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INSTITUTO DOM BARRETO

Presidente de Honra: Marcílio Flávio Rangel de Farias


TAREFA DE REFORÇO PÁGINAS: 1/10
______

ALUNO (A) _________________________________ NO _____ DISCIPLINA: ________________________________


Literatura
1ª SÉRIE ____________________________
_______ Ensino Médio TURMA _____ PROFESSOR(A): _____________________________

“Tudoquenosacontecetrazexperiênciaoudesenvolvealgumaqualidadequenosfaltava.”
(BernardShaw).

O autor dessas palavras foi escritor, jornalista e dramaturgo irlandês. Seu espírito crítico, criativo e forte fez
com que ele se tornasse um nome conhecido e respeitado no panorama literário mundial.
Penso que, no momento, seja necessário refletir sobre o pensamento de Shaw e considerar que a realização
dessa tarefa deve ser entendida como um estímulo à sua capacidade de adquirir experiência, à sua inteligência,
às suas qualidades que devem ser reconhecidas e valorizadas, para o sucesso de realizações futuras.
Boa Sorte!

As questões elaboradas abordam os assuntos contidos no roteiro, se necessário, para respondê-


las, consulte as apostilas entregues no semestre, onde os conteúdos estão bastante explorados.

UNIDADE I – As cantigas líricas medievais


A primeira época da Literatura Portuguesa inicia-se em 1198 (ou 1189), quando o poeta trovador Paio
Soares de Taveirós dedica uma cantiga de amor a Maria Pais Ribeiro, cognominada A Ribeirinha, favorita de D.
Sancho I – e finda em 1418, quando Dom Duarte nomeia Fernão Lopes para o cargo de Guarda-Mor da torre do
Tombo, ou seja, conservador do arquivo do Reino. Durante esses duzentos anos de atividade literária, cultivaram-
se a poesia e as novela de cavalaria.
O lirismo trovadoresco nasceu na própria Península Ibérica, com as Cantigas de Amigo. Depois vieram as
Cantigas de Amor por influência provençal, isto é originada da Provença, região sul da França.
Os poemas líricos recebiam o nome de “cantiga” pelo fato de o lirismo medieval estar associado à música:
a poesia era cantada, entoada, instrumentada. Letra e pauta andavam juntas.
A cantiga de amigo possuía um eu lírico feminino, pois se tratava do ponto de vista de uma mulher solteira
e não submetida às convenções matrimoniais. Essa mulher do povo (pastora, camponesa) se dirigia ao amigo
(namorado), à mãe, às irmãs e amigas ou a algum elemento da natureza. Era uma mulher ora ingênua, ora
experimentada, ora compassiva, ora calculista. O amor físico tinha importância relativa , pois o clima era de amor
distante, de emoções vivenciadas com a presença dos ciúmes e ressentimentos, de reivindicações da liberdade
de amar perante a intervenção materna. Os cenários eram os campos, as fontes, os rios, árvores e flores, ou
ainda ambientes domésticos.. A mulher vivia em intimidade afetiva com a natureza, muitas vezes conversando
com ela, como se ela fosse sua confidente.
É interessante que o poeta era um homem, um trovador, dando voz a uma personagem-mulher, aos interesses
femininos. Quem escreveu lindas canções com um eu lírico feminino, como Valsinha, foi Chico Buarque,
demonstrando sensibilidade, delicadeza, capacidade de se colocar na pele do outro e formação lírica calcada na
mais tradicional poesia portuguesa.
Nas Cantigas de Amor o trovador destaca todas as qualidades da mulher amada, colocando-se numa
posição inferior (de vassalo) a ela. O tema mais comum é o amor não correspondido. As cantigas de amor
reproduzem o sistema hierárquico na época do feudalismo, pois o trovador passa a ser o vassalo da amada
(suserana) e espera receber um benefício em troca de seus “serviços”. Os trovadores tematizam o amor
dispensado, não correspondido, o sofrimento (coita amorosa) pela indiferença de sua “senhora”.
jcf

“Existem sonhos fáceis, sonhos difíceis, mas não sonhos impossíveis.” (Legrand)
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Questões

I – Leia os textos abaixo:

Texto 1

Cantiga
Bailemos nós já todas três, ai amigas,
So aquestas avelaneiras frolidas, (frolidas = floridas)
E quem for velida, como nós, velidas, (velida = formosa)
Se amigo amar,
So aquestas avelaneiras frolidas (aquestas = estas)
Verrá bailar. (verrá = virá)

Bailemos nós já todas três, ai irmanas, (irmanas = irmãs)


So aqueste ramo destas avelanas, (aqueste = este)
E quem for louçana, como nós, louçanas, (louçana = formosa)
Se amigo amar,
So aqueste ramo destas avelanas (avelanas = avelaneiras)
Verrá bailar.

Por Deus, ai amigas, mentr’al non fazemos, (mentr’al = enquanto outras coisas)
So aqueste ramo frolido bailemos,
E quem bem parecer, como nós parecemos (bem parecer = tiver belo aspecto)
Se amigo amar,
So aqueste ramo so lo que bailemos
Verrá bailar.
(Airas Nunes, de Santiago. In: SPINA, Segismundo. “Presença da Literatura Portuguesa - I. Era
Medieval”. 2ªed. São Paulo: Difusão Européia do Livro, 1966.)

Texto 2
Confessor Medieval
(1960)
Irias à bailia com teu amigo,
Se ele não te dera saia de sirgo? (sirgo = seda)

Se te dera apenas um anel de vidro


Irias com ele por sombra e perigo?

Irias à bailia sem teu amigo,


Se ele não pudesse ir bailar contigo?

Irias com ele se te houvessem dito


Que o amigo que amavas é teu inimigo?

Sem a flor no peito, sem saia de sirgo,


Irias sem ele, e sem anel de vidro?

Irias à bailia, já sem teu amigo,


E sem nenhum suspiro?
(Cecília Meireles. “Poesias completas de Cecília Meireles” - v. 8.
Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 1974.)
jcf
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A leitura da cantiga de Airas Nunes e do poema “Confessor Medieval”, de Cecília Meireles, revela que este
poema, mesmo tendo sido escrito por uma poeta modernista, apresenta intencionalmente algumas características
da poesia trovadoresca. Considerando esta observação responda:

1. Tanto na cantiga como no poema de Cecília Meireles verificam-se diferentes personagens: um eu-lírico, que
assume a palavra, e um interlocutor ou interlocutores a quem se dirige. Com base nesta informação, indique o
interlocutor ou interlocutores do eu-lírico em cada um dos textos.

2. Identifique, em cada poema, com base na flexão dos verbos, a pessoa gramatical utilizada pelo eu-poemático
para dirigir-se ao interlocutor ou interlocutores.

3. A cantiga de Airas Nunes apresenta paralelismo, pois, nas duas primeiras estrofes há alternância vocálica no
final dos versos. Explique como Cecília Meireles aproxima seu poema da estrutura paralelística utilizada por
este trovador.

4. Há identidade entre o terceiro verso da cantiga de Airas Nunes e o terceiro verso do poema de Cecília Meireles
no que diz respeito ao número de sílabas e às posições dos acentos (sílabas mais tônicas do verso)? Justifique
e comprove sua resposta.

5. Classifique a Cantiga de Airas Nunes.

6. Identifique, levando em consideração o próprio título, a figura que o eu-lírico do poema de Cecília Meireles
representa.

7. Com base na leitura de todo o poema de Cecília Meireles, interprete a dúvida do eu-lirico, expressa nos
questionamentos dirigidos ao interlocutor.

UNIDADE II – O teatro de Gil Vicente

Gil Vicente foi sem dúvida um homem que viveu um conflito interno, por conta da transição da idade Média
para a Idade Moderna. Isso quer dizer que foi um homem ligado ao medievalismo e ao mesmo tempo ao humanismo,
ou seja, um homem que pensa em Deus mais exalta o homem livre.
O Autor critica em sua obra, de forma impiedosa, toda a sociedade de seu tempo, desde os membros das
mais altas classes sociais até os das mais baixas. Contudo as personagens por ele criadas não se sobressaem
como indivíduos. São sobretudo tipos que ilustram a sociedade da época, com suas aspirações, seus vícios e
seus dramas (tipo é o nome dado aos personagens que apresentam características gerais de uma determinada
classe social). Esses tipos utilizados por Gil Vicente raramente aparecem identificados pelo nome. Quase sempre,
são designados pela ocupação que exercem ou por algum outro traço social (sapateiro, onzeneiro, ama, clérico,
frade, bispo, alcoviteira etc.). Ainda com relação aos personagens pode-se dizer que eles são simbólicos, ou seja,
simbolizam vários comportamentos humanos.
Os membros da Igreja são alvo constante da crítica vicentina. É importante observar, no entanto, que o
espírito religioso presente na formação do autor, jamais critica as instituições, os dogmas ou hierarquias da religião,
e sim os indivíduos que as corrompem.
Acreditando na função moralizadora do teatro, colocou em cenas fatos e situações que revelam a degradação
dos costumes, a imoralidade dos frades, a corrupção no seio da família, a imperícia dos médicos, as práticas de
feitiçaria, o abandono do campo para se entregar às aventuras do mar.
jcf
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O texto abaixo exemplifica o caráter moralizante do teatro vicentino. Leia-o com atenção para responder
às questões.

II – AUTO DA LUSITÂNIA
Entra Todo o Mundo, homem como rico mercador, e faz que anda buscando alguma cousa que se
lhe perdeu; e logo após ele um homem, vestido como pobre. Este se chama Ninguém, e diz:

- Que andas tu aí buscando? Ninguém:


- Buscas outro mor bem qu’esse?
Todo o Mundo:
- Mil cousas ando a buscar: Todo o Mundo:
delas não posso achar, - Busco mais quem me louvasse
porém ando perfiando, tudo quanto eu fizesse.
por quão bom é perfiar.
Ninguém:
Ninguém: - E eu quem me repreendesse
- Como hás nome, cavaleiro? em cada cousa que errasse.

Todo o Mundo: (Berzebu para Dinato)


- Eu hei nome Todo o Mundo, - Escreve mais.
e meu tempo todo inteiro
sempre é buscar dinheiro, Dinato:
e sempre nisto me fundo. - Que tens sabido?

Ninguém: Berzebu:
- E eu hei nome Ninguém, - Que quer em extremo grado
e busco a consciência. Todo o Mundo ser louvado,
e Ninguém ser repreendido.(...)
(Berzebu para Dinato)
- Esta é boa experiência! (Todo o Mundo para Ninguém)
Dinato, escreve isto bem. - E mais queria o paraíso,
sem mo ninguém estorvar.
Dinato:
- Que escreverei, companheiro? Ninguém:
- E eu ponho-me a pagar
Berzebu: quanto devo pera isso.
- Que Ninguém busca consciência
e Todo o Mundo dinheiro. (Berzebu para Dinato)
- Escreve com muito aviso.
(Ninguém para Todo o Mundo)
- E agora que buscas lá? Dinato:
- Que escreverei?
Todo o Mundo:
- Busco honra muito grande. Berzebu:
- Escreve
Ninguém: que Todo o Mundo quer paraíso,
- E eu virtude, que Deus mande e Ninguém paga o que deve.
que tope co ela já.
(VICENTE, Gil. Farsa Chamada “Auto da
(Berzebu para Dinato) Lusitânia”. in: Obras de Gil Vicente. Porto:
- Outra adição nos acude: Lello & Irmão, 1965, pp. 452-453.)
escreve aí, a fundo,
que busca honra Todo o Mundo,
e Ninguém busca virtude.
jcf
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Na cena da farsa AUTO DA LUSITÂNIA atuam os personagens Todo o Mundo e Ninguém, e, intercaladamente,
Berzebu e Dinato. Os diálogos entre estes dois últimos estabelecem uma ambigüidade semântica com respeito
aos dois primeiros. Releia o texto e responda:

8. Qual personagem se responsabiliza diretamente por promover a ambigüidade?

9. Explique a ambigüidade que adquirem os nomes Todo o Mundo e Ninguém.

10. O que representam os personagens Berzebu e Dinato?

11. Como pode, de acordo com o texto, ser justificado o caráter moralizante do teatro vicentino?

UNIDADE III – Quinhentismo no Brasil

Literatura de informação
No cumprimento de suas tarefas, portugueses colonizadores, jesuítas, viajantes aventureiros dão origem às
primeiras manifestações literárias do período, cujas primeiras obras são predominantemente informativas. Seus
textos, marcados pela subjetividade cultural do europeu, descrevem a fauna, a flora, os habitantes nativos e as
condições de vida na terra recém-descoberta. Apesar de não ser considerada literária, essa crônica histórica tem
seu valor, pois além da linguagem e da visão de mundo dos primeiros observadores do país, revelam as condições
primitivas de uma cultura nascente.
Nesse primeiro século da nossa formação, a literatura informativa do colonizador português é representada
inicialmente pela Carta de Pero Vaz de Caminha, relatando o descobrimento do Brasil a D. Manuel. Historicamente,
é uma verdadeira certidão de nascimento do país.
Caminha, durante 10 dias, observa e escreve. Mostra encantamento pelos índios e curiosidade pelas “vergonhas
das índias”. Considera-os puros, ingênuos e, erroneamente, de fácil catequização e transformação cultural.
Muitos que aqui estiveram, depois de Caminha, escreveram sobre a nova e exótica terra. Essencialmente
informativas, as obras: História da Província de Santa Cruz a que Vulgarmente Chamamos Brasil (1576) e Tratado
da Terra do Brasil, publicado somente em 1826, de Pero de Magalhães Gândavo, e Tratado Descritivo
do Brasil em 1587 (1587), de Gabriel Soares de Souza.

A literatura de catequese
Os jesuítas vindos ao Brasil para catequizar os índios, escreveram inúmeras cartas tratados descritivos da
terra, e crônicas históricas. Naturalmente, toda essa produção está diretamente relacionada à intenção catequética
de seus autores, entre os quais se destacam os padres Manuel da Nóbrega, Fernão Cardim e, principalmente,
pelas qualidades literárias, José de Anchieta.
Tendo em vista a catequese, José de Anchieta destaca-se como a figura mais importante na literatura de
catequese, pelos textos que produziu: poemas líricos, hinos, canções e autos (gênero teatral originado na Idade
Média). Ao lado dessa produção, escrevia sermões e poemas em latim, que satisfaziam seu espírito de padre
devoto e fiel à sua vocação.
Toda sua poesia de Anchieta é escrita em verso redondilho, influência do modelo medieval, mostrando assim
a total indiferença do religioso, às orientações literárias do Renascimento que, naquele momento ocorria na Europa.
jcf
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Questões:
III – Leia os dois fragmentos abaixo:

Texto 1
Dali avistámos homens que andavam pela praia obra de sete ou oito. (...) Ao chegar o batel à boca do rio,
já ali havia dezoito ou vinte homens. (...)
A feição deles é serem pardos, avermelhados, de bons rostos e bons narizes, bem-feitos. Andavam nus,
sem cobertura alguma. (...)
Um deles pôs olho no colar do capitão e começou a acenar com a mão para terra e depois para o colar,
como que dizendo que ali havia ouro. Também olhou para o castiçal de prata e assim mesmo acenava para terra
e novamente para o castiçal, como se lá também houvesse prata. (...) Isto tomámos nós assim por assim o
desejarmos. (...)
Parece-me gente de tal inocência que, se homem os entendesse e eles a nós, seriam logo cristãos,
porque eles, segundo parece, não têm nem entendem em nenhuma crença. E portanto, se os degradados que
aqui hão-de ficar aprenderem bem a sua fala e os entenderem, não duvido que eles se hão-de fazer cristãos e
crer em nossa santa fé. (...) Portanto V. A ., que tanto deseja acrescentar a Santa Fé Católica, deve cuidar da sua
salvação. (...) (Pero Vaz de Caminha)

Texto 2
Havia muitos destes índios pela Costa junto das Capitanias, tudo enfim estava cheio deles quando
começarão os portugueses a povoar a terra; mas porque os mesmos índios se alevantaram contra eles e
faziam-lhes muitas traições, os governadores e capitães da terra destruíram-nos pouco a pouco e matarão
muitos deles, outros fugiram para o Sertão, e assim ficou a costa despovoada de gentio ao longo das Capitanias.
Junto delas ficarão alguns índios destes nas aldeias que são de paz, e amigos dos portugueses.
A língua deste gentio toda pela Costa é só uma: carece de três letras - não se acha nela F, nem L, nem R,
cousa digna de espanto, porque assim não têm Fé, nem Lei, nem Rei; e desta maneira vivem sem Justiça e
desordenadamente. (Pero de Magalhães Gândavo)

12 – No texto 1, reproduzimos trecho da carta de Pero Vaz de Caminha ao rei de Portugal, D. Manuel, onde ele
relata suas primeiras impressões sobre os habitantes da terra. Aponte as características dos nativos
observadas por Caminha e explique como elas são apresentadas.

13 – No texto 2, Gândavo, em 1576, registrou suas impressões sobre os contatos entre os portugueses e
indígenas. Como ele descreve a convivência entre eles?

14 – Compare a descrição dos indígenas feita por Gândavo e Caminha e explique o que cada uma delas revela
para o leitor.

IV – Leia os versos abaixo:

“Teme a Deus, juiz tremendo,


que em má hora te socorra,
em Jesus tão só vivendo,
pois deu sua vida morrendo
para que tua morte morra.”
(Auto de São Lourenço)
(José de Anchieta)
jcf
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15. Aponte e explique a influência medieval no fragmento acima.

16. Interprete os versos de Anchieta.

UNIDADE IV – Camões: lírica e épica

Poesia épica – Os lusíadas


Numa época marcante para o país - o período pós- Descobrimentos, com a riqueza, a ostentação e a
ambição a que aqueles deram lugar -, Luís de Camões passa a verso os acontecimentos mais relevantes da
história de Portugal, desde a fundação da nacionalidade até à conclusão da viagem que Vasco da Gama e a sua
frota encetaram, ligando pela primeira vez por mar a Europa e a Índia, em 1498.
Fugindo ao padrão habitual da epopeia, Camões imprime um cunho marcadamente lírico a alguns dos
episódios históricos que descreve (como o de Inês de Castro) e não faz depender a ação das capacidades dum
herói mas antes da vontade e da tenacidade dum coletivo (a nação portuguesa) e da condução, nem sempre
pacífica, de deuses da mitologia greco-romana.
Em nível da estrutura, Os Lusíadas, para muitos ainda hoje a obra que melhor espelha a alma portuguesa,
consta de dez cantos, incluindo no início uma proposição, uma invocação e a dedicatória ao jovem rei D. Sebastião
(1554-1578?); cada estrofe tem oito versos decassilábicos.
Há alguns pontos de contacto com a Eneida de Vergílio, mas a conjugação de elementos cristãos e
mitológicos, criticada à época da publicação do livro (1572), confere-lhe um grau de originalidade entre obras do
mesmo gênero. O espírito do Cristianismo não poderia, aliás, deixar de marcar presença em Os Lusíadas, já
que, segundo Luís de Camões, caberia a Portugal divulgar e expandir os valores cristãos no mundo.

Poesia lírica
A obra lírica de Camões foi publicada postumamente, em 1595, sob o título Rimas.
Como Sá de Miranda, Camões também cultivou as duas tendências presentes do século XVI: a forma
poética tradicional, chamado então de medida velha (versos redondilhos maiores e menores) e a tendência
trazida da Itália, a medida nova (versos decassílabos heróicos e sáficos). Sua obra pode ser considerada uma
síntese entre a tradição portuguesa e as inovações renascentistas.
Em suas redondilhas, Camões dá continuidade à poesia medieval. Com ele, a tradição poética eleva-se a
um nível nunca alcançado pelos autores do Cancioneiro Geral, de Garcia de Resende.
Nem sempre os poemas em medida velha desenvolvem temas ingênuos e graciosos. Camões
freqüentemente versa em redondilhos os mesmos temas graves e dramáticos de seus sonetos. Seus temas
prediletos são o amor, a mutabilidade e o desconcerto do mundo.
A lírica amorosa camoniana está ligada a uma concepção neoplatônica do amor. Isto quer dizer que, para
Camões, o Amor (com maiúscula) é um ideal superior, único e perfeito, o Bem supremo pelo qual ansiamos.
Mas, seres decaídos e imperfeitos, somos incapazes de atingir esse ideal. Resta-nos a contingência do amor
físico (com minúiscula), simples imitação do Amor ideal. A constante tensão entre esses dois pólos gera toda a
angústia e insatisfação da alma humana.
Adotando o neoplatonismo, Camões contrapõe a perfeição do mundo das Idéias às imperfeições do mundo
terreno. A vida humana está condicionada a essas imperfeições, mas o espírito anseia por outros horizontes.
Disso resulta uma visão extremamente pessimista da vida. Sua poesia reflexiva não revela, entretanto, simples
adesão aos lugares-comuns da filosofia neoplatônica. Ela brota dos problemas existenciais do próprio autor, de
suas frustrações e atribulações. E é isso que a torna superior.
jcf
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Questões

V – Leia os textos abaixo com atenção.

Texto 1
“Eis aqui se descobre a nobre Espanha,
Como cabeça ali de Europa toda”

Texto 2
“Eis aqui quase cume da cabeça
De Europa toda, o reino Lusitano,
Onde a terra se acaba e o mar começa”

Texto 3
“A Europa jaz, posta nos cotovelos:
De Oriente a Ocidente jaz fitando,
E toldam-lhe românticos cabelos
Olhos gregos lembrando.

O cotovelo esquerdo é recuado,


O direito é em ângulo disposto
Aquele diz Itália onde é pousado;
Este diz Inglaterra, onde afastado,
A mão sustenta, em que se apóia o rosto.

Fita com olhar esfíngico e fatal.


O Ocidente futuro do passado.

O rosto com que fita é Portugal.”

17. Os textos 1 e 2 iniciam respectivamente as estâncias 17 e 20 do canto III d’ “Os Lusíadas”, de Luís Vaz de
Camões, e o texto 3 é um poema do livro Mensagem, de Fernando Pessoa. De que recurso, comum aos dois
textos, se valem os autores para elaborar a descrição da Europa? Aponte e explique.

VI - Leia o texto abaixo.

Cessem do sábio Grego e do Troiano


As navegações grandes que fizeram;
Cale-se de Alexandre e de Trajano
A fama das vitórias que tiveram;
Que eu canto o peito ilustre Lusitano,
A quem Neptuno e Marte obedeceram.
Cesse tudo o que a Musa antiga canta,
Que outro valor mais alto se alevanta.
jcf
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18. A que parte da épica de Camões pertence o fragmento acima?

19. Uma leitura atenta da estrofe citada revela que o conteúdo dos primeiros seis versos é retomado e sintetizado
nos últimos dois versos. Interprete a estrofe de acordo com esta observação.

20. O que Camões anuncia no verso: “Que eu canto o peito ilustre Lusitano”?

21. A que Camões se refere em relação à “Musa antiga”, no sétimo verso da estrofe?

22. Que relação há entre a estrofe e os procedimentos formais da poesia renascentista? Comprove sua resposta.

VII – Leia os textos abaixo com atenção.

Texto 1
JACÓ ENCONTRA-SE COM RAQUEL
Depois disse Labão a Jacó: Acaso, por seres meu parente, irás servir-me de graça? Dize-me, qual será o teu
salário? Ora Labão tinha duas filhas: Lia, a mais velha, e Raquel, a mais moça. Lia tinha olhos baços, porém Raquel
era formosa de porte e de semblante. Jacó amava a Raquel, e disse: Sete anos te servirei por tua filha mais moça,
Raquel. Respondeu Labão: Melhor é que eu te dê, em vez de dá-la a outro homem; fica, pois, comigo.
Assim, por amor a Raquel, serviu Jacó sete anos; e estes lhe pareceram como poucos dias, pelo
muito que a amava. Disse Jacó a Labão: Dá-me minha mulher, pois já venceu o prazo, para que me case com
ela. Reuniu, pois, Labão todos os homens do lugar, e deu um banquete. À noite, conduziu a Lia, sua filha, e a
entregou a Jacó. E coabitaram. (...) Ao amanhecer, viu que era Lia, por isso disse Jacó a Labão: Que é isso que
me fizeste? Não te servi por amor a Raquel? Por que, pois, me enganaste? Respondeu Labão: Não se faz assim
em nossa terra, dar-se a mais nova antes da primogênita. Decorrida a semana desta, dar-te-emos também a
outra, pelo trabalho de mais sete anos que ainda me servirás.
Concordou Jacó, e se passou a semana desta; então Labão lhe deu por mulher Raquel, sua filha. (...)
E coabitaram. Mas Jacó amava mais a Raquel do que a Lia; e continuou servindo a Labão por outros sete anos.
(Gênesis, 29,15-30 BÍBLIA SAGRADA Trad. João Ferreira de Almeida.
Rio de Janeiro: Sociedade Bíblica do Brasil, 1962.)

Texto 2
SONETO 88

Sete anos de pastor Jacó servia


Labão, pai de Raquel, serrana bela;
Mas não servia ao pai, servia a ela,
Que a ela só por prêmio pretendia.

Os dias, na esperança de um só dia,


Passava, contentando-se com vê-la;
Porém o pai, usando de cautela,
Em lugar de Raquel lhe dava Lia.

Vendo o triste pastor que com enganos


Lhe fora assi[m] negada a sua pastora,
Como se a não tivera merecida,

Começa de servir outros sete anos,


Dizendo: -Mais servira, se não fora
Pera tão longo amor tão curta a vida!
Pera - para
(CAMÕES. OBRA COMPLETA. Rio de Janeiro: Aguilar, 1963, p. 298.)
jcf
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Para responder às questões 23 e 24 leia essa informação: O racionalismo é uma das características mais
freqüentes da literatura clássica portuguesa. A logicidade do pensamento quinhentista repercutiu no rigor formal
de seus escritores, e no culto à expressão das “verdades eternas”, sem que isto implicasse tolhimento da liberdade
imaginativa e poética. Com base nestas observações, releia os dois textos apresentados e;

23. Aponte um procedimento literário de Camões que comprove o rigor formal do classicismo;

24. Indique o dado da passagem bíblica que, por ter sido omitido por Camões, revela a prática da liberdade poética
e confere maior carga sentimental ao seu modo de focalizar o mesmo episódio.

25. considerando a idéia geral do soneto de Camões, interprete os versos finais: “Dizendo: - Mais servira, se não
fora / Pera tão longo amor tão curta a vida!”

26. Existe uma forte oposição no interior do primeiro quarteto. Identifique-a e dê uma explicação para ela.

27. Explique o tipo de lírica amorosa trabalhada por Camões no soneto.

28. Ao retomar uma passagem bíblica para tematizar seu soneto, Camões faz uso de um recurso textual. Aponte
e explique este recurso.

VIII – Leia os textos abaixo.

Leia o fragmento a seguir e responda ao que se pede.

“Amores da alta esposa de Peleu


Me fizeram tomar tamanha empresa.
Todas as deusas desprezei do céu,
Só por amar das águas a princesa.
Um dia a vi co’as filhas de Nereu,
Sair nua na praia: e logo presa
A vontade senti de tal maneira
Que inda não sinto cousa que mais queira.

Como fosse impossível alcançá-la


Pela grandeza feia de meu gesto,
Determinei por armas de tomá-la
E a Dóris este caso manifesto.
De medo a deusa então por mim lhe fala;
Mas ela, c’um formoso riso honesto,
Respondeu: ‘Qual será o amor bastante
De ninfa, que sustente o dum gigante?”
Camões - “Os Lusíadas”

Nas estrofes acima, extraídas do episódio do Adamastor, observamos o amor entre o Gigante e Tétis, a
“Princesa das Águas”. A partir disso, responda:

29. Como se manifesta, no texto, o amor do gigante, e como Tétis reage a esse amor?

30. Quem é, no poema de Camões, o gigante Adamastor?


jcf

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