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Abordagens de reabilitação
neuropsicológica

O s primeiros relatos de procedimentos e técnicas de


recuperação de pacientes com lesões cerebrais datam do
século XIX, com os estudos das afasias disseminados
pelas efervescentes teorias de Paul Broca e Carl
Wernicke. Contudo, o tema só ganhou maior destaque com os estudos
das lesões cerebrais adquiridas (LEA’s), realizados por Alexander
Romanovitch Luria com soldados veteranos de guerra, em sua maioria
casos de traumatismo cranioencefálico. Ainda, o aumento dos carros na
sociedade gerou um aumento no número de acidentes de trânsito, com
vítimas que sobrevivem com diferentes sequelas cognitivas. Nesta ótica,
os sistemas de saúde se viram impelidos à idealização e elaboração de
programas.

Os protocolos sugeridos com base nos estudos de Luria, entretanto,


focavam na recuperação da função, não dando importância para outros
aspectos influentes no processo de reabilitação. Nos anos de 1980
floresceram diferentes programas de reabilitação, o que propiciou uma
ampla testagem de métodos e técnicas. Neste momento, o principal
objetivo era a restauração do funcionamento cognitivo, sendo um modelo
similar ao modelo de reabilitação física, ou seja, exercícios cognitivos
melhorariam a cognição prejudicada. O treino direto da cognição era o
método básico e a base teórica da Neuropsicologia Cognitiva.

Na década de 1990 surge uma nova proposta defendendo que, além do


treino direto (que não vinha apresentando resultados significativos ou

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suficientes para tornarem o tratamento protocolar), era necessário pensar


em metas funcionais. A chamada Abordagem Combinada foca na junção
do treino da cognição perdida com o estabelecimento de metas práticas.

Na mesma época, ganha força outra proposta de reabilitação que já vinha


sendo estudada desde os anos 1970. A Abordagem Holística, ou
compreensiva, veio para defender que, para além do treino e das metas,
uma grande influência no processo de reabilitação é o emocional e o
psicológico do paciente. Ou seja, “quando tentamos reabilitar os déficits
cognitivos, devemos prestar atenção, ao mesmo tempo, aos distúrbios
emocionais e motivacionais do indivíduo, ressaltando que o ambiente
social da reabilitação é um fator importante para a recuperação do
paciente” (MALLOY-DINIZ et al., 2015).

Um importante conceito que dá base para as intervenções em reabilitação


neuropsicológica é a neuroplasticidade, que se trata de um paradigma da
neurociência do século XXI, que veio substituir a ideia dualista de mente-
cérebro e propor uma nova explicação sobre as odisseias adaptativas do
cérebro. Conceitualmente, “pode ser definida como uma mudança
adaptativa na estrutura e na função do sistema nervoso, que ocorre em
qualquer fase da ontogenia, como função de interações com o meio
ambiente interno e externo, ou ainda como resultante de lesões que
afetam o sistema nervoso” (ABRISQUETA-GOMEZ, 2009).

Especificamente na reabilitação, a plasticidade responde às experiências


de treino, constantes e disciplinadas, levando a alterações
neuroanatomofuncionais.

Em geral, as abordagens em reabilitação neuropsicológica


trabalham sob alguns procedimentos técnicos, dentre os quais três se
destacam: a) o treinamento direto, que foca na recuperação da função
prejudicada; b) a compensação, trazendo a ideia de reorganizar a função

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neuropsicológica de maneira a diminuir o rebaixamento; e c) substituição,


que seria uma forma mais complexa de compensação que utiliza as
forças no quadro cognitivo do paciente para elaborar um método
personalizado de resposta para substituir o que foi prejudicado.

Importantes estudiosos da reabilitação neuropsicológica no Brasil,


como Barbara Wilson, levantam algumas problemáticas entre os
profissionais da neuropsicologia. Uma delas diz respeito à grande
dificuldade que os neuropsicólogos encontram na prática da reabilitação
neuropsicológica. Por mais que muito tenha se desenvolvido, muitos
estudos realizados e métodos desenvolvidos, tais conhecimentos não
dizem como a intervenção deve ser feita. As LEA’s podem derivar de
diferentes acontecimentos e situações, de maneira que as manifestações
e sequelas podem ser as mais variadas possíveis, não havendo uma
regularidade protocolar de sintomatologia e sequelas cognitivas e
comportamentais.

Nesta ótica, Bolognani e Bueno (2012) propõem a Tabela de


Hipóteses como um método empírico para organizar o protocolo de
reabilitação neuropsicológica (DOS SANTOS; ANDRADE; BUENO,
2015). O método conta com um fluxo no qual se definem a Dificuldade > a
Meta > a Hipótese > a Estratégia > o Resultado > e os Próximos Passos,
se necessário. Dentre as vantagens da proposta, destacam-se a
organização do raciocínio profissional; a melhora no engajamento do
paciente, que vai sentir que está participando das decisões; o
acompanhamento dos avanços da intervenção; e a orientação do
processo de alta.

Nos últimos anos vem ganhando força a Análise Comportamental


Aplicada, que serve como uma perfeita integração com a Neuropsicologia
no quesito da reabilitação de pacientes com LEA’s. A psicologia
comportamental propõe-se a estudar as relações entre o sujeito e o

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ambiente que o cerca, favorecendo comportamentos a depender de


determinadas contingências. Nesse sentido, a avaliação comportamental
torna-se um completo ideal para avaliação neuropsicológica, que apesar
de utilizar a observação comportamental como técnica, possui uma
maneira diferente de fazê-lo. A avaliação comportamental garante ainda
mais a validade ecológica, generalizando os avanços alcançados no
ambiente clínico para a vida cotidiana do paciente.

Atividade Extra

Ted Talks: “Como a neuroplasticidade nos ajuda a formar quem nós


somos”

Palestrante: André Vermeulen

Assista ao vídeo: https://www.youtube.com/watch?v=Jq0n8vgggU0

Referência Bibliográfica

ABRISQUETA-GOMEZ, J. Reabilitação neuropsicológica: ab.


interdisciplinar e modelos conceituais na prática clínica. Artmed
Editora, 2009. Disponível em: https://bit.ly/3jbeRXM
DOS SANTOS, F. H.; ANDRADE, V. M.; BUENO, O. Neuropsicologia
hoje. Artmed Editora, 2015. Disponível em: https://bit.ly/3DUTi5A
MALLOY-DINIZ, Leandro F. et al. Neuropsicologia: ap. clínicas. Artmed
Editora, 2015. Disponível em: https://bit.ly/3FYd1mT
PONTES, L. M. M.; HÜBNER, M. M. C. A reabilitação neuropsicológica
sob a ótica da psicologia comportamental. Archives of Clinical
Psychiatry (São Paulo), v. 35, p. 6-12, 2008. Disponível em:

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https://www.scielo.br/j/rpc/a/VNPf7mb7SVkgpTDbmtLfLjH/abstract/?
lang=pt

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