Escolar Documentos
Profissional Documentos
Cultura Documentos
AUTORIA
Carolina dos Santos Jesuino da Natividade
Bem vindo(a)!
Aproveito para reforçar o convite a você, para junto conosco percorrer esta jornada de
conhecimento e multiplicar os conhecimentos sobre tantos assuntos abordados em
nosso material. Esperamos contribuir para seu crescimento pessoal e prossional.
Unidade 1
O cérebro e a
aprendizagem
AUTORIA
Carolina dos Santos Jesuino da Natividade
Introdução
Conhecer o cérebro e sua relação com a aprendizagem é fundamental na
neuropsicopedagogia. Diante de um contexto social em que o conhecimento é
extremamente importante na vida pessoal e prossional das pessoas, as diculdades
de aprendizagem podem afetar muitos aspectos negativamente, como na vida
prossional e até mesmo na autoestima. Muitas áreas do conhecimento buscam
auxiliar para que haja melhores aprendizagens, principalmente quando, apesar de
boas oportunidades e meios o desempenho, está abaixo do que o indivíduo pode
proporcionar. Há atualmente um enorme esforço para que a neurociência voltada
para a educação se alie ao conhecimento provindo da Psicologia Cognitiva,
Psicopedagogia e Pedagogia, formando a neuropsicopedagogia. Esta é uma ciência
nova, com arcabouço teórico forte e evidências de aplicação na prática educativa que
permite otimismo.
Um primeiro passo no percurso dessa unidade deve ser a compreensão do
funcionamento e estrutura do sistema nervoso. A menor unidade do sistema
nervoso, o neurônio, que produz e envia sinais elétricos. A comunicação entre os
neurônios é fundamental para a organização e orientação do comportamento em
um ambiente complexo e bastante mutável. As mudanças neuronais decorrentes das
aprendizagens transformam a percepção de coisas muito simples e possibilitam
enormes modicações de comportamentos comuns e também dos sosticados.
[...] a ciência que tem por objeto o estudo das relações entre as funções
do sistema nervoso e o comportamento humano. [...] A neuropsicologia
pretende inter-relacionar os conhecimentos da psicologia cognitiva com
as neurociências, desvendar a siopatologia do transtorno e, sobre esta
base, encarar racionalmente a estratégia de tratamento. (PAULA et al.,
2006, p. 225).
Para entendermos um pouco sobre como o córtex é ativado e como atua diante da
estimulação, como uma estimulação na pele, recorremos a Cosenza e Guerra (2011, p.
8):
AUTORIA
Carolina dos Santos Jesuino da Natividade
A mediação do comportamento depende de como o cérebro é construído, da sua
citologia, da biofísica e bioquímica. O bloco de construção básico de todos os
organismos é a célula. Existem vários tipos de neurônios cujo plano celular básico é
semelhante, o que nos permite conhecer o modo como as células nervosas agem
(KANDEL; SCHWARTZ; JESSELL, 2003). Falaremos das unidades fundamentais a partir
das quais os módulos do sistema nervoso são compostos, pois: “O fenômeno da
aprendizagem inicia-se em nível neuronal e desencadeia mudanças visíveis na
percepção e no comportamento” (CASTRO; OLIVEIRA, 2018, p. 70).
Figura 3 - Neurônio
Fonte: acesse o link Disponível aqui
O plano celular básico dos neurônios permite a capacidade exclusiva das células
nervosas de se comunicarem entre si, de modo rápido e por longas distâncias. “Os
principais compartimentos funcionais dos neurônios - o corpo celular, os dendritos,
os axônios e os terminais - estão geralmente separados por distâncias consideráveis”
(KANDEL; SCHWARTZ; JESSELL, 2003, p. 65). Quanto a estrutura e o funcionamento
do neurônio:
AUTORIA
Carolina dos Santos Jesuino da Natividade
De modo breve, Lent (2001) nos explica que o neurônio é uma unidade sinalizadora
do sistema nervoso, sua forma é adaptada para transmissão e processamento de
sinais. Sua morfologia é caracterizada por muitos prolongamentos próximos ao corpo
celular (dendritos), que funcionam como antenas para os sinais de outros neurônios,
possui também um prolongamento que leva as mensagens do neurônio para
lugares distantes. Os neurônios são células excitáveis capazes de produzir potenciais
de ação. Os potenciais de ação são as unidades de informação dos neurônios.
As alterações temporárias da corrente que entra e sai das células geram sinais
elétricos – potenciais do receptor, potenciais sinápticos e potenciais de ação. Os sinais
elétricos alteram o potencial de repouso da membrana celular. Pode-se ler na
explicação a seguir sobre a corrente controlada por canais iônicos na membrana
celular:
Fonte: Freepik.
REFLITA
“Penso noventa e nove vezes e nada descubro; deixo de pensar,
mergulho em profundo silêncio - e eis que a verdade se me revela”
(Albert Einstein).
Conclusão - Unidade 1
Como cada cérebro é único, as interações com o meio auxiliam na formação de novas
conexões ou reforçam antigas, moldando o organismo a cada experiência que se
repete ou que se pratica. As neurociências trazem muitos conhecimentos novos que
são integrados às áreas da Psicologia cognitiva, educação e saúde. Os avanços rápidos
das neurociências forçam os prossionais que dela se utilizam a se atualizarem
constantemente, pois antigas “verdades” sobre o funcionamento cerebral têm sido
desfeitas e novas descobertas reforçam o grande valor do conhecimento da integração
de saberes da neuropsicopedagogia.
Leitura complementar
Quando o cérebro não esquece um membro perdido
Antes da descoberta dos antibióticos, quando uma ferida nos braços ou nas pernas de
um paciente necrosava, o único tratamento eciente para evitar a morte era a
amputação. Só que, muitas vezes, o fantasma do membro amputado continuava
assombrando o paciente – literalmente. Ele “sentia” o membro amputado, ou, pior,
tinha dor no braço que não possuía mais. Seria alucinação? Delírio dos pacientes,
incapazes de aceitar sua nova condição? E quando a dor era muita, onde aplicar o
analgésico?
Até que uma guerra produziu dezenas de casos para um só cirurgião, o americano
Silas Weir Mitchell (1829-1914), que servia na Filadéla durante a guerra civil norte
americana (1861-1865). Os hospitais enchiam-se de soldados feridos; Mitchell chegou a
examinar 90 pacientes amputados. Desses, 86 logo passaram a sentir o fantasma do
membro removido – só quatro o “esqueceram”. Mitchell observou que as histórias de
membros fantasmas eram coerentes. Por exemplo, várias vezes eles pareciam
incompletos ou mais curtos do que o membro restante. Além do mais, eram muito
dolorosos e podiam ser sentidos por toques no rosto, por um bocejo, ou por mudanças
no vento. [...]
Livro
Filme
Acesse o link
Web
Acesse o link
Referências
CASTRO, D. C.; OLIVEIRA, C. P. R.. Neurociência cognitiva e educação: os efeitos do "Yoga na
Educação" (R.Y.E.) nos processos de aprendizagem. Paideia, ano 13, n. 20, p. 69-87, 2018.
AUTORIA
Carolina dos Santos Jesuino da Natividade
Introdução
Não existe apenas uma neurociência, mas várias neurociências que estudam o
cérebro humano em diferentes níveis, desde o nível molecular até as interações e
adaptações do organismo com o ambiente. Na presente unidade discutiremos as
neurociências cognitivas, que estudam os mecanismos neurais de capacidades
especícas humanas, como consciência, linguagem, planejamento e imaginação.
Além de conceito, temos a noção de juízo, que estabelece relação entre dois
conceitos, como “cadeira” e “utilidade”, formando o juízo de que “a cadeira é útil”. O
raciocínio permite o encadeamento de conhecimentos, ligando conceitos e
sequências de juízos. Outro aspecto fundamental para entendimento do
pensamento é sobre os processos do pensar, porque o pensamento possui forma e
conteúdo.
AUTORIA
Carolina dos Santos Jesuino da Natividade
As redes neurais são essenciais para que ocorra a aprendizagem (como já visto na
Unidade I). O neurônio é a base de tudo que sabemos e fazemos. A relevância do
neurônio para todo tipo de aprendizagem é explanada por Fonseca (2014, p. 237),
[...] o córtex pré-frontal [...] ocupa cerca de 30% do cérebro nos humanos
[...]. Partes do córtex-pré-frontal são responsáveis pelo direcionamento e
manutenção da atenção, manutenção das ideias na mente enquanto as
distrações bombardeiam as pessoas a partir do meio exterior, e
desenvolvimento e execução de planos. Todo o córtex pré-frontal é
indispensável para a atividade racional, sendo também especialmente
importante para muitos aspectos da vida social humana, como a
compreensão daquilo que as pessoas estão pensando, se comportar de
acordo com as normas culturais a própria existência. (GAZZANIGA;
HEATHERTON; HALPERN, 2017, p. 98).
As funções nervosas superiores são desempenhadas pelo córtex cerebral, que é
dividido em lobo frontal, temporal parietal e occipital. O lobo frontal recebe impulsos
nervosos dos lobos parietais e temporais por longos feixes de bras. Lesões bilaterais
na área pré-frontal causam perda da concentração, diminuição da habilidade
intelectual e décit de memória e julgamento. O lobo temporal, em sua parte
posterior, está relacionado com a recepção e a decodicação de estímulos auditivos,
que se relacionam com impulsos visuais. A parte anterior está relacionada com a
atividade motora visceral, mais especicamente, olfação e gustação, e com alguns
comportamentos instintivos (RELVAS, 2015).
O fenômeno emocional tem raízes biológicas muito antigas e se mantém por seu
valor para a sobrevivência das espécies e indivíduos. A relação entre processos
conativos (emocionais) e processos cognitivos (como os presentes nas funções
executivas) não são opostos, são complementares, como armam Cosenza e Guerra
(2011, p. 44):
O uso das funções executivas deve ser amparado pelos educadores, para que o aluno
aprenda a gerenciar o comportamento de lidar com frustrações diante das
diculdades e de repetições necessárias para a formação de rotas neurais, como
quando o aluno precisa repetir várias vezes a escrita e leitura de uma palavra para
formar a rota lexical e fonológica desta.
No ambiente escolar, o bom uso das funções executivas é fundamental para que um
estudante tenha sucesso. As funções executivas se desenvolvem lentamente e só
estão plenas com o amadurecimento do cérebro, por volta dos 20 anos.
AUTORIA
Carolina dos Santos Jesuino da Natividade
Desde o nascimento até o primeiro ano de vida, a capacidade de regular o próprio
comportamento em resposta às contingências ambientais e a capacidade de
estabelecer metas e de executar comportamentos voluntários com o intuito de
alcançar as metas são observados. Os primeiros sinais de controle inibitório surgem
entre 7 e 8 meses de idade. Outro marcador importante do desenvolvimento são os
precursores da teoria da mente (que é a capacidade de supor que cada pessoa tem
uma perspectiva e sensações diferentes das suas) surgem aos seis meses,
praticamente junto com a capacidade de distinguir objetos inanimados e animados.
Outro ponto importante da primeira infância é que, em torno de 12 e 18 meses, as
crianças começam a representar a percepção de um objeto compartilhado e a
acompanhar ativamente o olhar de uma pessoa para um objeto, isso quando
apresentam desenvolvimento neurológico típico.
Casey, Getz, e Galvan (2008) compilaram uma série de estudos, os quais mostram
associação positiva entre a atividade do nucleus accumbens e a probabilidade de se
envolver em comportamentos de risco durante o desenvolvimento, mas essa
atividade varia em função da avaliação de consequências positivas ou negativas
previstas. Para esses autores, durante a adolescência, alguns indivíduos podem ser
mais propensos a se envolver em comportamentos de risco. Mais do que simples
alterações na impulsividade, isso se deve também às mudanças de desenvolvimento,
em conjunto com a variabilidade na predisposição individual a se envolver em tais
comportamentos de risco. Os autores ressaltam a relevância de se considerar a
variabilidade individual ao examinar as relações cérebro comportamento
relacionadas a assumir riscos e ao processo de recompensa, o que pode, ainda,
explicar a vulnerabilidade de alguns jovens a determinados comportamentos de
risco, como abuso de drogas.
d etu n g a
rte Fo
Influências normativas Influências
relacionadas com a não-normativas
história
cia n ê a influ d e
a
c
a
Influências
normativas
relacionadas com a
idade
M
Fr
Infância Adolescência Idade adulta Velhice Fonte: Palácios (2007, p. 373).
Williams (2005) apresenta sugestões de como dar explicações claras e diretas para
mudar um comportamento. 1º, descrever um comportamento especíco; 2º, descrever
as consequências do comportamento; 3º, descrever como você se sente em relação
ao comportamento; 4º, descrever por que você se sente dessa forma; 5º, descrever o
que precisa ser mudado.
Se você precisa que seu lho passe a manter organizado e arrumado o próprio quarto,
uma proposta usando esses passos seria: “Filho, por muitos anos você não tem dado
a mínima para o seu quarto (descrição do comportamento especíco). O lugar está
cheio de roupas sujas, sem falar das embalagens com restos de comida espalhadas
pelo chão. Você tem convivido com o lixo e a bagunça por muito tempo (as
consequências do comportamento). Eu tenho medo de que isso já tenha se tornado
um estilo de vida (descrição de como se sente em relação ao problema). Preciso que
cuide mais do seu quarto (o que precisa ser mudado)”.
Se um aluno tem uma imagem mental de si como fracassado, provavelmente ele irá
fracassar. Uma frase atribuída a Henry Ford é muito ilustrativa ao que hoje se chama
de mindset: “Se você pensa que pode ou se pensa que não pode, de qualquer forma
você está certo”. Essa explicação sobre as “verdades” que contamos a nós mesmos
pode nos impedir de atingir os objetivos ou nos impelir ao sucesso. Se os educadores
dominarem a técnica de feedback, podem ajudar a impulsionar muitas
alunos que estão descrentes de si e desistindo de lutar, porque acreditam que nunca
serão bons. Eis a utilidade da neuropsicopedagogia, aliar saberes da neurociência
com a realidade educacional para auxiliá-la.
SAIBA MAIS
Exemplos de décit de cognição espacial
Muito da sobrevivência humana só foi e é possível graças aos sistemas cerebrais que
nos energizam de modo rápido para emissão de reações de luta e fuga. Quanto mais
se olha para o cérebro, em suas relações com as pessoas e ambientes, mas se vê o
universo único e fantástico que se rege a partir de leis que nós, humanidades, ainda
estamos na iminência de entender.
Leitura complementar
Phineas Gage
Uma lesão encefálica pode, às vezes, apresentar uma profunda inuência sobre a
expressão emocional de uma pessoa, com poucos efeitos adicionais. Um dos mais
famosos exemplos é o caso de Phineas Gage. No dia 13 de setembro de 1848, enquanto
socava pólvora em um buraco, preparando uma explosão no local de construção de
uma ferrovia, em Vermont, ele cometeu o erro de não olhar, por um instante, para o
que estava fazendo. O ferro que era utilizado para socar atingiu uma rocha, e a pólvora
explodiu. As consequências desse ato são descritas pelo Dr. John Harlow em um artigo
de 1848, intitulado: “Passagem de uma barra de ferro através da cabeça”. Quando a
carga explodiu, a barra de ferro de um metro de comprimento e de 6 kg foi projetada
em direção à cabeça de Gage, logo abaixo de seu olho esquerdo. Após atravessar seu
lobo frontal esquerdo, a haste saiu pela parte superior do crânio de Gage.
Phineas seguiu vivendo por mais 12 anos, e quando morreu não foi realizada qualquer
autópsia. Seu crânio e a barra de ferro foram preservadas em um museu na Escola
Médica de Harvard. Em 1994, Hanna e Antonio Damásio e seus colegas, da
universidade de Iowa, zeram novas medidas do crânio e utilizaram técnicas modernas
de diagnóstico por imagem para reconstruir a lesão no encéfalo de Gage. (...) A barra
de ferro lesionou gravemente o córtex cerebral de ambos os hemisférios,
especialmente os lobos frontais. Presume-se que tenha sido essa lesão que levou às
explosões emocionais apresentadas por Gage e às drásticas mudanças em sua
personalidade.
Filme
Acesse o link
Web
Acesse o link
Unidade 3
Cérebro I
AUTORIA
Carolina dos Santos Jesuino da Natividade
Introdução
O conhecimento sobre o cérebro e o sistema nervoso é muito vasto e apresenta
inúmeras implicações. A Psicologia e a Pedagogia foram atraídas para o campo de
forças das neurociências, gerando uma área de conhecimento fabulosa. A
neuropsicopedagogia é herdeira de uma noção de ser humano muito rica e
complexa.
AUTORIA
Carolina dos Santos Jesuino da Natividade
O cérebro é tido como a morada da razão. Quando vemos o desenho do cérebro
estilizado, geralmente se remete às grandes ferramentas de que dispõe a
humanidade: criatividade, raciocínio e estratégia.
É necessário termos uma boa noção sobre o cérebro e o sistema nervoso para que
possamos acompanhar a neuropsicopedagogia. Comecemos pelo Sistema Nervoso
Central (SNC), que são as porções do sistema nervoso envolvidas pelos ossos: o
encéfalo e a medula espinhal. O encéfalo é dividido em cérebro, cerebelo e tronco
encefálico. O cerebelo ca atrás do cérebro, o termo vem do latim, signica cérebro
pequeno. O cerebelo é: “[...] um centro de controle do movimento que possui
extensivas conexões com o cérebro e com a medula espinhal” (BEAR; CONNORS;
PARADISO, 2008, p. 171). “O tronco encefálico é um conjunto complexo de bras e
células, que, em parte, serve para enviar informação do cérebro à medula espinhal e
ao cerebelo e da medula espinhal e cerebelo ao cérebro” (BEAR; CONNORS;
PARADISO, 2008, p. 171). O tronco encefálico também regula funções vitais, como
respiração, consciência e controle de temperatura. Ele é considerado a porção mais
antiga do encéfalo dos mamíferos.
Fonte: Freepik.
A medula espinhal é envolvida pela coluna óssea e está colada ao tronco encefálico.
A medula espinhal é o maior condutor de informação da pele, articulações e dos
músculos ao encéfalo e do encéfalo para o sentido contrário. Caso haja um corte na
medula espinhal, resultará em falta de sensibilidade na pele e até paralisia no
músculo (BEAR; CONNORS; PARADISO, 2008).
Lent (2001) explica que o cérebro é constituído por dois hemisférios justapostos e
separados por um profundo sulco. No cérebro ca o córtex cerebral, que é a superfície
enrugada cheia de giros e sulcos. No córtex estão representadas as funções neurais e
psíquicas mais complexas.
AUTORIA
Carolina dos Santos Jesuino da Natividade
Na antiguidade grega, Aristóteles defendia que o coração era o centro do controle do
corpo. Também por volta de 330 a.C., Aristóteles enunciou a primeira reexão sobre a
relação mente-cérebro. Na obra Sobre a Alma o pensador relaciona as funções
nutritivas, sensitivas, locomotoras e reprodutivas a processos siológicos do
organismo. Quanto ao aspecto intelectual, a losoa aristotélica armava que as coisas
materiais possuíam capacidade de impressionar a mente. O conhecimento racional
faria parte das verdades universais. A parte pensante da alma, para Aristóteles, não se
misturaria ao corpo, contudo era capaz de pensar (DALGALARRONDO, 2008).
Dos encontros com gladiadores feridos nos territórios de Roma antiga e de estudo
de animais mortos, Galeno pode depreender conhecimentos sobre a relação entre
cérebro e resto do organismo. Ele escreveu que espíritos animais no cérebro
transmitiam sensações e movimentos. Galeno identicou as funções dos nervos e
propôs uma das primeiras teorias do funcionamento da mente, isso tudo 200 anos
antes de Cristo. Suas ideias prosseguiram convencendo grandes nomes da ciência do
período pós-renascença, como René Descartes (1596-1650). O cérebro foi tomado
losocamente por Descartes, isso é, ele não o estudou dissecando-o, mas sua
maneira de pensar sobre a relação corpo e alma foi determinante para o modo como
todo o mundo ocidental compreende o cérebro: a máquina que abriga a alma.
(LAMBERT; KINSLEY, 2006).
Outro nome de destaque surge 25 anos após a morte de Descartes, é Thomas Willis.
Thomas é considerado o pioneiro das funções cerebrais, ajudando a estabelecer que
o cérebro desempenha um papel de orquestrar as funções do corpo e da mente. A
mente genial de T. Willis e as técnicas de dissecação promoveram enormes ganhos
cientícos:
Por meio de dissecações e observações perspicazes, começou a
descobrir as verdadeiras funções de algumas das estruturas do cérebro.
Por exemplo, seu trabalho não enfatizava a importância dos ventrículos
para as funções superiores, e voltou-se para a inuência dos hemisférios
cerebrais. Ele também descreveu o corpo estriado pela primeira vez,
propondo corretamente o papel dessa estrutura no movimento, e
sugeriu que a área inferior do tronco encefálico está envolvida nas
funções cerebrais mais básicas, como a respiração. (LAMBERT; KINSLEY,
2006, p. 64).
Franz Gall (1758-1828) foi muito além do localizacionismo, ele estabeleceu relações
entre estruturas corticais e a intensidade de muitas faculdades. Gall estabeleceu um
protocolo em que, por apalpadelas, poderia descrever várias características da
personalidade do dono do crânio, fosse um ser humano, fosse um animal. Quando se
chegou à conclusão que a frenologia era risível, outros nomes demonstraram
experimentalmente e por meio de casos clínicos algumas relações fortes entre
determinada área no cérebro e uma atividade de linguagem, como na área de Broca
e Wernicke.
Loewi descobriu, com sapos, que os neurônios se comunicam entre si pela liberação
e recepção de determinados compostos químicos. Adrian forneceu informações
sobre a maneira como os neuroquímicos estimulam os neurônios e como os
neurônios transmitem informações para o próximo neurônio (LAMBERT; KINSLEY,
2006).
AUTORIA
Carolina dos Santos Jesuino da Natividade
A memória, utilizando conceito de Stratton e Hayes (2009), é o termo geral atribuído
ao armazenamento e posterior recuperação da informação. É preciso dar atenção
para um estímulo para que seja memorizado, por isso grande parte dos estímulos a
que somos expostos não entram na memória. A memória tem grande importância,
de modo psicológico, porque é ela que dá a sensação de continuidade da qual
depende nossa noção de eu (ATKINSON et al., 2002).
Duas das funções cognitivas que atendem às elaborações mais completas em seres
humanos são: emoção e memória. A emoção e a memória são mediadas em grande
parte por componentes do sistema límbico. A emoção, a memória e a linguagem
estão inextricavelmente ligadas a outros construtos da cognição, como atenção,
função executiva e tomada de decisão. Admite-se a inexistência de uma distinção
clara entre essas funções inter-relacionadas (SCHENKMAN, 2016).
O fato é que a recuperação de uma lembrança não é literal e dedigna, como se fosse
um lme que se repete exatamente igual. A lembrança se parece mais com uma
montagem editada, que é inuenciada pelas experiências passadas e presentes. As
lembranças não são apenas fatos recuperados quando a evocamos.
Muito do que lembramos são fatos que vivemos, mas também vamos além disso.
Fazemos ajustes e reajustes constantes para tornar as memórias coerentes com as
expectativas sobre nós mesmos e sobre o mundo.
O lme que passa por nossa cabeça ao evocarmos alguma cena de nosso passado é
alterado inúmeras vezes, sem que possamos identicar o quanto já editamos esse
lme.
Como expõem Cosenza e Guerra (2011), pode haver o registro de uma informação
dependendo da relevância da experiência ou informação. Com o registro da
informação poderá ocorrer alterações nas estruturas dos circuitos nervosos, com
sinapses se tornando mais ecientes. Para a informação se xar no cérebro é necessário:
a) repetição (quanto mais se repetir uma atividade, mais ligações se estabelecerem e
melhor será o registro); b) elaboração (criação de vínculos de um conteúdo novo com
outros antigos) e c) consolidação (alterações biológicas nas conexões entre os
neurônios, um registro se vincula a outros já existentes).
A memória é a função mental que nos dá a sensação de identidade e continuidade,
pois, por mais que nós mudemos, mantemos a sensação de ser a mesma pessoa,
independente da idade e experiências de vida.
Conhecer mais o cérebro humano tem levado a algumas dúvidas, se somos somente
matéria ou algo a mais. A seguir seguiremos com essa atual problemática.
Cerebralismo: A doutrina
do cérebro como início e m
do comportamento
AUTORIA
Carolina dos Santos Jesuino da Natividade
Como cabe a toda nova área, quando a neurociência se vê de braços dados com a
Psicologia e a Pedagogia ela granjeia para si um modo de pensar crítico sobre seu
papel. Se enquanto nascida no berço das ciências biológicas a neurociência não
precisou ousar rever sua “identidade social”, aliando-se à Psicologia e à Pedagogia
cabe a ela a incômoda, mas produtiva situação de questionamento. A palavra
cerebralismo é um neologismo para designar a redução do ser humano ao material,
ao seu cérebro.
Como apontado pelo neurologista, há muito que explicar, há muitos níveis de análise
sem que se tenha que diminuir o homem a um apanhado de moléculas. Existe uma
ambição reiterada das ciências biomédicas de produzir uma compreensão do
humano totalmente “sicalista” ou “naturalista”, que costuma ser criticamente
chamada de “reducionismo”. Reducionismo que existe na concepção do que é
humano, humano reduzido a um órgão. Recentes recongurações das ciências
naturais vêm retomando os postulados mecanicistas, de um cérebro eminentemente
mecânico. O campo das neurociências tem sido pródigo em propostas sobre a
preeminência da matéria, ao explorar o funcionamento da conexão cerebral da
experiência humana (DUARTE, 2018). Esse respeito, Duarte (2018, p. 4) nos incita:
O fato de a experiência humana se dar por meio do cérebro não implica,
porém, necessariamente pretender que ela tenha origem nesse órgão, ou
que seja dele um mero epifenômeno. Muito pelo contrário, tem se
discutido amplamente como o surgimento do cérebro “humano” pode
ser o resultado de um processo evolucionário,
logenético, em que a materialidade original do cérebro símio interagiu
continuamente, por pressões ambientais e acumulação de traços
diferenciais, com os primeiros desaos e experiências da cultura e da
socialidade humanas, constituindo-se e vindo a sustentar a forma
material e as propriedades funcionais do órgão atual. (DUARTE, 2018, p.
4).
REFLITA
“A memória guardará o que valer a pena. A memória sabe de mim mais
que eu; e ela não perde o que merece ser salvo” (Eduardo Galeano).
Conclusão - Unidade 3
As neurociências são uma ciência nova, o que nos obriga a estar sempre atentos às
novas descobertas, porque há menos de dez anos dizia-se que os neurônios não se
renovavam. Hoje se reconhece que neurônios de algumas áreas do cérebro, como do
bulbo olfatório, são capazes de se regenerar. A neurociência ainda nos dará muitas
alegrias. Na área da educação já é observado como o cérebro aprende para que se
orientem modos ecazes de ensino-aprendizado. A linguagem cientíca é cada vez mais
presente no dia a dia escolar, seja dentro de sala, seja ao debater políticas públicas.
Fenômenos como de crianças que superam adultos no uso da tecnologia mostram o
que a inteligência bem aplicada pode fazer. Contudo, a ausência de limites e recursos
variados (off-line) de interação xa as crianças em ritmos que as adoecem. Buscamos
conhecer o potencial e limites do cérebro para beneciar o ser humano com mais
saúde e qualidade de vida. O excesso de tecnologia para uma geração despreparada
para lidar com ela pode gerar milhares de dependentes de internet e jogos online.
Interessante notar que a máxima romana: “Mente sano corpore sano” (mente sã em
corpo sano) é atual e compatível com os achados de neurociências, pois ao cuidar da
saúde se conseguirá ofertar um organismo equilibrado. Questões como a relação da
mente, organismo e comportamento exigem muita pesquisa e reexão, como ao ver
bons lmes e ler a bons livros, para ampliar nossa compreensão sobre assuntos que há
muito ocupa lugar na mente dos pensadores como Aristóteles, Platão, Descartes e
muito outros.
Quem sabe, nas próximas décadas a neuropsicopedagogia terá mais respostas a nos
oferecer, para que possamos compreender um pouco mais a nós mesmos.
Leitura complementar
Memória demais
Memória provocada
Livro
Filme
Acesse o link
Unidade 4
Cérebro II
AUTORIA
Carolina dos Santos Jesuino da Natividade
Introdução
Entender o ser humano sempre foi uma ambição. Partindo-se de meras observações
de alterações do comportamento após traumas na cabeça até chegar à observação
sistematizada da ciência, o ser humano criou teorias que justicassem a enorme
variedade de fenômenos que via. Com os critérios mais claros de como explorar o
cérebro, por meio de tecnologias menos invasivas, o homem passou a investigar o
cérebro em ação, ativo.
AUTORIA
Carolina dos Santos Jesuino da Natividade