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JORGE FERNANDES E A “REDE...

Jorge Fernandes de Oliveira nasceu em Natal/RN, em 22 de agosto de


1887 onde viveu até seu falecimento em 17 de julho de 1953.
Filho de família tradicional, mas não rica, o que o obrigou a interromper
os estudos no Atheneu e a trabalhar no comércio. Escreveu alguns textos para
o teatro, mas desistiu ao tornar-se caixeiro-viajante da Fábrica de Cigarros
Vigilante, lá trabalhou vinte e cinco anos. Foi dono de bar e sócio do café
Majestic, onde comandava a “academia” Diocésia (clube da boemia e
atividades culturais). Nunca saiu do Estado e sempre leu em português.
Fez amizade com Câmara Cascudo e, juntamente com ele, aderiu ao
modernismo. Com a ajuda do pai de Câmara Cascudo, que era dono de
Tipografia, ele lançou o LIVRO DE POEMAS, em 1927, no qual continha um
depoimento de Câmara Cascudo. Mas a repercussão com o lançamento foi
negativa, causou escândalo, talvez pelo fato de ser um simples caderno de 86
páginas, em brochura, mais largo do que comprido e em papel de 2ª categoria.
Jorge Fernandes surgiu como um pioneiro, na época em que o soneto
era forma de alto requinte literário, ele foi um desbravador de formas e
conceitos estéticos e sua poesia certamente tinha um sabor de novidade:
Cantava em versos livres desprezando rima e métrica, usava repetidamente as
onomatopeias dando sonoridade as suas poesias, falava de coisas
corriqueiras, das paisagens do sertão, do cotidiano da cidade como se os seus
versos fossem mais conversas do que propriamente poesia. Sua poesia era
impregnada de vigoroso regionalismo. Provocou protestos e iras por toda parte
pela sua ironização aos poetas consagrados e ao parnasianismo.
Jorge quis, na poesia “REDE...”, fixar em versos rápidos todas as
sugestões de uma rede armada num alpendre nordestino:

REDE...

Emboladoura do sono...
Balanço dos alpendres e dos ranchos...
Vai e vem das modinhas langorosas...
Vai e vem de embalos e canções...
Professora de violões...
Tipoia dos amores nordestinos...
Grande ... Larga e forte... Pra casais...
Berço de grande raça

Guardadora de sonhos...
Pra madorna ao meio-dia...
Grande... Côncava...
Lá no fundo dorme um bichinho...
- Ô... Ô... Ô... ÔÔ... ÔÔÔÔÔÔÔÔÔ...

- Balança o punho da rede pro menino dormir...


Há o sentido da visão no início de alguns versos, sugerindo
movimento pelas palavras que descrevem uma rede balançando:

Emboladoura do sono...
Balanço dos alpendres e dos ranchos...
Vai e vem das modinhas langorosas...
Vai e vem de embalos e canções...

Tem a presença da sensualidade que se realiza no convívio


amoroso:

Tipoia dos amores nordestinos...

Valeu-se de uma insuspeita grafia para a palavra suspensa,


usando o caligrama (textos cujas linhas formam uma figura
relacionada com o conteúdo ou a mensagem do texto):

Cenário dos mistérios da geração:

Grande... Larga e forte... Pra casais...


Berço de grande raça

Rede como espaço acolhedor: Forma côncava, útero onde gera e


se acalenta o fruto do amor nordestino:

Guardadora de sonhos...
Pra madorna ao meio-dia...
Grande... Côncava...
Lá no fundo dorme um bichinho...

Uso de onomatopeia:

- Ô... Ô... Ô... ÔÔ... ÔÔÔÔÔÔÔÔÔ...

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