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Introdução à Neurociência

e Neuroeducação
1. Apresentação 4

2. Introdução 6
Neurociência 7
Neurociência: o que é? 7
Sistema nervoso humano 8

3. Neuroeducação 13
A neuroeducação como ciência multidisciplinar 14
Posicionamentos sobre a neuroeducação 17
Os neuroeducadores 21

4. O cérebro e a aprendizagem 23
Estratégias de ensino baseadas nas neurociências 24
As neurociências e a formação dos professores 29
Considerações finais 32

5. Referências Bibliográficas 34

02
03
INTRODUÇÃO À NEUROCIÊNCIA E NEUROEDUCAÇÃO

1. Apresentação

P rezado(a) aluno(a), durante


essa disciplina estudaremos so-
bre uma ciência nova que estuda o
podem atuar na promoção de estí-
mulos que facilitam o funciona-
mento neural.
sistema nervoso com ênfase no cére- A necessidade de um conheci-
bro, chamada de neurociência. O mento sobre a neuroeducação por
foco do estudo é como a neurociên- parte dos educadores justifica o es-
cia pode ser aplicada ao ensino e tudo do assunto apresentado, fa-
aprendizagem criando a chamada zendo com que novas abordagens
neuroeducação. surjam com o intuito de transformar
Discute-se atualmente as difi- nossa educação.
culdades que a educação vem en-
frentando para atingir seu objetivo
de universalidade, uma vez que a ga-
rantia de acesso não significou
aprendizagem para todos; ao con-
trário, o grande número de evasões
e repetências demonstram que mui-
tos dos que chegam à escola saem
dela por não conseguirem se famili-
arizar com o padrão exigido.
Os conhecimentos das neuro-
ciências aplicados à neuroeducação
podem ser os proporcionadores de
uma educação que perceba a neces-
sidade de visualizar o ser humano
em sua integralidade, que faz de
cada ser único, devendo ter sua indi-
vidualidade respeitada.
Nesse aspecto muitos dos de-
nominados problemas de aprendi-
zagem podem ser redimensionados,
através de uma explicação científica
sobre o funcionamento dos neurô-
nios e como os estímulos externos

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INTRODUÇÃO À NEUROCIÊNCIA E NEUROEDUCAÇÃO

2. Introdução

Fonte: Freepik

N essa etapa do trabalho vamos


discutir sobre a neuroeducação
como caminho para a escola atingir
Ainda, no primeiro capítulo
será apresentado o funcionamento
do sistema nervoso e os principais
todos os seus alunos, promovendo a temas e grupos de pesquisa relacio-
aprendizagem. nados a neurociências no Brasil.
Aqui cabem todos os educado- No segundo capítulo a aborda-
res, desde gestores até os auxiliares gem será a neuroeducação como
de serviços gerais, uma vez que to- ramo de estudo das neurociências,
das as ações dentro do ambiente es- importante para o desenvolvimento
colar são ações educativas. de uma nova perspectiva para avan-
Para adentrarmos no assunto, ços na educação.
no primeiro capítulo será apresen- Também, no segundo capítulo
tada a neurociência, como ciência será apresentada a neurociência
recente que estuda o desenvolvi- como ciência multidisciplinar que
mento do sistema nervoso, inclu- adentra no campo da educação, ge-
indo o desenvolvimento do cérebro e rando controvérsias, mas ao mesmo
os estímulos neurais que proporcio- tempo criando a categoria dos neu-
nam a aprendizagem. roeducadores.

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INTRODUÇÃO À NEUROCIÊNCIA E NEUROEDUCAÇÃO

Finalizando, o terceiro capí- Neurociência: o que é?


tulo discutirá sobre o funciona-
mento do cérebro e como a aprendi- Os avanços científicos são uma
zagem se constrói nessa parte do realidade e o interesse no estudo do
corpo humano, apresentando a homem em suas diversas vertentes
questão dos estímulos neurais. sempre foi um interesse humano.
Ainda serão apresentadas es- Nesse sentido, compreender como o
tratégias de ensino baseadas na neu- corpo humano funciona, suas inter-
rociência, colocando algumas meto- ligações e os reflexos dos aspectos fi-
dologias que podem ser aplicadas siológicos com os comportamentais
em sala de aula e a necessidade da continua sendo um tema de investi-
formação dos professores baseada mento para a ciência. Assim:
na neurociências.
Pretende-se assim, começar A neurociência compreende o
estudo do sistema nervoso e
uma discussão através de uma apre- suas ligações com toda a fisiolo-
sentação dessa perspectiva para a gia do organismo, incluindo a
educação que possibilitará desen- relação entre cérebro e compor-
tamento. O controle neural das
volver metodologias e ações que ga- funções vegetativas – digestão,
rantam que a educação avance em circulação, respiração, homeos-
prol de uma aprendizagem de quali- tase, temperatura –, das fun-
ções sensoriais e motoras, da
dade como direito de todos. locomoção, reprodução, ali-
mentação e ingestão de água, os
mecanismos da atenção e me-
Neurociência mória, aprendizagem, emoção,
linguagem e comunicação, são
A neurociência ainda é uma temas de estudo da neurociên-
novidade no campo científico, de- cia (VENTURA, 2010, p. 123).
senvolvendo pesquisas e estudos so-
Portanto, compreender o fun-
bre o desenvolvimento neurológico
cionamento do cérebro em seus vá-
dos indivíduos. Durante algum
rios aspectos, percebendo ser esse
tempo ficou restrita ao âmbito da
órgão um regulador e controlador de
medicina, mas os avanços tecnológi-
todo o corpo, nos aspectos físicos,
cos possibilitaram que se tornasse
comportamentais e emocionais faz
mais conhecida e ampliou seu
com que a Neurociência estude:
campo de atuação. Assim é impor-
tante que também os educadores to-
Os neurônios e suas moléculas
mem conhecimento dessa ciência. constituintes, os órgãos do sis-

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INTRODUÇÃO À NEUROCIÊNCIA E NEUROEDUCAÇÃO

tema nervoso e suas funções es- normal e patológico, além de inves-


pecíficas, e também as funções
tigar demais alterações cerebrais
cognitivas e comportamento
que são resultantes da atividade que podem ser resultado de eventos
dessas estruturas (COSENZA & ambientais como trauma, agentes
GUERRA, 2011, p. 142)
infecciosos ou tóxicos; por tumores,
mutações gênicas e defeitos congê-
Ventura (2010) afirma que
nitos; por eventos vasculares e defi-
desde a década de 1990, o governo
ciências nutricionais, e por muitos
dos Estados Unidos destacou a neu-
outros fatores.
rociência, destacando 1990 como a
‘Década do Cérebro’. Ainda, de
Sistema nervoso humano
acordo com a autora, muitos consi-
deram o século 21 como o século do
O sistema nervoso humano é
cérebro, onde as grandes conquistas
dividido em sistema nervoso central
da humanidade estarão dirigidas
(SNC) e sistema nervoso periférico
para a compreensão das funções
(SNP). O sistema nervoso central se
neurais humanas.
localiza no crânio e na coluna verte-
bral e o sistema nervoso periférico
A neurociência não só deve ser
considerada uma disciplina, está integrado por vários nervos fora
mas um conjunto de ciências do crânio e da coluna vertebral, es-
cujo sujeito de investigação é o ses nervos são chamados de gânglios
sistema nervoso com particular
interesse em como a atividade periféricos e os receptores sensori-
do cérebro se relaciona com a ais.
conduta e a aprendizagem. O
Os nervos do sistema nervoso
propósito geral da neurociên-
cia, declaram Kandel, Schwartz periférico levam os impulsos ao sis-
e Jessel (1997), é entender tema nervoso central são chamados
como o encéfalo produz a
de aferentes ou sensitivos; e os que
marca individual da ação hu-
mana. O termo neurociência in- levam os impulsos do cérebro ao sis-
clui, pois, segundo Blakemore e tema nervoso periférico são chama-
Frith (2000) todos os tipos de
estudo do cérebro. (MORINO &
dos de eferentes ou motores (BAR-
SILVA, 2012, p. 31) BADO et al. 2002).
O encéfalo está dividido em
A neurociência investiga desde três partes que são o metencéfalo
seus objetivos, os mecanismos das que inclui o cerebelo e a parte mais
doenças neurológicas e mentais por inferior do tronco cerebral; o mesen-
meio do estudo do sistema nervoso céfalo que cobre a parte superior do
tronco cerebral; o resto do cérebro é

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INTRODUÇÃO À NEUROCIÊNCIA E NEUROEDUCAÇÃO

considerado como prosencéfalo que O prosencéfalo cobre o resto


cobre a área límbica, o tálamo, o hi- do cérebro e contém partes essenci-
potálamo, o hipocampo, a amígdala, ais para a aprendizagem e a memó-
o cérebro e a crosta cerebral. (SA- ria. Aqui a informação examinada
LAS, 2007, p. 43). pelo sistema ativo reticular continua
O cérebro é uma massa suave seu caminho através da mente. O
e gelatinosa, sendo a maior área das que acontecerá com essa informação
quatro partes. Sua superfície é cinza dependerá do estado emocional, fí-
clara, enrugada e marcada por sul- sico e intelectual do aprendiz. (SA-
cos chamadas fissuras. LAS, 2007, p. 45).
Uma grande fissura ocorre Cada um dos dois hemisférios
desde a frente até a nuca; divide o está dividido em quatro lobos: occi-
cérebro em duas metades, chamadas pital, temporal, parietal e frontal. Os
de hemisférios cerebrais. Os nervos dois lobos occipitais estão na parte
do lado esquerdo do corpo cruzam traseira do cérebro e processam a in-
até o hemisfério esquerdo, e os do formação visual. (SALAS, 2007, p.
lado direito até o hemisfério direito. 48).
Os dois hemisférios estão conecta- Quando os estímulos visuais
dos por fibras nervosas chamadas de são transmitidos pelo tálamo, a in-
corpo caloso. (SALAS, 2007, p. 47) formação é enviada a esses lobos.
O córtex cerebral é composto Aqui é processado e tem lugar o re-
por seis capas de células envolvidas conhecimento dos objetos vistos.
em torno de 10.000 fibras conecta- (SALAS, 2007, p. 48).
das por polegada cúbica. Onde tem Um neurônio é composto por
lugar a maior parte da ação humana. três partes básicas: o corpo celular,
O pensamento, a memória, a fala e o os dendritos e o axônio. Diferente
movimento muscular são controla- das demais células, os neurônios
dos por estas áreas no cérebro. (SA- têm milhares de ramos que emer-
LAS, 2007, p. 47) gem do seu núcleo, sendo chamados
O metencéfalo controla os sis- de dendritos. (SALAS, 2007, p. 23)
temas involuntários do corpo atra- Os dendritos são extensões al-
vés do tronco cerebral, onde reside tamente ramificadas e densas do
outra estrutura chamada de sistema corpo da célula que recorrem à in-
ativador reticular. (SALAS, 2007, p. formação e conduzem os impulsos
44). até o corpo celular. Os dendritos re-
cebem impulsos elétricos de outros

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INTRODUÇÃO À NEUROCIÊNCIA E NEUROEDUCAÇÃO

neurônios e os transmitem através precisa entender a relação do cére-


do axônio. (SALAS, 2007, p. 23) bro com a cognição é o conheci-
O axônio é comumente uma mento, assunto a ser tratado nos
larga e fina fibra que conduz os im- próximos capítulos desse estudo.
pulsos nervosos desde o corpo da cé- No Brasil a neurociência ini-
lula a outro neurônio, músculo ou ciou-se em 1940, estando consoli-
glândula e normalmente há um só dada com tradição e ampla repre-
axônio por neurônio. (SALAS, 2007, sentação em nosso país. Veja os te-
p. 23) mas de pesquisa dos principais gru-
Todas essas informações são pos de neurociência no Brasil:
extremamente relevantes quando se

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INTRODUÇÃO À NEUROCIÊNCIA E NEUROEDUCAÇÃO

Fonte: Tabela 2. VENTURA, Dora Fix. Um Retrato da Área de Neurociência e Com-


portamento no Brasil. p.126.

As diversas áreas representadas O que foi apresentado até aqui


nas neurociências brasileiras
demonstra que a neurociência apre-
surgiram de forma espontânea,
de meados do século passado senta uma diversidade de interesses,
para cá, refletindo oportunida- inclusive na área educacional, apli-
des de treinamento em centros
do exterior para os pioneiros da
cando os conhecimentos sobre o
área. Sua diversificação cobre funcionamento dos neurônios no
uma razoável extensão do sentido da aprendizagem, rece-
campo das neurociências, em-
bora ainda existam muitas lacu-
bendo esse campo, o nome de neu-
nas. Mais do que cobrir todas as roeducação, sendo esse o assunto
lacunas, contudo, devemos que passaremos a apresentar.
pensar no que seria relevante
procurar desenvolver em nosso
meio. Propomos, a seguir, al-
guns objetivos que poderão
nortear futuras direções de de-
senvolvimento. (VENTURA,
2010, p.128).

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INTRODUÇÃO À NEUROCIÊNCIA E NEUROEDUCAÇÃO

3. Neuroeducação

Fonte: Iberdrola

A neurociência é uma ciência


nova e ultrapassando as áreas
acadêmicas, estende-se à educação,
a elas relacionadas contribui
para o cotidiano do educador e
da escola, junto ao aprendiz e à
sua família. (COSENZA &
encontrando alunos, professores, GUERRA, 2011, p. 143).
pais e coordenadores.
Segundo Cosenza & Guerra Esse novo campo de interesse
(2011), conhecendo o funciona- educacional iniciou-se nos anos de
mento do cérebro o trabalho do pro- 1970, com Howard Gardner, que
fessor pode ser mais eficiente e sig- apresentou a falta de um elo entre a
nificativo, pois: neurologia, a psicologia e a educação
para formar neuroeducadores
Conhecer a organização e as (ZARO, 2014).
funções do cérebro, os períodos Assim é preciso reafirmar que
receptivos, os mecanismos da
“a neuroeducação é um novo campo
linguagem, da atenção e da me-
mória, as relações entre cogni- multidisciplinar de conhecimento e
ção, emoção, motivação e de- de atuação profissional nas áreas da
sempenho, as dificuldades de
docência e da pesquisa educacional”
aprendizagem e as intervenções

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INTRODUÇÃO À NEUROCIÊNCIA E NEUROEDUCAÇÃO

(ZARO, 2014, p. 2). Ela aborda o co- A atenção e a motivação estão


nhecimento e a inteligência inte- relacionadas no processo de forma-
grando a Psicologia, a Educação e as ção da memória (Galvão, 2017), mas
Neurociências. também a emoção e seus aspectos
socioculturais são essenciais para a
A neuroeducação como ciên- memória, tendo um papel impor-
cia multidisciplinar tante em transformar uma “Infor-
mação” em "aprendizagem''.
Cosenza & Guerra (2011, p.
143) afirmam que “saber como o cé- Há uma relação complexa e
rebro aprende não é suficiente para mútua entre atenção, interesse,
motivação experiência e memó-
a realização da ‘mágica do ensinar a ria; então, quanto mais conhe-
aprender’,”, mas “é possível relacio- cimento você adquire sobre
nar algumas explicações neurobioló- uma área específica, mais inte-
resse terá nele – e seu conheci-
gicas com os assuntos pedagógicos”. mento e interesse irão reforçar
Galvão (2017) acredita que a utiliza- um ao outro, aumentando sua
ção de estratégias pedagógicas que memória para materiais na-
quela área (FOSTER, 2009, p.
valorizem o funcionamento cerebral 127).
contribuirá para uma aprendizagem
efetiva. De acordo com Cosenza &
O que é corroborado por Zaro Guerra (2011), emoção é um fenô-
(2014) que afirma que os comporta- meno que assinala a presença de
mentos da aprendizagem é o princi- algo importante ou significante de
pal objetivo da neuroeducação. um determinado momento da vida
Segundo Galvão (2017), a neu- de um indivíduo. Ela se manifesta
roeducação baseia-se em três di- por meio de alterações na sua fisio-
mensões fundamentais para a logia e em seus processos mentais e
aprendizagem: que são a atenção, a mobiliza os recursos cognitivos exis-
motivação e a memória. tentes, como a atenção e a percep-
Nos mecanismos da cognição, ção. (COSENZA & GUERRA, 2011).
o contingente de informações é sele-
cionado pela atenção e por fatores (...) são fenômenos que assina-
motivacionais até materializar-se bi- lam a presença de algo impor-
tante ou significativo em um
oquimicamente nas regiões cere- determinado momento da vida
brais da memória, o que se consolida de um indivíduo. Elas se mani-
na aprendizagem (Galvão, 2017). festam por meio de alterações
na sua fisiologia e nos seus pro-
cessos mentais e mobilizam os

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INTRODUÇÃO À NEUROCIÊNCIA E NEUROEDUCAÇÃO

recursos cognitivos existentes, informações (LENT, 2005, p.


como a atenção e a percepção 588).
(COSENZA & GUERRA, 2011,
p. 75).
Lent (2005) acrescenta a esse
mecanismo a percepção, afirmando
A atenção é um fenômeno que
que:
nos possibilita a capacidade de foca-
lizar, em cada momento, determina-
Percepção é a capacidade de as-
dos aspectos do ambiente, deixando sociar as informações sensori-
de lado o que for dispensável. (Co- ais à memória e à cognição de
modo a formar conceitos sobre
senza & Guerra, 2011).
o mundo e sobre nós mesmos e
Segundo Galvão (2017), a mo- o orientar nosso comporta-
tivação resulta de um processo fisio- mento. Os primeiros estágios
da percepção consistem no pro-
lógico vinculado a um mecanismo cessamento analítico realizado
dedicado à recompensa. A partir de pelos sistemas sensoriais, desti-
um estímulo por impulsos elétricos nados a extrair de cada objeto
suas características, que na ver-
na área tegumentar ventral, ocorre a dade consistem nas submodali-
liberação de dopamina que alcança o dades sensoriais: cor, movi-
núcleo accumbens e segue para o mento, localização espacial,
timbre, temperatura etc. Com-
córtex pré-frontal, proporcionando binações dessas características
a sensação de prazer e bem-estar passam então por vias paralelas
que mobiliza a atenção da pessoa e cooperativas no SNC [sistema
nervoso central], que gradati-
reforça o seu comportamento (GAL- vamente reconstroem o objeto
VÃO, 2017). como um todo, para que ele
Já a memória é o processo de possa ser memorizado ou reco-
nhecido, e para que possamos
arquivamento seletivo de informa- orientar nosso comportamento
ções, consolidando-se no conjunto em relação a ele. A modalidade
de processos neurológicos e psicoló- visual é a que está mais bem es-
tudada a esse respeito, conhe-
gicos que possibilitam a aprendiza- cendo-se uma via cortical dor-
gem (KANDEL apud GALVÃO, sal, destinada a identificação
2017, p. 32). Lent (2005) reafirma o das relações espaciais dos obje-
tos com o observador e com o
mesmo ao dizer que a memória: mundo, e uma via ventral, cuja
função é reconhecer o objeto,
(...) é a capacidade que tem o dando-lhe um nome e identifi-
homem e os animais de arma- cando a sua função e a sua his-
zenar informações que possam tória (LENT, 2005, p. 556).
ser recuperadas e utilizadas
posteriormente. Difere da
aprendizagem, pois esta é ape-
nas o processo de aquisição das

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INTRODUÇÃO À NEUROCIÊNCIA E NEUROEDUCAÇÃO

Esse acréscimo é fundamental sentidos clássicos permitem su-


por. Ele detecta alterações sutis
no sentido de compreender como es-
da posição do corpo quando
sas representações são desenvolvi- nem nos damos conta disso,
das no âmbito do cérebro, pois: mudanças sutis da pressão,
composição e temperatura do
sangue que jamais chegam à
A mente humana não é uma câ- nossa consciência, imperceptí-
mera de vídeo. Nós não proces- veis movimentos viscerais
samos e armazenamos inúme- (LENT, 2005, p.168).
ros fragmentos sensoriais; an-
tes, construímos os mundos in-
terno e externo segundo o prin- Todos esses fatores demons-
cípio da organização de signifi- tram que o desenvolvimento cere-
cado. O fato de que o conheci-
bral é complexo, pois vai desde o
mento pode ser representado
de formas diferentes implica real, visto, até o sentido no invisível,
que o conhecimento não é uma imaginário, criando, através das
transcrição sensorial do mundo
percepções possibilidades e barrei-
exterior para o mundo interior
da mente (MARTINEZ, 1999, p. ras que alteram a concepção do ser e
21). do mundo.

Essa percepção é imprescindí- Como vimos, todas as percep-


vel para compreender como a mente ções, exceto as mais simples,
são atos de construção. Por
humana se desenvolve, e assim, é
exemplo, quando se olha para
preciso entender como e quando a alguma coisa, os olhos fazem
percepção se inicia e as representa- uma série rápida de fixações,
em grande parte inconscientes,
ções se constroem:
para reunir apenas as informa-
ções de que ele precisa para
(...) começa quando uma forma captar ‘cadeira’. Essa série de fi-
qualquer de energia incide so- xações é altamente seletiva. As-
bre as interfaces entre o corpo e sim que o cérebro reúne infor-
o ambiente, sejam elas externas mações suficientes para suspei-
ou internas. Nessas interfaces tar que encontrou uma cadeira,
se localizam células especiais ele procura apenas característi-
capazes de traduzir a linguagem cas específicas de cadeira. Isso é
do ambiente para a linguagem para dizer que o cérebro per-
do sistema nervoso: os recepto- cebe por antecipação. Ele for-
res sensoriais. São eles que de- mula hipóteses perceptuais, de-
finem o que comumente cha- pois as confirma. Do ponto de
mamos de sentidos: visão, audi- vista de muitos psicólogos cog-
ção, sensibilidade corporal, ol- nitivos, as imagens mentais
fação e gustação. Mas nosso cé- surgem do desdobramento des-
rebro é capaz de sentir muito ses esquemas antecipatórios na
mais – consciente e inconscien- ausência de verdadeiros objetos
temente – do que esses cinco

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INTRODUÇÃO À NEUROCIÊNCIA E NEUROEDUCAÇÃO

percebidos. Portanto, o compo- Posicionamentos sobre a neu-


sitor [e também o intérprete]
roeducação
poderia imaginar um arpejo de-
sencadeando a rotina percep-
tual que nos permite escutá-lo Cosenza traz vários desafios
(JOURDAIN, 1998, p. 215-6). como o esclarecimento da real con-
tribuição para o avanço das neuroci-
Portanto, a neurociência con-
ências para a educação, assim como
tribui com a educação, na perspec-
suas limitações. Outro desafio é que
tiva de compreender o indivíduo em
os profissionais de educação não
sua totalidade, percebendo que o co-
possuem formação para o atendi-
nhecimento é construído pelo pró-
mento às demandas da aprendiza-
prio indivíduo, devendo esse ganhar
gem para a vida em sociedade desse
autonomia para a formulação de es-
milênio. Cosenza & Guerra (2011).
tratégias que possibilitem seu co-
Entretanto, os referidos auto-
nhecimento.
res afirmam que a educação “pode-
ria se beneficiar dos conhecimentos
(...) introduz a dimensão da au-
tonomia e uma possibilidade neurocientíficos para a abordagem
criadora que instaura o sujeito das dificuldades escolares e suas in-
como escultor do seu próprio tervenções corretivas”.
cérebro e abre a educação à di-
mensão da possibilidade. O su- Sendo ainda uma novidade no
jeito da plasticidade, não sendo campo educacional é comum que
uma essência nem uma subs- existam controvérsias sobre a utili-
tância, também não é uma ilu-
são: é um sujeito multidimensi- zação ou não da neurociência no
onal, é o resultado da resiliên- campo educacional.
cia, é uma realidade complexa Algumas correntes se posicio-
que inclui um sujeito natural,
um sujeito de representação e nam a favor de sua aplicação e ou-
um sujeito corporizado. Inclui tras se colocam contrárias. As cor-
processos mentais (sensações, rentes favoráveis afirmam que:
percepções, recordações, cren-
ças, inferências, volições e sen-
timentos), os seus e os dos de- Quando os dados das neuroci-
mais com que se relaciona; é, ências são interpolados e não
enfim, um sujeito comunicacio- extrapolados é mais provável
nal (GONÇALVES, 2010, p. que deduzam implicações úteis
570). à educação. Por exemplo: só a
neurociência pode identificar
as áreas do cérebro responsá-
veis pelo mapeamento dos sons
das letras e se pode construir
uma ponte entre a pesquisa

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INTRODUÇÃO À NEUROCIÊNCIA E NEUROEDUCAÇÃO

educacional e a dislexia. Na me- compreender os processos de apren-


dida em que cresça nossa com-
dizagem e, assim, ser possível fazer
preensão das bases neurais de
outras formas de cognição com- intervenções, criando estratégias e
plexa, é provável que essa com- oportunidades de aprendizagem
preensão faça contato com os
temas educacionais de uma ma-
para todos os indivíduos. A neuroe-
neira que tenha como resultado ducação é mais concreta e possibilita
uma nova pedagogia. (MO- aos educadores saírem do empi-
RINO & SILVA, 2012, p. 32).
rismo e tentativas sem fundamenta-
ção científica palpável para a possi-
Portanto, os pesquisadores
bilidade das alterações necessárias
que se mostram favoráveis à neuro-
no ensino. Para isso é necessário um
educação percebem que através do
investimento na formação dos edu-
conhecimento do cérebro é possível
cadores, de forma que relacionem os
analisar, relacionar e intervir nos
conhecimentos neurológicos com os
problemas de aprendizagem. Outro
pedagógicos.
aspecto apresentado é que:
Dessa forma, só a neurociência
As teorias das neurociências em sala de aula oferece aos pro-
podem ser modelos mais cômo- fessores o conhecimento básico
dos para raciocinar sobre a cog- para desenvolver e utilizar uma
nição (por esse termo se en- nova pedagogia. A partir do co-
tende tudo o que se refere ao nhecimento e aplicação das
domínio mental, o que inclui neurociências na formação de
também as emoções. (BLAKE- professores esses conhecerão os
MORE; FIRTH, 2000). En- meios neurocientíficos e terão o
quanto as teorias educacionais domínio dessas teorias em fa-
são abstratas, as teorias neuro- vor da educação. Enquanto as
científicas, ao contrário, usam teorias educacionais pensam
muito os modelos espaciais – como acontece o processo de
representações visuais das ensino-aprendizagem, as teo-
áreas do cérebro, as trilhas que rias neurocientíficas as execu-
conectam com elas, e seu com- tam através de representações
promisso durante o desempe- visuais do cérebro, ou seja, por
nho de uma tarefa. Esses mode- intermédio das neuroimagens,
los podem ser uma maneira po- uma ferramenta necessária à
derosa para que os futuros pro- educação moderna e futurista.
fessores organizem sua com- (MORINO & SILVA, 2012,
preensão da cognição. (MO- p.33).
RINO & SILVA, 2012, p. 32).

Pode-se assim afirmar que a


Assim, apresentam a neuroe-
corrente favorável a neurociência
ducação como maneira concreta de
acredita que através desse conheci-
mento cerebral será possível alinhar

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INTRODUÇÃO À NEUROCIÊNCIA E NEUROEDUCAÇÃO

a educação a contemporaneidade, Não podemos esperar que os


professores dominem a neuro-
assumindo o aspecto da formação
ciência. Eles não têm tempo
integral do indivíduo. para aprender o suficiente so-
Contudo, alguns outros pes- bre a função do cérebro para
entender a literatura neuroci-
quisadores não percebem que o co- entífica. Só a anatomia cerebral
nhecimento da neurociência possa requer semanas (às vezes me-
ser aplicado à educação. Afirmam ses) de estudos sistemáticos. A
formação de professores pre-
que: cisa de tempo para dominar es-
sas múltiplas e redundantes ge-
Os dados da neurociência ografias do cérebro, que se refe-
nunca terão algo a oferecer à rem só aos detalhes das áreas
educação: ainda que a mente cerebrais que implementam as
esteja no cérebro, e, portanto, diferentes competências cog-
ainda que a cognição seja o pro- noscitivas. (MORINO & SILVA,
duto de uma computação neu- 2012, p. 33).
ral, isto não significa que as lo-
calizações neurais particulares Não se pode desconsiderar
das competências cognoscitivas
sejam relevantes para os pes- que a falta de conhecimentos por
quisadores educacionais, cujo parte dos professores sobre a neuro-
objetivo é fomentar essas com- ciência não seja um dificultador da
petências nas crianças (MAYER
1998, p. 394). Por exemplo, o aplicação desses conhecimentos na
que importa aos currículos para educação, entretanto, isso não signi-
ensinar a estrutura de uma sen-
fica que esse conhecimento não
tença, se a sintaxe está locali-
zada na circunvolução frontal possa ser promovido, através de cur-
inferior esquerda, no hipo- sos e capacitações.
campo ou crosta estriada? Isso
serve em alguma coisa à peda-
gogia? (MORINO & SILVA, Neste sentido, não é realmente
2012, p. 33). fácil aprender a anatomia cere-
bral, e é verdade que os profes-
sores têm pouco tempo para
Através do excerto apresen- este estudo já que seu tempo
tado percebe-se que esses pesquisa- está dividido entre uma aula e
outra, diários de classe, avalia-
dores consideram irrelevantes com-
ções, notas etc. Porém, tão ocu-
preender o funcionamento neural, pados quanto os professores
pois independentemente das disfun- são os neurocientistas que, en-
tre uma pesquisa e outra, cirur-
ções físicas e biológicas, cabe à es- gias, laboratórios, consultórios
cola fomentar nos indivíduos as ha- etc., preenchem todo seu tempo
bilidades e competências necessá- e mesmo assim eles estudam e
aprendem o cérebro. Então,
rias para a aprendizagem. Ainda não existe coerência nesta argu-
afirmam que: mentação porque se o professor

19
INTRODUÇÃO À NEUROCIÊNCIA E NEUROEDUCAÇÃO

busca conhecimentos da neuro- Administrativamente, a neuro-


ciência para um bom desenvol- educação será impactada pelo
vimento pedagógico então não esforço de uma Pedagogia com
há por que não encontrar base científica e pela busca de
tempo para estudar e aprender políticas eficazes por parte dos
anatomia cerebral, assim como administradores. E, externa-
o neurocientista encontrar mente, a neuroeducação será
tempo para estudar as ciências também fomentada pela inclu-
da educação se a ele também in- são da neurociência nos currí-
teressar essa área do conheci- culos de ciências da educação
mento, pois acima de tudo está básica. (ATHERTON, apud
o interesse pelo desenvolvi- MORINO & SILVA, 2012, p.
mento de uma eficiente peda- 48).
gogia. (MORINO & SILVA,
2012, p. 34).
Sendo a neuroeducação uma
importante ferramenta para o pro-
Esse argumento perde a vali-
cesso de aprendizagem é necessário
dade no sentido da necessidade dos
que os educadores sejam preparados
professores atuarem de forma ativa
para trabalharem envolvendo a
na construção de estratégias e meto-
mesma, considerando os vários as-
dologias de aprendizagem, não po-
pectos da cognição.
dendo ser meros reprodutores de
Além desta formação dos pro-
ações pensadas e receitadas por ou-
fessores dentro da neurociência, e
tros.
neuroeducação incita a formação de
Assumir a intelectualidade da
uma nova categoria profissional,
docência implica estar sempre
chamada de neuroeducadores:
atento e estudando, agregando co-
nhecimentos às práticas.Isso im-
Como citam Sheridan, Zin-
plica em utilizar parte do tempo no chenko e Gardner: A emergente
estudo da neuroeducação, contribu- esfera da neuroeducação ofe-
rece oportunidade para um
indo para o avanço dessa ciência tão
bom trabalho, porém requer
nova. profissionais adequadamente
capacitados para conduzir os
A neuroeducação influirá na desafios apresentados pelos
prática Educacional desde di- avanços neurocognitivos. Para
versos ângulos. Desde a educa- ajudar a unir o esforço interdis-
ção de cima para baixo em neu- ciplinar entre neurociência e
rociência cognitiva que influirá educação se deve estabelecer
nas escolas de pós-graduação uma nova classe de profissio-
em educação. De baixo para nais: os neuroeducadores. Sua
cima, a neuroeducação será in- missão específica será fomentar
fluenciada pela curiosidade dos a introdução dos mais impor-
professores da educação básica. tantes avanços neurocognitivos
dentro do sistema educacional.

20
INTRODUÇÃO À NEUROCIÊNCIA E NEUROEDUCAÇÃO

(2005) (SHERIDAN, ZIN- de aprendizagem e diferenças indi-


CHENKO, GARDNER apud
viduais.
MORINO & SILVA, 2012, p.
47). Diante disso essa profissão
torna-se muito promissora criando
Dentro dessa aplicação neuro- um novo mercado, que apresenta
lógica na educação, qual seria a fun- uma nova oportunidade de avanço
ção desses novos profissionais no em educação.
processo de ensino e aprendizagem?

Os neuroeducadores

De acordo com Sheridan, et al.


(2005) os neuroeducadores
precisam desenvolver softwares
para criar um programa que
ajude os alunos a dominar as
frações educacionais. Nesse
caso, os educadores podem se
responsabilizar por avaliar a
efetividade de um programa e
sua relevância para os objetivos
educacionais. Além do mais,
podem-se aprofundar em pes-
quisas neurológicas em busca
de possíveis conexões com as
metas educacionais. Um de
seus objetivos é estabelecer
grupos onde os científicos, os
currículos e os educadores pos-
sam trabalhar juntos para criar
conhecimento e produtos neu-
rologicamente informados e
úteis à educação. (MORINO &
SILVA, 2012, p.47).

Através desse trabalho os neu-


roeducadores podem auxiliar no de-
senvolvimento de estratégias peda-
gógicas que trabalhem com as co-
muns atipicidades ou disfunções
neurológicas, e contribuir a expan-
dir o conhecimento básico sobre
educação diferenciada, dificuldades

21
22
INTRODUÇÃO À NEUROCIÊNCIA E NEUROEDUCAÇÃO

4. O cérebro e a aprendizagem

Fonte: Podtail

A s memórias se formam quando


um grupo de neurônios reage
ao serem ativados, por isso o cérebro
O referido autor alerta, assim,
para a necessidade de uma formula-
ção de horários, no ambiente escolar
não mantém uma atenção contínua que privilegie essa dinâmica cere-
e de alto nível. O que demonstra a bral.
necessidade de uma aprendizagem Perante essa constatação cien-
centrada em atividades difusas, tal tífica, vários autores chamam a
como uma reflexão. Sylwester atenção para o fato de que exigir
afirma: “Os neurotransmissores da muita atenção, durante prolongado
atenção estão mais disponíveis para tempo, também pode se tornar um
nós pela manhã do que pela tarde. problema, fazendo com que diag-
Esta informação deveria ser um cha- nósticos equivocados de déficit de
mado de alerta a diretores e profes- atenção sejam dados, levando indi-
sores de ensino básico e médio”.
(1995).

23
INTRODUÇÃO À NEUROCIÊNCIA E NEUROEDUCAÇÃO

víduos a se submeterem a medica- não consiga equilibrar essa severi-


mentos e remédios desnecessários. dade com um pouco de humor.
(JENSEN, 1998).
Assim, é importante compre- Ao praticar um ensino multis-
sensorial, como tocar música
ender que nem sempre a falta de
em determinados momentos,
atenção constitui uma patologia que durante o episódio de aprendi-
necessita de uma medicação, de- zagem é de grande valor para
chamar a atenção do aprendiz.
vendo a escola preocupar-se de ado- Certamente, são de grande va-
tar estratégias que auxiliem na aten- lor os indicadores acima, por-
ção dos alunos. que ensinar é antes de tudo es-
tar preparado para as necessi-
dade e indagações dos alunos, e
Segundo Salas (2007, p. 143), a isso é possível a partir do mo-
regra de ouro é usar os contras- mento que se consegue desper-
tes, mudar os alunos de locali- tar e conseguir a atenção em
zação na sala de aula ou permi- sala de aula. (MORINO &
tir que eles caminhem ao redor SILVA, 2012, p. 46).
da sala e possam conversar so-
bre sua aprendizagem. Uma
mudança no tom, ritmo e vo- Assim, compreender a diversi-
lume da voz concentra a aten- dade e funcionamento do cérebro
ção. Sempre que possível use o permite ao professor uma postura
humor. Entre os efeitos positi-
vos se podem mencionar: mais em sala de aula que amplie as possi-
oxigênio para o cérebro; surge a bilidades de aprendizagem dos alu-
endorfina: a pessoa desfruta do
nos.
momento; concentra a atenção;
cria um clima positivo: quando
as pessoas riem juntas, se unem Estratégias de ensino base-
e surge um espírito de comuni-
dade; melhora a saúde mental adas nas neurociências
de cada um; é uma efetiva fer-
ramenta disciplinar. (MORINO Uma das perspectivas de es-
& SILVA, 2012, p. 46).
tudo da neurociência é o cérebro e
Portanto essas alterações no relacionado a ele, a memória é extre-
ritmo da sala de aula vão auxiliar os mamente significativa para a apren-
alunos a se manterem atentos, inclu- dizagem. Assim vale lembrar o con-
indo a humor. ceito de memória como:
Algumas vezes, pensa-se erro-
Grosso modo, chamamos de
neamente que o professor severo, memória a capacidade que os
bravo, é o que consegue melhores re- seres vivos têm de adquirir, ar-
sultados, o que não se configura mazenar e evocar informações.
como verdade, caso esse professor

24
INTRODUÇÃO À NEUROCIÊNCIA E NEUROEDUCAÇÃO

Apesar dessa definição aparen- Esse desconhecimento de-


temente simplista, veremos, no
monstra a necessidade da continua-
decorrer do texto, que ao falar
de memória, definitivamente ção das pesquisas em neurociência e
não estamos falando de algo suas implicações na educação.
simples. (MOURAO JUNIOR,
2015, p. 780).
É importante demonstrar, no
entanto que dentre o que já se sabe,
Portanto os processos de aqui- as informações são armazenadas no
sição, armazenamento e evocação de cérebro de acordo com subproces-
informações estão incluídos no pro- sos:
cesso de ensino e aprendizagem,
mesmo sendo necessários inúmeros Sobre o processo de armazena-
mento, podemos dividi-lo em
estudos sobre o processo, uma vez três subprocessos, quais sejam:
que: aquisição, consolidação e evo-
cação. A aquisição diz respeito
ao momento em que a informa-
Apesar dos inúmeros avanços ção chega até nosso sistema
feitos pela neurociência nos úl- nervoso e se dá por meio das es-
timos anos, ainda é um mistério truturas sensoriais, as quais
entender como potenciais elé- transportam a informação rece-
tricos e fenômenos bioquímicos bida até o cérebro. O estímulo
estão ligados às representações atinge os órgãos receptores, o
mentais que fazemos, mesmo qual, através dos nervos sensiti-
que alguns neurocientistas se vos, chega ao sistema nervoso
atrevam a dar saltos conceitu- central (Kandel, 2006). (MOU-
ais, encerrando premissas que a RAO JUNIOR, 2015, p. 781).
ciência é incapaz de fundamen-
tar. O que se sabe, atualmente,
é que as informações que che- Todos esses subprocessos são
gam ao nosso cérebro formam importantes e estão interligados,
um circuito neural, ou seja, a
informação recebida ativa uma
portanto as informações adquiridas
rede de neurônios, que, caso devem ser consolidadas para que,
seja reforçada, resultará na re- posteriormente possam ser evoca-
tenção dessa informação (por
informação, entendemos qual-
das, daí a necessidade da informa-
quer evento passível de ser pro- ção ser significativa para que:
cessado pelo sistema nervoso:
um fato, um objeto, uma expe- Posteriormente, temos o pro-
riência pessoal, um sentimento cesso de consolidação, que diz
ou uma emoção). Por isso con- respeito ao momento de arma-
sidera-se que a repetição seja zenar a informação. Esse arma-
uma estratégia necessária para zenamento - que representa a
a memória. (MOURAO JU- memória - pode se dar de duas
NIOR, 2015, p. 781). maneiras distintas: (a) através
de alterações bioquímicas ou

25
INTRODUÇÃO À NEUROCIÊNCIA E NEUROEDUCAÇÃO

(b) através de fenômenos ele- Em contrapartida, o subsistema


trofisiológicos. Nos fenômenos semântico está relacionado a
eletrofisiológicos, ao tentarmos conhecimentos atemporais, tais
memorizar uma situação nova, como gerais e conceptuais
determinados conjuntos de (Baddeley, 2009b; Sternberg,
neurônios continuam dispa- 2008; Willingham & Goedert,
rando durante alguns segun- 2001). Esse subsistema permite
dos, retendo temporariamente processar informações sobre fa-
a informação somente durante tos do mundo em um amplo
o tempo em que a mesma é ne- sentido e incluem conhecimen-
cessária, extinguindo-a logo em tos e crenças elaboradas pelo
seguida. Esse tipo de fenômeno próprio indivíduo (Ferreres,
tem duração extremamente efê- 2005). De um modo geral, ele
mera e não forma traços bioquí- refere-se ao conhecimento do
micos. É isso o que ocorre na mundo externo do qual lembra-
memória sensorial e na memó- mos na ausência de qualquer
ria de trabalho (ou memória relato aprendido (Gazzaniga;
operacional) que discutiremos Ivry; Mangun, 2006). É tam-
mais adiante (Squire & Kandel, bém responsável pelo armaze-
2003). (MOURAO JUNIOR, namento de conhecimentos ge-
2015, p. 781). rais, significado das palavras,
aparência visual e cores dos ob-
jetos (Tulving,1972). Além
Sabendo da organização cere-
disso, possui um vasto armaze-
bral de aquisição, armazenamento e namento de informações sobre
evocação das informações, precisa- os significados, aparências,
sons, cheiros e texturas dos ob-
se saber que a escola precisa se orga- jetos. Não requer conhecimento
nizar, de forma que todos esses sub- de quando essa informação foi
processos ocorram, através de estra- obtida e nem onde (Wilson,
2009 p. 5). Para que informa-
tégias eficientes de aprendizagem. ções sejam armazenadas na
Para analisarmos algumas es- memória semântica é necessá-
tratégias é necessário saber que, de rio que elas passem inicial-
mente pela memória episódica
acordo com Salas (2007 p. 84-88) (Cermak & O’Connor, 1983).
existem variados tipos de memórias (FERNANDES et al, 2011, p.
que precisam ser trabalhadas: as 36).
memórias semânticas, episódicas,
procedimentais, automáticas e emo- Algumas estratégias de ensino
cionais. para a memória semântica são as
A memória semântica liga-se atividades em duplas de pares que
ao conjunto de informações que te- auxiliam na construção de habilida-
mos sobre o mundo ao nosso redor. des interpessoais e repasse a maté-
Está relacionada a conhecimentos ria.
gerais:

26
INTRODUÇÃO À NEUROCIÊNCIA E NEUROEDUCAÇÃO

A estratégia de perguntar, Considerando a associação


principalmente com perguntas aber- dessa memória com as lembranças é
tas que possibilitem ao estudante importante saber que as estratégias
ativar várias informações. de ensino devem considerar situa-
Pedir resumos e sínteses, pro- ções que proporcionem lembranças
mover debates, paráfrases, são for- prazerosas associadas à aprendiza-
mas de habilitar o aluno a trabalhar gem.
informações de forma a guardá-las.
Em relação à memória episódica é A memória episódica é dirigida
pela localização. Quando um
importante relatar que:
aprendiz recebe uma nova in-
formação em uma localização
De forma mais específica, a me- específica, a recordação e a
mória episódica está vinculada aprendizagem serão mais fáceis
a capacidade de lembrar de nessa mesma localização. En-
acontecimentos específicos, tretanto, para o professor utili-
bem como, experiências pesso- zar estratégias de ensino para
ais que é chamada memória au- desenvolver essa memória se-
tobiográfica (Tulving, 1972). rão necessárias atividades que
Ela adquire informações deri- incluam quadros, pôsteres e
vadas das seguintes perguntas: símbolos além das constantes
O quê? Quando? E onde? (Clay- mudanças de estímulos tais
ton & Dickinson, 1998; Nyberg, como uso de acessórios: tape-
et al., 1996). Além disso, essa tes, almofadas, sapatos ou tra-
memória requer três sistemas jes completos para melhorar o
básicos: 1) codificação de deter- experimento da aprendizagem,
minada experiência diferenci- tornando o ensino cada vez
ada das outras já obtidas; 2) ar- mais real. (MORINO & SILVA,
mazenamento do evento por 2012, p.40-1).
um longo período de tempo, e
3) busca e evocação de determi-
Assim, uma importante estra-
nado episódio codificado
(Baddeley, 2009b). tégia para o desenvolvimento dessa
De acordo com Tulving (2002), memória são aulas em espaços vari-
a memória episódica é mais vul-
ados, fora da sala de aula.
nerável a disfunções neuronais
do que as outras e indivíduos Trabalhar com os alunos na bi-
com déficits nessa memória blioteca, pátios, quadras, facilitam a
tendem a sofrer prejuízos no
seu cotidiano. Tais déficits po-
aprendizagem, além de proporcio-
dem ser subdivididos em ver- narem oportunidades lúdicas aos
bais, visuais e de reconheci- alunos. A memória procedimental,
mento (Wilson, 2009). (FER-
NANDES et al, 2011, p.36-7).
também chamada de procedural, re-
laciona- se com atividades motoras,
repetitivas e rotineiras.

27
INTRODUÇÃO À NEUROCIÊNCIA E NEUROEDUCAÇÃO

A memória procedural está re- outra é estabelecer procedi-


lacionada com a capacidade de mentos na sala de aula que
memorizar a execução de tare- criem fortes memórias. Quando
fas essencialmente motoras que um procedimento é repetido
envolvem rotinas, como por com frequência, o cérebro o ar-
exemplo, dirigir um carro (Wil- mazena no cerebelo para um
son, 2009). O sistema de repre- acesso mais fácil. (MORINO &
sentação perceptiva, priming, SILVA, 2012, p. 41).
age dentro de um sistema per-
ceptual de palavras e objetos.
Atividades manuais que colo-
Refere-se à resposta frente a
um estímulo ou à habilidade de quem os alunos a fazer são muito
identificá-lo, a partir do resul- importantes para o desenvolvi-
tado da exposição prévia deste
estímulo (Gazzaniga et al.,
mento da atividade procedimental.
2006; Lussier; Flessas, 2000; Sair da cadeira, movimentar-se,
Moscovitch, 1992). Os hábitos num espaço, muitas vezes tão re-
são criados através da memori-
zação por repetição de conheci-
pressor é imprescindível para a
mentos e comportamentos bá- aprendizagem.
sicos para realizar tarefas do
dia-a-dia (Squire & Kandel, Proporcionar atividades que
2003). Para finalizar a classifi- conduzam ao movimento físico
cação das memórias implícitas, do aprendiz como, por exem-
o condicionamento é uma plo: desempenho de papéis, de-
forma de aprendizado associa- bates, danças, monólogos e jo-
tivo, que solidifica-se após re- gos. As apresentações em jogos
petições de no mínimo dois es- e exibições de marionetes po-
tímulos pareados (Squire & dem reforçar muitos conceitos
Kandel, 2003). (FERNANDES em qualquer área do conheci-
et al, 2011, p.36). mento, assim como colocar os
estudantes em pé à medida que
Aparentemente, poderíamos se passa uma matéria especí-
ser induzidos a acreditar que exercí- fica. Em seguida, o professor
deve solicitar que todos cami-
cios repetitivos e superficialmente nhem ao redor da sala, que sal-
tecnicistas promovam esse tipo de tem quando sentirem que en-
memória, o que é improcedente, tenderam um assunto e que
aplaudam quando souberem
uma vez que: tudo. Todo esse movimento e
intervenção do professor para
Existem duas formas para aju- com os estudantes causarão
dar os estudantes a desenvolver uma grande impressão a seus
uma pista na memória procedi- cérebros, pois a aprendizagem
mental. Uma é deixá-los repetir do aprendiz está diretamente li-
a matéria várias vezes, o sufici- gada com o movimento. (MO-
ente para que passe a ser um RINO & SILVA, 2012, p. 42).
procedimento educacional. A

28
INTRODUÇÃO À NEUROCIÊNCIA E NEUROEDUCAÇÃO

Associar o aspecto físico do Temos ainda a memória auto-


mática. A memória automática
corpo à cognição amplia a aprendi-
relaciona-se aos automatismos
zagem, favorecendo as condições ce- que adquirimos através da re-
rebrais de aquisição e armazena- petição que auxilia na memori-
zação. É importante estabelecer
mento das informações. que a memória automática é
A memória sensorial possui importante, mas não deve ser o
relação elétrica, não ficando armaze- centro do processo de aprendi-
zagem.
nadas, tendo uma rapidez enorme, Algumas estratégias de apren-
por estarem ligadas aos órgãos sen- dizagem, de acordo com o de-
soriais senvolvimento da memória au-
tomática são: decorar poemas,
perguntas e respostas.
A memória sensorial é aquela
que nos permite reter as infor-
mações que chegam até nós As neurociências e a formação
através dos sentidos, podendo dos professores
ser estímulos visuais, auditivos,
gustativos, olfativos, táteis ou
proprioceptivos. Caracteriza-se Diante de uma ciência tão
por ter curtíssima duração, caso nova e ao mesmo tempo tão impor-
o estímulo não seja recuperado. tante para a educação é importante
Outro detalhe importante é que
a memória sensorial apresenta que a discussão sobre a neuroeduca-
capacidade relativamente ção perpasse a formação dos profes-
grande, se comparada à memó- sores, habilitando os mesmos a apli-
ria de trabalho (que será discu-
tida no próximo tópico). Isso carem essa ciência nova no processo
quer dizer que, na memória de ensino e aprendizagem dos alu-
sensorial, registramos mais es- nos.
tímulos do que podemos recu-
perar, pois, no caso da evocação
da informação, entra em ação Diante das inúmeras mudanças
da memória de trabalho, que, na sociedade atual, geradas
como citado, tem capacidade principalmente pelos avanços
reduzida em relação à memória tecnológicos que nos disponibi-
sensorial. (MOURAO JUNIOR, lizam informações, faz-se ne-
2015, p. 783). cessária uma cultura de apren-
dizado que gere conhecimento.
Para tanto, há que se buscar um
As estratégias de ensino para o sistema educacional democrá-
desenvolvimento da memória sen- tico o qual assuma o compro-
sorial devem relacionar-se com o es- misso de promover situações de
aprendizagem nas quais as exi-
tímulo a esses sentidos, tais como a gências da sociedade moderna
utilização de música como fundo sejam atendidas, para que to-
musical para as aulas. dos possam desenvolver suas
capacidades, mediante uma

29
INTRODUÇÃO À NEUROCIÊNCIA E NEUROEDUCAÇÃO

educação que aceite a diversi- O conhecimento do funciona-


dade. (CARVALHO, 2011, p.
mento do cérebro oportuniza ao pro-
538).
fessor utilizar-se de estratégias que
Essa sociedade atual para ser garantam a inserção dos alunos nos
verdadeiramente democrática ne- processos dinâmicos de aprendiza-
cessita oferecer a todos oportunida- gem.
des de aprendizagem, independen-
Oferecer situações de aprendi-
temente das diferenças sociais e cog-
zagem fundamentadas em ex-
nitivas. periências ricas em estímulos e
fomentar atividades intelectu-
Para isso, é imprescindível ex- ais pode promover a ativação de
plorar e estimular o potencial novas sinapses. As informações
de aprender de todos os cida- do meio, uma vez selecionadas,
dãos. Torna-se obrigatório, en- não são apenas armazenadas na
tão, promover a reconfiguração memória, interagem inte-
pedagógica nos ambientes edu- grando um novo sistema funci-
cativos, pois o estímulo do po- onal, caracterizando com isso a
tencial dos estudantes oportu- complexa classificação da
nizará um melhor desempenho aprendizagem. Uma informa-
individual, diminuindo a exclu- ção pode pela desordem que
são social. Considerando que gera, levar à evolução do conhe-
muitas pesquisas no campo cimento do indivíduo, pois ele
educativo afirmam ser o profes- precisará desenvolver estraté-
sor um dos principais protago- gias cognitivas a fim de reorga-
nistas da educação. (Demo, nizar e retomar o equilíbrio na
2001; Assmann, 2001; Morin, construção do conhecimento. E
2002), cabe ao educador adotar isso é obtido por meio de um
um trabalho de parceria, ins- processo dinâmico e recursivo
taurando as condições indis- presente na reconstrução do
pensáveis para que o aprendiz próprio ato de conhecer. Se-
desenvolva a inteligência, e não gundo Demo, “a aprendizagem,
a simples memorização. Con- embora dependa de substratos
forme Fonseca: “O professor físicos estruturados caracte-
tem o dever de preparar os es- riza-se pelo processo de contí-
tudantes para pensar, para nua inovação, maleável. (CAR-
aprender a serem flexíveis, ou VALHO, 2011, p. 538).
seja, para serem aptos a sobre-
viver na nossa aldeia de infor- Assim, o conhecimento do cé-
mação acelerada (Fonseca,
rebro e seu funcionamento ratificam
1998, p. 315)”. (CARVALHO,
2011, p.538). a necessidade do aperfeiçoamento
dos professores para uma aprendi-
zagem mais efetiva.

30
INTRODUÇÃO À NEUROCIÊNCIA E NEUROEDUCAÇÃO

Fonte: Heloísa Feltes

O quadro demonstra os tipos pode ocorrer por meio da reno-


vação de um componente já
de memória e as áreas cerebrais nas
existente ou pelo acréscimo de
quais atuam e assim estimular essas um novo componente curricu-
áreas faz com que os alunos apren- lar nos cursos de formação de
professores. Sua prioridade
dam de forma significativa o que a deve ser a de adicionar infor-
escola ensina. mações científicas e subsidiar
futuras ações práticas, não se
Do reconhecimento de que a constituindo-se apenas em
compreensão do cérebro é cru- mais um saber disciplinar, mas
cial para o ato pedagógico, em um saber pertinente e útil
surge a necessidade de refletir para a prática profissional da
sobre um novo saber disciplinar docência. Como preconiza Wil-
baseado nos conhecimentos lians: “A pesquisa sobre o cére-
neurocientíficos, os quais pode- bro manifesta o que muitos
riam ser vinculados às discipli- educadores sabem intuitiva-
nas direcionadas à aprendiza- mente: que os alunos aprendem
gem humana. A articulação en- de diversas maneiras e quanto
tre neurociências e educação mais maneiras se apresenta-
rem, tanto melhor aprendem a

31
INTRODUÇÃO À NEUROCIÊNCIA E NEUROEDUCAÇÃO

informação” (Willians apud Considerações finais


Moraes e Torre, 2004). (CAR-
VALHO, 2011, p. 546).
Através do presente estudo foi
Assim é notória a necessidade possível apresentar uma nova opor-
da inclusão da neuroeducação no tunidade para que por meio de uma
processo de formação dos professo- nova ciência a escola possa oportu-
res, seja nos cursos de graduação, nizar a aprendizagem de todos os
seja em especializações ou cursos de seus alunos.
aperfeiçoamento. Atualmente muito se discute
Através desses estudos os pro- de forma empírica problemas relaci-
fessores serão capazes de atuar onados à aprendizagem, incluindo
como agentes de transformação no déficit de atenção e desinteresse dos
espaço escolar. alunos pela escola.
A neurociência, através da
Por isso, é preciso que se aban- neuroeducação, mostra um cami-
donem os métodos pedagógicos nho, uma oportunidade para mu-
instrucionais os quais não per- danças através de estratégias meto-
mitem dar a devida atenção à
individualidade, e que se passe dológicas que, é preciso observar a
a compreender melhor como questão dos estímulos neurais e a
podemos lidar com certas ca- atuação do cérebro em relação à me-
racterísticas pessoais dos nos-
sos alunos. Esse constituirá o mória. No processo de aprendiza-
primeiro passo para o professor gem e avançarmos na educação.
ser um participante ativo no
processo de aprendizagem do
aluno, pois orientará o docente
na identificação, mobilização e
utilização de métodos e recur-
sos variados. (CARVALHO,
2011, p. 538).

A neuroeducação poderá se
constituir como base para que a es-
cola avance e atue de forma que es-
tratégias metodológicas adequadas
atendam a todos.

32
33
INTRODUÇÃO À PSICOPEDAGOGIA INSTITUCIONAL E CLÍNICA

5. Referências Bibliográficas
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