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UNIVERSIDADE POTIGUAR – UnP

PRÓ-REITORIA DE GRADUAÇÃO
CURSO DE LETRAS
DISCIPLINA: LINGUÍSTICAII
PROF.ª: CARMEM BRUNELLI

GIOVANNIA ELAINE SANTOS DA SILVA


GIRLANE FERNANDES COSTA
JULIANA MARIA DE JESUS
LILIANE TAISE TAVARES
LINDALVA ROCHA VILERA
ROSEANE TIBÚRCIO
VALDETE MANGABEIRA

PRESSUPOSTOS E SUBENTENDIDOS

NATAL
2011
INTRODUÇÃO

Esse trabalho objetiva analisar um texto e uma charge propostos,


ostrandoque a compreensão deles solicita-nos estabelecer significados, que
passam pelo enunciado, pelas convenções sociais, pelas intenções no uso da
língua e que, por eles, são (re)construídos. Conforme afirma Ducrot (1987,
apud GUIMARÃES, 2010), “há situações de enunciação que extrapolam a
simples constatação” e, alguns textos e charges em sua linguagem,trabalham
de forma a construir uma pluralidade de sentidos em suas informações,
levando o leitor/ouvinte a interpretá-las de acordo com os
contextossocioculturais de sua comunidade.
Também afirma Koch (2004, p. 27, apud MACHADO, ROSA, PRADO) que
“não basta conhecer o significado literal das palavras ou sentenças da língua: é
preciso saber reconhecer todos os seus empregos possíveis, que podem variar
de acordo com as intenções do falante e circunstâncias de produção”.
Concordando com os conceitos acima citados e entendendo que a
linguagemtem a função de convencer o interlocutor sobre algo, analisaremos o
texto e a charge usando como base teórica os conceitos de Oswald Ducrotde
pressupostos e subentendidos, ediscutiremos também as relações entre
pragmática, funcionalismo e os estudos da linguagem.

FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA

O funcionalismo surgiu como um movimento particular dentro do


estruturalismo e tem como concepção a linguagem como o resultado da
adaptação da estrutura gramatical às necessidades comunicativas no uso
interativo da língua. A principal diferença entre o funcionalismo e o
estruturalismo, é que, enquanto este se ocupou da língua, estudando suas
estruturas dissociadas do uso, aquele se preocupou em estudar a língua como
um instrumento da interação social.
Segundo Lyons (1987, p.207), “o funcionalismo é uma corrente
linguística que se caracteriza pela crença de que a estrutura fonológica,
gramatical e semântica das línguas é determinada pelas funções que têm que
exercer na sociedade em que operam”. Ou seja, enfoca os contextos
comunicativos em que essas estruturas são usadas.
Da necessidade de estudar de maneira mais profunda e específica a
estrutura da linguagem em uso, surgiu à pragmática, corroborando com a
concepção funcionalista de que as estruturas da língua precisam ser estudadas
na relação com seus diferentes usos comunicativos.
O que aproxima o funcionalismo da ciência denominada de pragmática é
o estudo da estrutura da linguagem e seus usos, porém a pragmática dá
relevância aos contextos do evento comunicativo, buscando o sentido dos
enunciados.
Uma distância vertiginosa há entre pragmática e estruturalismo, pois
este estudava a língua de maneira isolada e buscava conhecê-la e estudá-la
sem nenhuma marca social, contextual, e a colocava numa oposição central
nos estudos linguísticos, totalmente contrários aos estudos da pragmática que
buscam compreender o que é comunicado além do que as palavras significam
e, isso só pode ser alcançado estudando as práticas linguísticas.
No aprofundamento desses estudos das práticas linguísticas, surgiram
alguns conceitos que nos ajudam a entender como a linguagem funciona, pois
aquilo que parece muito simples eautomático, se mostra não tão fácil quando
tomamos conhecimento, através de estudos dos linguistas, dequantos recursos
(cognitivos, linguísticos, sociais)são solicitados de nós para o processo de
estabelecimento da significação.
Nesse processo é preciso acionar estratégias cognitivas, definidas como
inferências. Essas inferências foram divididas pelo linguista francês Oswald
Ducrot em: pressupostos e subentendidos.
Há conteúdos no texto que são explícitos, mas há também conteúdos
implícitos que, para compreensão, requerem de nós como interlocutores, o
domínioda interpretação dos pressupostose subentendidos presentes nele.
Como afirma Adam (2008):

“a incompletude é a regra do discurso, em virtude de uma


lei da economia da linguagem que permite não dizer tudo
e implicitar o que o auditor ou leitor pode reconstituir,
facilmente, e/ou inferir, baseados em diversas formas de
implícitos.” (ADAM, 2008, p. 172).

O conteúdo explícito no texto é denominadoposto, e refere-se à


informação contida literalmente nas palavras do enunciado. Já os conteúdos
implícitos são denominados de pressupostos e subentendidos. Os
pressupostos são as informações que podem ser resgatadas no sentido dos
enunciados, mais especificamente, na significação das frases, ou seja, se
manifestam no enunciado e são as informações indiscutíveis para o locutor e o
interlocutor. Os subentendidossegundo Ducrot (1987, apud MACHADO, ROSA,
PRADO) “não estão marcados na frase e se explicam no processo
interpretativo”, ou seja, se manifestam a partir de uma reflexão a respeito das
condições de enunciação.
Para Adam (2008), “com efeito, os conteúdos implícitos são, de certa
maneira, igualmente ditos” (ADAM, 2008, P. 176). Mas, para conhecer e
entender o que também está dito nos implícitos, é necessário uma distinção e
compreensão dos conteúdos pressupostos e subentendidos.
Os pressupostos estão presentes, ou são apresentados, no conteúdo
semântico e são motivados por sua enunciação. Pressupor, para Ducrot (1987,
apud MACHADO, ROSA, PRADO), “não é dizer o que o ouvinte sabe ou o que
pensa que ele sabe ou deveria saber, mas situar o diálogo na hipótese de que
ele já soubesse”. Através do pressuposto nós constatamos uma informação,
pois ele satisfaz as exigências discursivas, além daquelas que já são dadas
pelo posto.
Os subentendidos, por sua vez,são compreendidos por Fiorin(2002, p.
244, apud MACHADO, ROSA, PRADO), como “insinuações escondidaspor trás
de uma afirmação”, e essas insinuações devem ser inferidas pelo interlocutor.
Segundo Adam (2008), “os subentendidos não são postos nos enunciados,
mas fazem parte da enunciação como ato” (ADAM, 2008, p.178). Embora eles
não estejam marcados na frase, podem ser resolvidos pelo interlocutor,
observando o que o locutor disse além do que está explícito.
Pressuposto e subentendido não possuem a mesma origem
interpretativa, isso porque os subentendidos estão ligados às circunstâncias da
enunciação, enquanto os pressupostos são transmitidos pela frase. Ducrot
(1987, p. 20, apud GUIMARÃES), ainda afirma que

“Se o posto é o que afirmo, enquanto locutor, se o


subentendido é o que deixo meu ouvinte concluir, o
pressuposto é o que apresento como pertencendo ao
domínio comum das duas personagens do diálogo, como
objeto de uma cumplicidade fundamental que liga entre si
os participantes do ato de comunicação”.

A diferença entre eles, como asseveraDucrot(DUCROT 1987, p.41, apud


MACHADO, ROSA, PRADO),é que “a pressuposição é parteintegrante do
sentido dos enunciados. O subentendido,por sua vez, diz respeito à maneira
pelaqual esse sentido deve ser decifrado pelo destinatário”.
Concluindo essa parte da fundamentação teórica, passaremos a análise
dos textos propostos.

ANÁLISE DOS TEXTOS

No texto 1 proposto: “A matemática do absurdo. Como a morte precoce


causada pelo cigarro ajuda a sociedade, segundo a Philip Morris. Na doença
geram altas despesas hospitalares. Como morrem antes, sobra mais dinheiro
para salvar os demais pacientes. Na aposentadoria. Ao se aposentarem, os
fumantes vivem três anos menos que os demais idosos. O governo pode
poupar um bom dinheiro, que iria para o pagamento das pensões.” Pudemos
identificar como Locutor a Revista Veja, o enunciador 1 é a repórter Anna Paula
Buchalla e o enunciador 2 é a Philip Morris.
Está posto que: a) A morte precoce pelo cigarro ajuda a sociedade; b)
Na doença os fumantes geram altas despesas hospitalares, e quando morrem
sobra mais dinheiro para salvar os demais pacientes; e c) Na aposentadoria, os
fumantes vivem três anos menos que os demais idosos e o governo pode
poupar um bom dinheiro que iria para o pagamento das pensões.
Pode serpressuposto que: a) Foi feita uma pesquisa pela Philip Morris; e
b) A Philip Morris chegou ao resultado que foi divulgado na reportagem. E
subentendemos que a reportagem faz uma ironia ao uso do cigarro, apontando
como benefício as mortes precoces causadas por ele.

Nessa charge o Locutor é o site http://www.acharge.com.br, o


enunciador 1é o cartunista e o enunciador 2 é a presidente Dilma Rousseff.
Está posto que: a) Uma mulher está ao telefone; b) Ela pergunta “E agora Lula,
o que eu faço?; e c) Ela aponta uma arma para um homem.
Pode ser pressuposto: a) A mulher da charge é a presidente Dilma
Rousseff, que pode ser identificada pelos traços fisionômicos; b) O interlocutor
é o ex-presidente Lula; e c) O homem que ela está apontando uma arma é o
ex-ministro Antônio Palocci, que também pode ser identificado pelos traços
fisionômicos.
Subentendemosque: a) A charge faz referência aos muitos comentários
da imprensa nacional na época da eleição presidencial que, se eleita, Dilma
Rousseff não teria autonomia em seu governo; b) A resposta do interlocutor
Lula faz referência ao que ele, quando estava como presidente, fez com o
Antônio Palocci e os demais políticos da base governamental na época da
denúncia do mensalão; c) A fala do homem identificado como Antônio Palocci
faz referência ao fato de que a presidente Dilma já o conhecia bem, desde a
época em que foram ministros juntos e houve o escândalo do mensalão; e d) A
arma na mão de Dilma é justamente uma referência ao conhecimento citado na
letra c) que ela tem sobre as circunstâncias que fizeram com que Antônio
Palocci fosse afastado do Ministério que ocupava na época do governo Lula.

CONCLUSÃO

Concluímos que para encontrar os sentidos, devemos entender que o


conhecimento se pauta não somente nos termos gramaticais e estruturais da
língua, mas nos diversos recursos (cognitivos, linguísticos e sociais) que
acionamos para o estabelecimento das significações.
E tratando-se de um texto jornalístico e uma charge é preciso, para
compreendê-los demaneira eficaz e crítica, tendo a capacidade de captar todos
osconteúdos explícitos ou implícitos presentesno texto, lembrar sempreque em
todo enunciado estará presente uma intencionalidade, e também entender que
ambos os gêneros se constituem a partir de um repertório elaborado com base
em práticas socioculturais imediatas.

REFERÊNCIAS

ADAM, Jean-Michel. A linguística textual: Introdução à análise textual dos


discursos. Revisão técnica: LuisPassegi, João Gomes da Silva Neto. São
Paulo: Cortez, 2008.

GUIMARÃES. M. DE L. C. Análise de propagandas e charges à luz da


semântica da enunciação. In: 1º CIELLI – Colóquio Internacional de Estudos
Linguísticos e Literários / 4º CELLI – Colóquio de Estudos Linguísticos e
Literários, 2010, Maringá – PR. Anais – ISSN 2177 – 650. Universidade
Estadual de Maringá – UEM. 2010.

LYONS, J. Algumas escolas e movimentos modernos. In: LYOSN, J.


Lingua(gem) e Linguística: Uma introdução. Rio de Janeiro: LTC, 1987, p.
201-218.

MACHADO, T. H. S.; ROSA, C. M.; PRADO, T. B. Abordagem de pressupostos


e subentendidos em exercícios de leitura e interpretação de texto.
AkrópolisUmuarana, v. 18, n. 2, p. 131-140, abr./jun. 2010.

SILVA, Adilson Ventura da. A poesia em Ducrot - Campinas:UNICAMP,


2006. 93 f. Tese (Dissertação de Mestrado), IEL – Instituto de Estudos da
Linguagem, Departamento de Linguística, Universidade Estadual de
Campinas – Campinas – SP, 2006.

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