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Tipos de Sociedades Comerciais

PEDRO MAIA·

1. Principio da típícídade'
1.1. Sentido
As sociedades que tenham por objecto a prática de actos de comércio
devem adoptar um dos tipos previstos no esc (art.P, n2 3): sociedade em
nome colectivo, sociedade por quotas, sociedade anónima, sociedade em
comandita simples e sociedade em comandita por acções. A esta obriga-
toriedade de adopção de um dos tipos previstos na lei a doutrina costuma
chamar prindpto da tipicidade das sociedades comerciais.
O princípio da tipicidade constitui uma restrição ao princfpio da autono-
mia privada, em especial na sua vertente de liberdade contratuaP. Com efeito,

* Professor Auxiliar da Faculdade de Direito da Universidade de Coimbra.


I Sobre o principio da tlplcldade das sociedades comerciais, cfr. JORGI! COUTINHO DE
A DREU, Curso de direito comercial, vol. II, Das Sociedades, Almedlna, Coimbra, 5' ed., 2015,
pp. 57 55., JOSÉ DI! OLIVEIRA ASCENSÃO, Direito Comercial, vol.lV, Sociedades Comerciais,
LIsboa, 2000, pp. 43 55., ANTÓNIO MI!NI!ZES CORDEIRO, Manual de Direito das Sociedades,
vol.l, Das Sociedadesem Geral,3' cd., Almedlna, Coimbra, 2011, pp. 29955., FI LIPIl CASSI ANO
DOS SANTOS, Estrutura associativa e partlclpaçllo soclrtdrla caplta/(slfca. Contrato de sociedade,
estrutura socletdria eparticlpaçllo do sócio das sociedades capltallltlcas, Coimbra Editora, Coimbra,
2006, pp. 201 S8., PAUl.O OI.AVO CUNHA, Direltodassocfedadcscomerclais, 5' ed., Almedlna,
Coimbra, 2012, pp. 57 5S., e DIOGO COSTA GONÇA LVES, Pessoacoletiv« esocfedadescomercials.
Dimensã« problemdtlca e coordenadas slstcmdticas da pmollijicaçllo jurtdtcc-prtvad«; Almcdína,
Coimbra, 2015, passim.
2 Em cspeclal, mas não só, desde logo porque, como veremos, as sociedades abrangidas pelo
principio da tlplcldade podem ter por fonte um nrgóciojurfdlco 'lIIi/altral c não um cOlllralO.

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- TIPOS DE SOCIEDADES COMERCIAI

ESTUDOS DE DIREITO DAS SOCIEDADBS


sociedades unipessoais por quotas (arts, 2702-A ss.) e das sociedades anó-
ao invés do estatuído no art. 4052, n2!, CCiv, as partes não têm a faculdade nimas unipessoais (art. 4882)5. Em relação a estas, não estando em questão
de celebrar contratos de sociedade comercial diferentes dos previstos na lei. a liberdade contratuaL - porque não se trata de um contrato -, não deixa de
O princípio da tipicidade só restringe, contudo, uma das facetas da auto- se impor a mesma obrigatoriedade de respeito pelos tipos previstos na lei",
nomia privada. As partes no contrato, não podendo embora adoptar Um
tipo diferente dos previstos no esc - o q~e. traduz uma. r:st~ição à liber- 1.2. Justificação
dade de fixação do conte˙do do contrato -, Ja podem decídír lIvremente se À. consagração do princípio da tipicidade das sociedades comerciais é uso
contratam - liberdade de contratar em sentido estrito -, assim como podem apontar-se o desígnio do legislador de tutelar a segurança jurídica e, em espe-
escolher, também livremente, com quem contratam - liberdade de escolha do(s) cial, os interesses dos terceiros que contratam com a sociedade. Tais interes-
outro(s) contraente(s). O art. 12, n2 3, do esc deixa pois intacta a liberdade de ses dos terceiros far-se-ão sentir de modo mais vincado naquelas sociedades
contratar em sentido estrito e a liberdade de escolha da(s) contraparte(s) no contrato. em que os sócios não respondem pessoal e ilimitadamente pelas dívidas da
Apesar de restringida pelo princípio da tipicidade, a liberdade de fixa- sociedade Cchamadas de responsabilidade Limitada), como são a sociedade por
ção do conte˙do do contrato de sociedade comercial não é de todo em todo quotas e a sociedade anónima', Na verdade, em tais sociedades, à limita-
afastada pela lei: observando um tipo e respeitando as normas de carácter ção, para os sócios, do risco inerente ao exercício de uma actividade econó-
imperativo que o regulam', as partes podem conformar livremente o con- mica corresponde, para os terceiros/credores, um aumento do seu risco de
te˙do do contrato de sociedade. Como veremos mais adiante, esse espaço incumprimento das obrigações da sociedade. Compreende-se, pois, que o
de liberdade deixado pelo legislador às partes varia muito consoante o legislador só conceda aos sócios o beneficio da limitação da responsabilidade
tipo de sociedade em causa. mediante a observância por estes de um figurino (de um tipo) cujo regime
O principio da tipicidade impõe-se às sociedades cujo objecto con- se encontra pré-fixado na lei, sendo, por isso, conhecido de todos.
sista apenas na prática de actos de comércio e também às sociedades que Mas não serão, apenas, os interesses dos terceiros a justificar a con-
tenham um objecto misto, isto é, que se dediquem tanto à prática de actos sagração, entre nós, do princípio da tipicidade. Também o interesse dos
de comércio quanto à prática de actos não comerciais - é o que resulta, a próprios sócios, especialmente dos ditos sócios-minoritários nas sociedades
contrario, do art. II!,n!!4, CSC4. Mas dentre as sociedades cujo objecto seja anónimas e nas sociedades em comandita por acções, reclama a adop-
comercial, o princípio da tipicidade só abrange as sociedades que tenham ção daquele princípio. O afastamento da possibilidade de constituição de
por fonte um negóciojurídico: as sociedades criadas ope legis podem desviar- sociedades atípicas importa, para os sócios, um acréscimo de segurança e
-se dos tipos previstos no esc, uma vez que tais sociedades provêm de de certeza na sua relação jurídica com a sociedade.
instrumento normativo de valor hierárquico idêntico ao do próprio esc,
onde o princípio da tipicidade se estabelece. S A esta unipessoalidade de uso geral, acrescem casos previstos em legislação especial, como
por exemplo as sociedades unipessoais da Zona Franca da Madeira (OL n9 212/94, de 10.08)
e as recentes sociedades desportivas unipessoais por quotas (OL n9 10/2013, de 25.01).
Como se viu já, a sociedade comercial, nascendo, em regra, de um con- • De resto, dado tratar-se de negócios jurídicos unílateraís, sempre valeria, em relação a elas, o
trato, pode, todavia, ter por fonte um negóciojurídico unilateral. É o caso das princípio (geral) de ríplcídade ou numerus claususde tais negócios, prescrito DO art, 457· CClv.
7 Note-se, porém, que a aplícação do regime dos grupos de sociedades, concretamente do
disposto no art, 501. (aplicável ao domíniO total por remissão do arr. 4919), pode determinar
J E, bem assim, a ordem p˙blica e os bons costumes (an. 2800, n. 2, CCiv.).
que o sócio de uma sociedade anónima seja ilimitadamente responsável pelas dívidas desta.
• O art, 1°,n· 4, CSC admite a constituição de sociedades civis sob aforma comercial, isto é, de
Noutros casos, a lei comina a responsabilidade do sócio pelas dividas sociais, mas já a titulo
sociedades cujo objecto é "exclusivamente" civil, mas que adoptaram uma das formas previstas
sancionatório, como sucede, por exemplo, nos arts. 83·, 84· e 270·-F.
no Código para as sociedades comerciais. Porém, a liberdade de adoptar uma forma comercial
E esse efeito pode ainda decorrer da chamada "desconsideração da personalidade jurídica",
- e, também, a liberdade de não adoptar uma dessas formas - só é conferida às sociedades
que "tenham exclusivamente por objecto a prática de actos não comerciais". As sociedades nos casos excepcionais em que deva aplicar·se.
civis sob forma comerclal6cam sujeitas ao regime do CSC (art. 10, nO4, CSC). 15

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S DE DIREITO DAS SOCIBDADES
TIPOS DE SOCIEDADES COMERCIAIS
ESTUDO • '6 r-se um interesse p˙blico na fixação do
d ' lnda IdenU ca . d d -.
por fim, po era ai dí da em que as SOCIe a es sao Instrumentos ecuilibrío interno de cada sociedade, que se revela essencial para a prossecu-
princípio da tipicidade. N~.do I ossos dias e na medida em que o prinCípio ção dos interesses que norteiam a instituição do princípio da típícídade, só
fundamentais da economia os n ão no tráfico jurídico muito mais estável
a intervença . pode resultar da articulação de um determinado tipo de responsabilidade
da tipicidade toma a su d m benefício geral e difuso decorrente dos sócios (perante a sociedade e perante os credores sociais) com uma
ar se
e certa, parece poder fal : í ~: certa estrutura organizatória. Digamos que existe uma relação de m˙tua
da consagração daquele prlOc p .
implicação entre a estrutura organizatória e a natureza da responsabili-
I dostipos legais societários dade dos sócios em cada tipo de sociedade.
2. Caracterização gera rincípio da tipicidade, não se encontra no Note-se, porém, que a natureza típica da estrutura organizatória não
Apesar de a lei estabe( ecer o opsI'nequívoca) do que seja o conte˙do ou a obsta, por si, à admissibilidade dos chamados" órgãos estatutários": órgãos
d finíção ao men .
CSC uma e dos tí s societários. Isto é, não se diz na lei em que que, sem suprimirem nem limitarem as competências dos órgãos upicos, se
s
essência de ~ada u~ d °d t1p~ nome colectivO, o tipo sociedade por quotas encontram previstos apenas nos estatutos, em regra com funções de mero
nsíste o ttpo socie a e e dí . I '
co . d dó' o tino sociedade em coman íta slmp es ou o tlp' o aconselhamento, vígílâncía ou acompanhamento da vida socíal,?
o tipo socie a e an ruma, r _
sociedade em comandita por acçoes. '.
,
E certo que os
Títulos II (sociedades em nome colectivo), III (socleda-
\: . 2.1. Responsabilidade dos sócios perante a sociedade e perante
d es por quo tas,'I' IV (sociedades anónimas) e V (SOCiedades em comandita\ os credores sociais
\: . , ')
do esc principiam, cada um deles, com um~ .norma que,. sob a epIgrafe a) Sociedades em nome colectivo - Os sócios das sociedades em nome colec-
"caracteristicas" alude à natureza da responsabilIdade assumida pelos sócios. tivo, além de responderem perante a sociedade pela sua obrigação de entrada,
Deste modo, poder-se-ia supor que essa era a essência do tipo: a responsabili- respondem ainda perante os credores da sociedade pelas obrigações desta.
dade pessoal e ilimitada constituiria a essência do tipo sociedade em nome A responsabilidade por estas dívidas é subsidiaria em relação à sociedade
colectivo (art.175º, n21);a responsabilidade solidária dos sócios pela realiza- - o que significa que os credores sociais só podem exigir o cumprimento
ção das entradas convencionadas no contrato seria o cerne do tipo sociedade aos sócios depois de esgotado o património da sociedade -, mas é solidária
por quotas (art. 1972,n21); a responsabilidade limitada ao valor da entrada, entre os sócios - o que se traduz na possibilidade de os credores da socie-
a par da divisão do capital social em acções, definiria o tipo sociedade anó- dade exigirem de qualquer dos sócios a totalidade da dívida (art.1751!, n1!1)1°.
nima (art. 2712); a existência simultânea de sócios responsáveis apenas pela Deve notar-se que a responsabilidade cominada pelo art, 1752, n2 I, não
realização da sua entrada de par com sócios responsáveis nos mesmos ter- impende apenas sobre os sócios da sociedade, mas também, ainda que a
mos dos sócios da sociedade em nome colectivo constituiria a sociedade em
comandita por acções - caso as participações destes ˙ltimos sócios se repre-
sentassem em acções -, ou uma sociedade em comandita simples - se não os órgãos socletáríos. Em sentido diferente, retirando da designação "conselho de adminístra-
houvesse essas mesmas acções (art, 4652, n21 e 3). ção" dada ao órgão de administração de uma sociedade por quotas uma violação do principio
da típicídade, cfr. Ac. STJ 05.03.1992 (BM], n" 415, Abril, 1992, pp. 666 ss.).
Apesar de o tipo de responsabilidadeassumida pelos sócios se revelar um • O" órgão estatutário", nos termos em que pode admitir-se, constitui ainda um órgão confor-
elemento fulcral para a defi . - d
rnçao e ca d a tipo
. . me com a lei. Diferente é o caso do chamado administrador ou gerente defacto, cujo exercício
de SOCiedade parece que a não se encontra legitimado por um título [urídico-formal. Sobre a matéria, vide RICARDO
esse elemento haverá' '
uma estrutura organizat6ria {definida na
Ier.para cada um. dos t'que aSSOCIar
\ ~ COSTA, Os administradores defacto das sociedades comerciais, Almedina, Coimbra, 2014, passim.
IPOS;.nos seus contornos mínimos", Com efeito, o 10 Claro está que "o sócio que (...) satisfizer obrigações da sociedade tem direito de regresso
contra os outros sócios, na medida em que o pagamento efectuado exceda a importância
A inclusão de uma estrutura organizatória na definição de cada tipo socíet que lhe caberia suportar segundo as regras aplicáveis à sua participação nas perdas sociais"
I
. á'rro n ãosecon'
.
funde com a designaftloou denominaçllo que o contrato, indevidamente, utilize para identificar (art. 175", n" 3).

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ESTUDOS 0& DIREITO DAS SOCIEDADES

TIPOS DE SOCIEDADES COMERCIAIS


título excepcional, sobre quem, não sendo embora sócio, inclua o seu nome
ou firma na firma social (art. 17711, n2 2). o art. 1982, n2 1, permite, contudo, que por estipulação contratual um
ou mais sócios respondam também perante os credores sociais até deter-
b) Sociedades por quOMS - Nas sociedades por quotas "os sócios são solida, minado montante. Assim, algum ou alguns sócios, além de responderem
ríamente responsáveis por todas as entradas convencionadas no contrato nos termos acima expostos perante a sociedade - responsabilidade essa que o
social", mas "só o património social responde para com os credores pelas contrato nuoca poderá afastar -, ainda poderão estar obrigados a responder
dívidas da sociedade" (art. 1972,n9 1 e 3). Significa isto que neste tipo de perante os credores da sociedade. Note-se, porém, que, ao invés do que vimos
sociedade os sócios assumem uma responsabilidade que ultrapassa a rea- suceder quanto aos sócios das sociedades em nome colectivo, a assunção
lização da sua própria entrada - uma vez que também respondem, perante de responsabilidade pelas dívidas da sociedade por quotas terá de cingir-se
a sociedade. pela realização das entradas dos seus consócíos'' -, mas não a um "determinado montante", isto é, nunca será ilimitada.
assumem responsabilidade perante oscredoresda sociedadelH3 - a sua respon- O contrato, quando disponha sobre a responsabilidade do sócio por dívi-
sabilidade é, portanto,limitadaH• das da sociedade, poderá ainda regular a natureza dessa responsabilidade
- subsidiária ou solidária com a sociedade (art. 1982, n9 I) -, assim como
IIÉ frequente dizer-se que os sócios das sociedades por quotas 3ss~me~ respons~bi~idade poderá afastar o direito (supletivo) de regresso do sócio que pagar dívidas
pela -integr:lção do capital social", para exprimir a ideia de que os SÓCIOS530 responsaveis ~Ia sociais (art. 19811, n23).
realízaçâo de rodas as entradas convencíonadas.Isso será assim sempre que o valor do capital A possibilidade aberta pelo art.19811, nlll, de os sócios responderem pelas
social corresponda à soma do valor das entradas dos sócios. Todavia, por força do disposto no dividas da sociedade impede a afirmação de que a irresponsabilidade dos
art, W. nt 1. o \'Illor de entrada do sócio pode ser superior 30 valor nominal da sua entrada,
sócios perante credores sociais seja uma característica essencial da socie-
o que. em lermos práticos. implica que seja possível que, por ex .. uma sociedade tenha um
capital social de 5 000 Euros, mas os sócios estejam obrigados a entrar com 10 000 Euros. Em
dade por quotas. É um traço-regm, mas que tem carácter meramente suple-
1111caso, a responsabilidade de cada sócio não SIe cingir:i 11"integração do capital social" (5000 tivo e que, portanto, o contrato pode arredar. Todavia, já se pode afirmar
Euros). mas estender-se-a à realização do "alor global das entradas estipuladas (10000 Eu ros). que a limitação da responsabilidade é um elemento nuclear do tipo sociedade
I! O sócio da sociedade poderá, contudo, responder perante credores da SOCiedade nos termos por quotas: os sócios podem responder por dívidas da sociedade, é certo,
dos arts, 83' e 84 t.
mas nunca podem responder ilimitadamente por tais dividas.
Convém notar ainda que o regime do art, 30', n01,al. a) - que permite a sub-rogaçlio do credor
:da SOCiedade) ao devedor (no caso, a própria sociedade), em termos idênticos aos dos arts,
606' SS. CCi". - não constitui excepção a essa irresponsabilidade do sócio pelas dívldas da
c) Sociedades anónimas - Nas sociedades anónimas, os sócios, a mais de
sociedade. Com efeito, o que ai se prevê é a possibilidade de o credor da SOCiedade se sub- não responderem pelas dívidas da sociedade, só respondem pela suas pró-
-rognr ~ esta na e:dgéncia aos sócios do cumprimento da obrlgaç10 de entrada. Mas, nesse prias entradas e já não pelas obrigações assumidas pelos seus consócios - no
caso. os sõetos pagarão ainda d sorirdadr e não aocl'(dordesta. que este tipo de sociedade se afasta das sociedades por quotas (art. 27111).
11 Os sócios das sociedades por quotas não respondem perante credores sociais por força do Cada accionista tem a sua responsabilidade, digamos assim, duplamente
ronll'lllO. Mas podem, é claro, ser responsáveis perante tais credores por força de ouu» IIegóclo limitada: externamente, porque não responde, perante os credores da sociedade,
jllridiro - um aval. uma fiança, etc. - que tenham celebrado. Na prática, é até multo comum
pelas dívidas desta; internamente, porque não responde, perante a sociedade,
que certos credores da SOCiedade exijam que os sócios garantam pessoalmellte as dividas sociais,
casn em que, por força de tais gararulns pessoais prestadas, os sócios serQo responsáveis. Mas por nenhuma dívida além da sua própria obrigação de entrada.
tal responsabilidade, sublinhe-se lima vez mais, não decorre da sua qualidade de sócios, mas
sim da sua qualidade de, por exemplo,jiadol'ts, al'alf.ltas, etc.
16 Nas SOciedades por quotas a responsabilidade do sócio é limitada ao valor dn soma de (O-
da~ a entrndas e não, apenas. ao valor da sua própria entrada. Assim, podem ocorrer que um A hipótese que acabámos de figurar, embora possíIPrl, será, na prática, de ocorréncíe pouco
Ódfl,tendo-se obrigado li realiur Uma entradn de, por hipótese, 400 Buros, seja chamado, pmlldvcl. Com efeito, os arts. 204Q S5. prevêem a exclusão do sócio remisso (o sócio que não
pela sociedade, a complem- a emrada em divida de outro Sl~clo no valor de 400.000 Euros. cumpriu, total ou parcialmente, a sua obrlguçdo de ent rada) e consequeme venda da sua quota,
IR cujo produto servirá purll pagamento à socíedade do montante em divida (ans. 20SQ c 20RII).

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ESTUDOS DE DIREITO DAS SOCIEDADES TIPOS DE SOCIEDADES COMERCIAIS

d) Sociedades em comandita simples - Neste tipo de sociedades existem intensidade desses interesses também não é a mesma em todos os tipos: com-
dois grupos de sócios: por um lado, aqueles que assumem uma responsa- preende-se que o interesse em impedir a entrada de estranhos seja muito
bilidade igual à dos sócios das sociedades em nome colectivo (esses são os mais intenso numa sociedade em nome colectivo do que numa sociedade
sócios comanditados); e, por outro lado, aqueles que respondem apenas anónima cotada em Bolsa, assim como é visível que o interesse do sócio
pela sua entrada (os sócios comanditários) (art. 4652, n2 1). Por esta razão em poder vender, sem necessidade de consentimento de ninguém, a sua
há quem fale, a propósito da sociedade em comandita, de um tipo misto ou participação será muito mais relevante nessa sociedade anónima cotada
hfbrido, exactamente para pôr em destaque a ideia da reunião, na mesma em Bolsa do que naquela outra sociedade em nome colectivo.
sociedade, de sócios de responsabilidade limitada com sócios de responsa-
bilidade ilimitada. a) Sociedades em nome colectivo: Nos termos do art. 1822, nO1, "a parte de
um sócio só pode ser transmitida, por acto entre vivos, com o expresso
e) Sociedadesem comandita por acções- A responsabilidade assumida pelos consentimento dos restantes sócios". Concede-se, pois, a primazia ao inte-
sócios neste tipo de sociedade assemelha-se àquela assumida nas sociedades resse dos sócios subsistentes na sociedade em não passarem a ter, sem o seu
em comandita simples (art. 4659, nO1). As diferenças entre os dois tipos expresso consentimento, um novo consócio. O regime encontra a sua justi-
não se encontram nesta sede. ficação na gravidade das consequências que poderiam advir, para aqueles
sócios, da entrada de um estranho (indesejado) na sociedade, uma vez que
2.2. Transmissão de participações sociais entre vivos este teria direito a integrar a gerência (art.1919, n2 1)17,aí dispondo de pode-
A transmissão de uma participação social implica a substituição de sócios res iguais e independentes para administrar e representar a sociedade (art.
na sociedade, isto é, a saída de um e a entrada de outro", Como é fácil de 193°, n2 1), ao que poderia acrescer o risco da sua insolvência e o concomi-
ver, na definição do regime a que deveria sujeitar essa transmissão, o legis- tante incumprimento da sua obrigação de pagamento das dívidas sociais.
lador deparou-se com interesses, em regra, antagónicos: por um lado, o O sócio a quem seja recusado o consentimento para a transmissão da
intm.:tSedo sócio que pretende transmitir a sua participação - que reclama a sua participação social poderá, cumpridos os requisitos do art. 1850, nOI,
máxima liberdade para essa transmissão, para assim poder mobilizar como a), exonerar-se da sociedade", recebendo então o valor pela sua parte, cal-
e qllando quiser o seu património e exercer a sua liberdade de se desvin- culado nos termos do art. 1052, nO2.
cular do grémio social"; por outro lado, o interesse dos restantes sócios e da
própria sociedade - a quem convirá ter o direito de impedir a transmissão b) Sociedades por quotas: O art. 228°, n9 2, estatui que "a cessão de quo-
sempre que se afigure indesejável (pelas mais variadas razões) a entrada tas não produz efeitos para com a sociedade enquanto não for consentida
de certa pessoa para a sociedade ou em que se mostre necessário (por- por esta, a não ser que se trate de cessão entre cônjuges, entre ascenden-
ventura, até, imprescindível) a continuidade do sócio para a subsistência tes e descendentes ou entre sócios". O art. 242°-A, aditado pelo Reforma
da empresa social.
de 2006, dispõe, contudo, que "os factos relativos a quotas são ineficazes
A s~luÇãoencont~da para a composição de tais interesses difere de tipo
de SOCIedadepara npo de sociedade, exactamente porque a medida ou a
17 Salvo estipulação em contrário, "são gerentes todos os sócios, qucr tenham constituído a
1.\A não ser que se (rote de uma lr1InSmissdorntrrsócios_ caso em que a saída de um sócio não sociedade, quer tenham adquirido essa qualidade posteriormente" (art. 191°, nt 1).
implicar:la entroda de um no~'OSÓCio-. ou de uma transmiss50 apenas parcial- caso em que IA Note-se que o direito do sócio à exoneração não está. nas sociedades em nome colectivo,
o sócio. por haver lronsmltido somente uma fracç40 da SUa particlpaç:io social. manterá o associado à recusa do consentimento para a rransmíssão da parte social, antes constitui um
seu SIII'"S soei/.
direito geral dos sócios "se não estiver fixada no contrato a duração da sociedade ou se esta
lO Como "cremos j~~ seguir. na SOCiedade anónima o interesse na livre transnlissão n50 é tiver sido constituída por toda a vida de um sócio ou por período superior a 30 anos. desde
apenas do SÓCio-actllal.mas também do Slklo:/ilfuro.
que aquele que se exonerar seja sócio há. pelo menos. dez. anos- (an. 1SS', nt 1. all1».
SSTUDOSDE DIREITO DASSOCIEDADES

perante a sociedade enquanto não for solicitada, quando necessária, a pro- são, poderá reduzir os casos em que esta é livre - passando, por exemplo,
a exigir-se o consentimento da sociedade mesmo nas transmissões entre
moção do respectivo registo" 19.
O regime supletivo para a cessão de quotas'? difere, pois, consoante a sócios (art. 22911, n2 3); (c) o contrato de sociedade poderá, ao invés, dis-
pensar o consentimento da sociedade para as situações em que ele seria
pessoa do cessionário: é livre a cessão para cônjuge, ascendente ou des-
necessário (art. 229g, nll 2). Por outro lado, relativamente aos casos em que
cendente, bem como para outro sócio; mas dependem de consentimento
se exija o consentimento da sociedade, o contrato poderá estipular, por
da sociedade todas as outras cessões.
exemplo, que a deliberação seja tomada por uma maioria qualificada e não
Cabe destacar, desde já, duas diferenças relativamente ao regime das
sociedades em nome colectivo: em certos casos a cessão é livre e, quando apenas por maioria simples".
Não obstante o regime supletivo para a cessão de quotas atender, em
a cessão não é livre, o consentimento deve ser dado pela sociedade e não
larga medida, ao interesse dos sócios subsistentes - uma vez que só em
pelos sóciosl1• casos contados é que se dispensa o consentimento da sociedade -, o facto
O regime estabelecidopelo art. 2282, ng 2, pode ser amplamente derrogado
é que o legislador não desatendeu ao interesse daquele sócio a quem é
no contrato de sociedade. (a) O contrato pode proibir a cessão de quotas (art.
recusado o consentimento para transmitir a sua quota. Com efeito, o art.
229 nQ 1),o que implicará que nem sequer o consentimento da sociedade
Q,
2312,nll 1,impõe à sociedade que, a par da recusa do consentimento, apre-
ou dos sócios viabilizará a cessão"; (b) o contrato, em vez de proibir a ces-
sente ao sócio - que o seja há mais de três anos" - uma proposta de amor-
tização ou de aquisição da sua quota, sob pena de a cessão se tornar livre
19 Parece existir um desacerto entre as duas referidas normas (o art. 2282, n2 3, e o art, 2429-
A): a primeira dispõe que a cessão é eficaz logo que seja comunicada por escrito à_soci~dade; a
(art. 23111, nO2, aI. a)). Vale isto por dizer que o sócio a quem seja recusado
segunda impõe a solicitafllo à sociedade da promoção do registo para que a cessao seja eficaz o consentimento terá sempre a possibilidade de realizar, ao menos par-
perante ela. Parece-nos, por isso, que a comunicação à sociedade, prevista no art. 2289, n2 3, de- cíalrnente", o seu interesse, deixando de ser sócio e recebendo uma con-
verá valer, ao menos ímplícítamente, como solicitação para apromofãodo registo - que o art, 2429 trapartida monetária por isso".
exige para que a cessão produza efeitos em relação à sociedade. Desta forma, o mesmo acto
cumprirá, simultaneamente, os requisitos das duas referidas normas, evitando-se o aparente
desacerto que a sua letra implicaria. Sustentando uma interpretação restritiva do art. 2422-A,
no sentido de que não basta a solicitação da promoção do registo, sendo necessário que ele
seja efectivamente promovido, cfr. PAULO OLAVO CUNHA, oh. cit., p. 57 ss. (mas esta Inter- Quando a cessão de quotas seja proibida, os sócios têm direito à exoneração, uma vez decor-
pretação do art. 2429-A implica um desacerto com o disposto no art, 2289, n2 3, como se referiu). ridos dez anos sobre o seu ingresso na sociedade (art. 2299, n~ 1,lnjine).
20 Sobre o regime da cessão de quotas, cfr. PEDRO MAIA, "Cessão de quotas", in Os quinze 2
2J É o que decorre do disposto nos arts. 229v, nV 5, 2489, n 1, e 386 , n 1.
V 9

anos de vigência do C6digo das Sociedades Comerciais, Fundação Bissaya Barreto, Instituto Superior 24 O regime do art, 231v, nV 1 e 2, só se aplica às recusas de consentimento para a cessão de
BissayaBarreto, Direcção Científica A. Ferrer Correia, Coimbra, 2003, pp. 125-149, e A LEXAN- quotas que estejam "há mais de três anos na titularidade do cedente, do seu cônjuge ou de
DRE DE SOVERALMARTINS, CesSi1odeQuotas-algunsprohlemas, Almedina, Coimbra, 2007. pessoa a quem tenham, um ou outro, sucedido por morte" (art. 2312, nV 3). Para mais desen-
21 Sendo o consentimento requerido à SOCiedade- e não aos sócios - bas-tará uma deliberação
volvimentos, cfr. PEDRO MAIA, "Cessão de quotas", cit., pp. 125 ss.
tomada por maioria (nos termos gerais dos arts. 2482, nV 1, e 3869, nV 1), o que significa que 25 O regime do art. 231., n2 1, nem sempre garante que o sócio não "perca" por lhe ter sido
o consentimento poderá ser concedido mesmo contra a vontade de algum ou alguns sócios recusado o consentimento. Com efeito, a proposta da sociedade - de amortização da quota ou
(minoritários, que tenham votado contra a deliberação aprovada), ou sem a sua vontade (sócios da sua aquíslção por um terceiro - não terá de ser feita pelo mesmo valor que o sócio projectava,

I
ausentes da assembleia que delibere autorizar a cessão da quota).
por exemplo, vendê-Ia, se a quota não estiver há mais de três anos na titularidade do cedente,
~. ~ es~adeliberação, o sócio alienante estará impedido de votar. Neste sentido, com argumentos do seu cônjuge ou de pessoa a quem tenham, um ou outro, sucedido por morte (art. 2319, nV 3).
inteiramente convincentes, JOÃO LABAREDA, "PosiÇão de sócio alienante na deliberação 26 Sobre a nova redacção do art. 231v,n91, h), e a necessidade de proceder a uma interpretação
sobre o pe~ido de consentimento para a cessão de quotas", ln Estudos em homenagem ao Prof ab-rogante no que toca à ausência de aceitação por escrito por parte da sociedade, cfr. P Eo RO
~oulor Raul ,Ventura, Co.imbra Editora, Colmbra, 2003, pp. 467ss. MA I A, "Registo e cessão de quotas", ln Reformas do Código das Socledades Comerciais, Almedina,
Claro esta que os SÓCIOS poderão proceder a uma alteraçllo do contrato aí estabelecendo que COimbra,2007,p.165,eALExANDRE DE SOVERAL MARTINS, "Cessão de quotas ...". cn., p.49.
a cessão deixe de ser proibida. '

23
22
ESTUDOS DE DIREITO DAS SOCIEDADES

C) Sociedadesan6nímas: Nas sociedades anónimas, a transmissão de acções TIPOS DE SOCIEDADES COMERCIAI

é, em princípio, livre,podendo, no entanto, o contrato de sociedade limitar-


mas nunca excluir7 - a transmissão de acçõesnominativas - e já não das acções Já quanto à transmissão das participações dos sócios comanditários há
que distinguir: nas sociedades em comandita simples, submete-se a trans-
aoportador8 (art. 32811, n21). A limitação pode traduzir-se ou na necessidade
ll missão ao regime vigente para as sociedades por quotas (art. 4752); nas
de consentimento da sociedade para a transmissão (art. 32811, n 2, al, a)) ou
na subordinação a "determinados requisitos, subjectivos ou objectivos, que sociedades em comandita por acções, aplica-se o regime da transmissão
das acções das sociedades anónimas (art. 4782).
estejam de acordo com o interesse social" (art. 32811, n2 2, aI. c)). Em qualquer
caso,as limitações hão-de constar dos próprios títulos das acções, sob pena
2.3. Estrutura organizatória
de serem ínoponíveís a adquirentes de boa-fé (art. 32811, n2 4)29,
A lei, a par de ter fixado como regime-regra a liberdade de transmis- Na definição de J. Coutinho de Abreu, órgãos sociais são "centros institu-
são das acções, só deixou um reduzido âmbito para a derrogação daquele cionalizados de poderes funcionais a exercer por pessoa ou pessoas com
regime por viado contrato". E compreende-se que assim tenha feito, fun- o objectivo de formar e I ou exprimir a vontade juridicamente imputável
às sociedades'?'.
damentalmente por a sociedade anónima estar gizada para a disseminação
do seu capital, o que impõe a fácil circulação das acções.
Nos apertados casos em que o legislador admitiu que o contrato sobre- a) Sociedade em nome colectivo: Na sociedade em nome colectivo, o poder
levasseo interesse dos sóciossubsistentes (ou da sociedade) em impedir a supremo sobre a sociedade pertence à colectividade de sôcios (ou, se se prefe-
transmissão das acções, impôs, ainda assim, a tutela do interesse do sócio rir, à assembleia de s6cios). Pertencem a este órgão todos os sócios da socie-
que pretende transmitir a sua participação social. Deste modo, a socie- dade, a quem compete deliberar sobre todos os "assuntos constantes da
dade deverá conceder ou recusar o consentimento no prazo máximo de lei ou do contrato", sendo "necessariamente objecto de deliberação dos
60 dias (art. 3290, nll 3, a)), sob pena de a transmissão se tornar livre (art, sócios a apreciação do relatório de gestão e dos documentos de presta-
3290, nl!3, b)); caso recuse licitamente a transmissão, a sociedade deverá ção de contas, a aplicação dos resultados, a resolução sobre a proposição,
fazer adquirir as acções nas condições de preço e pagamento do negócio transacção ou desistência de acções da sociedade contra sócios ou geren-
para ~~e foi solicitada ou, tratando-se de transmissão a título gratuito tes, a nomeação de gerentes de comércio e o consentimento referido no
adquiri-las pelo valor real (art. 3290, n2 3, c)). ' art. 18011, nll I" (art. 1892, n2 3). Às deliberações dos sócios e à convocação e
funcionamento das assembleias gerais aplica-se o disposto para as socie-
d) Sociedadesem comandita: O regime previsto para a transmissão das par- dades por quotas em tudo quanto a lei ou o contrato não dispuserem dife-
ticipaçõessociaisentre vivosdossócioscomanditados, tanto das sociedades rentemente (art. 1892, n2 1).
em comandita simples quanto das sociedades em comandita por acções, é Aos gerentes cabe a administração e a representação da sociedade (art,
o da necessidadede deliberação dos sócios,sob pena de ineficácia da trans- 1922, n2 I). Salvo disposição do contrato em sentido contrário, são gerentes
missão, a não ser que o contrato disponha diversamente (art. 4692, n2 1). todos os sócios (1912, n2 1),mas estes podem, por unanimidade, designar
não sócios para o cargo (19111, n2 2). Todos os gerentes têm poderes iguais e
l:7 Cfr. ALEXANDRE OE SOVERAL MARTINS, Cldusules do contrato de sociedade que limitam separados para administrar e representar a sociedade (art. 1932).
a Iransmlsslbllfdade das acç~es.Sobre os arts. 328' e 329' do CSC, Almedina, Coimbra, 2006,
pp. 301s5., em esp, pp. 315ss.
2> 10., Ibldcm, pp. 31055.
b) Sociedades por quotas: Nas sociedades por quotas existe, tal como na
J<I iO., tbidem, pp. 33055. sociedade em nome colectivo, o órgão colectividade dos sócios (ou, se se
preferir, assembleia de sócios), composto por todos os sócios. O órgão, para
.10Sobre o regime das IImltaçOes ~ transmissibilidade das acções das sociedades, cfr., por
todos e com enorme desenvolvimento, ALEXANDRI! SOVI!RAL MARTINS, ob. ˙lt. cit., lá de deliberações unânimes por escrito (art. 54!!),pode decidir mediante
pp. 30lss., e passim.

31 Cfr.J.COUTINHO DE ABRIlU, ob. cit., p. 62.

25
TIPOS DE SOCIEDADES COMERCIAIS
ESTUDOS DE DIREITO DAS SOCIEDADES

deliberação tomada em assembleia geral, ou por voto escrito (art. 2472, A sociedade pode sempre ter um outro órgão, o conselho fiscal (ou fiscal
˙nico), se o contrato de sociedade assim o dispuser (art. 262°, n2 1). Con-
nO1)32.
O legisladoratribuiu a este órgão um conjunto minimo (ou imperativo) de tudo, certas sociedades por quotas devem ter um conselho fiscal (ou fiscal
competências - que não podem, portanto, ser remetidas para outro órgão ˙nico), ou então designar um revisor oficial de contas, sempre que durante
(art. 2462, nOl)-, de par com um círculo de competências supletivas- que só dois anos consecutivos sejam ultrapassados dois dos seguintes três limi-
não caberão aos sócios caso o contrato as transfira para outro órgão (art, tes: (a) total do balanço: 1500000 euros; (b) total das vendas líquidas e
2462,nO2) -, admitindo a lei ainda que o contrato acrescente outras com- outros proveitos: 3 000000 euros; (c) n˙mero de trabalhadores emprega-
dos em média durante o exercício: 50 (art. 262°, nO2). Existindo um con-
petências ao órgão (corpo do art. 2462, n2 I).
A sociedade está ainda dotada de uma gerência, composta por uma selho fiscal, ser-lhe-à aplicável o disposto nos arts. 4132 ss. (art, 2622, nO1).
ou mais pessoas singulares com capacidade jurídica plena, que podem
ser ou não sócias (art. 252°,n21), designadas no contrato de sociedade ou c) Sociedades anonimas: Com a alteração do esc, introduzida pelo
eleitas posteriormente por deliberação dos sócios, se não estiver prevista Decreto-Lei n2 76-Aj2006, de 29 de Março, a sociedade anónima passou a
no contrato outra forma de designação (art. 252°,nO2). A este órgão com- poder estruturar-se segundo três modalidades distintas (art. 27811, nll1)33.
pete administrar e representar a sociedade (art. 2522, 2592 ss.). A gerência, Em qualquer dessas modalidades existe, tal como anteriormente, a colec-
quando seja composta por várias pessoas (gerência plural), há-de funcio- tividade de sôcios (ou, se se preferir, assembleia geraly~, embora este órgão
nar conjuntamentepor maioria, a não ser que o contrato de sociedade esti- não tenha exactamente as mesmas competências em todas as estruturas
pule diversamente (art. 2612). admitidas por lei. A colectividade de s6cios compõe-se de sócíos", ainda que
não a integrem, necessariamente, todos os sócios: pode haver acções pre-
ferenciais sem voto36 e o contrato afastar os seus titulares da participação
32 Com a introdução, pela Reforma de 2006, do voto por correspondência nas sociedades
anónimas (art. 384·, n· 9) - como regime supletivo para as sociedades anónimas em ~eral,
33 Uma vez que a fiscalização das sociedades anónimas de estrutura dita monista pode assumir
mas parcialmente imperativo paras as sociedades abertas (art. 22· CVM) - surge a questão de
duas modalidades distintas (art. 413·), pode dizer-se que a lei prevê, afinal, quatro estruturas
saber se, por força da remissão constante do art, 248., n·l, esse regime se aplica igualmente
orgânicas distintas para a sociedade anónima.
às sociedades por quotas (e, até, às sociedades em nome colectivo e em comandita simples, em
3' Talvez se deva entender que também o presidente da mesa da assembleia geral da socie-
virtude de remissões sucessivas operadas pela lei - aru.189", nO1,e 474.). Não obstante a aparente
dade anónima é, no direito português, um órg40 da sociedade, atento o facto de deter com-
proximidade entre as deliberações por voto escrito, previstas para as sociedades por quotas (art.
petências próprias. Sobre as competências do presidente da mesa da assembleia geral, cfr.
247·), e as deliberações com votos por correspondência, o certo é que elas se diferenciam num
PEDRO MAl A, "O presidente das assembleias de sócios", ín Problemas do direito das sociedades,
aspecto essencial: nas deliberações por VOtoescrito exige-se que cada sócio consinta, expressa
Almedina, Coimbra, 2002, pp. 421 SS., e ANTÓNIO MENEZES CORDEIRO, SA: Assembleia
ou tacitamente, na dispensa do procedimento colegial de determinada deliberação; ao invés,
geral e deliberações sociais, Almedina, Coimbra, 2009, pp. 39ss.
no voto por correspondência, já não se exige idêntica vontade de cada sócio, verificando-se
3S Quando a sociedade tenha um ˙nico sócio, põe-se a questão de saber se a assembleia
uma espécie de ren˙ncia genérica ao procedimento colegial- ao menos na parte que respeita
de sócios continuará a existir. Defendendo que essa existência é poss(vel, mas não necessâri«,
aos votos emitidos por correspondência, visto que esses, sendo emitidos fora da assembleia,
vide]. COUTINHO DE ABREU, Da empresariolidade. As empresas no direito, 1996, Almedina,
não emergem do procedimento colegial. (No sentido de que o art, 384. não se aplica, por
Coimbra, pp. 143 ss., e, especificamente sobre a sociedade por quotas unlpessoal, cfr. RI-
remissão, às sociedades por quotas, ANTÓNIO MENEZES CORDEIRO, Manual dI!direito das
CARDO COSTA,A sociedade por quotasunipessoal no direito portugués, Almedina, Coimbra, 2002,
sociedades, vol, II, DaSSocfedades em especial, Almedina, Coimbra, 2006, p. 390). Pensamos, por
pp. 547 SS.,FILIPE CASSIANO DOS SANTOS,A sociedade unipessoalporquotas, Coimbra Editora,
isso, que só razões muito específicas, respeitantes apenas às sociedades anónimas _ cremos
Coimbra, 2009, pp. 100 s. (sustentando que não existe assembleia geral nestas sociedades).
que, em rigor, respeitantes apenas às sociedades abertas -, justificam a derrogação do método
Os accionistas têm o direito de se fazerem representar na assembleia, direito que, na redacção
colegial que o voto por correspondência implica. Questão diferente desta é, naturalmente,
dada ao artigo 380~, n~ I, CSC pelo Decreto-Lei nO49/2010, de 19 de Maio, "o contrato de
saber se as delibera~ões por voto escrito, observado o procedimento imposto por lei, podem
sociedade não pode proibir ou limitar".
resultar de votos emitidos por meios electrónicos. No sentido afirmativo, ANTÓN 10 MENEZES
CORDEIRO,ob. lilt. cit., p. 386. J6 Cujo regime foi bastante alterado pelo Decreto-Lei n.o 26/2015, de 6 de fevereiro.

27
ESTUDOSDE DIREITO DASSOCIEDADES rieos DE SOCIEDADESCOMERCIAI
na assembleia (arts, 3432, n2 1e 3792,2); o contrato pode exigir que o sócio
(i) O conselho de administração é composto pelo n˙mero de membros
detenha um n˙mero mínimo de acções para poder participar na assembleia
fixado no contrato, que podem ser accionistas ou não, mas sempre por
(arts. 3792, n2 2, e 3842, n2 2, a)). Na sociedade anónima, os sócios detêm, pessoas singulares dotadas de capacidade jurídica plena (an. 3901!, nl! 1e
na anónima, menos poderes do que nas sociedades em nome colectivo e 3)40. Só nas sociedades anónimas cujo capital social não exceda 200 000
nas sociedades por quotas, uma vez que não podem deliberar, fora dos euros é que a administração pode ser confiada a um só administrador (art.
casos previstos na lei, sobre matérias de gestão da sociedade, a não ser que 390º, n2 2). Com a Reforma de 2006, o legislador abandonou a exigência
o órgão de administração formule um pedido para esse efeito (art. 3732, de que o conselho de administração seja composto por um n˙mero ímpar
n2 3). O círculo de competências da assembleia geral da sociedade anónima, de membros. O conselho de administração - na estrutura monista - pode
podendo embora ser mais ou menos amplo consoante o estipulado no con- agora ser composto por qualquer n˙mero plural de membros, o que inclui
trato (art. 3732, n2 2), nunca pode ser tão extenso quanto numa sociedade a possibilidade de composição por dois administradores, apenas. Quando
por quotas ou em nome colectivo. o órgão seja composto por um n˙mero par de membros passa a ser obriga-
A administração da sociedade pode obedecer a três estruturas distin- tória a atribuição de voto de qualidade ao presidente (art, 39511, nl! 3, a)). Os
tas (art. 2782): administradores podem ser designados no contrato de sociedade ou eleitos
(I) numa, designada pela doutrina de monista, a administração é entre- pela assembleia geral ou constitutiva (art. 391°, nO1). O conselho de admi-
gue a um só órgão, o conselho de administração (ou administrador ˙nica) nistração funciona colegialmente por maioriu" (art. 41011), considerando-se a
(arts, 278!!,n!! I, a), e 3901!ss.); sociedade vinculada pelos negócios celebrados pela maioria dos seus admi-
(ir) noutra, dita dualista, a administração compete a dois órgãos distin- nistradores (art. 4082, n2 1). O conselho de administração pode, contudo,
tos, o conselhogeral e de supervisão" (arts, 278º, n2 I, C), e 4342 ss.) e o delegar num ou mais administradores ou numa comissão executiva a ges-
conselho de administração executivfi18 (ou administrador executivo ˙nico) tão corrente da sociedade" (art, 407º, n2 3), ficando tais administradores
(arts, 4242 ss.); delegados, caso o contrato o preveja, com poderes de representação da
(iiI) n~ terceira e nova estrutra de sociedade anónima, a administra- sociedade (art. 408º, nO2)43. Em matéria de gestão da sociedade, as com-
petências do conselho de administração são muito amplas, como se pode
çao compete a um conselho de administração (art, 2782, n2 1, b))
ver no elenco que consta do arr, 4062•
- tal como sucede na estrutura monista. Mas nesta nova estrutura
:~~s au~r~ vêm designando de anglo-saxóníca, o conselh~
. uustraçao integra um outro 6rgão, de fiscalização designado
comissã Ode au ditori '
1 na, que é composto por uma parte dos membros do
conse
.
lh o de adrnínístr - A .
_ açao. SSlm, os membros da comissão de audí-
40 Sobre o regime aplicável aos casos em que a assembleia eleja, ao abrigo do art. 390i, ni 3,
uma pessoa colectiva para administrador, cfr. M. N OGUEI RA SE RENs, Notas sobre a sociedade
tona, que é ~~ órgao de fiscalização da sociedade, são, simultanea-
anónima, 2' ed., Coimbra Editora, Coimbra, 1997, pp. 5555.
mente, admJmstradores membros do conselho de admínístração", <I Com a Reforma de 2006 passou a admltir-se expressamente a reunião do conselho de
administração por meios telemáticos (art. 4109, n9 8).
J7 Este órgão designava·se somente "conselho geraI", tendo a actual designação sido intro- 42 Tal como o próprio conselho de administração, também a comissão executiva deixou de
duzida pelo Decreto·Lei nll 76.A/2006. ser necessariamente composta por um n˙mero ímpar de membros, como anteriormente à
li Antes da reforma de Março de 2006, este órgão designava-se "direcção". Reforma de 2006 se impunha (art. 40711, nll 3).
lO Genericamente, sobre a matéria, cfr. ALEXANDRE DE SOVERAL MARTINS, "Comissão 4J Sobre a delegação de poderes, cfr. ALEXANDRE SOVERAL MARTINS. Os administradores

executiva, comiSSão de auditoria e outras comissões na administração", ln Riformas do Código delegados das sociedades anónimas. Algumas considerações, Fora do texto, Coimbra, 1998, PEOIlO
das Sociedades, Almedlna, Coimbra, 2007, pp. 255ss., e PAULO CÂMARA, "O governo das so- M AIA, Funçãoe funcionamento do conselho de administraçõo da sociedade anónima, Coimbra Editora,
Ciedades e a reforma do Código das Sociedades Comerciais", ln Código das SOCiedades Comerciais Coimbra, 2002, pp. 247 ss.,e, recentemente, COUTI NHO DE ABREU, GovtTnafllodassociedades
e Governo das Sociedades, Almedina, Coimbra, 2008, pp. 103ss. comerciais, 21 ed., Almedina, Coimbra, 2010, pp. 99 55.

29
sociedades com capital social não superior a 200 000 euros poderão ter
um ˙nico administrador. O conselho de administração executivo, como
dissemos já, é designado pelo conselho geral e de supervisão ou pela assem-
bleia geral, se o contrato assim o dispuser. Ao conselho de administração
executivo compete gerir as actividades da sociedade (an. 4319, n9 1), bem
como representá-la (art. 43111, nll 2).

(iiI) A nova estrutura organizatóría'"> designada por alguma dou-


trina de anglo-saxóníca" - não se distingue da estrutura monista no que
toca à função de administrar, que compete ao mesmo órgão, o conselho
de administração. Este órgão poderá, tanto numa como noutra estrutura,
delegar em alguns dos seus membros os seus poderes de gestão. Pode
assim dizer-se que o modelo anglo-saxóníco foi construído sobre o modelo
monista, do qual difere apenas na parte em que destaca do conselho de
administração um outro órgão - a comissão de auditoria -, a quem com-
pete genericamente fiscalizar a actividade da administração da sociedade.
Mas, aparentemente, mantém-se idêntico tanto o quadro de competências
como o estaruto índívídual dos admlnístradores'", como ainda o funcio-
namento do conselho de administração, ór~ comum às duas estruturas.
Esta identidade de principío não deixará de suscitar, ao que cremos, in˙-
meros problemas, pois afigura-se dí6cilmeote compagínável a concepção
do conselho de administração da estrutura monista com o conselho de
administração da estrutura anglo-saxón.íca. A mero título de exemp
pode perguntar-se como se compreenderá que os membros da comissão
de auditoría, a quem compete fiscalizar a administração, intervenham nas
~QlY.A"O(eglmeda ot.r:utua.du3!í~di:. A~",ó~j<.J ME!i'EZEf CoJl.DEUI.O. ~nUllL,
cit_,
11000.IJ" pp. 183s,~ 7ifl,s. e 7915' .. AJ\'TÓ.NIO PEI!.EIJI.,ADE ALMEIDA, SQdedades comer.
cWs. Voz1(irtl mQbíJj~, imUII1Jl(IIM }in#n«irou 1tIh&4®S, "01. J, A.~sociedades comercíaís, 7 4' Sobre esta nova estrutura, dr. A~HÓS10 MENEZES COltDElltO, Man.IIIIl, vol, Il, dt;
ed, v.>irobraEditQra, Coimbra, 2013, pp. 520n., PAULO OLAVO CUNHA, ob. dt.; pp ..69655., pp. n9 $S., ANTÓNIO PEltElltA DE ALMEIDA, oh. cii., pp. 513 55., PAULO OLA\'O CCSHA,
'794s5.,e PAULO CÁJtAI.A,·O ypvetDD._",CÜ., pp.IJ5ss. oh. at: pp. 701s5. e PAULO CÁ MAltA, "O geeemo.,", cu.,pp. 103 55.
Ta.1como r~ha do 445' e da respectiva remís$lo para o ano 4J()9, o conselho
art, geral e 49 Mas esta designação, que não consta da lei, não é adoptada por todos os autores. Cfl~ por
de AIpe1YÍ~ umbém poderá reunir por meios tdemiticos. exemplo.], COUTINHO DE ABREU, CurSQ •.•, 11,cit., pp. 64ss. (que designa esta estrutura de
""ãoobsumc o cooselho geral e de supervis30 ser clusilicado como órgão de ge1t4Q<h socie- monísrícs), e J. PINTO FURTADO, "Competéncías e funcionamentodosórgáos de fiscalização
dade, o facw é que o n˙cleo dauUaJ c:ornpet.mciu é muito rescrito nessa área, usumindo-se, das sociedades comerciais", in Nos 20 anos do Código IÚU SoâcdJuJes ComerCÚlis, vol I, Omgrmo
lObretudo, como órglo que fiSC4liz4 o COO5eIho de adn˙nistração executivo _ a quem cabe, n.a empresas e sociedades, Coimbra Editora, Coimbra, 2007, P: 596 (que se refere a esta estrutura
verdade, gerir a aociedade.
como angJo'amuiCllnil, criticando expressamente a designação anglo-su6níca).
Del.wu de se exigir,como anteriormente, a COIDposiç1o por um n˙mero ímpar de membros, 50 Enquanto membros do conselho de administração, naturalmente, visto que uma pane
no IIÚximode clllCl).
deles, enquanw membros da comissão de auditoria e nessa veste, terão um estatuto [urídico
dísrírno,

31
IAI

do:isões dessa mesma admi.nisU'ação, agora na qualidade de membros do


As sociedades podem optar livremente por uma ou outra estrutura
oorudbo de ~istração: ou como se poderá explicar que esses IDes-
de fiscalização, excepto nos casos previstos no art, 4139, nll 2, a), em que é
,mos membros <h comissão de auditoria, que se encontram proibidos por
obrigatória a adopção do segundo modelo referido (conselho fiscal maí
lei de exercer funções executivas (art, 4232..B, n9 3), se escusem a inter-
revisor oficial de contas) (an. 4132, nº 2).
vir em acros de represent2ção da sociedade, para os quais podem até ser
Nas sociedades anónimas de estrutura dualista, a fiscalização compete
~. a um revisor oficial de contas (ans. 2782, n!!I, b), e 446!!), designado pela
~as sociedades anónimas de estTUturll monista, a fiscalização deverá
assembleia geral, sob proposta do conselho geral e de supervisão.
seguir uma de duas modalidades: (I) um conselho jiscIllou um jisall ˙niccf2
Nas sociedades anónimas com estrutura dita anglo-saxónica, a fiscalização
(am. ~, n' 1, a), e 41~, n91, a)); (u) ou um conselho jiscIll a par de um revi- compete à comissão de auditoira e a um revisor oficial de contas. A comissão de
deamhl.S, que não poderá ser membro daquele órgão (art, 413g ,
auditoria é um órgão novo - de que não existia paralelo na nossa ordem
jurídica até à Reforma de 2006 -, constituído por membros do conselho de
administração. Na sua composição, mas não nas suas competências, a comis-
di - D..m3.-ez a sociedade se vincu1a pela intef\'enção da maioria dos admínís, são de auditoria é uma espécie de sub-õrgão, que deriva do conselho de
Com mo, que d . d . . _..I pod ,
mdores(.ut..~. n' 1).e ttndo ainda cm conta que a maiori2 e tais a nnmsrracores era administração. É composta por um mínimo de três membros (art. 4239-
iDttgrU a cominão de auditorU, podcri ser imprescindível que algum ou alguns membros B, n!!2) que hão-de ser admínístradores", e que são designados directa-
dacomissáodeauditoria inten'cnhameomo rqmscntanlCSdasociedade para que esta possa
prmcar o actO. Aliis, DO que toCa i proibição legal de exercerem funções executivas, parece
o~ não )e.-ou na devída conu que, em princípio - quer dizer, uivo dísposíção 5J Está longe de se revelar claro, em face da lei, o estatuto dos membros da comissão de au-
doCllDlI2IOquca autorize e sakodcliberação do conselho de administração que a efecrue -, ditoria na sua veste de membros do conselho de administração. A lei cuidou de esclarecer os seus
não crisr.e ~ de poderes pelo conselho de administração, cabendo exdusivamenu ao poderes e deveres rnqlUlnlo membros da comissão de auditoria (ans. 42Y·F e 423°·G) - enquanto
mmdho o eu:rcício de todas as compettncias de gestão, inclusivamente de gestão corrente auditores da sociedade, ponamo -, mas já não esclareceu quais os respectivos poderes e deveres
da sociedade Daqui decorre, portanw, que, não exísttndo U1IIa tal cláusula estatutária e não enquaoto membros do conselho de administração - enquanto administradores que simultanea-
Ju.-mdo uma tal dd~ do conselho de administração, este permanecerá obrigado a mente são. Este 5ilencio da lei poderia sígníficar que os auditores tem, enquanto administradores,
e=rcer todAs as compcténcias que a lei e o contrato lhe cometem. Nesta hipótese, não se exactamente os mesmos poderes e deveres que os restantes administradores, aqueles que
percebe como poderão os membros da comissão de auditoria, que também são membros não pcncncem simultaneamente à comissão de auditoria. Mas parece evidente que UIII2 tal
do conselho de adminÚO'3Ção, respeitar a proibição legal de exercerem funções executivas; identidade de poderes e de devera tomaria lnexequível o desempenho das fUllÇÕCli que a
não de1'erao toIJW' pane nas deliberações do conselho de admtnistração que versem sobre lei ímpôe aos auditores, a quem prescreve, aliás, em cenas casos, um rigoroso estatutO de
gestão corrente da sociedade? Mas, nesse caso, o conselho poderá não ter, sequer, quorum independência (an. 423'-B,nt3,4e 5). Atente-sc, por exemplo, no di5poslO noan. 423'-G, n'
para funcionar. Como estas, várias outrasquestõeJi se suscitam a respeito da artículação entre 1, h): a lei prescreve a obrigação de os membros da comissão de auditorU de participarem nas
o modelo anglo-saxõnlco e o padrão em que ele afinal assenta, e que consiste no conselho de reunióesdoconse.lbodeadministr~edaassembIcUgeralSucede,porém,qucaobrigação
administração do modelo monista. de participarem nas reuniões do consclho de administração já decorreria da ~ qualidade: de
51 OfiSCllI ˙nico, bem como um dos membros do conselho fiSCllI, se for esse o caso, deverá ser administradores (an. 393', n' 1).Por outro Iado,na mcsma alínea em que prescreve o de--erde
um revisor oficial de contas ou uma sociedade de revisores oficiats de contas (ans. 413', 0'1, participarem nas reuniões do conselho de administração, o legislador prescrC\-e igualmente
a), e 414', n' 2). Sobre o novo regime de 6scalização das sociedades comerciais, introduzido o dever de os membros da comissão de auditoria participarem nas reuniões da assembleia
com a Reforma de 2006, cfr. GABRIELA FIGUEIREDO DIAS, Fiscalização de socfedadts e res- geral. Pergunta-se, por isso, se, num e noutro caso, se taurá de um dC\'CT de participação com
ponsabilidade cMl, Coimbra Editora, Coimbra, 2006, J. PI NTO Fu RTADO, "Competéncía ...", contt˙do idêntico, isto é, se quando "parrícípam" nas reuniões do conselho de administraç10
cit., pp. 593ss., e PAULO CÂMARA, "O governo ... cfl.,passim.
H,
os membros da comissão de auditoria terão os mesmos direitos que lhes cabem quando "parti-
Multo desenvolvida mente, sobre o exercício das funções de vigilância e de fiscalízação, em cipam" na assembleia geral - onde não gozam, desde logo, de díreito de voto. De resto. esta
todas as estruturas organlzatórlas, vide Iosê FERREIRA GOMES, Da administração àfiscaliza- mesma norma suscita várias outras dificuldades, como seja aquela que decorre do disposto na
f40 das sociedades. A obrlgafílo de v/gi/6ncia dos órgílos da sociedade an6nima Almedina COimbra alínea c) do n'l. Com efeito, a lei impõe aos membros da comissão de auditoria a obrigação de
2015, pass/m. ' ,.,
participarem nas "reuniões da comissão executiva onde se apreciem as contas do exercício".

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TIPOS De IEDADES COMERCIAI
ESTUDOS DIi DIREITO DAS SOCIEDADES
quanto ao n˙mero de membros, existem órgãos singulares (por exem-
mente pela assembleia geral, quando esta elege os administradores (an.
plo, o administrador ˙nico e o fiscal ˙nico) e plurais (também por
4230-C, nO1).Deste modo, será, pelo menos em abstracto, possível que a
exemplo, o conselho de administração e o conselho fiscal);
maioria dos membros do conselho de administração pertença à comissão
quanto aos poderes funcionais ou competências, há órgãos deliberativos
de auditoria, pois a lei não impõe uma relação entre o n˙mero de mem- (também chamados internos), uma vez que as suas decisões só pro-
bros da comissão de auditoria e o n˙mero de membros do conselho de duzem efeitos no interior da sociedade, de que é exemplo a colecti-
administração. vidade de sócios (ou assembleia geral); órgãos representativos (também
designados executivos ou externos), que são aqueles que representam
d) Sociedades em comandita simples e em comandita por acções: A estes dois a sociedade perante terceiros, de que são exemplos a gerência da
tipos de sociedade aplicam-se, por remissão dos arts, 4742 (sociedades em sociedade por quotas, o conselho de administração e o conselho de
comandita simples) e 4789 (sociedades em comandita por acções), respec- administração executivo da sociedade anónima; e órgãos fiscaliza-
tivamente, as disposições relativas às sociedades em nome colectivo e às dores (a que também se pode chamar de controladores), como seja O
sociedades anónimas, em tudo o que não for contrariado pelo disposto em conselho fiscal, a comissão de auditoria e o revisor oficial de contas;
normas específicas daqueles dois tipos. Assim, só a gerência destas socie- quanto ao modo defuncionamento, há órgãos disjuntos - em que cada
dades difere do regime subsidiário que o legislador lhes manda aplicar. membro tem poderes separados dos restantes membros -, de que é
Com efeito, a gerência só pode, salvo estipulação do contrato em sentido exemplo a gerência da sociedade em nome colectivo; órgãos con-
diverso,ser composta por sócios comandítados (art. 4702, n2 1). juntos - que decidem mediante o concurso da vontade de vários dos
seus membros (minoria, maioria ou unanimidade) expressa sem
Os váriosórgãos de que já falámos podem ser ordenados em diferentes necessidade de uma reunião -, como ocorre com a gerência da socie-
espécies, consoante o critério da distinção. Assim: dade por quotas; e órgãos colegiais, em que a decisão é tomada em
reunião dos membros do órgão" que concorrem para a decisão
Sucede, porém, que a apreciação das contas é uma das matérias indelegdlleis pelo conselho
através do seu voto (por exemplo, a colectividade de sócios dos vários
de administração (an. 407~, nQ 4), quer dizer, a comissão executiva não tem competência - tipos de socíedade=, o conselho de administração, o conselho de
não pode ter competência - para apreciar as contas anuais. Pertencendo essa competência ao administração executivo, o conselho geral e de supervisão, a comis-
conselho de administração, então os membros da comissão de auditoria - a quem compete são de auditoria e o conselho fiscal)".
verificar a exactidão dos documentos de prestação de contas (art. 423Q·F, e), a quem compete
dar parecer sobre o relatório, contas e propostas apresentados pela administração (art. 423Q•
F,g) - terão o dever de participar na deliberação do conselho de administração sobre tais S4 A noção de reunião terá de ser adaptada às novas tecnologias e à expressa admissão, pelo nosso
relatórios e contas anuais. Ora, afigura-se estranho que os sujeitos a quem compete fiscalizar legislador, de que as reuniões de diversos órgãos colegiais possam ocorrer por meios telemdticos
a elaboração de contas - que até devem elaborar um parecer sobre tais relatórios e contas do (arts. 377'J. nO6, b), 41O~,nO8. 433° e 4450, n~2). Sobre as ímplícações do votO por correspondência
conselho de administração - tenham, simultaneamente, o poder e o dever de os aprovarem, no funcionamento colegial da assembleia. vide infra, Deliberações dos s6cios, nota 3.
55 Em certas circunstâncias, o legislador prescinde do funcionamento colegial na colecti-
enquanto membros do conselho de administração. E, acrescente-se, nada obsta a que estejam
vidade de sócios, admitindo o funcionamento conjunto por unanimidade deste órgão (quando
até em maioria nesse mesmo conselho e que. portanto, o seu voto seja realmente determinante
do sentido da delJberação do conselho de administração nessas matérias. ».
admite as deliberações unânimes por escrito (art. 549 Também as deliberações por voto
Q
escrito _ admitidas nas sociedades por quotas (art. 2479), em nome colectivo (art. 189 , nO
Estas dificuldades, muito sumariamente elencadas, de arttculação entre o estatuto de admi-
1) e em comandaita simples (art. 189~, nO 1) - constituem uma derrogação ao principio do
nistrador e o estatuto de membro da comissão de audtoria são a consequência da opção do
funcionamento colegial da colectividade de sócios, uma vez que se trata em tais casos de um
nosso legislador de construir o chamado modelo anglo"saxónico sobre a estrutura monista,
modelos que, em nosso entender, se revelam, quanto a diversos aspectos de funcionamento funcionamento conjunto por maioria.
56 Acerca do modo de funcionamento dos órgãos plurais, cfr. PEDRO MAl A, Função t funcio-
dos órgãos, entre si incompatlveis, o que aconselharia que um (o modelo anglo-saxónico) não
tivesse como matriz legal o outro (o modelo monista). Sustentando as opções tomadas pelo namento ...• cit .• pp. 181 ss,
legislador e a técnica legislativa seguida, cfr. PAULO CÂMA RA, "O governo ...", cit., pp. 103ss.
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ESTUDOS DE DIREITO DAS SOCIEDADES
TIPOS DB SOCIEDADES COMERCIAIS

2.4. N˙mero minimo de sócios


O n˙mero mínimo de sócios de uma sociedade comercial é dois (art, 7 ,
2 3. Tipos doutrinais de SOciedades comerciais
nO2). Existem, contudo, excepções a esta r:gra, tanto p~r ser exigid~ um Assume especial relevo na doutrina a distinção entre as chamadas sociedades
n˙mero superior (é o que ocorre com as socled~des anõnímas e a~ socieda- depessoas e as sociedades de capitais. 59 As primeiras caracterizam-se por uma
des em comandita por acções),como por se dIspensar aquele minimo (como decisiva importância da pessoa dos sócios no exercício da actividade social,
sucede com as sociedades por quotas unipessoais e as sociedades anóni- e têm na sociedade em nome colectivo o seu protótipo. Esse cariz perso-
nalístico da sociedade em nome colectivo reflecte-se em diversos aspectos
mas unipessoais). do seu regime jurídico: a transmissão de participações sociais por negócio
Nas sociedades anónimasrequer-seum mínimo de cinco sócios para a sua
constituição (art. 2732, nO1),a não ser que se trate de sociedade "em que o inter vivos só pode ocorrer mediante expresso consentimento dos restan-
Estado, directamente ou por intermédio de empresas p˙blicas ou outras tes sócios (art.182!!, nO1);em regra, a participação social não se transmite
entidades equiparadas por lei para este efeito, fique a deter a maioria do aos sucessores do sócio falecido, a não ser que os sócios sobrevives delibe-
rem diferentemente ou o contrato de sociedade derrogue aquele regime
capital, as quais podem constituir-se apenas com dois sócios" (art. 2732,
(art. 1842, n!!Ie 2); a participação social não é um bem livremente execu-
nO2)57.Para as sociedades em comandita por acções, o art. 4792 prescreve o
tável, pelo que os credores do sócio apenas poderão executar a "quota de
n˙mero mínimo de cinco sócios comanditários. Daqui decorre que estas
liquidação" (art.1832); o sócio pode ser excluído da sociedade em termos
sociedades hão-de formar-se, pelo menos, com seis sócios - cinco coman-
relativamente amplos, sempre que o seu comportamento, enquanto sócio
ditários e um comanditado.
e / ou gerente, constitua grave violação dos seus deveres ou sempre que
Apar destasexcepçõesem que se exige mais de dois sócios para se cons-
a situação pessoal em que se encontre prejudique (ou possa prejudicar)
tituir uma sociedade, outras há, de sentido oposto, em que esse n˙mero
a sociedade (art. 186º, n2 1);ao sócio ínere, em princípio, a qualidade de
mínimo é dispensado. Assim sucede nas sociedades unipessoais por quotas
gerente (art. 1912n, 2 1);a necessidade de uma deliberação tomada por una-
(art. 270°-A),em que uma só pessoa, singular ou colectiva, constitui uma
nimidade dos sócios para a alteração do contrato de sociedade (art. 19411).
sociedade de que ficasendo a ˙nica sócia.
Em todos estes aspectos é bem patente a importância que a pessoa de cada
Tambéma sociedadeanónima poderá nascer por negóciojuridico unilateral
sócio assume nesta categoria de sociedades, cujo modelo é, como acabá-
nos te~os do art. 488!!,nº 1. Contudo, e ao invés do que vimos suceder
mos de ver, a sociedade em nome colectivo.
nas socle~ades unipessoais por quotas, não é qualquer pessoa sin ular
No extremo oposto, e como paradigma da sociedade de capitais, encon-
ou .colectIva,q.uepode celebrar o negócio jurídico de constituição âesta
tra-se a sociedade anónima. Nesta categoria de sociedades, o que importa
;cudade anomma: só as sociedades por quotas, anónimas ou em coman
já não é tanto a pessoa do sócio, mas sim a sua "participação de capital" ou
!t apor acçdõespodem beneficiar da excepção prevista naquele art 488:
o seu contributo patrimonial- e não pessoal- para o exercício da activi-
n 1,como ecorre do art 4810 II 1 . ., .,
anónima unipessoafS8. . ,n, e assim constituírem uma sociedade dade societária. Por isso, vamos encontrar no regime da sociedade anónima
a regra da liberdade de transmissão de acções - só derrogável em casos
contados (art. 32811) -, o distanciamento do sócio da gestão da sociedade
51Sobre entidades equiparadas ao Estado, veja-se o disposto no art, 545i. - gestão que não tem de ser entregue aos sócios (arts. 39011 e 4242) e, em
se Com a Reforma de 2006, passou a admitir-se que uma sociedade com sede noutro Estado regra, é até confiada a não-sócios -, as alterações do contrato decididas
constitua em Ponugal uma sociedade anónima uoipessoal (art, 481i, ni 2, d)), algo que anterior- por maioria e não por unanimidade (art. 3862, nO2), etc.
mente não era permitido. Contudo,nãoobs·tante poder constituir, nestes termos, uma sociedade
anónima uni pessoal, nem por isso surgirá uma relação de grupo entre a sociedade estrangeira
S9 Sobre a distinção, cfr, ANTÓNIO CAEI RO, As sociedades de pessoas no Código das Sociedades
e a SOCiedadeunipessoal pOrtuguesa, atento o disposto no proémio do art, 4812, ni 2, e a sua
Comerciais, Coimbra, 1988, pp. 5 ss., e, já antes, ID., "A exclusão estatutária do direito de voto
mtio. Sobre isto, vide ANTÓNIO PINTO MONTEIRO/PEDRO MAIA, "Sociedades anónimas
nas sociedades por quotas", Temas de direito das sociedades, 1984, pp. 18 55. Mais recentemente,
unlpessoais e a Reforma de 2006", in RLJ, ano 139i (2010), pp. 138ss.
cfr. J. COUTINHO DE ABREU, ob. cit., pp. 70 ss.
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ESTUDOS 06 DIR61TO DAS SOCIEDAD6S
TIPOS 06 SOCIEDADES COMERCIAI
Se é indiscutível a inclusão da sociedade em nome colectivo na cate-
goria das sociedades de pessoas e da ~oci~~~de anónima na c~tegoria das sentido das cláusulas inscritas no contrato de cada sociedade, quer para se
sociedades de capitais, já se revela mais díficíl catalogar as sociedades por encontrar o regime aplicável quando se apresente uma lacuna em tal con-
quotas. Essa dificuldade resulta do facto de o regime l~ga.1destas socieda- trato, há que apreciar se a sociedade em causa, tal como os sócios a modelaram,
des ser muito jlex{vel, tendo o legislador optado por atrtbutr carácter mera- se reveste de um carácter personalístico ou capitalístico. Claro está que é na
mente supletivo a muitas das normas que regulam tais sociedades. Assim, sociedade por quotas que a qualificação assume maior importância prática,
fazendo uso desse amplo espaço de conformação no contrato, os sócios por ser neste tipo social que a (ampla) liberdade conferida aos sócios per-
podem conferir à sociedade por quotas um carácter eminentemente capi- mite a configuração de sociedades por quotas patentemente capitalísticas
taUstico _ v. g., fixando a liberdade da transmissão inter vivos e mortis causa ou personalísticas, isto é, que possibilita que, por via do contrato, a socie-
das participações sociais, adoptando uma firma-denominação, etc. - ou, ao dade se inscreva num ou noutro pólo da classificação.
invés, vincadamente persona/(stico- v.g., reforçando a necessidade de con- Contudo, não é excluir que mesmo relativamente às sociedades em
sentimento para a transmissão de quotas ou até excluindo a sua transmis- nome colectivo e às sociedades anónimas - que serão sempre, umas, socie-
sibilidade (arts. 2280 e 229°), fixando um direito de amortização a favor da dades de pessoas e, outras, sociedades de capitais - se possa proceder, para
sociedade no caso de penhora da quota (art. 2392, nO 2, in fine), exigindo efeitos de interpretação e de integração do contrato, a uma indagação da
a qualidade de sócio para o desempenho do cargo de gerente (art. 252º), existência de elementos desviantes" ao seu paradigma: basta pensar nas
adoptando uma firma-nome (art. 2002), etc. Significa isto que, em concreto, sociedades anónimas fechadas ou familiares (em que se restringe a transmissão
uma sociedade por quotas tanto pode pertencer à categoria das sociedades de acções, se atribui aos sócios um direito de preferência nas transmissões
de pessoas quanto àquela das sociedades de capitais, tudo dependendo da de acções, se constitui a firma com o nome dos sócios, etc), ou nas socieda-
opção feita pelos sócios. Contudo, pode afirmar-se que o modelo, em abs- des em nome colectivo em que o contrato tenha admitido o desempenho
tracto,.segui.dopelo legislador foi o da sociedade por quotas personalistico. do cargo de gerente por um não-sócio, ou a livre transmissão das partici-
Quer Isto ~Izer que, não afastando os sócios o regime supletivo fixado no pações sociais por morte do sócio, etc.
CSC, a.s~le~ade por quotas apresentar-se-é como uma sociedade de pessoas
A dlstlOÇ~o~ntre sociedades de pessoas e sociedades de capitais nã~
assume,
. 'do
no direíto portuguê . és d o que sucede noutros ordenamen-
gues - ao mv
tos jun ICOS - especo l' ..
des comerciai~ estãol~~=:~;:c~~s~~.efeito: en~r~ nós todas as socieda-
quer sejam sOciedadesde pesso p d Idade jurídica a partir do registo,
as ou e capitais - .. d
um regime fiscaldistinto para ur ' nao exisnn o tão-pouco
ara umas e para outra I .
se, ainda assim, subsiste alguma utilidade .S.. m~orta pOISperguntar
Além de uma utilidade diríamos didá . na dístínção. Parece que sim.
a exp~care a compreende; melhor ~ 'I .~ - uma vez que a distinção ajuda
cada tipo societário _,a caracteriza ã~ ~p os aspec_t0sdo regime jurídico de
soas ou de capitais importa a doí ,ç . e uma SOCiedadecomo sendo depes-
OIS ruveis: em pri . I
pretaçãoede integraçãodapróhri l . . nmerro ugar, em sede de inter-
figurino ( , r a et, para o que urgi ' t
personahstico ou capitalístico) .. ra er sempre presente o
a que.su.bmeteu cada tipo social, em sedguldopelo legislador no rezíme
e de mtel1ra - d ~ ,segun o lugar d b-
o çao e ,cada) contrato desOciedade C· ,~m se e de interpretação
. om efeito, quer para se fixar o 60 M. NOGUEIRA SERENS, oh. cit., 2" ed., p.6, fala, a este propósito, de "matização persona-
38 Ilstica do cunho capitallstico" da sociedade anónima.

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Jorge Manuel Coutinho de Abreu (coord.)

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