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SUMÁRIO

1 INTRODUÇÃO ............................................................................................ 3

2 CONSIDERAÇÕES TEÓRICAS: HISTÓRICO DA AVALIAÇÃO


NEUROPSICOLÓGICA ............................................................................................... 4

2.1 Conceito de avaliação neuropsicológica .............................................. 7

2.2 Etapas da avaliação neuropsicológica ............................................... 10

2.3 Contrastando avaliação psicológica e neuropsicológica: acordos e


desacordos 16

2.4 Caracterizando a avaliação e a avaliação neuropsicológica .............. 17

2.5 Avaliação neuropsicológica com crianças .......................................... 18

2.6 Avaliação neuropsicológica com adultos e idosos ............................. 20

3 CONTEXTUALIZANDO A AVALIAÇÃO PSICOLÓGICA .......................... 22

3.1 Contextos de aplicação da avaliação psicológica .............................. 23

3.2 Decisão sobre o uso de técnicas e testes psicológico e fontes


complementares de informação............................................................................. 26

3.3 A origem do SATEPSI: as queixas sobre os processos de avaliação 27

3.4 Consulta ao Sistema de Avaliação de Testes Psicológicos – SATEPSI


28

3.5 A prática na formação em avaliação psicológica ................................ 31

4 Ética na profissão da Psicologia e na atuação em avaliação psicológica . 35

5 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS .......................................................... 40

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1 INTRODUÇÃO

Prezado Aluno!
O Grupo Educacional FAVENI , esclarece que o material virtual é semelhante
ao da sala de aula presencial. Em uma sala de aula, é raro – quase improvável -
um aluno se levantar, interromper a exposição, dirigir-se ao professor e fazer uma
pergunta , para que seja esclarecida uma dúvida sobre o tema tratado. O comum
é que esse aluno faça a pergunta em voz alta para todos ouvirem e todos ouvirão a
resposta. No espaço virtual, é a mesma coisa. Não hesite em perguntar, as perguntas
poderão ser direcionadas ao protocolo de atendimento que serão respondidas em
tempo hábil.
Os cursos à distância exigem do aluno tempo e organização. No caso da nossa
disciplina é preciso ter um horário destinado à leitura do texto base e à execução das
avaliações propostas. A vantagem é que poderá reservar o dia da semana e a hora que
lhe convier para isso.
A organização é o quesito indispensável, porque há uma sequência a ser
seguida e prazos definidos para as atividades.
Bons estudos!

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2 CONSIDERAÇÕES TEÓRICAS: HISTÓRICO DA AVALIAÇÃO
NEUROPSICOLÓGICA

Fonte: bravineuropsicologia.com.br

A neuropsicologia é um campo de estudo próximo à medicina, e pode dizer que


a mesma está ligada a neurologia, que é uma ciência híbrida inter-relacionada com
múltiplas disciplinas, incluindo a função do sistema nervoso e os processos
psicológicos cognitivos e comportamentais. Entende-se que processos humanos
como pensar, emocionar, interagir, falar e lembrar, são sempre compostos,
processados e enviados pelo sistema nervoso, conforme MELO; et al., (2019).

Do mesmo modo que tais processos neuropsíquicos são elaborados no


sistema nervoso, estes influem de forma, integra na acomodação e
desenvolvimento das áreas tanto do sistema nervoso central como do
sistema nervoso periférico (SILVA, 2011; apud MELO DIEGO & BORGES
apud MELO; et al., 2019).

À medida que o campo da ciência cresceu e a tecnologia avançou, novas


ciências surgiram, criando uma série de disciplinas voltadas a explicar o mundo que
nos cerca, a neuropsicologia é uma delas, e começou com conferências em várias
outras áreas do conhecimento, em casos específicos, pode-se argumentar que esse
conhecimento emerge da intersecção da neurociência e da ciência comportamental.
Segundo Lezak (2005 apud MELO D; et al., 2019), a neuropsicologia surgiu de
conferências em neuroanatomia, neurofisiologia, estatística, linguística e ciências
comportamentais.

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Por meio da multidisciplinaridade, a neuropsicologia se estabeleceu como uma
disciplina intimamente relacionada à compreensão do comportamento humano e,
como apontaram Kristensen et al. (2001 apud MELO D; et al., 2019), grandes teorias
psicológicas da psicologia perderam parte de seu poder explicativo à medida que o
progresso científico foram conduzidos e, por sua vez, levou a uma enorme
especialização do conhecimento que despertou o interesse de muitos pesquisadores,
de neurocientistas, neurologistas a educadores, tentando entender como o cérebro
funciona através do comportamento humano.
Enquanto seus campos de estudo abrangem áreas como educação e trabalho,
a neuropsicologia também se concentra principalmente no campo da saúde, pois
começa a lidar com as dificuldades cognitivas causadas por lesões neurológicas
específicas. No entanto, suas atividades se expandiram e passou a trabalhar no
diagnóstico diferencial, prevenção e reabilitação cognitiva de pacientes com
deficiências neurológicas, estruturais e funcionais (RANDON, S/D). Como tal, a
neuropsicologia tem aplicações óbvias em ambientes de saúde, principalmente
consultórios clínicos e ambientes hospitalares. No entanto, a atuação da
neuropsicologia brasileira, diferentemente do centro internacional de saúde, ainda é
relativamente tímida, conforme MELO D; et al., (2019).
De acordo com a psicologia a mesma ainda é recente no âmbito hospitalar,
tendo surgido apenas na década de 1950, quando passou a operar em um modelo
herdado da clínica tradicional. Tal modelo é difícil de fazer funcionar porque os
requisitos especiais dos hospitais, como os cuidados de curta duração, transformam
os modelos tradicionais de psicologia clínica em representações importantes, mas
insuficientes do ambiente hospitalar (MIYAZAKI et al. 2002 apud MELO; et al., 2019).
Portanto, a psicologia hospitalar tenta superar os desafios de adequar sua prática
clínica a esse novo ambiente.
Pois bem, a neuropsicologia entra no hospital com a missão de se adaptar ao
modelo hospitalar, que é muito dependente de fatores externos, como mudanças e
avanços no conhecimento e desenvolvimento da tecnologia médica, mudanças nos
padrões e modelos de gestão em saúde e fatores internos, como a capacidade de
atender às necessidades contextuais (MIYAZAKI et al, 2002 apud MELO; et al., 2019).

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Compreendendo as possibilidades de adaptação neuropsicológica às
necessidades do meio, sempre vale a pena analisar como a prática da neuropsicologia
se configura, progressivamente se desenvolve e cresce, contribuindo
significativamente para a avaliação diagnóstica interdisciplinar de pacientes com
transtornos neurológicos e/ou psiquiátricos. Aumentar a probabilidade de seu
atendimento clínico em uma variedade de situações (MALLOY-DINIZ et al, 2010 apud
MELO D; et al., 2019).
A década de 1990, a chamada “Década do Cérebro”, foi marcada por uma
revolução no conhecimento científico em psicologia e neuropsicologia. Essa
revolução, desencadeada por paradigmas de processamento de informação e
metáforas computacionais, deu origem a uma nova neuropsicologia cognitiva, que por
sua vez é definida pela relação entre neuropsicologia e psicologia cognitiva. De acordo
com o paradigma de processamento da informação, o cérebro se comporta como um
software e é entendido como um processador com capacidade limitada que requer
hardware, representado pelo cérebro como responsável pela programação de
operações e atividades mentais, cujo processo deve ser teoricamente detalhado
(CAGNIN, 2010 apud MELO; et al., 2019).

Para grande parte dos neuropsicólogos contemporâneos, a neuropsicologia


cognitiva transforma-se num tipo de modelo para o estudo do funcionamento
normal da cognição humana (CAGNIN, 2010; apud MELO & BORGES, apud
MELO D; et al., 2019).

Cabe ressaltar que há uma diferença significativa entre neuropsicologia e


neuropsicologia clínica: uma é uma disciplina básica e a outra é uma disciplina
aplicada. (QUEMADA; ECHEBURÚA, 2008 apud MELO; et al., 2019). A
neuropsicologia clínica se preocupa principalmente em aplicar o conhecimento gerado
em pesquisas clínicas e experimentais a problemas específicos das relações cérebro-
comportamento, identificando, mensurando e descrevendo mudanças
comportamentais associadas à disfunção cerebral e investigando déficits cognitivos e
suas consequências na vida cotidiana de pacientes com comprometimento
neurológico.
No Brasil, a neuropsicologia teve início na segunda metade do século XX,
principalmente devido ao desenvolvimento da psicologia e da medicina, onde
pesquisadores e clínicos de diversas áreas da saúde se uniram (ANDRADE;
SANTOS; BUENO, 2004 apud MELO D; et al., 2019). Durante as décadas de 1950 e
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1970, muitos estudos sobre os efeitos de psicofármacos em relação comportamento
ganharam espaço nas pesquisas científicas.
Segundo Kristensen et al. (2001 apud MELO D; et al., 2019), a primeira pessoa
a investigar a pesquisa neuropsicológica no país foi o médico e psicólogo Antônio
Branco Lefévre (1916-1981 apud MELO D; et al., 2019 ) , destacando que, como
apresentador desses estudos no Brasil, além de participar de trabalhos práticos sobre
os aspectos evolutivos da linguagem, como afasias, gnosias e praxias, incluindo a
avaliação sobre as funções cognitivas, além de participar de trabalhos práticos sobre
distúrbios da linguagem escrita e falada.
A pesquisa em neuropsicologia que foi desenvolvida foi influenciada pelo
trabalho prático na avaliação da topografia cerebral em pacientes com epilepsia, pré
e pós-operatório e análises sistemáticas de outros distúrbios comportamentais
causados por doenças, envenenamento, intoxicações trauma e infecção, conforme
MELO; et al., (2019).

2.1 Conceito de avaliação neuropsicológica

Segundo Silva; (2020), o principal método investigativo em neuropsicologia é a


avaliação neuropsicológica composta por testes psicométricos e neuropsicológicos. É
importante notar que, embora as avaliações psicométricas contribuam em grande
parte para o desenvolvimento e reforço das avaliações neuropsicológicas, muitas
vezes são confundidas e as duas são diferentes, por isso vale a pena notar que as
duas são diferentes porque,

“[...] a avaliação psicométrica não levará em consideração os aspectos


biológicos do funcionamento cerebral. A avaliação neuropsicológica, por sua
vez, pode levar em consideração outros instrumentos para complementar os
resultados e ela irá identificar onde está o problema no funcionamento
cerebral [...]” (SILVA et al., 2016 apud SILVA; 2020).

Embora existam diferenças entre os dois, no processo de avaliação


neuropsicológica, testes psicológicos, entrevistas, observações, triagem, anamnese,
provas de rastreio [...] são comumente usados para identificar o desempenho
cognitivo funcional e investigar o comportamento ou a integridade de funções
cognitivas específicas. Dentre seus objetivos, podem ser destacados, identificados e

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descritos os comprometimentos ou alterações da função mental, esclarecer
diagnósticos em casos de alterações não detectadas por neuroimagem, avaliar a
evolução de doenças neurodegenerativas ou melhor condições neurodegenerativas,
correlacionar resultados de exames com aspectos neurobiológicos e/ou correlacionar
dados obtidos por neuroimagem investigar alterações cognitivas e comportamentais
que possam estar associadas a comprometimento psiquiátrico e/ou neurológico
(RAMOS; HAMDAN, 2016 apud SILVA; 2020).
A pesquisa sobre a neuropsicologia é voltada para área científica, aplicada e
clínica, sobre a organização cerebral dos processos cognitivo-comportamentais e
suas alterações na presença de lesão ou disfunção cerebral (Ardila & Rosselli, 2007
apud PAWLOWSKI; 2011). No campo científico, o foco fundamental de seu
conhecimento é a análise e investigação da organização cerebral, incluindo também
pesquisas voltadas para o aprimoramento das técnicas de avaliação neuropsicológica.
No domínio clínico, avalia e diagnostica pessoas com lesão cerebral e investiga
a relação entre o comportamento humano, emoções e pensamentos e o cérebro
(Barbizet & Duizabo, 1985; Gil, 2002; Hebben & Milberg, 2002 apud PAWLOWSKI;
2011). No campo de aplicação, implementa procedimentos de reabilitação em caso
de lesões neurológicas, ou seja, em casos de patologias do sistema nervoso. As áreas
clínicas e aplicadas constituem intervenções neuropsicológicas ao incluir a avaliação
neuropsicológica e processos de reabilitação (Labos, Slachevsky, Fuentes, & Manes,
2008 apud PAWLOWSKI; 2011).
A avaliação neuropsicológica é um método de examinar a função cognitiva por
meio do estudo de expressões comportamentais de disfunção cerebral (Lezak et al.,
2004 apud PAWLOWSKI; 2011), e é baseada em entrevistas, ferramentas de
desempenho e questionários padronizados Strauss, Sherman, & Spreen, 2006 apud
PAWLOWSKI; 2011).
Seus principais objetivos são diagnosticar, planejar e indicar a forma de
tratamento mais adequada, intervir e restaurar a função cognitiva em pacientes com
lesão cerebral e acompanhar a evolução do paciente (Burin, Drake, Harris, 2007 apud
PAWLOWSKI; 2011). Também é usado para fornecer documentação adequada para
fins legais e para ajudar a desenvolver novas técnicas ou melhorar técnicas existentes
para medir a função cognitiva e a reabilitação de pacientes com dificuldade devido a
lesão ou disfunção cerebral. (Camargo et al. 2008 apud PAWLOWSKI ; 2011).

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Uma avaliação neuropsicológica completa deve incluir o exame do
funcionamento cognitivo e emocional (Labos, Perez, Prenafeta, & Chonchol, 2008;
Lezak et al., 2004 apud PAWLOWSKI ; 2011). A cognição inclui atenção, orientação,
memória, linguagem, percepção e habilidades de pensamento lógico abstrato,
avaliadas por meio de cálculos aritméticos.
Inclui também a função executiva, que se refere a atividades cognitivas
complexas, como resolver novos problemas, mudar o comportamento diante de novas
informações, gerar estratégias complexas ou sequências de ações (Elliot, 2003;
Salthouse, 2005. 2011). A possibilidade de alterações de personalidade ou humor
devido a disfunção neurológica também deve ser avaliada, pois muitas, vezes
são frequentes as manifestações de desinibição, inibições, instabilidade emocional,
impulsividade, apatia, sentimentos inadequados, baixa tolerância à frustração,
irritabilidade, etc. (Barrash, Tranel, & Anderson, 2000; Chow, 2000 apud
PAWLOWSKI; 2011).
O conhecimento clínico da função cerebral e das diferentes manifestações
comportamentais da disfunção cerebral é necessário para uma avaliação
neuropsicológica adequada. A lesão ou disfunção cerebral pode produzir diferentes
mudanças comportamentais entre os indivíduos devido à complexidade das conexões
neurais (Gil, 2002; Luria, 1973). Além dessa contribuição teórica para a
neuropsicologia clínica, são necessários conhecimentos em psicologia cognitiva e
experimental, psicolinguística e psicometria (Fonseca, Salles, & Parente, 2008;
Serafini, Fonseca, Bandeira, & Parente, 2008 apud PAWLOWSKI; 2011).

No contexto das contribuições teórico-metodológicas da psicometria, a


precisão em uma avaliação depende de instrumentos apropriados de medida
(Peña-Casanova, Fombuena, & Fullà, 2006; Kane, 1991; Russell, Russell, &
Hill, 2005; Urbina, 2004 apud PAWLOWSKI J; 2011). As baterias de testes
neuropsicológicos devem consistir de medidas bem validadas, confiáveis,
padronizadas e normatizadas que auxiliem a elucidar e quantificar mudanças
comportamentais que podem ter resultado de uma lesão cerebral ou outro
distúrbio do sistema nervoso central (Franzen, 2000; Mitrushina, Boone,
Razani, & D’Elia, 2005 apud PAWLOWSKI; 2011).

De acordo com o processo das investigações neuropsicológicas, como baterias


flexíveis ou as estacionárias com são as fixas, todas essas ferramentas podem ser
utilizadas (Russell, 1994; Bauer, 1994 apud PAWLOWSKI; 2011). As baterias flexíveis
consistem em testes agrupados de acordo com as necessidades de avaliação e casos
de inspeção, enquanto as baterias estacionárias (fixas) compreendem um conjunto de
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testes constantes previamente agrupados e projetados para serem aplicados
integralmente a qualquer indivíduo avaliado e interpretado de acordo com
especificações pré-estabelecidas. A vantagem de uma bateria estacionária (fixa) é
que os alunos aprendem mais rapidamente a aplicação durante o treinamento, além
da possibilidade de desenvolver um extenso banco de dados normativo, pois o mesmo
teste se aplica a todos os pacientes. (Kane, 1991 apud PAWLOWSKI; 2011).
Presumivelmente, baterias flexíveis terão a vantagem de selecionar testes para
avaliar áreas funcionais específicas com base nas queixas do paciente. No entanto,
se as queixas autor relatadas pelo paciente ou as queixas dos familiares forem
insuficientes, a bateria flexível desenvolvida pode falhar na identificação e avaliação
de áreas importantes de disfunção cerebral. Reitan & Wolfson, 2004 apud
PAWLOWSKI J; 2011).

Já a bateria fixa permitiria descobrir déficits não esperados em função do


detalhamento de um maior número de funções cognitivas mediante a
aplicação de todos os testes que compõem a bateria fixa. A informação é
obtida das combinações e configurações que são derivadas da relação entre
os testes da bateria (Russell, Russell, & Hill, 2005 apud PAWLOWSKI ; 2011).

2.2 Etapas da avaliação neuropsicológica

Nascida em 1913, a neuropsicologia foi atualizada e desenvolvida em sintonia


com os avanços tecnológicos até hoje, e foi reconhecida como especialidade pelo
Conselho Federal de Psicologia em 2004. Entende-se que este é um campo promissor
da neurociência que, além de poder avaliar o neurodesenvolvimento dos indivíduos,
também pode estudar distúrbios cognitivos, emocionais e de personalidade
associados à lesão cerebral. Notavelmente, a neuropsicologia utiliza avaliações
neuropsicológicas específicas para diagnosticar e correlacionar alterações
comportamentais em pacientes com lesão cerebral. (CORTEZE, 2016 apud MELO; et
al., 2019).
Uma avaliação neuropsicológica (NA) é uma avaliação da natureza do sistema
que analisa a relação entre o cérebro e o comportamento. Segundo Zillmer et al, (2008
apud MELO; et al., 2019), é um processo neuropsicológico aplicável a uma variedade
de situações, incluindo exames sensíveis para avaliar a integridade funcional do
cérebro, explicando dificuldades psicológicas ou neurológicas. Portanto, é uma

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abordagem útil em serviços de diagnóstico e ambientes de pesquisa clínica quando
se trata de aspectos cognitivos e comportamentais.
De acordo com Corteze (2016 apud MELO; et al., 2019), existem várias etapas
da avaliação neuropsicológica, a saber:

 Obter dados clínicos dos pacientes, que podem ser obtidos em hospitais
ou mesmo por meio de cartas de encaminhamento de profissionais
(psiquiatras, psicólogos, neurologistas) relatando sintomas e eventos
desencadeantes (trauma, doença etc.), além da exigência de avaliação
da função cerebral, conforme PAWLOWSKI; (2011).
 Uma avaliação clínica por um neuropsicólogo, pois um neuropsicólogo
fará um prontuário com base em dados clínicos, perguntando ao
paciente sobre o início dos sintomas, se está fazendo uso de algum
medicamento e como está se sentindo em relação à situação, conforme
PAWLOWSKI; (2011).
 Aplicando métodos neuropsicológicos, com base em informações de
profissionais e pacientes, os neuropsicólogos escolherão o método mais
adequado para analisar a função cerebral. Isso pode ser feito com testes
neuropsicológicos ou baterias neuropsicológicas. O teste é usado para
identificar funções cognitivas específicas e correlacioná-las com as
estruturas cerebrais envolvidas. As baterias neuropsicológicas, por outro
lado, consistem em um conjunto de testes projetados para responder a
dados mais direcionados sobre funções cerebrais específicas.
(CORTEZE, 2016 apud MELO; et al., 2019).

Sabe-se que os instrumentos neuropsicológicos são ferramentas básicas e


essenciais no processo de avaliação neuropsicológica, e a seleção de testes pode
apresentar maior qualidade de resultados. A escolha pelo uso desses instrumentos
dependerá das dificuldades que surgirem, como sintomas ou qualquer suspeita de
diagnóstico prévio. O avaliador utiliza as informações encontradas na avaliação, o
conhecimento sobre a doença, o conhecimento da anatomia e da função cerebral e o
conhecimento do desenvolvimento evolutivo para fornecer uma interpretação

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adequada dos resultados observados na avaliação de acordo com os instrumentos
(MEDEIROS, S/D), lMELO; et al., (2019).
Os testes cognitivos são amplamente utilizados em neuropsicologia, mas são
apenas um dos quatro pilares da avaliação neuropsicológica, que também consiste
em entrevistas, observações comportamentais e escalas de avaliação de sintomas.
Eles auxiliam no diagnóstico, na compreensão da extensão da perda funcional, no
estabelecimento de tipos específicos e apropriados de intervenções e no
desenvolvimento de planos de reabilitação. (MEDEIROS, S/D), MELO D; et al., (2019).
De acordo com (2018 apud MELO; et al., 2019), a ideia de reduzir as avaliações
neuropsicológicas a testes mecânicos tem se difundido. No entanto, medidas
quantitativas de função e sintomas não são suficientes para estabelecer um
diagnóstico correto. Uma das razões para isso é que não existem ferramentas
neuropsicológicas autossuficientes para avaliar componentes cognitivos específicos.
Portanto, cabe aos neuropsicólogos escolher ferramentas que auxiliem a investigar
hipóteses diagnósticas e esclarecer possíveis deficiências nos pacientes. Isso porque
um bom diagnóstico passa necessariamente por responder a uma série de perguntas
(hipóteses).
De acordo com MELO; et al., (2019) por exemplo, se o traço comportamental é
característico do indivíduo, ou algo que ele apresenta naquele momento como
resultado de alguma alteração neuropsicológica ou mesmo de uma situação
contextual. Alguns testes padronizados e validados para a população brasileira que
podem ser utilizados para avaliação neuropsicológica:
Conforme MELO D; et al., (2019), NEUPSILIN-inf- Instrumento de Avaliação
Neuropsicológica Breve Infantil: Trata-se de um instrumento neuropsicológico breve
que avalia componentes de oito funções neuropsicológicas, por meio de 26 subtestes:
orientação, atenção, percepção visual, memórias (de trabalho, episódica, semântica),
habilidades aritméticas, linguagem oral e escrita, habilidades visuoconstrutivas e
funções executivas.
O NEUPSILIN-INF permite aos profissionais dimensionarem não só a avaliação
e o diagnóstico, mas também o prognóstico e o delineamento terapêutico. O seu
principal objetivo é identificar e caracterizar o perfil de funcionamento de processos
neuropsicológicos visando a descrição cognitiva associada a diagnósticos em
transtornos do neurodesenvolvimento, em geral, e da aprendizagem, em particular,

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quando aliado ao resultado de outros instrumentos e demais procedimentos no
processo de avaliação neuropsicológica, MELO D; et al., (2019).
O público-alvo são crianças do 1º ao 6º ano do ensino básico (considerando os
anos de escolaridade formal, ou seja, ensino fundamental), com idades
compreendidas entre os 6 e os 12 anos e 11 meses. Sua aplicação é
pessoal/individual e não há limite de tempo, a maioria das aplicações leva em média
50 minutos (SALLES et al., 2016 apud MELO D; et al., 2019).
Conforme MELO D; et al., (2019), WISC IV - Escala Wechsler de Inteligência
para Crianças: é um instrumento clínico de aplicação individual que tem como objetivo
avaliar a capacidade intelectual das crianças e o processo de resolução de problemas.
Faixa etária: 6 anos e 0 meses a 16 anos e 11 meses. É composto por 15 subtestes,
sendo 10 principais e 5 suplementares, e dispõe de quatro índices, à saber: Índice de
Compreensão Verbal, Índice de Organização Perceptual, Índice de Memória
Operacional e Índice de Velocidade de Processamento, além do QI Total
(WECHSLER, 2013 apud MELO D; et al., 2019).
Conforme MELO D; et al., (2019), R-2 – Teste não Verbal de Inteligência para
Criança: O objetivo do teste é avaliar o fator G de inteligência de crianças. O seu
público-alvo são crianças com idade de 5 a 11 anos. A aplicação é
realizada individualmente, sem um limite de tempo, sendo que a maioria das
aplicações leva em média 8 minutos. O teste é composto por 30 pranchas com figuras
coloridas de objetos concretos e abstratos, que devem ser aplicadas de acordo com
sua numeração. A criança escolhe a opção que será registrada pelo aplicador na folha
apropriada. A correção é realizada pelo total de acertos, pela avaliação quantitativa e
qualitativa, considerando os diferentes tipos de raciocínio exigidos para responder
cada item do teste. O instrumento é restrito a psicólogos (ROSA; ALVES, 2018 apud
MELO D; et al., 2019).
Observação sobre os testes citados acima:
 Os testes acima estão sujeitos a alterações, por isso recomendamos
sempre que os psicólogos procurem informações sobre os testes no site
do SATEPSI, que visa avaliar a qualidade técnico-científica das
ferramentas psicológicas utilizadas profissionalmente, desde validar
objetivamente um conjunto de requisitos técnicos e divulgar informações
sobre Informações sobre testes psicológicos para que a comunidade de

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psicólogos (as) possa aplicar um determinado teste, MELO; et al.,
(2019).
 A Resolução CFP N° 009/2018 estabelece diretrizes para a realização
da avaliação psicológica no exercício profissional do psicólogo e
regulamenta o sistema de testes psicológicos - SATEPSI, e estabelece
quais os requisitos mínimos que devem ser atendidos por um
instrumento para ser aceito como teste psicológico, conforme MELO; et
al., (2019).
 O site da SATEPSI apresenta, em duas abas, as ferramentas que os
psicólogos podem utilizar em sua prática profissional (testes
psicológicos favoráveis e ferramentas não psicológicas, ou seja,
instrumentos não privativos do psicológico) aquelas que não podem ser
utilizadas em sua prática profissional (testes psicológicos adversos e
testes psicológicos desfavoráveis aquelas que não são avaliados,
conforme MELO; et al., (2019).
 No entanto, tanto a avaliação neuropsicológica quanto a psicológica
constituem procedimentos de investigação clínica e compartilham
algumas ferramentas de avaliação, como entrevistas, observações
comportamentais, análise documental e uso de testes. Dessa forma, a
testagem é apenas uma das etapas da avaliação, seja neuropsicológica
ou psicológica, MELO; et al., (2019).

Os instrumentos utilizados são meios e não o fim de um processo amplo,


complexo, que requer, além de conhecimentos teóricos, prática clínica e
engenho por parte do profissional. Por fim, ainda que a avaliação
neuropsicológica e a psicológica tenham suas particularidades, avaliar é, sem
dúvida, uma arte (CARAZZA, 2018 Melo Diego & Borges Mikaelly apud MELO
D; et al., 2019).

Assim, Malloy-Diniz et al. (apud MELO D 2010; et al. 2019) enfatizarão que o
exame neuropsicológico é um procedimento de investigação clínica destinado a
esclarecer informações sobre a cognição, comportamento e, em menor grau, humor
e, ao contrário outras modalidades de avaliação cognitiva, deve partir do pressuposto
materialista, segundo o qual todos os comportamentos, processos cognitivos ou
respostas emocionais se baseiam principalmente na atividade de sistemas nervosos
específicos.

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A neuropsicologia apresenta uma adversidade conceitual teórica que
impulsiona não apenas a produção do conhecimento, mas também a eficiência de sua
aplicação. Em relação a essa diversidade e prática clínica em neuropsicologia,
Lamberty (apud MALLOY-DINIZ et al, 2010 apud MELO D; et al., 2019) sugeriu que o
objetivo principal dos neuropsicólogos clínicos é entender como uma determinada
condição patológica afeta o comportamento observável do paciente.
A avaliação neuropsicológica permite inferir a estrutura e a função do sistema
nervoso a partir da avaliação do comportamento do paciente em situações de
estímulos e respostas bem controladas, sobre estímulos e resposta. Entre eles,
tarefas foram cuidadosamente desenvolvidas para acessar diferentes domínios
cognitivos, que foram então usados para entender o comportamento do paciente.
Segundo Carazza (2018 apud MELO D; et al., 2019), o processo diagnóstico em
neuropsicologia envolve observar, medir e testar hipóteses usando métodos de
correlação estrutura-função.
Essas respostas evocadas por estímulos são interpretadas pelos
neuropsicólogos como normais ou patológicas. Este, no que lhe respeita, utilizará não
apenas a interpretação de parâmetros quantitativos, mas principalmente a análise dos
fenômenos observados e sua relação com as principais queixas dos pacientes ou
seus representantes, história clínica, evolução dos sintomas, modelos
neuropsicológicos de funcionamento psicológico e conhecimento psicopatológico ou
seja, em patologia, MELO; et al., (2019).
Assim, a sua apresentação centra-se na avaliação e reabilitação de pessoas
que apresentam algumas alterações cognitivas e/ou comportamentais associadas a
diversas patologias que afetam o sistema nervoso central. Adequado para crianças,
adultos e idosos (MEDEIROS, S/D), MELO; et al., (2019).
Por fim, a importância da avaliação neuropsicológica é que ela visa identificar
e detectar a presença da doença em estágio inicial, bem como o grau de evolução da
doença ou algum tipo de distúrbio. Uma vez identificadas determinadas disfunções,
as pessoas podem contribuir para a inclusão social dos indivíduos, por exemplo,
desenvolvendo novas estratégias para lidar com as limitações apresentadas,
minimizando-as, (MEDEIROS, S/D), MELO; et al., (2019).

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2.3 Contrastando avaliação psicológica e neuropsicológica: acordos e
desacordos

A avaliação para fins profissionais envolve a melhor descrição de aspectos


relevantes de uma pessoa por meio de técnicas e teorias científicas específicas,
destinadas a responder questões específicas de forma dinâmica e processual.
(TAVARES, 2003 apud ALVES; 2016).
De acordo com ALVES; (2016), passar pelo processo de avaliação não é uma
tarefa trivial, e talvez constitua o campo da saúde. Embora as avaliações conduzidas
em diferentes contextos e campos possam diferir fundamentalmente, de modo geral,
as avaliações servem aos seguintes propósitos:
 Descrever o funcionamento atual dos indivíduos, destacando seus
pontos fortes e dificuldades, sua capacidade de viver de forma autônoma
e independente e suas possibilidades de adaptação social, profissional
e pessoal para minimizar o sofrimento físico e psicológico, ALVES;
(2016).
 É preciso identificar as necessidades terapêuticas, mostrar as opções
para as formas de intervenções e indicar os possíveis resultados dessas
intervenções, ALVES; (2016).
 Auxilia no diagnóstico diferencial de distúrbios emocionais, cognitivos e
comportamentais, ALVES; (2016).
 Monitorar o progresso do tratamento e identificar novos problemas que
podem exigir atenção profissional, ALVES; (2016).
 Fornecer feedback competente e empático sobre o resultado de todo o
processo (Meyer et al., 2001 apud ALVES; 2016).
A avaliação diagnóstica de traços comportamentais e cognitivos faz parte da
prática profissional da psicologia, psiquiatria, neurologia e neuropsicologia desde o
seu início como ciência e profissão. (ANASTASI & URBINA, 2000; HAASE et al., 2012;
MEYER et al., 2001 apud ALVES; 2016).
Todos esses campos compartilham comportamentos humanos comuns como
objetos de estudo e aplicação. Sem dúvida, a complexidade do pensamento, afeto,
comportamento e redes cognitivas que compõem as funções humanas especiais é
condizente com a existência de uma prática interdisciplinar entre esses campos, o
que, por vezes, suscita dúvidas e incompreensões sobre os limites da atuação
16
profissional, principalmente no que diz respeito às avaliações psicológicas e
neuropsicológicas, ALVES M; (2016).
Portanto, não é sem razão que estudantes e profissionais continuam a
questionar as semelhanças e diferenças entre os processos de avaliação psicológica
e neuropsicológica, ALVES M; (2016).

2.4 Caracterizando a avaliação e a avaliação neuropsicológica

A partir de uma análise mais ampla, a avaliação psicológica (AP) pode ser vista
como um campo da psicologia e uma atividade realizada no contexto da prática
profissional. Suas origens remontam ao final do século XIX, e seu surgimento está
diretamente relacionado ao desenvolvimento de métodos científicos voltados à
quantificação e mensuração de fenômenos psicológicos, especialmente nos campos
da educação e seleção de pessoas (ANASTASI & URBINA, 2000 apud Alves; 2016).
Porque, na sua origem, centrava-se na testagem psicométrica e na exposição da
psicometria, ou seja, à elaboração de testes psicológicos e a psicometria, dessa
maneira, a AP viu-se limitada ao nome do campo de aplicação.

Para além da visão simplista que muitas vezes perpassa a compreensão de


outros profissionais, leigos, estudantes de psicologia e dos próprios
psicólogos, a AP não pode ser entendida como uma área técnica, dedicada
exclusivamente à produção de instrumentos para uso por psicólogos (PRIMI,
2010 apud ALVES M; 2016).

Este é um campo que é essencialmente responsável por permitir que as teorias


psicológicas testem, falsifiquem ou confirmem seus pressupostos teóricos por meio
da operacionalização de eventos observáveis. (PRIMI, 2003 apud ALVES M; 2016).
No entanto, é como um processo, a AP se confunde com a avaliação
neuropsicológica (NA). A AF é um processo de conhecimento sistemático e dinâmico
sobre o funcionamento mental das pessoas, gerado por necessidades e problemas
específicos para orientar ações futuras e tomadas de decisão (PRIMI, 2010 apud
ALVES M; 2016).
A AP deve sempre ser guiada por métodos, técnicas e teorias psicológicas
cientificamente reconhecidas. Conforme referido no início, o processo de avaliação
tem uma finalidade geral e está adaptado às exigências do ambiente em que é
realizado. Como os usos e aplicações dos APs são atualmente os mais diversos,

17
incluindo ambientes clínico, escolar, hospitalar, organizacional, jurídico, esportivo e de
transporte, e as necessidades dos profissionais de cada área também são diversas, é
necessário ter um conhecimento compreensão profunda e métodos, pesquisas, teoria
e legislação relevantes para a realização de avaliações psicológicas em cada
situação, ALVES; (2016).
A AN, por outro lado, é uma atividade emergente no campo da neuropsicologia,
que inclui um método de estudo da função cognitiva e do comportamento,
relacionando-os à função normal ou deficiente do sistema nervoso central (SNC) com
o objetivo de possibilitar o diagnóstico de tornar possível e de determinar a natureza
ou etiologia dos sintomas, gravidade das sequelas, prognóstico, evolução dos casos
e fornecer uma base para a recuperação voltada para reabilitação (Haase et al., 2012
apud ALVES; 2016).
Dado que a neuropsicologia decorreu do atendimento de pacientes com lesão
cerebral, a AN foi originalmente concebida para avaliar indivíduos que sofreram lesão
cerebral durante a guerra, principalmente em consultórios, clínicas e hospitais
(HARVEY, 2012; MADER-JOAQUIM, 1996, 2010; RAMOS & HAMDAM, 2016 apud
ALVES; 2016). Atualmente, as respostas da AN também vêm de ambientes
educacionais e forenses (Lezak, 2004 apud ALVES; 2016).

2.5 Avaliação neuropsicológica com crianças

Cada pessoa possui características específicas para sua faixa etária – que
emergem do processo de maturação que ocorre como um todo. Dado que uma pessoa
não é apenas física e fisiologicamente madura, mas é o resultado de todas as
condições sociais e seus efeitos sobre o psiquismo. Como qualquer outro órgão, o
cérebro respeita esse processo lento e contínuo de desenvolvimento, ou melhor, de
maturação. Portanto, na avaliação neuropsicológica, deve-se considerar a maturidade
do cérebro, que geralmente deve ser compatível com a idade, SILVA; et al., (2018).

[...] avaliação em crianças, torna-se importante salientar algumas


questões, entre elas o fato de o desenvolvimento cerebral ter características
próprias a cada faixa etária. Portanto, dentro desse padrão de funcionamento
cerebral, é importante a elaboração de provas de acordo com o processo
maturacional do cérebro [...]. Diferentemente do adulto, o cérebro da criança
está ainda em desenvolvimento, tendo características próprias que garantem
uma diferenciação e especificidade de funções. (COSTA ET AL., 2004, p.112
apud SILVA; et al., 2018).

18
Fonte: neurasdamamae.com.br

De acordo com Costa e outros autores (2004 apud Silva C; et al., 2018), a
contribuição das avaliações neuropsicológicas de crianças para o processo de ensino
é ampla e permite estabelecer algumas relações entre funções corticais superiores
como linguagem, poder de atenção, memória e aprendizagem simbólica. Os mesmos
autores explicam:

O modelo neuropsicológico das dificuldades da aprendizagem busca reunir


uma amostra de funções mentais superiores envolvidas na aprendizagem
simbólica, as quais estão, obviamente, correlacionadas com a organização
funcional do cérebro. Sem essa condição, a aprendizagem não se processa
normalmente, e, neste caso, podemos nos deparar com uma disfunção ou
lesão cerebral. (COSTA ET AL., 2004, p. 112 apud Silva C; et al., 2018).

Portanto, sabendo que uma avaliação neuropsicológica é recomendada na


presença de dificuldades cognitivas ou comportamentais de origem neural (COSTA et
al., 2004, p. 112 apud SILVA; et al., 2018), é necessário estabelecer parâmetros
técnicos, em que ferramentas como entrevistas, observações e principalmente testes
psicológicos ajudam a identificar problemas em crianças, por exemplo, na
aprendizagem. É importante notar que os profissionais devem entender a função
cerebral e suas complexidades e sempre colaborar com profissionais de áreas afins.

19
2.6 Avaliação neuropsicológica com adultos e idosos

Compreender a função cognitiva está se tornando cada vez mais importante,


principalmente devido às sociedades com populações cada vez mais velhas. Sabendo
que as avaliações neuropsicológicas fornecem dados muito objetivos sobre a
apresentação clínica, tornou-se necessário compreender as diferentes
especificidades, Silva; et al., (2018).

A avaliação neuropsicológica, fundamentada no princípio de


interdependência entre cérebro e comportamento, examina o indivíduo
de forma holística (história pessoal, familiar, social, médica especificas
capacidades cognitivas, sócio afetivas e funcionais), recomendo a testes
psicometricamente validados e padronizado para o contexto em que serão
utilizados. (BANHATO; NASCIMENTO, 2007 APUD CAMACHO, 2012, p. 663
apud Silva C; et al., 2018).

Dessa forma, pode diferenciar as alterações que existem no indivíduo,


identificar aspectos de demência cognitiva, familiar e soco emocional em diferentes
padrões. As alterações cognitivas ocorrem em idosos, sendo uma delas a memória
episódica, o processamento da atenção e outros campos, conforme Silva; et al.,
(2018). De acordo com Raz (2005 APUD CAMACHO, 2012 apud Silva C; et al., 2018)
as diferenças relacionadas à idade não são claras e o envelhecimento cognitivo não
pode ser entendido como déficit ou utilizado como critério. O processo de avaliação é
contínuo, com múltiplas interfaces, o desempenho e os resultados dependerão de um
todo, e estão relacionados à idade, afetando diretamente a idade (RAZ, 2005 APUD
CAMACHO, 2012, p. 664 apud SILVA; et al., 2018).

Fonte: clinicas.cotanet.com.br
20
Antes de realizar uma avaliação neuropsicológica com um paciente, é
importante ter uma breve conversa para discutir o conteúdo da avaliação, pois ainda
é uma ferramenta pouco conhecida, qualquer resultado dado ao paciente pode causar
medo, e qualquer resultado de exame pode significar uma avaliação com um
psicólogo. Alguns pacientes manifestam preocupação de que a avaliação
neuropsicológica seja angustiante, segundo Ziniel (2008 APUD CAMACHO, 2012
apud SILVA; et al., 2018) "muitas pessoas realizam a avaliação em jejum,
confundindo-a com o exame fisiológico" (ZINIEL, 2008 APUD CAMACHO, 2012 p. 664
apud SILVA; et al., 2018).
É por isso que o paciente deve ser informado de uma avaliação
neuropsicológica, que também pode ser feita previamente à consulta. Construindo
rapport e dando ao paciente a oportunidade de se sentir mais confortável com a
avaliação e entender a simplicidade da avaliação e seu próprio benefício, SILVA; et
al., (2018).
O uso de instrumentos como testes neuropsicológicos é decisivo para a
avaliação e deve ser flexível e adaptado ao examinando de acordo com sua história
cultural e pessoal. Segundo Camacho (2012, p. 665 apud SILVA; et al., 2018), "a
aplicação de testes no domínio socioemocional, como a Escala de Depressão
Geriátrica, pode ativar emocionalmente os pacientes e influenciar imediatamente os
resultados posteriores, ou seja, enviesar resultados uma prova de memória
imediatamente ulterior”.
Para tanto, ferramentas adequadas de avaliação neuropsicológica devem ser
respeitadas e utilizadas para cada paciente, e o uso de cada ferramenta deve ser
dominado. Hipóteses são feitas durante as entrevistas para que o estado emocional e
físico do paciente possa ser percebido, SILVA; et al., (2018).
Muitos fatores afetam o desempenho cognitivo de cada indivíduo, como saúde,
genótipo, variáveis afetivas etc., e essas são as razões pelas quais os idosos adultos
experimentam o declínio. Os psicólogos devem prestar atenção e fazer muitas
suposições sobre isso. Dessa maneira, o último momento da avaliação, acontece a
entrega de resultados e é preciso ressaltar que o relatório é tão importante quanto a
fase da entrevista, a escolha dos instrumentos e a administração, SILVA; et al., (2018).

21
Serão apresentados o relatório no trabalho com adultos idosos, essas sessões
discutirão pontos fortes, limitações cognitivas e seus perfis pessoalmente. Neste
momento, o paciente está retornando ativamente, não apenas a transmissão dos
resultados, o paciente fica livre para falar sobre o processo e saber como os testes
aplicados na avaliação neuropsicológica se aplicam à sua vida, SILVA; et al., (2018).

3 CONTEXTUALIZANDO A AVALIAÇÃO PSICOLÓGICA

Fonte: psicologia.prapassar.com

A avaliação psicológica é compreendida como um método de obtenção de


informações sistemática e tem a sua relação de acordo com o comportamento das
pessoas, as quais serão utilizadas para inferir as características psicológicas das
pessoas, PRIMI; (2018).
Ela ocorre em um contexto definido com um propósito específico, por exemplo:
caracterizar uma pessoa, por exemplo, em um cenário clínico onde as pessoas
buscam o autoconhecimento, prever comportamentos futuros, por exemplo, em um
processo de seleção, para achar pessoas que se sairão bem em um determinado
trabalho, realizar triagem diagnóstica e planejamento de intervenção, por exemplo, em
um ambiente clínico, buscar entendimento aprofundado de uma determinada queixa
para se pensar sobre o que pode ser feito para resolver o problema e reduzir o
sofrimento psicológico e monitorar variáveis psicológicas, por exemplo, em um
22
ambiente educacional, quando se deseja acompanhar o desenvolvimento cognitivo
e/ou socioemocional das crianças e verificar o impacto global da educação sobre
esses traços e características(American Educational Research Association, American
Psychological Association, & National Council on Measurement in Education, 2014;
Primi, & Nunes, 2010 apud PRIMI; 2018).
Uma distinção importante é que a avaliação psicológica tenta fazer inferências
sobre uma estrutura (inteligência, personalidade, etc.). Um construto é uma
propriedade dos humanos que não pode ser observada diretamente, supõe-se que
exista, e supõe-se que se reflita no comportamento observado nos testes, PRIMI;
(2018).
Portanto, é um conceito teórico sobre as propriedades subjacentes que
explicam o comportamento do teste (Cronbach, & Meehl, 1955 apud PRIMI; 2018). A
prática da avaliação psicológica, portanto, requer experiência nas teorias psicológicas
que definem essas estruturas, bem como na psicometria, que detalhará como as
ferramentas psicológicas podem ser construídas para gerar inferências válidas sobre
essas estruturas subjacentes ou latentes.

3.1 Contextos de aplicação da avaliação psicológica

As avaliações psicológicas estão inseridas em múltiplas áreas de trabalho para


psicólogos, abrangendo uma variedade de formações e direcionadas a indivíduos,
grupos e instituições. Dependendo de sua finalidade, as avaliações possuem
características específicas, relacionadas à escolha das estratégias e ferramentas
utilizadas, que devem ser coerentes com a lógica e propósito do processo. (Ocampo,
Arzeno, & Piccolo, 2009 apud GOMES L; 2015).
No âmbito clínico, a avaliação psicodiagnóstica visa compreender os pontos
fortes e fracos do funcionamento psicológico e determinar a presença de quadros
psicopatológicos (Cunha, 2000 apud GOMES; 2015). Como tal, envolve maior
complexidade, com foco no indivíduo e nos motivos da avaliação. É um processo
científico, dentro de um tempo limitado, usando testes psicológicos e técnicas para
entender, classificar e avaliar aspectos específicos a partir de referências teóricas e,
finalmente, comunicar resultados, prognósticos e recomendações de casos, se
necessário (Cunha, 2000 apud GOMES; 2015).

23
Em estudos com alunos de orientação cognitivo-comportamental e psicólogos
clínicos, verificou-se que eles usam Bender, desenho da Figura Humana e o Wartegg
em comparação a outros testes (Oliveira, Noronha, & Dantas, 2006 apud GOMES L;
2015). As pesquisas mostram que existe uma alta utilização de testes gráficos em
psicodiagnósticos realizados em clínicas-escola.
A literatura sugere que os testes gráficos são amplamente utilizados devido à
possibilidade de interpretação abrangente, à escassez de testes válidos e às
limitações da formação especializada na área de avaliação psicológica, (Noronha,
2002; Oliveira et al., 2006; Reppold & Hutz, 2008 apud GOMES; 2015). O
envolvimento da psicologia no campo forense se deve justamente ao uso de testes
psicológicos, que são considerados uma importante medida de evidência e orientação
(Lago, Amato, Teixeira, Rovinski & Bandeira, 2009).
No início, a prática dos psicólogos era muito limitada e restrita a testes. No
entanto, esse espaço de atuação está se expandindo gradativamente, o que
possibilita o desenvolvimento de outras ações nessa área (Lago et al., 2010 apud
GOMES; 2015). A avaliação psicológica forense é uma atividade ampla e distinta do
cenário clínico, exigindo adaptação ao ambiente legal e maior foco no potencial de
ocultação e distorção de dados, (Davoglio & Argimon, 2010 apud GOMES; 2015).
A utilização da avaliação psicológica em contexto jurídico é pautada por
objetivos claros, o que permite responder e recomendar soluções para problemas
decorrentes de instâncias jurídicas (Lago et al., 2010 apud GOMES; 2015). Um estudo
no Rio Grande do Sul constatou que 87% dos psicólogos forenses usavam testes
psicológicos em suas avaliações, preferindo projeção e técnicas gráficas. (Rovinski &
Elgues, 1999 apud GOMES; 2015).
Na área de recursos humanos, a AP é considerada uma importante ferramenta
na tomada de decisão e é muito demandado pelas empresas que buscam ter mais
sucesso na seleção e desenvolvimento de profissionais. Durante o processo seletivo,
o uso de testes psicométricos tem como objetivo avaliar os conhecimentos e
habilidades do candidato, a fim de traçar um perfil mais preciso naquele momento, na
tentativa de prever o desempenho de cada um no cargo (Baumgartl, Pagano, &
Lacerda, 2010 apud GOMES; 2015).

24
Pesquisas identificaram os testes gráficos como a ferramenta psicológica mais
utilizada na seleção de pessoal (Baumgartl et al., 2010; Godoy e Noronha, 2005;
Pereira, Primi e Côrbero, 2003 apud GOMES; 2015). Outra área de debate sobre
avaliação psicológica é a psicologia do trânsito. Profissionais dizem que são
necessárias mais pesquisas sobre procedimentos e ferramentas usadas em testes
para condutores.
Esta AP visa determinar a condição psicológica de um motorista, aspectos de
personalidade e funcionamento cognitivo para avaliar se ele é capaz de dirigir sem
colocar em risco a sua segurança e a dos outros (Lamounier & Rueda, 2005 apud
GOMES L; 2015). Silva e Alchieri (2010 apud GOMES L; 2015) argumentam que
mesmo com essas exigências, ainda há muito o que se discutir sobre a real
contribuição das avaliações psicológicas para a promoção da segurança no trânsito.
Ao revisar pesquisas em psicologia do trânsito, referentes ao período de 2000
a 2009, verificou-se que o teste PMK – psicodiagnóstico Miocinético e TCR (Teste
Conciso de Raciocínio) foram os testes que se utilizava na avaliação de condutores
naquele tempo. (Sampaio & Nakano, 2011 apud GOMES; 2015). Dessa maneira, além
do PMK, outros testes gráficos como HTP, Palográfico e Wartegg também foram
encontrados. Silva e Alchieri (2010 apud GOMES; 2015) relataram resultados
semelhantes em seu estudo, onde analisaram dados de avaliações psicométricas de
67 motoristas que exercem atividades remuneradas, realizadas e avaliados na
aquisição da habilitação em 2002 e na renovação da permissão em 2007.
Eles descobriram que o Palográfico e o HTP foram os testes mais usados para
avaliar a personalidade do motorista em 2002. No entanto, na atualização de 2007, a
personalidade foi avaliada apenas pelo Palográfico. De acordo com a Resolução
02/2003, apenas o teste gráfico Wartegg atualmente possui opinião adversa sobre o
uso, com parecer desfavorável para o uso, desde 11/04/2003 apud GOMES; 2015).
Conforme esse contexto, são discutidas as principais áreas da avaliação
psicológica onde se pode encontrar a utilização de testes psicológicos, especialmente
os testes gráficos. Deve-se ter em mente que existem outras ações possíveis, muitas
das quais relacionadas às áreas acima mencionadas. São muitas as possibilidades
de utilização da avaliação psicológica, tais como: orientação de carreira, orientação
profissional, seleção para concursos públicos, perfil para programas de intercâmbio,
habilitação para porte de armas, habilitação para pilotos da aviação civil, assim como

25
para determinados procedimentos de saúde (ex: cirurgia bariátrica) e entre outras,
GOMES; (2015).

3.2 Decisão sobre o uso de técnicas e testes psicológico e fontes


complementares de informação

Dependendo das perguntas feitas para responder ao objetivo do AP, outras


técnicas de avaliação (por exemplo, entrevistas, tempo de jogo) ou fontes
suplementares de informação podem ser mais apropriadas do que o uso de testes. A
Resolução 009/2018 (CFP, 2018) Definir testes psicológicos como "escalas,
questionários, inventários e métodos projetivos/expressivos” para atender aos
requisitos mínimos estabelecidos no documento e esclarecer que as fontes
complementares serão "técnicas e ferramentas não psicológicas que se respaldem na
literatura científica da área e respeitem os códigos éticos e as garantias legais da
profissão” e os “documentos técnicos, tais como protocolos ou relatórios de equipes
multiprofissionais”, SCHNEIDER; et al., (2018).
Para ilustrar o ponto, tomando a pergunta de avaliação da criança como
exemplo: "É possível que esta criança tenha dificuldade de concentração porque tem
TDAH?", a definição de usar o teste também depende da idade da criança. Se ela tiver
10 anos, pode ser importante usar o WISC-IV (Wechsler, 2013), pois o teste verifica
não apenas a atenção, mas também a memória e a velocidade de processamento,
aspectos importantes a serem investigados para possíveis condições de saúde do
TDAH, SCHNEIDER; et al., (2018).
Talvez, além do WISC-IV, seja importante incluir testes em baterias, como CAT-
H (Miguel, Tardivo, Moraes e Tosi, 2016, apud SCHNEIDER; et al., 2018), para
determinar se uma criança está passando por problemas emocionais que podem
afetar sua concentração (por exemplo, devido à perda ou separação de um membro
significativo da família). Isso não significa que o CAT-H dará uma resposta se os
baixos escores nos testes cognitivos são devidos à perda de um familiar, mas dará
algumas indicações, por exemplo, como sentimentos tristes e eventos de percepção
em sua vida dos acontecimentos, que proverão uma luz sobre o caso: se é algo
cognitivo ou afetivo.

26
Também pode ser importante a utilização de um instrumento padronizado a
fim de coletar informação sobre como os pais e professores percebem os
comportamentos da criança. Poderiam ser utilizados os inventários ASEBA
como fontes complementares de informação, mais especificamente o CBCL
e o TRF (Achenbach, 2016; Frizzo, Pedrini, Souza, Bandeira, & Borsa, 2014
apud SCHNEIDER A et al., 2018).

Além do mais, se a criança que está sendo avaliada não tem 10 anos, mas,
como por exemplo, a criança tenha cinco anos de idade, técnicas como brincadeiras,
entrevistas com pais/responsáveis e professores e ferramentas de relatórios como
instrumentos de heterorrelato sejam mais indicados, até porque o WISC-IV não possui
estudos normativos ou evidências de eficácia em crianças menores de 6 anos. Além
disso, em vez de utilizar o CAT-H (Miguel et al. 2016 apud SCHNEIDER; et al. 2018), o
SATEPSI atualmente disponibiliza um parecer favorável para crianças de 7 a 12 anos
seria indicado usar o CAT-A A (Miguel, Tardivo, Silva, & Tosi, 2010 apud
SCHNEIDER; et al., 2018) que possibilita o uso para crianças de cinco anos, e caso
for necessário também fazer o uso dos testes projetivos.
Novamente, observe que os psicólogos que pretendem trabalhar com AP
devem estar sempre atualizados. Este é um campo em constante evolução, com o
lançamento de novos testes, novos manuais e até novas pesquisas sobre testes
existentes, SCHNEIDER; et al. (2018).
Este é um campo da psicologia que se diferencia do trabalho realizado por
outros profissionais de saúde justamente porque existem instrumentos padronizados.
A testagem psicológica, ou seja, a utilizando os testes psicológicos sempre que
possível, pode considerar uma prática importante porque é mais fácil se livrar do viés
do avaliador do que as entrevistas, tanto nas aplicações quanto nas pesquisas e
interpretações, por meio de padronização. Portanto, caso seja necessária a realização
de testes psicológicos, o próximo passo é consultar a SATEPSI, SCHNEIDER; et al.
(2018).

3.3 A origem do SATEPSI: as queixas sobre os processos de avaliação

Uma das principais questões enfrentadas pelos CFPs, notadas nas denúncias
de violação do código de ética psicológica por seus profissionais, refere-se às
avaliações psicológicas (Zaia, Oliveira & Nakano, 2018 apud PRIMI; 2018). Tais
denúncias da sociedade contra os profissionais são um tema recorrente ao longo da

27
história (Frizzo, 2014 apud PRIMI; 2018). Parte do motivo é que as avaliações são um
dos serviços mais comuns prestados às pessoas comuns. Geralmente ocorre em
situações de alto impacto (alto risco) com consequências graves para as pessoas
envolvidas, como a seleção de pessoas.
O surgimento do SATEPSI é uma resposta a esta necessidade. Devido a
restrições de treinamento para a formação, há um problema de longa data na seleção
de instrumentos para uso na prática profissional. Notavelmente, alguns dos
instrumentos mais comumente usados em situações de alto impacto carecem de
justificativa científica para seu uso. (Noronha, Primi, & Alchieri, 2004 apud PRIMI R;
2018). Portanto, o CFP decidiu criar um sistema de avaliação da qualidade dos
instrumentos com base em critérios científicos definidos na região, que pudesse
informar aos profissionais quais instrumentos possuem as condições mínimas para
uso profissional. Assim nasceu o SATEPSI.
Essa medida não afeta diretamente a origem do problema, que é a formação
profissional em avaliação psicológica. No entanto, mobilizou indiretamente CFPs,
profissionais, pesquisadores e editores em torno do tema. Essa mobilização eleva a
qualificação da região de várias maneiras e sentidos (Primi, 2010 apud PRIMI R;
2018).

3.4 Consulta ao Sistema de Avaliação de Testes Psicológicos – SATEPSI

Os testes psicológicos, como ferramentas padronizadas que compõem o


processo de AP, devem ter evidências de qualidade para garantir que as decisões
baseadas em seus resultados sejam as mais adequadas para a pessoa que está
sendo avaliada (AERA et al, 2014; CFP, 2018; Urbina, 2014 apud SCHNEIDER A et
al, 2018). Atualmente, a Resolução Brasileira nº 009/2018 (CFP, 2018) que estabelece
diretrizes para a implementação da AP na prática profissional regulamenta o
SATEPSI, cuja função é buscar a qualidade técnica e ética dos serviços dos
psicólogos.
Em anexo à resolução, são fornecidos padrões mínimos de qualidade
psicométrica, incluindo confiabilidade e evidência empírica da validade das
interpretações propostas para os resultados dos testes, SCHNEIDER A et al., (2018).

28
Somente após a avaliação destes e de diversos outros itens, sempre por dois
avaliadores, acompanhados por um comitê consultivo de psicólogos de diversas
partes do Brasil, a SATEPSI se posicionará favorável à utilização do teste no âmbito
profissional, ou seja, fornecerá um parecer favorável ou não para uso do teste no
contexto profissional.
Vale lembrar que, de acordo com o último boletim do CFP (2017), como
avaliador, o psicólogo interessado deve ter doutorado em psicologia ou área afim e ter
publicado pelo menos cinco artigos científicos na revista Qualis A1, A2, B1 ou B2 na
área de psicologia nos últimos cinco anos. Pelo menos uma dessas publicações está
relacionada ao campo da avaliação psicológica ou aos princípios e medidas
fundamentais da psicologia, SCHNEIDER A et al., (2018).
A SATEPSI publica então uma lista de testes que possuem parecer favorável.
Esta lista pode ser encontrada em http://satepsi.cfp.org.br. Neste site, a agência
disponibiliza ainda algumas soluções relacionadas com a área de AP, bem como
outras informações, como uma secção de "perguntas frequentes" concebida para
responder a perguntas frequentes. Em setembro de 2019, a lista de testes aprovados
e parecer favorável pela SATEPSI, disponibiliza 159 testes, SCHNEIDER A et al.,
(2018).
Por exemplo, dos 159 testes, 13 foram projetados diretamente para avaliar a
atenção. A questão então é, qual devemos escolher para avaliar um candidato, a
pergunta a ser respondida no processo de AP seja "Esse trabalhador tem um certo
nível de foco e atenção na função esperada para trabalhar com materiais químicos
perigosos?". Para dar uma resposta adequada, se você já entende o contexto,
contaremos com informações adicionais, como idade do candidato, escolaridade se a
aplicação será feita individualmente ou em grupo e o tipo de atenção que o cargo
exige (atenção alternada, dividida, concentrada, etc.), SCHNEIDER A et al., (2018).
De acordo com SCHNEIDER A et al., (2018), ainda com foco no aspecto da
atenção, tomando como exemplo o caso do candidato à CNH, e guiado pela pergunta
do AP: "Essa pessoa tem o nível de atenção necessário para obter a CNH?", os
próximos passos do planejamento incluem primeiro a busca por literatura é avaliada
e então a SATEPSI é consultada.

29
Ainda com foco no aspecto da atenção, tomando como exemplo o caso do
candidato à CNH, e guiado pela pergunta do AP: "Essa pessoa tem o nível de atenção
necessário para obter a CNH?", os próximos passos do planejamento incluem primeiro
a busca por literatura específica para a avaliação na área do Trânsito, e em seguida
a consulta ao SATEPSI. Ao realizar esta etapa, valida-se a legislação sobre AP em
situações de trânsito, SCHNEIDER; et al., (2018).
A Resolução 001/2019 “Normas e procedimentos para o desenvolvimento da
perícia psicológica no contexto do transporte” aponta a importância de informações
sobre diferentes tipos de atendimento, como: atendimento alternativo; foco; distração
(CFP, 2019). Ressaltamos que os profissionais que atuam na AP devem estar sempre
atualizados, SCHNEIDER A et al., (2018).
Após as etapas abaixo, veja como cada um dos três processos de AP citados
como exemplo é planejado de forma diferente nesta fase, SCHNEIDER et al., (2018):
 Elaboração da pergunta acerca do objetivo da avaliação, conforme
SCHNEIDER A et al., (2018).
 Da atualização em literatura e referências especializadas;
 Do uso de outras técnicas de AP, conforme SCHNEIDER A et al., (2018).
 A partir da consulta do SATEPSI, assumimos o seguinte exemplo: Os
profissionais trabalham no âmbito da seleção e precisam contratar uma pessoa
para manusear produtos químicos perigosos. Partindo do pressuposto de que
a literatura profissional afirma que a atenção é um construto que precisa ser
avaliado para que os profissionais não cometam erros que possam levar à
morte de outros por falta de atenção, a pergunta "Esse trabalhador tem um
cargo que envolve o uso de materiais químicos perigosos, está recebendo a
atenção esperada? ” Precisa ser respondida. Conforme SCHNEIDER A et al.,
(2018).
Conforme mencionado, existem vários testes de atenção e concordância na
lista do SATEPSI, mas qual teste é mais adequado? Além de consultar o SATEPSI e
a literatura, é preciso lembrar que na organização de uma AP devem ser utilizadas as
ferramentas necessárias, mas não mais do que o estritamente necessário. (Pacico,
Hutz, Schneider, & Bandeira, 2015 apud SCHNEIDER A et al., 2018).

30
O uso excessivo do teste cansa o avaliado e pode torná-lo incapaz de
responder a todos os itens ou começar a responder aleatoriamente para sair da tarefa.
Um manual de teste pode mostrar se um instrumento realmente avalia o que afirma
estar avaliando, mas não pode dizer quanto aumentaria se fosse usado com outros
instrumentos, SCHNEIDER A et al., (2018).
Esta resposta encontra-se na literatura da área que deve ser consultada com
frequência. Consultar bibliografias sérias e manuais de testes é uma estratégia mais
ética e técnica do que perguntar em redes sociais ou colegas, sem embasamento
teórico sobre estrutura, contexto e necessidades de avaliação, ou seja, no que
concerne ao construto, ao contexto e à demanda de avaliação, SCHNEIDER A et al.,
(2018).

3.5 A prática na formação em avaliação psicológica

Na perspectiva da formação psicológica, é preciso aproximar teoria e prática


(MEC, 2011), realidade que se estende à prática da avaliação psicológica (Noronha
et al., 2010; Nunes et al., 2012 apud BORSA J; 2016). Em 2011, o Ministério da
Educação formulou as "Diretrizes Curriculares Nacionais de Psicologia para
Estudantes Universitários", que não apenas contempla a formação básica, mas
também a formação de psicólogos.
O núcleo comum da formação em psicologia fornece uma base homogênea
para a formação no Brasil e para a formação básica que trata dos conteúdos
psicológicos, como campo de conhecimento e ação. O Art. 5º, como
exemplo, recomenda que os cursos de graduação em psicologia articulem
conhecimentos, habilidades e competências relacionadas à investigação científica e
procedimentos de prática profissional para garantir o domínio de ferramentas e
estratégias de avaliação e intervenção e a capacidade de selecioná-los, avaliá-los e
adaptá-los a problemas específicos e experiência em investigações e atuação
profissional, BORSA J; (2016).
O Art. 8º, no que lhe concerne, fornece as competências de um psicólogo e
sugere que a formação deve garantir a compreensão básica do conhecimento
psicológico e a capacidade de utilizá-lo em diferentes contextos de aplicação. Dentre
as competências são elencadas a capacidade de:

31
(a) Seleção e uso de ferramentas e procedimentos para coleta de dados
psicológicos com base na relevância;
(b) Avaliar fenômenos humanos com propriedades cognitivas,
comportamentais e afetivas em diversos contextos;
(c) Diagnosticar e avaliar os processos psicológicos de indivíduos, grupos e
organizações;
(d) Saber buscar e utilizar os conhecimentos científicos necessários à atuação
profissional, entre outros, conforme BORSA; (2016).
Ainda sobre a relevância da formação prática para os cursos de graduação em
psicologia, o Art. 19 instaura que, em termos de carga horária e plano de estudos, o
planejamento acadêmico, deve garantir que os alunos participem de atividades
individuais e em equipe, incluindo exercícios de laboratório, como parte de disciplinas
ou integradas a outras atividades acadêmicas, como as práticas didáticas, aplicação
e avaliação de outras atividades acadêmicas e estratégias, técnicas, recursos e
ferramentas psicológicas, BORSA; (2016).

As diretrizes do MEC (2011 apud BORSA J; 2016) não se referem,


especificamente, à formação em avaliação psicológica, de modo que foi
apresentado aqui um recorte das disposições que parecem estar diretamente
relacionadas com a formação nesta área. Entende-se que a prática é um
aspecto primordial da formação em Psicologia como um todo e não deve ser
diferente no que se refere à avaliação psicológica.

Nunes et al. (2012 apud BORSA J; 2016) ressalte-se a importância do uso de


diferentes estratégias e técnicas de ensino como forma de desenvolver diferentes
habilidades. Por exemplo, citam atividades práticas com conceitos teóricos aprendidos
em sala de aula, apresentações de estudos de caso, oficinas de elaboração de
documentos psicológicos, pesquisas científicas sobre avaliação psicológica e
realização de estágios supervisionados.
Da mesma forma, ressaltam que na aplicação, investigação e correção de
testes psicológicos, a exposição e o treinamento com instrumentos é fundamental
para a qualidade da formação do psicólogo e deve permitir o desenvolvimento de
habilidades para atuação autônoma e qualificada. Portanto, os cursos de graduação
em psicologia devem ter uma estrutura física mínima adequada para facilitar o bom
desenvolvimento da prática da avaliação psicológica., BORSA J; (2016).

32
As histórias de sucesso são animadoras e apontam soluções para problemas
antigos associados à formação em avaliação psicológica. Por exemplo, Reppold e
Serafini (2010 apud BORSA; 2016) descrevem a experiência de implantação de um
curso de psicologia na Universidade Federal de Ciências da Saúde em Porto Alegre
(UFCSPA), capital do Rio Grande do Sul, que possui sete disciplinas obrigatórias de
psicometria/avaliação psicológica, além de disciplinas eletivas na área. Outro
diferencial do curso é a proposta de articulação entre teoria e prática por meio de
atividades de avaliação multidisciplinar realizadas por alunos em instituições
psiquiátricas.

Um importante meio de proporcionar a prática supervisionada da avaliação


psicológica clínica é a criação de clínicas-escola especializadas. As clínicas-
escola de Psicologia são serviços obrigatórios, segundo a Lei nº 4.119
(Decreto-lei nº 53.464, 1964), que dispõe sobre os cursos de formação e
regulamenta a profissão de psicólogo no Brasil. Em linhas gerais, o objetivo
das clínicas-escola é possibilitar um espaço adequado à formação
profissionalizante, assim como consolidar e articular as competências
centrais desenvolvidas nas graduações em Psicologia (Borsa, Oliveira,
Yates, & Bandeira, 2013 apud BORSA; 2016).

As clínicas de ensino devem fornecer atendimento gratuito ou de baixo custo


para a comunidade, estabelecer formas onde o aluno recebe treinamento e instrução,
com o objetivo de capacitá-lo para praticar e refletir sobre sua prática profissional,
(Borsa, Oliveira, et al., 2013 apud BORSA; 2016).

As clínicas-escola cumprem, assim, o complexo objetivo de atender da forma


mais eficaz possível à comunidade e, ao mesmo tempo, capacitar o aluno de
forma ética, técnica e teórica para o exercício da Psicologia (Decreto-lei nº
53.464, 1964; Campezatto & Nunes, 2007 apud BORSA J; 2016). Entende-
se que a formação do psicólogo deve ser consoante com a realidade do
contexto social em que o aluno está inserido e, neste sentido, os cursos de
Psicologia devem oferecer oportunidades de atuação junto às comunidades,
qualificando as estratégias profissionalizantes do currículo (Boeckel et al.,
2010 apud BORSA ; 2016).

No Brasil, as clínicas-escola de psicologia oferecem diferentes tipos de


atendimento e modalidades (Boeckel et al., 2010 apud BORSA; 2016), porém,
observa-se que nem todos os locais oferecem práticas de avaliação psicológica, o que
é um fator limitante para auxilio da formação destes estudantes, portanto as
crescentes demandas por esses serviços são preocupantes. Entende-se que a prática
de realizar avaliações psicológicas nas escolas clínicas proporciona maior visão sobre
as complexidades do processo (Borsa, Oliveira, et al., 2013 apud BORSA; 2016).

33
Além do mais, os serviços de avaliação psicológica podem fornecer
diagnósticos mais precisos, otimizar os encaminhamentos para diferentes serviços de
saúde, como psicoterapia, psiquiatria, neurologia, psicopedagogia, fonoaudiologia,
terapia ocupacional entre outros, e reduzindo as taxas de não-aderência e de
abandono de psicoterapia (Borsa, 2014 apud BORSA; 2016).
O centro de avaliação psicológica é um exemplo de clínica-escola
especializada da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS) (Borsa,
Oliveira, et al., 2013 apud BORSA; 2016). Trata-se de um serviço especializado em
avaliação psicológica e neuropsicológica, e tem como objetivo oferecer atividades
práticas para alunos de graduação, especialização, extensão universitária, mestrado
e doutorado do Instituto de Psicologia da UFRGS.
A clínica tem como objetivo a promoção de atividades para o auxílio do ensino,
pesquisa e extensão nas diversas áreas pertencentes à avaliação psicológica, quais
sejam: avaliação neuropsicológica, afetiva, cognitiva relacionada a crianças,
adolescentes, adultos e idosos, BORSA; (2016).
Especificamente, o serviço visa oferecer cursos e estágios curriculares,
promover pesquisas nas áreas de abrangência, atender às necessidades de avaliação
psicológica da comunidade de Porto Alegre e região metropolitana, e responder a
necessidades de avaliação específicas, principalmente de instituições, agências
municipais, estaduais e federais (Borsa, Oliveira, et al., 2013; Borsa, Segabinazi,
Sternert, Yates, & Bandeira, 2013 apud BORSA; 2016).
Além de atender a comunidade e formar alunos, as clínicas-escola podem
caracterizar as populações que atendem e compreendem a prevalência dos
problemas mais comuns naquela área específica. Ressalta-se a importância da
formação prática para complementar os fundamentos teóricos que são claramente
essenciais para a formação de psicólogos habilitados em avaliação psicológica,
BORSA; (2016).

34
4 ÉTICA NA PROFISSÃO DA PSICOLOGIA E NA ATUAÇÃO EM AVALIAÇÃO
PSICOLÓGICA

Fonte: psicologaemfortaleza.com.br

A profissão do psicólogo, assim como as demais profissões, é baseada em um


código de ética profissional, é expresso em normas oficiais ou não, destinado a
garantir que a relação entre os profissionais da área e sua relação com a sociedade
envolva valores como como respeito, justiça e dignidade. O Código de Ética determina
padrões para que os profissionais reflitam sobre sua prática e estejam cientes de sua
responsabilidade individual e coletiva pelas consequências de suas ações na prática
profissional (Resolução 010/2005). Permitindo assim que os psicólogos se tornem
filósofos da ciência chamada psicologia, pensando quais ações são necessárias para
construir o bem dos outros e da sociedade, MUNIZ; (2018).
Os princípios e normas contidos no Código de Ética orientam a conduta
profissional no interesse do respeito às pessoas e seus direitos fundamentais visando
seu bem-estar e satisfação. A reflexão sobre a ética é constante, portanto a ética não
deve ser entendida como um conjunto estático de normas, mas sim, as sociedades
mudam, as ocupações mudam e os entendimentos sobre o ser humano e seus direitos
e obrigações mudam (Resolução No 010/2005), MUNIZ; (2018).

35
Portanto, a compreensão da ética comportamental é limitada pelo tempo e
espaço, ou seja, está intimamente relacionada à cultura de um determinado país ou
região, e a cultura está em constante mudança, sendo impossível obter um documento
normativo de um código de ética profissional ou de conduta universal. Levando em
consideração, que cada código de ética decorre de uma realidade sociocultural
específica, o Brasil possui um código de ética para a profissão de psicólogo,
regulamentado pela Resolução CFP, apresentada em sua quarta edição (Resolução
010/2005), sendo a primeira publicado em vigor em 1975 (Anache, & Reppold, 2010
apud MUNIZ; 2018).
O atual código brasileiro tem especificidade própria em termos de
comportamento, baseada em discussões e engajamento social com a categoria. A
escolha desse processo democrático reflete o estado de direito que vem sendo
conquistado em nosso país e levou à criação de um novo código de direito que atende
às novas demandas da categoria e da sociedade (Resolução No 010/2005), MUNIZ;
(2018).
A historicidade do código de ética do psicólogo no Brasil, a patologização de
crianças com reprovação acadêmica, a segregação de pessoas com transtornos
mentais em instituições psiquiátricas e o uso de testes psicológicos sem comprovação
de sua eficácia são exemplos de mudanças. Permitido há pouco tempo, hoje
entendido como arbitrários e preconceituosos. Anache, & Reppold, 2010 apud MUNIZ;
2018). Essas mudanças estão alinhadas com o caráter dinâmico e transformador da
ética e proporcionam desdobramentos benéficos para as culturas expressas pelas
pessoas e sociedades. Assim, a psicologia como ciência e profissão, que são
inerentemente morais, também se apropria dessas mesmas qualidades que
impulsionam o desenvolvimento humano.
A atuação do psicólogo, envolvendo a sua prática na avaliação psicológica, os
princípios e responsabilidades básicos descritos no Código de Ética do Psicólogo
devem ser respeitados. O atual código de ética (resolução 010/2005) é baseado em
sete princípios básicos, que são transversais na conduta descrita como de
responsabilidade dos psicólogos. Tomados em conjunto, esses princípios orientam a
conduta ética do psicólogo pautada nos direitos humanos universais, enfatizando sua
responsabilidade na construção da justiça social e da dignidade da atuação
profissional em diversos contextos, MUNIZ; (2018).

36
De acordo cm MUNIZ; (2018), além desses princípios, o Código atual lista 72
comportamentos que os psicólogos são obrigados a adotar no trabalho profissional.
Destes, 10 são mais específicos para avaliação psicológica e aparecem no artigo:

1º (são deveres fundamentais do psicólogo), conforme MUNIZ M; (2018).


2º (ao psicólogo é vedado). Fazem parte do artigo 1º: prestar serviço
utilizando conhecimentos e técnicas reconhecidamente fundamentadas na
ciência psicológica (alínea c); fornecer informações sobre o objetivo do
trabalho que será realizado (alínea f); fornecer informações, a quem de
direito, sobre os resultados de serviço psicológico prestado, transmitindo
somente o que for necessário para tomada de decisão que afetem o usuário
ou beneficiário (alínea g); e zelar pela guarda, empréstimo, comercialização,
aquisição e doação de material privativo do psicólogo (alínea i). No artigo 2º
se destaca: emitir documento sem qualidade teórica, técnica e científica
(alínea g); interferir na validade e fidedignidade de instrumentos e técnicas
psicológicas, adulterar seus resultados ou fazer declarações falsas (alínea h);
ser perito avaliador ou parecerista em situações que há vínculos pessoais ou
profissionais (alínea k); realizar diagnósticos, divulgar procedimentos ou
resultados que exponham pessoas, grupos ou organizações; preservar o
sigilo das informações (alínea q). Por fim, o artigo 18: não divulgar, ensinar,
ceder, emprestar ou vender a leigos instrumentos e técnicas psicológicas que
permitam ou facilitem o exercício ilegal da profissão (Resolução No
010/2005).

Os princípios e comportamentos acima, assim como outros contidos no código,


estão bem explicados e organizados para orientar os leitores (incluindo psicólogos)
na simplicidade e facilidade de compreensão desses comportamentos em suas
avaliações psicológicas do dia a dia. No entanto, tal interpretação nem sempre é
correta, pois muitas vezes surgem situações na avaliação psicológica que fazem o
psicólogo refletir sobre sua prática, ao contrário do que já consta no código, MUNIZ;
(2018).
Como resultado, os profissionais psicólogos muitas vezes se deparam com
dilemas éticos em situações em que não há um comportamento ético claro sobre como
agir, nem mesmo quando consultam o código de ética profissional do psicólogo. Um
exemplo de avaliação psicológica é a utilização ou não de testes projetivos no
processo seletivo, pois foram criados para auxiliar a prática clínica e são ferramentas
para acessar conteúdos além do necessário no contexto. (Hutz, 2009 apud MUNIZ;
2018).

37
Uma outra situação é relação da avaliação psicológica para as questões de
redesignação do sexo, pensando o quanto é necessário e o quanto prejudica a
autonomia das pessoas, como se elas não pudessem decidir sua própria vida e não
pudessem arcar com as consequências dessa decisão. Isso nos leva a acreditar que
o fato de os seres humanos sempre pensarem sobre moralidade com base em suas
crenças, experiências e percepções os leva a muitas vezes ter uma forte crença de
que estão fazendo coisas boas, incluindo a crença de que a outra pessoa vai gostar
de fazer bem, recebendo no futuro se ainda não o percebeu, ou seja, segundo Hume,
a base da moral e da ética é o prazer de ver o outro feliz, mas pode se ofender se
tentar moldar o outro segundo padrões e referências incompatíveis com o seu ser,
MUNIZ; (2018).
Ressalta-se que os princípios básicos do Código de Ética do Psicólogo
(Resolução 010/2005) são transversais e objetivam aproximar o psicólogo da
sociedade, profissão, entidade e ciência, possibilitando ao psicólogo a reflexão
necessária. A prática é integrada com a sociedade e as instituições. Ou seja, os
princípios básicos não são o comportamento em si, mas um conjunto de ideias
orientadoras que perpassam o comportamento, estejam ou não descritas no código,
pois uma das funções desses princípios é refletir, praticar e relacionar em todas as
situações, MUNIZ; (2018).
No Brasil, além da ética, os psicólogos precisam entender as resoluções do
CFP, que regulamentam algumas práticas e contextos específicos de avaliação
psicológica (existem outros campos, mas não são objeto deste artigo). Essas
resoluções são baseadas no código de ética profissional do psicólogo, mas abordam
as especificidades de determinados ambientes em que as avaliações psicológicas são
utilizadas como por exemplo a Resolução No 002/2016 sobre concursos públicos e
processos seletivos, MUNIZ; (2018).
Diversas resoluções foram revisadas, retiradas ou atualizadas, mostrando a
sensibilidade do sistema de conselhos (conselhos federais e regionais) às
necessidades das categorias e sociedades, reafirmando as características dinâmicas,
transformadoras, culturais e benéficas da psicologia baseada na ética. Dentre essas
resoluções, a resolução 009/2018 permeia e interfere em todas as demais resoluções
relacionadas à avaliação psicológica, pois aborda com precisão as normas básicas
para a realização de avaliações psicológicas, incluindo métodos, técnicas e

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ferramentas baseadas na justiça e na proteção do ser humano. Também regulamenta
a avaliação para que o teste seja considerado psicológico e facilite seu uso por
psicólogos profissionais, MUNIZ; (2018).
Com a entrada em vigor da 009/2018, foram retiradas as Resoluções 002/2003
e 005/2012, Notas Técnicas 01/2017 e 02/2017. Ressalta-se que a Resolução nº
002/2003 (aprimoramento da nº 025/2001) é um marco histórico para a avaliação
psicológica no Brasil, no que diz respeito à regulamentação do uso, desenvolvimento
e comercialização de testes psicológicos em nosso país, MUNIZ; (2018).
O principal resultado dessa ação é uma melhora significativa na qualidade dos
testes psicológicos, com a determinação de que somente os testes que demonstrem
boa evidência científica de validade, precisão e padronização devem ser utilizados.
Esse movimento em direção à identificação instrumental permite que a psicologia
como ciência e o psicólogo praticante desse conhecimento, proporcionar atuação
ética à sociedade, garantindo as recomendações do Código de Ética Profissional do
Psicólogo, mais especificamente o Princípio Fundamental IV - segundo o qual o
psicólogo atuará com responsabilidade por meio do aperfeiçoamento profissional
contínuo, promover o desenvolvimento da psicologia como campo científico do saber
e da prática - e no artigo 1º das atribuições básicas do psicólogo, referindo-se à
utilização de conhecimentos e técnicas reconhecidas baseadas na ciência psicológica
para a prestação de serviços, MUNIZ; (2018).

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