional;
bioprospecção marinha, protecção da biodiversidade e do meio ambiente marinho;
inovação, pesquisa e desenvolvimento tecnológico de equipamentos e substâncias de
recursos vivos e não-vivos do mar; desenvolvimento de tecnologias de aplicação
oceanográfica, climatológica e em biotecnologia; protecção e pesquisa de espécies
vivas, como piscicultura e maricultura; controle da ocupação costeira e estudos
urbanísticos e ambientais de impacto das cidades sobre áreas protegidas (mangais) e
oceano.
ACCIOLY (1980 ), o mar é fundamental para a manutenção da vida e sobrevivência do
planeta , estando directamente ligado a seu equilíbrio , nã só por ocupar maior porção
geográfica na Terra, mas porque dle e da sua influência depende a subsistência do
biótipo e, por conseguinte , do ecossistema planetário , que estão em permanente
conexão de interdependência .

4
3. Direito do Mar

A definição de Alto-mar tem sido dada de forma uniforme pela doutrina e convenções
internacionais. Contudo, deve-se assinalar que não se pode conceituar o Alto-mar pelo
que ele é, e sim pelo que ele não é. A Primeira Convenção das Nações Unidas sobre o
Direito do Mar, reunida em Genebra, em 1958, aprovou uma convenção sobre o Alto-
mar, caracterizado
no artigo 1⸰.
“Entende-se por Alto-mar todas as partes do mar não pertencentes ao mar
territorial ou as águas interiores de um Estado”.

A Terceira Conferência das Nações Unidas sobre o Direito do Mar, reunida de 1973 a
1982, concluiu os seus trabalhos em 1982, com a assinatura da Convenção de Montego
Bay, que estipula no artigo 86, em relação ao Alto-mar: “As disposições da presente
Parte aplicam-se a todas as partes do mar não incluídas na Zona Económica Exclusiva,
no Mar Territorial ou nas Águas Interiores de um Estado, nem nas Águas
Arquipelágicas de um Estado Arquipélago. O presente artigo não implica limitação
alguma das liberdades que gozam todos os Estados na Zona Económica Exclusiva de
acordo com o art. 58”.

A definição de Alto-mar citada na Convenção de 1982 não necessita de reparos


, mas apenas algumas explicações.
• Águas Interiores são aquelas compreendidas entre a costa e a linha de base
do mar Territorial;
• Mar Territorial é uma faixa de mar adjacente à costa do Estado sobre a qual
este exerce a sua soberania. A sua largura máxima é de 12 milhas;
• Zona Económica Exclusiva (ZEE) é um espaço marítimo criado pela Terceira
Conferência das Nações Unidas. Sua natureza jurídica ainda é matéria
de discussão, tendo em vista que ela não pertence ao território do Estado
nem ao Alto-mar.

5
4. Direito do Mar Moçambicano

A Lei do Mar define o regime jurídico relativo ao mar, cria os paradigmas para a
governação dos mares e oceanos, os regimes das zonas marítimas dos diversos Estados.
Por força desta Lei, foram introduzidos novos critérios para a delimitação da soberania e
jurisdição sobre a plataforma continental de cada Estado ribeirinho, consagrando a
possibilidade da sua extensão para além das 200 milhas náuticas.

Para garantir o cumprimento da Convenção, foi criado o Tribunal Internacional do


Direito do Mar (TIDM), competente para julgar as controvérsias relativas à
interpretação do tratado. O Direito do Mar é parte importante do Direito Internacional
Público. Para além do TIDM, a CNUDM motivou a criação de novas instituições, como
a Comissão para os Limites da Plataforma Continental. Muitos acordos e convenções
regionais foram firmados no espírito desta Convenção. A Conferencia da Nações
Unidas sobre o Desenvolvimento e a Convenção da Biodiversidade de 1992, o
Protocolo de Quioto de 1997, a Cimeira de Joanesburgo de 2002, a Convenção para a
protecção do Meio Marinho e a Convenção Internacional para a prevenção da Poluição
por Navios são complementos dos esforços internacionais para a regulação das
actividades no mar.
A Convenção (CNUDM), que por sinal, esteio deste trabalho, é composta por 17 partes,
formadas por 320 artigos e 9 anexos. Por força do seu artigo 308. °, esta entrou em
vigor no dia16 de Novembro de 1994, ou seja, um ano após a sua ratificação pelo
sexagésimo Estado membro da ONU, que foi a Guiana. Contudo, o cumprimento desta
Convenção, sofreu alguns recuos na medida em que importantes países com extensas
áreas marítimas, como o Canadá, os EUA, a Federação Russa, a França, a Holanda, a
Itália, o Japão, a Noruega, o Reino Unido e a Suécia ainda não a tinham ratificado.
Segundo MATIAS20, a versão portuguesa do articulado da Convenção de 1982, foi
traduzida oficialmente por sete Estados de língua oficial portuguesa (Angola, Brasil,
Cabo Verde, Guiné-Bissau, Moçambique, Portugal e São Tome e Príncipe).

A Lei do Mar aprovada pelo Estado moçambicano , faz um complemento à CNUDM, e,


entre outras afirmações dela se pode deduzir o seguinte:
A margem continental compreende toda a prolongação submersa da massa continental
do estado dotado de litoral e é dotada de um leito e do subsolo da plataforma, o talude e

6
a emersão continental. Não compreende, porém, o solo oceânico profundo com sua área
oceânica, incluindo aí o seu subsolo. Os pontos fixos que compreendem o limite
exterior da plataforma continental em leito marítimo devem estar situados a uma
distância que nunca ultrapasse as 350 milhas marítimas contadas a partir das linhas de
base, as quais se mede o comprimento do mar territorial de 100 milhas contadas a partir
da curva de 2500 metros.
A água que cobre a plataforma continental possui vida marinha em abundância e grande
parte da pesca mundial se realiza nesta zona. É nela que se encontra a quarta parte da
produção mundial de petróleo e gás procedentes das rochas que se encontram
submersas.

Lupinacci [ p. 22-23] afirma que “a questão da natureza jurídica da ZEE constitui


uma das mais árduas controvérsias”. Afirma que existem duas posições sobre
a matéria: é uma parte do Alto-mar submetida a um regime especial, vez que os
Estados possuem determinados direitos; é uma zona sui generis com características
próprias, constituindo um novo instituto do Direito Internacional do Mar.
As potências marítimas tentam garantir que a zona económica exclusiva é
Alto-mar, com finalidade de garantir a liberdade de navegação marítima e aérea,
bem como para evitar a chamada “creeping jurisdiction”, a tendência de ir estendendo
gradualmente a jurisdição dos Estados ribeirinhos até chegar em algum
momento a sua “territorialização”, a assimilação na prática no Mar Territorial .

5. Perspectiva para o Direito do Mar

Os fundamentos jurídicos do Direito Internacional do Mar para as operações


privadas desreguladas no Alto-mar são, nesta ordem: a liberdade dos mares; a liberdade
de navegação e; a nacionalidade do navio, vez que esta última determinará a
jurisdição do navio no Alto-mar. Daí estende-se até o tipo de registo, que via de
regra será o registo aberto de classificação bandeira de conveniência – este que não
possui qualquer controlo relevante por parte do Estado de bandeira para com seus
navios, pois, na prática a necessidade do genuine link entre o Estado e o navio, o
armador ou tripulação, não existe ou é distorcido; é violado.
A liberdade dos mares, depois de um grande período de incertezas, foi a vencedora

7
do período conhecido como “Batalha dos Livros”, em que os principais
actores em sua defesa foram Grotius, Vasquez de Menchaca e Francisco de Victoria.
Ela surgiu para assegurar a liberdade de navegação, mas não pode-se negar
que houve também o interesse do sector pesqueiro. Actualmente a liberdade dos
mares se encontra positivada, sendo regida pela igualdade de uso e pela utilização
pacífica.
A liberdade de navegação é a grande razão de ser da liberdade dos mares. E,
junto com a soberania dos Estados, com ou sem litoral, é a base para prática das
operações referidas no tema, uma vez que todos os Estados têm direito de fazer navegar
no Alto-mar navios que arvorem a sua bandeira, por tanto sob sua jurisdição
exclusiva.
Com as restrições às liberdades dos mares, as actividades desreguladas que violam
essas restrições, não podem ser tratadas como tal, uma vez que se encontram
reguladas pelo Direito Internacional e independem de actuação do Estado de bandeira
por se tratarem de normas erga omnes, ou então quando para sua aplicação
depende apenas do Estado que teve seu direito violado ou de qualquer Estado,
como no caso da repressão ao tráfico de escravos e repressão ao tráfico de
estupefacientes etc’.

6. Desafios impostos ao Direito do Mar

O mundo hoje, vive uma nova situação resultante do fim da guerra fria onde os
adversários estavam relativamente bem identificados através de seus objectivos e meios
usados, e, que de uma forma geral respeitavam as convenções respeitantes aos conflitos
armados. Todavia, a nova ordem mundial multipolar, ora em construção revela um
mundo ainda mais problemático e com perigos muito mais refinados ao nível da
segurança marítima. Os Estados BDCs não exercem o controlo efectivo sobre seus
navios, também não tratam de fazer a sua protecção contra os piratas, tão pouco,
solicitam apoio internacional para tal protecção.

Mas ao que tudo indica, mesmo com esses e outros riscos, as bandeiras de
conveniência, pela enorme economia que proporciona, assim promovendo maior
competitividade, continua a ser mais interessante que os registos nacionais com a
protecção militar, o pagamento de impostos, regulamentação trabalhista etc.
Por outro lado, para os Estados de registos “nacionais” e principalmente para

8
os trabalhadores marítimos e o meio ambiente, as BDCs causam enormes problemas
e prejuízos.

Para os Estados, o principal problema é o prejuízo com a evasão legal de divisas,


vez que sendo as bandeiras de conveniência “paraísos fiscais” perdem, ou deixam
de receber, os tributos que normalmente receberiam pelas operações comerciais
de seus armadores. O uso de BDCs para fins terroristas, que preocupa a comunidade
marítima internacional actualmente, vem se confirmando com as recentes interceptações
de navios BDCs, em que tem se apreendido grandes quantidades de estupefacientes
pertencentes à terroristas, ou entidades classificadas como tal, supostamente para seu o
financiamento.

Nesta nova situação o mar não fica de fora, principalmente para o Estado moçambicano
que é possuidor de uma vasta costa marítima. As ameaças clássicas que marcaram todo
o século XX começaram a ser relegadas para trás com o aparecimento de novas
ameaças. Estas novas ameaças são mais difíceis de visualizar e prever pelo seu carácter
difuso e de surpresa, e, tornam a segurança marítima mais desafiada.

Segundo o Almirante Mahan, citado por CORREIA, o poder marítimo é a soma de


todas as forças, instrumentos e circunstâncias geográficas que cooperam para conseguir
o domínio do mar, garantir o seu uso e negá-lo ao adversário. A capacidade da Marinha
de Guerra, joga um papel importante na soma dessas forças em jogo. Os amigos de hoje
podem ser os inimigos de amanhã.

Manutenção da integridade territorial dos países litorais no mar, na totalidade das suas
zonas económicas exclusivas. Garantia de segurança de todas as actividades marítimas
legalmente conduzidas no que diz respeito aos seguintes aspectos:
 Trânsito e movimento livre das marinhas mercantes
 Comércio marítimo
 Pesca
 Exploração dos recursos vivos e aplicação das normas internacionais para a protecção
dos mesmos
 Turismo e pesca desportiva

9
 da exploração dos recursos naturais (contra exploração excessiva
ou excedente e práticas lesivas)
 das actividades ilícitas:
 Pesca ilegal
 Poluição do mar
 Contrabando de mercadorias incluindo as armas, drogas e poluentes tóxicos
 Imigração ilegal
 Pirataria e tomada de reféns
 Terrorismo (salientando-se a vulnerabilidade especial das plataformas) de recursos
naturais.

7. Direito do Mar moçambicano

A imigração ilegal e pirataria marítima no Canal de Moçambique representam os


maiores desafios da actualidade de Moçambique. Relativamente à problemática da
imigração ilegal, importa realçar que milhares de estrangeiros entram no território
moçambicano utilizando a costa norte, sem qualquer tipo de documentação e
autorização, vindos de diferentes países do continente africano, particularmente, da
região dos grandes Lagos, outros ainda, em número
considerável, do continente asiático. O fenómeno de imigração ilegal constitui um dos
factores de ameaça a segurança nacional , porém a capacidade de estancar este mal se
mostra diminuta.

Uma das principais ameaças que afecta o Estado moçambicano está relacionada com o
ambiente que pode ser provocada entre outros factores pelo despejo de resíduos
perigosos, lavagem de tanques em alto mar, derrame de óleos, corte de mangais e
experiencias de armas químicas. A ameaça ambiental pode aparentar ser inofensiva a
curto prazo mas a longo prazo poderá reflectir-se negativamente no desenvolvimento
normal dos recursos vivos marinhos.

A Lei 4/96, de 4 de Janeiro, define os direitos de jurisdição sobre a faixa do mar ao


longo da costa moçambicana. Esta lei cria a Zona Económica Exclusiva e confere
direitos soberanos ao Estado para fins de exploração, aproveitamento, conservação e

10
gestão de recursos naturais vivos ou não vivos das águas subjacentes ao leito do mar e
subsolo, bem como no que se refere a outras actividades com vista à exploração e
aproveitamento da zona para fins económicos e para a produção de energia a partir da
água, das correntes e dos ventos.

Para uma compreensão cabal sobre os desígnios da soberania e jurisdição do Estado


Moçambicano nos seus espaços marítimos, precisamos antes de tudo ver como é que se
define cada espaço e quais são as competências do Estado à luz da CNUDM.
Os espaços marítimos de Moçambique são medidos a partir das linhas de base, que são
as linhas a partir das quais os espaços marítimos são assentes. Estes são definidos na
CNUDM como linhas de base normal (art. 5°) ou recta (art. 7. °). A linha de base
normal diz respeito à linha de baixa-mar enquanto a linha de base recta aplica-se a
locais onde a linha de costa é recortada e irregular, como nas entradas das baias, locais
com recifes ou franjas de ilhas. A alínea f) do artigo 1.° da Lei 4/96, incorpora na
jurisdição moçambicana estas duas disposições da CNUDM.
Os espaços marítimos do Estado moçambicano, à luz da CNUDM, para além das águas
interiores, partindo da linha de base definem-se em: Mar Territorial, Zona Contigua e
Zona Económica Exclusiva

7.1 Águas Interiores

As águas interiores são aquelas que se situam no interior das linhas de base do Mar

Territorial.

Podem ser lagos, estuários, lagoas, rios e albufeiras. Os Estados costeiros possuem total

liberdade para legislar e regulamentar o seu uso, bem como explorar qualquer recurso

natural existente nestas águas, os navios e embarcações estrangeiras não tem o direito de

passagem.

Portanto, as águas interiores têm um estatuto equivalente àquele que o Estado costeiro

exerce soberanamente no território terrestre. Outrossim, os poderes que o Estado

costeiro pode exercer nas águas interiores não estão dependentes da sua conciliação com

11
os poderes de terceiros Estados. Moçambique possui rios internacionais navegáveis que

podem suscitar diferendos com outros Estados, a título de exemplo, o rio Zambeze serve

de possível saída para a exportação de mercadorias do Malawi.

7.2 Mar Territorial

Nos termos da CNUDM, (Parte II, Secção 2, arts. 2.° e 3.°) o Mar Territorial (MT) é
definido como sendo uma zona de soberania 23 do Estado com uma largura limite de 12
milhas náuticas contadas a partir das linhas de base. No art. 4°, do número 4 da Lei 4/96
que temos vindo a citar são estabelecidas as coordenadas respectivas Pontes, Latitudes e
Longitudes. O Estado moçambicano, adoptou para o seu ordenamento jurídico os
preceitos da CNUDM em relação ao Mar Territorial.
o Estado moçambicano nesta matéria, goza tradicionalmente de soberania 24 sendo fora
isso circunscritos os direitos reconhecidos aos terceiros Estados. No Mar Territorial a
soberania do Estado só é limitada pelo “direito de passagem inofensiva de navios à
superfície” Decorrente deste direito, o Estado costeiro, permite aos outros, o direito de
passagem inofensiva aos navios com a bandeira de outros Estados.

7.3 A Zona Contigua

A Zona Contigua encontra-se definida na Secção 4 da Parte II da CNUDM, no artigo


33.°,conforme o qual a jurisdição do Estado Costeiro, neste espaço marítimo, deve
limitar-se a evitar e reprimir as violações aos regulamentos aduaneiros nacionais, as
normas fiscais, de imigração ou sanitários. A Lei do Mar fixa o limite desta faixa
marítima em 24 milhas, medidas a partir das linhas de base.
O artigo 8º. da Lei 4/96, de 4 de Janeiro, não só define a Zona Contigua assim como se
refere às competências que Estado de Moçambique se reserva26. Por via da conjugação
das leis nacionais.

12
7.3 Zona Económica Exclusiva

O artigo 55. °, da CNUDM define o regime jurídico específico da Zona Económica


Exclusiva(ZEE), ao defini-la como “zona situada para além do mar territorial e a este
adjacente, sujeita a um regime jurídico específico estabelecido na segunda parte,
segundo o qual os direitos e jurisdição dos Estados costeiros e os direitos e liberdades
dos demais Estados são regidos pelas disposições pertinentes na presente Convenção”.
A largura definida para a ZEE pela Lei do Mar é de 200 milhas náuticos. O Estado
moçambicano, na qualidade de signatário da CNUDM, adoptou para o seu ordenamento
jurídico esta definição através do artigo 9.°, da Lei do Mar Nacional atribuindo-se a si
os direitos de jurisdição e os deveres que assistem os Estados costeiros .

13
Conclusão

O ambiente que se vive na ordem mundial vigente parametriza-se por uma mutação
muito rápida dos conceitos de ameaças a soberania nacional. As atenções dos actores do
sistema político mundial quanto as ameaças globais e as marítimas em particular
circunscreviam-se as ameaças tradicionais ou clássicas. Este tipo de ameaças tendem a
ser menos perigosas na arena actual em que a Guerra fria está dissipada, e, muitas das
disputas que possam aparecer podem ser dirimidas por acordos mediados utilizando a
CNUDM ou a coacção quando necessário.

As novas ameaças caracterizadas por serem difusas, de difícil previsão e de motivações


meramente criminosas, podem afectar sobremaneira toda a tranquilidade que se
pretenda que o mar tenha. Pode-se afirmar que as novas ameaças, pelo seu carácter
surpresa exigem uma maior preparação e disponibilidade para a sua detecção e
anulação.

Perante as crescentes novas ameaças praticadas no mar, tais como a pirataria, a


contaminação dos mares, o tráfico de seres humanos, o tráfico de drogas, a pesca furtiva
e a delapidação de recursos marinhos, o papel da segurança militar, policial e civil,
precisa de ser redimensionada se o país pretender desenvolver a economia marítima e
manter a estabilidade nacional. Esses desafios todos enquadram-se nas atribuições de
uma Marinha de Duplo Uso . Neste sentido, e enquanto os Estado ribeirinhos, tem
necessidade, de garantir a vigilância e o controlo dos seus espaços marítimos, e de
dispor de um mínimo de força que, no mar, se oponha, pela dissuasão, enquanto
possível, a qualquer risco ou ameaça.

14
Referências bibliográficas

1. KRUG, Luiz Carlos (Org). Formação de Recursos Humanos em Ciências do


Mar: estado da arte e plano nacional de trabalho 2012-2015. Brasília, jul. 2012.
Disponível em: http://www.cdmb.furg.br/upload/arquivos/Estado%20da
%20Arte%20das%20
Ciencias%20do%20Mar%20e%20o%20PNT%202012_2015%20%28versao%20
final%29.pdf.

2. ACCIOLY, H. Tratado de Direito Internacional Público, vol. III. Quartier


Latin, Rio de Janeiro, 1957.

3. BRANCO, Carlos Nuno Castel. Moçambique: Perspectivas Económicas.


Maputo, UEM, 1994

Referências normativas

1. Lei 4/96, de 4 de Janeiro, lei do Mar vigente


2. Convenção das Nações Unidas sobre o Direito do Mar

15

Você também pode gostar