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Teoria Geral da Relação Jurídica

Introdução. Do facto jurídico.


O Código Civil está dividido em 5 livros. O primeiro deles é chamado Parte Geral, e consiste,
portanto, no conjunto de normas que é comum às várias situações de Direito Civil. Este livro é
dividido em dois títulos (Das leis, sua interpretação e aplicação e das relações jurídicas). O titulo das
relações jurídicas é dividido em vários subtítulos, sendo, então, usando a lógica, a composição de
uma relação jurídica – titulo 1, Das pessoas; titulo 2, Das coisas, enquanto objeto da relação
jurídica1; titulo 3, Dos factos jurídicos e titulo 4 Do exercício e tutela dos direitos (garantia).
Seguindo a estrutura lógica do Código Civil chegamos ao negócio jurídico em termos gerais, isto é,
excluindo as normas excecionais, normas que tratam especificamente de certos negócios jurídicos,
como o contrato ou como o testamento.

O que é, então, o negócio jurídico? Em termos gerais, pode inserir-se o negócio jurídico
como sendo um facto jurídico. Um facto jurídico é todo o ato ou facto juridicamente relevante, na
medida em que produz efeitos jurídicos, isto é, constitui, modifica ou extingue uma relação jurídica
e, consequentemente, dará origem a uma aquisição/constituição, modificação ou extinção de
direitos subjetivos e as correspondentes obrigações. Neste sentido, os efeitos jurídicos são uma
coisa distinta de um facto jurídico, uma coisa é o facto jurídico per si, que é o facto que vai dar
origem à relação jurídica, outra coisa são os efeitos jurídicos produzidos pelo facto jurídico.

O facto jurídico é todo o ato humano ou natural juridicamente relevante. Todo o


acontecimento natural ou ato humano que não produza efeitos jurídicos, isto é, que não seja
juridicamente relevante, é um facto que não tem interesse para Direito, é um facto ajurídico, e
portanto, livre de Direito.

Por outro lado, os factos que são jurídicos podem ser divididos em factos jurídicos em
voluntários e em involuntários, se resultarem de uma declaração de vontade do agente ou não 2 –
ou seja, se um facto for produzido pela vontade do agente é voluntário, se a vontade for relevante
para a realização do facto, então esse facto é voluntário (por exemplo, um carro só se compra em
nome do agente se ele tiver essa vontade, de a realização do facto jurídico, isto é, a ação de comprar
o carro, for querida por ele); se, por outro lado, é um facto legal ou natural, em que o agente e a
vontade dele nada têm ver, se a vontade não for coincidente, então é involuntário, ou mesmo se for
coincidente, a vontade é irrelevante, um facto que se produz independentemente da vontade (por
exemplo, a aquisição da personalidade jurídica pelo nascimento acontece, independentemente da
vontade. Dos factos voluntários, estes podem dividir-se em factos lícitos (estão de acordo com a
ordem jurídica) e factos ilícitos (não estão de acordo com a ordem jurídica). Relativamente a esta
classificação, nota distinguir o seguinte: pode haver situações em que um facto de um agente A seja
lícito, mas um facto antecedido ou causal daquele tenha sido ilícito, e isso não afetará a qualidade

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Embora os animais, antes de 2017, serem classificados como coisas, também não são pessoas, mas foram
elevados à categoria de animais, por serem seres vivos, continuando a ser objeto da relação jurídica.
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Para um facto ser voluntário o que interessa é que o facto jurídico seja criado pela vontade do agente, nada
tem isto que ver com os efeitos que surgiram do facto, são coisas distintas. Umas coisa é a declaração de
vontade no facto jurídico, ou seja, o agente contribuir para a criação de um facto jurídico pela sua vontade
(e.g. a vontade de A vender o seu carro), outra é a declaração de vontade de um agente ser correspondente
aos efeitos produzidos pelo facto jurídico (A vender o carro – os efeitos, isto é, a passagem de propriedade do
carro de A para B, é coincidente com a sua vontade declarada, o contrato de compra e venda estabelecido
entre o vendedor e o comprador.
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de licitude do facto que A realizou, mas afetará a sua validade e eficácia. Por exemplo, se uma
pessoa, por coação moral, isto é, se alguém apontar uma arma a A para que ele compre um carro,
isto é, na situação de um facto ilícito (coação moral) anteceder e até ser causal do facto realizado
por A de um facto lícito (a compra de um automóvel, isto é, a realização de um contrato de compra e
venda de algo que, conforme a autonomia privada é possível de realizar) vai afetar a validade e
eficácia deste negócio, visto que, segundo o artigo 255º é anulável, ainda que o negócio de realizar
um contrato de compra e venda seja lícito, mas o facto que o antecedeu comprometeu a sua
validade por ilicitude. Desta feita, os efeitos jurídicos produzidos por um facto ilícito traduzem-se na
sanção, que se opõe à vontade do agente, ou mesmo que vá consoante a sua vontade, é irrelevante
para o Direito. A sanção é a reconstituição dos danos causados, ou in natura, isto é, reconstituição
da situação exatamente como ela estava antes de os danos se terem realizado, por exemplo, A parte
o vidro do carro de B, B é obrigado a (como sanção) reconstituir um objeto certo e determinado a A,
que no caso é a reconstituição de um vidro novo (A fica, então, na situação a que se acharia caso não
tivesse ocorrido dano algum), que só é possível por um vidro ser algo fungível. Agora, situação
diferente é a que poderia ocorrer se B, em vez de ter partido um vidro do carro de A, tivesse, ao
invés, partido uma jarra valiosa que A comprou num leilão (uma peça infungível), neste caso, B seria
obrigado a proceder a uma reconstituição por mero equivalente, isto é, a reconstituição, por meios
pecuniários, do equivalente à reconstituição dos danos causados deixando a pessoa, por
equivalência, na situação a que se acharia se não tivesse ocorrido dano algum, no caso seria pagar
em dinheiro (resultante do artigo 566º, nº1) do valor que a jarra tinha. Por vezes, os danos causados
não têm natureza patrimonial, mas sim danos morais, ao que B ficava obrigado, não só a
recompensar A pelos danos causados pondo-o na situação anterior aos danos, mas também tem que
o compensar pelos danos morais causados, que resultaria de uma soma pecuniária compensadora
dos danos ocorridos, no caso seria se a jarra tivesse um valor sentimental.

Dentro dos factos lícitos (atos jurídicos) podem distinguir-se os negócios jurídicos, isto é, os
factos jurídicos voluntários lícitos com efeitos jurídicos correspondentes à vontade do agente e os
atos jurídicos em sentido restrito, isto é, factos jurídicos voluntários lícitos em que a produção de
efeitos jurídicos pode não corresponder à vontade declarada do agente, não existe ligação entre a
vontade e os efeitos, e portanto dividem-se em negócios quase-jurídicos (factos jurídicos em que a
vontade declarada é exterior ao agente, como é o caso da interpelação do devedor para pagar a sua
divida) e atos reais (realização de um resultado factual a que a lei liga certos efeitos jurídicos, como
por exemplo, após a escrita e publicação de um livro, os direitos de autor são automaticamente
produzidos pela lei, a vontade do agente nada interessa). O CC, como seria de esperar, não trata de
todos os factos jurídicos na sede de factos jurídicos na sua parte geral, falta, por exemplo, a
responsabilidade civil extracontratual, aquisição da maioridade, et caetera, o subtítulo, Dos factos
jurídicos, não é exaustivo, portanto, está, sim, distribuído ao longo do Código Civil. Os factos
jurídicos tratados nesta epigrafe de factos jurídicos são sim, poderá dizer-se, no capitulo I, os factos
jurídicos que satisfazem a autonomia privada, muitos deles sobre coisas do comercio jurídico
privado (grande parte daquilo em que a autonomia privada atua), e por isso trata dos negócios
jurídicos satisfazem os interesses dos agentes, e por isso, são estes o instrumento por excelência da
realização da autonomia privada, é a sua função essencial.

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Parte I – Conceito e classificações do negócio jurídico
Noção e classificações do negócio jurídico. A sua função.
Noção.
A lei nada diz relativamente ao conceito de negócio jurídico. No entanto, o professor Mota
Pinto explica-o com excelência. O negócio jurídico é um ato jurídico constituído por uma ou várias
declarações de vontade dirigidas à realização de certos efeitos práticos, com a intenção de os
alcançar sob a tutela do direito, determinando o ordenamento jurídico a produção de efeitos
jurídicos correspondentes à vontade manifestada pelo agente. São estes efeitos jurídicos que vão
vincular os agente do negócio à constituição, modificação ou extinção de relações jurídicas
correspondentes a direitos subjetivos e as respetivas obrigações.

A declaração de vontade pode ser definida como um comportamento exteriormente


observado (declaração) aparentando a correspondência da vontade do agente na realização de
certos efeitos práticos sob sanção da tutela do direito (vontade). Normalmente, a declaração, ou
seja, o comportamento exteriormente observado do agente corresponde à sua intenção de
produção de certos efeitos práticos, no entanto isso nem sempre acontece, e quando não acontece
prevalece a declaração, ou seja, normalmente, esta aparência corresponde ao conteúdo volitivo real,
porém nem sempre acontece.

Esta coincidência permite, sempre que ocorre, o negócio jurídico realizar a sua função
essencial: a concretização da autonomia privada, sendo o instrumento de excelência dela.

Ainda de referir as três teorias principais relativamente à relação entre a vontade


exteriorizada e os efeitos do negócio. A teoria dos efeitos jurídicos diz que o agente, quando realiza
um negócio jurídico manifestando a sua vontade numa declaração tem a sua vontade dirigida à
produção de efeitos jurídicos previstos na lei. Esta teoria não pode ser aceite, visto que se assim
fosse só os juristas poderiam realizar negócios jurídicos, visto que só eles têm conhecimentos dos
plenos efeitos jurídicos. Diferentemente, a teoria dos efeitos práticos diz que o agente dirige a sua
vontade à produção de certos efeitos práticos e a lei faz a correspondência desses efeitos práticos
em certos efeitos jurídicos. Também não pode ser aceite esta teoria visto que assim não existia
hipótese de haver favores morais, negócios de pura obsequiosidade, et caetera. Por fim, aquela que
é acolhida pela doutrina e, especialmente por Mota Pinto, a teoria dos efeitos prático-jurídicos, que
diz que o agente, ao celebrar um negócio jurídico pretende a concretização de certos efeitos práticos
querendo fazer isso através da via jurídica, de uma vinculação jurídica. Decisiva do negócio jurídico
não são os efeitos práticos, mas sim a vinculação jurídica para a realização de certos efeitos práticos.

Divergência entre a declaração e a vontade real


Há uma longa discussão na sociedade jurídica relativamente a se, em caso de erro ou vício
da declaração (o problema dos vícios da vontade, da interpretação da declaração, da divergência

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entre a vontade e a declaração) isto é, quando a declaração de vontade não retrata a vontade de
ação da pessoa, o conteúdo volitivo real, a vontade interna, em termos subjetivos, o que
permanece, se a vontade do declarante ou se a declaração declarada ao declaratário. Podem
verificar-se duas situações: não haver qualquer tipo de declaração (não quer isso dizer que não
sejam realizados quaisquer factos jurídicos, por exemplo, a 2ª parte do 246, ou então, não sendo
produzido nenhuma declaração, o 245º), ou então a declaração não coincidir com a vontade real,
como é o caso da 1ª parte do 246º. Dito noutras palavras, se se deve escolher proteger o
declaratário que confiou numa declaração viciada, e consecutivamente, o tráfico jurídico e a
segurança jurídica, ou se devemos escolher proteger o declarante, que está vinculado a uma
declaração que não corresponde à sua vontade real e, consequentemente, proteger a tarefa
principal do negócio jurídico: a realização da autonomia privada. Parece que, em principio, deve
escolher-se proteger a declaração, e o Código Civil parece tomar esse partido, dando mais
importância à aparência do que ao elemento volitivo real.

Por exemplo, como explicariam os voluntaristas o sentido normal da declaração em vez do


sentido do conteúdo volitivo (236º); ou então, a validade de um negócio quando não são verificados
os dois pressupostos do artigo 257º; ou a permanência da validade da declaração quando o
declaratário não conhece a divergência entre a vontade e declaração (244º); tudo isto demonstra
que o Código Civil adota a declaração em prol da vontade real, prefere proteger o tráfico jurídico,
embora tente permanecer neutro não adotando a expressão de declaração de vontade, mas sim,
declaração negocial. Claro está, que existem situações em que o sacrifício do declarante, quando a
vontade não corresponde com a declaração, são demasiado grandes para a declaração continuar
válido, como é caso do artigo 246º, em que por força física ou falta de consciência da declaração
tomada, a declaração não produz qualquer efeito, se a culpa não tiver sido do declarante. Vemos
aqui o Código Civil, fazendo uma exceção relativamente à proteção da declaração, preferindo, neste
caso, proteger a vontade do declarante, a sua vontade real e a autonomia privada.

Os elementos e natureza do negócio jurídico.


Os negócios jurídicos são constituídos por elementos, na tripartição clássica, são divididos
em elementos essenciais (essentialia negotii), em elementos naturais (naturalia negotii) e elementos
acidentais (accidetalia negotii). Os elementos essenciais são aqueles elementos, aquelas realidades
sem as quais o negócio jurídico não tem existência, não tem capacidade de se constituir. São aqueles
elementos que o negócio jurídico precisa, que fazem a sua essência, que são, portanto, essenciais.
São esses elementos a declaração negocial, os sujeitos do negócio jurídico (declarantes e
declaratários) e o conteúdo do negócio jurídico. Como o negócio jurídico é um ato jurídico que
precisa de ser válido para desempenhar a sua função, então os requisitos de validade também
podem fazer parte dos elementos essenciais, que podem dizer-se serem os requisitos do elementos
acima referidos para que o negócio seja válido. Portanto, (1) os declarantes têm que ter capacidade
(e legitimidade, quando a sua falta implica a invalidade do negócio), por exemplo, um menor não
pode realizar um negócio jurídico com pena de ser inválido, os sujeitos têm que ter capacidade
(130º); (2) a declaração de vontade têm que corresponder à vontade interna do agente, têm que ser
livre e esclarecida e tem que corresponder às formas pedidas (219º e 220º); (3) o conteúdo tem que
ser física e legalmente possível e determinável (280). Os elementos essenciais, noutra perspetiva,
podem também ser os elementos que distinguem diferentes negócios jurídicos concretos, por
exemplo, os elementos que distinguem um contrato de compra e venda e um contrato de locação.

Os elementos naturais são os efeitos jurídicos que advém de uma disposição legal supletiva.
Vários negócios do tipo obrigacional têm elementos naturais pois têm uma grande quantidade de
normas supletivas (ius dispositivum) e, por outro lado, os negócios do tipo familiar têm uma grande
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quantidade de normas imperativas (ius cogens). A vontade das partes até podem coincidir com os
efeitos jurídicos estabelecidos, no entanto, não é pela vontade delas que os efeitos são produzidos,
é por falta de estipulação das partes que a lei tem que intervir, e assim se cria o elemento natural.
Por exemplo, existem elementos naturais no artigo 885º, compra e venda, no 964º, doação, 1030º,
locação.

Por fim, os elementos acidentais, que são as clausulas acessórias de um negócio jurídico,
isto é, não são elementos imprescindíveis para caracterizarem o negócio jurídico em abstrato, mas
sim para tenderem para a vontade concreta das partes. É um exemplo a estipulação de um tempo e
espaço para o cumprimento da obrigação, as clausulas de juros, et caetera.

Declaração negocial.
Falou-se, em cima, no âmbito dos elementos essenciais, de uma declaração de vontade. Mas
o que é, afinal, uma declaração de vontade? Uma declaração de vontade pode ser definida como um
comportamento que exteriormente observado pretende aparentar a manifestação do conteúdo
volitivo real que o agente quer, pretendendo também a realização de certos efeitos práticos sob
tutela do direito e vinculação jurídica. Há, então, uma parte interior (a vontade propriamente dita,
real, psicológica, interior à pessoa) e uma parte exterior (a declaração, o comportamento
exteriormente manifestado). A declaração pretende ser o instrumento do negócio que exterioriza a
vontade real do agente, que a manifesta, é a sua função. No entanto, por vezes, o comportamento
não corresponde à intenção, ao conteúdo volitivo real, pelo que se questiona qual dos elementos do
negócio jurídico permanece, o mais subjetivo, isto é, a vontade interna do agente, ou a objetiva, o
comportamento observado.

A declaração de vontade é um elemento essencial do negócio jurídico, é parte da sua


estrutura, ou seja, sem a declaração de vontade, ao contrário de, por exemplo, a invalidade da
forma negocial (219º) ou a indeterminação do objeto negocial (280º) que causa a nulidade, a falta da
declaração negocial causa a inexistência do negócio, a impossibilidade de ele se constituir.

Há, no entanto, situações em que a vontade declarada não coincide com a “vontade querida”, o
conteúdo volitivo real, e nesses casos há duas possibilidades: haver falta de declaração em si, ou a
declaração não coincidir com a vontade real, isto é, a vontade negocial não coincide com a vontade
declarada; ambas as situações são previstas no artigo 246º. Na primeira situação nem existe uma
declaração de vontade, na medida em que, em momento algum a pessoa quis declarar uma
vontade, foi, como está no artigo 246º, coação física. Diferente disto é a declaração não coincidir
com a vontade do agente, isto é, o agente não ter consciência da sua declaração, expresso também
no 246º. É o caso de, num leilão, alguém levantar o braço para cumprimentar o amigo e, ao invés
disso, comprar algo que estava a ser leiloado (ele tem vontade de ação – mexer a mão para
cumprimentar o amigo –, não tem consciência de declaração – ao levantar a mão ele não sabe nem
pretende vincular-se juridicamente a qualquer negócio, quer apenas cumprimentar o amigo –, nem
tem vontade negocial – ele não quer vincular-se àquele negócio jurídico, ele querer os efeitos
daquele negócio jurídico). Segundo o 246º, tanto uma como outro não produzem os seus efeitos.
Para o legislador, pareceu um abuso sacrificar a vontade do agente nestas situações, por isso
sacrificou-se a confiança da declaração negocial. No entanto, não significa que não haja nada, na
falta de declaração pode haver efeitos jurídicos não negociais como a sanção (246º, no caso de
culpa). É de distinguir, também, a falta de declaração e uma declaração mal formada, uma que irá
ter efeitos prejudicados.

Por vezes, não é suficiente a declaração de vontade para o negócio jurídico existir, existem
casos em que, ao lado do conteúdo volitivo real existem atos materiais, os chamados contratos reais
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ad constituicionem, como no comodato ou no contrato mútuo, em que, além da declaração de
vontade existe dinheiro que tem que ser entregue ou coisas móveis/imóveis para a realização do
negócio.

Distinção de negócio jurídico


O negócio jurídico pretende a produção de certos efeitos jurídico correspondentes com os
efeitos práticos pretendidos, a vontade dos agentes. Por isso há que fazer certas distinções do que
não são negócios jurídicos.

Negócio de obsequiosidade ou de favor


Ao contrário dos negócios jurídicos, nos negócios de pura obsequiosidade ou as relações de
favor, as partes não se pretendem vincular juridicamente, pretendem sim, produzir certos efeitos
práticos baseados na confiança entre elas. Por exemplo, A pede a B para, numa viagem de comboio
para uma entrevista de emprego, como está cansado, para o acordar antes de Coimbra B, o que B
concorda. B, por sua vez, esquece-se, pelo que falta à sua importante entrevista de emprego. Ora, o
que acontece aqui é um facto jurídico constituído por uma declaração de vontade (ser acordado)
com vista a certos efeitos práticos (ser efetivamente acordado), porém não se pretende submeter
aquilo em tutela do Direito, pelo que não se pode exigir responsabilidade civil – são pequenos
serviços que as pessoas fazem umas às outras. E até o próprio Código Civil parece reconhecer estes
negócios de obsequiosidade, no artigo 940, nº2, onde se insere, por exemplo, a gorjeta (donativo
conforme os usos sociais), não sendo um contrato de doação pela gorjeta não pretender ser jurídica.

Acordos de cavalheiros/gentleman agreements


São relações que normalmente seriam jurídicas mas as partes escolhem não se submeterem
à tutela do Direito, sendo assumido um compromisso de honra entre elas. Como por exemplo, A
empresta a B 1000€, e que B compromete-se a devolver 3 meses depois: as partes poderiam fazer
um contrato mútuo, vinculando-se juridicamente, porém escolhem não o fazer fazendo, ao invés,
um compromisso de honra. Diferente também o das relações de favor, pois as partes não se
pretendem nem têm de vincular e escolhem não fazê-lo.

Declarações de ciência
Nas declarações de ciência o que se distingue, relativamente aos negócios jurídicos, é a
declaração de vontade, que não existe nas primeiras, sendo uma declaração de um facto, como
acontece quando se declara o IRS, declaram-se factos, não o que se quer. O Código Civil também
reconhece as declarações de ciência, no artigo 1805º, nº2, em que a mãe declara que é mãe, não
que quer sê-lo, é uma declaração de ciência. Claro que estas declarações, embora não de vontade, e
embora a vontade de se vincular juridicamente seja irrelevante, as declarações de ciência têm
relevância para o Direito: é de pensar os efeitos jurídicos que advém da declaração do facto do
nascimento (por exemplo, artigo 66º).

É de constatar, ainda, que a inexistência de negócios jurídicos nestas situações não implica a
não existência de responsabilidade extracontratual (por exemplo, 485, nº2).

Os intervenientes no negócio jurídico. A conformação unilateral de relações jurídicas.


São intervenientes de um negócio jurídico as partes que nele acordam, sendo, por isso,
abrangidas pelos seus efeitos jurídicos e, em principio, só as partes do negócio são abrangidos por
eles (isso resulta do artigo 406º). Problema diferente é o de saber se os efeitos jurídicos de um
negócio jurídico são oponíveis também a terceiros, e isso tem que ver com o conteúdo do negócio
jurídico (se os negócios são relativos ou absolutos)

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Há, no entanto, também casos em que a lei permite a conformação unilateral de relações
jurídicas, isto é, a produção de efeitos jurídicos constitutivos, modificativos ou extintivos de carater
unilateral, sem a outra parte ter que dar o seu consentimento. São os tais conhecidos direitos
potestativos, que, como dito, consiste na conformação unilateral de relações jurídicas (poder de
unilateralmente produzir efeitos jurídicos na esfera de outrem, ficando esse num estado de
sujeição), é o que acontece quando uma pessoa se encontra num prédio encravado; quando se afeta
apenas o património próprio, por exemplo, o testamento; quando não são atingidos direitos de
outrem (ocupação de coisas sem dono, como o encontrar um tesouro) e ainda aqueles em que um
ato traz uma vantagem jurídica para outrem.

Há, também, outras relações jurídicas em que é preciso a aceitação da pessoa para se
realizarem. Como o as relações jurídicas que beneficiam outra pessoa, por exemplo, a remissão
(perdão) de uma dívida (863º); a doação (940º) ou o testamento (2062º), que são relações que à
primeira vista parecem de conformação unilateral, mas não o são pois carecem da aceitação da
outra parte. Claro está, também não pode haver contratos que beneficiam terceiros, tem sempre
que haver aceitação dele. E não pode haver negócios (inter partes) que prejudiquem terceiros
naturalmente, por exemplo, a compra e venda de coisas alheias, sendo, então, nulos.

Além dos intervenientes e das suas declarações, há negócios que precisam da intervenção
de autoridades públicas ou profissionais habilitados, o casamento civil (funcionário do registo civil),
contrato de compra e venda de bens imóveis (notário) com perigo de nulidade.

Além disso, também pode acontecer ser necessário a intervenção de outros particulares,
como o a autorização do acompanhante aos negócios do acompanhado menor (145, nº2, alínea b).

Pode ainda o representante agir em nome do representado.

Breve referência à história do conceito “negócio jurídico”.


Os romanos, embora existisse na sua terminologia algo parecido com os contratos, o
chamado actus e negotium, o conceito abrangente e geral de negócio jurídico, assim como o de
declaração de vontade só surgiu no século XVIII. Seguidamente, a jurisprudência alemã encarregou-
se de desenvolver esse conceito no século XVIII, na busca de conceitos gerais para integrar os
“negócios jurídicos” já existentes, pelo que se chegou ao seu conceito. O conceito de negócio
jurídico, mais tarde, ganhou a sua forma clássica em Savigny, que sublinhou a importância da
declaração de vontade no negócio. Por fim, a jurisprudência do negócio jurídico foi também
desenvolvida pelos alemães no século XIX que é o conceito acolhido atualmente, que se encontra na
codificação atual, como na neerlandesa.

Classificação dos negócios jurídicos


Antes de se analisar com rigor o instituto do negócio jurídico é importante classificá-los
quando à sua estrutura e quanto à produção de efeitos.

É possível classificar os negócios jurídicos sendo unilaterais e plurilaterais. Os negócios jurídicos


unilaterais inserem-se no principio da tipicidade (numerus clausus), exposto no artigo 457º do CC,
princípio geral do negócio unilateral (“nos casos previstos na lei”), e são aqueles negócios jurídicos
em que só existe um sentido de declaração de vontade, ou várias declarações de vontade, mas
apenas com um sentido. Normalmente, este tipo de negócios não precisam da aceitação da outra
parte, porém, por vezes, é preciso que a outra pessoa tenha conhecimento do conteúdo do negócio
jurídico ou que chegue ao seu poder para que o mesmo tenha eficácia, produza os seus efeitos
jurídicos (é o caso dos negócios jurídicos receptícios – 224º). É o caso, por exemplo, do testamento,
que é um negócio jurídico unilateral, e como tal existe apenas uma declaração de vontade com um
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sentido e os efeitos do testamento produzem-se independentemente da vontade de quem o recebe,
poderá depois, aceitar ou não os encargos do testamento, mas os efeitos ocorrem. Os negócios
jurídicos unilaterais podem ser receptícios ou não receptícios, e dessa distinção vai depender o
momento em que o negócio jurídico se torna eficaz (224º). Negócios jurídicos receptícios são
negócios jurídicos que, por terem um destinatário concreto, este irá tomar conhecimento do
conteúdo do negócio jurídico de que faz parte sob pena de, se não tomar, o negócio não produz os
seus efeitos, e, ao contrário dos não receptícios, que, não havendo um destinatário concreto são
negócios produzidos e eficazes por meramente ser feita uma declaração de vontade e esta sair do
poder do declarante, não sendo necessário a tomada de conhecimento da outra parte (224º). Por
exemplo, a promessa pública (459º) poderá dizer-se ser um negócio jurídico não receptício, na
medida em que aquela não se dirige concretamente a um individuo, dirige-se, sim, a uma
pluralidade indeterminável de pessoas que poderão aceder à promessa pública e a produção de
efeitos jurídicos da promessa pública ocorre assim que sai do poder do declarante, isto é, assim que
é publicado. Ou o testamento, também dando essa exemplo, que também é visto como não
receptício, e não quer isto dizer que o testamento não tem um beneficiário, quer, sim, dizer que o
testamento não precisa de se dirigir a ninguém para produzir os seus efeitos (condição necessário do
negócio jurídico receptício – pessoa concreta, tomada de conhecimento e consequente produção de
efeitos).

A importância da distinção entre estes dois tipos de negócio tem que ver com o expresso no
artigo 224, que, dependendo da classificação que é dada ao negócio a produção dos seus efeitos, o
negócio é eficaz. Isto é, se o negócio for receptício então só se torna eficaz quando o destinatário
toma conhecimento do conteúdo dele. Por outro lado, se não tiver, o negócio é válido a partir do
momento em que o declarante declarar a sua vontade.

Falando neles, os negócios jurídicos plurilaterais são negócios jurídicos constituídos por
duas ou mais declarações de vontade com sentidos diferentes que convergem, por exemplo, um
contrato de compra e venda, que tem duas (ou mais, mas pegaremos apenas em duas, sendo assim
um negócio jurídico bilateral ou contrato) declarações de vontade com sentidos opostos (um que
quer vender e outro que quer comprar) que vão, tendencialmente, convergir (a compra de uma
coisa, as duas vontades convergem na celebração do contrato de compra e venda). Os negócios
jurídicos bilaterais são também denominados por contratos (negócio jurídico bilateral regulado em
especial no Direito das Obrigações e 405 e ss.). Dentro desta classificação de negócios jurídicos
bilateral ou contrato, pode haver duas classificações: contratos unilaterais ou bilaterais, que
classificam os contratos dependendo da abrangência das obrigações produzidas, ou seja, se resultam
obrigações para apenas uma das partes ou para ambas as partes. Se resultarem obrigações apenas
para uma das partes, então diz-se um contrato unilateral, como é o caso do contrato de doação
(negócio jurídico bilateral, pois, para se estabelecer um contrato de doação é preciso a declaração
de vontade do doador e do donatário, no entanto, é um contrato unilateral, pois as obrigações só
resultam para o doador, como a obrigação de transmitir a propriedade, entregar a coisa, et caetera,
o donatário não tem nenhuma). O contrato mútuo (1142º) é um contrato unilateral, pois apenas o
mutuário está obrigado a restituir o dinheiro ou coisa fungível. No contrato de compra e venda é
uma situação distinta. Este contrato é bilateral, pois o vendedor é obrigado a entregar a coisa e o
comprador a pagar o preço, porém, é de notar uma causalidade entre estas duas obrigações, são
interdependentes, e por isso é um contrato bilateral perfeito ou contrato sinalagmático (“A
prestação de uma parte é realizada em virtude e por causa da prestação da outra”), aqueles em que
existe uma reciprocidade entre as obrigações. O vendedor é obrigado a entregar a coisa porque foi
entregue o preço da coisa e vice versa. O nexo causal é que faz com que os contratos sejam
perfeitos, pois cada obrigação depende da outra ser cumprida. Por outro lado, os contratos
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bilaterais imperfeitos, o que acontece é que, numa primeira fase só existe obrigações para uma das
partes (assemelhando-se bastante aos contratos unilaterais), podendo surgir, dependendo dos
termos do contrato, posteriormente e depois de executado o contrato, obrigações para a outra
parte, o que é o caso do mandato3, isto é, o contrato pelo qual uma das partes se obriga a praticar
atos jurídicos por contra de outrem, como faz um advogado 4. No caso de um mandato gratuito, ao
praticar atos jurídicos, o mandatário faz despesas, ora, segundo o 1167º, o mandando é obrigado a
indemniza o mandatário pelas despesas feitas com juros (1167º, c)). Ou seja, em primeira vista só
ocorrem obrigações para o mandatário, ou seja, a obrigação de praticar o ato jurídico que se
prometeu, mais tarde, pelos termos do contrato, ocorrem obrigações também para a outra parte,
que, no caso, é a obrigação de reembolsar o mandatário das despesas efetuadas com juros. Estas
obrigações não estão numa relação de interdependência, mas sim, uma sucessão de obrigações
desfasadas uma da outra temporalmente. Esta distinção, entre contratos bilaterais perfeitos e
imperfeitos importa por causa do instituto de exceção de não cumprimento do contrato (428º) que
diz que qualquer um dos contraentes tem a faculdade de recusar a sua obrigação enquanto o outro
não a cumprir, ora, isto só é possível em contratos bilaterais perfeitos, isto é, em que haja um nexo
de causalidade entre as duas obrigações. Usando o exemplo do contrato de compra e venda, se a
entrega da coisa não depender do pagamento do seu preço, então de nada servirá a outra parte se
recusar a cumprir a sua obrigação.

Ainda no âmbito dos contrato é de distinguir os contratos de execução imediata (imediata


ou fracionada), os contratos de execução continuada e os contratos de execução periódica, que é
uma classificação que tem como critério distintivo a duração e forma de extinção de uma obrigação.
Os contratos de execução imediata são aqueles que se esgotam num só ato de cumprimento, como
o contrato de compra e venda, em que a obrigação se extingue quando o preço é pago (ato de
cumprimento) ou quando a coisa é entregue (ato de execução) para cada uma das partes, no
momento em que se efetua o tal ato. Pode, porém, no contrato de compra e venda, por exemplo, o
preço ser efetuado por prestações, e aí temos os contratos de execução fracionada (um ato de
cumprimento imediato que foi fracionado em várias partes, mas continua a ser apenas uma só
execução para se cumprir, mas em fração). Por outro lado, os contratos de execução continuada são
contratos com obrigações duradouras, em que o cumprimento da obrigação não se esgota com um
ato de cumprimento, é continuada no tempo, como por exemplo, a locação (arrendamento, coisas
imóveis), uma das obrigações do locador é garantir ao locatário o gozo da coisa locada para os fins a
que se destina (é uma obrigação ininterrupta, não apenas um ato de cumprimento), a obrigação é
uma linha que não se quebra. Por outro lado, a obrigação do locatário de, no caso das coisas
imóveis, pagar a renda do imóvel, é um contrato de execução periódica, não continuada, pois o
locatário tem que pagar a renda uma vez por mês (é um acontecimento, um ato de cumprimento
periódico, não um ato continuado de pagar a renda), é uma obrigação que se vai renovando no
tempo, é repetida no tempo, é uma obrigação que vai surgindo no tempo, e não tem que ser
repetido igualmente, ou seja, uma vez por mês, mas por exemplo, quando acabar o stock

3
Mandato é o contrato pelo qual uma das partes se obriga a realizar atos jurídicos para outrem. Por isso, é
constituído por duas partes, o mandante, ou seja, aquele que pede que se realize o ato jurídico, e o
mandatário, ou seja, aquele que se obriga a realizar tal ato. Os mandatos podem ser gratuitos e onerosos (se o
mandatário é pago ou não pela sua obrigação. Advogado faz um mandato oneroso. O mandato pode ou não,
também, ter poderes de representação, o mandatário representa o mandante, ou não ter esses poderes de
representação, e atua apenas por conta dele.
4
Uma pessoa contrata um advogado, e numa relação de causalidade não surge nenhuma obrigação para o
mandatário (aquele que por conta de outrem irá realizar atos jurídicos), mas sim num momento posterior, as
obrigações do avogado para defender a pessoa.
P á g i n a 9 | 48
(periodicidade de renovação da obrigação). É de constar que o mesmo contrato, dependendo da
perspetiva que se analise, pode ser um contrato diferente.

É de classificar, agora, os negócios jurídicos patrimoniais ou não patrimoniais (ou pessoais).


Os patrimoniais tem por fim a atribuição, a disposição de bens entre pessoas, e os pessoais têm que
ver com o estado de pessoa (estado civil), por exemplo, o casamento. Não quer isso dizer que dentro
dos negócios jurídicos pessoais não possa haver atribuição de bens entre pessoas, como no
casamento, mas não esse o seu fim.

É de classificar, dentro dos negócios patrimoniais os negócios jurídicos sendo onerosos ou


gratuitos. Nos negócios jurídicos onerosos há vantagens reciprocas (há uma vantagem patrimonial
que é um contraponto da desvantagem que se ocorre, de um lado e de outro), ou seja, um conjunto
de vantagens e desvantagens contrapostas uma à outro de cada uma das partes, não sendo
necessário haver um equilíbrio entre uma vantagem e uma desvantagem (não faz mal haver algum
desequilíbrio), ao contrário dos gratuitos, em que apenas um das partes tem um sacrifício
patrimonial e outra uma vantagem patrimonial. Por exemplo, a doação é um negócio jurídico
gratuito, de um lado há um sacrifício patrimonial (quem doa) e uma vantagem patrimonial (quem
recebe a doação, ou então, o comodato (o empréstimo gratuito de coisa determinada), por
exemplo. Um exemplo dos negócios jurídicos onerosos são os contratos de compra e venda, ou um
contrato mútuo oneroso, em que ambas as partes têm vantagens patrimoniais, a uma vantagem
corresponde uma contraprestação da outra parte. A importância desta distinção tem que ver com as
situação expressas, por exemplo, 237º, sobre a interpretação da declaração, ou então o 291º, em
que a declaração de nulidade de certos bens não prejudica os direitos adquiridos de terceiros se o
negócio tiver sido oneroso. Nota: nos negócio jurídicos gratuitos, a intenção é beneficiar outrem por
pura liberalidade (940º).

Por exemplo, vendo um exemplo detalhado, num contrato de compra e venda, um negócio
jurídico oneroso, um contrato em que se vê a bilateralidade das vantagens e desvantagens
contrapostas, a vantagem de A é receber o preço, a que se contrapõe a desvantagem de B pagar o
preço. Em contraposição, B adquire o direito de propriedade sobre a coisa (aquisição de uma
vantagem patrimonial) contraposta à perda desse direito por A. Vendo também uma exemplo
detalhado de um contrato de doação, que é um negócio jurídico gratuito, ou seja, apenas uma das
partes adquire uma vantagem e outra uma desvantagem.

Os contratos sinalagmáticos são, normalmente, negócios onerosos, porém, há exceções,


como o contrato de doação com encargos ou doação modal (963º), em que existe um contrato
sinalagmático, pois a doação modal é o contrato pelo qual A doa a B, porém, ao contrário da doação
pura, B fica obrigado a prover a A de mantimentos até ao fim da vida, por exemplo (contrato
sinalagmático – há um nexo de causalidade entre as duas obrigações, que no caso é a doação gerou
o encargou e vice versa), mas não é um negócio oneroso, é gratuito pois só existe um sacrifício, o do
doador, o donatário nunca vai ter sacrifícios patrimoniais segundo o artigo 963º, nº2, que diz que os
encargos nunca podem exceder a doação. Por outro lado, os contratos unilaterais também não são
necessariamente gratuitos, como é o exemplo do contrato mútuo (que é sempre um contrato
unilateral por resultam sempre obrigações para uma das partes) mas sendo gratuito ou oneroso, irá
sempre ser unilateral.

Dentro dos contratos onerosos, pode haver dois tipos, aleatórios ou comutativos. Enquanto
que os negócios onerosos aleatórios as vantagens e sacrifícios são atribuídos consoante o fator
sorte, um fator de álea, em que não se sabe, nem se se vai formar e realizar o negócio nem a quantia
do montante que poderá resultar do contrato. A onerosidade reside no facto de poder verificar-se as
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vantagens e sacrifícios em ambas as partes, mas dependendo da álea poderá apenas verificar-se
numa das partes, ou em ambas, mas não se sabe qual ou quais. São exemplos deste tipo de
contratos, o contrato de seguro, por exemplo. É muito recorrente a exigência de certos tipos de
seguros, como acontece com os de vida ou responsabilidade pelo risco nos automóveis. Neste
último caso, o negócio é aleatório precisamente por a sua realização depender de um fator de álea,
não se sabe se os efeitos jurídicos do contrato se irão formar, nem a quantia do montante oneroso
que se poderá formar, depende se o tomador do seguro tiver um sinistro 5, a realização do negócio
oneroso é apenas uma possibilidade de risco. Também nos seguros de vida, em que é muito
recorrente uma exigência feita pelos bancos quando fazem um empréstimo de habitação para a sua
própria proteção, também é um contrato oneroso (existem sacrifícios e vantagens para as duas
partes) aleatório pois não se sabe em qual das partes (pode ser uma, nenhuma ou as duas) se vão
produzir as obrigações, a aléa, no caso do contrato de seguro de vida, existe apenas no tempo
determinado, no tempo ocorrido do empréstimo de habitação (em que não se sabe se a pessoa,
nesse período, vai morrer ou não). Também o jogo e a aposta lícitos são contratos onerosos
aleatórios. No caso de ser um contrato oneroso comutativo, então as contrapartidas, os sacrifícios e
vantagens são determinados ou determináveis. É o caso do contrato de compra e venda, quando se
realiza, sabe-se que obrigações se vão geral em esfera de que pessoa.

Ainda dentro dos contratos onerosos, pode haver contratos parciários. Estes são contratos
caracterizados pela participação no risco de certo empreendimento (projeto) no qual os lucros
esperados são a expectativa da contraprestação do risco cometido pela entrega efetuada. Um
exemplo dos contratos parciários consta no Código Civil, no artigo 1121º, que é o caso de uma
pessoa entregar um animal a outra para ser criado, e os possíveis lucros resultantes dessa criação
são repartidos entre as pessoas, ou seja, A deu a B um animal, no qual B participa no risco de
empreendimento do animal, esperando que a contrapartida dessa participação no risco seja o lucro.
Ou então, por exemplo, o chamado contrato estimatório que é o seguinte: a exposição de produtos
na Staples, são um contrato parciário, na medida em que a Staples ao ter expostos os produtos não
os compra, há um acordo entre a Staples e o fornecedor, um contrato parciário, que diz que vai
haver uma participação no risco pela entrega efetuada, por parte da Staples, que é expor um
produto na sua loja (pagar a renda sendo que não sabe se vai ter retorno) esperando que a
contraparte dessa participação seja lucro repartido pelos dois (a venda do produto, que a Staples irá
ficar com a diferença e o fornecedor vai ser pago pela Staples), e caso não se venda volta para trás,
esse é o risco.

Agora uma importante classificação: negócios inter vivos e negócios mortis causa. Esta
distinção é muito delicada, mas pode dizer-se que os negócios inter vivos são negócios cujos efeitos
jurídicos se pretendem produzir em vida das partes declarantes, enquanto que os negócios mortis
causa são negócios que só produzem os seus efeitos jurídicos com a morte do ou de ambos os
declarantes. O professor Carvalho Fernandes tem uma visão um pouco diferente sobre a
classificação e distinção deste tipo de negócios jurídicos. Para ele, a classificação dos negócios
jurídicos entre mortis causa e inter vivos não é a altura em que os efeitos são produzidos, mas sim se
são a causa do negócio jurídico ou não. Diz ele, que os negócios inter vivos são-no porque a causa
negócios é a vida das partes, o negócios tem eficácia ainda em vida das partes e regula as partes em
vida, ainda. Pelo contrário, os negócios mortis causa são negócios em que a causa deles são a morte
do declarante e só aí os negócios se produzem a si e aos seus negócios jurídicos. No entanto, é
importante diferenciar-se o facto de um negócio ter como causa a morte (e assim são classificados
como negócio mortis causa) e o facto de haver uma coincidência entre o desencadear do negócio

5
Realização do que está assegurado.
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jurídico ser a morte do declarante, que as partes, pela sua autonomia privada, concordaram assim
fazer. É de constar que o negócio inter vivos é um negócio cuja eficácia existe no momento da vida
dos declarantes, e pretende produzir os seus efeitos em vida dos mesmos, porém pode não
acontecer. Mas distingue-se, mais uma vez estes dois tipos de negócios desta maneira: o negócio
mortis causa é um negócio cujo desencadear deriva da morte do declarante (o negócio só é eficaz e
capaz de produzir os seus efeitos após a morte do declarante), enquanto que o negócio inter vivos é
realizado, tem eficácia em vida dos declarantes, porém os seus efeitos sofrem um período de
espera, um termo suspensivo até que se produzam os efeitos jurídicos, um tal período que só é
ativado após ser desencadeado o efeito pretendido, que é a morte do declarante, e por isso o seguro
de vida, que é um contrato entre a seguradora e o tomador do seguro, é um negócio inter partes e
não mortis causa, porque a causa do negócio é a vida do tomador de seguro, o negócio não se cria
pela sua morte, mas segura a sua morte, se isso se verificar produzirá os seus efeitos. Por isso os
negócios mortis causa se submetem ao principio da livre revogabilidade, isto é, um negócio jurídico,
como o testamento, é um negócio que pode ser, a qualquer momento e as vezes que o declarante
quiser, revogado (e renovado, se o declarante quiser). É a prova que um negócio mortis causa
apenas se cria com a morte do declarante, e não é eficaz ainda em vida, por isso pode ser revogado
quando o declarante quiser. Por exemplo, um contrato de seguro é um contrato mortis causa,
precisamente, porque o contrato é efetuado e tem eficácia imediata e ainda em vida do declarante,
além de pretender produzir os seus efeitos ainda em vida do mesmo, porém nem sempre isso
acontece, o que é o caso deste exemplo, em que as partes acordam que o fator que desencadeada
os efeitos jurídicos até ao momento estipulado suspensos, e no caso esse fator é a morte do
declarante (não sendo, porém, isso que causa o negócio, mas sim, desencadeia os efeitos jurídicos
de um negócio efetuado em vida das partes). Um dos mais conhecidos contratos mortis causa é o
testamento, isto é, o negócio jurídico unilateral (apenas com uma declaração de vontade, ou várias,
mas no mesmo sentido) em que só se realiza, só se cria o tal negócio jurídico aquando da morte do
declarante. O declarante deixa a sua declaração de vontade no testamento, mas o negócio e os seus
efeitos só acontecem por causa da morte do declarante.

Distinguir os negócios jurídicos quanto à sua forma, podendo ser solenes/formais ou não
solenes/não formais. Este tipo de classificação assenta no principio da autonomia privada, mais
especificamente, no principio de liberdade de forma, expresso no artigo 219º do Código Civil,
dizendo que a regra dos negócios jurídicos é a liberdade de forma, são livres de ter uma forma, as
partes podem, livremente e fazendo uso da sua autonomia privada, celebrar os negócios jurídicos na
forma que quiseres, sendo, por regra, os negócios jurídicos não solenes/não formais. Claro está, a lei
conhece muitas – e importantes – exceções, que são, pelo lado oposto, negócios jurídicos solenes,
têm uma forma exigida por lei. No entanto, nem sempre foi assim, no Direito Romano, os negócios
jurídicos (aquilo que na altura eles viam como sendo negócios jurídicos) não tinham liberdade de
forma nenhuma, tinham um conjunto de ritos e formalidades necessárias a realizar-se para que o
dito fosse válido (por vezes até era necessária a presença de um sacerdote). Antes de dar exemplos,
é preciso fazer uma nota. São duas coisas diferentes a forma da declaração negocial e a publicidade
exigida por lei da mesma. A forma é, por exemplo, a escritura pública ou documento particular
autenticado (a forma como se expressa a declaração de vontade), já a publicidade é, por exemplo, o
registo no registo predial do imóvel (a forma como se expõe à comunidade). Quanto à solenidade
dos negócios jurídicos (quando se respeitam o principio da liberdade de forma inerente à autonomia
privada das pessoas, ou se são uma exceção da mesma) existe um conjunto vasto de normas
excecionas (um conjunto de hipóteses contrárias ao regime regra) e que, por conseguinte, exigem

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forma escrita, escritura pública6, certos ritos (como o casamento). Por exemplo, a doação (947º) tem
uma forma exigida (o legislador quer dar uma oportunidade do declarante ponderar a sua decisão),
dando-lhe a exigência de, sobre coisas imóveis, ser preciso escritura pública ou documento
particular autenticado. Também o contrato mútuo (1143º) exige acime de 25 000€ escritura pública.
O casamento, a forma é toda a cerimónia, ritual para as pessoas se casarem, todas as perguntas do
padre ou registo civil. Compra e venda de imóveis, por exemplo, contrato de arrendamento urbano,
e muito mais exemplos.

Os negócios (contratos) podem ser consensuais ou reais. Os negócios são consensuais


quando para que ele seja eficaz é apenas necessário o elemento consensual, isto é, as partes
acordarem entre si, a(s) própria(s) declarações de vontade. Contrariamente, os negócios reais
quoad constitutionem são negócios cuja eficácia não basta o elemento consensual, é preciso um ato
real/material também, isto é, a entrega de algo juntamente com a declaração de vontade para o
negócio ser válido. É, no entanto, importante distinguir um negócio real e um negócio com eficácia
real, em que há transferência de direitos reais (que é o caso de um contrato de compra e venda, que
é um negócio consensual pois basta a declaração ou declarações de vontade para que o negócio seja
válido, no entanto tem eficácia real (408º) dado que há transmissão de propriedade de A para B).
São exemplos de negócios reais o contrato de comodato, o contrato pelo qual uma das partes
entrega à outra coisa, móvel ou imóvel, (…); o contrato mútuo, o contrato pelo qual uma das partes
empresta dinheiro à outra (…).

Por fim, é de distinguir os negócios de mera administração e os negócios de disposição. Os


negócios de mera administração são negócios de gestão limitada de bens, negócios em que se
administram bens alheios ou próprios, mas é apenas administração, não se altera a raiz dos bens, o
casco deles, apenas se conservam. Já os negócios de disposição pode alterar-se a raiz dos bens. É o
exemplo do artigo 145º, nº2, c) e nº3, em que a disposição, como se pode alterar a raiz dos bens, é
necessária a autorização.

Parte II – Formação do negócio jurídico


As modalidades da declaração negocial; os seus elementos.
Os seus elementos (elemento interno/subjetivo)
A primeira coisa a dizer é que sem pelo menos um declaração de vontade não existe negócio
jurídico, o instrumento de excelência da expressão da autonomia privada. A declaração de vontade
(ou declaração negocial, como o Código Civil o denomina, de modo a ser imparcial neste tema),
como já se sabe, tem dois elementos: um interno/subjetivo, que é a vontade real do agente, o
conteúdo volitivo real, aquilo que a pessoa quer realizar, os efeitos práticos; e um externo/objetivo
que é a própria declaração, o tal comportamento exteriormente observado. A vontade não basta
para haver uma declaração de vontade, é preciso declará-la, exteriorizá-la. O Código Civil distingue
entre declaração expressa, tácita e silêncio como meio de declaração nos artigos 217 e 218º.

O elemento externo são as modalidades da declaração, a forma como a vontade se declara e


o elemento interno do negócio jurídico são os seus elementos, a. Começando com os elementos do
negócio jurídico.

6
Questão interessante: porque se exige escritura pública nos imóveis de 5.000€, por exemplo, e em ações, que
podem ser milhões de euros, não se exige? Duas razões, razão histórica é que, antigamente, a riqueza estava
naqueles que tinham propriedade, aqueles que possuíam coisas, terrenos, et caetera, não quem tem dinheiro
digital. Porém, agora é ao contrário, o dinheiro são números. Segunda razão, é a de cobrança de impostos, é
mais fácil pedir uma forma especial para controlar melhor os impostos.
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Os elementos do negócio jurídico são três: a vontade de ação; a vontade de declaração e a
vontade negocial. A vontade de ação é a vontade dirigida à execução da ação mediante a qual se
manifesta o negócio jurídico, é a voluntariedade no comportamento declarativo que forma o
negócio jurídico ou, dito de outro modo, para que seja válido um negócio jurídico é necessário que a
declaração tenha a sua fundação na vontade humana, que são exemplo 99% dos casos, por isso
mesmo é mais fácil dar exemplos dos negócios jurídicos que têm uma vontade de ação involuntária,
do que ao contrário. Por exemplo, é inexistente um negócio jurídico cuja a declaração seja resultado
de uma coação física com base no artigo 246º, o negócio jurídico não produz os seus efeitos.
Diferente desta situação é a que consta nos artigos 255º e 256º, isto é, é nulo o negócio jurídico cuja
voluntariedade de ação resulte de uma coação moral 7. Na coação moral a vontade é viciada, mas há
uma declaração e uma vontade de agir nesse sentido (coagida por uma ameaça, mas a pessoa
poderia não querer fazê-lo), na coação física não há qualquer tipo de vontade, a pessoa é forçada a
agir contra a sua vontade, não há qualquer voluntariedade de realizar a execução de uma ação.

A vontade (ou consciência) da declaração existe quando o agente tem a consciência de que o
seu comportamento num certo contexto irá desencadear um vinculo jurídico (isto é, constituição,
modificação ou extinção de relações jurídicas), portanto, é a consciência ou vontade de assumir uma
declaração negocial e ter noção de que se está a vincular juridicamente a algo. Por exemplo, no
exemplo do leilão, em que A, no decorrer de um leilão, levanta o braço, não para leiloar mas para
cumprimentar u m seu amigo que ao longe se avista, existe, sim, vontade, porque ele tem vontade
de cumprimentar o amigo, mas não vontade consciente do vinculo jurídico que está a realizar, ele
tem voluntariedade de levantar a mão para um certo comportamento, não tem, no entanto,
vontade de declarar certa vontade no leilão, isto é, não tem consciência de que o seu
comportamento, que no caso é a ação de levantar a mão, tem consequências jurídicas, que ao fazê-
lo está a vincular-se juridicamente ao leilão. Ou então, as chamadas declarações não sérias, que são
aqueles que não feitas com a pretensão de não serem levadas a sério, como acontece em momentos
cênicos ou didáticos, como exemplos ou peças de teatro, certas declarações não são para serem
levadas a sério, o declarante não pretende vincular-se e espera que os outros percebam, artigo 245º.
Isto está expresso no artigo 246º, em que a inconsciência das declarações feitas não produzem os
efeitos jurídicos. No entanto, no caso da declaração inconsciente ter sido feita pela culpa da pessoa
deve ter lugar a responsabilidade civil (por exemplo, no caso do leilão deve haver lugar a
responsabilidade civil, se for o caso, pois a culpa de levantar a mão, sabendo que se encontrava em
determinado contexto, é da pessoa que a levantou, não foi por inconsciência total, há uma culpa da
sua parte).

Por fim, o último elemento do negócio jurídico é a vontade negocial, isto é, a vontade
dirigida a determinado efeito jurídico, querer ou não realizar um negócio jurídico concreto, com
aqueles efeitos, por exemplo, realizar um contrato de compra e venda de um livro e não outro (de
algo determinado). Por isso, quando a vontade declarada não coincide com a vontade negocial
existe um erro na declaração. Não é de confundir, no entanto, vontade negocial e os motivos da
7
Coação moral é um tipo de coação diferente da coação física. Enquanto que a coação física é a obrigação que
alguém proporciona a outrem para que aja conforme o que quer usando a força física para isso. Por exemplo,
A obrigar B, pela força física de A, a assinar um contrato forçando o seu braço a assinar, nesta situação não
existe vontade de ação, a pessoa é obrigada a agir. Coisa diferente é a coação moral, isto é, a suscetibilidade
de alguém agir conforme foi pedido sob possibilidade da consumação de uma ameaça. Por exemplo, A ter uma
arma que aponta a B, obrigando-o a assinar um contrato de doação, nesta situação a pessoa já não é obrigada
a agir assim, isto é, existe voluntariedade de ação mesmo que seja para evitar a consumação de determinada
ameaça, mas a pessoa, voluntariamente, agiu, assinou o contrato, ninguém pegou na sua mão e escreveu por
ele, é a consequência de uma ameaça, ele podia não ter assinado e sofrer as consequências: isto é uma coação
moral, em que existe vontade de ação, embora seja nulo (não inexistente).
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vontade negocial, isto é, uma coisa é a vontade de realizar determinado negócio, outra coisa é o
porquê de realizar determinado negócio, que é algo anterior e exterior da vontade negocial, e por
isso não pode afetar os efeitos jurídicos da declaração 8, por causa do principio da irrelevância dos
motivos, os motivos são irrelevantes para a declaração, tirando certas exceções (251º e 252º). Por
exemplo, A compra flores porque vai jantar no dia a casa de uma amiga, no entanto, o jantar é no
fim de semana seguinte, o erro nos motivos não podem ser relevantes para a invalidade do negócio
jurídico, caso contrário haveria uma enorme instabilidade no tráfico jurídico.

(Dos vícios e divergência entre a declaração e a vontade real.)

Das suas modalidades (elemento externo/objetivo)


Em primeiro lugar é importante fazer uma ligeira nota, as modalidades do negócio jurídico
não se confundem com a forma dele. Uma coisa é a forma como se declara uma manifestação de
vontade, como se escolhe realizar um comportamento exteriormente observado, outra coisa é a
forma de apresentar o negócio. Um negócio pode ser celebrado tacitamente e ser feito de forma
escrita, por exemplo, na venda de um carro A passar um cheque a B, é uma declaração tácita, mas os
números são escritos. Ou comprar-se um carro oralmente, sendo essa a sua forma, podendo ser
declarado expressa ou tacitamente.

As modalidades do negócio jurídico consta nos artigos 217º e 218º, havendo três
modalidades: declaração expressa, declaração tácita e o silêncio como meio declarativo.

A declaração expressa encontra-se no artigo 217º, nº1, 1ª parte, e é a manifestação direta


de vontade negocial feita por palavras, por escrito ou qualquer outro meio direto de manifestação
de vontade. Por exemplo, quando uma pessoa vai a um stand de carros e diz que quer comprar um
carro, isso é uma declaração expressa de vontade porque a pessoa diz diretamente, expressa
diretamente a sua vontade de comprar um carro através das usas palavras e ações. Diferente disto é
a declaração tácita de vontade, que é a situação em que se manifesta a vontade diretamente a
alguma coisa, a algum facto, facto esse que dirigida a vontade a ele se pode presumir que o
declarante também tem outra vontade, se conclui o sentido de uma outra vontade. Ou seja, é
quando se deduz de certos factos que, com toda a probabilidade, permitem concluir a vontade do
agente noutro sentido, quando o comportamento da pessoa dirige-se a determinada vontade mas,
por sua vez, esse comportamento permite também deduzir outra vontade, vontade essa que será
tácita. Por exemplo, quando uma pessoa vai a um stand de carros, e para comprar um carro escreve
um cheque com o preço dele, a vontade da pessoa é dirigido ao cheque, mas tacitamente, essa
declaração faz concluir-se outra vontade, a de comprar o carro. Imagine-se a situação da morte de A,
que deixa uma herança a B (que tem autonomia privada para aceitar ou recusar a herança). B, no dia
a seguir vende uma joia de A a C por contrato de compra e venda, ou seja, temos uma declaração
expressa, que é a venda da joia de A, e temos uma declaração tácita, que é a aceitação, por parte de
B, da herança de A. Por fim, também pode ser o silêncio uma forma de declaração negocial, nos
termos do artigo 218º, isto é, apenas nos casos previstos na lei, em principio o silêncio não é uma
declaração negocial. O que está presente no silêncio como declaração não é a ausência de vontade,
é ausência de uma sua manifestação. Não poderia ocorrer, porém, que o silêncio fosse, em principio,
visto como uma declaração, isso causaria um grande caos no tráfico jurídico, por isso a lei prevê
casos específicos de isso acontecer.

8
Caso isso acontecesse havia consequências insuportáveis para a segurança do tráfico jurídico, devido à
variedade e disparidade de motivos de uma vontade negocial, isso não pode afetar a validade do mesmo.
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A forma da declaração negocial; a sua distinção da publicidade.
Em sintonia com o principio da liberdade de declaração, também o principio da liberdade de
forma está em vigor no nosso ordenamento jurídico, presente no artigo 219º do CC, isto é, as partes
têm liberdade para escolher, livremente e em consonância com a sua autonomia privada, a forma
que mais se adequa às suas preferências. Neste sentido, as partes não estão, por regra, obrigadas a
nenhuma forma para realizar um negócio jurídico, podem não escolher nenhuma e podem escolher
uma por elas convencionada e nesse sentido temos o artigo 223º do CC, que estabelece a forma
convencional, que é a forma do negócio jurídico convencionado pelas partes que, fazendo uso da
sua liberdade de forma e liberdade declarativa (autonomia privada) podem acordar entre si uma
determinada forma para o negócio que estão a fazer. As razões que podem levar as partes a adotar
uma forma convencional são, entre outras, a clareza do conteúdo do negócio jurídico, a segurança
no tráfico jurídico, um estimulo de ponderação do negócio, et caetera. Claro está, resultado da
autonomia privada e liberdade de forma na celebração de um negócio jurídico por forma
convencional, as partes também podem, pelo uso dos mesmos princípios, abandonar tal forma,
desde que a vontade seja provada.

Nesses termos, o artigo 222º do CC prevê o caso das partes, no uso da sua autonomia
privada, tenham escolhido a forma escrita, e afirma que, se as partes adotarem a forma escrita (não
o tinham que fazer, mas se escolheram fazê-lo) então as estipulações verbais acessórias posteriores
ou contemporâneas ao documento escrito são válidas se for no sentido da vontade das partes,
precisamente porque as partes escolheram vincular-se assim e podiam não tê-lo feito, por isso
estipulações verbais acessórias, usando também a sua liberdade de forma (autonomia privada), são
válidas se forma queridas pelas partes (só é possível quando e porque existe liberdade de forma). O
mesmo acontece no 223º, mas aqui são situações não só escritas, é um conceito mais amplo. Na
forma convencionada, de acordo com o a sua autonomia privada, as partes, se escolhem fazê-lo
antes do negócio, presume-se que querem vincular-se apenas naquela forma num negócio futuro
(223º, nº1); mas se estabelecerem uma forma precedente do negócio, então presume-se que as
partes quiseram consolidar o negócio já celebrado, não substitui-lo (por isso são válidas estipulações
verbais acessórias, pois as partes só escolheram uma forma porque quiseram, se a forma foi adotada
depois do negócio, então significa que elas assim o quiseram para o consolidar, não substituir por
outro, para, por exemplo, mais segurança jurídica). Em face disto é evidente a importância que a lei
dá à forma convencionada.

No entanto, o principio da liberdade de forma tem exceções, ou seja, existem casos em que
a lei exige a observância de uma forma legal, são esses os casos em que o legislador entende que
acima da autonomia privada está a proteção do interesse público, no caso, certos negócios, dada a
sua importância, têm que ser protegidos para que sejam legalmente bem feitos, como é o caso do
contrato de compra e venda de coisas imóveis (875º), contrato de doação (947º), contrato de
sociedades comerciais (981º), et caetera. E por serem de tal importância para o interesse público,
quando a lei exige determinada forma legal, a validade do negócio depende da observância forma
legalmente exigida.

A invalidade de um negócio jurídico resultante da inobservância da forma legalmente


exigida, à primeira vista, aparenta uma dificuldade ao tráfico jurídico, no entanto, é o contrário, para
salvaguardar a segurança e a eficácia do negócio jurídico é que o legislador exige determinadas
formas, e dada essa importância maior de proteção do interesse público (preservar interesses da
comunidade – se uma casa for “mal comprada” terceiros ficam penalizados –, a bem feitura dos
negócios (existindo profissionais competentes para a fiscalização, a ponderação do declarante na
declaração da sua vontade, clareza do conteúdo do negócio e do momento da sua celebração, et
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caetera), e daí que da inobservância desta forma não resulta a presunção de que as partes não se
querem assim vincular mas sim o comprometimento da validade no negócio jurídico, dada a sua tal
importância no tráfico jurídico. Com isto torna-se evidente a diferença entre a forma
convencional/escrita e a forma legalmente exigida, enquanto que o primeiro resulta da
manifestação da autonomia privada, o segundo resulta da vontade da lei através de norma
imperativas cujo não cumprimento provoca a invalidade do negócio jurídico.

Quando a lei exige de determinada forma, entende-se que a declaração negocial deve
constar num documento escrito. O documento tem a sua noção no artigo 362º, pelo que consta que
um documento é um objeto elaborado pelo homem com o objetivo de representar uma pessoa,
coisa ou facto. Porém, a lei exige um documento escrito, que é a noção do documento, que pode
ser, por exemplo, uma fotografia, mas a representação ser escrita. Estes podem ser autênticos (369
e ss.) e particulares (373 e ss.) (363º). Os documentos autênticos são elaborados pelas autoridades
competentes ou notários, e por isso toda a responsabilidade é deles, no caso de uma ilegalidade. Os
documentos particulares são documentos escritos confirmado o conteúdo pelas partes (documento
particular simples), para serem documentos particulares autenticados, esta confirmação das partes
tem que ser feita perante um notário (atenção que é só a confirmação que as partes sabem o que
consta no documento, não a elaboração dele, no entanto, o notário deve avisar no caso de uma
irregularidade.

Neste contexto, temos o âmbito da forma legal, que é determinado pelo artigo 221º.
Entende-se que quando um documento é legalmente exigido esteja completo, porém, por vezes, as
partes querem adicionar clausulas a ele (estipulações verbais acessórias), depois ou antes de feito
um negócio jurídico com observância de forma legal, as partes realizam estipulações verbais
acessórias (denominam-se assim pelo seguinte: são verbais pois têm uma forma menos solene que o
do negócio jurídico, e são acessórias porque adicionam algo ao negócio jurídico, como o dia e hora
do seu cumprimento), isto é, elementos adicionais do negócio jurídico, que vão além dele, não lhe
são imprescindíveis, mas adicionam algo ao negócio concreto. O âmbito do negócio jurídico vai,
então, determinar quando e se são válidas tais estipulações. Existem três hipóteses, as estipulações
serem anteriores ao negócio jurídico, serem contemporâneas a ele, ou serem posteriores a ele. O
primeiro e segundo caso são de resolução comum, e por regra, estas estipulações são nulas, e o
terceiro, pelo contrário, por regra é válido. No primeiro e segundo caso, as estipulações por serem
feitas antes ou no momento do documento, o legislador olha com estranheza as partes não terem
incluindo no documento do negócio tais estipulações, já que são anteriores a ele, e por isso
pressupõe que são nulas, pois vai contra uma presunção do que é a vontade das partes (se fosse a
vontade delas tê-la-ias posto no documento), salvo duas situações, (1) quando a razão determinante
da forma legal não for a das estipulações verbais acessórias, e (2) quando corresponderem essas
estipulações à vontade das partes provada (tirando prova testemunhal, por ser frágil e, se fossem
confiáveis, não poderia ter força os contratos, por exemplo – 394º). Já, contrariamente, se as
estipulações verbais acessórias fossem depois do escrito, como já não era de estranhar que não
estivessem incluídas no escrito, o legislador diz que a regras das estipulações posteriores é a
validade, e têm que corresponder à forma legal do documento quando a lei o exigir, e apenas aí. Por
exemplo, um contrato de compra e venda de um imóvel celebrado entre A e B por escritura pública;
imagine-se agora que as partes, no dia anterior do dia da celebração do contato estabeleciam que o
contrato ia ser celebrado na casa de B, às duas horas da tarde, do dia dois de fevereiro de dois mil e
vinte e dois, isto é, estipulações verbais acessórias, ora, isto, segundo o artigo 221º é válido
correspondo a uma exceção, pois a regra é as estipulações anteriores ou contemporâneas serem
nulas, no entanto, como a razão que determina a forma do documento não é a mesma que
determina as estipulações e pode provar-se que as estipulações foram queridas pelas partes, por
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exemplo, por um documento feito pelas partes, por confissão delas, por depoimento, et caetera.
Imagine-se agora que as estipulações eram feitas no dia seguinte do contrato de compra e venda do
imóvel, então, como a regra do nº2 do artigo 221º é a validade, como não incidem sobre a razão de
forma do documento escrito, não têm que corresponder com a forma do contrato de compra e
venda, podem ser feitas, por exemplo, oralmente. Mas, por exemplo, se as estipulações incidissem
sobre um agravamento das obrigações das partes, ou seja, uma alteração do conteúdo do objeto do
documento, caso fossem estipulações contemporâneas ou anteriores a ele, eram nulas (221º), caso
fossem posteriores eram válidas, se fossem feitas também por escritura pública (221, nº2).

É de distinguir a forma legalmente exigida e a publicidade do negócio. Esta não prejudica,


em principio, a validade do negócio pois ele já está concluído, com a publicidade está-se a expor a
conclusão dele ao público, concretamente, através do registo. Ora, a falta de registo não influência
um contrato de compra e venda de um imóvel já concluído, mas tem efeitos em relação à sua
oponibilidade em relação a terceiros, mesmo que os efeitos sejam produzidos entre as partes. No
exemplo dado, mesmo que os efeitos jurídicos se tenham produzido entre as partes, terceiros não
têm conhecimento desse negócio, pelo que não lhe são oponíveis. Se A não souber que um
computador foi vendido a B, pode mexer nele pois não lhe é oponível nenhum direito absoluto.
Porém, há situações de comprometimento da validade (casamento não registado ou impossibilidade
de se criar personalidade jurídica numa sociedade comercial por falta de registo).

A perfeição da declaração negocial


Feito o negócio jurídico nos termos dos artigos 217º ou 218º, segundo o principio de
liberdade de forma no 219º, resta saber quando a declaração negocial ganha perfeição, o mesmo é
dizer, quando ganha eficácia, quando está apta a produzir os seus efeitos, que momento é esse?

O momento de eficácia tem relevância sob três aspetos: para saber se a declaração foi feita
tempestivamente ou não; para saber quando fica o declarante vinculado juridicamente à declaração
(obrigações, prazos, anulação); para saber quem fica com as consequências pelo risco de erro na
transmissão da declaração.

A existência de uma declaração negocial divide-se em quatro fases: exteriorização, que é a


manifestação da vontade do declarante -» expedição, que é a saída da declaração já exteriorizada da
esfera do poder do declarante -» receção é a chegada ao poder do declaratário, não sendo preciso
tomar efetivamente o conhecimento, mas apenas ter acesso a meios que lhe permitam tomar (como
a caixa de correio ou pessoas com competência de recebimento) -» chegada ao conhecimento é
quando o declaratário conhece, efetivamente, o conteúdo da declaração. Num exemplo podemos
notar esta situação, por exemplo, na escrita de uma carta para comprar um automóvel; a escrita da
carta seria o momento de exteriorização da vontade para uma declaração documental, de seguida o
depósito da carta na caixa do correio seria a expedição, o momento em que a carta abandonava a
esfera do poder do declarante, de seguinte, o momento de receção seria a chegada ao correio do
declaratário (algo ou alguém com competência de recebimento, ou seja, como o declarante tem a
capacidade de abrir a caixa de correio, chega-lhe ao poder, e por fim, quando lê a carta chega-lhe ao
conhecimento.9 O que se pergunta agora é o momento em que a declaração é eficaz, quando
começa a produzir os seus efeitos jurídicos (teoria da exteriorização, da expedição, da receção ou do
conhecimento)? Isso consta do artigo 226 e 224º. O 226º diz que a declaração tem existência na sua
9
É de notar que emissão é algo diferente de expedição. A emissão é quando uma declaração ganha existência
jurídica, isto é, quando sai da esfera de poder do declarante e ganha existência jurídica (226º, nº1). Pode, e é,
coincidente com a exteriorização (testamento, em que a declaração ganha existência jurídica assim que
exteriorizada) ou expedição (contrato de compra e venda, que ganha existência, por exemplo numa carta,
quando ela é expedida).
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emissão, quando diz que tudo o que acontece depois de feita a declaração não a prejudica, e depois,
o 224 vem averiguar, como efeitos jurídicos diferentes, dependendo de se o negócio jurídico é
receptício ou não receptício, quando a declaração começa a ter eficácia. No que diz respeito aos não
receptícios, a chegada ao poder pode ser feita por algo ou alguém com competência de
recebimento, como uma empregada doméstica, enquanto que por vezes a chegada ao poder e ao
conhecimento podem dar-se simultaneamente quando, por exemplo, o mecânico que por acaso se
encontra lá em casa recebe a carta, alguém sem competência de recebimento, e depois a entrega ao
dono da casa, passando a ter poder e conhecimento dela ao mesmo tempo. Claro está que, tal como
a eficácia da declaração só pode sê-la quando querida pelo declarante, também a chegada ao poder
(à exceção do nº2 desse artigo, que prevê a não chegada ao poder por culpa) é autorizada pelo
declaratário. Pelo que consta no artigo 224, nº2, a declaração que não chegou ao poder de
declaratário por culpa dele é eficaz na mesma, isto é, se o declaratário trancou a caixa de correio,
esta entrega é válida na mesma, e a declaração é eficaz. Já se a culpa não for sua, como se a carta
tiver um acidente, já não é eficaz. Ou, por exemplo, se o declarante enviar a carta para a residência
do declaratário sabendo que ele não se encontra lá ou que ele é analfabeto.

Isto quanto às declaração receptícias, mas quanto às declarações não receptícias prevê o
224, nº1, 2ª parte.

Pode ainda proceder, entre a emissão da declaração e o inicio da sua eficácia, acontecer
alguma coisa que tenha consequências na eficácia da declaração, que é o que prevê o artigo 226º,
que diz que a declaração assim que emitida tem existência jurídica, logo, a morte ou incapacidade
posterior à declaração não podem prejudicar a declaração, pois já tem existência jurídica, nada o
declarante pode fazer. Não prejudica não quer dizer é eficaz, quer dizer que, se for eficaz, este fator
não influência essa eficácia.

A conclusão do contrato
O contrato, no mundo dos negócios jurídicos e obrigações, é o mais importante negócio
jurídico, e seria de esperar, visto que o tráfico comercial e toda a riqueza mundial se faz na base de
contratos (o direito privado contemporâneo encontra aí a sua manifestação de excelência). Por
identidade de razão, as declarações mais importantes são as declarações negociais do contrato,
estas, do lado do declarante do contrato (proponente, isto é, o autor da proposta contratual)
chamam-me propostas contratuais (projeto do contrato que o proponente está disposto a concluir)
e do lado do destinatário de tais propostas (se aceitar, o aceitante) chamam-se aceitações do
contrato. Estas duas, sendo declarações de um contrato, são declarações de sentidos opostos que
convergem, sendo este momento de convergência (que é também o de aceitação de contrato) a
conclusão do contrato. Precisamente, a conclusão do contrato dá-se no momento que se dá a
eficácia da aceitação do contrato (proposta contratual -» eficácia -» aceitação -» eficácia da
aceitação (conclusão do contrato)).

O Código Civil nada diz sobre o momento de conclusão do contrato, porém, diz no artigo
232, que o contrato só fica concluído quando as partes acordarem em todas as cláusulas contratuais
(presume-se, então, à contrario sensu, que o contrato se conclui quando as partes acordam em
todas as clausulas – proposta contratual é aceite pelo destinatário dela). Sendo a proposta e a
aceitação duas declarações negociais, estas podem ter forma nos termos dos artigos 217º e 218º,
eficácia nos termos dos artigos 224º a 226º e, relativamente a aspetos concretos da proposta e
aceitação, nos termos dos artigos 227º a 235º.

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A proposta e a aceitação.
A proposta contratual é, como dito, um projeto do proponente em relação a um contrato
que pretende concluir no futuro. É uma das partes essenciais do contrato e é uma declaração
negocial (217º, 218º, 224º-226º). A proposta contratual tem duas características fundamentais:
firmeza e precisão (e segundo Carvalho Fernandes, adequação formal, isto é, estar adequada à
forma exigida10). A firmeza diz respeito à vontade do proponente de se vincular juridicamente com o
“projeto”. A precisão diz respeito à clareza, facilidade que o contrato precisa de ter para se aceitar,
basta ser preciso um sim para se concluir. Por fim, é importante distinguir a proposta contratual de
alguns comportamentos ou atos anteriores à proposta: o convite a uma proposta contratual. Este
não é uma declaração de vontade, é sim, uma pretensão que lhe sejam dirigidas propostas
contratuais tendo ele a última palavra, não pretende vincular-se juridicamente, é apenas uma
abertura para receber propostas, aceitando-as ou não.

Também a aceitação da proposta é uma declaração de vontade cujos seus efeitos, em


termos formais, são o de o destinatário da proposta a que estava vinculado com um direito
potestativo, no momento da sua aceitação e eficácia nos termos do artigo 224º, 1º, 1ª parte, o
contrato conclui-se, passando o destinatário a aceitante, e os efeitos que o contrato está destinado a
produzir produzir-se-ão.

Tudo o que agora não foi tratado é-o nos artigos, envolvendo, por isso, casos práticos. O
contrato não será concluído enquanto não houver consenso entre as partes (232º). Não havendo
consenso há o chamado dissenso, que pode ser manifesto, quando as partes não têm um acordo e
sabem-no, e oculto que, pelo contrário, as partes não estão em acordo mas não o sabem, que é o
caso de pensarem que estão a falar nos mesmo termos monetários mas não o estão.

Portanto, para um contrato ser concluído é preciso que a declaração da proposta tem que
ser eficaz nos termos dos artigos da perfeição negocial, assim como a aceitação tal como tempestiva,
e a proposta e aceitação têm que convergir numa concórdia.

Os efeitos da conclusão do contrato


Assim concluído o contrato nos termos adequados o contrato produz os seus efeitos reais
que, de acordo com o artigo 408º, expressando o principio do consensualismo, isto é, o contrato
produz os seus efeitos reais11pela sua mera conclusão. O contrato de compra e venda tem um efeito
real, que é o da transferência de propriedade, que se dá, como dito, por mero efeito do contrato.

É evidente a necessidade de se conhecer o momento exato da transferência dos direitos


reais, para a segurança do tráfico jurídico e conta de, por exemplo, responsabilidade civil. Também
interessa, nesse sentido, se uma declaração é um convite a contratar ou uma proposta contratual,
precisamente para segurança jurídica (saber quem tem responsabilidade e em que momento a tem).

A conclusão do contrato com base em cláusulas gerais


Mesmo falando de tais modos de negociação referidos, em que há um proponente, que faz a
proposta e espera pela aceitação, que do outro lado há e o contrato fica concluindo havendo um
consenso entre as partes (232º), atualmente, a maior parte dos negócio realizados não é assim, é em
10
Segundo o professor, não faz sentido por a invalidade de forma causar a nulidade, não a inexistência do
contrato.
11
Os efeitos reais de um contrato são os efeitos que se produzem quando no contrato estão direitos reais,
como por exemplo, no contrato de compra e venda e imóveis, onde há transferência de um direito de
propriedade, esse direito dá-se por mero efeito do contrato, assim que concluído a propriedade passa de A
para B, e dessa feita redige o artigo 796º, que a deterioração da coisa depois de feito o contrato se dá por
conta do adquirente.
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base do comercio massificado que desde a revolução industrial se criou, e em que a necessidade de
criar contratos pré feitos unilateralmente com o objetivo de serem aceites sem a possibilidade de se
mudarem as cláusulas por parte do aceitante, precisamente para servir estes negócios massificados
ou extremamente complexos, em que era difícil fazer, de uma forma individual, contratos para cada
situação. É o caso dos contratos de seguro, ou da feitura de uma conta no banco, em que o
conteúdo do contrato é sempre o mesmo (contratos massificados refletindo a época) e as pessoas
aceitam se quiserem. Claro que as declarações feitas nas clausulas contratuais geral obedecem aos
mesmo princípios (da perfeição negocial) que o demais contratos, porém, a forma de negociação é
que é diferente.

Há, porém, certos problemas que por vezes acontecem, como o aparecimento de clausulas
unilateralmente feitas pelo proponente sem possibilidade de o destinatário as alterar, excluindo
dele a liberdade contratual. Por isso mesmo incide sobre esse problema o Decreto-Lei nº 446/85, de
25 de outubro.

A culpa in contrahendo
Quando se conclui um contrato, até este ser concluído, isto é, o processo de formação e
negociação do contrato carece de as partes de comportarem consoante as regras da boa fé, ou seja,
por exemplo, existir o dever de informar, o dever de lealdade, et caetera. Caso haja um
comportamento desviante do pretendido pelas regras da boa fé pode haver obrigação de
indemnizar, nos termos do artigo 227º, por culpa na formação dos contratos (culpa in contrahendo).
A indemnização, caso o contrato não se conclua, encontra os seus limites nos interesses positivos
que o lesado deixou de obter por não se ter concluído o contrato (por exemplo, se a outra parte
decidir, porque sim, não cumprir com o contrato que a outra parte que confiou na vontade do que
não cumpriu, este fica obrigado a indemnizar aquilo que aquele deixou de obter por ter confiado
numa vontade que não se concluiu), e quando se conclui o contrato pelos interesses negativos que
ocorreram por ter-se verificado a culpa no contrato concluído e deste terem advindo danos para a
parte que confiou num contrato corrompido (por exemplo, se um contrato de compra e venda de
um carro se conclui, mas o bem for alheio, quem corrompeu terá que indemnizar o lesado pelos
danos que ocorreram pela falta de carro).

O artigo 227º nada tem que ver com o não cumprimento de obrigações do contrato, mas
sim, com o processo de negociação e a sua limpidez. Por isso mesmo, tudo o que vier depois da
culpa no contrato não influência a validade do artigo 227º, por exemplo, a nulidade de um contrato
em que a negociação ocorrida tem a culpa, a sua nulidade não influência a indemnização que advém
da culpa, mesmo que seja nulo, a culpa ocorreu. A culpa na formação do contrato é independente
dele se concluir ou não.

A ativação do artigo pressupõe culpa, isto é, a simples rutura do contrato não significa culpa,
caso contrário iria contra o principio da liberdade contratual, porém, a rutura arbitrária de um
contrato, quando este já se encontra de tal forma desenvolvido que as partes pressupõe poder
confiar na outra parte para a conclusão do contrato já se pressupõe culpa, porque o lesado confiou
numa vontade que sem nenhuma justificação acabou, o que dá responsabilidade dos seus atos. Ou
seja, as partes, conforme o principio da liberdade contratual podem romper com a relação quando
quiserem, porém a sua ação terá que ser de tal forma prudente que não possa dar responsabilidade,
não pode haver um desenvolvimento tal que seria agir de má fé romper com aquela relação. Por
exemplo, se o proponente se comprometer e o destinatário depender daquele contrato, aí é agir de
má fé.

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Quanto à natureza obrigacional por culpa in contrahendo. Visto que não é necessário
nenhum contrato para haver culpa in contrahendo também não se pode dizer que a
responsabilidade terá que ser contratual, por isso presume-se que a responsabilidade presente no
artigo 227º é extracontratual. Doutro modo obter-se-ia uma espécie de relação contratual.

A representação na conclusão do contrato


Na conclusão de um contrato existem duas partes, um proponente, que emite uma
declaração de vontade denominada proposta contratual, que sendo perfeita (224º) produz os seus
efeitos (228º, 230º, et caetera) e, dessa forma, assim que produzida e tornada eficaz a sua aceitação
pelo aceitante (ou, caso seja o caso, a proposta caduque) temos concluído o contrato (não tendo,
caso caduque). Porém, nem sempre as declarações de vontade são produzidas pelo titular dessa
declaração, ou seja, por vezes, a declaração de vontade proposta, ou aceitação, ou até as duas, não
são expressas pelo titular do seu poder, ao invés disso, são expressas por outrem que, em vez e em
nome do representado (pessoa em nome do qual são declaradas declarações de vontade), isto é, da
pessoa em que ocorrem os efeitos jurídicos e em nome de quem a declaração existe. Neste âmbito,
temos o instituto de representação (258º a 269º), isto é, o conjunto de normas que incidem sob a
relação entre o representado (titular da declaração de vontade e sob o qual são produzidos efeitos
jurídicos, a pessoa que se faz substituir por outrem neste âmbito) e o representante (a pessoa que
substitui outrem na produção de declarações de vontade, que atua em vez e em nome de outrem,
este não é parte do negócio jurídico, apenas age em nome do representado e emite uma declaração
que vai ao encontro da vontade do representado, dentro dos limites impostos). A representação é
uma relação jurídica cujo objeto é o poder de dar origem a outras relações jurídicas, de certa
maneira a representação é um instrumento.

Assim, estabelece o artigo 258º que, os efeitos advindos da declaração de vontade expressa
pelo representante são sempre, direta e imediatamente, produzidos na esfera jurídica do
representado, estando o representado sujeito aos limites, justificando assim o representante apenas
se substituir no agir, na prestação e receção das declarações de vontade do negócio jurídico, e não
na titularidade – esta continua na esfera jurídica do representado. É, então, nessa medida, que o
representante declara uma declaração alheia, do representado e, por ser alheia esta declaração, e
por sua vez a vontade dela, é também necessária a devida legitimação dos poderes, tem que o
representado dar poderes de representação ao representante, que podem ser dados no momento
do negócio representativo ou posteriormente.

Antes de mais é necessário distinguir o instituto de representação com outras figuras


semelhantes. A representação distingue-se do núncio na medida em que o núncio limita-se a
transmitir uma declaração alheia, uma declaração já formulada, embora tendo necessidade de ser
transmitida pelo núncio até ao destinatário. Contrário a isto é, por isso, a representação, que o
representante, que age em nome e por conta do representado, formula uma declaração ele próprio,
segundo as instruções do representado, dentro dos limites dos seus poderes. O núncio transmite
uma declaração alheia; o representante formula uma declaração própria em nome e por conta de
outrem. Distingue-se também de quem age por conta de outrem mas em nome próprio, pela
simples razão de que neste tipo de negócio a pessoa que age por conta de outrem é uma parte do
negócio, os efeitos jurídicos do negócio realizado em seu nome, mas por conta de outrem, são
produzidos na sua esfera jurídica (à exceção dos efeitos económicos) e só depois transferidos para a
esfera do mandante. É aqui que reside a diferença entre a representação, em que os efeitos são
produzidos direta e imediatamente na esfera do representante, em quem age nem nome próprio
mas por conta de outrem (como é o caso do contrato de mandato sem poderes de representação,
1180º). Quem age sob nome de outrem, disfarçando a sua verdadeira identidade distingue-se
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claramente da representação, pois nesta o representante age em nome do representado sendo os
efeitos produzidos na sua esfera, não se trata de um disfarce, mas sim num “serviço” que o
representante faz ao representado, tendo aquele a justificação dos seus poderes. Quem serve de
mediação para a conclusão do contrato também se distingue, pois este apenas serviu de
intermediário para a conclusão daquele, as partes concluíram todo o contrato (como agentes de
venda), apenas há uma intervenção na união do vendedor e comprador, não um agir em nome de.
Por fim, a representação distingue-se de contrato de pessoa a nomear ou contrato a favor de
terceiros, pelo facto daquela ser uma forma de expressão das declaração negociais, e as outras
serem modalidades contratuais.

Os poderes de representação podem resultar da lei (por exemplo, quando alguém


representa um menor) ou de uma decisão judicial (quando se representa um maior acompanhado
ou interdito) – representação legal, ou seja, quando alguém, para suprir a falta de capacidade de
agir, age em nome de outrem – ou então, resultar de um negocio jurídico (procuração, 262º), e
assim diz-se representação voluntária, advindo da autonomia privada, ou, melhor dizendo, de um
alargamento dela, tendo, assim, a representação funções diferentes, mas sempre consequências
iguais (258º): a produção de efeitos jurídicos na esfera do titular da vontade quando são expressos
pelo representante. Há ainda outra representação, chamada representação estatutária ou orgânica,
que é a representação que advém do suprimento de vontade de uma pessoa coletiva (advindo dos
estatutos da mesma), sendo os órgãos dela os representantes. As representações têm, portanto,
consequências iguais, porém, origem (lei, autonomia privada ou estatutos) e justificações (suprir a
incapacidade de agir e autonomia privada) diferentes. Está de acordo com o principio da autonomia
privada o instituto de representação, às pessoas com capacidade jurídica, a possibilidade de escolher
outrem para emitir as nossas declarações de vontade, aliás, até reforça o principio, na medida em
que abre um leque maior de possibilidades para tráfico jurídico, algo inevitável na sociedade
desenvolvida que hoje se vive, a escolha e necessidade de outrem, por nós, agir. No caso dos
incapazes, aqueles que não têm capacidade de exercício, já não é pelo principio da autonomia
privada que se fazem representar (embora não o viole), mas sim pela lei ou decisão judicial, visto
que, por serem incapazes para agir, caso não tivessem alguém que por eles agisse viram-se excluídos
do tráfico jurídico negocial, ficariam incapazes de na sua esfera jurídica haver direitos e obrigações.
Não surge, portanto, de uma vontade, mas sim de uma necessidade para agirem juridicamente
(princípio da proteção dos mais fracos) e se integrarem no tráfico jurídico.

A representação insere-se no Código Civil como subsecção da secção de declaração negocial


(inserida nos negócios jurídicos), e a razão pela qual o legislador isso fez prende-se com o facto a
representação ser uma forma de emitir uma declaração negocial, uma outra possibilidade de
formulação de uma declaração negocial, e não uma modalidade de um contrato.

Como é o representado que emite a declaração negocial, é na sua pessoa que se devem
verificar eventuais vícios ou falta na e de vontade dos “factos que podem influir nos efeitos do
negócio” (259º, nº1), tendo que se verificar na sua esfera quaisquer efeitos de nulidade ou
anulabilidade, e só o representado pode invocar nulidade ou anulabilidade, visto que é na sua esfera
jurídica que se verificam os efeitos. Porém, para evitar o representado realizar um negócio de má fé
e ser responsabilizado com isso, diz o nº2 que “O representado de má fé não aproveita a boa fé do
representante”. Este artigo pretende evitar o representante de fugir à má fé que tenta realizar.

De modo a salvaguardar a confiança da outra parte relativamente à legitimidade dos


poderes do representado, consta no artigo 260º a justificação dos poderes do representado.

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O artigo 261º, nº1 pretende evitar as situações em que haja conflito de interesse entre o
representado e o representante, ou melhor, a situação em que o representante se beneficie em prol
dos interesses que devia estar a defender: os do representado. Assim, diz o artigo que é anulável o
negócio que for celebrado consigo mesmo: o legislador quer aqui evitar as situações em que o
representante, dotado de poderes de representação para celebrar negócios em nome e pelo
representado, beneficiar-se a si mesmo, como por exemplo, A dotar B de poderes para comprar um
carro e ser B a comprar o próprio carro (obviamente beneficiando-se a si, sendo da natureza humana
egoísta). No entanto, este negócio tem exceções, pois pode o representado confiar ou consentir no
representante para realizar o negócio consigo mesmo (por isso mesmo o negócio é anulável e não
nulo, isto é, o representado pode consentir e deixar que tal negócio se realize), ou então quando não
haja conflito de interesses (no caso de não haver não há hipóteses de haver beneficio para o
representante, como por exemplo, o caso de A representar B, a empresa NOS Cinemas, e querer
comprar um bilhete para si, nesse situação, como o preço é tabulado, não há hipótese de A se
beneficiar nem conflituar com os interesses de B, por isso, não é anulável o negócio. O nº 2 pretende
evitar a situação de fuga do representante, na anulabilidade advinda do conflito de interesses do
número anterior, ou seja, se houver um substabelecimento entre o representado e um C, querendo
o A, fazendo B representar-se por outrem, beneficiar-se a si, porém “A substituição não envolve
exclusão do procurador primitivo” (264º, nº2). O representante substabelecido não pode
estabelecer negócios com o representado originário.

A procuração e os seus efeitos


Depois de enunciado a função de representação (realizar declarações de vontade em nome e
em vez de outrem, sendo que legal a função é suprir a falta de vontade e voluntário é permitir uma
abertura do uso da autonomia privada), é importante estabelecer o ato anterior à representação: a
constituição da representação. E isso pode ser feito por um ato unilateral (procuração) ou vindo os
poderes de representação de um negócio jurídico.

A nomeação de um representante segue as regras enunciadas no artigo 262º, em que


estabelece que a procuração é o ato pelo qual alguém atribui a outrem poderes de representação,
ou seja, é um negócio unilateral pelo qual uma pessoa atribui poderes de a fazer representar a
outrem. Desta definição se retiram duas acensões, é um ato de atribuição de poderes e um ato de
aquisição da posse desses poderes. Normalmente esse ato é uma declaração receptícia. A
procuração é feita segundo os artigos 217º e 219º, porém tem que seguir a forma do negócio
jurídico que o procurador deve realizar quando a uma forma há lugar (262º, nº2)

Feita a procuração o procurador apenas precisa ter capacidade de entender e querer (263º),
porém, por outro lado, o outorgante da procuração precisa de ter capacidade para agir (visto que o
representado está a representar o representante – aquele em que se verificam os efeitos e em nome
do qual é feita a declaração de vontade – esse sim, precisa de poderes, o representante, apenas
precisa de entender e querer, visto que só tem que emitir uma declaração cuja vontade é do
representado, a consciência já a tem, que é o preciso para ter vontade jurídicamente).

Da mesma forma que a procuração se constitui de uma forma unilateral, também a sua
extinção acontece de uma forma unilateral, quer pela renuncia do procurador quer pela renúncia do
representado (265º, nº1, 1ª parte e nº2). O representado pode revogar a procuração livremente,
isto é, não obstante convenção em contrário ou renúncia do direito de revogação: pode-se sempre
revogar. No entanto, esta liberdade não existe quando “a procuração tiver sido conferida também
no interesse do procurador ou de terceiro (…) salvo ocorrendo justa causa”, isto é, os casos do
interesse também do procurador são o caso de promessa de compra e venda, quando na presença

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de um representante. O artigo 265º, nº1, quando se refere a “relação jurídica que lhe serve de
base”, refere-se à situação de haver uma relação de representação que se baseia numa relação
jurídica anterior das partes, elas estão vinculadas, que serve de base à representação (como o
contrato de trabalho, o contrato de sociedade, o contrato de mandato com poderes de
representação – atua por conta e em nome do mandante). As relações jurídicas de base são sempre
independentes da representação (relação jurídica de base vs. Ato unilateral).

E o artigo 265º, nº1, 2ª alternativa comprova isso, quando mostra que a relação jurídica de
base e a procuração são separadas. Pode concluir-se que a procuração influi na relação jurídica de
base, e extinga-se quando aquele cessa (“ou quando cessa a relação jurídica que lhe serve de base”),
porém, não é fatal esta conclusão, pois a relação e a procuração são independentes, e “exceto se
outra for, neste caso, a vontade do representado.”, podendo chamar a essa procuração uma
“procuração isolada”, ou seja, uma procuração que se desprendeu da relação jurídica de base
continuando a existir ou nem nunca teve uma relação jurídica de base. Dada a autonomia da
procuração em relação à relação jurídica que lhe serve de base, também se pode dizer que qualquer
invalidade da relação não afetará a procuração, dada a independência que entre elas existia. Isto é
uma forma de proteger a outra parte, na medida em que salvaguarda a invalidade da relação, não
afetando a procuração, como ato jurídico autónomo que é e como consta no artigo 260º, por ser
autónomo a justificação dos poderes do representante incidem no conteúdo da representação e não
na relação jurídica de base. Por estas razões pode mostrar-se necessário a procuração cessar, visto
que há invalidade na relação e aquela não é afetada, através de uma revogação (265º, nº2). Da
mesma forma, o mesmo pode ocorrer inversamente, ou seja, mais uma vez se concluir que a
procuração e a relação de base têm vidas separadas.

Para efeitos da proteção de terceiros consta o artigo 266º. Neste consta que, as modificação
e a revogação da procuração devem ser levadas ao conhecimento de terceiros por meios idóneos
(isto é, meios fiáveis para o terceiro conhecer), sob pena de não lhes serem oponíveis os efeitos
produzidos pela modificação ou revogação, quando se mostre que o terceiro no momento da
conclusão do negócio não tinha conhecimento da modificação e revogação. Ou seja, a facilidade com
que se revoga uma procuração no artigo 265º é compensada com o artigo 266º, que não opõe a
terceiros desconhecedores os efeitos do negócio. Nesta medida está a tentar proteger-se as
expectativas de terceiro, que confiou numa procuração. As restantes causas extintivas do negócio,
com a cessação da relação jurídica de base, assim como a renuncia do procurador à procuração, não
podem ser opostas a terceiro que não sabia delas. Desta forma, o ex-representado fica vinculado a
declarações de vontade da outra parte que não conhecia ou ignorava, produzindo os efeitos da
relação a este. O procurador, quando revoga ou modificações faz à procuração, deve restituir o
documento onde constam os seus poderes de representação, não tendo o direito de retenção
(267º), sendo esta mais uma medida de proteção de terceiros (mas não só).

O procurador, quando e enquanto tiver poderes de representação, pode tê-los em especial


para um certo ato, e portanto, para apenas um negócio (comprar um carro, por exemplo), e dizem-
se procurações especiais; e pode tê-los para vários negócios, e assim ter uma procuração geral. Em
muitos casos a lei apenas permite uma procuração especial, em relações familiares, por exemplo.
Está no poder do procurador fazer-se substituir por outrem na sua tarefa de representar, se o
representado permitir ou se a faculdade de substituição resultar do conteúdo da procuração ou
relação jurídica que a determina. Pode também fazer-se acompanhar por auxiliares na execução da
procuração, se outra coisa não resultar do negócio ou natureza do ato. Claro está que, quer
representante primitivo (que não se exclui, salvo declaração em contrário), quer substituto realizam

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declarações de vontade que irão ter os seus efeitos na esfera do representado, como contrário não
podia ser.

Uma pessoa que, em nome e por contra de outrem, realize declarações de vontade sem ter
poderes para o fazer, ou seja, quando alguém age ao abrigo do artigo 258º sem ter esses poderes
outorgados, está a fazer o que se chama de representação sem poderes (falsus procurator). É isso
que consta no artigo 268º, e diz-se que o negócio celebrado sem poderes é ineficaz em relação ao
procurador falso, se não for pelo suposto representado ratificado 12(268º, nº1). O suposto
representado pode, no âmbito da sua autonomia privada, sem prejuízo nos direitos de terceiro,
ratificar na forma devida a procuração que não existia (268º), produzindo-se efeitos na esfera do
representado, no momento da celebração da ratificação entre as partes (procurador,
originariamente sem poderes, e representado). Caso o suposto representado não ratifique, este
pode pedir uma indemnização ao falsus procurator por culpa in contrahendo (227º).

Conquanto, não se deve confundir representação sem poderes com agir com falso nome.
Quando alguém pretende celebrar um negócio jurídico com os efeitos a produzirem-se na sua esfera
jurídica, mas para isso age com outro nome (falso nome), o negócio é celebrado entre ele a outra
parte, o que interessa é o conteúdo do negócio e não a identidade dele (por exemplo, alguém dá
outro nome num hotel para não ser reconhecido). Caso alguém age em nome de outrem, querendo
agir para si, fazendo-se aproveitar da identidade de outrem (vendedor queria celebrar negócio com
a identidade referida) pode ratificar-se com o instituto da representação sem poderes.

Negócios jurídicos com eficácia limitada


Normalmente, os negócios jurídicos produzem os seus efeitos volitivo-finais de uma maneira
plena. Porém, por vezes esta plenitude de efeitos nem sempre acontece, por vontade das partes,
elas condicionam os efeitos dos negócios jurídicos à suspensão ou termo da produção de efeitos, ou
estes não se produzem na integra, ou não se produzem de uma forma estável. Isto pode advir tanto
da vontade das partes como da lei, ou dos dois. Estes condicionalismos, como se verá adiante,
afetarão os negócios que se estão celebrar, por vezes de uma forma latente e por outras apenas em
relação a terceiros. O que se pretende concluir daqui é que existem certos negócios que têm eficácia
limitada, não por não serem válidos, mas por, ou por lei ou por vontade, os efeitos estarem sujeitos
a realidades que os limitam, a sua plenitude de conteúdo ou sustentabilidade ficam sujeitas a
realidades que influência a existência.

(Em principio, as partes de um negócio jurídico podem, de acordo com a sua autonomia
privada, subordinar a produção ou cessação dos efeitos jurídicos de um negócio jurídico a uma
condição ou termo, a não ser que se trate de negócios que, por a sua natureza ou expressão na lei,
sejam incondicionáveis ou inaprazáveis (por exemplo, negócios jurídicos familiares pessoais). Não é
necessário que a lei permita estes negócios de eficácia limitada, mas pode, por vezes, esclarecer que
são permitidos (1713º). A condição e o termo são ambos elementos acidentais de um negócio, isto
é, são dispensáveis a ele, mas, por autonomia privada as partes podem adicionar certas clausulas
que permitem uma melhor personificação da sua vontade no negócio jurídico que celebram (afinal,
é esse o principal papel do negócio jurídico); são ambos exteriores ao negócio, embora
incindivelmente ligados a ele, na medida em que depende da condição ou termo o inicio da
produção ou cessação dos efeitos jurídicos de um negócio, afetam, diretamente e por si, o negócio
jurídico; ambos são um acontecimento futuro que, quando ou se verificarem produzem ou cessam
os efeitos jurídicos de um negócio; a única diferença é na certeza do acontecimento futuro: uma

12
Ratificação da procuração é o mesmo que dizer que alguém tomou como se fossem deles o efeitos jurídico
que não eram.
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condição é um acontecimento futuro e incerto, não se sabe quando ou se vai acontecer, há uma
incerteza na concretização do acontecimento (por exemplo, um despedimento), um termo é um
acontecimento futuro e certo, sabe-se que, a qualquer momento no futuro, vai acontecer
(determinado, um dia de calendário; indeterminado, a morte).)

A condição
A condição, pela definição do artigo 270º, nº1, é um acontecimento futuro e incerto a que as
partes podem subordinar a produção ou a resolução dos efeitos jurídicos do negócio jurídico; à
primeira chama-se suspensiva, à segunda chama-se resolutiva. O caráter suspensivo ou resolutivo
resulta da vontade das partes: a condição é um acontecimento que as partes, por vontade e
autonomia privada delas, escolherem subordinar os efeitos jurídicos do negócio que estão a
celebrar, e por isso mesmo a condição nos termos do artigo 270º distingue-se da condição legal,
que, ao contrário daquela, advém da lei, são pressupostos que a lei exige para se verificarem certos
efeitos jurídicos num negócio, são condições legais de eficácia de um negócio: sem elas o negócio
não produz certos efeitos jurídicos. Uma condição que respeita a formulação do 270º é chamada
uma condição própria. Esta, de “acontecimento futuro e incerto” significa aquilo mesmo que diz, ou
seja, um acontecimento que seja presente ou passado aqui não se agrupa, ou que as partes ainda
não conheçam, um acontecimento futuro quer dizer que, objetivamente, o acontecimento ainda não
ocorreu e irá ocorrer no futuro. Também não faz parte daquela formulação um acontecimento que
seja física ou legalmente impossível são condições impróprias, visto que existe uma certeza de que
não vai ocorrer, nem existe (271º, nº2), as resolutivas, porém, consideram-se não escritas. Todas as
clausulas apostas a um negócio jurídico que servem para condicionar a produção de efeitos jurídicos
de um negócio jurídico que não tenham simultaneamente estas duas características chamam-se
condições impróprias. Porém, o 271º, nº1 já corresponde a uma condição própria, visto que é um
acontecimento futuro e incerto, mas que é nulo por ser contra a lei, não são admitidas pelo
ordenamento jurídico. É de notar, porém, que a ilicitude de um negócio jurídico não está no facto
ilícito mas sim no nexo criado entre o facto e a eficácia condicionada do negócio, ou seja, a condição
de matar alguém pode ser licita, se for resolutiva, visto que o nexo não incentiva a pessoa a matar,
porém se for suspensiva já é licita, tem que ver com o nexo que se cria e não com o facto per si.

Nem todos os negócios jurídicos admitem, no entanto, condições, dizem-se, então,


incondicionáveis. Não admitem ou pela sua natureza especifica que a produção de efeitos jurídicos
não admite a sua condição, não podem pela sua natureza, pela insegurança no tráfico jurídico e no
ordenamento em si que iriam causar. São exemplos de negócios incondicionáveis os negócios
jurídicos familiares pessoais (1618º, 2232º). Também o são os contratos de trabalho, pelas razões de
instabilidade que causariam aos trabalhadores. Por fim, também os direitos potestativos são podem
sujeitar a produção dos seus efeitos jurídicos, dada a tremenda insegurança que iriam causar.
Imagine-se um direito de, unilateralmente se divorciar estar sujeito a qualquer condição, ou seja,
acontecimento futuro e indeterminado sem o qual não era possível divorciar-se, ou então o titular
de um prédio encravado não poder, através de um direito potestativo, passar pela propriedade de
outrem estando privado de sair de casa, pois estava condicionado a um acontecimento externo que
suspendia esses efeitos. Era uma insegurança extrema para o tráfico jurídico. Apenas nas situações
em que o preenchimento da condição é da vontade do declaratário é que se pode condicionar um
direito potestativo.

Estando a produção de efeitos sujeito a uma condição, o negócio jurídico, embora


validamente concluído, não produziu os seus efeitos ainda (condição suspensiva) ou não os produziu
de uma forma permanente (condição resolutiva). O exemplo mais importante é o da reserva da
propriedade, presente no artigo 409º. Diz este, que nos contratos de alienação é lícito ao alienante
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reservar para si propriedade de coisa até ao cumprimento total ou parcial das obrigações da outra
parte ou até à verificação de qualquer outro evento. Como se sabe, o efeito real do contrato de
compra e venda, por exemplo, um contrato de alienação, dá-se por mero efeito do contrato
(principio do consensualismo, 408º), ou seja, basta o consenso das partes para o contrato se concluir
(232º), no entanto, nos contratos de alienação é lícito ao alienante reservar para si propriedade, isto
é, impor uma condição suspensiva à condição de se cumprirem as obrigações, que depois disso os
efeitos produzir-se-ão.

A estipulação de uma condição conduz a um estado de pendencia que, embora não seja um
direito pleno da pessoa, é um direito que é protegido pelo ordenamento jurídico, e esse direito é a
expectativa jurídica (272º, 273º e 275º, nº2), ou seja, a parte que está num estado de pendencia
espera um determinado comportamento, uma determinada realidade, um determinado
acontecimento da outra parte, que é protegida pelo ordenamento jurídico. Resulta do 272º a
resolução ao problema de, quando há uma pendencia, pode a outra pare fazer o que quiser ao
direito da parte que se encontra nesse estado? Como vimos, não, pois o ordenamento jurídico
protege a expectativa jurídica da parte em pendencia de condição, não deixando que a outra parte
do negócio condicional aja como queira, tendo que o fazer nos ditames da boa fé, protegendo, desta
forma, a expectativa de que o alienante vai ter o direito que esperava. Da mesma forma permite o
273º que o alienante realize atos de conservação, de modo a proteger ele a sua expectativa. Por fim,
também o 275º protege a situação da condição ser contornada, a estabelece a vinculação jurídica já
estabelecida no negócio. Ou seja, o negócio condicional, embora não produza os efeitos
pretendidos, produz aqueles efeitos protetores da expectativa jurídica, produz os efeitos
indispensáveis para que, no momento da verificação de certo acontecimento o negócio esteja apto a
produzir os seus efeitos jurídicos. Já numa linha de pensamento completamente diferente está o
artigo 274º, que permite que sejam feitos atos de disposição estando estes sujeitos à eficácia ou
ineficácia do negócio condicionado. A violação destas disposições pode levar a direitos de
indemnização. A alienação de direitos condicionais, sendo condicionais, também é possível,
alienando também, o alienante, a expectativa jurídica e a aleatoriedade de hipótese de verificação
ou não da condição.

Verificada a condição, os seus efeitos retroagem ao momento da conclusão do contrato, a


não se que outra seja a vontade das partes ou pela natureza do ato não seja possível (276º). No
entanto, em situações previstas no 277º fica excluída a retroatividade.

O termo
Denomina-se termo o acontecimento futuro e certo que, quando verificado, faz produzir os
efeitos jurídicos do negócio ou então cessa esses mesmos efeitos. O termo é um acontecimento
certo na medida em que há certeza na sua realização, é um acontecimento que se vai verificar.
Quando o acontecimento sabe-se quando se vai verificar é um termo determinado quando não se
sabe quando é um termo indeterminado. Exemplo do primeiro acontecimento é um dia de
calendário ou do segundo é, por exemplo, a morte de alguém. O termo pode ser suspensivo ou
inicial ou pode ser resolutivo ou final. O termo pode ser estabelecido no interesse do devedor, do
credor ou de ambos, porém o que há a dizer é que a quem o termo é dirigido é quem pode
renunciar a ele, extinguindo-se assim. Se o termo for resolutivo e for renunciado, então o negócio
continuará a produzir os seus efeitos como se nada tivesse ocorrido, quando o termo é inicial e se
verifica, não existe retroatividade, apenas para o futuro os efeitos se produzem. Quanto à contagem
e à fixação do termo o 279º estabelece, como norma supletiva. No 278º estabelece que, com as
devidas adaptações, o regime quanto ao termo é o dos artigos 272º e 273º.

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Encargos ou clausulas modais
Não se deve, porém, confundir condição ou termo com encargo ou clausulas modais.
Enquanto que as primeiras são exteriores ao negócio mas incindivelmente ligados a ele, porque
determinam a produção ou cessação dos efeitos jurídicos, os últimos não interferem, por si, com os
negócios jurídicos, apenas se forem acionados os mecanismos (966º). Os encargos dizem respeito a
negócios gratuitos, liberalidades, que as onera, nunca ultrapassando o valor do negócio, caso
contrário deixaria de ser um negócio gratuito. São, portanto, clausulas, elementos acidentais de um
negócio que não o atinge diretamente, a não realização de encargos não impossibilita a realização
do negócio, apenas se forem acionados os mecanismos. Exemplos: 963; 2244º.

Os negócios jurídicos com efeitos dependentes de ratificação


Enquanto que nos negócios sujeitados a uma condição ou termo havia uma vinculação
jurídica entre duas partes, nos negócios com efeitos dependentes de ratificação uma das partes não
se encontra vinculada por não ter poderes para o fazer. Estas situação são as de, por exemplo,
representação sem poderes ou negócios dos insolventes. A ratificação é, em termos amplos, uma
pessoa tomar como seus os efeitos que não eram, é, portanto, um negócio jurídico unilateral de
alguém que atribui efeitos a um outro negócio que deles careça.

Os negócios dos insolventes, celebrados sem poderes quanto à massa insolvente


São ineficazes os negócios que o insolvente realize relativamente à massa insolvente, na
medida em que não tem poderes para o fazer (poderes de administração e disposição), poderes
esses que foram entregues ao administrador da insolvência (artigo 81º, Código da insolvência e da
recuperação de empresas). No entanto, o negócio apenas não produz os seus efeitos relativamente
ao insolvente, pois não é ineficaz quando à outra parte, que realizou um negócio de boa fé (291º). A
insolvência é sentenciada pelos tribunais e tem que ser registada e feita a devida publicidade (artigo
38º, CIRE). Quando declarado insolvente, o património deste é separado entre bens penhoráveis e
não penhoráveis, estes últimos indispensáveis para a sobrevivência deste último. São ineficazes, por
já estarem os bens penhoráveis da massa insolvente no poder do administrador, os negócios
efetuados com o insolvente em relação a este (81º, CIRE), visto a finalidade da insolvência (artigo
1º). A falta de poder de dispor e administrar causa a ineficácia de o negócio, embora o negócio seja
válido, só não é eficaz, mas é-o em relação a outra parte de boa fé. Se o ordenamento jurídico
permitisse que o insolvente realizasse negócios mexendo na massa insolvente, iria contra
a finalidade da insolvência, podendo ficar sem a massa. No entanto, mesmo contra a lei, se o
insolvente realizar negócios com uma pessoa, e desse negócio resultar benefícios e acrescento no
valor da massa, o administrador da insolvência pode ratificar, passando, com efeitos retroativos, o
negócio a ter efeitos jurídicos de ambas as partes em relação à massa insolvente. Caso não seja
ratificado, responde o insolvente por incumprimento do contrato.

Negócios celebrados sem poderes de vinculação


Como se sabe, os negócios sem poderes de representação são ineficazes em relação ao
suposto representado, a não ser que este ratifique, nos termos do artigo 268º. Existe, aqui,
efetivamente, uma vinculação jurídica com a outra parte, que passa o suposto representado a
vincular-se também quando ratifica. Temos uma situação em que só há uma vinculação jurídica para
uma das partes, que, se ratificar, passa a haver para ambos.

Contratos para pessoa a nomear


Neste tipo de contrato, para finalizar com a dependência da ratificação, uma pessoa pode
nomear outro para adquirir os direitos e obrigações que celebra com a outra parte (452º),
precisando este de ser ratificado pela outra parte, não produzindo os efeitos caso isso não aconteça.

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Os negócios jurídicos com eficácia relativa
Enquanto que os negócios que estão sujeitos a condição ou termo existe uma relação
jurídica com duas partes, em que estas têm uma vinculação jurídica entre elas; os negócios com
efeitos dependentes de ratificação, num primeiro momento a vinculação jurídica existe apenas para
uma das partes, passando, depois de ratificação, a estarem vinculadas as duas partes; nos negócios
com eficácia relativa existe uma vinculação jurídica para ambas as partes, o negócio é válido e eficaz
em relação às partes, não é, porém, em relação a terceiros, não lhes são oponíveis os efeitos
jurídicos do negócio celebrado entre as partes por falta de publicidade. A eficácia relativa tem por
objeto a proteção da confiança de terceiros e a segurança no tráfico jurídico, caso contrário haveria
uma grande instabilidade no ordenamento jurídico.

Casos de falta de publicidade


A proteção, pelo legislador, de terceiros contra evolução da vida jurídica que não conhecem
está presente em vários preceitos, tal como a sua proteção contra a retroatividade dos efeitos que
não conheciam. Por exemplo, o artigo 266º na proteção de terceiros, ou o artigo 871º.
Relativamente à retroatividade, temos, por exemplo, o artigo 276º e 277º, o 1713º, por exemplo, o
291º, o 268º, et caetera. Há, efetivamente, uma vontade do legislador, e razoável essa vontade, de
proteger terceiros pelo seu desconhecimento sem culpa da evolução do ordenamento jurídico.

Nesta ordem, os casos de negócios de ineficácia relativa em relação a terceiros são aqueles
que foram concluídos, carecem de registo e não o tiveram. São exemplo deste tipo de negócios o
artigo 168º, o 1711º, et caetera. A oponibilidade em relação a terceiro é muito importante para o
tráfico jurídico e confiança das expectativas de terceiros. Sirva como exemplo o código do registo
predial, dada a importância do registo dos prédios para a segurança no tráfico jurídico para
terceiros.

Como expresso no artigo 1º do Código do Registo Predial, a sua finalidade é dar publicidade
aos prédios de modo a dar segurança ao tráfico jurídico, e nessa medida “Estão sujeitos a registo os
factos jurídicos que determinem a constituição, o reconhecimento, a aquisição ou a modificação dos
direitos de propriedade, usufruto, uso e habitação, superfície ou servidão;”, como diz o artigo 2º,
CRPr. e dessa forma também o artigo 3º relativo às ações. Os herdeiros ou as partes podem opor os
factos à outra parte, porém não a terceiros, o que é lógico, visto que as partes conhecem os factos e
terceiros não (artigo 4º e 5º). O artigo 5º define também quem são os terceiros, e diz que terceiros
são aqueles que tenham adquirido de um autor comum um direito incompatível, que quando não
registados esses direitos não são oponíveis a terceiros.

Faz-se, então, a pergunta de quem é terceiro em situações de registo? Isto é, a quem a


oponibilidade do registo opera e interessa para a segurança do tráfico jurídico, nos termos e
finalidades do CRegPred. Segundo o artigo 5º, nº4, terceiro, para efeitos de registo, é aquele que de
um autor comum adquire direitos incompatíveis, ou seja, para efeitos de registo, apenas é terceiro
aquele que participa num processo aquisitivo de bens sujeitos a registo, isto é, imóveis ou direito
que nele constem. Neste tipo de negócios os factos ou direito não registos não são oponíveis a
terceiros adquirentes. Porém, é de notar que, de resto, sem ser os direitos reais do processo
aquisitivo, os direitos absolutos, por exemplo, são oponíveis face a terceiros, que tem que ser por
harmonização com a sua eficácia erga omnes, em que, aqui, a segurança do tráfico jurídico já não
está em causa (292º). Uma coisa são os efeitos erga omnes resultantes da natureza de um direito,
outra coisa é a oponibilidade que esses direito, num processo aquisitivo, têm para efeitos de registo,
de terceiros adquirentes.

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Para segurança do tráfico jurídico comercial de imóveis, para terceiros adquirentes, os factos
e direitos relativos ao comercio jurídico imobiliário constam de um registo, esse registo é a
“presunção de que o direito existe e pertence ao titular inscrito, nos precisos termos em que o
registo o define.” (artigo 7º do CódRegPred). Por isso, por exemplo, se A vende a B um imóvel, mas B
não o regista, segundo o artigo 408º, o principio do consensualismo (artigo 4º, do CRegPred), a
propriedade transfere-se imediatamente para B, e a sua eficácia erga omnes acontece, como é
característico dos negócios com eficácia real e com direitos absolutos como a propriedade, porém,
devido à falta de registo, isto é, devido à falta de publicidade, os efeitos não são oponíveis a
terceiros adquirentes (artigo 5º, nº4, CRegPred), daí que apenas a partir da data de registo se opõe
os efeitos a terceiros adquirentes (artigo 5º, nº1). Por isso mesmo, uma coisa é a eficácia erga omnes
que decorre da transmissão de um direito absoluto como o direito de propriedade, outra é a
oponibilidade que tem o negócio em relação a terceiros adquirentes, que não se lhes podem opor
efeitos que eles desconhecem, carecendo tais negócios de registo, de publicidade, tendo efeitos
jurídicos diferentes dos pretendidos com uma “sanção” caso não seja registado (pelo menos há uma
sujeição a uma sanção, a um castigo por não ter registado (prioridade de registo, artigo 6º,
CRegPred). Há, por isso, uma preferência do legislador, por um terceiro que, desconhecendo dos
factos reais e acreditando na presunção do registo, regista primeiro, castigando quem não o fez
ficando este sem propriedade.

Se nas situações acima referidas a falta de registo exclui os efeitos a terceiros adquirentes,
casos há em que a falta de registo exclui por completo a possibilidade de invocação do facto
constitutivo, que sem o registo nem inter partes existe eficácia, por exemplo, a hipoteca, que carece
de registo, com prejuízo de não ser eficaz entre as partes (artigo 4º, nº2, CRegPred), tendo, então,
eficácia, depois da data do registo (artigo 5º, nº1).

Casos de inoponibilidade da invalidade


Muito diferente das situações anteriores são os casos de inoponibilidade da invalidade. Estas
são situações em que um negócio é nulo, isto é, é um negócio cujos os efeitos produzidos não são os
pretendidos pelas partes, produzindo a lei efeitos laterais de natureza negocial. Estes negócios
dizem respeito a atribuições patrimoniais que, como sabemos, dada a sua incerteza na estabilidade,
o legislador decidiu que seria preciso criar um pouco de estabilidade.

Segundo o artigo 892º, é nula a venda de bens alheios, sempre que o vendedor careça de
legitimidade para a realizar. Porém, não pode o vendedor não pode opor a nulidade ao comprador
de boa fé, nem pode opor a nulidade o comprador doloso ao vendedor de boa fé. Esta regra
fundamental do artigo 892º é de extrema importância para a estabilidade no tráfico jurídico, e é
também aplicável a outros contratos onerosos (939º). Imagine-se o que era o vendedor que ao
comprador de boa fé vendia bens alheios e lhe opunha a nulidade, poderia vender a todos os
compradores de boa fé que existissem e seria sempre nulo, porque poderia ele opor. Ou seja, entre
as partes, tudo se passa como se o negócio fosse válido, mas não é perante todas as outras pessoas,
para quem está de boa fé há como se um direito legal relativo, sendo este direito apenas oponível à
outra parte. Há uma espécie de propriedade relativa, resultante do comprador estar de boa fé. Esta
eficácia relativa produz-se como efeito lateral por comando da lei de um negócio nulo de atribuições
patrimoniais. Desta forma, os artigos 892º, 939º e 956º, nº1 são uma exceção do artigo 286º, que diz
que a nulidade pode ser invocável por qualquer interessado (naqueles artigos não pode, por aquele
que estiver a realizar um negócio nulo com alguém que esteja em boa fé). Todos os outros
interessados continuam a poder invocar a nulidade. Desta forma, quem está de boa fé está numa
posição bastante frágil.

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Há, porém, duas situações em que esta fragilidade não existe, mas aqui os negócios são
anuláveis. No artigo 1687º, nº3, consta que em caso de alienação ou oneração de um bem móvel,
não sujeito a registo, feito por apenas um dos cônjuges, quando é preciso o consentimento de
ambos, é anulável, porém não pode ser esta oposta ao adquirente de boa fé, ou seja, não pode ser
oposta, a posição é inatacável. Outra situação é a do 2076º, nº2.

Parte IV – A interpretação e integração da declaração negocial


Introdução
Depois de concluído o negócio jurídico e tornando-se eficaz, o sentido da declaração de
vontade expressa nele pode não ser clara, apresentar um sentido obscuro ao qual não seja possível
alcança-lo com a leitura do mesmo, ou até que a declaração apresente lacunas, ou seja, algo que
devia constar lá mas não consta. Nestas hipóteses o que há a fazer, no caso da declaração se
apresentar com um sentido obscuro, é interpretação da mesma, ou no casa de haver lacunas, uma
integração. Caso a declaração apresente, no seu conteúdo, um sentido inequívoco, nesse caso não
há necessidade para qualquer interpretação, porém, contrariando o que se costuma dizer (in claris
not fit interpretativo, isto é, se algo for claro não há necessidade de interpretação) sabendo que não
há qualquer inequívoco, teve já de haver uma interpretação.

É de notar que uma interpretação é diferente de uma avaliação. A primeira, por um lado, é
captar o sentido do conteúdo, no caso, da declaração, a outra é analisar se tal sentido captado
corresponde com a lei ou não, ou até se tem razoabilidade. Pode haver conteúdo da declaração
objetivo, como os estatutos de uma associação/fundação ou clausulas contratuais gerais.

Interpretação da declaração negocial


Portanto, como aferido, quando numa declaração negocial o sentido do seu conteúdo é
obscuro e é preciso captá-lo afim de entender o que da declaração o declarante quer, estabelece
para a interpretação da declaração negocial o artigo 236º, apenas para relações receptícias (para as
não receptícias, como o testamento, estabelecem outros artigos que tratam especificamente o
assunto, como o artigo 2187º). Diz-nos esse artigo que, em caso de dúvida em captar o sentido da
declaração, nota-se que o legislador escolhe uma tese intermédia (nem uma posição objetivista, ou
seja, prevalece aquilo que o declaratário deduz da declaração, apenas vale a declaração protegendo
a confiança do mesmo e do tráfico jurídico; nem uma posição subjetivista, ou seja, em que prevalece
a vontade real do declarante protegendo aquilo que o negócio jurídico visa assegurar: a realização
da autonomia privada), ou seja, o sentido ao qual prevalece a declaração negocial é aquele que se
pode deduzir do comportamento do declarante podendo o declaratário normal conhecer. O que se
entende por declaratário normal é importante de referir, sendo este um declaratário instruído e
atento, tendo capacidade plena de entender o comportamento do declarante. Aqui, na
interpretação, interessa a expressão da vontade do declarante, (assim que emitida a vontade do
declarante na declaração é isso que vale como representação da sua vontade, e vale por si, e não há
declarações erradas, há declaração adequadas à vontade ou não) é esse o objetivo da interpretação,
só aquilo que é externo pode o tráfico jurídico conhecer, tendo em atenção a vontade real do
declarante (é nessa direção que fala o artigo 236º, nº1, chegar à real vontade do declarante, apenas
se o declaratário possa deduzir, ou seja, uma pessoa diligente e atenta, um declaratário normal), não
dizendo aquilo que da declaração se percebe, dizendo, ao invés, aquilo que o declaratário possa
deduzir do comportamento do declarante (não podendo deixar o declaratário num estado de
absoluto desconhecimento). Até ao limite, tenta-se chegar à real vontade do declarante,
protegendo, naturalmente, a confiança do declaratário. Ou seja, tem que se proteger o tráfico
jurídico, mas sem deixar de se proteger a função do negócio jurídico, que é a autonomia privada.
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Nas declarações deve haver, em principio, coincidência entre o comportamento do
declarante e a sua vontade real, porém, por vezes isso não acontece. No artigo 236º, nº1, emprega
essa coincidência, sendo o declaratário normal a responsabilidade é a do declarante no risco do uso
linguístico (que deve ser comum a ambos) visto que aquele, com o uso da sua autonomia privada,
poderia expressar-se da forma que quisesse para se fazer entender, caso não o tenha feito, o risco é
da parte dele. Apenas no caso do declarante não puder contar com o comportamento que o
declaratário deduza é que o risco do uso linguístico e entendimento é que são imputados ao
declaratário, pois não o fez da melhor forma possível. Por exemplo, se o declaratário não deduzir
bem o sentido de propósito. A questão de fazer uma declaração adequada é, na verdade, fazê-lo
com o uso comum linguístico de modo aos dois entenderem.

Sempre que o declaratário conhecer a vontade real do declarante é com esse sentido que
deve valer, e é o que consta no artigo 236º, nº2. Este artigo prevê as situações em que o declarante
e declaratário se exprimiram mal mas ambos sabem qual é o sentido que ambos querem, são os
casos chamados falsa demonstratio. Estas situações excluem o declaratário normal, visto que não faz
sentido nenhum vincular duas pessoas que não se querem vincular àquele sentido por se terem
expressado mal, mas entendem o que querem. As situações de falsa demonstratio podem ocorrer
pelas partes terem-se expressado mal propositadamente (por exemplo, usando códigos para se
entenderem); por elas terem sido desleixadas ou até porque não sabem os termo técnicos, e
acabam por se expressar incorretamente. De qualquer das maneiras, o que vale nestas situações em
que as partes entendem o que querem mas expressam-se mal nas declarações, o que vale é a
vontade real (falsa demonstratio non nocet, ou seja, a vontade real é que conta). Deve distinguir-se
o instituto de simulação desta que acabamos de falar. Enquanto que esta as partes pretendem
aquilo que declaram, apenas o fizeram inadequadamente; na simulação, as partes não querem
aquilo que declaram, apenas o fazem para enganar terceiros.

A distribuição do risco de entendimento é distribuída no artigo 236º, nº1. Há uma certa


prevalência do sentido objetivo da declaração, que é justificado pela proteção das legitimas
expectativas do declaratário e da segurança no tráfico jurídico. Existem, porém, limites a essa
prevalência, quando a vontade real do declarante é de tal forma contraditória com a interpretação
que foi feita pelo declaratário normal, interpretação que o declarante nunca pensou, podendo este
anular com base no erro sobre o conteúdo da declaração (247º). Como o risco de ser mal
interpretado está do lado do declarante, é neste lado que se devem verificar as anulações no erro
sobre a própria declaração. Esta anulação, por sua vez, irá conduzir a uma instabilidade no tráfico
jurídico, que é legitimada pela proteção da autonomia privada do declarante, ao qual esta a ser
abusivamente ferida. Desde modo, a proteção objetiva da declaração apenas consta no estreito
corredor entre as legitimas expectativas do declaratário e a segurança do tráfico jurídico, a não ser
que a vontade real do declarante seja excessivamente abusada.

Quando quem interpreta não consegue retirar um só sentido da declaração, aplica-se o


artigo 237º, quando a interpretação vê esgotados os instrumentos para chegar ao sentido real. Nos
negócios formais (238º) nota-se que se aplica o falsa demonstratio non nocet, a não ser que a razão
determinante de forma se opuser à vontade das partes, e aí aplica-se o 220º, anulando-se o negócio
por inobservância da forma.

Integração da declaração negocial


No caso da declaração negocial não apresentar um sentido obscuro, mas sim lacunas, ou
seja, incompletudes que protendem a uma completude jurídica, ou seja, no âmbito da declaração
negocial global, é omissa uma clausula que expressa a vontade das partes, mas elas não se

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aperceberam dessa incompletude. Nesse caso, e caso não sejam aplicadas nenhumas normas
supletivas, aplica-se o artigo 239º. De acordo com ele, caso haja uma lacuna, a declaração negocial
deve ser integrada de acordo com a vontade que as partes teriam tido caso soubessem da existência
do ponto omisso, ou de acordo com os ditames da boa-fé, quando não seja outra a solução imposta
por elas. Portanto, se houver legislação especial, não se aplica o artigo 239º; se as partes souberem
das lacunas, então trata-se de um caso abrangido pelo artigo 232º, pois o contrato conclui-se tendo
as partes acordado, ou não se concluiu pois as partes não concordaram, mas são casos abrangidos
pelo artigo 232º, não 239º. Este último apenas se aplica quando as partes da lacuna não se
aperceberam na conclusão do contrato. Ou então que as partes não tenham acordado numa parte
essencial do negócio. Nestas situações pode tornar-se necessário aplicar-se o disposto do artigo
239º.

Este artigo tem duas opções no âmbito da integração de uma lacuna quando as partes dela
desconhecem e quando não haja uma norma supletiva respetiva ao caso. A declaração tem que ser
integrada em harmonia com a vontade que as partes teriam tido se soubessem do ponto omisso, ou
seja, estamos na presença de uma vontade presumível; ou então, quando outra seja a solução pelas
partes imposta, devem agir nos ditames da boa fé, ou seja, aqui estamos na presença de uma
situação atual dada pelas partes, uma solução que as partes imposeram se presumirem o seu
comportamento contando com o ponto omisso. É de esperar que, na integração, o objeto do
negócio jurídico nunca pode ser alargada por esta, tem sempre que se manter dentro do âmbito
negocial.

A invalidade do negócio jurídico


As causas e as modalidades típicas e atípicas da invalidade e suas consequências
para os efeitos do negócio jurídico: enunciado geral.
Em principio, um negócio jurídico é válido, e por isso produz os seus efeitos jurídicos, a não
ser que se verifique algum condicionalismo de caráter legal ou voluntário, não sendo eficaz nesse
caso, ou seja, não produzindo os efeitos pretendidos pelas partes. Porém, os efeitos do negócio
jurídico podem já vir prejudicados ab initio, isto é, desde o inicio da sua formação, da sua génese, ter
uma deficiência genética que faça com a lei tenha impossibilidade de proteger os seus efeitos. O
negócio, caso tenha algum problema genético, diz-se ser inválido, e podem várias ser as causas disso
– o negócio não está em conformidade com as exigências legais estabelecidas não sendo possível o
negócio concretizar a sua principal função do negócio jurídico, isto é, a autonomia privada.

O negócio jurídico vai se aperfeiçoando até ao momento da sua conclusão, sendo depois
emitido pelo declarante, podendo ou não torna-se eficaz nos termos do artigo 224º. É, por isso, no
momento da emissão que se percebe a validade do negócio jurídico. Não estando cumpridos os
requisitos estabelecidos pela lei para a validade do negócio jurídico, como por exemplo, a
observância das partes no negócio (têm que ser aptas a realizar o negócio, não podendo ser, por
exemplo, crianças ou inabilitados); o objeto negocial tem que ir ao encontro do estabelecido no
artigo 280º; a declaração tem que estar expressa de uma forma adequada. Estando os requisitos
para o negócio ser válido, e sendo-o, poderá adquirir eficácia, indo ao encontro com o seu
destinatário ou não (224º). A eficácia acontece no momento da emissão da declaração negocial, no
caso de uma declaração não receptícia, sendo um elemento exterior ao negócio, e embora não se
distinga temporalmente da emissão são coisas diferentes. Ou seja, a validade e invalidade, por um
lado, e a eficácia e ineficácia, por outro lado, apresentam-se em duas bolhas diferentes, aquela, do
lado temporal, antecede-se a esta; do lado da atuação aquela atua intrinsecamente, do lado dos
elementos que formam o negócio, e a outra atuam do lado externo, condicionalismos que
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influenciam a produção de efeitos do negócio, pelo lei ou vontade das partes, de uma forma total ou
parcial.

No caso de ocorrer uma invalidade, esta irá repercutir numa face posterior da sua
invalidade, o que faz sentido, visto que um negócio com uma deficiência genética não poderá estar
apto a produzir os efeitos na esfera exterior, sendo que interiormente não o está. Desde modo
podem reconhecer-se dois modos de ineficácia, a que se chama ineficácia em sentido restrito
(ineficácia direta, imediata) que resulta da elementos exteriores ao negócio, como é o caso de
condição ou termo, da inoponibilidade da invalidade ou até mesmo a ratificação. No entanto,
contrariando esta ineficácia, existe outra que resulta da invalidade que causa a ineficácia
posteriormente, a chamada ineficácia em sentido amplo (ineficácia indireta, mediata), que resulta
do reconhecimento da invalidade do negócio jurídico, causando essa deficiência intrínseca ao
negócio jurídico uma ineficácia do mesmo, a ineficácia por invalidade. Esta diferença tem grande
relevância prática, pois enquanto que a ineficácia por invalidade, em sentido amplo, são aplicadas as
regras dos artigos 285º a 294º, enquanto que a ineficácia em sentido restrito são aplicadas as regras
do enriquecimento sem causa (473º).

Não conhece a parte geral um regime como a não produção de efeitos jurídico, como
conhece o Direito da Família, porém trata aquela de uma forma supérflua o que é a inexistência dos
efeitos jurídicos. Pode ser dado como exemplo o artigo 246º, “não produz qualquer efeito”.

As consequências da invalidade do negócio jurídico em pormenor


Como já se sabe, a invalidade de um negócio ocorridas umas das causas de invalidade leva,
ou à nulidade ou à anulabilidade, ficando o negócio jurídico privado de uma forma completa
produzir os seus efeitos (ou porque não os vai produzir, ou porque ficam esses efeitos dependentes
de uma anulação). Como também já se sabe, as consequências da invalidade, no caso da nulidade, é
a não produção dos efeitos jurídicos pretendidos pelas partes e, ao comando da lei, se for o caso, a
produção de efeitos laterais; no caso da anulabilidade os efeitos jurídicos pretendidos são
produzidos, porém, com uma dependência de uma anulação. Na realidade, a invalidade de um
negócio jurídico, na realidade vivida, não se difere muito de um negócio válido, ou seja, para a
realidade vivida, para as pessoas, tudo se passa, aparentemente, como se o negócio jurídico fosse
válido (por vezes nem as partes se apercebem), mas não é, objetivamente. Vê-se, então, uma
distinção entre a realidade de facto e a realidade vivida (existe um negócio jurídico invalido que,
para todos, é válido).

Para destruir as falsas aparências é, então, necessário agir e dar os corretos passos para que
a realidade aparente não se consolide na realidade objetiva e permaneça assim. Então, sob pena da
realidade jurídica não coincidir com a realidade de facto, a invalidade carece de ser invocada,
enquanto não for, as aparências mantém-se e tudo se passa como se o negócio fosse válido, não
sendo. A este respeito o Código Civil consagra nos artigos 285º a 294º o regime regra da nulidade e
anulabilidade, que é preciso invocar. Normalmente, a invocação é feita pelas partes e interessados,
mas também pode ser feita por ação judicial. Os efeitos da nulidade e anulabilidade em termos
temporais são os mesmos: efeitos retroativos, restituindo-se tudo o que tiver sido prestado, ou se
não for possível, o valor correspondente (indemnização por equivalência)(289º). Conclusão: os
efeitos da invalidade são dois, (1) a eficácia retroativa da nulidade-anulabilidade; (2) a restituição das
prestações ocorridas, ou seja, tudo se passa como se o negócio não tivesse ocorrido.

A situação de nulidade e anulabilidade são diferentes. Enquanto que os efeitos da nulidade


são como se nunca tivesse ocorrido o negócio, tendo efeitos retroativos e restituído tudo o que tiver
sido prestado, excetuando-se os efeitos de natureza lateral, na anulabilidade há a constituição de
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direitos que vão permanecer na realidade jurídica de uma forma provisória, sendo destruídos
posteriormente pela invocação da mesma. Enquanto numa, de uma forma provisória, se constituem
efeitos para serem destruídos, caso as partes assim o queiram, noutra os efeitos, sem ser os laterais
(se os houver), “nunca se vão produzir”.

As pessoas legitimadas para invocar a invalidade


Na anulabilidade
Para acabar com as aparências falsas criadas pelo negócio jurídico invalido, cuja realidade
jurídica não coincide com a realidade de facto, é preciso invocar tal invalidade. Porém, até para a
segurança no tráfico jurídico, não é qualquer pessoa nem a todo o tempo que se pode invocar a
anulabilidade.

Em primeiro lugar, as partes, que são as mais interessadas ao quererem resolver o negócio
por acordo. Disso consta o artigo 291º, nº1, artigo que não interfere nem fere o artigo 406º, onde
diz que as partes pode modificar ou extinguir o negócio jurídico. Se as partes não chegarem a um
acordo, pode recorrer-se à nulidade no artigo 286º (se for o caso) ou à anulabilidade (287º).

Do que consta do artigo da anulabilidade, as pessoas que podem invocar a invalidade são
todos os interessados que a lei estabelece, e a lei pode dizê-lo expressamente, como no artigo 178º,
ou então não o dizer, e nesse caso tem que se fazer uma interpretação da lei no sentido de saber
quem é que a lei pretendia proteger com a invocação da anulabilidade, no direito privado e
interesse privado, invocado o principio da razoabilidade. Se a ação de anulabilidade não for
intentada ou julgada procedente, então o negócio produz os seus efeitos (embora de uma forma
provisória), e é tratado como se fosse válido, embora não o sendo. Porém, caso o prazo para invocar
a anulabilidade, que é dentro do ano subsequente à cessação do vício que lhe (interesse) serve de
fundamento, findar, o negócio jurídico consolida-se e a sua validade tem efeitos retroativos desde o
momento da sua celebração. É de notar que a invalidade diz respeito a todo o negócio e não apenas
à declaração de vontade feita por aquele que invocou a anulabilidade.

Na nulidade
Para a arguição da nulidade, e dada a sua maior gravidade, dado que além de poder ferir
interesses privados, é também do interesse geral (como acontece no caso de inobservância de
forma), qualquer interessado pode invocar a nulidade e a todo o tempo, ou seja, não existem
dependências de prazos, contrariamente, em ambos os casos, à anulabilidade. A invocação da
nulidade corresponde a um direito potestativo extintivo.

Enquanto a ação de nulidade não for intentada ou julgada procedente, pode o negócio
aparentar falsamente ser válido, dado que o negócio nulo não produz qualquer efeito (à exceção dos
laterais ao comando da lei, como é o caso dos efeitos obrigacionais que advêm da nulidade de uma
venda de bens alheios), podendo, porém, produzir efeitos de facto, feito pelas partes, dado que
nenhuma tem consciência da nulidade, entre elas, tudo se passa como se o negócio fosse válido,
mas não o é.

A legitimidade para invocar a nulidade é mais abrangente em comparação com a


anulabilidade, pois qualquer interessado o pode fazer. É de constar, porém, que qualquer
interessado não é qualquer pessoa como estabelece o 1630º, nº2, mas sim toda a pessoa cujo
interesse moral, social ou económico foi atingido, de qualquer das maneiras. A legitimidade para o
tribunal também invocar a nulidade prende-se com o facto de um negócio cuja gravidada provoca
uma nulidade também atingir ou poder atingir o interesse público.

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Os negócios jurídicos sobre os quais impende a sanção de nulidade
Negócios realizados sem capacidade negocial de gozo
De uma sanção tão grave quanto a nulidade tem que vir uma deficiência genética tão grave
quanto ela. É normal que, sendo uma deficiência genética as razões de invalidade, que elas venham
antes do negócio se concluir, na sua formação, e a primeira necessária à observância legal do
negócio e imprescindível à sua concretização é a capacidade negocial de gozo que, aliás, é insuprível,
e por isso a sua sanção é a nulidade. A capacidade negocial de gozo é a faculdade que uma pessoa
tem de ascender aos seus direitos e obrigações e ser titular deles, e para isso necessita de ter sã a
sua vontade. Não é possível realizar um negócio em cuja titularidade seja do incapaz ou menor, e
por isso, é uma causa da invalidade do negócio, uma deficiência genética, uma impossibilidade de
participar no tráfico jurídico que impede o negócio de ser realizado, de uma forma tão grave que a
sanção tem de ser a de nulidade.

Negócios celebrados contra a lei


Quando as pessoas possuem capacidade negocial de gozo, no estabelecimento das suas
relações jurídico-privadas tem que agir nos limites que a lei estabelece contra o abuso e poder
ilimitado dos privados, caso contrário estaria a autodestruir-se o principio. A razão pela qual este
tipo de negócios são nulos deve-se ao facto de as partes que neles intervêm serem capazes, do
negócio ser possível, porém, o conteúdo, fim ou circunstâncias em que se inserem os negócios sejam
desaprovados pela lei, como estipula o artigo 294º, seja, negócios contra a lei, a não ser em negócios
específicos, outra estipulação resulte da lei, o 294º é, portanto, a regra fundamental de nulidade em
negócios contra a lei, mas como em tudo, há exceções.

No entanto, na falta de estipulação expressa, deve ter-se em atenção a finalidade que o


legislador visa chegar com a proibição legal ou norma imperativa, se visa o conteúdo do negócio ou
fins ulteriores a ele. Por exemplo, o artigo 160º, nº2, não expressa nenhuma sanção para a violação
do exposto, pelo que deve interpretar-se de acordo com os fins visados pelo legislado a aplicar
sanção, será que se deve aplicar o artigo 294º? Por exemplo, a venda de bebidas alcoólicas a
menores é nulo, por ter em vista o conteúdo do contrato, é essa a sanção, o fim que o legislador visa
sancionar, porém a venda de produtos fora de horas já tem a finalidade fins ulteriores, como
concorrência leal, pelo que não se vê necessária a nulidade, por isso é válido.

O artigo 294º abrange, não só negócios que violam diretamente a lei, como também os
chamados negócios sucedâneos, ou seja, negócios em que as partes defraudam a lei, mas têm os
mesmo efeitos que os negócios contra a lei. Desta forma um negócio pode ser nulo por ser
diretamente contra a lei, como também por ser uma fraude à norma imperativa. Ou seja, se a norma
imperativa quiser vedar, não só a situação em causa mas também situações com efeitos
equivalentes, a norma vale também para essas situações, por exemplo, se as partes não realizarem o
negócio por ser contrário à lei mas, ao invés disso, realizarem um negócio com efeitos equivalentes,
também é nulo, mesmo que as partes não se apercebam que fizeram um negócio sucedâneo.

Negócios com conteúdo (objeto ou fim) desaprovado pela ordem jurídica


Do que consta no artigo 280º, são nulos os negócios cujo objetivo seja: fisicamente
impossível; legalmente impossível; contrário à lei; indeterminável; contrário à ordem públicae
ofensivo dos bons costumes.

Do objeto do negócio ser fisicamente impossível compreendem prestações que não sejam
realizáveis na esfera dos factos ou das leis da natureza. É, portanto, uma possibilidade objetiva com
uma capacidade de evolução técnica (por exemplo, ir à Lua é possível mas a Marte ainda não é).
Quando se trate de uma prestação de algo não fungível, é impossível sempre visto que não é
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possível substituição. Dele ser legalmente impossível compreendem negócios que a lei não prevê
tipos negociais nem meios para a sua realização. Destas situações sobressai, por exemplo, a situação
que a lei não prevê de venderem-se coisas fora do comércio jurídico. Dele ser contrário à lei
compreendem os negócios que são legalmente possíveis, ou seja, a lei prevê um tipo negocial para
aquele negócio, os negócios que são fisicamente possíveis, ou seja, são possíveis no domínio dos
factos e não contrários às leis da natureza, mas são contrários à lei, contrariam normas imperativas
(por exemplo, 2232º). Dele ser indeterminável, por fim, ao abrigo do 280º, nº1, significa o negócio
jurídico não poder ser concretizado ou individualizado, por exemplo, uma prestação ser o “bom
comportamento” ou um saco de cereais, não se sabe bem o que é isso, não é possível concretizar ou
individualizar.

Relativamente ao nº2 do artigo 280º, o negócio jurídico é contrário à ordem pública se não
for compatível com ela – ordem pública sendo o conceito jurídico indeterminado que é, ou seja, um
conjunto de princípios gerais que se tiram de um conjunto de normas imperativas –, e é ofensivo dos
bons costumes se o objeto for imoral – sendo os bons costumes normas flutuantes (variam de
tempo e lugar) de conduta de caráter não jurídico, a moral. Estando os bons costumes sujeitos a um
pluralidade de lugar e alterações temporais, é de grande dificuldade alcançar um conceito. A
violação de qualquer das hipóteses do 280º, nº1 e 2 só é possível invocar se for algo inerente à
sociedade atual e for uma violação manifesta. No que toca, especificamente aos bons costumes,
este conceito não pode ser uma conduta individual, ficando esvaziado o 280º, nº2, têm que ser um
conceito determinadamente objetivo pela ordem jurídico e estar na consciência jurídica geral (por
exemplo, um comprador não querer saber da proveniência do sitio de onde compra a sua fruta, caso
fosse uma norma de conduta individualizada, poderia ser preenchida pelo artigo, porém tem que ser
um conceito geral).

Do 280º, nº1 também se pode retirar que a subordinação do negócio jurídico a uma
condição ou termo ilícito ou impossível também impende à nulidade do mesmo, dada a ligação
incindível que aquele tem com estes.

No caso de ser apenas o fim do negócio jurídico e não o objeto contrário à lei ou à ordem
pública, ofensivo dos bons costumes consta do 281º que o negócio é nulo quando o fim é comum a
ambas as partes.

Em principio, o fim ou os motivos do negócio jurídico não são juridicamente relevantes (o


erro sobre os motivos, estes não são relevantes para o negócio jurídico), porém, quando o fim for
comum a ambas as partes isso já não funciona assim. Se o fim, por exemplo, for comum a ambos,
então significa que ambas as partes tentar fraudar a ordem jurídico com um negócio que ela
desaprova. Por exemplo, a constituição de uma empresa que venda drogas, a constituição da
empresa em si é lícita, porém o fim a que ela tende já é ilícito – a venda de droga.

Os negócios celebrados sem observância legal de forma


A nulidade que resulta da inobservância legal de forma, sendo a exigência de forma uma
exceção do principio da liberdade de forma que se exige nos negócios jurídicos (219º), serve de uma
maneira geral, para proteger o interesse público que a forma tende a incentivar. A exigência que o
legislador atribui à forma de um negócio jurídico para proteger o interesse público é tido com um
requisito de validade do próprio negócio, tal como não poderia deixar de o ser a forma de um
negócio que tende a proteger algo maior – interesse público. Nessa medida, a sanção prevista na lei
para a inobservância de forma legal é a nulidade, invocada nos termos do artigo 220º. Embora a
nulidade seja a sanção legalmente prevista, podem outras ser as sanções que a lei preveja, de modo
a proteger melhor o interesse público e a justiça, de moda a que não seja um encargo
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excessivamente grave para o declarante, apenas um inconveniente. Por exemplo, a sanção da
inobservância legal de forma para o arrendamento não tem que ser a sanção (1069º, nº2).

Não estamos, no entanto, perante uma nulidade por inobservância de forma quando a
ordem jurídico apenas exige um documento para efeitos de prova (364º, nº1) – forma ad
probationem. Também não estamos quando a lei apenas exige uma declaração expressa, e não um
documento em que o formato do negócio jurídico deve ter. Por fim, também não é inobservância de
forma quando se está perante estipulações verbais acessórias (e deste preceito resulta todas as
formas legalmente inferiores àquela de que resulta o negócio jurídico) posteriores ou anteriores de
que resultam os preceitos dos 221º, 222º e 223º. Ou então, a não observância da forma
convencional, e aí presume-se que as partes não se quiseram por ela vincular, e a consequência é a
não conclusão do contrato (232º). Para se invocar a nulidade com base no artigo 220º é necessário
que um requisito de validade seja a forma do negócio jurídico exigido por lei.

Quem pode invocar a nulidade, com base nos artigos 220º (baseando-se este no artigo
286º), como resulta deste último, é qualquer interessado que, possivelmente, tenha sido atingido
pelo negócio jurídico em causa. Pergunta-se, então, se pode a pessoa que induziu e incentivou o
declarante a realizar um negócio jurídico, conscientemente ou não, a inobservância legal de forma?
Pelo facto da observância legal de forma ser um requisito suscitado pela proteção do interesse
público, é natural que essas pessoas estejam incluídas na invocação da nulidade para a proteção do
interesse público (nas situações de exigência de forma praticamente toda a gente, pois toda a gente
é interessado pela proteção do interesse público).

Há quem nestas situações queira invocar o abuso do direito (334º), porém tem que se
refletir sobre as razões de observância legal de forma. É o artigo 227º que contém as regras
suficientes para não se invocar o abuso do direito, podendo ser invocada uma indemnização por
danos causados. Porém, por vezes, não é suficiente a indemnização, nos casos limites, sendo preciso
invocar o abuso do direito. Por vezes a justiça prevalece ao interesse público e forma fica apenas
como um formalismo, não podendo ser a nulidade um incomodo demasiado grande para o
declarante, apenas um inconveniente suportável. Nessas situações o negócio jurídico é visto como
válido, apesar dos formalismos não observados.

Os negócios celebrados com falta de vontade


Enunciado geral
A última das causas da nulidade é a divergência entre o fator volitivo final, ou seja, a
chamada vontade real ou interna, e o fator declarativo, o tal comportamento exteriormente
observado que permite, quando convergente com aquela, a aparência com a vontade real do
agente. Porém, por vezes, sendo uma realidade intencional ou não, a vontade real e a declaração de
vontade não coincidam, o que leva a consequências diferentes. Os artigos relativos à divergência (ou
falta) de vontade encontram-se nos artigos 240º a 250º, e as seis figuras distinguem-se entre si
consoante a sua intenção. Caso a divergência seja intencional temos as figuras de simulação (240º-
243º), reserva mental (244º) e declaração não séria (245º); e dentro das divergências não
intencionais, temos as forçadas (coação física – 246º) e as ignoradas, tais como a falta de consciência
de declaração (246º) e o erro na declaração.

Em termos gerais, em primeiro lugar temos três figuras que se podem agrupar por traços
estruturantes equivalentes. A simulação, reserva mental e declaração não séria são todas
intencionais e acontece sempre o mesmo: o declarante nunca quer o declarado e sabe disso. Porém,
no que toca ao declaratário, espera-se deste comportamentos diferentes. Espera-se que o
declaratário saiba e concorde, seja a vitima ou compreenda a falta de seriedade, respetivamente. No
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que toca à intenção do declarante, este quer enganar um terceiro, enganar o declaratário ou
ninguém, respetivamente. No que toca à simulação, esta é definida nos termos do artigo 240º, nº1 e
encontra-se regulada nos artigos seguintes. Esta consiste numa divergência intencional entre a real
vontade do declarante e a sua declaração. Esta divergência é conhecida e querida pelo declaratário,
servindo aquela para enganar terceiros. A consequência desta figura é a nulidade. Sumariamente, a
simulação consiste numa ficção de uma declaração que nem o declarante nem o declaratário
querem, e têm a perfeita consciência disso, é uma declaração que serve para não valer. Quanto à
reserva mental, esta é definida nos termos do artigo 244º e consiste na divergência entre a
declaração do declarante e a sua real vontade, que resulta da sua vontade de enganar o
declaratário. A reserva não prejudica a validade do negócio, a não ser que o declaratário saiba do
intuito do declarante, sendo a nulidade, neste caso, a sua consequência. Quanto à declaração não
séria, este consiste na divergência entre a real vontade e a declaração, porém, nesta figura o
declarante espera que o declaratário perceba a falta de seriedade que é característica da declaração,
como no contexto de uma aula.

Podemos também agrupar três figuras com traços estruturantes iguais, porém que se
diferem entre si. Em todas estas as figuras estamos, não perante uma divergência de vontade no
sentido do artigo 217º, mas sim de um ausência total de vontade, o declarante declara a sua
declaração mas não quer. Seria de esperar que, sendo a declaração um requisito de validade do
negócio jurídico, também a vontade o seja, pelo que a falta dela traria, não a invalidade dele, mas a
sua inexistência. O Código Civil não reconhece isso, porém diz que “carece de qualquer efeito”
quando falamos destas figuras, ou seja, não existem quaisquer efeitos, quer pretendidos (que não o
há) ou laterais pelo comando da lei. Quando à falta de vontade no sentido do artigo 246º, ou à
coação física no mesmo artigo, consta dele que a declaração não produz qualquer efeito. O primeiro
caso consiste numa declaração que o declarante não quer por não ter consciência que a fez. Ele tem
vontade de ação, não tem, porém, vontade negocial. Ele não sabe que está a realizar o negócio que
está (chama-se aqui o celebre exemplo do leilão); quando à segunda figura, aquela consiste numa
aparência de uma declaração, o declarante nunca quis declarar o que declarou, só o fez por ter sido
instrumentalizado por alguém e coagido a declarar algo contra a sua vontade, não tendo, nesta
situação, nem vontade de ação.

Quando ao erro na declaração, regulada nos artigos 247º a 250º, é esta uma figura
completamente diferente daquelas já estudadas. Esta consiste, não num desvio ou ausência
intencionais, não numa ausência total de vontade, mas sim num desvio da vontade no processo
declarativo, sendo a vontade do declarante real, nunca fingida. Esta figura consiste no declarante
fazer uma declaração que não quer, pelo simples facto de se ter enganado, sem aperceber, a realizar
tal declaração, exprimiu-se mal, é apenas um desvio àquilo que realmente quer, mas existe uma
vontade mal exprimida. Por causa disso, não sendo um erro tão grave, a consequência é a
anulabilidade, não a nulidade, desde que o declaratário soubesse ou não devesse ignorar a
essencialidade do elemento sobre o que incidiu o erro.

Simulação

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Reserva mental (244º)
A reserva mental o caso em que há divergência entre a declaração e a vontade real do
declarante, sendo aquela intencional e com o objetivo de enganar o declaratário. Portanto, os
requisitos para que se possa invocar a reserva mental são haver uma divergência entre a vontade
real do declarante e a declaração e ter o declarante o intuito de enganar o declaratário. O legislador
distingue esta figura como sendo conhecida do declaratário ou não, e aplica-lhe regimes diferentes,
não diferenciando ele se a reserva é fraudulenta ou inocente. No caso do declaratário não conhecer
a reserva, o negócio é válido (“não prejudica a validade”) dada a segurança jurídica e expectativas do
declaratário que para a ordem jurídica é mais importante de proteger que a real vontade do
declarante. No caso do declaratário conhecer a reserva a negócio é nulo (240º, nº2), dado que não
pode a ordem jurídica proteger o declaratário estando este num estado de conhecimento do intuito
do declarante, aquela não precisa de proteger, neste caso, a expectativa do declaratário assim como
o tráfico jurídico. Esta figura destaca-se da simulação pois o intuito de engana são de pessoas
diferentes.

Tal como a simulação, na reserva também não é possível opor a terceiros de boa fé, assim
como acontece na simulação relativa, também pode haver como uma reserva mental relativa, ou
seja, se por detrás da reserva ocorrida houver um negócio que o declarante e declaratário queiram
fazer, prevalece a vontade dos dois e anula-se o dissimulado (241º). Por fim, no caso da reserva for
motivada por razões morais ou de caridade, pode arguir-se o abuso de direito (334º), por exemplo,
no caso de uma doença terminal de A, e para isso B diz que lhe dá o seu carro, e a mulher percebe
que este negócio foi uma reserva e que serve apenas para deixar contente o marido terminal, no
caso de A morrer, não poder arguir a propriedade a mulher a propriedade do carro, que sabia da
reserva (terceiros), não podendo, porém, ser arguido para terceiros de boa fé (243º).

Declaração não séria (245º)


A declaração não séria consiste em mais um exemplo de divergência entre a declaração e a
vontade real do declarante, regulado no artigo 245º. Neste caso temos a situação de uma declaração
real que o declarante pretende que, pelo contexto, se perceba (no caso, o declaratário) que tal
declaração não é para ser encarada com seriedade, pelo contexto de divertimento/jucoso/didático a
que está submetida a situação, sem qualquer intuito de enganar ninguém. O artigo 245º é claro
quando diz que “carece de qualquer efeito” a declaração não séria, podendo, porém, acontecerem
efeitos de cariz não negocial, como resulta do nº2 do mesmo artigo, “tem ele o direito de ser
indemnizado pelo prejuízo que sofrer.” se “a declaração for feita em circunstâncias que induzam o
declaratário a aceitar justificadamente a sua seriedade”. Esta indemnização não é vista como uma de
responsabilidade civil pelos danos sofridos propriamente dito, mas sim em virtude do dano de
confiança, ainda que não propositada. Este dano de confiança liga-se com o comportamento
exteriormente observado que induziu o declaratário em erro, pelo contexto também ele justificado,
ou seja, pelo comportamento do declarante e a confiança que o declaratário depositou nesse
comportamento. São, porém, necessários três pressupostos para que se possa arguir a
indemnização:(1) o declaratário ter tomado a sério a declaração não séria; (2) a atitude que levou ao
engano o declaratário foi provocada pelas circunstâncias do contexto; (3) as circunstâncias que
levaram ao engano do declaratário são justificadas.

Falta de consciência da declaração e coação física (246º)


Estas duas figuras são distintas daquelas vistas até agora. Enquanto que a simulação, reserva
mental ou declaração não séria são intencionais e existe uma vontade, apenas está desviada, ou não
existe, mas existe uma declaração consciente, nestas situações não existe qualquer tipo de vontade,
é uma ausência de vontade, não uma divergência. Além disso, não há qualquer intenção de haver

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uma divergência entre a declaração e a vontade real. A consequência, quer da falta de vontade quer
da coação física é a mesma: ausência de produção de efeitos (claro está, não se excluem aqui efeitos
não negociais como a indemnização).

No caso da coação física, esta nem pode ser chamada de declaração negocial, visto que nem
é o declarante que faz a declaração, mas sim aquele que, ao instrumentar o aparente declarante, o
coage a agir, não tendo aquele sequer vontade de ação. A lei não estabelece se o declarante se
colocou ou não naquela situação, embora sejam poucos os caso de coação física. No caso de falta de
consciência há duas alternativas: (1) haver falta de vontade de ação; (2) haver vontade ação, não
existindo, porém, consciência que aquela ação significa aquela vinculação jurídica.

A ação, para ter significado jurídico, precisa de ser consciente. Atos reflexos ou inconscientes
não podem vincular alguém juridicamente. Aqui falta vontade de ação por completo, não havendo,
sequer, propósito de emitir uma declaração. A segunda alternativa, existe vontade de ação, a pessoa
quer agir, mas não daquela maneira que agiu perante os outros, por exemplo, ter vontade de emitir
uma declaração, mas de ciência e não negocial, ou então não se aperceber, não ter consciência que
determinada ação feita tem determinado significado jurídico, por exemplo, a criação de um vinculo
jurídico. Nas duas hipóteses a consequência é a mesma: ausência de efeitos (que mais uma vez não
significa ausência total, mas ausência de efeitos de cariz negocial e lateral ao comando da lei).

Todavia, se a falta de consciência foi devida a culpa do declarante deve este indemnizar o
declaratário que confiou numa declaração que não era verdadeira que, tal como na figura anterior a
estas não resulta de uma responsabilidade pré-contratual (227º) mas sim por responsabilidade por
danos por confiança (o fazer e desfazer de algo perante a expectativa de outrem).

Os negócios jurídicos sobre os quais impende a sanção de anulabilidade


Os negócios celebrados sem a capacidade de exercício
Como seria de esperar, os artigos 217º a 294º são dirigidos a pessoas capazes, apenas, por
isso o primeiro requisito para invocar estes artigos é a capacidade negocial, primeiro (e a sua falta
traz a nulidade, sendo tão grave a sua ausência), e depois a capacidade de exercício (sendo uma
situação menos severa, da sua falta resulta a anulabilidade). Da anulabilidade advinda da
incapacidade de exercício, esta pode também ser temporal, isto é, estar perante a figura da
incapacidade acidental (257º).

Os negócios celebrados contra lei e os negócios celebrados sem os necessários


consentimentos
Estabelece o artigo 294º que são nulos os negócios que forem celebrados contra a lei, salvo
outra solução que resulte da lei. Podem, então, em alternativa desta nulidade, resultar a
anulabilidade, se essa for a solução na lei. São igualmente anuláveis os negócios celebrados sem o
necessário consentimento, como muitas vezes acontece no Direito da Família.

Negócios usurários
Regulado no artigo 282º, o negócio usurário, no contexto da desaprovação do objeto
negocial pela ordem jurídica, resulta dele a situação de alguém, explorando a situação de
inferioridade de outrem, obtiver para si ou outrem benefícios excessivos ou injustificados. Por vezes
negócios que aparentem um negócio usurário são arguidos no âmbito da ofensa dos bons costumes
no âmbito do artigo 280º, nº2. A doutrina do artigo 282º aplica-se a todos os negócios jurídicos.

Este artigo, para a proteção do principio da proteção dos mais fracos limita o principio da
liberdade negocial que os individuos têm na sua autonomia privada. Ou seja, mesmo que possa

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haver um desequilíbrio formal no negócio, o artigo tende a proteger materialmente as disparidades.
Note-se, porém, que não serve este artigo para as pessoas, de modo a fugirem das suas
responsabilidades que dá a liberdade da autonomia privada para fazer escolhas livres, nele
assentarem, mas sim para proteger os mais fracos numa relação jurídica. Agir com base na
autonomia privada significa uma responsabilização por parte dessas ações. Resulta então que a
consequência do negócios usurário é a anulabilidade do mesmo, e sendo o mais interessado o
lesado, mesmo que não faça muito sentido, é ele quem invoca a anulabilidade. Faria mais sentido
estabelecer as mesmas consequências que os artigos anteriores, de forma a este regime ser eficaz.

São vários os pressupostos para se considerar um negócio usurário. Primeiro é de referir os


critérios da usura, subjetivos e objetivos, respetivamente, a exploração consciente da situação de
inferioridade de alguém para daí tirar benefícios, e esses benefícios serem excessivos ou
injustificados (sendo de constar que o conceito de excessivo ou injustificado fica a cargo do Juiz do
caso em causa, o que é excessivo?). Além disso, vale a pena analisar os pressupostos do artigo para
se poder invocar: uma situação de necessidade pode ser descrita como a situação de uma pessoa
que, para se libertar de tal situação imperiosa de necessidade, precisa de prestações para se libertar
das dificuldades; inexperiência é a situação de falta de discernimento de alguém que nunca o teve
ou perde-o (ainda não adquiriu a maioridade, privação longa de liberdade, velhice, falta de
habilidades profissionais, et caetera) sobre uma situação. A situação depende do tipo do negócio em
causa e deve ser analisado pelo contexto, além de que uma inexperiência é uma situação
independente provocada por condicionalismos externos e esporádicos (assume-se que alguém com
maioridade é capaz de agir com a sua autonomia privada, porém pode não acontecer por razões
externas); ligeireza é a situação característica de personalidade de alguém se comportar
imaturamente, imprudentemente, et caetera; dependência é a situação em que a autonomia
privada está limitada e dependente de um facto externo; estado mental é a situação de alguém ter
limitações, dada a sua situação mental ou emocional, para agir; fraqueza de caráter é a situação de
alguém não ser capaz de se comportar por causa de condições morais ou anímicas (como a
dependência tóxica, uma doença, et caetera).

Estando os pressupostos todos preenchidos (pelo menos um dos acima descritos, os critérios
objetivos e subjetivos) estamos perante uma usura, não sendo preciso a pessoa realizar o negócio,
ou ter-se a intenção de explorar, apenas tirar benefícios conscientes de alguém num grau inferior. O
Legislador dá, então, uma solução à anulabilidade do negócio no artigo 283º, nº1, a modificação do
negócios usurário e a sua confirmação pelo lesado das modificações que incidem nas clausulas de
benefícios excessivos e injustificados, podendo voltar a proteger o principio da autonomia privada
que foi limitado pelo 282º. Caso o negócio usurário constitua, simultaneamente, um crime, o artigo
284º prevê a não dependência de prazos da anulabilidade do negócio, escolhendo, de várias
hipóteses, daquela que menos lesa o lesado.

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A minoração das consequências da invalidade do negócio jurídico
Principio da conservação dos negócios jurídicos e suas expressões legais

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Dadas as consequências (pesadas, muitas vezes) da invalidade de um negócio que cria a não
produção de efeitos (nulidade) ou, ainda mais, no caso da anulabilidade, em que os efeitos
produzidos são destruídos, isto provoca uma grande instabilidade no tráfico jurídico, ainda mais
quando são atribuídos bens. Desta forma, a ordem jurídica vê-se obrigada a minorar as
consequências da invalidade de um negócio nulo ou anulável, para assim minorar as desvantagens
dos atingidos. Desta forma a lei aplica o chamada principio da conservação dos negócios jurídicos,
que tem prioridade lógica sobre os regimes de invalidade. Por exemplo, a existência de prazos para
invocar a anulabilidade é uma tentativa de estabilizar as consequências da invalidade do negócio
jurídico.

A aplicação das disposições relativas ao principio da conservação dos negócios jurídicos


dependem da existência de um negócio jurídico invalido, pelo que a inexistência de efeitos não
interessa para estes casos (245º e 246º), visto não existir nada que possa vir a ser conservado. Este
principio tem várias expressões (em relação às partes, em relação a terceiros, et caetera).

A conservação dos negócios jurídicos em relação às partes


A confirmação do negócio anulável
Segundo o artigo 288º, nº1, a anulabilidade é sanável mediante confirmação. A confirmação
põe termo à invalidade do negócio e à provisoriedade dos seus efeitos com efeitos retrativo, mesmo
em relação a terceiros (288º, nº4), tendo então sido cessado o vicio que fundava a invalidade. Como
é lógico, a confirmação tem os efeitos inversos da anulação. A confirmação compete à pessoa a
quem pertencer o direito de anulação e só eficaz quando for posterior à cessação do vício que serve
de fundamento à anulabilidade e o seu autor tiver conhecimento do vício e do direito à anulação.

Na melhor opinião, a confirmação é um negócio jurídico unilateral não receptício, pelo que o
comportamento concludente de uma confirmação basta para que se conclua tal intenção. Desta
forma o artigo 288º, nº3 estabelece que a confirmação pode ser tácita ou expressa, e não depende
de forma, diferentemente, por exemplo, da ratificação de um negócio ineficaz (268º, nº3).

Por fim, a confirmação pode ser integral ou parcial. De um negócio integralmente invalido
pode haver uma confirmação integral, ou seja, sanar a anulabilidade na sua totalidade, ou de um
negócio parcialmente invalido, confirmar essa parcialidade. Ou até o negócio ser integralmente
invalido mas se confirmado na sua parcialidade, tendo que ter autonomia jurídica e económica.
Nesta medida aparenta uma redução.

Redução do negócio nulo ou anulável


Diz o artigo 292º que a nulidade ou anulação parcial não determina a invalidade de todo o
negócio. A redução é, no fundo, a manutenção do negócio no caso de ele ser parcialmente invalido,
retirar dele o que é invalido e deixar o que é válido. Ou seja, o negócio fica reduzido à sua parte
válida, salvo quando se percebe que o negócio não tivesse sido concluído sem a parte viciada (292º),
uma vez que era uma parte relevante do negócio para os contraentes. De facto, está de acordo com
a autonomia privada as partes manterem no seu negócio a parte válida, eliminando a parte invalida,
desde que a parte viciada não tenha sido essencial para a conclusão do negócio.

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A conversão do negócio nulo ou anulável
A conversão, que não acontece automaticamente, mas de acordo com a harmonização das
vontades das partes, é uma solução à falta de capacidade de se aplicar a redução, em virtude de se
estar perante um negócio integralmente inválido. Diz o artigo 293º que pode converter-se um
negócio invalido num válido, com tipo e conteúdo diferentes, desde que tenha os requisitos
essências de substância e de forma, quando o fim prosseguido pelas partes fizesse supor que elas se
queriam vincular daquela maneira se não houvesse invalidade, podendo seguir a sua vontade
hipotética, desde que não seja, a forma ou substância mais vasta que a anteriormente prevista (não
se pode converter um contrato de compra e venda de um telemóvel em no de uma casa).

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