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PEDRO MAIA·
1. Principio da típícídade'
1.1. Sentido
As sociedades que tenham por objecto a prática de actos de comércio
devem adoptar um dos tipos previstos no esc (art.P, n2 3): sociedade em
nome colectivo, sociedade por quotas, sociedade anónima, sociedade em
comandita simples e sociedade em comandita por acções. A esta obriga-
toriedade de adopção de um dos tipos previstos na lei a doutrina costuma
chamar prindpto da tipicidade das sociedades comerciais.
O princípio da tipicidade constitui uma restrição ao princfpio da autono-
mia privada, em especial na sua vertente de liberdade contratuaP. Com efeito,
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- TIPOS DE SOCIEDADES COMERCIAI
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S DE DIREITO DAS SOCIBDADES
TIPOS DE SOCIEDADES COMERCIAIS
ESTUDO • '6 r-se um interesse p˙blico na fixação do
d ' lnda IdenU ca . d d -.
por fim, po era ai dí da em que as SOCIe a es sao Instrumentos ecuilibrío interno de cada sociedade, que se revela essencial para a prossecu-
princípio da tipicidade. N~.do I ossos dias e na medida em que o prinCípio ção dos interesses que norteiam a instituição do princípio da típícídade, só
fundamentais da economia os n ão no tráfico jurídico muito mais estável
a intervença . pode resultar da articulação de um determinado tipo de responsabilidade
da tipicidade toma a su d m benefício geral e difuso decorrente dos sócios (perante a sociedade e perante os credores sociais) com uma
ar se
e certa, parece poder fal : í ~: certa estrutura organizatória. Digamos que existe uma relação de m˙tua
da consagração daquele prlOc p .
implicação entre a estrutura organizatória e a natureza da responsabili-
I dostipos legais societários dade dos sócios em cada tipo de sociedade.
2. Caracterização gera rincípio da tipicidade, não se encontra no Note-se, porém, que a natureza típica da estrutura organizatória não
Apesar de a lei estabe( ecer o opsI'nequívoca) do que seja o conte˙do ou a obsta, por si, à admissibilidade dos chamados" órgãos estatutários": órgãos
d finíção ao men .
CSC uma e dos tí s societários. Isto é, não se diz na lei em que que, sem suprimirem nem limitarem as competências dos órgãos upicos, se
s
essência de ~ada u~ d °d t1p~ nome colectivO, o tipo sociedade por quotas encontram previstos apenas nos estatutos, em regra com funções de mero
nsíste o ttpo socie a e e dí . I '
co . d dó' o tino sociedade em coman íta slmp es ou o tlp' o aconselhamento, vígílâncía ou acompanhamento da vida socíal,?
o tipo socie a e an ruma, r _
sociedade em comandita por acçoes. '.
,
E certo que os
Títulos II (sociedades em nome colectivo), III (socleda-
\: . 2.1. Responsabilidade dos sócios perante a sociedade e perante
d es por quo tas,'I' IV (sociedades anónimas) e V (SOCiedades em comandita\ os credores sociais
\: . , ')
do esc principiam, cada um deles, com um~ .norma que,. sob a epIgrafe a) Sociedades em nome colectivo - Os sócios das sociedades em nome colec-
"caracteristicas" alude à natureza da responsabilIdade assumida pelos sócios. tivo, além de responderem perante a sociedade pela sua obrigação de entrada,
Deste modo, poder-se-ia supor que essa era a essência do tipo: a responsabili- respondem ainda perante os credores da sociedade pelas obrigações desta.
dade pessoal e ilimitada constituiria a essência do tipo sociedade em nome A responsabilidade por estas dívidas é subsidiaria em relação à sociedade
colectivo (art.175º, n21);a responsabilidade solidária dos sócios pela realiza- - o que significa que os credores sociais só podem exigir o cumprimento
ção das entradas convencionadas no contrato seria o cerne do tipo sociedade aos sócios depois de esgotado o património da sociedade -, mas é solidária
por quotas (art. 1972,n21); a responsabilidade limitada ao valor da entrada, entre os sócios - o que se traduz na possibilidade de os credores da socie-
a par da divisão do capital social em acções, definiria o tipo sociedade anó- dade exigirem de qualquer dos sócios a totalidade da dívida (art.1751!, n1!1)1°.
nima (art. 2712); a existência simultânea de sócios responsáveis apenas pela Deve notar-se que a responsabilidade cominada pelo art, 1752, n2 I, não
realização da sua entrada de par com sócios responsáveis nos mesmos ter- impende apenas sobre os sócios da sociedade, mas também, ainda que a
mos dos sócios da sociedade em nome colectivo constituiria a sociedade em
comandita por acções - caso as participações destes ˙ltimos sócios se repre-
sentassem em acções -, ou uma sociedade em comandita simples - se não os órgãos socletáríos. Em sentido diferente, retirando da designação "conselho de adminístra-
houvesse essas mesmas acções (art, 4652, n21 e 3). ção" dada ao órgão de administração de uma sociedade por quotas uma violação do principio
da típicídade, cfr. Ac. STJ 05.03.1992 (BM], n" 415, Abril, 1992, pp. 666 ss.).
Apesar de o tipo de responsabilidadeassumida pelos sócios se revelar um • O" órgão estatutário", nos termos em que pode admitir-se, constitui ainda um órgão confor-
elemento fulcral para a defi . - d
rnçao e ca d a tipo
. . me com a lei. Diferente é o caso do chamado administrador ou gerente defacto, cujo exercício
de SOCiedade parece que a não se encontra legitimado por um título [urídico-formal. Sobre a matéria, vide RICARDO
esse elemento haverá' '
uma estrutura organizat6ria {definida na
Ier.para cada um. dos t'que aSSOCIar
\ ~ COSTA, Os administradores defacto das sociedades comerciais, Almedina, Coimbra, 2014, passim.
IPOS;.nos seus contornos mínimos", Com efeito, o 10 Claro está que "o sócio que (...) satisfizer obrigações da sociedade tem direito de regresso
contra os outros sócios, na medida em que o pagamento efectuado exceda a importância
A inclusão de uma estrutura organizatória na definição de cada tipo socíet que lhe caberia suportar segundo as regras aplicáveis à sua participação nas perdas sociais"
I
. á'rro n ãosecon'
.
funde com a designaftloou denominaçllo que o contrato, indevidamente, utilize para identificar (art. 175", n" 3).
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ESTUDOS 0& DIREITO DAS SOCIEDADES
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ESTUDOS DE DIREITO DAS SOCIEDADES TIPOS DE SOCIEDADES COMERCIAIS
d) Sociedades em comandita simples - Neste tipo de sociedades existem intensidade desses interesses também não é a mesma em todos os tipos: com-
dois grupos de sócios: por um lado, aqueles que assumem uma responsa- preende-se que o interesse em impedir a entrada de estranhos seja muito
bilidade igual à dos sócios das sociedades em nome colectivo (esses são os mais intenso numa sociedade em nome colectivo do que numa sociedade
sócios comanditados); e, por outro lado, aqueles que respondem apenas anónima cotada em Bolsa, assim como é visível que o interesse do sócio
pela sua entrada (os sócios comanditários) (art. 4652, n2 1). Por esta razão em poder vender, sem necessidade de consentimento de ninguém, a sua
há quem fale, a propósito da sociedade em comandita, de um tipo misto ou participação será muito mais relevante nessa sociedade anónima cotada
hfbrido, exactamente para pôr em destaque a ideia da reunião, na mesma em Bolsa do que naquela outra sociedade em nome colectivo.
sociedade, de sócios de responsabilidade limitada com sócios de responsa-
bilidade ilimitada. a) Sociedades em nome colectivo: Nos termos do art. 1822, nO1, "a parte de
um sócio só pode ser transmitida, por acto entre vivos, com o expresso
e) Sociedadesem comandita por acções- A responsabilidade assumida pelos consentimento dos restantes sócios". Concede-se, pois, a primazia ao inte-
sócios neste tipo de sociedade assemelha-se àquela assumida nas sociedades resse dos sócios subsistentes na sociedade em não passarem a ter, sem o seu
em comandita simples (art. 4659, nO1). As diferenças entre os dois tipos expresso consentimento, um novo consócio. O regime encontra a sua justi-
não se encontram nesta sede. ficação na gravidade das consequências que poderiam advir, para aqueles
sócios, da entrada de um estranho (indesejado) na sociedade, uma vez que
2.2. Transmissão de participações sociais entre vivos este teria direito a integrar a gerência (art.1919, n2 1)17,aí dispondo de pode-
A transmissão de uma participação social implica a substituição de sócios res iguais e independentes para administrar e representar a sociedade (art.
na sociedade, isto é, a saída de um e a entrada de outro", Como é fácil de 193°, n2 1), ao que poderia acrescer o risco da sua insolvência e o concomi-
ver, na definição do regime a que deveria sujeitar essa transmissão, o legis- tante incumprimento da sua obrigação de pagamento das dívidas sociais.
lador deparou-se com interesses, em regra, antagónicos: por um lado, o O sócio a quem seja recusado o consentimento para a transmissão da
intm.:tSedo sócio que pretende transmitir a sua participação - que reclama a sua participação social poderá, cumpridos os requisitos do art. 1850, nOI,
máxima liberdade para essa transmissão, para assim poder mobilizar como a), exonerar-se da sociedade", recebendo então o valor pela sua parte, cal-
e qllando quiser o seu património e exercer a sua liberdade de se desvin- culado nos termos do art. 1052, nO2.
cular do grémio social"; por outro lado, o interesse dos restantes sócios e da
própria sociedade - a quem convirá ter o direito de impedir a transmissão b) Sociedades por quotas: O art. 228°, n9 2, estatui que "a cessão de quo-
sempre que se afigure indesejável (pelas mais variadas razões) a entrada tas não produz efeitos para com a sociedade enquanto não for consentida
de certa pessoa para a sociedade ou em que se mostre necessário (por- por esta, a não ser que se trate de cessão entre cônjuges, entre ascenden-
ventura, até, imprescindível) a continuidade do sócio para a subsistência tes e descendentes ou entre sócios". O art. 242°-A, aditado pelo Reforma
da empresa social.
de 2006, dispõe, contudo, que "os factos relativos a quotas são ineficazes
A s~luÇãoencont~da para a composição de tais interesses difere de tipo
de SOCIedadepara npo de sociedade, exactamente porque a medida ou a
17 Salvo estipulação em contrário, "são gerentes todos os sócios, qucr tenham constituído a
1.\A não ser que se (rote de uma lr1InSmissdorntrrsócios_ caso em que a saída de um sócio não sociedade, quer tenham adquirido essa qualidade posteriormente" (art. 191°, nt 1).
implicar:la entroda de um no~'OSÓCio-. ou de uma transmiss50 apenas parcial- caso em que IA Note-se que o direito do sócio à exoneração não está. nas sociedades em nome colectivo,
o sócio. por haver lronsmltido somente uma fracç40 da SUa particlpaç:io social. manterá o associado à recusa do consentimento para a rransmíssão da parte social, antes constitui um
seu SIII'"S soei/.
direito geral dos sócios "se não estiver fixada no contrato a duração da sociedade ou se esta
lO Como "cremos j~~ seguir. na SOCiedade anónima o interesse na livre transnlissão n50 é tiver sido constituída por toda a vida de um sócio ou por período superior a 30 anos. desde
apenas do SÓCio-actllal.mas também do Slklo:/ilfuro.
que aquele que se exonerar seja sócio há. pelo menos. dez. anos- (an. 1SS', nt 1. all1».
SSTUDOSDE DIREITO DASSOCIEDADES
perante a sociedade enquanto não for solicitada, quando necessária, a pro- são, poderá reduzir os casos em que esta é livre - passando, por exemplo,
a exigir-se o consentimento da sociedade mesmo nas transmissões entre
moção do respectivo registo" 19.
O regime supletivo para a cessão de quotas'? difere, pois, consoante a sócios (art. 22911, n2 3); (c) o contrato de sociedade poderá, ao invés, dis-
pensar o consentimento da sociedade para as situações em que ele seria
pessoa do cessionário: é livre a cessão para cônjuge, ascendente ou des-
necessário (art. 229g, nll 2). Por outro lado, relativamente aos casos em que
cendente, bem como para outro sócio; mas dependem de consentimento
se exija o consentimento da sociedade, o contrato poderá estipular, por
da sociedade todas as outras cessões.
exemplo, que a deliberação seja tomada por uma maioria qualificada e não
Cabe destacar, desde já, duas diferenças relativamente ao regime das
sociedades em nome colectivo: em certos casos a cessão é livre e, quando apenas por maioria simples".
Não obstante o regime supletivo para a cessão de quotas atender, em
a cessão não é livre, o consentimento deve ser dado pela sociedade e não
larga medida, ao interesse dos sócios subsistentes - uma vez que só em
pelos sóciosl1• casos contados é que se dispensa o consentimento da sociedade -, o facto
O regime estabelecidopelo art. 2282, ng 2, pode ser amplamente derrogado
é que o legislador não desatendeu ao interesse daquele sócio a quem é
no contrato de sociedade. (a) O contrato pode proibir a cessão de quotas (art.
recusado o consentimento para transmitir a sua quota. Com efeito, o art.
229 nQ 1),o que implicará que nem sequer o consentimento da sociedade
Q,
2312,nll 1,impõe à sociedade que, a par da recusa do consentimento, apre-
ou dos sócios viabilizará a cessão"; (b) o contrato, em vez de proibir a ces-
sente ao sócio - que o seja há mais de três anos" - uma proposta de amor-
tização ou de aquisição da sua quota, sob pena de a cessão se tornar livre
19 Parece existir um desacerto entre as duas referidas normas (o art. 2282, n2 3, e o art, 2429-
A): a primeira dispõe que a cessão é eficaz logo que seja comunicada por escrito à_soci~dade; a
(art. 23111, nO2, aI. a)). Vale isto por dizer que o sócio a quem seja recusado
segunda impõe a solicitafllo à sociedade da promoção do registo para que a cessao seja eficaz o consentimento terá sempre a possibilidade de realizar, ao menos par-
perante ela. Parece-nos, por isso, que a comunicação à sociedade, prevista no art. 2289, n2 3, de- cíalrnente", o seu interesse, deixando de ser sócio e recebendo uma con-
verá valer, ao menos ímplícítamente, como solicitação para apromofãodo registo - que o art, 2429 trapartida monetária por isso".
exige para que a cessão produza efeitos em relação à sociedade. Desta forma, o mesmo acto
cumprirá, simultaneamente, os requisitos das duas referidas normas, evitando-se o aparente
desacerto que a sua letra implicaria. Sustentando uma interpretação restritiva do art. 2422-A,
no sentido de que não basta a solicitação da promoção do registo, sendo necessário que ele
seja efectivamente promovido, cfr. PAULO OLAVO CUNHA, oh. cit., p. 57 ss. (mas esta Inter- Quando a cessão de quotas seja proibida, os sócios têm direito à exoneração, uma vez decor-
pretação do art. 2429-A implica um desacerto com o disposto no art, 2289, n2 3, como se referiu). ridos dez anos sobre o seu ingresso na sociedade (art. 2299, n~ 1,lnjine).
20 Sobre o regime da cessão de quotas, cfr. PEDRO MAIA, "Cessão de quotas", in Os quinze 2
2J É o que decorre do disposto nos arts. 229v, nV 5, 2489, n 1, e 386 , n 1.
V 9
anos de vigência do C6digo das Sociedades Comerciais, Fundação Bissaya Barreto, Instituto Superior 24 O regime do art, 231v, nV 1 e 2, só se aplica às recusas de consentimento para a cessão de
BissayaBarreto, Direcção Científica A. Ferrer Correia, Coimbra, 2003, pp. 125-149, e A LEXAN- quotas que estejam "há mais de três anos na titularidade do cedente, do seu cônjuge ou de
DRE DE SOVERALMARTINS, CesSi1odeQuotas-algunsprohlemas, Almedina, Coimbra, 2007. pessoa a quem tenham, um ou outro, sucedido por morte" (art. 2312, nV 3). Para mais desen-
21 Sendo o consentimento requerido à SOCiedade- e não aos sócios - bas-tará uma deliberação
volvimentos, cfr. PEDRO MAIA, "Cessão de quotas", cit., pp. 125 ss.
tomada por maioria (nos termos gerais dos arts. 2482, nV 1, e 3869, nV 1), o que significa que 25 O regime do art. 231., n2 1, nem sempre garante que o sócio não "perca" por lhe ter sido
o consentimento poderá ser concedido mesmo contra a vontade de algum ou alguns sócios recusado o consentimento. Com efeito, a proposta da sociedade - de amortização da quota ou
(minoritários, que tenham votado contra a deliberação aprovada), ou sem a sua vontade (sócios da sua aquíslção por um terceiro - não terá de ser feita pelo mesmo valor que o sócio projectava,
I
ausentes da assembleia que delibere autorizar a cessão da quota).
por exemplo, vendê-Ia, se a quota não estiver há mais de três anos na titularidade do cedente,
~. ~ es~adeliberação, o sócio alienante estará impedido de votar. Neste sentido, com argumentos do seu cônjuge ou de pessoa a quem tenham, um ou outro, sucedido por morte (art. 2319, nV 3).
inteiramente convincentes, JOÃO LABAREDA, "PosiÇão de sócio alienante na deliberação 26 Sobre a nova redacção do art. 231v,n91, h), e a necessidade de proceder a uma interpretação
sobre o pe~ido de consentimento para a cessão de quotas", ln Estudos em homenagem ao Prof ab-rogante no que toca à ausência de aceitação por escrito por parte da sociedade, cfr. P Eo RO
~oulor Raul ,Ventura, Co.imbra Editora, Colmbra, 2003, pp. 467ss. MA I A, "Registo e cessão de quotas", ln Reformas do Código das Socledades Comerciais, Almedina,
Claro esta que os SÓCIOS poderão proceder a uma alteraçllo do contrato aí estabelecendo que COimbra,2007,p.165,eALExANDRE DE SOVERAL MARTINS, "Cessão de quotas ...". cn., p.49.
a cessão deixe de ser proibida. '
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ESTUDOS DE DIREITO DAS SOCIEDADES
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TIPOS DE SOCIEDADES COMERCIAIS
ESTUDOS DE DIREITO DAS SOCIEDADES
deliberação tomada em assembleia geral, ou por voto escrito (art. 2472, A sociedade pode sempre ter um outro órgão, o conselho fiscal (ou fiscal
˙nico), se o contrato de sociedade assim o dispuser (art. 262°, n2 1). Con-
nO1)32.
O legisladoratribuiu a este órgão um conjunto minimo (ou imperativo) de tudo, certas sociedades por quotas devem ter um conselho fiscal (ou fiscal
competências - que não podem, portanto, ser remetidas para outro órgão ˙nico), ou então designar um revisor oficial de contas, sempre que durante
(art. 2462, nOl)-, de par com um círculo de competências supletivas- que só dois anos consecutivos sejam ultrapassados dois dos seguintes três limi-
não caberão aos sócios caso o contrato as transfira para outro órgão (art, tes: (a) total do balanço: 1500000 euros; (b) total das vendas líquidas e
2462,nO2) -, admitindo a lei ainda que o contrato acrescente outras com- outros proveitos: 3 000000 euros; (c) n˙mero de trabalhadores emprega-
dos em média durante o exercício: 50 (art. 262°, nO2). Existindo um con-
petências ao órgão (corpo do art. 2462, n2 I).
A sociedade está ainda dotada de uma gerência, composta por uma selho fiscal, ser-lhe-à aplicável o disposto nos arts. 4132 ss. (art, 2622, nO1).
ou mais pessoas singulares com capacidade jurídica plena, que podem
ser ou não sócias (art. 252°,n21), designadas no contrato de sociedade ou c) Sociedades anonimas: Com a alteração do esc, introduzida pelo
eleitas posteriormente por deliberação dos sócios, se não estiver prevista Decreto-Lei n2 76-Aj2006, de 29 de Março, a sociedade anónima passou a
no contrato outra forma de designação (art. 252°,nO2). A este órgão com- poder estruturar-se segundo três modalidades distintas (art. 27811, nll1)33.
pete administrar e representar a sociedade (art. 2522, 2592 ss.). A gerência, Em qualquer dessas modalidades existe, tal como anteriormente, a colec-
quando seja composta por várias pessoas (gerência plural), há-de funcio- tividade de sôcios (ou, se se preferir, assembleia geraly~, embora este órgão
nar conjuntamentepor maioria, a não ser que o contrato de sociedade esti- não tenha exactamente as mesmas competências em todas as estruturas
pule diversamente (art. 2612). admitidas por lei. A colectividade de s6cios compõe-se de sócíos", ainda que
não a integrem, necessariamente, todos os sócios: pode haver acções pre-
ferenciais sem voto36 e o contrato afastar os seus titulares da participação
32 Com a introdução, pela Reforma de 2006, do voto por correspondência nas sociedades
anónimas (art. 384·, n· 9) - como regime supletivo para as sociedades anónimas em ~eral,
33 Uma vez que a fiscalização das sociedades anónimas de estrutura dita monista pode assumir
mas parcialmente imperativo paras as sociedades abertas (art. 22· CVM) - surge a questão de
duas modalidades distintas (art. 413·), pode dizer-se que a lei prevê, afinal, quatro estruturas
saber se, por força da remissão constante do art, 248., n·l, esse regime se aplica igualmente
orgânicas distintas para a sociedade anónima.
às sociedades por quotas (e, até, às sociedades em nome colectivo e em comandita simples, em
3' Talvez se deva entender que também o presidente da mesa da assembleia geral da socie-
virtude de remissões sucessivas operadas pela lei - aru.189", nO1,e 474.). Não obstante a aparente
dade anónima é, no direito português, um órg40 da sociedade, atento o facto de deter com-
proximidade entre as deliberações por voto escrito, previstas para as sociedades por quotas (art.
petências próprias. Sobre as competências do presidente da mesa da assembleia geral, cfr.
247·), e as deliberações com votos por correspondência, o certo é que elas se diferenciam num
PEDRO MAl A, "O presidente das assembleias de sócios", ín Problemas do direito das sociedades,
aspecto essencial: nas deliberações por VOtoescrito exige-se que cada sócio consinta, expressa
Almedina, Coimbra, 2002, pp. 421 SS., e ANTÓNIO MENEZES CORDEIRO, SA: Assembleia
ou tacitamente, na dispensa do procedimento colegial de determinada deliberação; ao invés,
geral e deliberações sociais, Almedina, Coimbra, 2009, pp. 39ss.
no voto por correspondência, já não se exige idêntica vontade de cada sócio, verificando-se
3S Quando a sociedade tenha um ˙nico sócio, põe-se a questão de saber se a assembleia
uma espécie de ren˙ncia genérica ao procedimento colegial- ao menos na parte que respeita
de sócios continuará a existir. Defendendo que essa existência é poss(vel, mas não necessâri«,
aos votos emitidos por correspondência, visto que esses, sendo emitidos fora da assembleia,
vide]. COUTINHO DE ABREU, Da empresariolidade. As empresas no direito, 1996, Almedina,
não emergem do procedimento colegial. (No sentido de que o art, 384. não se aplica, por
Coimbra, pp. 143 ss., e, especificamente sobre a sociedade por quotas unlpessoal, cfr. RI-
remissão, às sociedades por quotas, ANTÓNIO MENEZES CORDEIRO, Manual dI!direito das
CARDO COSTA,A sociedade por quotasunipessoal no direito portugués, Almedina, Coimbra, 2002,
sociedades, vol, II, DaSSocfedades em especial, Almedina, Coimbra, 2006, p. 390). Pensamos, por
pp. 547 SS.,FILIPE CASSIANO DOS SANTOS,A sociedade unipessoalporquotas, Coimbra Editora,
isso, que só razões muito específicas, respeitantes apenas às sociedades anónimas _ cremos
Coimbra, 2009, pp. 100 s. (sustentando que não existe assembleia geral nestas sociedades).
que, em rigor, respeitantes apenas às sociedades abertas -, justificam a derrogação do método
Os accionistas têm o direito de se fazerem representar na assembleia, direito que, na redacção
colegial que o voto por correspondência implica. Questão diferente desta é, naturalmente,
dada ao artigo 380~, n~ I, CSC pelo Decreto-Lei nO49/2010, de 19 de Maio, "o contrato de
saber se as delibera~ões por voto escrito, observado o procedimento imposto por lei, podem
sociedade não pode proibir ou limitar".
resultar de votos emitidos por meios electrónicos. No sentido afirmativo, ANTÓN 10 MENEZES
CORDEIRO,ob. lilt. cit., p. 386. J6 Cujo regime foi bastante alterado pelo Decreto-Lei n.o 26/2015, de 6 de fevereiro.
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ESTUDOSDE DIREITO DASSOCIEDADES rieos DE SOCIEDADESCOMERCIAI
na assembleia (arts, 3432, n2 1e 3792,2); o contrato pode exigir que o sócio
(i) O conselho de administração é composto pelo n˙mero de membros
detenha um n˙mero mínimo de acções para poder participar na assembleia
fixado no contrato, que podem ser accionistas ou não, mas sempre por
(arts. 3792, n2 2, e 3842, n2 2, a)). Na sociedade anónima, os sócios detêm, pessoas singulares dotadas de capacidade jurídica plena (an. 3901!, nl! 1e
na anónima, menos poderes do que nas sociedades em nome colectivo e 3)40. Só nas sociedades anónimas cujo capital social não exceda 200 000
nas sociedades por quotas, uma vez que não podem deliberar, fora dos euros é que a administração pode ser confiada a um só administrador (art.
casos previstos na lei, sobre matérias de gestão da sociedade, a não ser que 390º, n2 2). Com a Reforma de 2006, o legislador abandonou a exigência
o órgão de administração formule um pedido para esse efeito (art. 3732, de que o conselho de administração seja composto por um n˙mero ímpar
n2 3). O círculo de competências da assembleia geral da sociedade anónima, de membros. O conselho de administração - na estrutura monista - pode
podendo embora ser mais ou menos amplo consoante o estipulado no con- agora ser composto por qualquer n˙mero plural de membros, o que inclui
trato (art. 3732, n2 2), nunca pode ser tão extenso quanto numa sociedade a possibilidade de composição por dois administradores, apenas. Quando
por quotas ou em nome colectivo. o órgão seja composto por um n˙mero par de membros passa a ser obriga-
A administração da sociedade pode obedecer a três estruturas distin- tória a atribuição de voto de qualidade ao presidente (art, 39511, nl! 3, a)). Os
tas (art. 2782): administradores podem ser designados no contrato de sociedade ou eleitos
(I) numa, designada pela doutrina de monista, a administração é entre- pela assembleia geral ou constitutiva (art. 391°, nO1). O conselho de admi-
gue a um só órgão, o conselho de administração (ou administrador ˙nica) nistração funciona colegialmente por maioriu" (art. 41011), considerando-se a
(arts, 278!!,n!! I, a), e 3901!ss.); sociedade vinculada pelos negócios celebrados pela maioria dos seus admi-
(ir) noutra, dita dualista, a administração compete a dois órgãos distin- nistradores (art. 4082, n2 1). O conselho de administração pode, contudo,
tos, o conselhogeral e de supervisão" (arts, 278º, n2 I, C), e 4342 ss.) e o delegar num ou mais administradores ou numa comissão executiva a ges-
conselho de administração executivfi18 (ou administrador executivo ˙nico) tão corrente da sociedade" (art, 407º, n2 3), ficando tais administradores
(arts, 4242 ss.); delegados, caso o contrato o preveja, com poderes de representação da
(iiI) n~ terceira e nova estrutra de sociedade anónima, a administra- sociedade (art. 408º, nO2)43. Em matéria de gestão da sociedade, as com-
petências do conselho de administração são muito amplas, como se pode
çao compete a um conselho de administração (art, 2782, n2 1, b))
ver no elenco que consta do arr, 4062•
- tal como sucede na estrutura monista. Mas nesta nova estrutura
:~~s au~r~ vêm designando de anglo-saxóníca, o conselh~
. uustraçao integra um outro 6rgão, de fiscalização designado
comissã Ode au ditori '
1 na, que é composto por uma parte dos membros do
conse
.
lh o de adrnínístr - A .
_ açao. SSlm, os membros da comissão de audí-
40 Sobre o regime aplicável aos casos em que a assembleia eleja, ao abrigo do art. 390i, ni 3,
uma pessoa colectiva para administrador, cfr. M. N OGUEI RA SE RENs, Notas sobre a sociedade
tona, que é ~~ órgao de fiscalização da sociedade, são, simultanea-
anónima, 2' ed., Coimbra Editora, Coimbra, 1997, pp. 5555.
mente, admJmstradores membros do conselho de admínístração", <I Com a Reforma de 2006 passou a admltir-se expressamente a reunião do conselho de
administração por meios telemáticos (art. 4109, n9 8).
J7 Este órgão designava·se somente "conselho geraI", tendo a actual designação sido intro- 42 Tal como o próprio conselho de administração, também a comissão executiva deixou de
duzida pelo Decreto·Lei nll 76.A/2006. ser necessariamente composta por um n˙mero ímpar de membros, como anteriormente à
li Antes da reforma de Março de 2006, este órgão designava-se "direcção". Reforma de 2006 se impunha (art. 40711, nll 3).
lO Genericamente, sobre a matéria, cfr. ALEXANDRE DE SOVERAL MARTINS, "Comissão 4J Sobre a delegação de poderes, cfr. ALEXANDRE SOVERAL MARTINS. Os administradores
executiva, comiSSão de auditoria e outras comissões na administração", ln Riformas do Código delegados das sociedades anónimas. Algumas considerações, Fora do texto, Coimbra, 1998, PEOIlO
das Sociedades, Almedlna, Coimbra, 2007, pp. 255ss., e PAULO CÂMARA, "O governo das so- M AIA, Funçãoe funcionamento do conselho de administraçõo da sociedade anónima, Coimbra Editora,
Ciedades e a reforma do Código das Sociedades Comerciais", ln Código das SOCiedades Comerciais Coimbra, 2002, pp. 247 ss.,e, recentemente, COUTI NHO DE ABREU, GovtTnafllodassociedades
e Governo das Sociedades, Almedina, Coimbra, 2008, pp. 103ss. comerciais, 21 ed., Almedina, Coimbra, 2010, pp. 99 55.
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sociedades com capital social não superior a 200 000 euros poderão ter
um ˙nico administrador. O conselho de administração executivo, como
dissemos já, é designado pelo conselho geral e de supervisão ou pela assem-
bleia geral, se o contrato assim o dispuser. Ao conselho de administração
executivo compete gerir as actividades da sociedade (an. 4319, n9 1), bem
como representá-la (art. 43111, nll 2).
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IAI
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TIPOS De IEDADES COMERCIAI
ESTUDOS DIi DIREITO DAS SOCIEDADES
quanto ao n˙mero de membros, existem órgãos singulares (por exem-
mente pela assembleia geral, quando esta elege os administradores (an.
plo, o administrador ˙nico e o fiscal ˙nico) e plurais (também por
4230-C, nO1).Deste modo, será, pelo menos em abstracto, possível que a
exemplo, o conselho de administração e o conselho fiscal);
maioria dos membros do conselho de administração pertença à comissão
quanto aos poderes funcionais ou competências, há órgãos deliberativos
de auditoria, pois a lei não impõe uma relação entre o n˙mero de mem- (também chamados internos), uma vez que as suas decisões só pro-
bros da comissão de auditoria e o n˙mero de membros do conselho de duzem efeitos no interior da sociedade, de que é exemplo a colecti-
administração. vidade de sócios (ou assembleia geral); órgãos representativos (também
designados executivos ou externos), que são aqueles que representam
d) Sociedades em comandita simples e em comandita por acções: A estes dois a sociedade perante terceiros, de que são exemplos a gerência da
tipos de sociedade aplicam-se, por remissão dos arts, 4742 (sociedades em sociedade por quotas, o conselho de administração e o conselho de
comandita simples) e 4789 (sociedades em comandita por acções), respec- administração executivo da sociedade anónima; e órgãos fiscaliza-
tivamente, as disposições relativas às sociedades em nome colectivo e às dores (a que também se pode chamar de controladores), como seja O
sociedades anónimas, em tudo o que não for contrariado pelo disposto em conselho fiscal, a comissão de auditoria e o revisor oficial de contas;
normas específicas daqueles dois tipos. Assim, só a gerência destas socie- quanto ao modo defuncionamento, há órgãos disjuntos - em que cada
dades difere do regime subsidiário que o legislador lhes manda aplicar. membro tem poderes separados dos restantes membros -, de que é
Com efeito, a gerência só pode, salvo estipulação do contrato em sentido exemplo a gerência da sociedade em nome colectivo; órgãos con-
diverso,ser composta por sócios comandítados (art. 4702, n2 1). juntos - que decidem mediante o concurso da vontade de vários dos
seus membros (minoria, maioria ou unanimidade) expressa sem
Os váriosórgãos de que já falámos podem ser ordenados em diferentes necessidade de uma reunião -, como ocorre com a gerência da socie-
espécies, consoante o critério da distinção. Assim: dade por quotas; e órgãos colegiais, em que a decisão é tomada em
reunião dos membros do órgão" que concorrem para a decisão
Sucede, porém, que a apreciação das contas é uma das matérias indelegdlleis pelo conselho
através do seu voto (por exemplo, a colectividade de sócios dos vários
de administração (an. 407~, nQ 4), quer dizer, a comissão executiva não tem competência - tipos de socíedade=, o conselho de administração, o conselho de
não pode ter competência - para apreciar as contas anuais. Pertencendo essa competência ao administração executivo, o conselho geral e de supervisão, a comis-
conselho de administração, então os membros da comissão de auditoria - a quem compete são de auditoria e o conselho fiscal)".
verificar a exactidão dos documentos de prestação de contas (art. 423Q·F, e), a quem compete
dar parecer sobre o relatório, contas e propostas apresentados pela administração (art. 423Q•
F,g) - terão o dever de participar na deliberação do conselho de administração sobre tais S4 A noção de reunião terá de ser adaptada às novas tecnologias e à expressa admissão, pelo nosso
relatórios e contas anuais. Ora, afigura-se estranho que os sujeitos a quem compete fiscalizar legislador, de que as reuniões de diversos órgãos colegiais possam ocorrer por meios telemdticos
a elaboração de contas - que até devem elaborar um parecer sobre tais relatórios e contas do (arts. 377'J. nO6, b), 41O~,nO8. 433° e 4450, n~2). Sobre as ímplícações do votO por correspondência
conselho de administração - tenham, simultaneamente, o poder e o dever de os aprovarem, no funcionamento colegial da assembleia. vide infra, Deliberações dos s6cios, nota 3.
55 Em certas circunstâncias, o legislador prescinde do funcionamento colegial na colecti-
enquanto membros do conselho de administração. E, acrescente-se, nada obsta a que estejam
vidade de sócios, admitindo o funcionamento conjunto por unanimidade deste órgão (quando
até em maioria nesse mesmo conselho e que. portanto, o seu voto seja realmente determinante
do sentido da delJberação do conselho de administração nessas matérias. ».
admite as deliberações unânimes por escrito (art. 549 Também as deliberações por voto
Q
escrito _ admitidas nas sociedades por quotas (art. 2479), em nome colectivo (art. 189 , nO
Estas dificuldades, muito sumariamente elencadas, de arttculação entre o estatuto de admi-
1) e em comandaita simples (art. 189~, nO 1) - constituem uma derrogação ao principio do
nistrador e o estatuto de membro da comissão de audtoria são a consequência da opção do
funcionamento colegial da colectividade de sócios, uma vez que se trata em tais casos de um
nosso legislador de construir o chamado modelo anglo"saxónico sobre a estrutura monista,
modelos que, em nosso entender, se revelam, quanto a diversos aspectos de funcionamento funcionamento conjunto por maioria.
56 Acerca do modo de funcionamento dos órgãos plurais, cfr. PEDRO MAl A, Função t funcio-
dos órgãos, entre si incompatlveis, o que aconselharia que um (o modelo anglo-saxónico) não
tivesse como matriz legal o outro (o modelo monista). Sustentando as opções tomadas pelo namento ...• cit .• pp. 181 ss,
legislador e a técnica legislativa seguida, cfr. PAULO CÂMA RA, "O governo ...", cit., pp. 103ss.
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ESTUDOS DE DIREITO DAS SOCIEDADES
TIPOS DB SOCIEDADES COMERCIAIS
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ESTUDOS 06 DIR61TO DAS SOCIEDAD6S
TIPOS 06 SOCIEDADES COMERCIAI
Se é indiscutível a inclusão da sociedade em nome colectivo na cate-
goria das sociedades de pessoas e da ~oci~~~de anónima na c~tegoria das sentido das cláusulas inscritas no contrato de cada sociedade, quer para se
sociedades de capitais, já se revela mais díficíl catalogar as sociedades por encontrar o regime aplicável quando se apresente uma lacuna em tal con-
quotas. Essa dificuldade resulta do facto de o regime l~ga.1destas socieda- trato, há que apreciar se a sociedade em causa, tal como os sócios a modelaram,
des ser muito jlex{vel, tendo o legislador optado por atrtbutr carácter mera- se reveste de um carácter personalístico ou capitalístico. Claro está que é na
mente supletivo a muitas das normas que regulam tais sociedades. Assim, sociedade por quotas que a qualificação assume maior importância prática,
fazendo uso desse amplo espaço de conformação no contrato, os sócios por ser neste tipo social que a (ampla) liberdade conferida aos sócios per-
podem conferir à sociedade por quotas um carácter eminentemente capi- mite a configuração de sociedades por quotas patentemente capitalísticas
taUstico _ v. g., fixando a liberdade da transmissão inter vivos e mortis causa ou personalísticas, isto é, que possibilita que, por via do contrato, a socie-
das participações sociais, adoptando uma firma-denominação, etc. - ou, ao dade se inscreva num ou noutro pólo da classificação.
invés, vincadamente persona/(stico- v.g., reforçando a necessidade de con- Contudo, não é excluir que mesmo relativamente às sociedades em
sentimento para a transmissão de quotas ou até excluindo a sua transmis- nome colectivo e às sociedades anónimas - que serão sempre, umas, socie-
sibilidade (arts. 2280 e 229°), fixando um direito de amortização a favor da dades de pessoas e, outras, sociedades de capitais - se possa proceder, para
sociedade no caso de penhora da quota (art. 2392, nO 2, in fine), exigindo efeitos de interpretação e de integração do contrato, a uma indagação da
a qualidade de sócio para o desempenho do cargo de gerente (art. 252º), existência de elementos desviantes" ao seu paradigma: basta pensar nas
adoptando uma firma-nome (art. 2002), etc. Significa isto que, em concreto, sociedades anónimas fechadas ou familiares (em que se restringe a transmissão
uma sociedade por quotas tanto pode pertencer à categoria das sociedades de acções, se atribui aos sócios um direito de preferência nas transmissões
de pessoas quanto àquela das sociedades de capitais, tudo dependendo da de acções, se constitui a firma com o nome dos sócios, etc), ou nas socieda-
opção feita pelos sócios. Contudo, pode afirmar-se que o modelo, em abs- des em nome colectivo em que o contrato tenha admitido o desempenho
tracto,.segui.dopelo legislador foi o da sociedade por quotas personalistico. do cargo de gerente por um não-sócio, ou a livre transmissão das partici-
Quer Isto ~Izer que, não afastando os sócios o regime supletivo fixado no pações sociais por morte do sócio, etc.
CSC, a.s~le~ade por quotas apresentar-se-é como uma sociedade de pessoas
A dlstlOÇ~o~ntre sociedades de pessoas e sociedades de capitais nã~
assume,
. 'do
no direíto portuguê . és d o que sucede noutros ordenamen-
gues - ao mv
tos jun ICOS - especo l' ..
des comerciai~ estãol~~=:~;:c~~s~~.efeito: en~r~ nós todas as socieda-
quer sejam sOciedadesde pesso p d Idade jurídica a partir do registo,
as ou e capitais - .. d
um regime fiscaldistinto para ur ' nao exisnn o tão-pouco
ara umas e para outra I .
se, ainda assim, subsiste alguma utilidade .S.. m~orta pOISperguntar
Além de uma utilidade diríamos didá . na dístínção. Parece que sim.
a exp~care a compreende; melhor ~ 'I .~ - uma vez que a distinção ajuda
cada tipo societário _,a caracteriza ã~ ~p os aspec_t0sdo regime jurídico de
soas ou de capitais importa a doí ,ç . e uma SOCiedadecomo sendo depes-
OIS ruveis: em pri . I
pretaçãoede integraçãodapróhri l . . nmerro ugar, em sede de inter-
figurino ( , r a et, para o que urgi ' t
personahstico ou capitalístico) .. ra er sempre presente o
a que.su.bmeteu cada tipo social, em sedguldopelo legislador no rezíme
e de mtel1ra - d ~ ,segun o lugar d b-
o çao e ,cada) contrato desOciedade C· ,~m se e de interpretação
. om efeito, quer para se fixar o 60 M. NOGUEIRA SERENS, oh. cit., 2" ed., p.6, fala, a este propósito, de "matização persona-
38 Ilstica do cunho capitallstico" da sociedade anónima.
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Jorge Manuel Coutinho de Abreu (coord.)