Você está na página 1de 9

Vocabulário jurídico

A lexicologia sempre foi de suma importância no estudo das línguas. A elaboração dos
vocábulos existe desde a Antiguidade, pois o homem cedo percebeu a necessidade de ter
ferramentas auxiliares à comunicação.
Esse, provavelmente foi o motivo pelo qual os vocabulários iniciais foram bilingues,
simplesmente porque respondiam a uma necessidade concreta de comunicação (PHILIPPE
HUMBLE), e “como glossários que ofereciam traduções de uma língua para outra” (Wilkpedia).

Conceitos de Vocabulário
Segundo BARBOSA citado por BORDANAVE, afirma que o vocabulário é “uma actividade
humana realizada através de estratégias mentais empregadas na tarefa de transferir significados
de um código linguístico para outro”.
Vocabulário, por sua vez, é o uso do falante, é a selecção e o emprego de palavras pertencentes
ao léxico para realizar a comunicação humana.
Sendo o vocabulário expressão da personalidade do homem e de seus conhecimentos
linguísticos, é de capital importância, ao usuário de uma língua, o enriquecimento continuado de
seu inventário vocabular, facilitando, assim, sua tarefa comunicativa, principalmente redaccional,
por ampliar o leque para a escolha da palavra mais adequada. Para tanto, a consulta frequente a
dicionários e a leitura de autores renomados são actividades imprescindíveis para a riqueza
vocabular e, por consequência, à produção e compreensão das imagens verbais

Importância do vocabulário jurídico


A importância do vocabulário jurídico para os estudos e exercícios do direito é inegável. O
estudo dos vocabulários e suas comparações é, consequentemente, de suma importância em todo
esse processo “tradutório-interpretório”, mas, infelizmente não alcança grande popularidade
entre os meios académicos.
“Os dicionários são usados, mas pouco questionados” (PHILIPPE HUMBLE). Neste ponto dos
dicionários técnicos profissionais, nos deparamos com os dicionários jurídicos.
Cada estado concebeu a compilação dos termos e expressões jurídicas necessários para aplicação
e entendimento de suas leis, na sua língua mãe, transformando essa compilação em “um
glossário de termos jurídicos”, inicialmente assim entendido.
Algumas considerações no uso do vocabulário jurídico
Para DAWIN MUNOZ, “todos sabemos a importância dos dicionários e a utilidade que
oferecem os mesmos para qualquer área do saber humano. Para a comunidade jurídica existem
os dicionários especiais, que permitem aos interessados manejar de maneira ágil e ampla, os
diferentes significados dos termos jurídicos.
Exemplos:
Abaixo-assinado – expressão empregue para designar a pessoa que subscreve o documento ou a
petição. É também o documento firmado por varias pessoas que pedem ou solicitam a concessão
de certa medida.

Abondonatário – o que se apropria da coisa abandonada. Aquele a quem aproveita o abandono.

Abandono da casa paterna – acto praticado pelo menor que deixa em definitivo a casa de seus
pais. Caso os pais permitam o abandono, tal facto, constitui motivo para que eles, por acto
judicial, percam o pátrio poder.

Abandono da posse – procedimento do possuidor que demonstra sua intenção de não mais
manter seu direito de propriedade sobre um bem qualquer. Acto pelo qual o dono de um bem
renuncia a seu direito de propriedade.

Abandono de cargo público – falta intencional do servidor público ao trabalho por um período
superior a trinta dias consecutivos ou sessenta dias alternados durante o ano.

Agravantes – circunstancias que tornam mais grave um crime, sua qualificação ou pena a ele
correspondente, tais como a reincidência, o motivo fútil ou torpe do crime, a ocultação, a
impunidade ou vantagem do outro crime, o crime cometido contra criança, idoso ou enfermo e
muitas outras previstas no Direito Penal.

Atenuantes – como adjectivo, o termo se aplica a certas circunstâncias que tem forca legal para
diminuir a penalidade a ser imposta ao réu, pela infracção ou pratica de delito. Como
substantivo, indica as próprias circunstâncias ou razoes que promovem a diminuição da pena.

Bens públicos – aqueles que integram o património nacional, estando sob o domínio da união,
estados ou dos municípios.

Corpo de delito – acto judicial que demonstra ou comprova a existência de facto ou acto
imputado ou criminoso. Registo de conjunto de elementos materiais, com todas as suas
circunstancias, que resultam da pratica de um crime.

Juiz – é a pessoa investida de autoridade pública para administrar a justiça.

Juiz classista – denominação do juiz leigo, não tocado, isto é, não necessariamente formado em
direito, que é escolhido pelos sindicatos de trabalhadores e de empregadores para um mandato
temporário na justiça do trabalho.

Juiz de Direito – é o magistrado, isto é, o juiz togado, aquele que integra a magistratura por
haver ingressado na respectiva carreira segundo os prescritos da lei, constitucional e ordinária,
por atender aos respectivos requisitos de habilitação, proferindo as decisões nas demandas nos
respectivos graus de jurisdição.

Justiça – o que se faz conforme o Direito ou segundo as regras prescritas em lei. A pratica do
justo ou razão de ser do próprio Direito, visto que ela se reconhece a legitimidade dos direitos e
se estabelece o império da lei.
Mandado – ordem judicial em que o juiz obriga, manda que se tome medida coactiva contra seu
destinatário
Mandado de busca e apreensão – ordem do juiz mandando que se apreenda coisa em poder de
outrem ou existente em certo lugar, para ser trazida a juízo e aí ficar sob custódia do próprio juiz.
Mandado de prisão – ordem escrita do juiz competente, determinando a prisão de alguém
denunciado por crime inafiançavel, ou seja, condenado por crime que lhe foi imputado.

Mandatário – pessoa que, investida de poderes outorgados pelo mandante, executa actos ou
efectiva negócios em nome daquele de quem recebeu os poderes. Executor dos actos ordenados
ou autorizados pelo mandante, que arca com a responsabilidade deles.
Mandato – contrato pelo qual um mandante determinada a um mandatário ou procurador que
actue em seu nome, praticando os actos necesarios para tanto.
Pena – castigo imposto à pessoa por qualquer falta cometida. No sentido civil, é a multa ou
imposição pecuniária devida pelo infractor ou pelo devedor inadimplente. No conceito do Direito
penal, é a expiação ou castigo estabelecido por lei, no intuito de prevenir e de reprimir a pratica
de qualquer acto ou comissão de facto que atente contra a ordem social, o qual seja qualificado
como crime ou contravenção.
Permuta – contrato, em virtude do qual as partes interessadas trocam entre sim bens de sua
propriedade.

.
Sinonímia

Define-se como a relação semântica que se estabelece entre palavras da mesma categoria
morfossintactica que possuem significado equivalente ou semelhante.
A busca, no Dicionário de Sinónimos, de uma palavra com o mesmo sentido atende ao objectivo
de eliminar-se a repetição e a consequente monotonia. Louve-se o esforço, mas a asserção de que
não há sinónimos perfeitos é, hoje, comum. De acordo com a Linguística moderna, seria
sinónimo perfeito aquele permutável em todos os contextos. No caso de uma série sinonímica, é
possível proceder à substituição de um termo por outro, em determinados contextos. Tal fato
pode verificar-se numa série sinonímica como:
Morrer, falecer, expirar, extinguir-se. Veja-se os seguintes exemplos: O mendigo morreu…, O
mendigo faleceu…, O mendigo expirou…, A chama do na fazenda extinguiu-se…

Observe-se a diferença entre:


a. Separação judicial consensual ou litigiosa (põe termo aos deveres do casamento);
divórcio (põe fim ao próprio casamento).
b. Casa (sentido genérico de habitação); residência (lugar de parada ou permanência);
domicílio (sentido estrito, lugar onde a pessoa responde pelos actos da vida civil).

Verifique o leitor que houve em todos os casos "equivalência de significação" entre palavras.
Perceba, no entanto, que não houve "identificação" completa. Isto ocorre porque cada palavra se
reveste de feição própria, apresenta um grau de afetividade ou expressividade peculiar; ajusta-se
desta ou daquela forma a determinado conjunto, enfim, a palavra ganha vida própria e assume
tonalidade

Paronímia
Denominam-se parónimas as palavras de sentido diverso, mas que se aproximam pela forma
gráfica ou mesmo pelo som. Tal afinidade pode suscitar confusões, gerar equívocos e levar a
situações jocosas ou mesmo embaraçosas. O socorro ao dicionário é, por certo, a melhor forma
para que se evitem situações do tipo. Os parónimos são inúmeros; citam-se apenas alguns mais
relacionados com a área jurídica:
 Absolver (perdoar) absorver (assimilar)
 Deferimento (concessão) diferimento (adiamento)
 Descriminar (isentar de crime) discriminar (diferenciar)
 Destratar (ofender) distratar (romper o trato)
 Elidir (suprimir) ilidir (refutar, anular)
 Emenda (correcção) ementa (resumo)
 Emitir (mandar para fora) imitir (investir em)
 Flagrante (evidente) fragrante (perfumado) incontinenti (sem demora) incontinente
(falto de moderação)
 infligir (aplicar pena) infringir (desobedecer)
 lide (demanda) lida (trabalho)
 mandato (procuração) mandado (ordem, determinação)
 prescrever (ordenar) proscrever (banir)
 ratificar (confirmar) rectificar (corrigir)
 tráfico (comércio ilegal) tráfego (trânsito)

USOS DA LINGUAGEM JURÍDICA (SINONÍMIA E PARONÍMIA)

As palavras podem ser agrupadas pelo sentido, compondo as chamadas famílias ideológicas.
Bom é esclarecer, porém: não há falar-se em sinonímia perfeita. Se é certo inexistir tal
possibilidade na linguagem usual, mais ainda o é na linguagem jurídica.

Ilustrando a assertiva, verifiquem-se os empregos dos verbos prolatar, proferir, exarar e


pronunciar. Referem-se todos eles à decisão judicial; não representam, no entanto, exactamente
a mesma ideia. O verbo prolatar é utilizado em sua acepção ampla: tanto significa declarar
oralmente a sentença, quanto dá-la por escrito. Proferir ajunta-se à ideia da sentença oral,
enquanto exarar corresponde a lavrar, consignar por escrito a decisão judicial. O verbo
pronunciar, por sua vez, a despeito de significar, sentido lato, despachar, declarar, decretar a
sentença, encontra seu sentido preso ao Direito antigo que o recomenda para a decisão anunciada
em voz alta. Este uso não é seguido com rigor pela linguagem legislativa, sempre repleta de
imperfeição semântica, que elege o verbo pronunciar para referir-se ao ato de o juiz decidir sobre
a interdição do surdo-mudo, art. 450 do CC.

Aliás, considerando ser seu antónimo impronunciar, palavra unívoca da terminologia criminal
para indicar decisão absolutória no homicídio doloso, escoimando o acusado da incriminação e
livrando-o do julgamento popular, houvesse o rigor técnico, mais exacto seria reservar o verbo
pronunciar para seu sentido do Direito Penal, ou seja, decisão condenatória nos crimes contra a
vida na presença do animus necandi, indicando que o juiz determina seja colocado o nome do
denunciado no rol dos culpados, sem especificação de pena, encaminhando o réu ao Tribunal de
Júri.
De igual sorte, a sinonímia dos verbos acordar e pactuar não indica uma mesma extensão de
sentidos. Pactuar, do latim pactum (de pacisci) deveria ser usado para representar o ajuste, a
combinação, a própria manifestação da vontade, enquanto o termo acordar aplica-se mais à
vontade firmada no plano concreto, ou seja, estarem concordes as partes quanto às cláusulas ou
condições estabelecidas no ajuste, na convenção, no contrato.
Na linguagem usual, pacto guarda o sentido de ajuste de vontades que pode ser desfeito sem
garantia de acção jurisdicional do Estado, v.g., pacto de amor eterno. Possivelmente, este uso
orientou o legislador quando não disciplinou o contrato antenupcial e sim o pacto antenupcial
que, embora solene, portanto objectivando na escritura pública, desfaz-se naturalmente se o
casamento não se realiza. Conclui-se dos comentários, a pertinência do emprego da palavra pacto
nos casos em lei determinados: pacto compromissório, pacto constituto, pacto de non alienando,
pacto de non petendo, pacto de preferência, pacto de retrovenda, pacto dotal, pacto sucessório,
entre outras espécies, reservando o vocábulo acordo para indicar o contrato ajustado entre as
partes. Este cuidado não resolve, esclareça-se, o problema da sinonímia por serem estas palavras
equívocas. Acordo trabalhista é o entendimento entre patrão e empregado, tanto no ajuste de
serviço a ser executado, quanto ao acerto realizado nos litígios. Pacto, no Direito Internacional, é
o vocábulo escolhido para designar o ajuste ou tratado celebrado entre os Estados, chamados, por
isso, pactuantes.
Exercício obrigatório ao profissional do Direito é, assim, perscrutar com zelo os dicionários
de palavras análogas e, firmada uma família ideológica, pesquisar os dicionários
especializados para informar-se sobre os usos das palavras.
Aparentemente penosa, gratificante é a tarefa, porque o profissional, ou mesmo o estudante,
vai aprimorando sua linguagem, de sorte a não realizar trocas impensadas de palavras; ao
contrário, vai ajustando com precisão crescentes as palavras às ideias, nomeando o
pensamento de maneira lógica e designando correctamente a ideia na linguagem jurídica.
Se exigente deve ser a tratativa dada aos sinónimos que cuidam de ideias assemelhadas, mais
criteriosa há de se configurar a selecção de palavras parónimas, porque os sentidos delas não
fazem parte de uma mesma família ideológica, embora semelhantes na forma. Se a troca
desmedida entre sinónimos compromete a precisão do pensamento, a confusão na paronímia
provoca resultados desastrados.

Fim

“A paciência é a mãe da Vitoria e o silêncio ganha sorriso”. Desconhecido

Você também pode gostar