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EM EDUCAÇÃO II
autoras
ANDRÉA REGINA ROSIN PINOLA
VIVIANE LOPES
1ª edição
SESES
rio de janeiro 2015
Conselho editorial luis claudio dallier ; roberto paes; gladis linhares; karen bortoloti;
marília gomes godinho
Todos os direitos reservados. Nenhuma parte desta obra pode ser reproduzida ou transmitida
por quaisquer meios (eletrônico ou mecânico, incluindo fotocópia e gravação) ou arquivada em
qualquer sistema ou banco de dados sem permissão escrita da Editora. Copyright seses, 2015.
isbn: 978-85-60923-66-3
cdd 370.7
Prefácio 5
1. A Problemática do Conhecimento 7
Objetivos 8
1.1 O surgimento do pensamento filosófico-científico 9
1.2 Tipos de conhecimento 11
1.3 Senso comum versus Ciência 19
1.4 Um breve histórico da Ciência 21
Atividades 26
Reflexão 26
Referências bibliográficas 27
2. A Ciência: da Antiguidade à
Revolução Científica pós Idade Média 29
Objetivos 30
2.1 Filosofia e Ciência na Antiguidade 31
2.2 Ciência na Idade Média 41
2.3 A Revolução Científica nos séculos XVI e XVII 43
Atividades 47
Reflexão 47
Referências bibliográficas 47
Objetivos 50
3.1 O desenvolvimento da Ciência moderna 51
3.2 Racionalismo e empirismo 56
3.3 O iluminismo e a contribuição de Immanuel Kant 61
3.4 A filosofia da Ciência no século XX 64
Atividades 66
Reflexão 66
Referências bibliográficas 66
Objetivos 92
5.1 O contexto que emerge a Pedagogia
enquanto curso de graduação 93
Atividades 103
Reflexão 104
Referências bibliográficas 104
Gabarito 105
Prefácio
Prezados(as) alunos(as),
Bons estudos!
5
1
A Problemática do
Conhecimento
Neste capítulo estudaremos a problemática do conhecimento. Mais precisa-
mente, veremos como a ciência, desde a Antiguidade, foi se desenvolvendo
no decorrer da busca do homem em encontrar explicações racionais para os
fenômenos da realidade. Analisaremos todos os tipos de conhecimento des-
tacando as características específicas do conhecimento científico.
OBJETIVOS
• Analisar os aspectos do pensamento filosófico-científico na Antiguidade;
• Analisar criticamente a problemática do conhecimento;
• Conhecer os diferentes tipos de conhecimento;
• Caracterizar o senso comum e a ciência.
8• capítulo 1
1.1 O surgimento do pensamento filosófico-
-científico
10 • capítulo 1
Entre os principais aspectos da atitude filosófico-científica nascente, destacam-se:
– Tendência à racionalidade: a razão é tomada como critério de verdade, acima das
limitações das experiências imediatas e da explicação mítica. A razão ou pensamento
(logos) vê o visível e compreende o invisível, que é seu princípio imutável e verdadeiro;
– Busca de respostas concludentes: colocado um problema, sua solução é sempre
submetida à discussão e à análise crítica, em vez de ser sumária e dogmaticamente
aceita; o discurso deve ser capaz de provar, demonstrar e garantir aquilo que é dito;
– Acatamento às imposições de um pensamento organizado de acordo com certos
princípios universais que precisam ser respeitados para que pensamento e discurso
sejam aceitos como verdadeiros; são princípios lógicos;
– Ausência de explicações preestabelecidas e, portanto, exigência de investigação
para responder os problemas postos pela natureza;
– Tendência à generalização, isto é, a oferecer explicações de alcance geral (e mesmo
universal).
CHAUI, Marilena. Introdução à história da filosofia. 1. v. São Paulo: Companhia das Letras, 2002. p. 39.
capítulo 1 • 11
Um cientista, com elaborado conhecimento numa área específica (por exemplo, a física),
não deixa de usar o senso comum na vida cotidiana quando, empiricamente, educa seu
filho ou, ainda, ao recorrer à filosofia para analisar os fundamentos de sua ciência; uma
pessoa religiosa aproxima-se de Deus pela fé, mas também busca na filosofia a justifica-
ção racional da existência de Deus; o mesmo acontece com o artista, cuja concepção sen-
sível do mundo coexiste com as demais maneiras de conhecer. (ARANHA, 2006, p. 18).
O mito
O mito é essencialmente uma narrativa mágica ou maravilhosa, que não se define ape-
nas pelo tema ou objeto da narrativa, mas pelo modo (mágico) de narra, isto é, por
analogias, metáforas e parábolas. Sua função é resolver, num plano imaginativo, ten-
sões, conflitos e antagonismos sociais que não tem como ser resolvidos no plano da
realidade. (CHAUI, 2002, p, 36).
12 • capítulo 1
Nessa perspectiva, as crenças são suficientes para explicar a realidade e o
mundo que nos cerca, “sem que se exija daquele que crê a compreensão plena
dos mistérios”, aceitos, por sua vez, “sem discussão e transmitidos cultural-
mente às novas gerações” (ARANHA, 2006, p. 18). Em outras palavras, no pen-
samento mítico, não há provas que fundamentam as explicações da realidade;
apenas as crenças são suficientes para a sua compreensão.
Um dos elementos centrais do pensamento mítico é a referência ao sobre-
natural, ao mistério e ao divino. O próprio termo grego mythos denota um dis-
curso fictício. Trata-se de uma narrativa imaginária, de linguagem poética, que
invoca uma série de deuses e heróis para explicar a existência. Os povos tribais
tem como estrutura dominante a referência aos deuses. Isso fica evidente nos
poemas épicos fundadores da cultura grega que chegaram até nós. A Ilíada e a
Odisseia de Homero (séc. IX a.C.), por exemplo, captam a sensibilidade mitoló-
gica3 da Grécia Antiga, cujos eventos da existência humana eram concebidos
como consequências das ações dos deuses.
Por acreditar na atuação constante dos deuses, o mito primitivo ritualiza todas as ati-
vidades: os instrumentos úteis e as manifestações artísticas tem características mági-
cas; o mesmo ocorre com o plantio e a colheita, a caça, a guerra, as relações entre os
indivíduos (nascer, tornar-se adulto, casar, morrer), a explicação da origem do universo,
os valores aceitos. Em suma, no mundo primitivo tudo é mito e tudo se faz por magia.
(ARANHA, 2006, p. 18).
Senso comum
capítulo 1 • 13
Trata-se de um conhecimento fragmentário, difuso, assistemático, razão
pela qual ele não é produzido com base em procedimentos metodológicos, fei-
tos para conduzir a relação sujeito-objeto. O que resulta dessa relação com o
mundo é um saber que muitos chamam saber empírico, vulgar ou, ainda, senso
comum.
O quadro abaixo sintetiza as principais características do senso comum de
acordo com Chaui (2000, p. 315-316):
14 • capítulo 1
A Arte
©© CATALIN GRIGORIU | DREAMSTIME.COM
capítulo 1 • 15
Filosofia
©© PETR VODICKA | DREAMSTIME.COM
A palavra filosofia é composta por dois termos gregos: philo e sophia. O pri-
meiro termo significa amizade, amor; o segundo, sabedoria. Filosofia significa,
portanto, amizade pela sabedoria, a busca do saber.
A filosofia, ao contrário do mito e do senso comum, é o pensamento sis-
tematizado e fundamentado que busca o verdadeiro significado das coisas, a
verdade sobre a existência do homem e de todas as coisas do mundo. Os estu-
diosos da filosofia afirmam que o que caracteriza a reflexão filosófica é o mo-
vimento de indagar, de questionar as coisas que “já conhecemos” e as quais,
ainda, iremos conhecer. É o pensar crítico a respeito das diversas concepções
(ideais) que podemos construir acerca do mundo e das ações que efetivamos
no mundo. A filosofia também analisa os valores éticos e os juízos morais; mas,
diferentemente do senso comum, que apenas formula opiniões simplistas, a
filosofia almeja a compreensão dos nossos atos e valores.
O ato de filosofia implica em não aceitar como óbvias e evidentes as
coisas, as ideias, os fatos, as situações, os valores, os comportamentos de nossa
existência cotidiana; jamais aceitá-los sem antes havê-los investigado e com-
preendido. De acordo com Marilena Chauí (2000, p.13), o conhecimento filo-
sófico trabalha com enunciados precisos e rigorosos; opera com conceitos ou
16 • capítulo 1
ideias obtidos por procedimentos de demonstração e prova, o que exige a fun-
damentação racional do que é enunciado e pensado.
Trata-se de um trabalho intelectual sistemático porque não se contenta em
obter respostas para as questões colocadas, mas exige que as próprias questões
sejam válidas e, em segundo lugar, que as respostas sejam verdadeiras, estejam
relacionadas entre si, esclareçam umas às outras, formem conjuntos coerentes
de ideias e significações, sejam provadas e demonstradas racionalmente.
Chaui (2000, p. 11-12) destaca como principais características da Filosofia:
Perguntar por que a coisa, a ideia ou o valor, existe e é como é. A Filosofia pergunta
pela origem ou pela causa de uma coisa, de uma ideia, de um valor.
1. Por que pensamos o que pensamos, dizemos o que dizemos e fazemos o que faze-
mos. Isto é, quais os motivos, as razões e as causas para pensarmos o que pensamos,
dizermos o que dizemos, fazermos o que fazemos?
2. O que queremos pensar quando pensamos, o que queremos dizer quando falamos,
o que queremos fazer quando agimos? Isto é, qual é o conteúdo ou o sentido do que
pensamos, dizemos ou fazemos?
3. Para que pensamos o que pensamos, dizemos o que dizemos, fazemos o que faze-
mos? Isto é, qual é a intenção ou a finalidade do que pensamos, dizemos e fazemos?
capítulo 1 • 17
De acordo com Marilena Chauí (2000. p. 9) a atitude filosófica é, ao mesmo
tempo, negativa e positiva. A primeira característica da atitude filosófica é ne-
gativa, por contrariar e rejeitar as formulações simplistas e com base no senso
comum. A segunda característica da atitude filosófica é positiva, por implicar
num questionamento sobre como as coisas são, “as ideias, os fatos, as situa-
ções, os comportamentos, os valores, nós mesmos”, assim como uma “interro-
gação sobre o porquê disso tudo e de nós, e uma interrogação sobre como tudo
isso é assim e não de outra maneira. O que é? Por que é? Como é? Essas são
as indagações fundamentais da atitude filosófica” Mas tanto a atitude negativa
quanto a atitude positiva da filosofia resulta numa atitude crítica e no pensa-
mento crítico.
Atividade filosófica capta a Filosofia como análise (das condições da ciência, da reli-
gião, da arte, da moral), como reflexão (isto é, volta da consciência para si mesma para
conhecer-se enquanto capacidade para o conhecimento, o sentimento e a ação) e
como crítica (das ilusões e dos preconceitos individuais e coletivos, das teorias e prá-
ticas científicas, políticas e artísticas), essas três atividades (análise, reflexão e crítica)
estando orientadas pela elaboração filosófica de significações gerais sobre a realidade
e os seres humanos. Além de análise, reflexão e crítica, a Filosofia é a busca do funda-
mento e do sentido da realidade em suas múltiplas formas indagando o que são, qual
sua permanência e qual a necessidade interna que as transforma em outras. O que é o
ser e o aparecer-desaparecer dos seres? (CHAUI, 2000, p. 16)
Ciência
18 • capítulo 1
e que se confirmam através de métodos de verificação definidos” (LALANDE,
1999, p. 155). Trata-se de um conhecimento que é sistemático, metódico e que
não é realizado de maneira espontânea, intuitiva, baseada na fé ou simples-
mente na lógica racional. Ele prevê, ainda, experimentação, validação e com-
provação daquilo a que chega a título de representação do real. Mediante as
leis que formula, o conhecimento científico possibilita ao ser humano elaborar
instrumentos os quais são utilizados para intervir na realidade e transformá-la
para melhor ou para pior.
Uma teoria científica, por sua vez, consiste num “sistema ordenado e co-
erente de proposições ou enunciados baseados em um pequeno número de
princípios, cuja finalidade é descrever, explicar e prever do modo mais com-
pleto possível um conjunto de fenômenos, oferecendo suas leis necessárias”.
Ocorre assim que a “teoria científica permite que uma multiplicidade empírica
de fatos aparentemente muito diferentes sejam compreendidos como seme-
lhantes e submetidos às mesmas leis; e, vice-versa, permite compreender por
que fatos aparentemente semelhantes são diferentes e submetidos a leis dife-
rentes” (CHAUI, 2000, p. 320).
Para Alves (1986, p.21), o senso comum e a ciência são expressões da mes-
ma necessidade básica, a necessidade de compreender o mundo, a fim de viver
capítulo 1 • 19
melhor e sobreviver. De fato, na diferenciação entre os diferentes tipos de co-
nhecimentos que foram produzidos ao longo da história da humanidade, o
senso comum aparece como a primeira forma de compreensão do mundo re-
sultante de experiências de um grupo, que foram acumuladas e transmitidas
de gerações à gerações.
Cotrin (2002, p.46), afirma que os conceitos “nascem no cotidiano (senso
comum) são apropriados pelo meio científico e tornam-se científicos o rompe-
rem com esse cotidiano, com esse senso comum”; contudo, “vasto conjunto de
concepções geralmente aceitas como verdadeiras em determinado meio social
recebe o nome de senso comum”. Para Santos, (2002, p. 56), a ciência moderna
“construiu-se contra o senso comum”, considerando-o “superficial, ilusório e
falso” e a ciência pós-moderna vem para reconhecer os valores (“virtualidades”)
do senso comum que enriquecem a “nossa relação com o mundo”, ou seja, o
senso comum também produz conhecimento, mesmo que ele seja um “conhe-
cimento mistificado e mistificador”.
O senso comum se faz presente até mesmo na concepção que temos sobre
o cientista. Quando pensamos no cientista ligeiramente vem em nossas men-
tes a figura de uma pessoa de branco, descabelada e meio confusa, em amplos
laboratórios e etc., não é mesmo? Por que será que temos essa impressão dos
cientistas? Contudo, não há como negar que relacionamos a figura do cientista
ao conhecimento. Mas até que ponto a ciência é superior ao senso comum?
Para Alves (1986, p.21), o “senso comum e a ciência são expressões da mesma
necessidade básica, a necessidade de compreender o mundo, a fim de viver me-
lhor e sobreviver”. Não importam as diferenças que separam o senso comum
da ciência: ambos estão em busca de ordem. Não se pode negar, por outro lado,
que o senso comum e a ciência nos apresentam visões de ordem muito diferen-
tes uma da outra.
Tratando-se especificamente do senso comum, podemos considerar como
uma de suas características o fato de ser um conhecimento resultante das expe-
riências vividas no cotidiano, que abrangem diferentes aspectos da vida, como
os costumes, tradições, éticas, normas e etc., e que visam oferecer aos homens
elementos que possam dar alguma garantia para o viver bem na comunidade a
qual pertencem.
Outra característica essencial do senso comum é que esse tipo de conhe-
cimento, por ser decorrente da tradição de um povo ou de uma cultura, não
é datado e não tem autoria. Sua transmissão ocorre no cotidiano, de modo
20 • capítulo 1
espontâneo. O senso comum também pode ser visto em ditos populares como
“Água mole em pedra dura, tanto bate até que fura”; “Onde há fumaça há fogo”;
“A pressa é inimiga da perfeição”; “A união faz a força” e etc.
capítulo 1 • 21
marca comum aos diferentes momentos do processo de construção do conhe-
cimento científico, a inter-relação entre as necessidades humanas e o conheci-
mento produzido; ao mesmo tempo em que atuam como geradoras de ideias
e explicações, as necessidades humanas vão se transformando a partir, entre
outros fatores, do conhecimento produzido.
Considerando assim que a humanidade construiu diferentes sentidos às
coisas a fim de explicar sua existência, é certo que o conhecimento científico
apresenta uma historicidade. Desta forma, faremos a seguir uma breve apre-
sentação da história da ciência, que certamente também perpassa na história
da filosofia, uma vez que :
2. As ciências, por sua vez, tem sido um recurso dos filósofos para poder abalar os
sistemas filosóficos estabelecidos (DUTRA, 2005).
Vimos no começo do capítulo que a ciência iniciou seus trabalhos por vol-
ta do século V a.C., quando os filósofos pré-socráticos almejaram explicar ra-
cionalmente a natureza a partir dela própria, a partir da relação entre physis
(natureza), arqué (elemento primordial), kosmos (ordem da natureza) e logos
(pensamento).
O modelo naturalista dos filósofos pré-socráticos entra em crise com o sur-
gimento da sofística4, que passou a defender uma visão relativa do mundo. A so-
fística também despertou dúvidas quanto à pretensão da filosofia de conhecer
a verdade absoluta, favorecendo o surgimento do relativismo e do humanismo.
Contra o movimento sofista, Sócrates contrapunha-se a todo tipo de relativis-
mo e acreditava em valores e verdades permanentes. A visão dos sofistas sobre
a possibilidade do conhecimento, assim como a visão de Sócrates sobre a ver-
dade, será retomada com mais profundidade no capítulo 2 do nosso material.
22 • capítulo 1
O fragmento mais importante que conhecemos do sofista Protágoras (490-421 a.C.
aproximadamente) afirma que “o homem é a medida de todas as coisas, das que são e
das que não são”. Protágoras valorizava as explicações do real a partir dos fenômenos
e das circunstâncias, aproximado-se dos mobilistas e afastando-se dos monistas. O
sofista Górgias (485-380 a.C. aproximadamente), por sua vez, defendeu a impossibili-
dade do conhecimento definitivo a partir das seguintes formulações: nada é; se é, não
pode ser conhecido; e se é e é cognoscível, não pode ser comunicado, ou seja, tornado
significativo para outra pessoa. De acordo com Kerferd (2003, p. 12), os seguintes
temas prevaleceram nos ensinamentos dos sofistas: a necessidade de aceitar o relati-
vismo nos valores e noutras coisas, sem reduzir tudo ao subjetivismo; e a crença de que
não há área da vida humana, ou do mundo como um todo, que seja imune à compreen-
são alcançada por meio de debate racional.
capítulo 1 • 23
1) Do ponto de vista da cosmologia, a demonstração da validade do modelo helio-
cêntrico, empreendida por Galileu; a formulação da noção de um universo infinito, que
se inicia com Nicolau de Cusa e Giordano Bruno; e a concepção dos corpos celestes,
principalmente da Terra, em decorrência do modelo heliocêntrico; 2) do ponto de vis-
ta da ideia de ciência, a valorização da observação e do método experimental, isto é,
uma ciência ativa que se opõe à ciência contemplativa dos antigos; e a utilização da
matemática como linguagem da física, proposta por Galileu sob inspiração platônica e
pitagórica e contrária à concepção aristotélica. (MARCONDES, 2002, p. 151)
Como temos estudado neste capítulo, a ciência, assim como os demais tipos de
conhecimentos, é resultado da relação do homem com sua existência material.
E como a história da humanidade é marcada por diferentes transformações, o
mesmo se deu com a ciência propriamente.
A Ciência, segundo Bachelard (1996, p. 18), deve-se opor absolutamente à
opinião, por esta traduzir necessidades em conhecimentos e designar os obje-
tos pela utilidade. Se o que se busca é o conhecimento científico, nada deve ser
baseado na opinião; antes de tudo é preciso destruí-la, superá-la. Em todas as
formas de racionalizações imprudentes, a resposta está muito mais presente e
nítida do que a pergunta. Em primeiro lugar é preciso saber formular proble-
mas. Se não há perguntas não há conhecimento científico.
O conhecimento científico pode ser definido assim como o “aperfeiçoa-
mento do conhecimento comum e ordinário obtido por meio de um procedi-
mento metódico, o qual mobiliza explicações rigorosas e ou plausíveis sobre o
que se afirma sobre um objeto da realidade” (GALLIANO, 1979, p. 21).
CONEXÃO
Para saber mais sobre as técnicas de metodologia científica, leia:
MORAES, João Francisco Régis. Ciência e perspectivas antropológicas hoje. In: CARVALHO,
Maria Cecilia. Construindo o saber: técnicas de metologia científica. 2ed. Campinas: Papirus,
1998, p. 9596.
24 • capítulo 1
De acordo com Araújo (1998, p. 15), três fatores devem ser levados em consi-
deração na conceituação da ciência:
capítulo 1 • 25
Isto é, busca as leis gerais de funcionamento dos fenô-
menos, que são as mesmas para fatos que nos parecem
diferentes. Por exemplo, a lei universal da gravitação de-
HOMOGÊNEO monstra que a queda de uma pedra e a flutuação de uma
pluma obedecem à mesma lei de atração e repulsão no
interior do campo gravitacional.
ATIVIDADES
01. Com base na leitura do capítulo 1, defina o conceito de ciência.
03. Por que é correto afirmar que a ciência nasce nas discussões filosóficas dos pré-
socráticos?
REFLEXÃO
Neste capítulo, iniciamos uma análise sobre os primórdios da ciência mediante uma leitura de
alguns aspectos da Filosofia Antiga. Vimos o quanto a ciência, assim como os demais tipos
de conhecimento, é resultado das condições materiais humanas. Analisamos os diferentes
tipos de conhecimento e refletimos sobre a relação da ciência com o senso comum.
LEITURA
Para se aprofundar na discussão sobre a construção da ciência recomendamos a leitura:
TARNAS, Richard. A epopeia do pensamento ocidental: para compreender as ideias que
moldaram nossa visão do mundo. Tradução de Beatriz Sidou. 7. ed. Rio de Janeiro: Bertrand
Brasil, 2005.
26 • capítulo 1
Para entender mais sobre o pensamento filosófico e sua busca pela verdade leia:
CHAUI, Marilena. Convite à filosofia. São Paulo: Ática, 2000.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
ALVES, Rubem. Filosofia da ciência: introdução ao jogo e suas regras. São Paulo: ED. Brasiliense,
1986.
ANDERY, Maria Amalia P. A. Para compreender a ciência: uma perspectiva histórica. Rio de Janeiro:
Garamond, 2007.
ARANHA, Maria Lúcia de Arruda. Filosofia da Educação. São Paulo: Moderna, 2006.
ARAÚJO, Inês Lacerda. Introdução à filosofia da ciência. 2ed. Curitiba: Ed. Da UFPRA, 1998.
BARROS, A. J. S.; LEHFELD, N. A. S. Fundamentos da metodologia científica. São Paulo: Prentice
Hall, 2007.
CHAUI, Marilena. Convite à Filosofia. São Paulo: Atica, 2000.
CHAUI, Marilena. Introdução à história da filosofia. 1. v. São Paulo: Companhia das Letras, 2002.
COTRIM. Gilberto. Fundamentos da filosofia: história e grandes temas. 15. ed. São Paulo Saraiva,
2002.
GALLIANO, A. G. (org). O método científico: teoria e prática. São Paulo: Harper e Row, 1979.
JAPIASSÚ, Hilton; MARCONDES, Danilo. Dicionário básico de filosofia. 5. edição. Rio de Janeiro:
Jorge Zahar, 2008.
KERFERD, G. B. O movimento sofista. Tradução de Margarida Oliva. São Paulo: Loyola, 2003.
LALANDE, A. Vocabulário técnico e crítico da filosofia. Tradução Fátima S. Correia, M. Emília V.
Aguiar, J. Eduardo Torres e M. Gorete de Souza. 3. edição. São Paulo: Martins Fontes, 1999.
MARCONDES, Danilo. Iniciação à história da filosofia. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 2002.
SANTOS, Boaventura de Sousa. Um discurso sobre as ciências. 13. ed. Porto : Afrontamento, 2002.
capítulo 1 • 27
28 • capítulo 1
2
A Ciência: da
Antiguidade à
Revolução Científica
pós Idade Média
Nesse capítulo discutiremos as principais questões da ciência na Antiguida-
de mediante os questionamentos levantados pelos filósofos da época. Depois
passaremos para o período da Idade Media, destacando as mudanças e os
conflitos daquele período que suscitaram a transição do modelo feudal para o
capitalismo, por exemplo, e os fatores que desencadearam a Revolução cien-
tífica nos séculos XVI e XVII.
OBJETIVOS
• Conhecer o pensamento filosófico - científico na Grécia Antiga;
• Compreender o desenvolvimento da ciência na Idade Média e transição do feudalismo para
o capitalismo;
• Identificar os fatores que possibilitaram a Revolução Científica nos séculos XVI e XVII.
30 • capítulo 2
2.1 Filosofia e Ciência na Antiguidade
Sobre o surgimento da ciência, sabemos que os filósofos da antiguidade foram
os primeiros a se interessarem pelo propósito da ciência, ou melhor, pela natu-
reza do conhecimento científico e o que determina sua verdade ou erro.
Entre as condições que favoreceram o surgimento do pensamento filosófi-
co-científico na Grécia Antiga, Chaui (2002) destaca, sobretudo, o aspecto da
filosofia como uma visão ordenada do mundo. Os gregos instituíram a política
e passaram a organizar as cidades a partir de leis e instituições públicas, cujas
decisões eram tomadas por meio de debates, votos em assembleias que preser-
vavam a ideia de justiça, de coletividade e de cidadão. Esse momento é marcado
na história do pensamento como sendo a passagem do pensamento mítico-re-
ligioso para um pensamento que se estrutura a partir da razão.
O pensamento filosófico foi despertado pela busca de uma explicação racio-
nal dos fenômenos naturais: a relação entre physis (natureza), arqué (elemento
primordial), kosmos (ordem da natureza) e logos (pensamento). Os primeiros
filósofos que se empenharam nessa busca foram os pré-socráticos, que viam na
natureza a explicação da realidade.
Os historiadores da filosofia grega costumam distinguir quatro grandes
tendências ou escolas no período pré-socrático:
capítulo 2 • 31
Apresentaremos a seguir um quadro geral dos filósofos pré-socráticos – os
estudiosos da natureza – e de suas principais ideias, procurando destacar a im-
portância desse movimento para o desenvolvimento da filosofia antiga.
32 • capítulo 2
PRÉ-SOCRÁTICO PRINCIPAL TESE
DEMÓCRITO DE ABDERA
(490-430 A.C.) Afirmou que a realidade consiste no ser imóvel,
imutável, uno, indivisível e pleno.
PARMÊNIDES
(570-470 A.C.)
CONEXÃO
Para saber mais sobre as oposições entre os pré-socráticos, leia:
MARCONDES, Danilo. Iniciação à história da filosofia. Rio de Janeiro: Jorge Zahar,
2002. p. 38.
capítulo 2 • 33
E para saber mais sobre as proposições dos principais pré-socráticos, leia o item “Herá-
clito, Parmênides e Demócrito” do capítulo 4 do livro: CHAUI, Marilena. Convite à Filosofia.
São Paulo: Atica, 2000.
[...] não era o fato de cobrarem honorários, mas por venderem instrução em sabedoria
e virtude. Essas não eram da espécie de coisas a ser vendidas por dinheiro; amizade e
gratidão deveriam ser recompensa suficiente. O que realmente incomodava nos sofis-
tas, sob esse aspecto, é que eles vendiam sabedoria a todos os que se apresentassem,
sem discriminação, e por cobrarem honorários, destituíam-se do direito de escolher
seus alunos. (KERFERD, 2003, p. 46)
34 • capítulo 2
Desde o final do século XIX, segundo observa Chaui (2002), os historiadores
da filosofia antiga passaram a considerar os sofistas os fundadores da pedago-
gia democrática, mestres da arte da educação do cidadão. A natureza e a finali-
dade da educação, o papel do professor na sociedade, o que e como ensinar já
eram problemas formulados e discutidos pelos sofistas, cuja reflexão incluía
discussões sobre a teoria do conhecimento e da percepção e sobre a natureza
da verdade, criando uma sociologia do conhecimento dirigida a problemas teó-
ricos e práticos da vida em sociedade. Entre os principais sofistas encontramos:
Hípias, Pródico, Eutidemo, Protágoras e Górgias.
O movimento sofista surgiu no momento de transição da tirania e da oli-
garquia para a democracia, forma de governo que evocava a igualdade de leis
para todos e a extinção dos privilégios aristocráticos. Mestres da oratória, os
sofistas ensinavam a arte de argumentar e persuadir pelo discurso, ou seja, téc-
nicas para argumentar e tornar efetivo um discurso diante de opiniões contra-
ditórias, habilidades necessárias para a participação na vida política. Também
investigavam temas relativos à ação do homem em sociedade (moral e ética),
ensinando o caminho da areté, palavra que, na filosofia antiga, indica um con-
junto de valores (físicos, morais, éticos, políticos) que expressa um ideal de ex-
celência e de valor humano para os membros da sociedade.
capítulo 2 • 35
Kerferd (2003, p. 10) também retrata alguns problemas formulados e discu-
tidos pelos sofistas no seu ensino:
36 • capítulo 2
O pensamento de Sócrates (469-399 a.C.) marca o nascimento da filosofia
clássica, desenvolvida por Platão e Aristóteles. Tudo que sabemos a seu respei-
to foi divulgado por Platão, seu principal discípulo, especialmente a partir dos
diálogos socráticos, nos quais Sócrates é o personagem central e defensor de
suas próprias ideias.
Para Sócrates, os homens precisavam reconhecer que tinham conheci-
mentos errôneos, inclusive de si mesmos. Acreditava que essa era uma tarefa
difícil, mas fundamental. Mostrar-lhes tal ignorância também era sua tarefa.
A partir desse passo, o conhecimento de si (e daquilo que importava os uni-
versais) era possível e indispensável porque os homens, possuidores de uma
alma indissociável de seu corpo, aspiravam ao Bem, e só não eram capazes de
conhecê-lo e praticá-lo por causa de sua ignorância. O homem-suas virtudes,
seu comportamento e seu conhecimento- era o centro, portanto, das preocu-
pações de Sócrates. (ANDERY; MICHILETTO, 2007, p. 61-62)
Sócrates contraria a visão dos sofistas por defender a necessidade do “co-
nhecimento de uma verdade única sobre a natureza das coisas, afastando-se
das opiniões e buscando a definição das coisas” (MARCONDES, 2002, p.49).
Mais especificamente, a crítica de Sócrates aos sofistas consiste em mostrar
que o ensinamento sofístico limita-se a uma mera técnica ou habilidade argu-
mentativa que visa convencer o oponente daquilo que diz, mas que não leva ao
verdadeiro conhecimento.
A consequência disso era que, devido à influência dos sofistas, as decisões polí-
ticas na Assembleia estavam sendo tomadas não com base em um saber, ou na
posição dos mais sábios, mas na dos mais hábeis em retórica, que poderiam não ser
os mais sábios ou virtuosos. Os sofistas não ensinavam portanto o caminho para o
conhecimento, para a verdade única que resultaria desse conhecimento, mas para
a obtenção de uma verdade consensual, resultado da persuasão. É essa oposição
que marca, segundo Sócrates, a diferença entre a filosofia e a sofistica, e que
permite com que Platão e Aristóteles considerem os sofistas como não-filósofos”.
(MARCONDES, 2002, p. 48)
capítulo 2 • 37
O quadro a seguir mostra as principais características dos ensinamentos
dos sofistas e de Sócrates:
[...] é dada pelo fato de que os sofistas aceitam a validade das opiniões e das percep-
ções sensoriais e trabalham com elas para produzir argumentos de persuasão, enquan-
to Sócrates e Platão consideram as opiniões e as percepções sensoriais, ou imagens
das coisas, como fonte de erro, mentira e falsidade, formas imperfeitas do conhecimen-
to que nunca alcançam a verdade plena da realidade.
38 • capítulo 2
Platão, discípulo de Sócrates, foi um filósofo do período clássico da
Grécia Antiga e fundador da Academia em Atenas. Juntamente com Sócrates
e Aristóteles, construiu as bases da Filosofia Ocidental, procurando en-
frentar temas no campo da ética, da política, da metafisica e da teoria do
conhecimento.
A teoria platônica sobre a natureza dos conceitos envolve, ao mesmo tem-
po, o “abandono” do mundo sensível e a busca do mundo das ideias: Platão
supôs que temos um conhecimento prévio que a alma traz consigo desde o
seu nascimento e que resulta da contemplação das formas, as essências das
coisas, às quais contemplou no mundo das ideias antes de encarnar no corpo
material. No mundo sensível, a alma tem uma visão obscurecida das formas,
e o papel do filósofo é fazer despertar esse conhecimento esquecido. É impor-
tante observar que, em Platão, a tarefa da filosofia é essencialmente teórica,
contemplativa e dirigida para uma realidade abstrata e ideal.
No mundo sensível, o homem conheceria as imagens emanadas os obje-
tos pelas sombras, pelos reflexos na água e pela suferfície, nessa ordem, gra-
ças a sua capacidade visual e ao sol que incide sobre eles, permitindo que
sejam representados. O segundo nível do conhecimento, no mundo sensível,
estaria relacionado aos objetos que circundam o homem, sendo percebidos
por ele à medida que se apresentam aos sentidos e podendo ser representa-
dos na forma de crenças, isto é, pela confiança depositada nas sensações e
na percepção. “No mundo inteligível, os osbjetos do conhecimento científico
seriam de outra natureza. Eles não seriam vistos pelos olhos nem percebidos
pelos sentidos, mas seriam apreendidos pelo pensamento como coisas em
si mesmas, independentes das sensaçoes e percepções humanas” (PAGNI;
SILVA, 2007, p. 48).
A teoria de dois mundos é defendia por Platão no texto que ficou conhecido como mito
da caverna. Vejamos agora a explicação de Chaui (2000, p. 47-48) sobre a teoria da
caverna de Platão:
Imaginemos uma caverna subterrânea onde, desde a infância, geração após geração,
seres humanos estão aprisionados. Suas pernas e seus pescoços estão algemados
de tal modo que são forçados a permanecer sempre no mesmo lugar e a olhar apenas
para frente, não podendo girar a cabeça nem para trás nem para os lados. A entrada
capítulo 2 • 39
da caverna permite que alguma luz exterior ali penetre, de modo que se possa, na se-
mi-obscuridade, enxergar o que se passa no interior. A luz que ali entra provém de uma
imensa e alta fogueira externa. Entre ela e os prisioneiros - no exterior, portanto - há
um caminho ascendente ao longo do qual foi erguida uma mureta, como se fosse a
parte fronteira de um palco de marionetes. Ao longo dessa mureta-palco, homens
transportam estatuetas de todo tipo, com figuras de seres humanos, animais e todas
as coisas. Por causa da luz da fogueira e da posição ocupada por ela, os prisioneiros
enxergam na parede do fundo da caverna as sombras das estatuetas transportadas,
mas sem poderem ver as próprias estatuetas, nem os homens que as transportam.
Como jamais viram outra coisa, os prisioneiros imaginam que as sombras vistas são
as próprias coisas. Ou seja, não podem saber que são sombras, nem podem saber que
são imagens (estatuetas de coisas), nem que há outros seres humanos reais fora da
caverna. Também não podem saber que enxergam porque há a fogueira e a luz no
exterior e imaginam que toda luminosidade possível é a que reina na caverna.
1 Metafísica é definida como a “filosofia primeira”, que examina os princípios e as causas primeiras das coisas
(JAPIASSÚ; MARCONDES, 2008, p. 185).
40 • capítulo 2
O esquema abaixo representa o processo de conhecimento segundo
Aristóteles:
De acordo com Berti (2002, p.4), sãos duas as características da ciência que
resultam da definição aristotélica: 1) o conhecimento da causa, que deve ser
entendida como a explicação de um fato, de um comportamento ou de uma
propriedade (para Aristóteles há quatro tipos de causa-material, formal, moto-
ra e final-, todas suscetíveis de ser objeto de ciência); 2) a necessidade de suas
conclusões, isto é, a impossibilidade de que, quando se tem ciência de um certo
estado de coisas, as coisas sejam diversamente de como se sabe que são. Na
visão de Aristóteles, “ter ciência, isto é, saber, significa, em suma, conhecer não
somente o ‘quê’, mas também o ‘porquê’ de certo estado de coisas, e saber que
não é um simples estado de fato, mas uma verdadeira necessidade”.
capítulo 2 • 41
iniciou a partir do Ano Mil e ficou conhecido pelo “despertar das cidades e do
comércio, das ciências e das artes, pelas lutas sociais e religiosas, pela consti-
tuição de Estados nacionais e etc” (CAMBI, 1999, p.149). Especialmente na
Baixa Idade Média, ocorre o nascimento da burguesia, implicando uma “re-
volução” cultural e econômica que despertou o fortalecimento da nova clas-
se social “fortemente individualista e autônoma, atenta à produção de bens e
ao incremento da riqueza que é reinvestida-capitalisticamente- na produção”
(CAMBI, 1999, p.151).
No sistema feudalista, a terra é “governada por um senhor que age dentro
dele como fonte de direito, que se empenha na sua defesa militar, que impõe
aos habitantes do feudo a obrigação à fidelidade e à submissão, em troca de
proteção”. A economia do feudo é, em geral, “de subsistência, produzindo e
consumindo as mercadorias de que tem necessidade, reduzindo ao mínimo o
intercâmbio e apresentando-se predominantemente agrícola” (CAMBI, 1999,
p. 155). O nascimento do feudalismo resultou assim de um processo de “despo-
voamento das idades e o deslocamento do centro as vida social para o campo”
Com o renascimento urbano do século XI, as condições da sociedade feudal
passam por algumas mudanças, como a intensificação do comércio, o cresci-
mento das cidades e da população. Um ponto chave dessa transformação ocor-
re justamente com a mudança do valor de uso para o chamado valor de troca,
resultando sobretudo no desenvolvimento do comércio e a divisão entre pro-
dutores-mercadores. Tal revolução econômica, “acaba com o modelo feudal”-
ligado a um sistema econômico fechado, baseado na agricultura, desencadean-
do “uma economia de intercâmbio, baseada na mercadoria e no dinheiro, na
capitalização, no investimento, na produtividade”. Esse modelo, no entanto,
implicava
42 • capítulo 2
A formação e a consolidação da classe burguesa promoveu “o novo processo
econômico (capitalista)”, delineando uma “nova concepção do mundo (laica e
racionalista) e novas relações de poder (opondo-se à aristocracia feudal e alian-
do-se à coroa, depois entrando em conflito aberto com seu modelo de Estado-
patrimonial e de exercício absoluto do poder)” (CAMBI, 1999, p.197).
O processo de transição do sistema feudal para o sistema capitalista (séc.
XV ao XVII), ocorreu mediante diversos conflitos e mudanças, como a forma-
ção dos Estados Nacionais unificados pelo regime da monarquia absolutista; o
desenvolvimento das grandes navegações e a implantação do sistema colonial
e escravocrata nas colônias portuguesas e espanholas e etc.
É nos séculos XVI e XVII que ocorre a chamada Revolução científica, que tornou
“mais importante salvar os fenômenos” mediante a “observação, a experimen-
tação e a verificação de hipóteses” (MARCONDES, 2002, p. 150). No entanto,
dois movimentos nesse mesmo período influenciaram decisivamente a manei-
ra do homem em se posicionar em relação ao conhecimento: o Renascimento
e a Reforma Protestante.
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capítulo 2 • 43
O período do humanismo inicia-se no século XV com a ideia “renascentista
da dignidade do homem como centro do Universo”, prosseguindo nos séculos
XVI e XVII com o “estudo do homem como agente moral, político e técnico-ar-
tístico, destinado a dominar e controlar a Natureza e a sociedade, chegando ao
século XVIII, quando surge a ideia de civilização, isto é, do homem como razão
que se aperfeiçoa e progride temporalmente através das instituições sociais e
políticas e do desenvolvimento das artes, das técnicas e dos ofícios” (CHAUI,
2000, p. 347).
O humanismo renascentista foi um movimento que valorizava as artes plás-
ticas com base numa retomada do ideal clássico greco-romano, em oposição à
escolástica medieval. Entre as principais características desse movimento te-
mos a valorização do homem como um indivíduo e sua livre iniciativa e criativi-
dade. “O humanismo não separa homem e Natureza, mas considera o homem
um ser natural diferente dos demais, manifestando essa diferença como ser
racional e livre, agente ético, político, técnico e artístico” (CHAUI, 2000, p. 347).
O séc. XVI é marcado pela Reforma Protestante, movimento que criticava
a autoridade da Igreja sob a justificativa de todos homens seriam capazes in-
terpretarem as Escrituras Sagradas. Liderada por Martinho Lutero (1483-1546),
teólogo e reformador alemão, a Reforma foi um movimento que contestou a au-
toridade exercida pela Igreja Católica desde os últimos séculos da Idade Média.
Contra a autoridade da Igreja, Lutero foi um defensor da ideia de que qualquer
indivíduo, mediante sua fé, era capaz de compreender as mensagens dos textos
bíblicos, não necessitando da intermediação da Igreja. Para os reformadores, a
verdadeira cristandade advinha unicamente da fé nas Escrituras.
44 • capítulo 2
religiosas) e contestar a autoridade institucional e o saber tradicional, posições
que se generalizarão além do campo religioso e serão fundamentais no desen-
volvimento do pensamento moderno” (MARCONDES, 2002, p. 148).
A Revolução Científica tornou o conhecimento mais estruturado e mais prá-
tico, absorvendo o empirismo como mecanismo para se consolidar as consta-
tações. Esse período marcou uma ruptura com as práticas ditas científicas da
Idade Média, fase em que a Igreja Católica ditava o conhecimento de acordo
com os preceitos religiosos.
2 Heliocêntrico: modelo de cosmo em que o Sol é o centro (sistema heliocêntrico) e a Terra apenas mais um astro
girando em torno do Sol” (MARCONDES, 2002, p 149).
capítulo 2 • 45
De acordo com Chaui (2000, p. 95-96), a revolução copernicana demonstrou
que o sistema geocêntrico era falso e que:
1. O mundo não é finito, mas é um Universo infinito;
2. Os astros não estão presos em esferas, mas fazem um movimento
(como demonstrará Kepler, depois de Copérnico), cuja forma é a de uma elipse;
3. O centro do Universo não é a Terra;
4. O Sol (como já fora demonstrado por outros astrônomos) não é um pla-
neta, mas uma estrela, e a Terra, como os outros planetas, gira ao redor dele;
5. O próprio Sol também se move, mas não em volta da Terra.
46 • capítulo 2
ATIVIDADES
01. O que desencadeou o processo de transição do sistema feudal para o capitalismo no
decorrer da Idade média?
02. Por que a descoberta de Copérnico sobre o movimento da Terra é vista como um marco
na Revolução Científica?
REFLEXÃO
Nessa aula analisamos o nascimento da ciência na Grécia Antiga e sua relação com os
filósofos da época. Também analisamos o desenvolvimento da Ciência na Idade Média e
no período de transição do feudalismo para o capitalismo e analisamos alguns fatores que
possibilitaram o nascimento da ciência moderna.
LEITURA
Para saber mais sobre as principais formulações filosóficas na Idade média, leia:
RUBANO, Denize. MOROZ, Melania. A fé como limite da razão: Europa Medieval. IN: In:
ANDERY, Maria Amália. Para compreender a Ciência: uma perspectiva histórica. Rio de Ja-
neiro: Garamond, 2007, p. 61-62.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
ANDERY, Maria Amália; MICHELETTO, Nilza; SÈRIO, Tereza Maria P. O mundo tem uma
racionalidade, o conhecimento depende dele. In: ANDERY, Maria Amália. Para compreender a
Ciência: uma perspectiva histórica. Rio de Janeiro: Garamond, 2007.
BERTI, Enrico. As razões de Aristóteles. Tradução Dion Davi Macedo. São Paulo: Edições Loyola, 2002.
CAMBI, Franco. História da Pedagogia. Trad. Álvaro Lorencini. São Paulo: Fundação Editora da
UNESP (FEU), 1999.
CHAUI, Marilena. Convite à filosofia. São Paulo: Ática, 2000.
CHAUI, Marilena. Introdução à história da filosofia. 1. v. São Paulo: Companhia das Letras, 2002.
JAPIASSÚ, Hilton; MARCONDES, Danilo. Dicionário básico de filosofia. 5. edição. Rio de Janeiro:
Jorge Zahar, 2008.
capítulo 2 • 47
KERFERD, G. B. O movimento sofista. Tradução de Margarida Oliva. São Paulo: Loyola, 2003.
MARCONDES, Danilo. Iniciação à história da filosofia. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 2002.
PAGNI, Pedro Angelo; SILVA, Divino José. O desejo de sabedoria e a paideia justa em Platão.
In: PAGNI, Pedro Angelo; SILVA, Divino José (Org.). Introdução à filosofia da educação: temas
contemporâneos e história. São Paulo: Avercamp, 2007.
48 • capítulo 2
3
O Desenvolvimento
da Ciência Moderna
Neste capítulo, aprofundaremos nossa análise sobre o nascimento e o desen-
volvimento da ciência moderna, destacando seus principais expoentes e re-
presentantes de diferentes vertentes epistemológicas.
OBJETIVOS
• Conhecer o nascimento da ciência moderna (séc. XVII), destacando as contribuições de
Nicolau Copérnico e Galileu Galilei para o desenvolvimento da Ciência Moderna;
• Conhecer o desenvolvimento do conhecimento científico (séc. XVII ao séc. XX), diferen-
ciando o racionalismo cartesiano do empirismo inglês;
• Entender o movimento do iluminismo e a contribuição de Imannuel Kant no século XVIII e
filosofia da ciência de Popper no século XX.
50 • capítulo 3
3.1 O desenvolvimento da Ciência moderna
A história da ciência é resultado de uma série de fatores históricos e sociais,
assim como de rupturas epistemológicas decorrentes das necessidades identi-
ficadas pelo sujeito do conhecimento acerca do objeto a ser conhecido. Entre
esses fatores destaca-se a recuperação de “textos matemáticos da Grécia Anti-
ga por eruditos humanistas que forneceram novos meios para a formulação de
exigências quanto à unidade da matemática, sua utilidade e sua certeza como
meio de estabelecer a verdade” (HENRY, 1998, p. 23).
Outros fatores contribuíram para a formação do pensamento moderno,
como a descoberta do Novo Mundo (1492), o desenvolvimento do mercantilis-
mo como novo modelo econômico que supera progressivamente a economia
feudal, e o surgimento e a consolidação dos Estados nacionais (Espanha e
Portugal, Países Baixos, Inglaterra e França), que substituem o modelo político
do feudalismo (MARCONDES, 2002). A revolução científica gerou um conjunto
de discussões no campo da filosofia e da ciência em torno da validade e con-
quista do conhecimento. As seguintes questões expressam o ideal da filosofia
moderna em todo seu período (séc. XVII-séc. XIX):
capítulo 3 • 51
Antes de aprofundarmos nossa análise sobre o desenvolvimento da ciên-
cia moderna, é necessário compreender que, no decorrer de seu desenvolvi-
mento, três concepções de ciência ou de ideais de cientificidade estiveram
presentes: “o racionalista, cujo modelo de objetividade é a matemática; o
empirista, que toma o modelo de objetividade da medicina grega e da his-
tória natural do século XVII; e o construtivista, cujo modelo de objetividade
advém da ideia de razão como conhecimento aproximativo” (CHAUI, 2000,
p. 321).
De acordo com Chaui, (2000, p. 321), a concepção racionalista – que se
inicia com os regos e segure até o final do século XVII, considera a ciência
um “conhecimento racional dedutivo e demonstrativo como a matemática”,
sendo capaz de “provar a verdade necessária e universal de seus enunciados
e resultados, sem deixar qualquer dúvida possível”. Nessa perspectiva, o ob-
jeto científico é uma “representação intelectual universal, necessária e ver-
dadeira das coisas representadas e corresponde à própria realidade, porque
esta é racional e inteligível em si mesma”, de modo que as experiências cien-
tíficas são realizadas com a finalidade de “verificar e confirmar as demons-
trações teóricas e não para produzir o conhecimento do objeto, pois este é
conhecido exclusivamente pelo pensamento”.
A concepção empirista compreende a ciência como uma “interpretação
dos fatos baseada em observações e experimentos que permitem estabelecer
induções e que, ao serem completadas, oferecem a definição do objeto, suas
propriedades e suas leis de funcionamento”. Diferentemente do racionalis-
mo, aqui a “teoria científica resulta das observações e dos experimentos, de
modo que a experiência não tem simplesmente o papel de verificar e confir-
mar conceitos, mas tem a função de produzi-los” (CHAUI, 2000, p. 321).
A concepção construtivista, por sua vez, considera a ciência uma “cons-
trução de modelos explicativos para a realidade e não uma representação da
própria realidade”, de modo que o “cientista combina dois procedimentos –
um, vindo do racionalismo, e outro, vindo do empirismo – e a eles acrescenta
um terceiro, vindo da ideia de conhecimento aproximativo e corrigível”. São
três as exigências de seu ideal de cientificidade (CHAUI, 2000, p. 321):
52 • capítulo 3
1. que haja coerência (isto é, que não haja contradições) entre os princípios que orien-
tam a teoria;
2. que os modelos dos objetos (ou estruturas dos fenômenos) sejam construídos com
base na observação e na experimentação;
3. que os resultados obtidos possam não só alterar os modelos construídos, mas tam-
bém alterar os próprios princípios da teoria, corrigindo-a.
Para Marcondes (2002, p. 149), a revolução científica moderna tem seu pon-
to de partida na obra de Nicolau Copérnico, Sobre a revolução dos orbes celestes
(1543), “em que este defende matematicamente (através de cálculos dos movi-
mentos dos corpos celestes) um modelo de cosmo em que o Sol é o centro (sis-
tema heliocêntrico) e a Terra apenas mais um astro girando em torno do Sol” .
capítulo 3 • 53
movimento da Terra possa parecer à filosofia natural, Copérnico insistiu, ele
deve ser verdadeiro ‘porque a matemática o exige’. Isso foi revolucionário”
(HENRY, 1998, p. 23).
Os avanços e progressos e na física e na astronomia tiveram a colaboração
dos estudos de Kepler, que, em Astronomia nova, “revelou que os planetas se-
guiam trajetórias elípticas em torno do Sol e que a velocidade do planeta varia-
va continuamente, aumentando à medida que ele se aproximava do Sol, dimi-
nuindo quando se afastava” (HENRY, 1998, p. 25)
Kepler elaborou três famosas leis das órbitas planetárias: Estabelecia “que a órbitas
são elípticas (não circulares, como se considerava mais perfeito), que a linha reta que
une os planetas ao Sol varre áreas iguais em intervalos de tempo iguais, e que os qua-
drados dos tempos de translação dos planetas são proporcionais aos cubos de suas
distancias ao Sol. Kepler afirmado modo mais enfático o matematismo na ciência: ‘O
homem não pode conhecer perfeitamente nada além de magnitudes ou por meio de
magnitudes’”. (MARÍAS, 2004, p. 218
54 • capítulo 3
Em seus escritos, Galileu ensina repetidamente por meio de exemplos,
“mostrando como a prática matemática pode nos ajudar a compreender a na-
tureza do mundo, mesmo naqueles casos em que a adequação entre a análi-
se matemática e a realidade física é apenas aproximada, sendo a matemática
baseada numa circunstância idealizada, irrealizável” (HENRY, 1998, p. 31).
Nos séculos XVI e XVII, uma série de instrumentos matemáticos foi colocado em uso
para facilitar a resolução dos problemas em todos os ramos da matemática. Mas outros
instrumentos foram desenvolvidos nesse período e destinados a descobrir novas ver-
dades sobre a natureza , como telescópio, microscópio, barômetro, termômetro e etc.
Entre os fundadores da chamada nova ciência da natureza, os historiadores destacam:
Nicolau Copérnico, Johannes Kepler, Galileu Galilei, Isaac Newton.
HENRY, John. A revolução científica e as origens da ciência moderna.
Trad. Maria Luiza A Borges. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 1998.
capítulo 3 • 55
Todo corpo continua em seu estado de repouso ou de movi-
1ª LEI DE mento uniforme em uma linha reta, ao menos que seja força-
NEWTON do a mudar aquele estado por forças submetidas sobre ele;
56 • capítulo 3
do mundo como um problema, na medida em que, antes de tudo, investigaram
a respeito da origem do conhecimento (qual é a fonte do conhecimento?) bem
como sobre o critério de verdade (o que permite reconhecer o verdadeiro?)”
(ARANHA, 2006, p. 160).
Nesse cenário, duas grandes tendências marcam o campo da filosofia e da
ciência moderna: o racionalismo e o empirismo.
A filosofia racionalista surgiu no século XVII defendendo o papel da razão
humana no processo de conhecimento, apresentando-a como “como funda-
mento de todo conhecimento possível” (JAPIASSÚ; MARCONDES, 2008, p. 233).
Em suma, a tese central defendida pelos racionalistas é a de que podemos alcan-
çar o conhecimento sobre o real por meio da mente. A “fonte do conhecimento
verdadeiro é a razão operando por si mesma, sem o auxílio da experiência sensí-
vel e controlando a própria experiência sensível” (CHAUI, 2000, p. 146).
Um dos principais representantes dessa corrente de pensamento é René
Descartes (1596-1650). Depois de ter vivenciado as controvérsias sobre a pos-
sibilidade do conhecimento tão presentes no período renascentista, princi-
palmente em decorrência da Reforma protestante e das revoluções científicas,
Descartes objetivou encontrar um método seguro para conhecer a realidade
que fosse capaz de demonstrar de forma conclusiva a capacidade humana de
conhecer o real de modo verdadeiro e definitivo. As obras publicadas pelo filó-
sofo abrangem dois temas centrais do racionalismo: a proposta metodológica
do uso correto da razão para se chegar à verdade e a valorização da noção de
sujeito do conhecimento.
Descartes afirma que todos os nossos conhecimentos só podem ser aceitos
se forem provados racionalmente. Para isso, “submete todos os conhecimentos
existentes em sua época e os seus próprios a um exame crítico conhecido como
dúvida metódica, declarando que só aceitará um conhecimento, uma ideia, um
fato ou uma opinião se, passados pelo crivo da dúvida, revelarem-se indubitáveis
para o pensamento puro”. Nesse processo de colocar tudo em dúvida, Descartes
conclui que “até o momento, há uma única verdade indubitável” se encontra na
expressão “Penso, logo existo”, pois, “se eu duvidar de que estou pensando, ain-
da estou pensando, visto que duvidar é uma maneira de pensar. A consciência
do pensamento aparece, assim, como a primeira verdade indubitável que será o
alicerce para todos os conhecimentos futuros” (CHAUI, 2000, p. 115).
Descartes também contribuiu para o desenvolvimento do pensamento
científico moderno a partir da elaboração das regras do método de investigação
capítulo 3 • 57
crítica. De acordo com o filósofo, em toda investigação não podemos conside-
rar nada como verdadeiro precipitadamente, a não ser as coisas que se apre-
sentam indubitáveis. Devemos buscar resolver os problemas mediante a orde-
nação do pensamento, começando nossa análise pelos objetos mais simples e
mais fáceis de conhecer até o conhecimento mais complexo.
As regras do método propostas por Descartes são as seguintes
(MARCONDES, 2002):
A grande novidade introduzida por Descartes foi iniciar sua filosofia pela teoria do co-
nhecimento, na busca de uma verdade primeira que não pudesse ser posta em dúvida.
Converte então a dúvida em método e começa duvidando de tudo, das afirmações do
senso comum, dos argumentos de autoridade, do testemunho dos sentidos, das ver-
dades deduzidas pelo raciocínio, da realidade do mundo exterior e até de seu próprio
corpo. Chega então a uma verdade indubitável, uma intuição primeira, a qual seja exis-
tência de um ser que duvida e que, se duvida, pensa: ‘penso, logo existo’”. (ARANHA,
2006, p. 160-161)
58 • capítulo 3
Nessa busca por fundamentos seguros e indubitáveis, Descartes afirma a
existência de ideias inatas, ou seja, aquelas que já nascem com o sujeito. “O
inatismo1 afirma que nascemos trazendo em nossa inteligência não só os prin-
cípios racionais, mas também algumas ideias verdadeiras, que, por isso, são
ideias inatas”(CHAUI, 2000, p. 85). A tese central dos inatistas é a seguinte: “se
não possuirmos em nosso espírito a razão e a verdade, nunca teremos como
saber se um conhecimento é verdadeiro ou falso, isto é, nunca saberemos se
uma ideia corresponde ou não à realidade a que ela se refere. Não teremos um
critério seguro para avaliar nossos conhecimentos” (CHAUI, 2000, p. 88).
Enquanto o racionalismo privilegiava a razão como principal instrumento
do conhecimento, o empirismo – outra forte corrente filosófica da modernida-
de – considerou a experiência o fundamento de todo o conhecimento. Nessa
vertente filosófica, todo conhecimento advém da experiência, e não de especu-
lações metafísicas. Contrariamente aos defensores do inatismo, os defensores
do empirismo afirmam que a razão, a verdade e as ideias racionais são “adqui-
ridos por nós através da experiência”. Antes da experiência, dizem eles, nossa
razão é como uma “folha em branco”, onde nada foi escrito; uma “tábula rasa”,
onde nada foi gravado. “Somos como uma cera sem forma e sem nada impresso
nela, até que a experiência venha escrever na folha, gravar na tábula, dar forma
à cera” (CHAUI, 2000, p. 88).
Nossos conhecimentos começam com a experiência dos sentidos, isto é, com as sen-
sações. Os objetos exteriores excitam nossos órgãos dos sentidos e vemos cores, sen-
timos sabores e odores, ouvimos sons, sentimos a diferença entre o áspero e o liso,
o quente e o frio, etc. As sensações se reúnem e formam uma percepção; ou seja,
percebemos uma única coisa ou um único objeto que nos chegou por meio de várias e
diferentes sensações. Assim, vejo uma cor vermelha e uma forma arredondada, aspiro
um perfume adocicado, sinto a maciez e digo: “Percebo uma rosa”. A “rosa” é o resul-
tado da reunião de várias sensações diferentes num único objeto de percepção. As
percepções, por sua vez, se combinam ou se associam. A associação pode dar-se por
três motivos: por semelhança, por proximidade ou contiguidade espacial e por suces-
são temporal. A causa da associação das percepções é a repetição. Ou seja, de tanto
algumas sensações se repetirem por semelhança, ou de tanto se repetirem no mesmo
1 Inatismo: “Concepção segundo a qual certas ideias, princípios ou estruturas do pensamento são inatas em virtude
de pertencerem à natureza humana- isto é, à mente ou ao espírito- sendo, portanto, nesse sentido, universais”
(JAPIASSÚ; MARCONDES, 2008, p. 145).
capítulo 3 • 59
espaço ou próximas umas das outras, ou, enfim, de tanto se repetirem sucessivamente
no tempo, criamos o hábito de associá-las. Essas associações são as ideias. As ideias,
trazidas pela experiência, isto é, pela sensação, pela percepção e pelo hábito, são leva-
das à memória e, de lá, a razão as apanha para formar os pensamentos.
CHAUI, Marilena. Convite à filosofia. São Paulo: Ática, 2000, p.88.
2 Também são representantes dessa vertente: Thomas Hobbes, John Locke, David Hume.
60 • capítulo 3
São as opiniões que se formam em nós como consequên-
ÍDOLOS DO cia da linguagem e de nossas relações com os outros. São
FÓRUM difíceis de vencer, mas o intelecto tem poder sobre eles;
capítulo 3 • 61
almejavam o desenvolvimento do conhecimento crítico em todos os campos do
saber humano, principalmente para a melhoria do estado e da sociedade. Des-
sa formam acreditavam na superação da tirania e das superstições decorrentes
da Idade Média.
O pressuposto básico do iluminismo afirma, portanto, que todos os ho-
mens são dotados de uma espécie de luz natural, de uma racionalidade, uma
capacidade natural de aprender, capaz de permitir que conheçam o real e ajam
livre e adequadamente para a realização de seus fins. A tarefa da filosofia, da ci-
ência e da educação é permitir que essa luz natural possa ser posta em prática,
removendo os obstáculos que a impedem e promovendo o seu desenvolvimen-
to. O Iluminismo possui assim um caráter pedagógico enquanto projeto de for-
mação do indivíduo, podendo ser visto também como herdeiro do humanismo
iniciado no Renascimento. (MARCONDES, 2002, p. 202).
Immanuel Kant (1724-1804) é um dos principais representantes do
Iluminismo e autor de uma filosofia que caracterizou como racionalismo crí-
tico, a fim de superar a dicotomia entre racionalismo e empirismo. De acordo
com Marcondes (2002, p. 207), quatro questões são fundamentais no raciona-
lismo crítico de Kant:
62 • capítulo 3
filósofo apresenta um modelo de investigação que se fundamenta no exame
crítico das possibilidades da experiência humana em conhecer a realidade.
Investiga as “condições de possibilidade de conhecimento, ou seja, o modo
pelo qual, na experiência de conhecimento, sujeito e objeto se relacionam e
em que condições esta relação pode ser considerada legítima. ‘Sujeito’ e ‘ob-
jeto’ são, portanto, para Kant, termos relacionais, que só podem ser conside-
rados como parte da relação de conhecimento, e não autonomamente. Só há
objeto para o sujeito, só há sujeito se este se dirige ao objeto, visa apreendê-lo”
(MARCONDES, 2002, p. 209).
Em discussão com os inatistas e os empiristas, Kant negou que estivessem
certos; negou que “pudéssemos conhecer a realidade em si das coisas, negou
que a razão possuísse conteúdos inatos, mostrando que os conteúdos depen-
dem da experiência; mas negou também que a experiência fosse a causa da
razão, ou que esta fosse adquirida, pois possui formas e estruturas inatas”. A
proposta de Kant “deu prioridade ao sujeito do conhecimento, enquanto empi-
ristas e inatistas davam prioridade ao objeto do conhecimento” (CHAUI, 2000,
p. 100)
Um elemento essencial na filosofia de Kant é a noção de princípios a priori,
termo empregado pelo filósofo para qualificar os princípios universais e neces-
sários anteriores à experiência. Em discussão com os empiristas, Kant defen-
deu a ideia de que o significado da experiência depende das formas a priori,
cujos conteúdos deveriam ser preenchidos pela experiência. As formas a priori
defendidas por Kant apresentam as seguintes características:
capítulo 3 • 63
universal e necessário os dados da experiência”. Para Kant, “graças às formas
a priori da sensibilidade (espaço e tempo) e dos conceitos a priori do enten-
dimento (as categorias de substância, causalidade, relação, quantidade, qua-
lidade, etc.)”, possuímos uma “capacidade de conhecimento inata, universal e
necessária que não depende da experiência, mas se realiza por ocasião da expe-
riência sobre os objetos que esta nos oferece” (CHAUI, 2000, p. 295).
64 • capítulo 3
2. Não existe observação neutra, livre de pressupostos; todo o conheci-
mento está impregnado de teoria;
3. As teorias científicas são conjecturas, provisórias e sujeitas à
reformulações;
4. Todo conhecimento é a modificação de algum conhecimento anterior.
CONEXÃO
Para saber mais sobre a filosofia da ciência de Karl Popper acesse:
http:.brasilescola.com/filosofia/a-concepcao-ciencia-karl-popper.htm
Para Thomas Khun, uma nova concepção científica emerge, levando tan-
to a incorporar nela os conhecimentos anteriores, quanto a afastá-los inteira-
mente. Para o filósofo da ciência, “esses momentos de ruptura epistemológica
e de criação de novas teorias com a expressão revolução científica, como, por
exemplo, a revolução copernicana, que substituiu a explicação geocêntrica pela
heliocêntrica” (CHAUI, 2000, p. 328).
Segundo Khun, “um campo científico é criado quando métodos, tecnolo-
gias, formas de observação e experimentação, conceitos e demonstrações for-
mam um todo sistemático, uma teoria que permite o conhecimento de inúme-
ros fenômenos”. Nesse processo, a teoria se torna um modelo de conhecimento
ou um paradigma científico (CHAUI, 2000, p. 328).
capítulo 3 • 65
Uma revolução científica acontece quando o cientista descobre que os paradigmas
disponíveis não conseguem explicar um fenômeno ou um fato novo, sendo necessário
produzir um outro paradigma, até então inexistente e cuja necessidade não era sentida
pelos investigadores. (CHAUI, 2000, p. 328).
ATIVIDADES
01. Descreva as principais características do racionalismo e do empirismo.
REFLEXÃO
Neste capítulo pudemos acompanhar os fatores que suscitaram o nascimento e o desenvol-
vimento da ciência moderna, destacando diferentes perspectivas sobre a possibilidade do
conhecimento e as características do conhecimento científico.
LEITURA
Para saber mais sobre o movimento iluminista, leia:
FORTES, Luiz Roberto. O Iluminismo e os reis filósofos. 2. ed. São Paulo: Brasiliense,
1982.
Você pode aprofundar seus estudos sobre o racionalismo cartesiano lendo:
STRATHERM, Paul. Descartes em 90 minutos. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 1997.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
ARANHA, Maria Lúcia de Arruda. Filosofia da Educação. São Paulo: Moderna, 2006.
CHAUI, Marilena. Convite à Filosofia. São Paulo: Atica, 2000.
GOIA, Silvia Catarina. A razão, a experiência e a construção de um universo geométrico: Galileu
Galilei. In: ANDERY, Maria Amália P. A. Para compreender a ciência: uma perspectiva histórica. Rio
de Janeiro: Garamond, 2007, p. 188-189.
66 • capítulo 3
HENRY, John. A revolução científica e as origens da ciência moderna. Trad. Maria Luiza A Borges.
Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 1998.
JAPIASSÚ, Hilton; MARCONDES, Danilo. Dicionário básico de filosofia. 5. edição. Rio de Janeiro:
Jorge Zahar, 2008.
MARCONDES, Danilo. Iniciação à história da filosofia. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 2002.
MARÍAS, Julian. História da Filosofia. Trad. Claudia Berliner. São Paulo: Martins Fontes, 2004.
POPPER, Karl R. Conhecimento objetivo. São Paulo: EDUSP, 1975.
POPPER, Karl R. Lógica da pesquisa científica. São Paulo: EDUSP, 1985.
capítulo 3 • 67
68 • capítulo 3
4
A Cientificidade das
Ciências Humanas
Nesse capítulo você irá adentrar ao debate sobre a constituição das ciências
naturais e das ciências sociais a fim de compreender suas origens e diferen-
ças. Também iremos entender que as ideias marxistas impactaram sobre a
nova compreensão das ciências humanas, e especialmente, nas ideias sobre
a educação
OBJETIVOS
• Diferenciar e caracterizar as ciências naturais das ciências sociais;
• Compreender as diferenças entre o positivismo e o marxismo no século XX quanto à for-
ma de compreensão do fenômeno a ser investigado e a relação sujeito/objeto nas ciências
humanas.
70 • capítulo 4
4.1 A História do pensamento científico: as
ciências naturais e as ciências sociais
• o futuro da ciência no mundo não é mais movido pelo espírito científico, mas pela
técnica instrumental;
• A possibilidade de compreendermos a ciência no mundo atual, em que confundimos
o papel dela com a conquista de parâmetros democráticos e com a realidade histórica,
é cada vez mais difícil;
• Existe a tendência de nos voltarmos para a ciência e para a tecnologia com a espe-
rança de que a liberdade sobreviva aos labirintos da organização e da racionalização;
• Existe a tentação de respondermos à modernidade, à crise do conhecimento, à crise
de autoridade, especificadamente ao choque da dúvida e da descrença, que levam ao
relativismo e à perda da inocência, com a crença de que um país pode retornar aos va-
lores do passado, numa espécie de encantamento das tradições e do próprio passado;
• Existe a suposição antiga de que a ciência é algo singular e excepcional, es-
capando, assim, aos males da patologia do velho mundo, ou seja, do pessimismo
cultural” (p.15).
Para Diel e Tatim (2004) essas cinco questões nos trazem a consideração de
que a ciência poderia ser uma espécie de cultura política quase de ironia e de
tragédia. Para eles, a suposição de que a democracia, a moral, a ética e a própria
ciência são harmoniosa e se reforçam reciprocamente e é um grande equívoco
que merece reflexão.
Ao iniciar a reflexão podemos compreender que a ciência, muitas vezes, é
compreendida como racional e lógica, no entanto, o que é preciso considerar
que em se tratando de um processo produzido pelo homem e em busca de valo-
res universais, não há como desconsiderar ou exorcizar os demônios e extirpar
todo e qualquer irracionalismo do mundo. Para tanto, vale-se a retrospectiva da
capítulo 4 • 71
constituição da ciência e a distinção entre as ciências naturais e sociais.
Para mergulharmos na busca de compreender as ciências naturais e poste-
riormente as ciências sociais, vamos nos apropriar das ideias de Boaventura de
Sousa Santos (1988) na obra “Um discurso sobre as ciências na transição para
uma ciência pós-moderna”.
Para Santos (1988) foi a partir da revolução científica do século XVI que o
modelo de racionalidade assume à ciência moderna e domina as ciências
naturais.
72 • capítulo 4
pela sua evidência, clareza e distinção. Elasse apresentam de forma tão clara e evi-
dente à mente, que é impossível não serem verdadeiras. Por esse motivo, argumenta
Descartes, é a razão, e não a experiência, o fundamento seguro de todo conhecimento
universalmente válido”.
Trecho retirado http://crv.educacao.mg.gov.br/sistema_crv/banco_objetos_
crv/%7B45A47A13-C366-4405-A3BB-112DD0F6DA89%7D_A%20racionalidade%20cien-
t%C3%ADfica%20-%20teoria%20e%20experi%C3%AAncia.pdf, acessado em: 10 fev. 2015.
Mas foi somente no século XIX que este modelo de racionalidade se estende
às ciências sociais emergentes. A partir de então pode-se falar de um modelo
global de racionalidade científica que admite variedade interna mas que se dis-
tingue e defende, por via de fronteiras ostensivamente policiadas, de duas for-
mas de conhecimento não-científico (e, portanto, irracional) potencialmente
perturbadoras e intrusas: o senso comum e as chamadas humanidades ou es-
tudos humanísticos (em que se incluíram, entre outros, os estudos históricos,
filológicos, jurídicos, literários, filosóficos e teológicos).
Sendo um modelo global, a nova racionalidade científica é também um mo-
delo totalitário, na medida em que nega o caráter racional a todas as formas
de conhecimento que se não pautarem pelos seus princípios epistemológicos
e pelas suas regras metodológicas. É esta a sua característica fundamental e a
que melhor simboliza a ruptura do novo paradigma científico com os que o pre-
cedem. Está consubstanciada, com crescente definição, na teoria heliocêntrica
do movimento dos planetas de Copérnico, nas leis de Kepler sobre as órbitas
dos planetas, nas leis de Galileu sobre a queda dos corpos, na grande síntese
da ordem cósmica de Newton e finalmente na consciência filosófica que lhe
conferem Bacon e, sobretudo, Descartes. Esta preocupação em testemunhar
uma ruptura fundante que possibilita uma e só uma forma de conhecimento
verdadeiro está bem patente na atitude mental dos protagonistas, no seu es-
panto perante as próprias descobertas e a extrema e, ao mesmo tempo, serena
arrogância com que se medem com os seus contemporâneos.
Para citar apenas dois exemplos, Kepler escreve no seu livro sobre a Harmonia do
Mundo publicado em 1619, a propósito das harmonias naturais que descobrira nos
movimentos celestiais: "Perdoai-me mas estou feliz; se vos zangardes eu perseverarei;
capítulo 4 • 73
(...) O meu livro pode esperar muitos séculos pelo seu leitor. Mas mesmo Deus teve de
esperar seis mil anos por aqueles que pudessem contemplar o seu trabalho". Por outro
lado, Descartes, nessa maravilhosa autobiografia espiritual que é o Discurso do Méto-
do e a que voltarei mais tarde, diz, referindo-se ao método por si encontrado: "Porque
já colhi dele tais frutos que embora no juízo que faço de mim próprio procure sempre
inclinar-me mais para o lado da desconfiança do que para o da presunção, e embora,
olhando com olhar de filósofo as diversas ações e empreendimentos de todos os ho-
mens, não haja quase nenhuma que não me pareça vã e inútil, não deixo de receber
uma extrema satisfação com o progresso que julgo ter feito em busca da verdade e
de conceber tais esperanças para o futuro que, se entre as ocupações dos homens,
puramente homens, alguma há que seja solidamente boa e importante, ouso crer que é
aquela que escolhi". (SANTOS, 1988, p.49).
74 • capítulo 4
seus mistérios, desvendamento que não é contemplativo, mas antes ativo, já que visa
conhecer a natureza para a dominar e controlar. Como diz Bacon, a ciência fará da pes-
soa humana" o senhor e o possuidor da natureza".(SANTOS, 1988, p.49).
Santos (1988) chama a atenção que com base nestes pressupostos o conhe-
cimento científico avança pela observação descomprometida e livre, sistemáti-
ca e tanto quanto possível rigorosa dos fenômenos naturais. As ideias que pre-
sidem à observação e à experimentação são as ideias claras e simples a partir
das quais se pode ascender a um conhecimento mais profundo e rigoroso da
natureza, como por exemplo, as ideias das matemáticas. A matemática fornece
à ciência moderna, não só o instrumento privilegiado de análise, como tam-
bém a lógica da investigação, como ainda o modelo de representação da pró-
pria estrutura da matéria.
capítulo 4 • 75
Pode-se perceber com esse trecho que o conhecimento científico tem uma
qualificação muito associada as ciências naturais, cujos princípios de quanti-
ficação, divisão e rigor são as principais marcas. Santos (1988) destaca que a
natureza teórica do conhecimento científico decorre dos pressupostos epis-
temológicos e das regras metodológicas já referidas. É a definição de relações
causais que aspira à formulação de leis, à luz de regularidades observadas, com
vista a prever o comportamento futuro dos fenômenos. A descoberta das leis da
natureza assenta, por um lado, e como já se referiu, no isolamento das condi-
ções iniciais relevantes (por exemplo, no caso da queda dos corpos, a posição
inicial e a velocidade do corpo em queda) e, por outro lado, no pressuposto de
que o resultado se produzirá independentemente do lugar e do tempo em que
se realizarem as condições iniciais. Por outras palavras, a descoberta das leis
da natureza assenta no princípio de que a posição absoluta e o tempo absoluto
nunca são condições iniciais relevantes.
As leis repousam num conceito de causalidade escolhido, não arbitraria-
mente, entre os oferecidos pela física aristotélica e, segundo Santos (1988),
Aristóteles distingue quatro tipos de causa: a causa material, a causa formal, a
causa eficiente e a causa final. As leis da ciência moderna são um tipo de cau-
sa formal que privilegia o como funciona das coisas em detrimento de qual o
agente ou qual o fim das coisas, para esse autor, essa é a principal diferença
entre o conhecimento científico e o conhecimento do senso comum.
Aristóteles (apud SANTOS, 1988) compreender que o senso comum, produz
o conhecimento prático cuja causa e a intenção convivem sem problemas, na
ciência a determinação da causa formal obtém-se com a expulsão da intenção.
É este tipo de causa formal que permite prever e, portanto, intervir no real e
que, em última instância, permite à ciência moderna responder à pergunta so-
bre os fundamentos do seu rigor e da sua verdade com o elenco dos seus êxitos
na manipulação e na transformação do real.
Para compreensão da racionalidade científica, todo conhecimento é ba-
seado na formulação de leis e tem como pressuposto metateórico a ideia de
ordem e de estabilidade do mundo, a ideia de que o passado se repete no fu-
turo. Santos (1988) para a mecânica newtoniana, o mundo da matéria é uma
máquina cujas operações se podem determinar exatamente por meio de leis
físicas e matemáticas, um mundo estático e eterno a flutuar num espaço vazio,
um mundo que o racionalismo cartesiano toma cognoscível por via da sua de-
composição nos elementos que o constituem. Esta ideia do mundo-máquina é
76 • capítulo 4
de tal modo poderosa que se vai transformar na grande hipótese universal da
época moderna, o mecanicismo.
A partir do século XVIII, com a ascensão intelectual da burguesia , o deter-
minismo mecanicista torna-se o horizonte certo de uma forma de conhecimen-
to que se pretende utilitário e funcional, reconhecido menos pela capacidade
de compreender profundamente o real do que pela capacidade de o dominar e
transformar. Segundo Santos (1988) no plano social, é esse também o horizon-
te cognitivo mais adequado aos interesses da burguesia ascendente que via na
sociedade em que começava a dominar o estádio final da evolução da humani-
dade (o estado positivo de Comte; a sociedade industrial de Spencer; a solida-
riedade orgânica de Durkheim).
O prestígio de Newton e das leis simples a que reduzia toda a complexidade
do mundo convertido a ciência moderna no modelo de racionalidade hegemô-
nica pouco e pouco transbordou do estudo da natureza para o estudo da socie-
dade, para os pesquisadores assim como foi possível descobrir as leis da natu-
reza, seria igualmente possível descobrir as leis da sociedade (SANTOS, 1988).
Para Santos (1988) no século XVIII, essas ideias são ampliadas e aprofunda-
das e o fermento intelectual que daí resulta, vai criar as condições para a emer-
gência das ciências sociais no século XIX. A consciência filosófica da ciência
moderna, que tivera no racionalismo cartesiano e no empirismo baconiano as
suas primeiras formulações, veio a condensar-se no positivismo oitocentista.
Dado que, segundo este, só há duas formas de conhecimento científico — as
disciplinas formais da lógica e da matemática e as ciências empíricas segundo
capítulo 4 • 77
o modelo mecanicista das ciências naturais — as ciências sociais nasceram
para ser empíricas (SANTOS, 1988).
O modo como o modelo mecanicista foi assumido foi muito variado. Santos
(1988) apresenta duas vertentes principais: a primeira, sem dúvida dominante,
consistiu em aplicar, na medida do possível, ao estudo da sociedade todos os
princípios epistemológicos e metodológicos que presidiam ao estudo da natu-
reza desde o século XVI; a segunda, durante muito tempo marginal, mas hoje
cada vez mais seguida, consistiu em reivindicar para as ciências sociais um es-
tatuto epistemológico e metodológico próprio, com base na especificidade do
ser humano e sua distinção polar em relação à natureza. Estas duas concepções
têm sido consideradas antagônicas, a primeira, sujeita ao jugo positivista, a se-
gunda, liberta dele, e qualquer delas reivindicando o monopólio do conheci-
mento científico-social (SANTOS, 1988).
Nesse caso, Santos (1988) esclarece que na primeira variante — cujo com-
promisso epistemológico está bem simbolizado no nome de "física social" com
que inicialmente se designaram os estudos científicos da sociedade — parte
do pressuposto que as ciências naturais são uma aplicação ou concretização
de um modelo de conhecimento universalmente válido e, de resto, o único váli-
do. Portanto, por maiores que sejam as diferenças entre os fenômenos naturais
e os fenômenos sociais é sempre possível estudar os últimos como se fossem
os primeiros. Reconhece-se que essas diferenças atuam contra os fenômenos
sociais, isto é, tornam mais difícil o cumprimento metodológico e menos rigo-
roso do conhecimento a que se chega, mas não há diferenças qualitativas entre
o processo científico neste domínio e o que preside ao estudo dos fenômenos
naturais.
Para estudar os fenômenos sociais como se fossem fenômenos naturais, ou
seja, para conceber os fatos sociais, como coisas, como pretendia Durkheim, o
fundador da sociologia acadêmica, é necessário reduzir os fatos sociais às suas
dimensões externas, observáveis e mensuráveis. As causas do aumento da taxa
de suicídio na Europa do virar do século não são procuradas nos motivos invo-
cados pelos suicidas e deixados em cartas, como é costume, mas antes a partir
da verificação de regularidades em função de condições tais como o sexo, o es-
tado civil, a existência ou não de filhos, a religião dos suicidas (SANTOS, 1988).
Assim, as ciências sociais assumem um longo caminho a percorrer no sen-
tido de se compatibilizarem com os critérios de cientificidade das ciências na-
turais, os obstáculos foram enormes, dentre eles:
78 • capítulo 4
• as ciências sociais não dispõem de teorias explicativas que lhes permitam
abstrair do real para depois buscar nele, de modo metodologicamente contro-
lado, a prova adequada;
• as ciências sociais não podem estabelecer leis universais porque os
fenômenos sociais são historicamente condicionados e culturalmente
determinados;
• as ciências sociais não podem produzir previsões fiáveis porque os seres
humanos modificam o seu comportamento em função do conhecimento que
sobre ele se adquire;
• os fenômenos sociais são de natureza subjetiva e como tal não se deixam
captar pela objetividade do comportamento;
• as ciências sociais não são objetivas porque o cientista social não pode
libertar-se, no ato de observação, dos valores que informam a sua prática em
geral e, portanto, também a sua prática de cientista (SANTOS, 1988, p. 24).
capítulo 4 • 79
Para alguns autores dessa segunda vertente, o comportamento humano, ao
contrário dos fenômenos naturais, não pode ser explicado com base nas suas
características exteriores e objetiváveis, uma vez que o mesmo ato externo pode
corresponder a sentidos de ação muito diferentes. Segundo Santos (1988) para
esses autores (por ex. Max Weber, Peter Winch e Gramsci) a ciência social será
sempre uma ciência subjetiva e não objetiva como as ciências naturais e, para
tanto, os fenômenos sociais devem ser compreendidos a partir das atitudes
mentais e do sentido que os agentes conferem às suas ações, para o que é ne-
cessário utilizar métodos de investigação e mesmo critérios epistemológicos
diferentes dos correntes nas ciências naturais, métodos qualitativos em vez
de quantitativos, afim de obter um conhecimento intersubjetivo, descritivo e
compreensivo.
Esta concepção de ciência social reconhece-se numa postura antipositivista
e assenta na tradição filosófica da fenomenologia e nela convergem diferentes
variantes. Santos(1988) afirma que aanálise desse modelo evidencia a distinção
natureza/ser humano e tal como ele tem da natureza uma visão mecanicista à
qual contrapõe, com evidência esperada, a especificidade do ser humano.
A esta distinção, primordial na revolução científica do século XVI, vão-se so-
brepor nos séculos seguintes outras, tal como a distinção natureza/ cultura e a
distinção ser humano/ animal, para no século XVIII se poder celebrar o caráter
único de ser humano. A fronteira que então se estabelece entre o estudo do ser
humano e o estudo da natureza não deixa de ser prisioneira do reconhecimento
da prioridade cognitiva das ciências naturais, pois, se, por um lado, se recusam
os condicionantes biológicos do comportamento humano, pelo outro usam-se
argumentos biológicos para fixar a especificidade do ser humano. Pode, pois,
concluir-se que ambas as concepções de ciência social a que aludi pertencem
ao paradigma da ciência moderna, ainda que a concepção mencionada em
segundo lugar represente, dentro deste paradigma, um sinal de crise e conte-
nha alguns dos componentes da transição para um outro paradigma científico
(SANTOS, 1988, p.24).
80 • capítulo 4
xista especialmente para as ciências sociais, e particularmente, para a educa-
ção. Para isso, é preciso compreender que o marxismo, enquanto, ciência das
leis da sociedade, ou ciência da revolução das massas oprimidas, orienta-se en-
quanto ciência revolucionária, para estabelecer os caminhos a percorrer na luta
dos trabalhadores pela libertação do jugo dos latifundiários e dos capitalistas e
levar os operários e os camponeses à vitória sobre os exploradores que condu-
ziu o povo soviético pela estrada ampla e clara do comunismo (ARAUJO, 1955).
Segundo Araújo (1955), no trabalho a criação, por Marx e Engels, do mate-
rialismo dialético foi um grande feito científico. Marx e Engels generalizaram
e reelaboraram criticamente as conquistas do pensamento filosófico, generali-
zaram e reinterpretaram criadoramente as conquistas das ciências naturais e
sociais, bem como toda a experiência da luta das massas trabalhadoras contra
a exploração e a opressão.
“Utilizando tudo aquilo que de melhor havia sido acumulado pela humanidade durante
os milênios anteriores, Marx e Engels realizaram uma reviravolta revolucionária na filo-
sofia, criaram uma filosofia qualitativamente nova.” (ARAUJO, 1955).
capítulo 4 • 81
também acabou virando notícia na ocasião de sua morte, ocorrida em 14 de março
de 1883. Em fragmento publicado na coluna “D’aqui d’colá” na Gazeta de Notícias, do
Rio de Janeiro, trazia para seus leitores algumas breves informações de caráter bio-
gráficos acerca da vida do filósofo alemão: “Karl Marx, fundador da Internacional e há
pouco falecido em Londres, contava 69 annos de idade. Chefe do movimento socialista
moderno, o illustre finado merece uma biografia” (GAZETA DE NOTÍCIAS, 1883 apud
AZEVEDO, 2013, p.199).
82 • capítulo 4
Por isso precisamente é somente na elaboração do mundo objetivo que o homem se
afirma realmente como um ser genérico. Essa produção é sua vida genérica ativa. Me-
diante ela aparece a natureza como sua objetivação da vida genérica do homem, pois
este se desdobra não só intelectualmente, como na consciência, mas ativa e realmente,
e se contempla a si mesmo num mundo criado por ele. (Marx, 1985, p. 112 apud SA-
VIANI E DUARTE, 2010, p.428).
Para que então o indivíduo humano se forme e se desenvolva como ser genéri-
co ele precisa passar por esse processo dialético entre a apropriação da atividade
humana objetivada no mundo da cultura (aqui entendida como tudo aquilo que
capítulo 4 • 83
o ser humano produz em termos materiais e não materiais) e a objetivação da
individualidade por meio da atividade vital, isto é, do trabalho. Para esses auto-
res, na sociedade capitalista, o trabalho produz riqueza objetiva e subjetiva, mas
nenhuma delas podem ser plenamente apropriadas por aqueles que trabalham:
Vale a pena destacar que para Marx (apud SAVIANI E DUARTE, 2010) a su-
peração positiva da propriedade privada, isto é, a superação da sociedade capi-
talista, não significaria a abolição do trabalho, nem mesmo o abandono da ri-
queza material e espiritual produzida pelo trabalho alienado, mas a superação
dessa forma histórica da atividade humana que é o trabalho alienado pela sua
transformação em autoatividade. Isso significa uma mudança de quatro aspec-
tos da atividade humana:
84 • capítulo 4
o produto do trabalho é a realização efetiva do sujeito, é a transformação da
atividade do sujeito em um objeto social. Mas, nas condições em que o traba-
lho ocorre na sociedade capitalista, o produto do trabalho é uma mercadoria
que pertence ao capital, ou seja, "esta realização do trabalho aparece no estádio
da Economia Política como desrealização do trabalhador, a objetivação como
perda do objeto e servidão a ele, a apropriação como alienação, como exteriori-
zação" (idem, p. 105-106 apud SAVIANI E DUARTE, 2010, p.428).
Saviani e Duarte (2010) esclarecendo as ideias de Marx afirma que para esse
autor, a palavra "exteriorização" não deve ser confundida com objetivação, pois
o mesmo compreende a exteriorização, nesse contexto, que o produto do traba-
lho, ao ser apropriado pelo capital, se torna algo que não expressa a individuali-
dade do trabalhador, mas sim, ao contrário, que se defronta com o trabalhador
como um ser hostil e estranho, como um ser alheio ao ser do indivíduo que
o produziu. E a objetivação, como a única forma de o ser humano se efetivar,
se desenvolver, torna-se uma objetivação alienante. Mas isso não significa, de
forma alguma, que necessariamente a objetivação produza alienação e exte-
riorização. As relações sociais capitalistas é que transformam aquilo que seria
humanização em seu oposto, ou seja, em alienação: transformam, conforme
anteriormente citado, a realização efetiva do trabalho em desefetivação do tra-
balhador, transformam a objetivação em perda do objeto e servidão ao mesmo,
posto que o objeto assume a forma de capital.
Marx é enfático em afirmar que o homem só será capaz de se apropriar de sua
essência universal, isto é, como homem total, podendo explorar suas relações
humanas com o mundo (ver, ouvir, cheirar, degustar, sentir, pensar, observar,
perceber, desejar, agir, amar) somente em uma sociedade comunista. Para ele,
todos os órgãos da individualidade humana, como os órgãos que são imediata-
mente comunitários em sua forma são tão polifacéticos quanto múltiplas são as
determinações essenciais e as atividades do homem, pois o sofrimento, huma-
namente entendido, é um gozo próprio do homem. (SAVIANI E DUARTE, 2010).
Marx defende a superação das relações sociais alienadas por meio das
mudanças que radicalmente as relações dos seres humanos com os produtos
como com a cultura (produtos gerados pela atividade do indivíduo). Somo afir-
ma Saviani e Duarte (2010) para Marx a apropriação dos objetos sociais já exis-
tentes na cultura forma o indivíduo como um ser humano:
capítulo 4 • 85
Somente por meio da riqueza objetivamente desenvolvida do ser humano é, em parte
cultivada, em parte criada, a riqueza da sensibilidade humana subjetiva, um ouvido musi-
cal, um olho para a beleza da forma. Em resumo, somente assim se cultivam ou se criam
sentidos capazes de gozos humanos, sentidos que se afirmam como forças essenciais
humanas. Pois não apenas os cinco sentidos, mas também os chamados sentidos espiri-
tuais, os sentidos práticos (vontade, amor etc.), em uma palavra, o sentido humano, a hu-
manidade dos sentidos, se constituem unicamente mediante a existência de seu objeto,
mediante a natureza humanizada. A formação dos cinco sentidos é um trabalho de toda a
história universal até nossos dias. (idem, p. 150 apud SAVIANI E DUARTE, 2010, p.428).
Primeiramente, que o trabalho é externo ao trabalhador, quer dizer, não pertence a seu
ser; que em seu trabalho não se afirma, mas se nega; não se sente feliz, mas infeliz; não
desenvolve uma livre energia física e espiritual, mas mortifica seu corpo e arruína seu
espírito. Por isso o trabalhador só se sente em si fora do trabalho, e no trabalho se sente
fora de si. Está em sua casa quando não trabalha e quando trabalha não está em sua
casa. Seu trabalho não é, assim, voluntário, mas forçado, trabalho forçado. Por isso não
é a satisfação de uma necessidade, mas somente um meio para satisfazer as neces-
sidades fora do trabalho. (idem p. 108-109 apud SAVIANI E DUARTE, 2010, p.428).
Marx esclarece que para que a relação do ser humano com seu trabalho
mude radicalmente numa sociedade comunista, é necessário que a ati-
vidade deixe de ser um meio para a satisfação de necessidades externas a
ela e passe a ser ela mesma um processo no qual o sujeito se desenvolve e
se realiza como um ser humano. O trabalhador aliena-se de seu trabalho
86 • capítulo 4
porque é obrigado a vender sua atividade em troca de um salário que lhe
assegure a sobrevivência. Isso quer dizer que, para poder continuar a viver,
o trabalhador deve vender uma parte de sua vida e, mais do que isso, vender
a parte mais importante de sua vida, que é a atividade por meio da qual ele
poderia formar-se, fazendo da essência humana, isto é, das potências essen-
ciais humanas formadas historicamente, a essência de sua individualidade
(SAVIANI E DUARTE, 2010, p.429).
Mas essa relação de exterioridade não é intrínseca à atividade de traba-
lho, ela acontece nas condições de alienação. Superar essas condições sig-
nifica transformar a atividade em autoatividade, ou seja, em atividade au-
torrealizadora. A atividade vital como atividade autorrealizadora é a única
forma de o indivíduo se efetivar como um ser genérico, isto é, um ser cons-
cientemente representativo do desenvolvimento alcançado pelo gênero hu-
mano (SAVIANI E DUARTE, 2010). A superação do trabalho alienado não se
dá pela negação do trabalho ou pela busca de uma suposta essência repri-
mida no interior do indivíduo, mas sim pela transformação da atividade em
relação consciente com o mundo resultante da objetivação histórica e social
do gênero humano:
Na forma da atividade vital reside o caráter dado de uma espécie, seu caráter genérico,
e a atividade livre, consciente, é o caráter genérico do homem. A vida mesma aparece
somente como meio de vida. [...] A atividade vital consciente distingue imediatamente o
capítulo 4 • 87
homem da atividade vital animal. Justamente, e só por isso, é ele um ser genérico. Ou,
dito de outra forma, somente é ser consciente, quer dizer, somente é sua própria vida
objeto para ele, porque é um ser genérico. Só por isso sua atividade é livre. O trabalho
alienado inverte a relação, de maneira que o homem, precisamente por ser um ser
consciente, faz de sua atividade vital, de sua essência, um simples meio para sua exis-
tência. (idem, p. 111-112 apud SAVIANI E DUARTE, 2010, p.428).
88 • capítulo 4
CONEXÃO
Dessa forma, convido você ao aprofundamento do estudo sobre as contribuições do marxis-
mo para educação, lendo o texto abaixo na íntegra:
A formação humana na perspectiva histórico-ontológica Dermeval Saviani; Newton Duarte
http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid= S1413-24782010000300002&
lng=pt&nrm=isso.
ATIVIDADES
01. Quais as características da racionalidade científica?
REFLEXÃO
O processo de construção do conhecimento científico requer a compreensão da história das
ideias filosóficas e do debate entre os pensadores que historicamente contribuíram para
essa discussão. Fica claro nesse debate que a influência do pensamento positivista na cons-
tituição das ciências humanas enquanto área científica foi abalada pelo pensamento marxis-
ta e por outros sociólogos que entendem a natureza desse objeto tendo características bem
diferentes das ciências naturais. Por isso, seu processo de formação não pode acabar aqui,
é preciso ir tecendo outras leituras e buscando aprofundar na compreensão desse complexo
e constante debate.
Para ampliar seu conhecimento acesse o vídeo http://www.fe.unicamp.br/ead/anda
mento.html
capítulo 4 • 89
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
ARAUJO, Fernando A. S. "Materialismo Dialético", Moscou, edição da Academia de Ciências da
URSS, Instituto de Filosofia, 1954. Editorial Vitória Ltda., Rio, 1955. págs: 7-46. A presente edição foi
traduzida do original russo.
https://www.marxists.org/portugues/tematica/livros/materialismo/01.htm.
GRAMSCI, Antonio (1968) Os intelectuais e a organização da cultura. Rio de Janeiro: Civilização
Brasileira, 1968.
SAVIANI, D; DUARTE, N. (2010). A formação humana na perspectiva histórico-ontológica.
Revista Brasileira de Educação v. 15 n. 45 set./dez. 2010.
90 • capítulo 4
5
A Pesquisa na
Formação do
Educador
Nesse capítulo iremos debater um pouco o papel da pesquisa na formação
do pedagogo, considerando esse um profissional que está em constante pro-
cesso de formação e que requer o domínio das discussões tanto da própria
formação do pedagogo como dos achados de pesquisa em educação. Sendo
assim, iremos compreender que a graduação em Pedagogia transformou o
pedagogo em um profissional que precisa pensar, pesquisar e produzir co-
nhecimento sobre seu principal objeto de estudo, que são as relações que pro-
duzem aprendizagem.
OBJETIVOS
• Refletir sobre a importância da formação do Pedagogo em nível de graduação e suas
especificidades;
• Compreender que a pesquisa deve ocupar lugar central na formação do Pedagogo.
92 • capítul0 5
5.1 O contexto que emerge a Pedagogia
enquanto curso de graduação
(...) tal denominação (...) é criticada por provocar dispersão no estudo da problemática
educativa, levando a uma postura pluridisciplinar ao invés de interdisciplinar. Ou seja, a
autonomia dada a cada uma das ciências da educação levaria a enfoques parciais da re-
alidade educativa, comprometendo a unidade temática e abrindo espaço para os vários
reducionismos (sociológico, psicológico, econômico...), como aliás a experiência brasi-
leira tem confirmado. Em concordância com vários autores (entre outros, Sarramona e
Marques 1985, Vilsaberghi 1983, Estrela 1992), Libâneo assume que a pedagogia se
apoia nas ciências da educação, mas não perde com isso sua autonomia epistemológica
e não se reduz ao campo conceitual de uma ou outra, nem ao conjunto dessas ciências.
capítulo 5 • 93
A pluridimensionalidade do fenômeno educativo não elimina sua unicidade, que permite
“estabelecer um corpo cientifico que tem o fenômeno educativo em seu conjunto como
objeto de estudo, com a finalidade expressa de dar coerência à multiplicidade de ações
parcializadas” (Sarramona e Marques 1985 apud LIBANEO e PIMENTA, 1999, p.255).
94 • capítul0 5
no exercício de atividades pedagógicas específicas (planejamento de políticas educa-
cionais, gestão do sistema de ensino e das escolas, assistência pedagógico-didática a
professores e alunos, avaliação educacional, pedagogia empresarial, animação cultural,
produção e comunicação nas mídias etc.) (LIBANEO e PIMENTA, 1999, p.257).
Para eles a existência desse curso tem como suporte algumas premissas:
capítulo 5 • 95
A integração desconhecimentos pela inter-relação entre saberes decorre não apenas
da pluralidade que caracteriza o fenômeno educativo, mas também de uma tendência
irrefreável das ciências no mundo contemporâneo buscarem a integração entre os sa-
beres, sem perder de vista a especificidade disciplinar.
- O currículo terá uma forte orientação para a pesquisa, seja como prática acadêmica,
seja como atitude. Ressaltem-se, aí, os vínculos entre o ensino e a pesquisa, a pesquisa
como forma básica de construção do saber, em confronto, em questionamento, com os
saberes já estabelecidos e como instrumento para desenvolvimento das competências
do pensar.
– Tal concepção de pedagogia deveria transpassar toda a formação pedagógica nos
cursos de formação de professores, da educação infantil ao Ensino Médio. (LIBANEO
e PIMENTA, 1999, p.257-258).
Dessa forma,
96 • capítul0 5
Para André (2006):
[...] a pesquisa pode tornar o sujeito-professor capaz de refletir sobre sua própria prática
profissional e de buscar formas (conhecimentos, habilidades, atitudes e relações) que
o ajudem a aperfeiçoar cadê vez mais seu trabalho docente, de modo que possa parti-
cipar efetivamente do processo de emancipação das pessoas (123).
Demo (2009) defende que a pesquisa ao ser encarada como educativa faz
com que o professor entenda o educar como um processo de motivação para a
criatividade do educando, que vai em busca de superar os problemas buscando
novas e criativas formas de solução. Para esse autor, o processo de pesquisa tem
contornos muito próprio e desafiador, a começar pelo reconhecimento de que o
melhor saber é aquele que sabe superar-se. Portanto, a pesquisa como princípio
educativo é a base para qualquer proposta emancipatória (DEMO, 2009, p.16).
Mas, para que a pesquisa se torne um processo de produção do conheci-
mento é preciso desmistificá-la, primeiro porque muitos professores acredi-
tam que há uma distinção entre que ensina e quem pesquisa, essa é a primeira
desmitificação necessária. Pois, quem ensina também pesquisa para ensinar.
Mas Demo (2009) é enfático ao defender que:
capítulo 5 • 97
condição de aluno. O novo mestre não é apenas o magnata da ciência, o gênio incom-
parável, o metodólogo virtuoso, nas todo cidadão que souber manejar sua emancipa-
ção, para não permanecer na condição de objeto das pressões alheias (p.17).
[...] criar situações e atividades que propiciem aos alunos aprender e observar, a formu-
lar uma questão de pesquisa, a encontrar dados e instrumentais que lhes permitam elu-
cidar tal questão e os tornem capazes de expressar os achados e suas novas dúvidas.
Isso supõe uma mudança no ensinar e no aprender: é na problematização da realidade
98 • capítul0 5
que se originam as questões a serem perseguidas e é com base nelas que são escolhi-
dos métodos de trabalho e técnicas de coleta de dados- o que requer um aprendizado
de observação e análise da realidade, com apoio em conceitos e em referenciais- e um
conhecimento de métodos e instrumentais para sua compreensão (p.123).
capítulo 5 • 99
a autora esclarece que a primeira questão é como irão surgir os problemas ou
questões de projetos de pesquisa. É preciso que os estudantes compreendam
que esses problemas podem surgir da leitura e problematização de teorias ou
de situações do cotidiano que estejam incomodando a alguém, que pode ser os
próprios alunos, as queixas dos professores, ou dos pais ou dos gestores, entre
outros. O importante nesse processo de formação é que, em qualquer uma das
situações, ocorra um envolvimento efetivo dos participantes seja na definição
do tema ou problema a ser pesquisador, seja no planejamento dos passos a se-
rem seguidos diante da elucidação.
O trabalho em conjunto, compartilhado, que propicie pontos de interlocu-
ção e que faça sentido a todos os envolvidos é outro aspecto extremamente im-
portante, por mais que não seja fácil de se fazer e que requeira o envolvimento
ativo de todos (ANDRÉ, 2007). Para André (2007) essa metodologia requer uma
mudança radical nas formas de trabalho convencional do professor em sala de
aula, e o envolvimento de todos dependerá das condições que os motivaram à
mudança e do convencimento de assumir essa nova postura diante do ensinar
e do aprender será melhor para todos.
Afim de ilustrar um trabalho de pesquisa que teve como objetivo foi conhe-
cer as concepções e práticas em pesquisa de professores mestres, apresentou
um trecho do artigo abaixo. Vamos a leitura !!
LEITURA
Um Estudo de Caso
Professor-pesquisador: concepções e práticas de mestres que atuam na educação básica, autora
Rita Buzzi Rausch, trecho obtido http://www2.pucpr.br/reol/index.php/dialogo?dd99=pdf&dd1=7198,
acessado em: 02 fev. 2015.
Introdução
É comum ouvirmos falar e ler acerca da necessidade de o professor ser reflexivo e pes-
quisador na contemporaneidade. Essa perspectiva prioriza a reflexão e a pesquisa como
elementos necessários à formação docente e desloca parte importante dessa formação para
o contexto da escola, da docência. Conforme destaca Silva (2008), tal proposta reforça a
reflexão docente sobre a prática e os sentidos que essa reflexão possa provocar na ressig-
nificação da experiência docente e, consequentemente, da prática educativa. O professor, a
partir da reflexão sobre sua própria prática, estabelece novas possibilidades de ação sobre
sua docência, surgindo a partir de tal premissa, a epistemologia da prática, que subjazem as
teorias do professor-reflexivo-pesquisador.
100 • capítul0 5
Portanto, a ideia da importância da pesquisa e da reflexividade no trabalho do professor não
é recente. Lüdke (2010), no programa de pesquisa que coordena, vem investigando, junto ao
seu grupo de pesquisadores o lugar da pesquisa na formação e no trabalho do professor da edu-
cação básica. Diante dos estudos já realizados, o programa constatou que alguns professores
estão realizando pesquisas em escolas de educação básica da rede pública, o que confirma a
possibilidade de sua realização neste contexto. Destacam que o tipo de atividades consideradas
como pesquisa “[...] vão da simples organização de uma feira de ciências, ou o aprofundamento
de um tema de estudo por um grupo de professores, até o desenvolvimento de trabalhos bastan-
te sofisticados, com publicação em revistas internacionais” (LÜDKE, 2010, p. 264).
A disparidade de exemplos emitidos como pesquisa fez os pesquisadores do programa
anteriormente mencionado se indagarem acerca do conceito de pesquisa dos professores
investigados. E na busca de respostas para tal indagação, obtiveram como resposta uma
definição acadêmica de pesquisa, entretanto seguida do argumento de que não era essa
modalidade de pesquisa de que necessitavam na escola. Isso denota certo distanciamento
entre a pesquisa realizada na academia e aquela aplicada pelos professores nas escolas de
educação básica. Nessa direção, Zeichner (2009) também se questiona acerca dos tipos de
pesquisa que são mais próximos da realidade dos professores, porém sem perder de vista
certos requisitos básicos na sua caracterização.
Esse autor aponta a formação como fundamental na busca da credibilidade da pesquisa.
Entretanto Lüdke (2010) destaca que os professores, de maneira geral, declaram-se muito
insatisfeitos em relação à formação para a pesquisa recebida em seus cursos de licenciatura.
No Brasil, infelizmente, a maioria dos professores tem contato com a pesquisa em sua
completude somente em cursos de pós-graduação, mais especificamente em nível stricto
sensu. É a partir do mestrado que os professores necessitam realizar uma pesquisa de au-
toria própria e geralmente se formam como pesquisadores. Nesse sentido, realizamos uma
pesquisa que investigou: quais as concepções e práticas de pesquisa dos professores que
possuem mestrado e atuam como docentes na educação básica?
Na busca de respostas à questão-problema formulada, definimos como objetivo geral
conhecer as concepções e práticas em pesquisa de professores mestres que atuam na do-
cência na educação básica da Rede Municipal de Ensino de Blumenau. Como objetivos es-
pecíficos elencamos:
capítulo 5 • 101
O presente artigo está estruturado em quatro partes, iniciando com esta introdução em
que trazemos a abordagem e a justificativa do problema, a questão de pesquisa e seus obje-
tivos. A segunda parte trata dos aspectos metodológicos da pesquisa, baseados na literatura
específica, em que explicamos os procedimentos adotados na investigação. A terceira parte
apresenta a descrição dos dados obtidos nas entrevistas, que, precedida da análise de con-
teúdo, apresenta os resultados. Por fim, na quarta e última parte fazemos algumas conside-
rações e recomendações ao estudo realizado.
Procedimentos metodológicos
Este estudo possui uma abordagem qualitativa. Os sujeitos envolvidos nesta pesquisa
foram os professores mestres que atuavam na educação básica da rede municipal de Blu-
menau no segundo semestre de 2010. A partir de um diagnóstico junto à Secretaria Muni-
cipal de Educação do município, constatamos a quantidade de professores com titulação
de mestrado atuando nos níveis de educação infantil e ensino fundamental em diferentes
instituições de ensino.
Quanto aos procedimentos, após levantamento dos nomes e escolas em que os profes-
sores mestres atuavam, ligamos para cada um deles, solicitando espaço para um encontro,
estipulado por eles dentro de suas disponibilidades, para realizar uma entrevista. De dez
professores com mestrado atuando em sala no momento da recolha de dados, conforme in-
formações recebidas pela Secretaria Municipal de Educação, oito concordaram em participar
como sujeitos da pesquisa. A entrevista ocorreu dentro das instituições de ensino municipais
ou nas dependências da FURB, nos casos em que o professor tinha algum vínculo com a
instituição ou assim preferisse.
Para registrar os dados obtidos na entrevista, utilizamos a gravação direta, por meio de
um aparelho de MP4, para posterior transcrição e análise. A pesquisadora entrevistou cada
professor pessoalmente e individualmente, de forma clara e objetiva, a partir de um tópico
guia envolvendo as seguintes temáticas: a) Concepção de professor-pesquisador; b) Se os
professores se consideram professores-pesquisadores; c) Indicadores de sua atuação do-
cente que os caracterizam como professores pesquisadores; d) O mestrado como propulsor
de uma postura investigativa da docência. O tópico guia foi elaborado com a finalidade de
nortear e focar a entrevista para as questões centrais da pesquisa.
Após transcrição dos dados, procedemos à análise de conteúdo, respeitando as suas
diferentes fases cronológicas conforme destaca Bardin (1977): primeiro a pré-análise; se-
gundo a exploração do material; terceiro o tratamento dos resultados, a interferência e a in-
terpretação. Da primeira fase, são fundamentais a leitura, a escolha dos documentos e a for-
mulação de hipóteses e dos objetivos. A segunda é a fase da “administração sistemática das
102 • capítul0 5
decisões tomadas. [...] Essa fase, longa e fastidiosa, consiste essencialmente de operações
de codificação, desconto ou enumeração, em função de regras previamente formuladas”
(BARDIN, 1977, p. 101). Com ênfase para a última, a autora destaca que é uma afirmação
provisória, a qual se proporá verificar, recorrendo aos procedimentos de análise.
Neste processo de análise, o fundamental foi relacionar os dados à teoria em estudo.
Foram entrevistados oito professores, individualmente, cujas identidades permanecem em
sigilo, doravante denominadas apenas como Professor 1, Professor 2, e assim por diante.
CONEXÃO
Para conhecer os achados dessa pesquisa, acesse http://www2.pucpr.br/reol/index.php/
dialogo?dd99=pdf&dd1=7198, e leia o texto na íntegra.
CONEXÃO
Para ampliar o conhecimento
Assista ao filme Um amor quase perfeito e busque compreender algumas dimensões do
processo de pesquisar?
ATIVIDADES
01. Quais os argumentos de Libâneo e Pimenta para a compreensão da pedagogia enquan-
to ciência da prática social da educação?
02. Quais as premissas defendidas por Libâneo e Pimenta para compreender as raízes cien-
tíficas da Pedagogia?
capítulo 5 • 103
REFLEXÃO
Ao encerramos essa disciplina, é importante destacar as contribuições significativas e his-
tóricas no estudo da formação do Pedagogo, desde a Antiguidade até os dias atuais, na
busca do homem em encontrar explicações racionais para os fenômenos da realidade. Com
certeza, você tem agora condições de compreender tanto os determinantes históricos da
profissão de professor, quanto os desafios que estão se apresentando nesse momento e
num futuro próximo, com certeza um deles é formar professores pesquisadores.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
ANDRÉ, Marli. Ensinar a pesquisar: como e para quê?. IN VEIGA(Orgs.). Lições de Didática. 2ª Ed.
Editora Papirus, 2007.
ARAÚJO, Hilda Mara. Pesquisa, formação e prática docente. http://www.ufpi.br/subsiteFiles/
ppged/arquivos/files/eventos/evento2004/GT.2/GT2_29_2004.pdf, acessado em: 02 fev. 2015..
DEMO, Pedro. Pesquisa: princípio científico e educativo. 13ª Ed. São Paulo: Ed. Cortez, 2009.
LIBANEO, José Carlos; PIMENTA, Selma Garrido. Formação de profissional da educação: visão
crítica e perspectiva de mudança. Educação & Sociedade, ano XX, nº 68, Dezembro/1999.
MARLI, André (Org). Papel da Pesquisa na Formação e na Prática dos Professores (o). 8ª. Ed.
Campinas: editora Papirus, 2004.
104 • capítul0 5
GABARITO
Capítulo 1
02. Senso comum é um tipo de conhecimento que é aceito e compartilhado por um grupo
independente de ser provado ou não. É um conhecimento fragmentário, difuso, assistemáti-
co, não produzido com base em procedimentos metodológicos.
Capítulo 2
01. O processo de transição do sistema feudal para o sistema capitalista (séc. XV ao XVII),
ocorreu mediante diversos conflitos e mudanças, como a formação dos Estados Nacionais
unificados pelo regime da monarquia absolutista; o desenvolvimento das grandes navega-
ções, a implantação do sistema colonial e escravocrata nas colônias portuguesas e espanho-
las, e a formação e a consolidação da classe burguesa.
02. O sistema heliocêntrico defendido por Copérnico consiste num dos fatores de ruptura
mais marcantes no início da modernidade, indo contra uma teoria estabelecida há pratica-
mente vinte séculos. A instauração de uma nova teoria sobre o movimento da Terra também
levantou discussões sobre a veracidade dos conhecimentos religiosos até então vigentes.
Capítulo 3
01. Para os racionalistas, o conhecimento só pode ser alcançado por meio da mente. A
fonte do conhecimento verdadeiro é a razão operando por si mesma, sem o auxílio da expe-
riência sensível e controlando a própria experiência sensível.
Para o empirismo, a fonte de todo e qualquer conhecimento é a experiência sensível, res-
ponsável pelas ideias da razão e controlando o trabalho da própria razão. Todo conhecimento
advém da experiência, e não de especulações metafísicas.
capítulo 5 • 105
02. Para Popper a verdade é inalcançável, todavia devemos nos aproximar dela por tentati-
vas. O estado atual da ciência é sempre provisório. Para Popper, todo conhecimento é falível
e suscetível à correções. Dessa forma, o conhecimento científico é construído e a atitude de
colocar sob crítica toda teoria permite o aprimoramento do conhecimento científico.
Capítulo 4
106 • capítul0 5
02. O conhecimento científico tem uma qualificação muito associada as ciências naturais,
cujos princípios de quantificação, divisão e rigor são as principais marcas É a definição de re-
lações causais que aspira à formulação de leis, à luz de regularidades observadas, com vista
a prever o comportamento futuro dos fenômenos. A descoberta das leis da natureza assenta,
por um lado, e como já se referiu, no isolamento das condições iniciais relevantes (por exem-
plo, no caso da queda dos corpos, a posição inicial e a velocidade do corpo em queda) e, por
outro lado, no pressuposto de que o resultado se produzirá independentemente do lugar e
do tempo em que se realizarem as condições iniciais. Por outras palavras, a descoberta das
leis da natureza assenta no princípio de que a posição absoluta e o tempo absoluto nunca
são condições iniciais relevantes.
Capítulo 5
01. Para Libâneo e Pimenta (1999) argumentam sobre a ideia de que a atividade pedagó-
gica perpassa, hoje, toda a sociedade, extrapolando o âmbito escolar formal, abrangendo es-
feras mais amplas de educação informal e não-formal. Além disso, a pluridimensionalidade do
fenômeno educativo permite “estabelecer um corpo cientifico que tem o fenômeno educativo
em seu conjunto como objeto de estudo, com a finalidade expressa de dar coerência à mul-
tiplicidade de ações parcializadas. Para Pimenta (1996) a questão esta na necessidade de a
pedagogia postular sua especificidade epistemológica, de modo a não se conformar com uma
mera posição de campo aplicado de outras ciências que também estudam a educação. Com
base nisso, firma sua posição de que a pedagogia tem sua significação epistemológica assu-
mindo-se como ciência da prática social da educação (LIBANEO e PIMENTA, 1999, p.255 ).
capítulo 5 • 107
02. Os autores defendem,
Para eles a existência desse curso tem como suporte algumas premissas:
108 • capítul0 5
– Um currículo de pedagogia, além de contemplar como objeto de investigação a
pluralidade das práticas educativas, concentra sua temática investigativa nos saberes
pedagógicos, com a contribuição das ciências da educação, na forma de inter-relação
entre os saberes científicos. Ou seja, assume-se o entendimento de pedagogia como
ciência da prática social da educação para daí se definirem saberes pedagógicos (cf.
Pimenta 1997). A integração desconhecimentos pela inter-relação entre saberes de-
corre não apenas da pluralidade que caracteriza o fenômeno educativo, mas também
de uma tendência irrefreável das ciências no mundo contemporâneo buscarem a inte-
gração entre os saberes, sem perder de vista a especificidade disciplinar.
- O currículo terá uma forte orientação para a pesquisa, seja como prática acadê-
mica, seja como atitude. Ressaltem-se, aí, os vínculos entre o ensino e a pesquisa, a
pesquisa como forma básica de construção do saber, em confronto, em questionamen-
to, com os saberes já estabelecidos e como instrumento para desenvolvimento das
competências do pensar.
– Tal concepção de pedagogia deveria transpassar toda a formação pedagógica
nos cursos de formação de professores, da educação infantil ao Ensino Médio. (LIBA-
NEO e PIMENTA, 1999, p.257-258).
03.
• O professor é um sujeito que pensa;
• O professor pode produzir conhecimento;
• O professor que sabe fazer pesquisa e produzir conhecimento é capaz de ensinar seus
alunos a fazer o mesmo;
• O professor pode transformar sua realidade, ao tratar as dificuldades como desafios a
serem superados pela pesquisa e experimentação.
Demo (2009) defende que a pesquisa ao ser encarada como educativa faz com que o
professor entenda o educar como um processo de motivação para a criatividade do educan-
do, que vai em busca de superar os problemas buscando novas e criativas formas de solução.
Para esse autor, o processo de pesquisa tem contornos muito próprio e desafiador, a come-
çar pelo reconhecimento de que o melhor saber é aquele que sabe superar-se. Portanto, a
pesquisa como princípio educativo é a base para qualquer proposta emancipatória (DEMO,
2009, p.16).
capítulo 5 • 109
ANOTAÇÕES
110 • capítul0 5
ANOTAÇÕES
capítulo 5 • 111
ANOTAÇÕES
112 • capítul0 5