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J' Alfred Benjamin 1. Condições

A ENTREVISTA -n:~c..N'rcAs De
DE AJUDA f:JAfTe6v í!/."~ A

Tradução URJAS CORRÊA ARANTES


Revisão ESTELA. DOS SANTOS ABREU

Há algum tempo, eu estava quase chegando à minha casa,


depois de um dia de trabalho, quando um estranho se aproxi-
'l: mou de mim e perguntou se eu conhecia uma determinada ma
~'-~
;. que ele estava procurando. Apontei-lhe a direção: "Desça direto
e depois tome a sua esquerda." Certo de ter sido entendido, con-
tinuei caminhando. Notei, então, que o desconhecido estava
caminhando na direção oposta àquela que lhe indicara: "O
; senhor está indo na direção errada." "Eu sei, respondeu ele, mas
ainda não estou totalmente convencido."
Fiquei perplexo. Ali estava eu. Por muitas e muitas vezes
havia tentado salientar para meus alunos que cada um possui um
espaço vital próprio, que cada um é único, e ciGe'f)õdêr;:{õ~ ~] uciãr -·-
melhor os outros éap-~C1tãnciô-Õ~ ~ fa·~~raquilo que eles prÓplios
desejam profundamente. Aquele homem me pedira uma infor-
mação. Eu a dera do melhor modo que me era possível. Ele a
entendera- pelo menos eu tinha certeza disso. Mas tudo isso não
fora suficiente para mim. Ainda bem que nenhum dano ocorrera.
Ele me dissera que ainda não estava muito cerlo, e era isso mes-
mo. Mas, eu estava intranqüilo. Como é frágil a areia que nos
serve de base! Como precisamos ter cuidado para não ajudar
dem9siado, QU ajudar a ponto deinterterironde não n9s querem_
Martins Fontes ol!-nec~sr;itam! Tecnicamente não se tratava de uma entTevista de
Sõo Pou/o 200 I
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--··-~-----A entrevista de ajuda Condições __ - - - ·

ajuda, é claro. Mas que importância tinha isso? Sempre seremos às vezes, d~ necessidade - a de arranjar-se com o que possa
principiantes, pensei comigo mesmo enquanto abria a porta de conseguir. Bstou supondo que você tenha uma sala. Certa vez
minha casa- percebendo, admito, que eu era um deles. ajudei a instalar um centro de reabilitação em Israel. Os prédios
Muitos elementos ajudam a configurar a entrevista de estavam looge da fase de acabamento, mas os encarregados
ajuda. É preciso começar por algum lugar, e as condições favo- queriam açâio imediata, e nos telegrafaram dizendo: "Entrevis-
ráveis que gostaríamos de criar para a entrevista são um ponto tas podem s;er feitas em barracas.'' Telegrafamos em resposta:
de partida conveniente- condições destinadas a facilitar e a não "Enviem barracas."
atrapalhar o diálogo sério e intencional no qual nos engajare- De fato, uma entrevista de ajuda pode ser realizada em
mos logo que o entrevistado chegue. Ele ainda não chegou, e quase todos os lugares, mas em geral imaginamos que aconteça
isso é um pouco reconfortante porque, na verdade, temos medo em urna sahi. Nunca fui capaz de dizer a alguém como deveria
dele - não realmente dele, pois não sabemos nada, ou muito ser o aspecto dessa sala. A única coisa que posso afirmar é que
pouco, sobre ele, mas de nossa interação com ele, e dele conos- não deve parecer ameaçadora, ser barulhenta ou provocar dis-
co. Estamos um pouco ansiosos. À medida que tomamos maior trações. O que nela se encontra, dela faz parte, e o entrevistado
consciência dessa inquietação, podemos começar a relaxar um se adaptará a isso. Em circunstâncias normais, nada que faça
pouco. Agora, pelo menos, sabemos como nos sentimos. Não parte do equipamento do entrevistador profissional precisa ser
sabemos como ele se sente, mas ousamos supor que se sente escondido. O que não queremos que o entrevistado veja - fi-
mais ou menos como nós mesmos, se não pior. chas de outros clientes, anotações de outros estudantes, eletro-
Logo ele estará aqui. O que podemos fazer para tornar esta cardiogramas de outros pacientes, os restos de nosso almoço -
entrevista tão útil para ele quanto possível? Não estou sugerin- pode ser tirado da sala antes que o entrevistado entre. A atmos-
do que quando tivermos mais prática, e a entrevista já estiver fera profissional de uma sala não precisa ser camuflada. Afinal
integrada à nossa rotina cotidiana, continuaremos a passar pelo de contas, o entrevistado sabe que está diante de um profissio-
mesmo estado de tensão. Porém, estou certo de que tanto as nal, e esse tipo de sala poderá até mesmo ajudá-lo a focalizar o
condições externas, como as internas, que criamos para o entre- assunto sobn:! que deseja falar.
Nosso objetivo é proporcionar uma atmosfera que se mos-
vistado, antes de sua chegada e enquanto está conosco, são de
tre mais propícia à comunicação. Cada entrevistador decidirá
grande importância. A atmosfera resultante, se lograrmos nos-
sobre como chegar a isso. A sala também tem de ser adequada a
sos objetivos, será intangível, mas ainda assim sentida pelo
ele, já que permanecerá nela grande parte do tempo. Caso se
entrevistado durante a própria entrevista, ou então ele se dará
sinta melhor com uma mesa desarrumada, suponho que isso
conta disso talvez retrospectivamente.
não incomodará a maioria das pessoas, a menos que comece a
remexer em ~eus papéis enquanto o eilltrevistado está falando.
Quanto às roupas que o entrevistador usará, tudo o que posso
Fatores externos e atmosfera
sugerir é que devem ser apropriadas. Tannbém aqui cada um deci-
dirá o que isso significa para ele. Além do mais, ninguém pode
A sala
adivinhar ou satisfazer as expectativas de todos os entrevista-
É difícil especificar as condições externas, pois o modo dos, restando portanto ao entrevistador :assumir sua própria per-
como você organiza e decora sua sala é uma questão de gosto e, sonalidade e padrões profissionais minimos.
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A questão de como dispor as cadeiras surge com freqüên~ utilidade, poderá assustar o entrevistado seguinte, que está es-
cia. Na maioria das vezes estão envolvidas somente duas pes- perando, ou, no mínimo, torná-lo mais ansioso do que já está. A
soas e, habitualmente, é o entrevistador quem decide onde am- equipe de auxiliares normalmente coopera, se tem conhecimen-
bos irão se sentar. Até onde sei, também aqui não há uma res- to do que isso representa e se foi informada de que você está
posta definitiva. Alguns entrevistadores preferem sentar-se atrás entrevistando. Precisamos mais de comunicação que de avisos.
de uma mesa, olhando o entrevistado de frente, e acreditam que
essa disposição é desejável para ambas as partes. Outros se sen-
tem melhor quando encaram o entrevistado sem uma mesa Fatores internos e atmosfera
entre eles. Há ainda os que preferem duas cadeiras igualmente
confortáveis, próximas uma da outra, num ângulo de noventa Não acho que seja mais fácil ser especifico a respeito das
graus, com uma mesinha por perto. Essa disposição é a que
condições internas mais favoráveis à entrevista de ajuda. Con-
melhor funciona para mim. O entrevistado pode me fitar quan-
tudo, acredito que essas são mais importantes para o entrevista-
do quiser, e em outros momentos pode olhar para a frente, sem
do do que todas as condições externas reunidas, pois as internas
me ver em seu caminho. Também eu me sinto à vontade. A
existem em nós, o entrevistador.
mesinha próxima preenche suas funções normais e, se desne-
cessária, também não incomoda ninguém. Trazer-se a si mesmo; desejo de ajudar
Interrupções A questão é: o que trazemos conosco, dentro de nós, a nos-
so respeito, que possa ajudar, bloquear ou não afetar o entrevis-
As condições externas que podem e devem ser evitadas
tado, de um modo ou de outro? Aqui, novamente, não disponho
incluem interferências e interrupções. Neste ponto, sou intransi-
de respostas, mas quero apontar duas condições ou fatores in-
gente. A entrevista de ajuda é exigente para ambas as partes. Do
ternos que considero básicos:
entrevistador exige, entre outras coisas, que se concentre o mais
completamente possível no que está acontecendo ali, criando 1. Trazer para a entrevista precisamente tanto de nós mes-
desse modo a relação e aumentando a confiança. As interrup- mos quanto sejamos capazes, detendo-nos logicamente no pon-
ções externas só servem para prejudicar. Chamadas telefônicas, to em que isso possa constituir obstáculo ao entrevistado ou ne-
batidas à porta, alguém que quer dar "uma palavrinha" com gar a ajuda de que ele necessita.
você, secretárias que precisam de sua assinatura "imediatamen- 2. Sentir dentro de nós mesmos que desejamos ajudá-lo
te" num documento -tudo isso pode destruir em segundos aqui- tanto quanto possível, e que nada naquele momento é mais
lo que você e o entrevistado tentaram criar num tempo conside- impo11ante. O fato de mantermos tal atitude permitirá que ele,
rável. A entrevista de ajuda não é sagrada, mas é pessoal e mere- no decorrer da entrevista, tome consciência disso.
ce e necessita o respeito que desejamos mostrar ao próprio en- Trata-se de ideais que raramente realizamos por completo,
trevistado. Ponderado este fato, encontraremos um modo de mas quando o entrevistado percebe que estamos fazendo o me-
obter a cooperação necessária de nossos colaboradores. lhor que nos é possível nesse sentido, isso vai ter muito signifi-
Muitos entrevistadores costumam colocar um aviso na cado para ele e acabará sendo útil. Embora nem sempre ele seja
porta: "Favor não perturbar", ou algo parecido. Apesar de sua capaz de formulá-lo, provavelmente levará da entrevista - se
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nada mais concreto - o sentimento de que pode confiar em nós certas condições internas ou atitudes podem nos auxiliar. Co-
como pessoas e a convicção de que o respeitamos como tal. nhecer-se, gostar de si próprio, sentir-se bem consigo mesmo, é
A confiança do entrevistado no entrevistador e a convicção uma dessas condições.
de que aquele o respeita representam, evidentemente, apenas
uma parte da finalidade da entrevista de ajuda, seja ela entre Conhecer a si mesmo; cor?fiar nas próprias idéias
~------ .. ~ ---··. ·-· -·--··--··.
professor e aluno, chefe e operário, médico e paciente, seja entre
Seja ou não um lugar-comum, acredito que _3ll_l1!.1.~2.._Il}ais.
,; terapeuta em reabilitação e cliente; porém, sem isso, muito
nos conheceJ:nos, melhor podemos entender, ªV:ª!!ftre.~g_!W:9lélr
pouco de realmente positivo será alcançado. J2~~1~tré1ÇQ~.~- c_(lth~
no-sstJ ~o·I;;portamento e melhor compreender e apreciar o com-
\_g()ricas como "Pode confiar em mim", ou "Eu o respeito inteira-
pod.arneÍlto-dos outros~ Quanto mais familiarizados com nós
·', me11_te", ~-~I11dttvida não ajudarão, se o entTevistado não'asseí.itir
mesmos, menor a ameaça que sentimos diante do que encontra-
1
c()t11o verdadeiras. ~()_t:_~!I~Q)<lcl()~ ~~ c..9nfiança~.r:espeiió_niútuó
mos. Podemos até mesmo chegar a ponto de gostar de algumas
estão claramente presentes na entrevista, e isso é sentido por
coisas nossas e, portanto, tolerar melhor aquelas ele que não
\·, m:t_~bas as _pcn:tcs; não haverá neces~id<lcle-de :expressã() yt;:rbal.
Acredito que os que ensinam e escrevem sobre o campo das gostamos nada ou só um pouco. E, então, quanto mais prosse-
relações interpessoais se referem basicamente a isso quando guimos no exame e na vontade de descobrir, é possível que con-
falam ele "contato", boa "relação" e bom "relacionamento"; e tinuemos mudando e crescendo. Voltados para nós mesmos,
agora elevemos considerar a atmosfera que propicia essas coisas. podemos nos sentir à vontade conosco e, assim, sermos capazes
Essa atmosfera intangível talvez seja particularmente de ajudar os outros a se sentirem bem consigo mesmos e conos-
determinada pelo interesse que sentimos e mostramos pelo que co. Além disso, porque estamos bem com o nosso self, men()r
o entrevistado está dizendo, e pela compreensão dele, de seus será a tendência deste a Íl~terferir em nossa compreensão do seff
sentimentos e atitudes. Comunicamos todas essas coisas, ou ao outro durante a entrevista.
sua ausência, de muitas formas sutis, das quais o entrevistado Essa atitude ajudará o entrevistado a confiar em nós. Ele
pode ter mais consciência que nós mesmos. Nossa e292ressão / saberá quem somos, posto que nós, aceitando o que somos, não
~.
f;lc.ialre:vehuuuitQ. Movimentos e gestoq.C.Qmpl~t~1i1~~Ul~~d1-~; '- '··
· ..,.,.,~ ... _._,..,,,,.,,--,.........,_...,,.".~····,.,,-~. ······- '' '' ""'!':w·•·,-,;·o;.,., )
teremos nenhuma necessidade de nos esconder sob uma másca-
apoiando, neg~I:tQ2tcgnürm::tnc!<?,JJÜeit<lt1~l<;u;>g"~.mb.ªE~93ndo. <' .,) ra. Ele sentirá que não estamos nos escondendo e, conseqüente-
Q.}:qin.de i;;~~à
..
voz
- . é ouvido
. pelo entrevistado, .e. o f~~ d~s.!4:tí: mente, se esconderá menos. Sentir-se-á quelido e pode corres-
se existe confirmação de nossas palavras, ou se essas não pas- ponder ao nosso sentÍ111ento, talvez sem saber que realmente po-
saí11.dê uma máscài·a· que·:~: t()ú1-d_~__y_9~.x~y_e.J~, ····~~ss~trt~a!1 ~~-: demos gostar dele porque nos sentimos bem com nós mesmos.
''Logro, fingimento, cuidado!" Para melhor ou para pior, esta- Estou sugerindo que nossa presença necessária na entrevista
mos expostos ao entrevistado, e quase tudo o que fazemos ou não precisa ser uma carga pesada, que não precisamos estar preo-
deixamos de fazer é anotado e pesado. cupados conosco, mas que podemos nos concentrar integral-
E, assim, retornamos a nós próprios. O que levar de nós mente no entrevistado. ~2cl_~p~O§ est:l!_ E~~~~a~?~-~~~--~:~~t~_t:, i
mesmos para a entrevista? Somos o único termo conhecido ela tentar compreender tantoquanto possível, tentar descobnr o I
equação. De certo modo, é disso que tratam os capítulos se- qué.é senúr C:oino eie sex1te - em resumo: eS:t~ú:~ªl.í:ri~1I!_~Ii!i~--~ ·
guintes. Para além de nossa suposta competência profissional, ressado, porque nada em nós se itlt~~()~_!!Cl. __qlle__v~m._c!~Ie._
i

26 Condições 27
A entrevista de ajuda

Nunca atil}g!rs:mQ§ por intei:ro esse objetivo, mas é tentando dificuldade. Em vez de inibi-lo, tal franqueza pode encorajá-lo
que podemos chegar mais perto. a enfrentar sua situação mais vigorosamente. Novamente estou
Confiar em nossas próprias idéias e sentimentos constitui admitindo que nos aceitamos o suficiente tetlnosne-=- para-não
outra importante condição interna. Relativamente bem com nós :~~~~id~de de' parecer'"ãbs õuti:os"'como' todo~poderos-os: or1is-.
mesmos, e concentrados no entrevlstido, descobriremos que
1
ciúiies e prÓximos cfâ perfefção.Aquí estou-preocupado antes
idéias e sentimentos emergirão em nós. Devemos ouvir cuida- de mais nada com a integridade em relação a nós mesmos.
dosamente essás idéias e sentimentos, assim como os que nas- Obviamente, cada um terá de decidir o ponto em que se situa a
cem do entrevistado. Dependerásempre de nós decidir se,.qwm:: fronteira entre a honestidade e a imprudência. Por exemplo,
do e como expressá-los: Acredito que uma vez estabelecidos a podemos sentir sinceramente que o entrevistado é arrogante ou
c~iíúànça e orespelto,-exprimir sentimentos e idéias como nos- dependente, mas talvez não seja adequado ou útil dizê-lo dessa
sos, sem comprometer o entrevistado, pode ajudar mais do que , ' fonna, ou talvez seja melhor nem dizê-lo.
embaraçar. Suponho que tal comunicação nossa obviamente l Uma observação final. M,uitas vez~~g~_ob~eEy~dgre.s_pr:il1:,
ocorrerá quando o entrevistado não se sentir ameaçado por ela, cipiantes estão tão preocupados-com-o que irão dizer en~ segui-
---~~·- ---·- '"'' - - "•••"' ""••on•••"-"""- """-•" "•••-'·•"•-•-·••••-••'••eC<'••~·'·'--'••'~'r•'"" ••- -•

quando estiver pronto para ouvi-la, e tiver segurança de nosso da que têm dificuldade em ouvir e absorver o qtt~ _e~tá gçopte~ .
respeito contínuo, sem importar o que faça com nossos senti- cêf!(lü. Não é tÚna atitude berlü1ca, erl1bo~~ c~mpreensível. Tal-
mentos e idéias expressados. Em minha opinião, isto não impli- ~~z leve algum tempo descobrir que, em gerã(o--éltledi~emos é
ca lhe dizer o que fazer:~ão_ o faríamos, mesn1() que pergpntª§~ muito menos importante do que nos parece. Quando começa-
se. Antes, tal comunicação nos ajuda a desempenhar o papel de. mos, podemos estar tão entusiasmados que nossa própria ansie-
um agente ativo, cooperativo e presente, durante a entrevista. dade interfere no processo. Podemos estar tão inseguros que
precisamos provar que estamos confiantes. Não conheço remé-
Ser honesto, ouvir e abson1er dio para isso, exceto paciência e autoconsciência. O entrevista-
do em geral nosmoStrari't'õ"cãiilirifío-certo-=seó permitirmos.
Segue-se logicamente uma outra condição interna: hones- Lewin (1935) e outros autores falam do espaço vital que
tidade com nós mesmos para sermos honestos com ele. Se não cada um de nós ocupa. O que tenho tentado dizer se resume
ouvimos ou entendemos alguma coisa, se, absortos, não o escu- \ nisso: parece-me que, ao entrevistar, o melhor é agir de modo a
tamos, se tomamos consciência de que não estávamos inteira- } não impormos nosso espaço vi tal ao enirêvistãêfü;"c"õnfun"d'i'r~
mente com ele, é muito melhor dizê-lo do que agir como se .,nossõ-cõili~õ-aeTê;-e:Uüª,ººill{l"9it(\;~õ~ çJ~f9rg;~,~~~r~~itá-lü-á
tivéssemos prestado atenção, afirmando que ele não foi claro e
e~-píoiir seup~óprjo. espaço ..vital emr(l:z;ão cl<l n()§§;~pr~s~nÇâ;
ou pretendendo que o que perdemos provavelmente não tinha nao apesar dela. Sentindo confiança e respeito, ele pod~rá lan:
importância. Penso que a maior parte dos entrevistados sente~ se_" çar~se nessa exploração como nunca tentara antes - uma nova
rpelhor com entrevistadores que )he pÚe6em:-ê6t"~s-11umanos experiência para ele, portanto, e que pode enriquecê-lo para
falíveis. Toma-se mais fácil, assim, revelarem sua própria fali- além do que dizemos ou deixamos de dizer.
bilidadé.
A honestidade recíproca desta natureza pode incluir, às
vezes, dizer ao entrevistado que não temos a solução para sua
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_ A entrevista de ajuda

Mecanismos de enfrentamento vs.


mecanismos de defesa
2. Estágios

Sigmund Freud (1955, 1936) e sua filha Anna (1946) nos


propiciaram ínsights inovadores sobre os mecanismos de defesa
- coisas que fazemos inconscientemente para proteger nosso
ego. Mais recentemente, pesquisadores do comportamento
humano salientaram os mecanismos de enfrentamento - coisas
quefazcmos_conscientemente para satisfazer as imposiçõ~~'da
reaHdade (Maslow, 1954; Wrighi, 1960; White, 1963). Sem ne-
-g;-ãi:--álinportância vital das defesas, afirmam que por vezes é
possível confrontar-se, por exemplo, com o desapontamento,
em lugar de reprimi-lo ou racionalizá-lo. No tipo de atmosfera
que descrevi acima, pode ser possível ao entrevistado enfrentar Finalmente chegou o grande dia. Pode não parecer tão gran-
a realidade ao invés de defender-se dela, negá-la ou distorcê-la de para você no momento, mas logo estará terminado, e sua pri-
até ficar irreconhecível. meira entrevista se tornará parte de seu passado. O entrevistado
Todos conhecem a velha fábula da raposa que desejava re- está esperando do outro lado da porta. E veio, apesar do mau
galar-se com algumas uvas de suculenta aparência. Ao desco- tempo. Você esperava que não ... mas, agora, está alegre por ele
brir que estavam fora de seu alcance, decidiu que as uvas esta- se encontrar aqui. Afinal esse é o momento pelo qual esperou.
vam verdes. Não admitindo que lhe faltavam as necessárias ha- Você leu, estudou, praticou - tudo isso ou apenas parte - e o
bilidades ou instmmentos, e depreciando a qualidade das uvas, momento de agir aí está. Ao se aproximar cautelosamente ela
a raposa nos dá um exemplo típico de mecanismo de defesa. porta para recebê-lo, sente tudo se esvaindo - tudo o que você
E.11frentar, pelo contrário, é epc;arar os fatos e deci~i~,--~llt~o, o aprendeu sobre desenvolvimento humano, psicologia da perso-
que fazer com eles. Se pudermos criar uma atmosfera em que o nalidade, meio cultural; tudo o que você exercitou em simula-
co11fl:-onto seja alcançado, nossa entrevista de ajuda poderá aju- ções ou troca de papéis; todas as coisas que repetiu para si
dar mais do que se pode prever. mesmo sobre o que fazer ou não fazer durante uma entrevista.
Tudo isso, e mais ainda, não existe mais, e você se sente comple-
tamente só e desprotegido, com apenas uma porta entre ele e
você. Mas, no fim das contas, é a você que ele veio ver, e assim
que você o fizer entrar, acontecerá a lição mais importante que
poderia receber sobre entrevistas: nela não existe ninguém a não
ser você e o entrevistado. Com o correr do tempo, acabará se
acostumando e, em pouco, começará a aceitá-la como é: a base
do relacionamento de <Uuda.
Sem dúvida você já havia feito entrevistas antes, mas nun-
ca esteve tão consciente disso como agora- ou talvez não tives-
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se tomado consciência alguma. Nesse momento você está as- Iniciada pelo entrevistado
sustado e indeciso. Só pode contar com você- você e ele, espe-
rando do outro lado da porta. Se ao menos pudesse contar com Alguém pede para vê-lo. O mais §ens(lto afazer, ao que
ele ... Mas você pode, acredito; e o fará cada vez mais, à medida parece, é deixá-lo dizer o que? trouxe atévocê. Simples, mas
que o tempo passar. Como ele veio com um objetivo específico, ríein-s~~pre fácil de fazer. À~_yezessentirnos que d~veríamos ..
pode saber melhor como você poderá ajudá-lo. Dessa maneira, ~aber o que o trol[xee deixar que ele tome conhecimento de que

se você aprender a confiar nele, isso o ajudará a dar-lhe a ajuda sabemos. Assim, podemos dizer: "Você deve querer saber como
de que necessita. Demorará algum tempo aprender essa impor- Johnny está se saindo com seu novo professor." Isso pode ser
tante lição, pois nesse exato momento você está muito preocu- correto, ou não. Se for, nada ganhamos além, talvez, de nosso
pado consigo mesmo, e tem a sensação de estar completamente sentimento de perspicácia. Se não for, o entrevistado poderá ser
só e vulnerável. colocado em situação embaraçosa. Pode sentir que era com
Mais uma palavra antes de girar a maçaneta. Disse e reafir- aquele assunto que deveria estar preocupado e, para não contra-
marei neste livro muitas coisas em que creio sinceramente. São dizer o entrevistador, pode concordar, mesmo que pretenda
verdadeiras para mim, e descobri que nonnalmente dão certo. algo bem diferente. O entrevistado mais confiante simplesmen-
Mas talvez não sejam verdadeiras ou úteis para você. As res- te dirá: "Não, o motivo por que vim é ..." Mas, sem dúvida, esta-
postas sugeridas aqui- na medida em que são respostas- pode- rá pensando: "Por que você precisa me dizer para que estou
rão não ser válidas para você. E certamente não precisam ser. aqui? Assim que você deixar, eu lhe contarei."
Mas se o estimularem a questioná-las, e daí surgirem respostas Às vezes podemos estar certos de que sabemos o que o
significativas e aproveitáveis para você, sentir-me-ei mais que levou a nos procunir, e mostrar-lhe isso de saída. Naturalmente,
recompensado por tê-las posto neste trabalho. A entrevista de pode acontecer que acertemos, e o fato de dizer a alguns entre-
ajuda é mais uma arte e uma habilidade do que uma ciência, e vistados por que vieram pode ajudá-los a começar a entrevista.
cada artista precisa descobrir seu próprio estilo e os instmmen- No entanto, na minha opinião, se alguém pediu para nos ver, e
tos para trabalhar melhor. O estilo amadurece com experiência, veio, é melhor deixá-lo expor em suas próprias palavras exata-
estímulo e reflexão. Não pretendo que meu estilo seja adotado mente o que o trouxe, o que há de especial para contar. Termi-
por você, mas estou muito interessado em estimulá-lo a desen- nadas as saudações habituais, estando ambos acomodados, o
volver e a refletir sobre o seu próprio. melhor a fazer é ajudá-lo a iniciar a entrevista, se ele necessitar
disso (o que não acontece normalmente), e ouvir o mais atenta-
mente possível o que tem a dizer. S,e_<wre~l}tamos que algo deve
Abrindo a primeira entrevista ser dito, devemos fazê-lo de:Jorma rápida\ e, n~ut-l·à~ para não ;
interferir em seu rumo: "Conte-me, por favor, o que o trouxe
Gosto de distinguir dois tipos de primeira entrevista: a ini- aqui", ou "Ahn-ahn ... vá em frente", ou "Compreendo que quis
ciada pelo entrevistado, e a iniciada pelo entrevistador. Vamos me ver", ou "Fique à vontade para falar sobre o que você está
começar pela primeira. pensando". /
Sou firmemente contrário a todas as fónnulas para entre-
vista. Dessa maneira, sou cauteloso com introduções tais como:
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"Estou contente por você ter vindo esta manhã", porque posso estacionar", ou "É bom o dia hoje estar ensolarado depois de
não estar ou não permanecer contente por muito tempo. Tam- toda aquela chuva, não é?", ou "Sei que é dificil começar.
pouco aprecio frases como: "Por favor, em que lhe posso ser Aceita um cigarro?".
útil?". Não pretendo pôr em dúvida o sincero desejo de auxiliar Q~~asionalm~nte, o entrevistado poderá iniciar com uma
do entrevistador. A questão é que nem sempre o entrevistado pergunta: "Quem deve falar sou eu?", ou "Você está esperando
sabe, no começo, que tipo de ajuda você pode dar. Pode saber, que eu comece?", ou "Preciso falar?". Nesse caso, acredito que
mas simplesmente não ser capaz de verbalizá-la de imediato. o mais plausível é dizer um "Sim" ou "Alm-ahn", acompanha-
Pode saber, mas receia situá-la tão abruptamente no início. Não dos ou não de aceno de cabeça, e acrescentar, se necessário,
estamos certos se ele aprecia a idéia de vir até ali para ser ajuda- algo sobre talvez não ser muito fácil, mas que só ele sabe o que
do, ou que sentido dá à palavra "ajuda". Por fim, nossa cultura o trouxe até ali e deseja discutir.
está tão permeada de "Posso ajudá-lo?" cuja intenção é clara-
mente outra que é melhor tentar, até onde for possível, ajudar Iniciada pelo entrevistador
sem valer-se dessa expressão.
Também não simpatizo com a palavra "problema". "Qual J:.: entrevista se inicia com uma nota diferente quando foi o
o problema que você gostaria de discutir?" Esse tipo de abetiu- entrevistador que a provocou.Percebo aí uma regra e um peri-
ra também me preocupa por diversas razões. Primeiro, pode ser go. A regra é simples: situar no início, com clareza, aquilo que
que o entrevistado não tenha um problema. Segundo, pode levou você a pedir ao entrevistadoqu,~~viesse vê-k1. Dessa ma-
ainda não ter pensado nisso como um problema, até que coloca- neira, o entrevistador no. setor de admissãô•de pessoal pode dizer:
mos a palavra em sua boca. Terceiro, a palavra "problema" é "Examinei atentamente o fonnulário que preencheu outro dia, e
pesada, carregada, como algo que é melhor evitar do que en- pedi que viesse para conversarmos sobre os tipos de trabalho
frentar. Não estou sugerindo que as pessoas não têm problemas; em que está interessado e de que maneira podemos ser úteis. Vi
mas podem tê-los e não saber ou não desejar enfrentar o fato de que você, nessa parte do formulário, escreveu que ..." Q médico
sua existência. O uso da palavra "problema" no início, fora de pode observar: "Pedi a você que viesse para conversarmos
contexto e sem saber como o entrevistado reagirá, irá mais em- sobre os resultados daqueles testes, e que já estão aqui; assim
baraçar que ajudar. vejamos ..." Um conselheiro de centro de reabilitação pode co-
E agora, um paradoxo. Quando alguém vem nos procurar meçar assim: "Vocf]âestá aqt~i há uma semana, Betty, e pedi
porque o deseja sinceramente, e porque iniciou o contato com que viesse me ver para conversarmos a respeito de suas impres-
esse objetivo, poderá estar tão ansioso que quase tudo o que dis- sões deste lugar e de outros assuntos que queira discutir." Nesse
sermos não será notado. Desde que não obstruamos seu cami- momento, poderá fazer aquilo que realmente quer: escutar Betty.
nho, ele começará a falar. O grande perigQlque existe nas sessões iniciadas pelo en-
Às vezes, é cabível ou necessária uma introdução por parte trevistador é a possibilidade de ela~~s~Jnmsformarem em monó-
do entrevistador, algo que ajude o entrevistado a iniciar. Mas, logos ou conferências, ou uma mistura elos dois. Um pai, cha-
devemos .tentar isso somente quando sentimos que será útiL mado pelo profess~r-para discutir problemas de seu filho, ob-
Frases curtas,~como as seguintes, podem quebrar o gelo: "Com servou: "Se você me chamou apenas para ouvi-lo, seria melhor
o trânsito confuso daqui, você deve ter tido dificuldades para que tivesse escrito uma carta." Esse perigo pode ser evitado se
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·~ ~--- ______ A entrevista de ajuda Estágios-------··

tomarmos o cuidado de permanecermos quietos, depois de ter- só interessam ao nosso empregador. O entrevistado pode ape-
mos indicado o propósito da entrevista e dado algüma informa- !1as querer saber quem. somos numa deterrrünada agência ou
ção, se for o caso, que consideramos necessária. Em geral, o en- instituição, com a intenção somente de saber se está com a pes-
trevistado terá muito a dizer se perceber que estamos prontos e ~oa certa, se somos quem ele deveria ver, e não outro. Preci-
desejosos de ouvi-lo. Se objetivamos uma conversa, uma boa co- samos1apenfls nos identificar:>e situar nossa posição ali para que
municação, precisamos cuidar para que o entrevistado tenha ele prossiga com tranqüilidade. Se nossa posição chegar a ser
\ opor1unid<:~di de expmssaJ-se plenamente, É a única forma de colocada em discussão, será apenas em termos daquilo que po-
·descobrir se e como ele nos entendeu, o que pensa e como se demos ou não fazer. Isso deve ser claramente explicado quando
'sente. Se não for assim, será preferível, realmente, mandar oportuno. Exemplos:
uma cmia.
"Suponho que você sabe para que pedi que viesse", ou "Meu nome é F. Sou a conselheira escolar, e você pode dis-
"Nós dois sabemos por que você está aqui", ou "Você pode ten- cutir comigo tudo o que a preocupa sobre Jane."
tar adivinhar por que pedi que viesse até aqui" são aberturas "Nossa agência oferece o serviço que você está procurando.
que, levadas a sério, podem ser encaradas por um ângulo amea- A pessoa encarregada é a Srta. Smith e, se quiser, posso marcar
çador. Não há lugar para essas reservas inúteis na entrevista; e o uma hora para você."
entrevistado pode não saber por que está ali e, ainda mais, "Percebo que nós dois gostaríamos de ouvir uma opinião
temer que não acreditemos nisso. Pode pensar que sabe o moti- médica. Aqui não temos nenhum departamento apropriado, mas
vo, e não desejar dizê-lo; ou pode imaginar uma série de razões temos convênio com o hospital X. Quer que prepare sua guia de
e confundir-se. Também pode considerar isso uma provocação, encaminhamento?"
e reagir à altura; ou pode decidir lutar contra nós, em vez de
cooperar. É bastante duvidoso que esses tipos de abertura pro-
movam o encontro de duas pessoas; pelo contrário, podem Emprego deformulários
forçá-las a se separar ou mantê-las afastadas. ~credito que o
- entrevistado tem o direito de saber imediatamente o nosso obje- Por fim, chegamos aos formulários. Francamente não me
tivo ao chamá-lo. Se a intenção é ajudar, qmu1to mais honestos preocupo muito com eles, embora aprecie sua função em nossa
-e abertos formos, da mesma forma ele o será. o resultado será sociedade. A informação pedida é com freqüência dada com
relutância, e recebida com precaução. Como resultado, os for-
uma entrevista verdadeira, na qual duas pessoas conversam de
maneira séria e objetiva. mulários podem se colocar enh·e o entrevistado e o entrevista-
dor. Penso ser melhor preencher os formulários necessári-os du-
rante e como parte integrante do processo de entrevista. Às ve-
Explicação de nosso papel zes essa formalidade pode ser cumprida de maneira rápida e
sem prejuízo. "Antes de continuarmos, Sr. Jones, eis aqui um
Ainda duas reflexões sobre essa fase de aberlma. Acho breve formulário que precisamos preencher. Se tiver alguma
melhor não envolver o entrevistado nas complexidades de nos- reserva com respeito a alguma das perguntas, por favor me in-
so papel, profissão ou background profissional, que realmente forme quando chegar lá e tentaremos ver do que se trata."
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Se o formulário é longo, complicado, ou ambos, o entre- mos esquecido, se ele não era imporiante para nós, se o mantí-
vistador poderá marcar um encontro especial com o entrevista- nhamos esperando por um motivo que lhe é desconhecido, e se
do para, juntos, o preencherem, aproveitando a ocasião para dar fomos sinceros com ele: É óbvio o que isso significa em termos
início ao relacionamento. As pessoas, em geral, aceitam sim- de confiança e respeito. Os encontros devem ocorrer na hora esti~
plesmente responder perguntas como um fato inevitável da vida, pulada ou, então, dê uina boa e verdadeira razão: "Sei que temos
a não ser que tenham respondido às mesmas perguntas muitas e lÍm encontro às nove, Mary, mas aconteceu um fato inteiramente
muitas vezes, em diversas agências, ou a pessoas diferentes nu- imprevisto e, assim, Lerá que desculpar-me por me atrasar uns
ma mesma agência. Ninguém poderá culpá-las, então, se empa- quinze minutos. Sinto muito, mas esse assunto não pode esperar."
carem. Mas se não for esse o caso, c o entrevistado perceber por De outro lado, quando a mãe de Shirley corre à escola e
nosso comportamento que pode situar suas reservas- que pode insiste em vê-lo irnediatamcnte, não há normalmente nenhum
discutir item por item - não haverá dificuldades, desde que motivo para cancelar tudo e recebê-la. Não havia sido marcado
tenhamos aceito o fonnulário como algo importante ou, pelo nenhum encontro, não é uma emergência e você realmente está
menos, como um fato inevitável da vida. Um bom relaciona- ocupado. Se ela precisa vê-lo hoje, terá de esperar até você ter
mento inicial pode ser construído se ambas as partes aceitarem uma hora livre. Ela deve ser informada disso de forma polida,
essa inevitabilidade. Enquanto trabalham juntos, podem desco- mas firme. Se a receber preocupado com outros assuntos, poderá
brir muito um do outro, e criar uma atmosfera adequada de estar distraído e tenso demais para escutá-la da maneira que gos-
modo que, preenchido o formulário, a entrevista prossiga sem taria. A honestidade tem o dom de facilitar um relacionamento. 1
arestas. '· Nonüalmente você deve _dizer às pessoas, implícita ou ex-
plicitamente, quanto de seu tempo pertence a elas. lsso estrutu-
1:~. a entrevista. "Desculpe-me, Sra. Brown, mas dentro de dez
O fator tempo minutos tenho uma reunião com minha equipe. Se não puder-
mos terminar até lá, marcaremos outro encontro." Isso é prefe-
Nossa cultura mede muito em termos de tempo, c dá a ele rível a continuar sem dizer nada, mas sentindo-se cada vez mais
um grande valor. Costumeiramente dizemos "Mais vale perder pressionado, c desejando que ela se levante e saia. Daí para a
um minuto do que a vida", "O tempo não espera por ninguém" frente, você não a ouve, e talvez ainda sinta raiva por ela não ter
e "Tempo é dinheiro". Assim sendo, em nossa cultura, tempo é terminado, e você com aquele encontro importante (sobre o
um fator importante para a eútrevista. Ficamos imaginando a qual, é lógico, ela nada sabe). Uma assistente social pode dizer:
importância do fato de o entrevistado ter vindo tarde ou cedo, e "Carol, concordamos em nos encontrar todas as segumlas-fei-
o significado que isso tem para ele. Em outras palavras, temos ras às quatro horas, e vamos ler em cada sessão quarenta e cinco
consciência do tempo, e supomos que o entrevistado também minutos para falarmos sobre tudo o que você quiser."
_tenha -- c, em geral, ele tem. ~osso comportamento também é Quando diversas entrevistas estão programadas, o fator
observado por ele nessa dimensão. Quando marcamos uma en- tempo é parte integrante da atmosfera geral e do relacionamen-
trevista para as dez da manhã, estamos lá, e disponíveis para o to. Em entrevistas únicas, esse tipo ele estruturação de tempo
entrevistado? lsso é mais que mera cortesia. Quanto mais ele não é muito importante, mas mesmo assim os limites devem ser
esperou depois das dez, mais ficou imaginando se não o tería- colocados com clareza. Às vezes, as pessoas continuam falando
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sem perceber que estão se repetindo. Talvez não saibam como você poderá estar falando mentalmente com o entrevistado A,
finalizar, levantar e sair. Como frutos ele nossa sociedade, po- · enquanto o entrevistado B está ali sentado, com direito a rece-
dem considerar que é mais educado continuar sentadas, espe- /ber sua atenção integral. Afaste o entrevistado A de sua mente,
rando pelo nosso sinal de encerramento da entrevista. n\' l_ãi11es de receber B. Para fazê-lo, poderá necessitar de alguns
Não estou afirmando que elevemos apressar o entrevistado, minutos para ponderar os fatos cuidadosamente, anotar em sua
mas que devemos deixar claro para ele o tempo disponível, de agenda o que prometeu verificar para o entrevistado A, ou sim-
modo que se oriente. Não tenho mna resposta precisa sobre quan- plesmente reclinar-se na cadeira ou dar uma volta, preparan-
to tempo deve dl!àtr urna entrevist;;t. Entretanto, penso que, em do-se para B.
geral serão suficientes 30 a 45 minutos! O que não foi dito nes-
se período, provavelmente permaneceria não revelado mesmo
se estendêssemos o tempo da entrevista, e haveria muita repeti- Três estágios principais
ção. Esse é o limite máximo; se depois de dez minutos ambos
perceberem que terminaram, não há razão para continuar senta- Como a Gália de César, a §ntrevista se divide em tTês par-
'\ dos só porque a meia-hora ainda não escoou. "Muito bem, se tes. Mas, diferentemente daquela, essa divisão nem sempre é
não há mais nada a acrescentar, creio que terminamos por aqui. 'c.fu1:mi!!~nt~ vü>iy_~t As vezes, essas partes se fcmctem umasna-s
Obrigado por ter vindo." outras ele forma tal que é difícil isolá-las. Essas divisões ou
Retomaremos esse assunto ao discutim1os o encerramento estágios 1!11dicam1novimeh~o,_ Se ausentes, iss~- poderá el~~1ons­
tia entrevista. Aqui, desejei acenh1ar a importância do fator tem- trar que nada ocorreu, qu~, po~-~;_-;;;;1plõ-,nunca saímos elo está-
po, para entrevistador e entrevistado, e demonstrar que ele pode gio 1. Por outro lado, o movimento pode ser tão rápido que é
tornar-se uma ponte onde os dois se encontram . .f\mbos pode- se
rnuito difícil determinai··o;;cle- ence~ra um estágio e começa o
rão se sentir à vontade dentro de uma estruturação de tempo; e O\Jtro. Eles são:
quando há necessidade, o entrevistador pode ajudar o entrevis-
,/
tado, verbalizando aquilo que esse está sentindo, mas não quer 1. Aberrura ou colocação elo problema
ou não consegue expressar: "Tenho a impressão de que você gos- 2. Desenvolvimento ou exploração
taria de parar por aqui. Acertei, Jim?", ou: "Você continua olhan- 3. Encerramento
do o relógio, e estou me perguntando se você tem outro com-
promisso. Se quiser, podemos continuar em outra ocasião." Es- Abertura ou colocação do problema
sa atitude de sensibilidade e aberü1ra da parte do entrevistador
No estágio de abertura, é situado o assunto ou problema
não irá diminuir a confiança e o respeito; ao contrário, poderá
que motivou o encontro entre entrevistado e entrevistador. Essa
aumentá-los.
Uma observação de caráter prático: se precisar entrevistar ,:fase. em geral terrnina quando ambos compreendem o que deve
,diversas pessoas num mesmo dia, intercale algum~ minutos s,t2r discutido e concordam que o será. (Se discordam, já podem
entre as entrevistas para escrever ou fazer anotaçõe~. Pense cui- parar ali.) Na realidade, a entrevista poderá não se ocupar ex-
. dadosamente sobre o que ocorreu até o momento, ou então rela- clusiva, ou mesmo principalmente, desse assunto. Outros pon-
xe e se prepare para a próxima pessoa. Pois, de outra maneira, tos podem ser levantados, e o que parecia tão centn~T11o início
n
;l
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pode ter sua importância diminuída e ser substitl!ícls~_pQt outro Desenvolvimento ou exploraçc'lo
tópico. Pode ocorrer que, à medida que o entÍ:~vistado se sinta à
vontade durante a entrevista, ele se permita discutir qual é o Uma vez que o assunto foi situado e aceito, passa então a
assunto principal, alterando desse modo, em parte ou integral- ser examinado, explorado. Entramos assim na segunda fase: a
mente, o foco da entrevista. f\ssim, o professor pode marcar um exploração. O corpo principal da entrevista foi alcançado, e a
.encontro com Dick .e dizcr-11~~ qtiepercebêu que o aluno não maior parte de nosso tempo será despendida no exame mútuo
tem feíto os trabalhos de casa com a assiduidade habitual. Se elo assunto, tentando verificar todos os aspectos e tirando algu-
Dick sentir que o professor quer realmente ajudá-lo, que seu mas conclusões. Nesse momento, quando você poderá sentir
interesse é sincero e não visa simplesmente a resolver o proble- maior necessidade de ajuda, terei que desapontá-lo. Não posso
ma da lição de casa, poderá passar a relatar suas dificuldades no lhe dizer o que falar ou não falar, o que fazer ou não fazer. Tal-
lar. Como resultado, ambos poderão se envolver em uma dis- vez você queira consultar alguns dos excelentes volumes sobre
cussão dessas dificuldades, e das soluções que podem ser estudos de caso, que apresentam material sobre muitas profis-
encontradas, retornando ao quase esquecido ponto da lição de sões, e vários enfoques de entrevista_ (Veja no fim deste volume
casa somente quando os dois, tendo explorado a situaçã~, o a Bibliografia Complementar.) Este não é um livro de estudos
encararem como parte de um quadro mais amplo, e concorda- Je caso. Porém, o Capítulo 7, "Respostas e Indicações", poderá
i-em quanto ao seu planejamento~--Aqui todos os três estágios' ser útil.
fóram cobertos; Oássu1ito foi coioc~do, explorado e encerracl;~; Aprendendo com as entrevistas passadas. Tentando não
Um outro exemplo é mais ilustrativo: lll11 homem, procu- desmerecer outras fontes, diria que você tem o melhor auxilio ao
rando visivelmente um emprego, vem até o departamento de utilizar suas próprias entrevistas como ponto de referência- dis-
colocações para entrevistar-se com você. Enquanto os dois dis- cutindo-as com seus colegas e supervisores, refletindo sobre
cutem e exploram as possíveis oportunidades de emprego, veri- elas, ouvindo gravações suas ou de outros. Cada entrevista é
ficam que ele está realmente interessado em aperfeiçoar seu diferente. Com o passar do tempo, você talvez descobrirá um
treinamento vocacional, mas não sabe como obtê-lo ou finan- modelo; mas ele adquirirá forma graças à sua atuação, sua
ciá-lo. No encerramento, os dois estarão fazendo planos sobre maneira de ser. A descoberta, exame e decisão sobre o que man-
essa questão. A necessidade de um emprego, supostamente o ter ou mudar nesse modelo irá formar um tipo de crescimento
objetivo, foi substituída por algo mais impmiante durante a profissional e pessoal que, acredito, será muito significativo
entrevista. O objetivo verdadeiro é o progresso no treinamento para você.
vocacional. Certos aspectos dessa fase principal da entrevista merecem
Uma senhora consulta seu médico, queixando-se de fortes uma consideração cuidadosa. Poderia indicar alguns deles,
dores de cabeça. Encorajada a descrever seus sintomas- ponto embora reconheça que existam muitos outros aos quais apenas
exato, quando começa a sentir, em que circunstâncias-, ela diz, faço referência. Mais uma vez reafirmo que meu desejo é esti-
em determinado momento, que pensa estar grávida novamente mular- não apresentar respostas, mas ajudá-lo a encontrar suas
e... O verdadeiro problema foi descoberto, e a entrevista prosse- próprias soluções.
gue de modo adequado. Pergunta: Você ajudou o entrevistado a ampliar seu campo
de percepção até o limite possível? Ele foi capaz de olhar os
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fatos da maneira como pareciam a ele, e não a você ou a qual- profundos de rejeição, amargura e desesperança. Aos poucos
quer outra pessoa? Ele conseguiu olhar corretamente o que via, você começou a ver e compreender. Você não concordou, não
e transmitir isso, ou se percebeu através dos olhos dos outros? desculpou, mas começou a sentir o que ele tinha passado, e ain-
Ele descobriu seú próprio eu, ou encontrou um eu que pensou da passava. Você viu quanto ódio e ressentimento ele sentia em
devia encontrar? Sua atitude o impediu de explorar seu próprio relação aos judeus que conhecia, e como não tinha a menor
espaço vital, ou capacitou-o a movimentar-se dentro dele, sem consciência do fato de você ser judeu.
apoio de influências externas? Pergunta: Você ajudou o entrevistado a deslocar-se de urna
Quando Lucy disse: "Agora que estou paralítica, jamais estrutura de referência externa para uma interna? Você o ajudou
conseguirei me casar", o que você fez? Você sabe que se sentiu a chegar perto de si mesmo para explorar e expressar o que des-
tTanstornada, sentiu que o mundo dela ruíra. Mas o que você cobriu, em vez de envolver-se em lugares-comuns ou rótulos
disse? O que mostrou? Você a ajudou a abrir-se, a falar sobre o avaliativos que os outros sempre têm prontos para impingir-lhe?
problema, todo ele, a ouvi-lo e examiná-lo? Talvez você tenha Você o capacitou a dizer-lhe como se sente verdadeiramente,
dito: "Não seja tola; você é jovem, bonita e inteligente e, quem como as coisas parecem ser para ele de verdade?
sabe, talvez ..." Mas você não disse isso. Já deve ter dito algo Quando Michael disse que sabia ser errado roubar, você
parecido a doentes no hospital, até aprender que isso os levava a retrucou: "Então, por que você faz isso?" Ou tentou talvez
se afastarem de você. Naquele momento, você simplesmente fazê-lo sentir e expressar o que se passava em seu íntimo- sua
olhou para ela e não ficou com medo de sentir o qne ambos sen- estrutura in tema de referência-, dizendo algo semelhante: "Você
tiam. Então disse: "Você sente que toda a sua vida está arruina- diz que isso é errado, mas continua roubando. Gostaria de saber
da por esse acidente." "É isso mesmo", ela retrucou, chorando o que isso significa para você, e como o compreende." Você
amargamente. Continuando a falar, em seguida. Ela continuava está satisfeito por não ter se mostrado como detetive ou mora-
paralítica, mas você não aceitara a maneira de ela odiar e enfren- lista-· sua estrutura interna de referência- perguntando: "Você
tar o fato. tem irmãos e irmãs, e eles também ... ?", ou afirmando: "Estou
Quando Charles, um jovem negro do Harlem, contou-lhe certo de que, como você sabe que esse tipo de coisa é errado,
que odiava os judeus e que, se pudesse, estrangularia a todos isso não deverá ocorrer de novo."
com prazer, havia muita coisa que você gostaria de dizer. Estava Interessado na estrutura interna de referência do entrevis-
tudo na ponta da língua, quando refletiu que estava ali para tado, você está preocupado com o que é central para ele, e não
ajudá-lo, no que fosse possível. Como ele perceberia seu desejo com o que é central para você: isso pode ser periférico para ele
de ajudá-lo, se você nem mesmo o estava ouvindo? Se era as- e, nesse caso, aÜlstá-lo dele mesmo em sua direção. Se ele diz:
sim que ele se sentia, você decidiu, era melhor escutá-lo e tentar "Espero para seu próprio bem que não tenha irmãs; elas são ter-
compreender o que isso significava para ele. E você não lhe ríveis", e você replica: "Acontece que tenho uma irmã e nos
chamou a atenção, não o criticou, não disse para ele parar de Üllar damos muito bem; suas irmãs é que devem achar você terrível",
ou sentir-se desse modo. Não fez nenhuma apologia dos valores a estrutura de referência foi deslocada. Mas se afirmar: "Você e
judaico-cristãos. Em lugar disso, você abriu mais ainda seu suas irmãs não estão se dando muito bem agora", você não eles-
campo de percepção ao dizer: "Nesse momento você está odian- locou, mas manteve a estrutura interna de referência do entre-
do os judeus desesperadamente." Ele pôs para fora sentimentos vistado.
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Pergunta: Você permite que o entrevistado explore o que conscientes de nosso comportamento de não desejar descobrir
quiser, à sua própria maneira, ou o conduz na direção que esco- o que realmente está acontecendo.
lheu para ele? Seu comportamento indica realmente ausência
de ameaça? Ele estava com medo de se expressar e, se foi as- Eto. Ontem à noite, pela primeira vez em semanas, dormi per-
sim, o que fez para diluir esse medo? Você quis realmente feitamente bem, sem ter tomado o remédio.
ouvi-lo, ou quis que.ele escutasse porque você tinha já a respos- Etr. Aquele remédio é muito importante para você. Agora, veja-
ta para seu problema, porque estava ansioso para "dar a ele um mos, você eslava tomando ... três vezes ao dia, certo?
bocado de seus pensamentos", ou porque realmente você não
queria ouvir mais, pois de qualquer maneira não teria sabido o Fico imaginando o quanto podemos perder com essa in-
que fazer? sensibilidade. E imagino também o que o paciente pensa sobre
Você terá que responder a essas perguntas quando fizer o interesse sincero do médico por sua pessoa, e como isso pode
uma auto-avaliação ou avaliar suas entrevistas. Haverá respos- ser importante para restituir-lhe a saúde.
tas diferentes para diferentes entrevistados; você não responde- Cooperar com o entrevistado significa escutar e responder
rá sempre exatamente da mesma maneira. àquilo que ele está dizendo e sentindo. Significa capacitá-lo a
Pergunta: Você acompanhou o entrevistado ou o forçou a se expressar completamente. Significa segui-lo, em vez de pe-
acompanhar você? O que você prefere? O que é melhor para dir-lhe que nos siga. Isso implica decisões bem-definidas: esta-
ele? mos preparados para deixar o entrevistado tomar a iniciativa e
mantê-la por quanto tempo precisar? Estamos preparados para
Eto. * Quando estive na guen-a, tinha dois companheiros e cos- deixá-lo assumir a responsabilidade sobre si mesmo, ou senti-
tumávamos ... mos que precisamos assumi-la por ele? Estamos preparados
Etr. Lá está você voltando para o passado agora, e acho que para deixá-lo liderar ou precisamos que ele nos siga? Afinal de
devemos prosseguir com seus planos escolares. Tenho contas, trata-se de questões filosóficas, mas as respondemos de
aqui comigo os resultados dos testes e tenho certeza de
um modo ou de outro toda vez que estamos entrevistando.
que você eleve estar interessado neles.
Freqüentemente, quando consideramos com profundidade
o assunto em discussão, descobrimos que os aspectos se fundem,
Esse tipo de interrupção em entrevistas ocorre com mais
que pensamentos geram outros pensamentos e que os sentimen-
freqüência do que imaginamos. Às vezes pretendemos isso
tos fazem brotar outros sentimentos, mais ou menos como os
mesmo, e mesmo assim o procedimento é discutível. Em outras
estágios acabam se confundindo no processo ele entrevista. Po-
ocasiões, não temos essa intenção, apenas somos levados por
rém, nem sempre isso é verdade; algumas vezes a continuidade
nós mesmos e, mais tarde, refletindo sobre isso, desejamos que
tivesse sido ele outra maneira. Ocasionalmente, sentimo-nos pres- do processo pode ser interrompida e eventualmente estrangula-
sionados pelo tempo, ou suspeitamos que o entrevistado está da. O entrevistado pode olhar para você, como se estivesse di-
inventando coisas. Mas, às vezes, não estamos suficientemente zendo: "Bem, e agora para onde vamos?", e você mesmo pode
estar se perguntando isso. Mais uma vez, não tenho respostas
conclusivas, mas posso dar algumas sugestões. Para alguns en-
*Eto.= entrevistado; Etr. =entrevistador. trevistados, você pode expressar seus sentimentos: "Você está
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A entrevista de ajuda Estágios 47

olhando para mim como se estivesse querendo dizer: 'Bem, e


pronto para dividir um pouco comigo"; ou "Posso ver na ex-
agora, para onde vamos?' "Uma outTa possibilidade é perguntar
pressão de seu rosto que há muitas coisas ocorrendo aí por den-
a si mesmo e ao entrevistado sobre o que está acontecendo: tro; estou pronto a participar delas se você estiver pronto a me
"Estou me perguntando se já dissemos tudo o que tínhamos para aceitar". O silêncio desse tipo pode ajudar muito se o entrevis-
dizer por hoje." Ou, então, você pode dizer: ''A não ser que você tador não se sentir ameaçado ou incomodado por ele, mas, ao
tenha alguma coisa para acrescentar, talvez já tenhamos falado contrário, se puder manejá-lo como parte de um processo em
muito sobre seus atrasos; estou tentando imaginar se haveria continuidade.
alguma coisa mais em sua mente." Expressando embaraço ou Ocasionalmente instala-se um silêncio, e seu motivo é mui-
incompreensão de sua parte, você poderia fazer a seguinte obser- to claro para o entrevistador. De fato, necessitando também ele
vação: "Francamente não entendo o que torna difícil para você de uma pausa, pode compartilhá-la com o entrevistado. Esse
continuar." Afirmando a mesma coisa de modo um pouco dife- pode ter acabado de dizer algo temo, trágico, chocante ou ame-
rente, você lhe dará um outro peso: "Sinto que você está tendo drontador, e ambos sentem necessidade de absorvê-lo até o fim,
muita dificuldade em continuar. Se ajudar a você ficarmos senta- rm silêncio mútuo. Se depois desse silêncio o entrevistado ain-
dos, pensando um pouco, isso não me incomoda nem um pouco." da encontra dificuldades para continuar, um comentário o aju-
Você convidou o entrevistado ao silêncio. dará a retomar a linha ele pensamento; por exemplo: "Deve ter
lvfuitasformas de silêncio. Minha experiência me ensina que sido uma experiência cheia de ternura para você."
a maior parte dos entrevistadores principiantes considera difícil A confusão freqüentemente levará ao silêncio. Uma deter-
suportar o silêncio. Eles parecem julgar que, se há um silêncio, minada situação pode estar confusa para o entrevistado. Ele pode
a culpa é deles, e o lapso eleve ser corrigido imediatamente e a ter revelado alguma coisa que o confundiu, ou você pode tê-lo
qualquer preço. Consideram o silêncio como uma quebra de feito de maneira inadvertida. Nesse caso, quanto menor o silên-
etiqueta, que precisa ser corrigida no momento. Com o tempo, cio, melhor, pois a confusão gerará menos confusão. Você terá
os entrevistadores aprendem a diferenciar os silêncios, a apre- de agir para aliviar a tensão, de modo adequado à situação e
ciar e a reagir diante de cada um de maneira diferente. conforme seus critérios: "O que lhe disse agora sobre você e
Existe, por exemplo, o silêncio de que o entrevistado p·reci- Jolm parece ter deixado você confuso." Isso pode bastar, mas,
sa para ordenar seus pensamentos e sentimentos. O respeito a em caso contrário, pode-se acrescentar: "O que eu quis dizer foi
esse silêncio é mais benéfico do que muitas palavras da parte que ...." e, então, passar a reformular sua afirmação. É muito
do entrevistador. Quando estiver preparado, o entTevistado con- provável que isso provoque uma resposta do entrevistado.
tinuará, geralmente quase em seguida- em torno de um minu- Em situação completamente diferente, você pode perceber
to. Esse minuto, no início, parecerá muito longo, mas, com a que o entrevistado - depois de ele ou de você terem situado o
experiência, aprendemos a medir internamente o tempo. Caso o assunto a ser discutido- pode estar confuso quanto ao que fazer
silêncio se prolongue, podemos desejar fazer uma rápida obser- em seguida. Em geral, nesses casos, você pode ser útil, estrutu-
vação para ajudar o entrevistado a prosseguir: alguns podem rando um pouco a situação para ele: "Percebo que você não
perder-se no silêncio, e gostariam da indicação de uma saída sabe o que dizer, nem exatamente por onde começar. Aqui você
pode dizer o que quiser e começar por onde desejar. Realmente
possível. Podemos dizer, por exemplo: "Deve haver muita coisa
quero tentar compreender o que você pensa e como se sente em
acontecendo aí por dentro, e gostaria de saber se você está
relação a essa questão, e ajudá-lo, se puder."
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O silêncio de resistência significa alguma coisa mais. O Inevitavelmente, às vezes entrevistador e entrevistado fala-
entrevistado pode guardar silêncio porque está resistindo ao rão ao mesmo tempo, e ambos então recuarão com pedidos de
que considera um interrogatório. Talvez esteja vendo em você desculpa e encorajamentos para que o outro continue. Isso pode
uma figura autoritária à qual é preciso opor-se ou evitar. Talvez ser embaraçoso, e um pouco de senso de humor pode ser de uti-
ainda não esteja preparado para revelar o que realmente está se lidade. É claro que parto do pressuposto de que estamos inte-
passando em sua mente. Tal vez o entrevistador considere essa ressados em ouvir o entrevistado, e não acredito que precisa-
forma de silêncio como a mais difícil de lidar, porque ele pró- mos falar exatamente naquele momento. Podemos intercalar
prio tende a se sentir rejeitado, contestado e recusado. Em tais uma rápida observação: "Desculpe a interrupção; prossiga e eu
circw1stáncias, cada um faz o que considera melhor, porém é falarei depois." Muitas vezes bastará apenas um sorriso, acom-
muito importante: (1) observar a situação claramente como ela panhado de um aceno de encorajamento. Ou: "Estava tentando
se apresenta e, (2) não responder como se estivesse sendo pes- imaginar o que você diria em seguida, e agora perdi a seqüên-
soalmente atacado. Mostrar ao entrevistado que podemos acei- cia. O que você estava dizendo?"
tar essa forma de resistência talvez seja uma maneira eficaz de
Exemplos pessoaís podem ser embaraçosos. Durante a en-
romper seu silêncio: "Seu silêncio não me incomoda, mas sinto
trevista, at1ora de vez em quando a tentação de usar um exem-
que de alguma forma você está ressentido comigo. Gostaria que
plo ou experiência pessoal. Em cada circunstância, cabe a você
você me falasse sobre isso, para que possamos discuti-lo jun-
decidir se cede ou não à tentação. Nem todos concordam comi-
tos." Ou talvez: "Não acredito que nenhum de nós dois esteja
go, mas acredito que, por diversas razões, é melhor não ceder.
muito à vontade com esse silêncio. Posso esperar, mas, se existe
Minha experiência e exemplo pessoal têm significado para
alguma coisa que você está sentindo, pode ser útil que você me
diga o que é e que a examinemos juntos." mim. Não estou convencido de que o terão para o entrevistado.
Por fim, existem os silêncios breves, pausas curtas, durante Além disso, ele talvez hesite em manifestar o que sente hones-
as quais o entrevistado pode simplesmente estar procurando tamente, com receio de ofender-me ao fazer comentários sobre
mais idéias e sentimentos para expressar. Pode ocorrer também meu exemplo. Por outro lado, ao apresentar minha própria ex-
que esteja buscando uma maneira ele expressá-los, ou, talvez, periência, posso sem intenção assustar o entrevistado. Ele pode
deseje primeiro esclarecer para si mesmo o que pensa e sente, pensar: "Talvez isso tenha funcionado para você; mas se eu
antes de continuar. Esse é o ponto em que com muita freqüência fosse você, estaria onde você está agora, e não nesta confusão."
atrapalhamos seu caminho. Dizemos alguma coisa importante Se ele for capaz de expressar seu ressentimento, tanto melhor.
ou não - e destruímos sua cadeia de pensamentos. Por essa ra- Contudo, se negar a si mesmo essa liberdade de expressão, pode
zão é melhor não apressar, não interpretar um breve silêncio parecer que aceitou o que eu disse, levando-me a acreditar que
como uma ordem celeste para agir, mas esperar um pouco e o ajudei, quando isso não ocorreu.
preparar-se para o que vier. Geralmente alguma coisa virá em Não quero dizer que a experiência elos outros não possa
seguida a esses rápidos "silêncios pensativos". Então, em vez beneficiar o entrevistado. Claro que pode. O que afirmo é que o
de atrapalhar, teremos ajudado o entrevistado a expressar uma confundo quando entro em cena com minha experiência e exem-
idéia com a qual estava lutando. Não devemos interrompê-lo, plos pessoais. Porém, se o entrevistado os solicitar, a situação
nem levá-lo a sentir que aqui ele não pode se debater com suas muda, e posso optar pelo atendimento desse pedido. Mesmo as-
idéias e sentimentos sem ser logo cortado. sim, acredito que é de prudência sublinhar minhas palavras com
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A entrevista de ajuda E'stágios

uma recomendação: "Isso funcionou para mim, mas não sei se O segundo espectro aguarda apenas um coup de grâce. Seu
funcionará para você"; ou "Isso me ajudou, mas estou curioso nome é: "Sei exatamente como você se sente." O entrevistado
para saber como será com você". Dessa forma, indico que ele é pensa: "Não acredito. Como você pode 'saber' como me 'sinto'?
o centro da situação, e que não precisa copiar meu exemplo. Ele Mesmo que saiba, e daí? Não sente como eu sinto, ou jamais pen-
vai perceber que não vejo minha experiência ou exemplo como saria em dizer que sabe." Esse espectro é fi-io e distante. Se tiver
oferecendo necessariamente uma solução. uma mente, com ce1ieza não tem coração e, portanto, fora com ele!
TJma maneira mais simples de abordar o problema é contar Se sinceramente sentimos com o entrevistado o que ele está
superficialmente experiências de outros através da generaliza- sentindo, se podemos fazer com que saiba por meio de nosso
ção e despersonalização. Por exemplo: "Conheci muitos estu- comportamento que estamos sentindo com ele, tão próximos
quanto podemos, e se somos capazes de demonstrar isso sem obs-
dantes que, quando enfrentaram uma situação semelhante, des-
tmir seu caminho, não precisaremos dizer nada, porque ele logo
cobriram que vale a pena ... Qual é sua opiniãoT' Ou: "Há pessoas
saberá. Compreenderá que jamais saberemos exatamente como
que costumam enfi·entar obstáculos dessa forma. Geralmente se
ele se sente, mas, como outro ser humano, estamos fazendo o pos-
sentem melhor quando conseguem ... O que você acha?" Resta
sível e demonstrando que estamos tentando. "Eu sei como você se
ainda o perigo de o entrevistado pensar que deve adotar a orienta- sente" significa, na realidade, "Eu não sei como você se sente e
ção mencionada porque outms o fizeram e, em particular, porque não vou fàzer nada para descobrir".
eu a mencionei- mas o risco é pequeno. Adiante discutiremos com mais detalhe as respostas e indi-
TJma outra tentativa de encorajamento que deve ser evitada cações. No momento faremos apenas alguns comentários antes
a qualquer custo é a seguinte: "Bem, você sabe que todo o mundo de analisarmos o encerramento. É possível que tenha deixado a
tem que passar por isso, mais cedo ou mais tarde. Depois da impressão de que, em minha opinião, o entrevistador nunca deve-
tempestade vem a bonança, e amanhã cedo você estará se sen- ria liderar ou interrogar. O que acredito é que os entrevistadores
tindo bem melhor. TJma boa noite de sono sempre ajuda e, indicam e questionam a ponto de darem ao entrevistado um papel
então, por que não experimenta?" de subordinado. Naturalmente, às vezes é necessário conduzir e
Agora, mais dois espectros que pairam sobre o pano de perguntar; porém, quando exageramos, não estamos capacitando
fundo de uma entrevista típica, mas devem ser deixados de o entrevistado a se expressar tão integralmente quanto poderia.
lado. O primeiro é: "Se eu fosse você, faria o seguinte ..." A Alguns eniTevistados precisam ser conduzidos, e gostam de ser
reação do entrevistado: "Simplesmente não acredito. Se você interrogados. Mas esses indivíduos provavelmente esperam que
fosse eu, se sentiria tão confuso e inseguro como eu, e sería- resolvamos seus problemas, em lugar de ajudá-los a atingir suas
mos dois sem saber o que fazer. Se você fosse eu, não diria próprias e mais significativas soluções. Quando tentamos isso,
isso. Se estivesse em meu lugar, não saberia o que fazer tanto nenhuma experiência de crescimento é dada ao entrevistado,
quanto eu. Mas se eu fosse você, nunca diria a ninguém 'Se eu visando ajudá-lo a enfrentar situações fbturas.
fosse você, faria o seguinte ... ' " É muito melhor dizer direta-
Encerramento
mente: "Acho que sua melhor alternativa no momento é ..." Ou:
"Acho que agora a melhor coisa que você pode fazer é ... " Pelo O estágio três - encerramento -- sob muitos aspectos se
menos isso soa sincero. assemelha ao estágio um- o contato inicial - embora se efetue
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de maneira inversa. Agora precisamos moldar um final para o mos- que a entrevista está quase para terminar--, podemos agir
contato e a separação. Nem sempre o encerramento é fácil. O de acordo.
entrevistador inicíante, em particular, talvez não compreenda Há razões convincentes para que se evite introduzir ou dis-
como deixar o entrevistado perceber que o tempo está se esgo- cutir material novo na fase de encerramento. O que pode acon-
tando. Talvez receie fazer o entrevistado sentir-se mandado tecer se você permitir que isso ocorra? Como você precisa sair
embora. O próp1io entTevistador talvez não esteja preparado para rapidamente, ou tem um compromisso logo depois, não estará
encerrar a sessão. Ambos podem encontrar dificuldade em se ouvindo tão atentamente quanto deveria o que o entrevistado
separar. tem a dizer. Depois que perceber isso, ficará irritado com o
Muitas coisas devem ser ditas sobre a fase de encerramen- entrevistado por ter vindo, logo agora, depois de tanto tempo,
to da entrevista, mas acredito que haja dois fatores básicos: com novas e importantes idéias que deveria ter apresentado
mais cedo. Então você se sentará, debatendo-se intimamente,
1. Os dois participantes da entrevista devem ter consciên- enquanto ele c<)ntinua falando. Esse estado de coisas é desagra-
cia do fato de que o encerramento está ocorrendo, e aceitar esse dável para ambos, e pode ser evitado com relativa facilidade.
fato, em particular o entrevistadm:.
2. Durante a fase de encerramento, nenhum material novo Etr. Sabe, Helen, estou muito satisfeito com a nossa conversa
deverá ser introduzido ou discutido de algw11a forma; caso de h()je. Agora teremos de interromper porque tenho que
exista material novo, deve-se marcar outra entrevista para dis- tomar meu ônibus.
cuti-lo. Eto. Ainda não lhe contei o que papai disse quando veio me ver
na semana passada. Não sabia que ele vinha, e estava no
meio de ..
É responsabilidade do entrevistador lidar com esses dois
Etr. Acho bom que queira falar sobre isso; mas se você conti-
fatores do modo mais eficaz que puder. A tarefa se torna mais
nuar agora, não conseguirei ouvi-la bem porque estou preo-
fácil à medida que ele avalia progressivamente sua importância, cupado em não perder meu ônibus- quem sabe quando virá
e se sente à vontade diante dela. A menos que o entrevistado o próximo? Então, por que não marcamos um novo encon-
seja particularmente experiente ou sensível, nem sempre saberá tro para quinta-feira à mesma hora, e assim discutiremos o
quanto tempo resta à sua disposição, e você pode ajudá-lo indi- assunto da forma como ambos queremos. Quinta está bem?
cando que o encerramento está próximo: "Dem, nosso tempo Então, até lá.
está se esgotando. Há alguma coisa que você gostaria de acres-
centar antes de tentarmos verificar até onde chegamos?" Mui- Você passou muito tempo se perguntando se Helen não iria
tas vezes você e ele terão realmente tcnninado, e você pode evi- nunca fazer menção a seu pai; de fato, você estava mesmo espe-
tar muitos passos em falso e silêncios embaraçosos, dizendo: rando que ela o fizesse. Mas, quando ela por fim falou no pai,
"Estou sentindo que nenhum de nós tem algo de útil a acrescen- você ficou indeciso entre o desejo de ouvi-la e a necessidade de
tar nesse momento." Ao sentir apoio e concordância, você con- tomar aquele ônibus. Entretanto, sabendo que perder o ônibus
tinua: "Bem, então vamos ver..." Acho que nos sentimos melhor poderia complicar o resto de seu dia, e suspeitando que poderia
com esse tipo de estruturação simples. Sabendo agora, defini- vir a sentir que 1-lelen era a culpada, você decidiu que era prefe-
tivamente, o que antes temíamos, antecipávamos ou supúnha- rível parar e marcar um novo encontro.
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A entrevista de ajuda Estágios __ 55

Encerrar uma entrevista, mesmo quando um novo material entrevistado e do entrevistador. Às vezes, as cortesias habituais
é introduzido em seu final, é bem mais fácil quando os dois
serão suficientes para levar a entrevista ao seu final. Nessas cir-
lados sabem que um outro encontro está programado.
cunstâncias, a seguinte observação de encerramento poderá
servir: "Creio que é isso; sabemos como entrar em contato um
Etr. Nosso tempo por hoje está quase esgotado, Sra. Keen.
com o outro se houver necessidade de discutir mais alguma coi-
Eto. E o acamramento para Betty nesse verão?
Etr. Não imaginei que estivesse pensando nisso. Não temos con-
sa"; ou: "Obrigado por ter vindo. Acho que esse nosso encontro
dições de discutir o assunto agora, mas, se quiser, podemos foi muito frutífero para ambos". Não estou pretendendo sugerir
começar por aí na próxima semana. fórmulas, mas quero sublinhar o fato de que as afirmações de
encerramento devem ser curtas e diretas. Quando não temos
Você não sabe por que a mãe de l3etty esperou até o úl!imo mais nada a acrescentar, quanto mais falarmos, menos signifi-
momento para colocar o assunto do acampamento. Talvez nem cativo será, e mais longo e difícil o encerramento.
ela mesma saiba. Talvez tenha feilo isso por não estar preparada Às vezes, em um encerramento, você pode querer refe-
mais cedo, ou por medo de discuti-lo, e esperasse que você o rir-se ao assunto discutido antes na entrevista com uma declara-
fizesse por ela; ou talvez quisesse que você ficasse mais um ção conclusiva, uma reafirmação efetiva daquilo em que ambos
pouco junto a ela. Você poderia continuar com especulações. Po- concordaram. O orientador escolar pode dizer: "Sei agora como
deria escolher entre fazê-las mentalmente ou por escrito, mas Sílbe você se sente quanto aos planos universitários de Bill. Quando
que não pode prosseguir com isso agora. Tanto a mãe de Betty ele vier me ver, estaremos preparados para levar em conta suas
como você compreendem que a entrevista chegou ao final. restrições. Vocês dois poderão partir desse ponto, como você
Não estou sugerindo que elevamos ser inflexíveis e traba- sugeriu." O médico pode dizer a seu paciente: "Agora que já
lhar mecanicamente, com um olho no relógio. Porém estou decidimos sobre a operação, tomarei as providências necessá-
convencido de que a entrevista é mais útil quando tem um tem- rias. Então, como combinamos, você entrará em contato com o
po limitado, e quando ambos aceitam e trabalham deniTo dessa hospital." Ou o funcionário de recrutamento do departamento
estrut11ra de tempo. A aceitação do fator tempo é importante es- de seleção poderá concluir: "Certo. Então vou verificar as alter-
pecialmente numa série de entrevistas. É de grande auxílió re- nativas que discutimos. A não ser que eu venha a chamá-lo
conhecer que o fato de estarmos juntos é uma situação delimi- antes, verei você na próxima terça-feira."
tada e que, além disso, somos pessoas com obrigações profis- Ocasionalmente, um resumo final mais explícito é neces-
sionais e particulares que precisam ser respeitadas. O encena- sário para verificar se você e o enh·evistado se entenderam: "An-
menta das entrevistas únicas é mais difícil de ser realizado. Mas, tes de você ir embora, quero ter certeza de que o entendi corre-
se em algum ponto no decbrrer do processo, verificamos quan- tamente. Você não pode voltar ao trabalho por enquanto por
to tempo aproximadamente ainda temos disponível, e se puder- causa do bebê. Você acha que Jolm poderia, no outono, passar
mos iniciar o encerramento com bastante antecedência, dando para uma escola noturna, e trabalhar durante o dia. Até então,
tempo suficiente para reunir as coisas, o encerramento deverá
sua família continuará ajudando. Gostaria que você me dissesse
ser relativamente tãcil. ·
se esqueci alguma coisa, ou se não entendi bem."
Estilos de encerramento. Há muitos estilos de encerramen-
Uma abordagem um pouco diferente é pedir ao entrevista-
to, e a escolha de um deles dependerá da própria entrevista, do
do que coloque como compreendeu o que houve durante a en-
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trevista: "Tivemos um bom papo, Jack, e estou curioso para sa- smmos, já que poderia criar a impressão de que estamos rejei-
ber o que você está levando daqui. Não tem sido fácil para você tando o entrevistado. O que quer ctue fique para o fim - passos
falar, eu sei, e não estou certo de ter compreendido tudo o que ele revisão a serem dados, ou resumo das questões- deveria ser
tentou expressar. Assim, se puder fazer uma espécie de resumo analisado sem pressa e, preferivelmente, como uma tarefa con-
em voz alta, isso poderia ajudar a nós dois. Se eu quiser acres- junta. Com paciência, prática, atenção e reflexão, cada um pode
centar alguma coisa, eu o farei." desenvolver um estilo que o satisfaça e facilite a entrevista ele
Às vezes, durante um encerramento, desejamos indicar ajuda.
assuntos que foram mencionados, porém não discutidos por
falta de tempo: "Aí está a campainha, e nem mesmo chegamos
a falar sobre o francês, ou sobre seu trabalho escrito. Podemos
fazer isso da próxima vez, se você quiser. Você sabe Ineu horá-
rio; quando gostaria de voltar?"
Finalmente, quando durante a entrevista foram feitos pla-
nos definidos, pode ser bom recapitulá-los rapidamente durante
o encerramento, sobretudo quando o entrevistador e o entrevis-
tado têm tarefas diferentes a cumprir. Esse é um tipo ele .féed-
back recíproco para verificar se ambos entenderam o que têm
que fazer. "Agora, vejamos. Você concordou em falar com sua
mãe sobre a autorização e sobre desligar a televisão lá pelas dez
ela noite. Vou falar com a Srta. Barret sobre sua mudança de
lugar. Há algo mais a acrescentar ou corrigir?" Da mesma
forma, umfeedback mútuo ocorre quando o entrevistador situa
primeiro sua parte na tarefa a ser executada, encorajando assim
o entrevistado a situar a sua: "Suponho que por hoje isso é tudo.
Tomamos muitas decisões. Da maneira como entendi, vou veri-
ficar a possibilidade de cursos noturnos ele eletrônica, e averi-
guar sobre mna bolsa de estudos. E você, quais são as coisas
que irá verificar antes de nosso próximo encontro?"
O encerramento é especialmente importante porque o que
ocorre durante esse último estágio tende a determinar a impres-
são do entrevistado sobre a entrevista como um todo. Precisa-
mos estar certos de que demos a ele total oportunidade de se
expressar, ou, alternadamente, precisamos criar um tempo con-
veniente para ambos com esse propósito. Devemos permitir um
tempo suficiente para o encerramento, de modo a não o apres-

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