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PROPÓSITO
Apresentar a contribuição da neuroplasticidade cerebral e da Neuropsicologia no processo de ensino e
aprendizagem, as dificuldades e os transtornos de aprendizagem na perspectiva da neurociência, a
relação entre inteligência e desenvolvimento da leitura e do pensamento matemático, bem como a
importância da construção de ambientes de aprendizagem neurocientificamente coerentes.
OBJETIVOS
/
MÓDULO 1
MÓDULO 2
INTRODUÇÃO
Nas últimas décadas, profissionais de diferentes campos das ciências da saúde e educação
contribuíram para a compreensão da aprendizagem valendo-se de uma abordagem multiprofissional.
Identificamos que, para conhecer os problemas que interferem no desenvolvimento da criança, é preciso
compreender os padrões de normalidade – aquilo que é esperado com base nas características da
espécie – que envolvem o desenvolvimento dos seres humanos.
/
As neurociências são um conjunto de disciplinas relacionadas com diferentes campos de conhecimento,
que têm por objetivo estudar o funcionamento do cérebro, construindo, assim, um olhar interdisciplinar
acerca deste fenômeno. Consideramos que os processos cognitivos, apoiados pela mudança constante
do cérebro, estão intrinsecamente conectados à nossa estrutura física, cognitiva e psicossocial. Este,
portanto, será nosso objeto de estudo.
MÓDULO 1
NEUROPLASTICIDADE
O termo neuroplasticidade tem sido usado em diferentes pesquisas para descrever fenômenos em
distintos níveis de organização de nosso organismo. Podemos falar de neuroplasticidade desde a
regulação genético-molecular até níveis mais avançados, como a reorganização das redes neurais. As
vias neurais são estruturas plásticas e mudam constantemente como produto de estímulos internos e
externos.
NEUROPLASTICIDADE
Este termo foi usado pela primeira vez na década de 1940. Trata-se da reorganização neuronal em
função das experiências vividas pelo organismo em sua relação com o meio.
EXEMPLO
Exames recentes com testes de neuroimagem demonstram que o processo de aprendizagem pode ser
encarado como uma resposta comportamental a estímulos ambientais, dos quais a neuroplasticidade
depende.
/
Compreender a estrutura e as funcionalidades associadas à estrutura neural permite, então, que
profissionais de educação e saúde proponham melhores estratégias de ensino em diferentes contextos
educacionais.
GNOSIAS
PRAXIAS
Sequências de movimentos que o corpo realiza para concluir determinado ato motor.
O cérebro é, por excelência, o órgão responsável pelo processo de aprendizagem. A partir do seu uso, é
possível integrar nosso organismo ao meio ambiente para lidar com diferentes situações. A plasticidade
/
cerebral depende, portanto, das nossas experiências de vida. Não existem dois cérebros iguais, uma
vez que nossa organização neural é fruto de nossa individualidade. De acordo com Rotta (2016),
podemos dividir a neuroplasticidade em dois tipos: a plasticidade do desenvolvimento normal do
cérebro e a plasticidade reacional. Vejamos cada uma delas:
Plasticidade neuronal;
Plasticidade sináptica;
PLASTICIDADE REACIONAL
Acontece quando o cérebro sofre alguma lesão, e o órgão tenta, de alguma forma, compensar o trabalho
da área lesionada. A regeneração é possível tanto no sistema nervoso central quanto no sistema
nervoso periférico, porém o periférico tem mais chances de efetuar essa plasticidade com eficiência.
NEUROPSICOLOGIA
Entre as áreas que auxiliam na compreensão dos processos de ensino e aprendizagem, podemos
destacar a Neuropsicologia como um campo que nos ajuda a compreender até que ponto podemos
estabelecer uma ligação clara entre o funcionamento anatômico do cérebro e suas relações com as
emoções e a aprendizagem.
Nesse contexto, podemos definir aprendizagem como aquisição de dados, cujo objetivo é realizar uma
tomada de decisão em função de determinada situação. Neste momento, diferentes processos
cognitivos, como memória, linguagem, organização de ideias, raciocínio lógico etc., são acionados em
conjunto para responder as demandas do cotidiano.
A Neuropsicologia possibilita uma compreensão mais ampla sobre a forma como as emoções interferem
na cognição e no comportamento. Vários autores divergem quando o assunto é sua origem. Entretanto,
é certo que houve uma grande mudança nos rumos deste campo do conhecimento a partir do século /
XIX, com as descobertas de Pierre Paul Broca e Carl Wernicke, que inauguraram a Neuropsicologia
da Linguagem. No século XX, vimos o início da Neuropsicologia Moderna. Autores como Karl
Spencer Lashley, Alexander Romanovich Luria e Donald Olding Hebb são alguns dos
representantes deste período.
De acordo com Broca, essa afasia, causada por alguma lesão no lobo frontal do cérebro, era
motora, pois impedia a lembrança dos movimentos necessários para a produção da
linguagem falada ou escrita.”
SABBATTINI, 1997; RUIZA; FERNÁNDEZ; TAMARO, 2004. (Tradução livre. Grifo nosso.)
/
CARL WERNICKE (1848-1905)
De acordo com Wernicke, essa afasia, causada por alguma lesão ou algum dano sofrido no
lobo temporal do cérebro (área de Wernicke), era sensorial, pois impedia a lembrança do
significado da linguagem falada ou escrita.”
/
"Psicólogo norte-americano que estudou os mecanismos neurofisiológicos envolvidos na
aprendizagem. Ainda que se reconheça como behaviorista, discorda da concepção
mecanicista de comportamento defendida por esta corrente. Desenvolveu inúmeras
investigações, procurando relacionar o funcionamento do cérebro com vários tipos de
aprendizagem. Opõe-se à noção rígida de localizações cerebrais, defendendo uma visão
integrativa do cérebro.”
/
funcional e as alterações resultantes de lesões cerebrais locais constituíram sua área de
maior interesse.”
/
Fonte: Donald O. Hebb / Wikimedia
Donald Olding Hebb
(METRING, 2011)
CONEXÕES SINÁPTICAS
São as que envolvem sinapses, ou seja, conexões entre os neurônios. Como os neurônios não se
tocam fisicamente, é necessário que haja um processo elétrico e químico que permita a
comunicação entre eles. Essa comunicação é mediada quimicamente pelos neurotransmissores.
/
Mas foi com Alexander Romanovich Luria que a Neuropsicologia entrou em sua modernidade
(VELASQUES; RIBEIRO, 2014). Vamos nos aprofundar em suas contribuições para este campo do
conhecimento.
Os estudos de Luria foram essenciais na definição de várias funções cognitivas. No próximo módulo,
vamos nos aprofundar em algumas delas, mas, agora, é importante ter clareza sobre suas
características no contexto de nosso estudo. Vamos a elas: as funções cognitivas!
ATENÇÃO
É uma função cognitiva complexa, relacionada com a capacidade que o sujeito possui de manter o foco
em determinado estilo proveniente do meio. Podemos dividir esta função em pelo menos seis tipos:
atenção voluntária ou seletiva, involuntária, flutuante ou dividida, concentrada, sustentada e
alternada. Essa divisão não é consenso e difere de uma pesquisa para outra.
MEMÓRIA
Outra função cognitiva complexa, porque envolve a integração de diferentes regiões do cérebro
responsáveis pela captação, pelo processamento, pelo armazenamento e pela evocação da informação.
A permanência de uma informação na memória depende de uma série de fatores: emoção associada,
/
motivação etc. Esta função cognitiva também pode ser dividida em memória operacional, memória de
curto prazo ou de trabalho e memória de longo prazo.
FUNÇÃO TÁTIL-CINESTÉSICA
Está diretamente relacionada com elementos que permitem o reconhecimento de objetos por forma e
tamanho, sem utilização da visão.
FUNÇÕES MOTORAS
Elas estão diretamente relacionadas com a motricidade, as praxias, a capacidade de se locomover de
maneira voluntária.
ORIENTAÇÃO
Capacidade que o ser humano possui de desenvolver diversas ações cotidianas, como dirigir, no caso
da orientação espacial, ou se posicionar em relação ao espaço de acordo com seu corpo, como no caso
/
da propriocepção.
LINGUAGEM
Faculdade mental superior responsável pelo processo de comunicação em sociedade.
RACIOCÍNIO
Compreende nossa habilidade de combinar pensamento com estratégias para chegar a alguma
conclusão.
JULGAMENTO
Tem relação direta com nossa capacidade de tomar decisões diante de determinada situação.
Luria também descreveu o cérebro como um conjunto de estruturas dividido em três unidades
funcionais. Veremos agora quais são essas três unidades:
/
PRIMEIRA UNIDADE
Esta unidade regula o tônus cortical e a vigília. As estruturas anatômicas aqui responsáveis são: a
medula, o tronco cerebral, o cerebelo, o sistema límbico e o tálamo.
SISTEMA LÍMBICO
Estrutura do cérebro responsável pelo controle e pela organização das emoções, bem como pela
produção de sensações vinculadas aos processos emotivos. Tem relação direta com a estabilidade
ou o desequilíbrio de nosso estado emocional.
/
SEGUNDA UNIDADE
Ela regula o recebimento e o processamento das informações, bem como seu armazenamento. É
composta pelos:
/
TERCEIRA UNIDADE
Esta unidade programa, regula e verifica a atividade mental e sua conexão com o comportamento. As
regiões que correspondem a essa unidade funcional são as anteriores do giro pré-central dos
hemisférios cerebrais, que compreendem o córtex motor, pré-motor e pré-frontal.
APLICAÇÃO DA NEUROPSICOLOGIA NO
CONTEXTO EDUCACIONAL
A Neuropsicologia busca compreender as relações entre as funções psicológicas superiores e os
processos neurais. O foco aqui são as inúmeras possibilidades de avaliação e intervenção em diferentes
níveis como forma de auxiliar o desenvolvimento de alunos com ou sem algum tipo de lesão cerebral.
/
O cérebro humano funciona em uma sequência ordenada e sistemática de desenvolvimento, que vai do
nível estrutural ao funcional. Esse processo tem como produto diversas mudanças cognitivas e
comportamentais.
A Neuropsicologia traz uma nova visão acerca das teorias de aprendizagem clássicas e permite que
educadores possam comparar e expandir seu ponto de vista sobre o processo de aprendizagem. A
abordagem neurocientífica possibilita um olhar sistêmico e integrado, relacionando, de forma direta,
conceitos como inteligência, emoção, comportamento e ambientes de aprendizagem com as dimensões
física, cognitiva e psicossocial do desenvolvimento.
As emoções humanas e sua relação com o processo de aprendizagem é um tema importante no campo
da Neuropsicologia. Afinal, sem emoção não há aprendizagem. Para que a aprendizagem acorra de
maneira eficiente, são necessárias associações com estados emocionais.
A mesma afirmação pode ser referida à memória. Quanto maior for a qualidade da emoção associada
ao que foi aprendido, maior será a probabilidade de fixação e posterior evocação da informação.
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APRENDIZAGEM
Aprender é uma condição natural do ser humano. Desde o processo de gestação, somos levados a
desenvolver nossa estrutura anatômica, fisiológica e psicológica para lidar com as situações do
cotidiano. Nossa sobrevivência depende disso. O termo aprendizagem pode ser encontrado na literatura
como tema de pesquisa de diversas linhas e já passou por inúmeras modificações ao longo do século
XX.
Ao estudarmos sobre a forma como os seres humanos transformam suas experiências em respostas
comportamentais que auxiliam na sua sobrevivência, também nos deparamos com a questão da não
aprendizagem. Atualmente, muitos autores procuram separar os sujeitos que não aprendem em pelo
menos dois grupos, veja quais são:
Aqueles que têm dificuldade para aprender por questões externas, como a metodologia do professor, a
relação com os colegas, a falta de técnica adequada, as condições socioeconômicas, entre outros
fatores.
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Aqueles que têm dificuldade para aprender por questões neurológicas, geralmente inatas ou provocadas
por lesões.
Muitas pessoas já se fizeram este questionamento: Porque alguns alunos não conseguem
aprender determinado conteúdo ou desenvolver certa habilidade?
Este fato deve ser investigado com cuidado e a neurociência tem contribuído de maneira significativa
para auxiliar profissionais de educação e saúde na compreensão dos problemas de aprendizagem.
Muitos profissionais que lidam há décadas com alunos com dificuldades de aprendizagem sabem que,
por trás de cada sujeito, há um cérebro com um ritmo próprio e um estilo cognitivo muito particular, que
precisa ser levado em consideração, na medida do possível, quando o professor desenvolve seu
planejamento curricular.
COMENTÁRIO
Sabemos que a aprendizagem como processo complexo não se resume ao mero armazenamento de
informações. É necessário o desenvolvimento da capacidade para processar e transformar o pensamento em
comportamento em prol de nossa sobrevivência.
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DIFICULDADES DE APRENDIZAGEM
Por dificuldades de aprendizagem, compreendemos as que têm origem externa ao sujeito, ou seja, que
não são fruto de lesão em alguma área cortical nem de problema genético. Na tabela abaixo listamos
algumas características das dificuldades de aprendizagem, confira:
TRANSTORNOS DE APRENDIZAGEM
5. Dominar a leitura, a
2. Compreender o texto lido — a pessoa lê, mas não interpretação e a manipulação de
consegue interpretar o que leu. números ou símbolos
matemáticos.
Para serem avaliados, esses sintomas precisam ser recorrentes por, pelo menos, seis meses. Também
é preciso descartar outras causas externas que possam favorecer problemas cognitivos ou emocionais.
Além disso, as habilidades acadêmicas afetadas devem ser consideradas quantitativa e qualitativamente
abaixo do esperado, tendo em vista a idade cronológica do aluno. E o mais importante: a avaliação
deve ser realizada com testes padronizados e por uma equipe multidisciplinar, composta de
profissionais de saúde e educação, a fim de que o processo seja o mais amplo possível.
Considerando os avanços recentes no campo das neurociências, podemos estabelecer alguns princípios
para o desenvolvimento de estratégias que ajudem a minimizar os transtornos de aprendizagem
(ROTTA, 2016):
PRIMEIRO PRINCÍPIO
A aprendizagem é um processo social. A construção de um ambiente de aprendizagem positivo favorece
a interligação entre estruturas que são responsáveis pelo processamento da informação, bem como pelo
armazenamento e pelo controle das emoções, permitindo uma aprendizagem mais eficiente.
SEGUNDO PRINCÍPIO
O cérebro responde as informações capturadas pelos órgãos dos sentidos. Propiciar momentos em que
os alunos possam construir seu conhecimento com estratégias lúdicas favorece a fixação de informação
de maneira mais ampla.
TERCEIRO PRINCÍPIO
Ao contrário do que a literatura acreditava há décadas, aprendemos a vida toda. É necessário estudar
os períodos sensíveis, os marcos de desenvolvimento ou, ainda, as janelas de oportunidade. Porém,
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com o passar do tempo, nossa capacidade adaptativa parece diminuir. É mais fácil aprender um novo
idioma quando se é criança em relação a determinado período da idade adulta.
JANELAS DE OPORTUNIDADE
Períodos em que o cérebro humano está mais propenso a aprender determinadas habilidades.
QUARTO PRINCÍPIO
O cérebro humano percebe padrões enquanto testa hipóteses. Promover atividades que possam
incentivar essa possibilidade aumenta a ativação de áreas corticais responsáveis por inúmeras tarefas,
gerando neuroplasticidade e modificando aos poucos a estrutura e a fisiologia do cérebro com base na
experiência. Assim, quanto mais qualitativa for a experiência acadêmica em termos de conexão com a
realidade do aluno, mais áreas do cérebro serão ativadas e mais conexões serão estabelecidas.
DISLEXIA
É um transtorno de aprendizagem relacionado à leitura que também afeta a escrita. A dislexia pode ser
mais facilmente detectada a partir do processo de alfabetização. Um dos principais sintomas observados
neste período é a dificuldade para soletrar letras.
Um leitor competente é aquele que usa as rotas lexical e fonológica como forma de processar o texto
(ROTTA, 2018). Podemos distinguir, ainda, dois tipos de dislexia: a dislexia fonológica, que atinge a
maioria das pessoas com este transtorno, e a dislexia semântica.
Estudos realizados nas décadas de 2000 e 2010 mostram algumas particularidades no cérebro do
disléxico. Sabemos que o cérebro normal responde aos estímulos do meio, porém parece que a
resposta do disléxico é mais lenta. Há pouca ativação de caminhos na parte posterior do lado esquerdo
do cérebro. Uma das consequências disso é que o cérebro tem problema para associar som e imagem,
dificultando a leitura.
Também constatamos que o cérebro do disléxico tem dificuldade de conectar as áreas de associação
visual com as áreas de linguagem, em especial as de Broca e Wernicke.
/
Não há comprometimento físico na dislexia, e o transtorno contradiz todas as expectativas em relação à
criança. É necessário que pais e profissionais compreendam a importância do diagnóstico precoce para
minimizar danos no futuro.
ROTA LEXICAL
A rota lexical (leitura por localização) é utilizada para a leitura de palavras familiares,
armazenadas na memória por conta da experiência de repetição da leitura. Ao reconhecer a
palavra, o cérebro aciona o sistema semântico. Esse movimento permite compreender seu
significado, possibilitando produzir a pronúncia pelo sistema de produção fonológica.
ROTA FONOLÓGICA
A rota fonológica (leitura por associação) é utilizada para a leitura de palavras pouco frequentes
ou desconhecidas. Para ler essas palavras, o cérebro as divide em unidades menores (grafemos e
morfemas). Depois, associa essas unidades ao som correspondente. Em seguida, realiza a junção
de som e imagem, produzindo a pronúncia da palavra.
DISCALCULIA
Trabalhar com alunos que não conseguem aprender exige uma visão integrada do potencial humano.
Não podemos nos concentrar apenas no trabalho realizado nos processos cognitivos. É importante,
também, focar no desenvolvimento afetivo construindo vínculos positivos que fortaleçam a estima do
sujeito. As intervenções precisam considerar um trabalho integrado que envolva o desenvolvimento das
funções motoras, cognitivas e psicossociais.
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VERIFICANDO O APRENDIZADO
A) Somente a I
B) Somente a II
C) Somente a III
D) I e II
B) Crianças com esses transtornos precisam de turmas especiais para dar conta das tarefas escolares.
C) Com tratamento adequado, a discalculia desaparece quando o sujeito entra na fase adulta.
I – Entendemos Linguagem como uma faculdade mental que permite a comunicação entre
indivíduos social.
II – Podemos definir Julgamento como a capacidade de, tendo como objetivo chegar a uma
conclusão frente a determinado problema, articular pensamento e estratégias.
III – Chamamos Raciocínio a habilidade que temos de, frente a questões que nos é imposta,
tomar determinada decisão.
A afirmativas II e III aparecem invertidas. Afinal, de acordo com Luria, o raciocínio deve ser entendido
como a capacidade mental de estruturar o pensamento com vistas a um fim, chegando, assim, a uma
conclusão. Já o julgamento está relacionado à escolha, na forma de decisão, diante de situações que
nos são apresentadas.
Os transtornos de aprendizagem são condições inatas (que nascem com a pessoa) e não têm cura,
embora, com intervenções adequadas, possamos minimizar os problemas apresentados pelos alunos.
Os transtornos específicos mais comuns são aqueles relacionados às competências leitoras e a
operações matemáticas.
MÓDULO 2
METACOGNIÇÃO
2. A inteligência está associada à habilidade do sujeito em ter êxito ou algum tipo de ganho (físico,
cognitivo ou emocional) em relação a um objetivo pretendido.
3. A inteligência está diretamente vinculada à interação do sujeito com seu meio.
Nesse contexto, podemos “arriscar um conceito” de inteligência como a capacidade de aprender com
a experiência de vida, com o auxílio de processos metacognitivos, favorecendo uma
aprendizagem mais eficiente e ampliando nossa capacidade de adaptação a novos cenários.
/
Percebemos que o desenvolvimento da inteligência é mais uma questão de estimulação e treinamento
do que uma questão de dom inato, como geralmente é reconhecido pelo senso comum. É importante
salientar que ser inteligente vai muito além de saber ler, escrever e fazer contas. Culturas e contextos
diversos podem exigir diferentes habilidades de adaptação.
Um breve olhar em bases de dados acadêmicas em diferentes contextos nos mostra que o conceito de
inteligência já esteve associado a diferentes pesquisas que relacionavam inteligência a noções como
gênero, estrutura escolar, capital cultural, alimentação, aspectos socioeconômicos etc. Atualmente, esse
conceito é mais amplo, e não mais associado apenas à capacidade de raciocínio lógico, à leitura e à
interpretação de textos.
Como aqui o foco é a relação entre o conceito de inteligência e o processamento da leitura e do cálculo,
não vamos explorar outros elementos. Entretanto, é necessário deixar claro — e por isso repetimos —
que, na atualidade, o conceito de inteligência vai muito além do que a decodificação de letras e números
para a resolução de determinados problemas.
INTELIGÊNCIA E LEITURA
/
DE MANEIRA GERAL, A FUNÇÃO ESSENCIAL DO
CÉREBRO, COMO PARTE DO SISTEMA NERVOSO
CENTRAL, É DIRECIONAR A REGULAÇÃO DE GRANDE
PARTE DAS FUNÇÕES CORPORAIS E MENTAIS.
(LENT, 2019)
É necessário distinguir aqui dois tipos de funções: as cognitivas e as executivas. Elas merecem maior
aprofundamento em razão de sua importância para a neurociência cognitiva. Porém, no contexto de
nosso estudo, basta destacar o seguinte:
FUNÇÕES COGNITIVAS
Por meio destas funções, compreendemos os processos mentais que nos permitem ações como
recepção, seleção, armazenamento, processamento, organização e recuperação de informações que
possibilitam nossa sobrevivência e adaptação a diferentes situações sociais.
/
FUNÇÕES EXECUTIVAS
São funções mais complexas, responsáveis pela memória operacional e pelo planejamento de ações.
Elas também são responsáveis pelo raciocínio, pela abstração e pela inibição de comportamentos
indesejáveis.
VOCÊ SABIA
Nosso cérebro parece altamente adaptado a uma prática que foi inventada há menos de 6.000 anos, este
fato é interessante – e, devemos reconhecer, maravilhoso ao mesmo tempo. Parece muito tempo, mas, em
termos biológicos, nosso genoma ainda não teve o tempo necessário para desenvolver circuitos cerebrais
inatos próprios à leitura.
Nada na evolução humana nos preparou para receber informações linguísticas a partir do uso do sentido
visual. A leitura é um dos exemplos de atividades culturais criadas pelos seres humanos ao longo dos últimos
milênios. /
Uma das questões mais interessantes no que se refere à aprendizagem de leitura é que o ser humano
precisa adaptar seu cérebro para compreender e representar o mundo à sua volta a partir da leitura e do
raciocínio lógico.
Estudos recentes da imagem cerebral, relacionados à organização cerebral dos circuitos de linguagem,
demonstram que nosso cérebro tem uma capacidade limitada em relação à neuroplasticidade, pelo
menos no que se refere à linguagem (DAHAENE, 2012).
Nosso cérebro é um órgão estruturado em bases genéticas milenares que se adaptam aos estímulos a
cada geração. Um bom exemplo disso pode ser encontrado em nossa relação com as tecnologias. Há
poucas décadas, não tínhamos internet, cinema 3D, livros digitais, realidade aumentada.
De acordo com algumas pesquisas, em termos genéticos, praticamente nenhuma. A grande diferença
está em nossa capacidade de adaptação às tecnologias de nosso tempo. De 1980 a 2020, a ciência
cognitiva procurou compreender quais são os mecanismos neurais que envolvem o desenvolvimento de
estruturas e permitem ao cérebro humano ler e interpretar os diferentes signos.
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freepik / Freepik
Processo de leitura
Diante de tudo o que já estudamos, cabe aqui a seguinte pergunta: Como ocorre o processo de
leitura?
A leitura começa no olho a partir do contato visual. Diferentes regiões do cérebro estão encarregadas de
decodificar os distintos estímulos visuais, como cor, forma e profundidade. Associamos estas imagens
com os sons e o movimento das letras. Então, para ler uma simples palavra, é necessário um trabalho
complexo que envolve a integração de som, imagem e movimento, além de regiões do cérebro
responsáveis pela associação de emoções. Em seguida diferentes áreas do córtex cerebral que são
responsáveis por distintas etapas do processo de leitura, são ativadas, garantindo a coordenação entre:
A decodificação desses impulsos.
Por fim ocorre a associação até que haja uma resposta motora
A esse processo de leitura, chamamos de funções nervosas superiores, desempenhadas pelo córtex
cerebral.
Mais uma vez, é bom ter clareza de que este é um assunto complexo e que merece aprofundamento.
Porém, nas perspectivas de nosso estudo, apresentaremos as funções nervosas segundo cada parte do
cérebro, veja a seguir:
/
Assim, a interpretação de textos está associada a dois processos: o acesso lexical e a integração de
significados de acordo a informação textual. O cérebro possui áreas específicas para captação
visual, decodificação, processamento de contexto, entre outras funções. A compreensão dos processos
relacionados ao desenvolvimento funcional das diferentes regiões anatômicas do cérebro com a leitura e
a interpretação de textos, assim como sua organização cognitiva, pode auxiliar diretamente nas práticas
de formação de leitores desenvolvidas nas instituições escolares. Ainda há muito a ser estudado em
ciência cognitiva, mas um dos consensos que podemos destacar em relação aos diferentes modelos
sobre como realizamos o ato de ler é que este depende de processos perceptivos, cognitivos e
linguísticos.
INTELIGÊNCIA E MATEMÁTICA
Tanto no processamento neural da leitura quanto no cálculo, várias áreas e diversos mecanismos
cognitivos são envolvidos de maneira complexa. Mesmo nas operações matemáticas mais simples, é
possível identificar vários mecanismos cognitivos em atividade, tais como:
MECANISMOS COGNITIVOS
Percepção.
Discriminação visuoespacial.
Raciocínio.
Atenção.
Pesquisas com animais demonstram que, embora em menor grau de complexidade, as habilidades
matemáticas não são exclusivas dos seres humanos. Mas, diferente das habilidades de leitura, as
matemáticas são inatas. Diversas investigações constatam que algumas capacidades, como a
habilidade para quantificar e distinguir, podem ser encontradas em crianças com meses de idade.
Estudos de Jean Piaget demonstram que as habilidades matemáticas são desenvolvidas a partir de
algumas funções cerebrais, como memória de curto e longo prazos, orientação espacial e raciocínio
lógico.
Pai do construtivismo, teoria segundo a qual o estudante – no caso, a criança – traz consigo
informações fundamentais para seu próprio desenvolvimento cognitivo a partir das relações
com o ambiente externo. No construtivismo, a vivência e o processo de construção que o
aluno faz inter-relacionando os diversos conceitos é o que o leva à aprendizagem.
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Fonte: Universidade de Michigan / Wikimedia
Jean Piaget
Pesquisas mais recentes com neuroimagem comprovam que seres humanos possuem áreas
específicas para aprendizagem da matemática. Muitos casos vinculados às dificuldades de
aprendizagem da matemática demonstram que estas, em especial, têm uma relação muito maior com
questões socioemocionais e pedagógicas do que com questões neurológicas.
De 1970 a 2020, a ciência cognitiva avançou consideravelmente em relação aos estudos sobre a
construção numérica e determinadas operações matemáticas no cérebro. Esses estudos chegaram às
seguintes conclusões:
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Font: Anasta_Rass / Shutterstock
Entre o final do primeiro ano de vida e o início do segundo, a criança tem o potencial necessário
para discriminar sequências numéricas crescentes e decrescentes.
Por volta dos dois anos de vida, a criança pode realizar correspondência um a um com tarefas
compartilhadas.
CORRESPONDÊNCIA UM A UM /
Capacidade da criança de perceber, por exemplo, que, da mesma forma que sua mãe coloca um
sapato em cada um dos pés, ela pode realizar a mesma ação, mas com seus próprios sapatos.
Aos três anos de idade, a criança pode contar um pequeno número de objetos.
Entre o quarto e o quinto ano, a criança tem potencial para usar os dedos, a fim de contar e somar
pequenos números.
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Font: pvproductions / Freepik
Aos sete anos, a memória da criança permite que ela se lembre de alguns fatos numéricos
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pressfoto / Freepik
Depois dos 11 anos de idade, aproximadamente, a criança/o jovem desenvolve o pensamento abstrato,
que será muito importante para a realização de várias operações matemáticas.
Outra questão interessante em relação aos estudos oriundos das ciências cognitivas é a afirmação de
que os sistemas de alfabetização e construção numérica apresentam conexões à leitura da escrita. A
leitura numérica está subordinada a processos semelhantes do circuito de alfabetização.
Processamento espacial;
Linguagem;
Memória;
Sequenciação;
Planejamento de ações; e
Conceituação abstrata.
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Neste caso, um dos princípios da compreensão biopsicogenética do ser humano é conceber a
aprendizagem como uma mudança de comportamento, produto da experiência não de uma região
específica, mas de várias que envolvem um processamento complexo da informação de aspectos
sensoriais, neurológicos e psicológicos. E aqui também vale a seguinte afirmação:
É necessário modificar uma visão muito presente no senso comum de que não aprendemos
matemática por não termos o dom. Neste exato momento, muitos professores em diferentes
realidades educacionais estão aceitando o desafio de tentar desmitificar essa visão com o uso de
metodologias de ensino mais lúdicas e contextualizadas à realidade de seus alunos. Emoções negativas
em relação ao objeto de estudo estão entre os fatores que podem, de alguma forma, prejudicar a
aprendizagem do aluno. Portanto, é necessário criar um clima agradável se queremos auxiliar no
desenvolvimento das funções e estruturas corticais responsáveis pela aprendizagem do raciocínio
lógico.
EDUCAÇÃO E NEUROCIÊNCIAS
De todos as atividades humanas, talvez a mais interdisciplinar seja a educação, compreendida como um
processo de formação mediado por inúmeros sujeitos e instrumentos ao longo da socialização. Entre as
possíveis disciplinas que estabelecem vínculos com os processos de ensino e aprendizagem formais,
aos quais recorremos na atualidade, sem dúvida, as neurociências estão entre as que mais auxiliam
educadores e alunos.
O avanço dos estudos sobre o cérebro – principalmente o cérebro humano – tem grande impacto social
em diferentes áreas de conhecimento. Em especial, os estudos sobre o funcionamento do cérebro
podem auxiliar gestores e professores na construção de ambientes de aprendizagem mais eficientes.
Estabelecer uma ponte entre as ciências da educação e as ciências da saúde é essencial para
compreender as relações entre a aprendizagem humana e o funcionamento do organismo. Diante disto,
qual a importância da neurociência no processo de educação? Podemos pontuar o seguinte:
As neurociências apresentam uma visão ampla do ser humano baseada no desenvolvimento do cérebro
como uma estrutura que processa a informação recebida pelo organismo a partir de diferentes canais. O
ensino diversificado e calcado no desenvolvimento de habilidades é uma de suas metas.
ATENÇÃO
Introduzir as neurociências no campo educacional não resolve todos os problemas de aprendizagem, porém
pode contribuir para solucionar inúmeros deles, além de mudar os processos de avaliação de alunos. Ao
implementar as neurociências como fundamento para a construção de ambientes de aprendizagem,
podemos, de maneira objetiva, explicar, desenvolver novos modelos e descrever os mecanismos neuronais
que sustentam o desenvolvimento e a aprendizagem em seus atos perceptivos, cognitivos e motores.
O ato de aprender exige uma rede de operações complexas que envolvem processos neurofisiológicos e
neuropsicológicos. Considerando este cenário, um dos papéis essenciais da escola é contribuir para o
desenvolvimento das funções mentais básicas que levem a funções mentais superiores. Pensar dessa
forma altera drasticamente o papel de professores, alunos, pais e gestores e a própria configuração
tanto do espaço escolar quanto do currículo praticado nesses ambientes. Muitos são os fatores que
podemos considerar do ponto de vista das neurociências, quando afirmamos que o aprendizado
acontece no cérebro. Separamos três fatores que precisam ser levados em consideração neste
momento:
O DESENVOLVIMENTO DO APRENDIZ
Desde o século XIX, a ciência moderna oferece subsídios que auxiliam na modelagem de processos
educacionais com base em evidências científicas. Ao longo de décadas de estudo, diferentes fatores
foram enfatizados, quando diversas áreas do saber científico tentaram explicar qual é a melhor forma de
ensinar as gerações presentes.
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Em determinado momento, cientistas acreditaram que algumas habilidades eram inatas. Em outro
período, que o professor era a o responsável pelo sucesso do aluno. Nas demais ocasiões, o ambiente
escolar foi identificado como a chave para a aprendizagem do aluno.
Atualmente, entendemos que todos esses fatores influenciam, em maior ou menor escala, o
desenvolvimento e a aprendizagem. Quando olhamos para o aluno do ponto de vista das ciências da
saúde, aprendemos que é necessário compreender os diferentes domínios que envolvem o processo de
desenvolvimento. Esse domínios são: Domínio físico, domínio cognitivo e Domínio psicossocial.
DOMÍNIO FÍSICO
Aquele que se refere, por exemplo, ao crescimento do corpo, aos marcos do desenvolvimento
motor, ao crescimento do cérebro e ao amadurecimento de determinadas estruturas cerebrais.
DOMÍNIO COGNITIVO
Refere-se ao desenvolvimento dos esquemas mentais, das funções psicológicas superiores, das
funções executivas, tais como atenção, memória e linguagem, entre outras funções diretamente
ligadas ao ato de compreender o mundo a nossa volta.
DOMÍNIO PSICOSSOCIAL
Refere-se ao desenvolvimento e ao controle das emoções (bem como à forma com que as usamos
em nossas relações com outras pessoas) e à criação de vínculos, estabelecendo controle da
ansiedade e do estresse, por exemplo.
/
Os três domínios apresentados estão inter-relacionados no processo de desenvolvimento. Não é
possível aprender de maneira eficiente sem a integração entre os domínios físico, cognitivo e
psicossocial.
AS ESTRATÉGIAS DO PROFESSOR
As neurociências também demonstram que diferentes alunos possuem distintos estilos de
aprendizagem. Esta informação é essencial para professores. Diferentes sujeitos necessitam de uma
diversidade de formas de apresentação do conteúdo para aprender. Por isso, é importante levar em
consideração a forma como as relações sociais auxiliam no desenvolvimento do domínio cognitivo dos
alunos.
Todo ser humano precisa de estímulo como combustível para seu desenvolvimento. Podemos observar
essa organização nos movimentos, na forma de pensar, nas relações, no controle das emoções etc.
As neurociências auxiliam o professor a ver o aluno como um ser integral, fruto de um complexo
processo de formação humana. Conhecer o funcionamento do cérebro e como este se desenvolve ao
longo de determinado período de tempo auxilia o professor a compreender as possíveis dificuldades de
aprendizagem que o aluno pode enfrentar em seu cotidiano. Se, de um lado, é necessário pensar nas
características de quem aprende; do outro, é preciso focar nas características de quem ensina. Um dos
grandes erros que muitos gestores cometem é não considerar a importância da formação continuada de
seus professores. Ao pensarmos em ambientes de aprendizagem e práticas pedagógicas, é necessário
ter em mente que o professor é um facilitador da aprendizagem, compreendida como um processo de
mudança potencial dos esquemas mentais e do comportamento do aluno.
ESTILOS DE APRENDIZAGEM
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Porém diversidade não significa excesso de atividades. É preciso saber dosar entre quantidade e
qualidade quando propomos diferentes atividades para os alunos. Nesse mesmo sentido, pensando
exatamente na saúde mental do aluno: é necessário equilibrar o tempo das atividades com
intervalos que permitam o descanso necessário entre elas.
Os alunos precisam de um tempo entre uma aula e outra ou de intervalos regulares para organizar o que
foi apresentado. A sobrecarga que hoje vemos em alguns sistemas educacionais pode dificultar a
aprendizagem, gerando um clima de ansiedade acima do limite de muitos alunos. Percebemos, portanto,
que mais do que possuir um espaço físico amplamente diversificado, o que é proveitoso para a
aprendizagem é sua plena utilização, no contexto da neuroeducação.
Diante do exposto, é possível perceber que as neurociências vieram para auxiliar os profissionais de
educação a estabelecer um elo entre diferentes correntes de pensamento, antes separadas em teorias
que valorizavam aspectos isolados do processo de aprendizagem. É preciso conectar as teorias para
compreender, de maneira mais ampla, o processo de ensino e aprendizagem. Nesse sentido, tanto as
ciências humanas quanto as ciências da saúde tiveram de rever seus conceitos sobre o processo de
aprendizagem, definido como aquele em que o sujeito busca estratégias para estar e se manter inserido,
de maneira saudável, em determinado meio.
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disseminação dos estudos, uma década antes, em áreas como Neuroanatomia, Neurofisiologia e
Neuropsicologia (ROTTA, 2016; LENT, 2019). Portanto, cabe interrogar:
Quais são as etapas necessárias para a construção de um ambiente de aprendizagem com base em
fundamentos neurocientíficos?
As neurociências não são utilizadas para criar algo novo, mas para ressignificar o que muitos
professores já desenvolvem em seus espaços de atuação. Conceitos como avaliação diagnóstica,
planejamento e feedback ganham novos olhares quando associados às informações de outros
campos, em especial o campo das neurociências. Abordaremos agora esses conceitos, veja abaixo:
AVALIAÇÃO DIAGNÓSTICA
Historicamente, professores utilizam esta ferramenta para avaliar o conhecimento dos alunos antes da
introdução de conceitos novos ou no começo de uma nova etapa letiva. Ao incorporar a neurociência ao
conceito de avaliação diagnóstica, acrescentamos informações importantes.
PLANEJAMENTO
O planejamento das atividades docentes também ganha novos olhares. Da Educação Infantil ao Ensino
Superior, sabemos que a diversidade e a complexidade das atividades podem favorecer o
desenvolvimento da neuroplasticidade dos alunos. Diferentes atividades são capazes de beneficiar a
construção continuada, o aprimoramento de esquemas e habilidades, e o desenvolvimento de
inteligências múltiplas.
As estratégias que crianças e adultos utilizam para memorizar, conceituar e resolver problemas são
inúmeras e dependem, também, de vários fatores. Diversificar as estratégias de apresentação do
conteúdo utilizadas pelos docentes é uma forma de valorizar as diferentes inteligências apresentadas
pelos sujeitos.
Quando refletimos sobre o planejamento das ações pedagógicas, é necessário ter em conta a
diversidade de formas viáveis para apresentar um conteúdo à turma, considerando as possibilidades
para captação da informação a partir dos diferentes sentidos, como visão, audição e tato.
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COMPETÊNCIA ADAPTATIVA
FEEDBACK
O feedback representa a participação do aluno no processo de avaliação ao qual determinada atividade
está submetida. Isso auxilia sua metacognição. Aqui, um ponto que merece destaque é a avaliação,
entendida e apresentada como um processo transplante àquele que será avaliado. Não é possível
pensar em ambientes de aprendizagem com base nas neurociências e ter a avaliação centrada apenas
em uma parte do desenvolvimento, que é a cognitiva.
Historicamente, nosso sistema educacional não auxiliou muitas gerações a compreender a avaliação
como uma parte positiva do processo de ensino e aprendizagem. Mesmo na atualidade, ainda é possível
encontrar diferentes realidades em que alunos e professores veem a avaliação com desconfiança.
Se o desenvolvimento é visto como um processo com múltiplos domínios, a avaliação também precisa
ser múltipla, diversificada, contínua. Nela, o sujeito tem a possibilidade de testar suas habilidades
físicas, cognitivas e psicossociais.
ATENÇÃO
Nenhum dos domínios que envolvem o processo de desenvolvimento são superiores. Cada um é importante
nesse processo.
Um ambiente de aprendizagem saudável é aquele preparado para fornecer estímulos que permitam o
desenvolvimento de modificações na estrutura cerebral dos alunos, favorecendo a neuroplasticidade de
maneira positiva. Num ambiente sadio há um clima acolhedor. A escola tem de desafiar o aluno, mas
também ser um lugar de construção de vínculos positivos.
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Fonte: freepik / Freepik
Legenda da imagem
Outro fator fundamental é a linguagem empregada pelo professor nos processos de ensino e
aprendizagem. Cada faixa etária possui um nível de compreensão diferente. A linguagem pode
facilitar ou dificultar a aprendizagem.
Muitos alunos no Ensino Superior apresentam dificuldades de compreensão do conteúdo por não
dominarem um capital cultural mínimo que possa estruturar a organização e o processamento das
informações pertinentes a determinada disciplina. Neste momento, é necessário que as instituições de
nível superior construam estratégias para auxiliar seus alunos, como programas de reforço e
atendimento psicopedagógico, por exemplo.
Como já vimos anteriormente, as neurociências demonstram que devemos criar situações que possam
facilitar o desenvolvimento da aprendizagem não apenas de conteúdo, mas também de habilidades e
funções cognitivas. Retomando as principais funções cognitivas apresentadas no Módulo 1, podemos
destacar:
ATENÇÃO
Como vimos, a atenção está relacionada à capacidade que o indivíduo possui de focar a mente em
algum aspecto, seja do ambiente, seja de algum conteúdo ou da própria mente, no caso das estratégias
metacognitivas. Sem atenção, não há formação da memória; e sem memória, não há aprendizagem. /
Quanto maior for a duração de uma atividade, maior será o risco de dispersão da atenção por parte dos
alunos.
MEMÓRIA
FUNÇÃO TÁTIL-CINESTÉSICA
Esta função se refere à nossa capacidade de utilizar o tato no reconhecimento de objetos e sensações
sem a necessidade da visão. Seu desenvolvimento é uma das bases essenciais da Educação Infantil,
fase em que os professores podem desenvolver atividades as mais lúdicas possíveis, especialmente nos
processos de alfabetização.
LINGUAGEM
A função superior da linguagem deve ser compreendida como aquela que permite ao sujeito decodificar,
compreender e organizar símbolos e signos verbais e não verbais, a fim de analisar o mundo à sua volta
e de se comunicar de maneira adequada com diferentes grupos sociais.
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A linguagem é considerada a função que realmente separa os seres humanos de outros animais. Por
isso assume papel de destaque, quando pensamos na criação de ambientes escolares eficientes
(DAHAENE, 2012).
Um ambiente de educação que se baseia nas informações oriundas da ciência cognitiva, em especial
das neurociências, deve priorizar a autoria do aluno, a troca de saberes entre diferentes atores, a
avaliação integral, um planejamento adequado aos diferentes estilos de aprendizagem, entre outros
fatores, como forma de construção de uma aprendizagem significativa.
VERIFICANDO O APRENDIZADO
A) A inteligência é um substrato cortical inato e não passível de mudança pelos meios convencionais.
B) A introdução das neurociências no campo educacional não representa mudanças significativas nesse
contexto.
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C) Somente psicólogos escolares podem se beneficiar da aplicação das neurociências na escola.
GABARITO
Uma das maneiras de conceituar a inteligência é associá-la a um conjunto de operações mentais que
nos permite solucionar nossos problemas cotidianos. Ela envolve percepção, raciocínio, memória, entre
outras operações mentais.
A grande contribuição que as neurociências podem trazer para o campo educacional em geral – e,
portanto, não somente para psicólogos que atuam na área – é dar o enfoque necessário ao processo de
aprendizagem. Nesse sentido, ela pode trazer mudanças significativas, como a reestruturação de
modelos de avaliação que persistem há décadas. Nem por isso, pode receber sozinha a
responsabilidade e o peso de uma transformação tão profunda na educação.
CONCLUSÃO
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Os conhecimentos oriundos do campo da Neuropsicologia favorecem um olhar interdisciplinar do
processo de aprendizagem. Dessa forma, profissionais de educação podem desenvolver práticas que
promovam o desenvolvimento dos alunos com maior eficiência. O grande desafio neste campo hoje é
/
diagnosticar e minimizar os problemas relacionados à vida acadêmica, para que os indivíduos tenham
mais qualidade de vida no futuro.
REFERÊNCIAS
CHAVES, A. P. R. A neurobiologia do aprendizado na prática. Brasília: Alumnus, 2017.
DAHAENE, S. Os neurônios da leitura: como a ciência explica nossa capacidade de ler. Porto
Alegre: Penso, 2012.
FERGUSON, S. Donald Olding Hebb. [S. l.]: Associação Canadense de Neurociências, [20--].
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RUIZA, M.; FERNÁNDEZ, T.; TAMARO, E. Biografia de Carl Wernicke. En Biografías y Vidas. La
enciclopedia biográfica en línea. Barcelona, 2004.
SABBATTINI, R. M. E. A história da psicocirurgia. Paul Pierre Broca: uma breve biografia. Revista
Cérebro & Mente, n. 2, jun. 1997.
EXPLORE+
Pesquise e leia o seguinte artigo: SOUSA, A. M. O. P. de; ALVES, R. R. N. A neurociência na
formação dos educadores e sua contribuição no processo de aprendizagem. Revista
Psicopedagogia, v. 34, n. 105, p. 320-331, 2017.
Pesquise os trabalhos do professor Pierluigi Piazzi, cujos vídeos podem ser encontrados em
plataformas como YouTube.
Confira a Palestra de Dra. Lara Bloyd, em TEDxVancouver sobe Neuroplasticidade, e veja como
alguns pontos de nosso estudo são também apresentados por ela.
CONTEUDISTA
Marcos Antonio Silva
CURRÍCULO LATTES