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Material adaptado

Esta regra, lançada no Código de Processo Civil,


determina a utilização obrigatória da língua portuguesa, a
nossa língua oficial, o idioma vernáculo. As citações e/ou
documentos redigidos em outros idiomas deverão estar
traduzidos por tradutor juramentado (Art. 157 do CPC)
Além dos termos processuais, temos que todas as fontes
do Direito brasileiro devem ser redigidas em português.
Esse é o idioma utilizado pela administração pública e
pelos tribunais. Aliás, a utilização do idioma português é
uma obrigação constitucional:
Art. 13 – A língua portuguesa é o idioma oficial da República Federativa
do Brasil.

Essa questão pode parecer sem a menor importância, pois


todos nós sabemos falar e escrever em português. Todavia,
muitos termos jurídicos utilizados no Direito são
desconhecidos pela maioria da população. É o popular
JURIDIQUÊS!!!!
E mais: muitas palavras da língua ordinária adquirem
significados particulares no Direito. EXEMPLO: O Art. 213
do Código Penal considera delito o fato de constranger
uma mulher a “conjunção carnal”.
carnal” (???)
Para o legislador brasileiro, esse termo (conjunção carnal)
significa* a penetração vaginal. Se houve violência ou
grave ameaça, estaremos diante do crime de estupro.

LINGUAGEM JURÍDICA OU LINGUAGEM FORENSE:


Outra questão importante refere-se ao estilo de redação
utilizado nos vários documentos jurídicos, o qual
apresenta muitas particularidades. Para o domínio dessa
linguagem, são necessários longos e pacientes exercícios.

EXEMPLO DE LINGUAGEM FORENSE: “Esta Corte firmara entendimento


no sentido de que o serventuário de serventia não oficializada era servidor
público.”

Mas o português não é o único idioma que o operador do


Direito deve dominar! Quem deseja ampliar e aprofundar o
conhecimento jurídico deve adquirir a capacidade de ler
em outros idiomas.
Para quem inicia o estudo do Direito e luta com
matérias novas e conceitos difíceis, a obrigação de
dominar outros idiomas pode parecer excessiva.
Porém, tenham certeza que o esforço para aprendê-los
é infinitamente menor do que os benefícios
acadêmicos e profissionais que resultarão do acesso
ao Direito estrangeiro.
ELEMENTOS DE LINGUÍSTICA
Os contatos entre os seres humanos são feitos mediante a
utilização de idiomas naturais, de forma oral ou escrita.
Mas para que a língua possa servir de instrumento de
comunicação, é necessário que o destinatário (auditório)
entenda o locutor (ou autor).
Há uma experiência desesperadora que retrata bem essa
importância: um jovem brasileiro, nascido e criado no
interior de Flor da Serra, ganha em um concurso uma
viagem para a cidade de Vladivostok, na Rússia, sem
direito a acompanhantes.

Já imaginaram a situação desse


jovem brasileiro, ao tentar obter uma
informação ao chegar na Rússia?
O essencial na linguagem é se fazer entender, e a
linguística analisa os mecanismos que permitem a
comunicação por meio da língua.
A mesma palavra pode ser utilizada de determinadas
formas, e com sentidos que mudam no tempo e no
espaço. O sentido de uma palavra depende de convenções
sociais e da situação concreta na qual está sendo
empregada.
Não existem correspondências naturais entre as palavras
e o mundo, nem certezas absolutas. Exemplo disso é a
palavra “pé”, que nos dicionários recebe
aproximadamente 30 significados diferentes, indicando
mais de 90 expressões que a utilizam, inclusive de forma
que não se relaciona com seus próprios significados,
como o tal “pé de moleque”, ou a expressão “em pé de
igualdade”.
Por essas razões é que a linguística moderna considera que a
comunicação humana, realizada principalmente através da
linguagem, é um assunto de convenção, decorre de um jogo do
qual todos participam, no qual a verdadeira importância é se
fazer entender.
As palavras adquirem seu significado pelo contexto da
comunicação. A palavra “abacaxi”, como qualquer outra, não
tem um significado fixo; seu entendimento depende de como
está sendo usada em determinadas situações, e adquire um
significado só graças ao uso constante.

A frase “descascar um abacaxi”


ganhou um significado metafórico,
porque milhões de pessoas, durante
muito tempo, a empregaram para
indicar “dificuldades”, e não porque
descascar um abacaxi seja algo
muito difícil de se realizar.
Quanto mais cuidado tivemos na escolha das nossas
expressões, maiores serão as chances de que nos façamos
entender, de forma a corresponder às nossas expectativas.
Quem comete erros, utiliza expressões genéricas,
ambivalentes (duplo sentido) ou “fora do lugar”, aumenta
as probabilidades de mal-entendidos.
Sabe-se que os destinatários do texto é que são os
verdadeiros intérpretes do discurso, os quais podem
cometer erros de entendimento porque escutou mal, ou
desconhece o exato sentido dos termos empregados ou não
compreende a estrutura da frase.
Ou seja: mesmo se a comunicação for tecnicamente
perfeita, o sentido que será dado ao discurso depende em
grande parte das intenções, dos preconceitos e das
ideologias do auditório.
A linguagem pode ser abordada através da semântica, na
qual cada uma das palavras (signos) tem seus significados
particulares, pois se referem a determinados objetos ou
situações.

Os dicionários são a fonte de consulta mais comum para


constatar os vários significados de uma palavra.

É a semântica a que mais interessa no âmbito da


interpretação jurídica, posto que o objetivo do intérprete é
entender o significado das normas jurídicas.

Mas não só a semântica é importante, senão também o


aspecto sintático das normas, no qual se analisa o sentido
resultante da reunião de palavras, a combinação de
signos.
Em menor grau de importância, a abordagem pragmática
também deve ser considerada. Ou seja: as condições e
situações nas quais uma expressão pode ser utilizada de
forma adequada, bem como as circunstâncias reais que
dão sentido ao discurso.
O exato significado de uma frase depende de uma situação
concreta, na qual foi utilizada.
EXEMPLO: A frase “eu gosto de você”, se for utilizada em
uma conversa entre dois amigos, terá uma conotação.

A mesma frase será


diferentemente interpretada, com
significado bastante diferente, se
for utilizada na conversa entre
dois namorados.
(1) POLISSEMIA: verifica-se quando uma palavra ou
expressão pode ser utilizada em vários contextos com
significados diferentes e incompatíveis entre si, cabendo ao
auditório (ouvinte, leitor etc.) decidir qual é o sentido que
deve ser atribuído no contexto concreto.

(2) AMBIGUIDADE SINTÁTICA:


muitas vezes o modo de
construção de uma frase
permite vários entendimentos
incompatíveis entre si, sendo
possível que o auditório entenda
algo diferente daquilo que se
quis dizer.
(3) VAGUEZA: termos que não permitem que o auditório
decida com certeza sobre o alcance de seu significado, isto
é, saber se a sua utilização é procedente ou não no caso
concreto.
EXEMPLO: o cliente diz ao vendedor que o produto é
“caro”. O vendedor pode discordar do termo, porque “caro”
é muito abstrato, permitindo interpretações subjetivas.
Nesses casos é necessário precisar os termos.

Se o cliente disser “o
produto é caro, porque o
encontrei em outra loja
20% mais barato”, o
vendedor dificilmente
poderá discordar.
(4) DIFICULDADE DE AVALIAÇÃO: Quando são
empregados termos que indicam características
psicológicas do indivíduo, não temos somente o problema
da vagueza, mas também o problema da comprovação.
Como ter certeza se uma pessoa deve ser caracterizada
como “honesta”, “fiel” ou “inteligente”?

FORMAS DE UTILIZAÇÃO DA LINGUAGEM


 Uso Emotivo: quando o locutor transmite sentimentos e
emoções (Ex.: foi um rio que passou na minha vida)
 Uso Descritivo: quando o locutor oferece informações ou
interpretações (Ex.: ontem aconteceu um terremoto no
Japão)
 Uso Prescritivo: objetiva emitir ordens, influenciando o
comportamento dos demais (Ex.: abra a janela)
LINGUAGEM JURÍDICA
Esta diferencia-se dos idiomas naturais. É técnico ou
artificial, utilizado e entendido pelo grupo socio-
profissional dos operadores jurídicos e pensadores do
Direito.

A linguística jurídica, desenvolvida em extensos


tratados, possui duas características principais:

LINGUAGEM LINGUAGEM
DE PODER TÉCNICA
1. LINGUAGEM DE PODER
O Direito é um idioma de poder. Não é utilizado para
simples comunicação humana, isto é, para passar
informações, instruir ou divertir.
O Direito emite mandamentos, ou seja, utiliza a
ferramenta da linguagem para influenciar o
comportamento das pessoas, convencendo-as de se
comportarem da forma que este determina (“faça”, “não
faça”).

Esse é o uso prescritivo


da linguagem que indica
que o Direito é um meio
de exercício do poder.
A natureza prescritiva da linguagem jurídica deve ser
levada em consideração para interpretar corretamente as
normas jurídicas.

Exemplo: “É” significa “deve ser”. Em um livro de


geografia está escrito “Brasília é a Capital Federal”.

O Art. 18, § 1º da Constituição Federal prevê:

“Brasília é a Capital Federal”.


As duas frases são idênticas, mas também divergem
totalmente em seu significado.

A primeira frase informa qual é a capital do país. Se


amanhã Salvador voltar a ser a capital do Brasil, os
redatores do livro deverão atualizá-lo, informando qual é a
nova capital.
Quando, porém, a Constituição utiliza o verbo
SER, “é” não quer informar os leitores sobre a
capital do país, mas sim emite uma ordem,
proibindo que qualquer outra cidade seja
proclamada como capital federal.

Nesse caso, o verbo “é”


temo sentido de: “deve
ser, e eventual decisão
de mudar a capital
será inconstitucional”.
2. LINGUAGEM TÉCNICA
Poucos são os documentos jurídicos e os textos de
doutrina de fácil compreensão e de estilo agradável. Isso
não é devido à incapacidade literária de quem trabalha na
área do Direito, mas das exigências do próprio sistema
jurídico.
A linguagem jurídica não é feita para informar nem para
agradar o público, pois seu objetivo é formular com
precisão, brevidade, clareza e certeza, determinadas
prescrições e, no caso da doutrina, expor de forma
sistemática os regulamentos e os conceitos jurídicos.
Quanto mais rigorosa for a linguagem jurídica, menor será
o espaço deixado à polissemia, à ambiguidade sintática, à
vagueza e às avaliações subjetivas, e maiores serão as
garantias de segurança jurídica.
Ou seja: a tecnicidade e o rigor da linguagem jurídica
objetivam minimizar os problemas de comunicação,
permitir ao locutor transmitir de forma fiel sua vontade e
diminuir os espaços de interpretação subjetiva por parte
do auditório, isto é, dos aplicadores do Direito.
EXEMPLO: O legislador que deseja regulamentar a taxa
de juros pode escolher expressões mais ou menos vagas.
Pode estabelecer uma taxa (10% ao ano), remeter a
índices econômicos (a taxa de juros deve ser inferior ao
dobro da inflação) ou contentar-se com uma indicação
vaga (a taxa de juros deve ser razoável).
A escolha não é questão de preferência literária. Depende
da vontade do legislador de controlar efetivamente os
juros ou deixá-los à discrição do mercado e do Poder
Judiciário, utilizando para tanto termos vagos e
ambíguos.
Da mesma forma, o operador do Direito recorre ao rigor da
linguagem técnica para se fazer entender e para evitar que
o adversário no processo se aproveite das ambiguidades e
vaguezas da linguagem para atribuir a determinadas
alegações o sentido que mais lhe favorece.
O leigo pode, por exemplo, considerar que queixa,
denúncia e notícia do crime são sinônimos. Mas a
comunicação forense só é satisfatória se todos conhecerem
o significado técnico de cada um dos termos e os usarem
de forma correta.
E mais. A tecnicização da linguagem jurídica não decorre
só da preocupação de clareza e, por consequência, de
segurança jurídica. Como toda linguagem de “iniciados”, a
linguagem jurídica é um “instrumento de poder”,
manuseado pelos operadores do Direito que conseguem,
assim, adquirir um prestígio social (“o Doutor fala bonito”).
O resultado dessa verborragia jurídica, repleta de
tecnicismos, é distanciar a população do universo jurídico
e manter as vantagens sociais dos operadores do Direito.

Na verdade, esses – os operadores do Direito – possuem o


dever de popularizar o conhecimento jurídico e,
principalmente, de explicar às partes do processo, com
palavras simples, o andamento das causas que os
interessam.

Vamos exercitar:
8) "É função típica, prevalecente, do Poder Judiciário
exercer a jurisdição.“
9) "Os casos de contrafação são previstos pelo Código
Civil."
10) "Nada tema teoria da decadência, ou seja, da
temporariedade dos direitos, com a teoria da
prescrição."
11) "Na ementa do acórdão, o relator já dá a conhecer
a decisão final.“
12) "A teoria de Direito Penal distingue os dois tipos
de delito: furto e roubo, que o povo tem por hábito
considerar como sinônimos.“
13) "A Constituição Federal assegura a isonomia no
art. 5a."
14) "A notificação, em regra, é ato dirigido à pessoa
que não con-tende em juízo, no que difere da
intimação e da citação."
Vamos praticar...
10) Direito imprescritível
11) Ação reipersecutória
12) Bens aquestos
13) Petição inepta
14) Norma cogente
15) Herança jacente
16) Sentença terminativa
17) Prazo peremptório
18) Direito (processual) precluso
19) Depoimento intempestivo
20) Contrato inominado
21) Lei repristinatória
22) Despacho saneador
23) Crime preterintencional

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